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@resumosdamed_ 1 SEMIOLOGIA DA COORDENAÇÃO ANATOMIA: O cerebelo é organizado em diferentes regiões anatômicas com funções específicas. O vérmis inferior e os lobos floculonodulares controlam o equilíbrio e os movimentos oculares através de interações com a circuitaria do sistema vestibular. O equilíbrio é um produto da modulação da atividade dos músculos axiais, da qual participam outras regiões do vérmis. Os hemisférios cerebelares coordenam músculos apendiculares distais. Grandes áreas na porção mais lateral dos hemisférios cerebelares se ocupam do planejamento motor. Portanto, a coordenação é dividida em axial (tronco) e apendicular (membros). COORDENAÇÃO AXIAL: POSTURA (EQUILÍBRIO ESTÁTICO): Avalia-se o indivíduo: • Sentado: algumas pessoas possuem uma incoordenação tão grande, que elas não conseguem ficar paradas, mesmo sentadas. • Ortostase (paciente em pé): para ver se há alguma instabilidade; se o paciente oscila, se necessita de algum apoio (bengala, muleta ou andador). • Base (distância entre os pés do indivíduo): avaliar se está muito alargada. • Tandem (paciente parado com pé ante pé - um na frente do outro): avaliar se o paciente consegue realizar isso ou se tem alguma incoordenação. • Olhos fechados: avaliar se paciente apresenta queda ou instabilidade ao ocluir os olhos. • Pull test: com o examinador próximo a uma parede e paciente de costas, é solicitado para o indivíduo se posicionar de uma forma que ele fique bem estável e o examinador irá puxá-lo. Se o paciente der 2 passos para trás, no máximo, e depois se estabilizar, significa que está normal; se o paciente de mais que dois passos ou cair, significa que está alterado (Pull test positivo). MARCHA (EQUILÍBRIO DINÂMICO): Avalia-se: • Largura da base: distância entre um pé e outro no caminhar. • Balanço passivo: movimento dos braços ao longo de uma caminhada. Ex.: quando estou andando e meu pé direito vai a frente, o braço que também vai é o esquerdo, para acompanhar essa marcha. Assim, no balando passivo avalia-se se o movimento de um braço e do outro está simétrico. • Tronco e quadril: avaliar se tem movimento excessivo. • Olhos fechados: ocluir os olhos. • Tandem: pé ante pé. • Ponta dos pés e calcanhares: caminhar na pontas dos pés ou calcanhar para avaliar um grupamento de músculos específicos. A avaliação da marcha é realizada com o paciente descalço e sem roupa abaixo do joelho. MARCHAS PATOLÓGICAS CLÁSSICAS: @resumosdamed_ 2 • Marcha Senil: Aumento da flexão dos cotovelos, cintura e quadril; diminuição do balanço dos braços, levantamento dos pés e comprimento dos passos. Nesse tipo de marcha, não há alteração neurológica, assim, ela ocorre com a idade avançada. • Marcha Talonante: Doenças que afetam as fibras grossas dos nervos periféricos e os funículos posteriores da medula produzem déficit proprioceptivo, determinando perda da consciência posicional dos membros, deixando o paciente totalmente dependente do sistema visual para coordenação e marcha. Geralmente, o paciente se apresenta com base alargada, com piora acentuada no escuro ou com os olhos fechados. Os passos são altos, com arremesso do pé para diante, que bate com força no solo para um maior feedback proprioceptivo e o olhar fixo no chão, a fim de compensar com a visão. Por vezes, o som produzido pela batida do calcanhar no solo é tão alto que se pode fazer o diagnóstico à distância sem ver o paciente. Portanto, são características dessa marcha: • Batida forte do pé no chão (para se localizar no espaço); • Piora da marcha com os olhos fechados; • Sinal de Romberg positivo: paciente parado, com olhos fechados, cai para qualquer lado. • Essa marcha ocorre quando há uma lesão no nervo periférico, que conduz as fibras mais mielinizadas (mais grossas), por isso, é possível relacionar essa marcha com a sífilis, pois ela "ataca" essas fibras. Obs: essas fibras são responsáveis pela propriocepção, por isso que o paciente cai quando oclui os olhos, pois isso está afetado. • Marcha Ebriosa: Causada por disfunção dos centros cerebelares responsáveis pela coordenação dos movimentos, lembra a marcha de um indivíduo bêbado, com passadas desajeitadas, erráticas, irregulares, instáveis, com comprimentos variáveis, base ampla, gerando um caminhar cambaleante, podendo o paciente oscilar para qualquer dos lados, para frente ou para trás. É uma marcha imprevisível, decorrente da dismetria existente e com grande tendência à queda, impossibilitando o paciente a andar em linha reta com um pé na frente do outro (marcha em tandem), apresentando lateralização dos pés fora da linha demarcada, a fim de impedir a queda. Portanto, são características dessa marcha: • Desajeitada e instável; • Base larga; • Dificuldade em realizar tandem; • Parece marcha de um indivíduo bêbado; • Ocorre devido a transtornos cerebelares, como uma atrofia cerebelar. • Marcha Vestibular: O paciente com vestibulopatia é sempre um desafio ao neurologista, pois o grande diagnóstico diferencial é uma lesão cerebelar unilateral que compartilha os mesmos achados de marcha. Ao tentar andar em linha reta ou em fila indiana, o paciente desvia-se para o lado da lesão. O achado clássico é a marcha em estrela (prova de Babinski-Weil) ou desvio em compasso. Ao solicitar que o paciente, de olhos fechados, ande 5 passos para frente e 5 passos para trás, verifica-se desvio ipsolateral à lesão ao caminhar para frente, e contralateral ao caminhar para trás, “desenhando”, dessa forma, uma estrela no solo. Portanto, são características dessa marcha: • Lesão do sistema vestibular, logo pode apresentar vertigem; • Lateropulsão, ex: se o lado direito está acometido, o esquerdo prevalece e empurra para a direita; • Marcha em estrela. @resumosdamed_ 3 • Marcha Apráxica/Dispráxica: Dispraxia de marcha consiste em perder a capacidade de caminhar corretamente na ausência de um distúrbio sensorial, fraqueza ou incoordenação. Apresenta dificuldade em iniciar a sequência automática dos movimentos próprios do andar. É característica da hidrocefalia de pressão normal (síndrome de Hakim Adams) e das afecções que envolvem o lobo frontal, como tumores frontais e doença de Pick. O paciente caminha como se os pés estivessem colados ao chão (marcha magnética), com grande dificuldade de tirá-los do solo, base estreita e tendência à queda. Membros rígidos e com mobilidade reduzida em resposta ao contato (Paratonia – fenômeno de Gengenhalten) são algo comum. Portanto, são características dessa marcha: • Passos muito pequenos; • Dificuldade para iniciar a marcha; • Pés agarrados ao chão; • Esse tipo de marcha é bem comum na hidrocefalia de pressão normal (HPN), possuindo apraxia da marcha + incontinência urinária + demência como uma tríade clássica. • Marcha Ceifante: Ocorre por lesão no trato piramidal, no qual o indivíduo apresenta uma hemiparesia clínica do lado acometido. Além disso, pode realizar um movimento de circundução, no qual ele faz um “C” na lateral, pois não consegue flexionar as pernas. O braço estará fletido e aduzido, com a perna em extensão e flexão plantar (postura de Wernicke-Mann). • Marcha em Tesoura: Pacientes com paraparesia espástica adquirida ou genética, bem como crianças com diparesia congênita (síndrome de Little) apresentam esse padrão de marcha que se caracteriza por espasticidade importante dos adutores das coxas, provocando adução exagerada dos membros inferiores, de modo que os joelhos podem-se cruzar a cada passo. Além disso, o paciente caminha arrastando os pés no solo, com base estreita e passos curtos (como se tivessem grudados no chão). Por vezes, o paciente pode apresentar inversão exagerada dos pés e encurtamento do tendão aquileu, o que provoca pés equinos com marcha na ponta dos pés, principalmentecrianças (marcha digitígrada). Portanto, são características dessa marcha: • Lesão em trato piramidal bilateral; • Paresia bilateral. • Marcha Parkinsoniana: As síndromes parkinsonianas caracterizam-se por rigidez e bradicinesia, e a marcha é um dos grandes aliados no diagnóstico destes pacientes. O paciente assume uma postura encurvada, com a cabeça e pescoço anteriorizados e os joelhos flexionados. Os membros superiores apresentam leve flexão nos cotovelos e redução da oscilação. O paciente caminha com passos curtos (petit pas) lentamente e com os pés arrastando. A virada oferece grande dificuldade de execução, e o paciente vira o corpo “em bloco”. Tais pacientes podem apresentar hesitação ao iniciar a marcha, com dificuldade de dar o primeiro passo, muitas vezes traduzido por uma patinação sem sair do lugar. Por vezes, apresentam uma aceleração da marcha, com passos curtos e tendência a inclinar-se cada vez mais para frente, como se estivessem perseguindo seu centro de gravidade, denominada festinação. Em fases mais avançadas, os pacientes podem apresentar o fenômeno de freezing, com interrupção súbita da marcha e incapacidades temporária e involuntária de movimento. Tais pacientes, @resumosdamed_ 4 apresentam os reflexos posturais diminuídos, com grande tendência à queda. Portanto, são características dessa marcha: • Tronco encurvado; • Joelhos fletidos; • Balanço passivo dos braços reduzido; • Passos curtos; • Festinação: ensaio de querer começar a marcha; • Freezing: momento em que o paciente fica “congelado”, não sabe por onde começar. • Marcha Escarvante: Pacientes com fraqueza dos dorsiflexores do pé e dos artelhos apresentam pé caído, proporcionado geralmente por radiculopatia L5 ou lesão do nervo fibular profundo. Ao caminhar, tais pacientes levantam acentuadamente a coxa e estendem a perna, arremessando o pé para frente, a fim de que os artelhos não arrastem no solo. Ao pisar, ocorre um som característico pela batida inicial dos artelhos e depois do calcanhar no solo. Tais pacientes são incapazes de andar apoiados sobre os calcanhares. Deve-se tomar cuidado, pois nem todo paciente com marcha escarvante tem radiculopatia L5 ou lesão de nervo fibular. Alguns pacientes com miopatias distais ou miopatias de longa data apresentam retração de tendão aquileu, o que gera flexão plantar mantida dos pés. Portanto, são características dessa marcha: • Pé caído; • Não consegue realizar a dorsiflexao do pé; • Ergue a perna mais alto que o normal, porque o pé fica arrastando no chão; • Incapaz de andar no calcanhar, andar descalço; • Ao solicitar para o paciente andar na ponta dos pés, ele tem uma dificuldade do lado que está afetado, e isso pode ocorrer devido a um acometimento do nervo fibular (nervo que inerva a musculatura dorsal do pé - m. Tibial anterior), nervo ciático (composto pelo n. Tibial e fibular - paciente apresentará clínica de dor irradiando para lombar) ou radiculopatia L5 (local de onde sai o n. ciático). • Marcha Anserina/Miopática: Esta marcha é típica das miopatias envolvendo a musculatura proximal do quadril, caracterizada por uma oscilação exagerada do quadril, base ampla e rotação acentuada da pelve. Em casos mais graves, verifica-se hiperlordose por fraqueza dos flexores do quadril e ombros posteriorizados, lembrando a marcha da gestante. Quando há fraqueza importante dos abdutores do quadril, como o glúteo médio, ocorre queda anormal da pelve do lado do membro em oscilação, chamado sinal de Trendelenburg. Estes pacientes têm grande dificuldade de subir escadas e, quando conseguem, apoiam-se em demasia no corrimão. É importante lembrar que algumas miopatias com retração tendínea, envolvendo o aquileu, podem apresentar uma variante de marcha caracterizada por apoio na porção anterior dos pés (“tip toe gait”). Portanto, são características dessa marcha: • Lordose acentuada; • Oscilação pélvica exagerada: balança de um lado pra o outro; • Sinal de Trendelemburg: balanço; • Sinal de Gowers: paciente escala em si mesmo para conseguir levantar. • Presente nas miopatias: lesões musculares, como exemplo, temos a distrofia muscular de Duchenne. @resumosdamed_ 5 COORDENAÇÃO APENDICULAR: A avaliação clínica da função cerebelar objetiva detectar principalmente dismetria, decomposição do movimento e incoordenação. Além de avaliar transtornos do cerebelo. ÍNDEX-NARIZ: É solicitado ao paciente que estenda o membro superior completamente e depois toque a ponta do nariz com a ponta do dedo indicador. Os pacientes com ataxia apendicular frequentemente erram o alvo e acertam outras partes do rosto. Muitas vezes, há uma pausa antes do indicador atingir o alvo, após a qual ele continua lentamente a mover-se para completar o ato. ÍNDEX-ÍNDEX: O paciente abduz os braços e os mantém bem afastados, antes de trazer a ponta dos seus dedos indicadores em direção à linha média e tentar tocá- los. A manobra é realizada lenta e depois rapidamente, com os olhos abertos e depois fechados. Na doença cerebelar unilateral, o dedo do lado normal pode ter que cruzar a linha média para alcançar o dedo do lado afetado. Além disso, o dedo do lado doente pode acabar situando-se acima ou abaixo do dedo do lado normal, como resultado da dismetria. Ou seja, o paciente coloca a ponta do dedo no nariz e depois no dedo do examinador. O examinador pode mudar o alvo (posição do dedo), isso ajuda a sensibilizar. Quanto mais amplo o movimento, ou seja, mais distante o dedo do examinador, mais sensível o teste. DIADOCOCINESIA: Realizam-se movimentos alternados, onde a palma da mão e dorso vão sobre a coxa, de forma rápida. @resumosdamed_ 6 CALCANHAR-JOELHO: Este é o equivalente das manobras supracitadas no membro inferior. Solicita-se ao paciente que toque o joelho com o calcanhar, deslize-o por cima da cristatibial até o hálux e, então, traga-o de volta em direção ao joelho. Os achados são análogos aos das provas do membro superior. O paciente pode não acertar o joelho e tem dificuldade de manter o calcanhar sobre a crista tibial, apresentando desvios. HÁLUX-ÍNDEX: O paciente deve acertar com o hálux o dedo do examinador, assim, avalia- se se o movimento está linear ou trêmulo. MANOBRA DE BARANY; RECHAÇO DE HOLMES; ESCRITA E ESPIRAL: Forma-se a espiral de Arquimedes. A primeira espiral o paciente consegue fazer normal, já a segunda percebe-se uma incoordenação, devido ao tremor aumentado em relação ao padrão normal, pois é cerebelar. TÔNUS E REFLEXOS: Realiza-se o reflexo pendular, o qual percuta-se a patela (reflexo patelar), observando o pé ir e voltar várias vezes, mais do que o normal. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: 1. Semiologia neurológica - UNICAMP - Carlos Roberto Martins Jr, Marcondes França Jr, Alberto R. M. Martinez, Ingrid Faber e Anamarli Nucci. 2. MACHADO, A. Neuroanatomia funcional, 3ª.edição.Atheneu. São Paulo, 2013.