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COMPLEXO ESTOMATITE-GENGIVITE FELINA (CEGF) - RELATO DE CASO (ANCLIVEPA)

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HOSPITAL PÚBLICO VETERINÁRIO 
ANCLIVEPA 
 
 
 
 
 
 
RELATO DE CASO 
 
COMPLEXO GENGIVITE-ESTOMATITE FELINA 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nathan Borges Marretto 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo - SP 
Outubro de 2020 
 
 
HOSPITAL PÚBLICO VETERINÁRIO 
ANCLIVEPA 
 
 
 
 
 
 
 
 
RELATO DE CASO 
COMPLEXO ESTOMATITE-GENGIVITE FELINA 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nathan Borges Marretto 
Aluno de graduação da Universidade Anhembi Morumbi (UAM) 
Estágio obrigatório em Clínica Médica 
Anclivepa Zona Norte 
 
 
 
 
 
 
São Paulo - SP 
Outubro de 2020 
SUMÁRIO 
Apresentação da unidade.............................................................. 1 
Introdução...................................................................................... 2 
Relato de caso............................................................................... 4 
Considerações finais...................................................................... 5 
Referências bibliográficas.............................................................. 6 
 
 
APRESENTAÇÃO DA UNIDADE CONCEDENTE 
 
O Hospital Público Veterinário da unidade Zona Norte (HPVZN/Anclivepa) é custeado 
pela Prefeitura de São Paulo e administrado pela rede Associação Nacional dos Clínicos 
Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa). O HPVZN presta serviços à população 
desde o dia 02/01/2014. O hospital foi reinaugurado, com nova localização, no dia 
16/08/2021, atendendo na Rua Atílio Piffer, 687, na Casa Verde. 
A unidade conta com 13 consultórios, sala de enfermagem para cães e gatos, setor de 
oncologia, setor de emergências, sala de raio-X e ultrassonografia, bloco cirúrgico, 
instalação específica para atendimento de doenças infectocontagiosas, recepção, sala 
administração, almoxarifado, copa, vestiário masculino e feminino e área de embarque 
e desembarque com estacionamento incluso. 
INTRODUÇÃO 
O complexo gengivite-estomatite felina (CGEF) é uma infecção da cavidade oral e de 
carácter crônico muito comum na clínica médica. Considera-se que a CGEF é a segunda 
doença oral mais comum na espécie felina (ROLIM et al., 2017). 
A etiologia da doença não é totalmente elucidada, acredita-se que pode ser uni ou 
multifatorial, desta forma, o CGEF pode estar relacionado a vírus e bactérias, fatores 
imunológicos e até mesmo ao estresse. Os vírus que contribuem para a formação da 
patologia são o calicivírus felino (FCV), o vírus da imunodeficiência felina (FIV), o vírus 
da leucemia felina (FeLV), o herpesvírus felino (HVF-1) e o vírus da peritonite infecciosa 
felina (VPIF). As bactérias mias frequentemente encontradas em infecções na cavidade 
oral de felinos são as Bacteroides spp. (B. gingivalis e B. intermedius), 
Peptostreptococcus spp., Fusabacterium spp., Actinobacillus actinomycetemcomitans, 
bartonella henselae e algumas espiroquetas. Os felinos infectados pelos patógenos 
descritos acima podem apresentar concentrações séricas muito elevadas de IgG, IgM, 
IgA e albumina predispondo a uma resposta imunológica exacerbada aos antígenos e 
a inflamações crônicas. Para os felinos, qualquer tipo de mudança de rotina ou em seu 
ambiente pode ser considerado um fator estressante, o estresse biológico induz 
respostas patológicas no sistema nervosa central e endócrino, debilitando o sistema 
imune e contribuindo para o aparecimento da doença (RADFOR et al., 2007; McEWEN. 
2007; JUNIOR, G. 2010; HENNET et al., 2011 e NAJAFI et al., 2014). 
Não há evidências significativas que o CEGF esteja ligado ao sexo, raça ou idade, 
porém há maior prevalência em algumas raças como a Siamesa, Abissínia, Persa, 
Himalaia e Birmanesa. Sabe-se que a doença é mais comum em gatos adultos e idosos, 
sendo que a idade média para o aparecimento da enfermidade é de 8 a 15 anos de 
idade (SANTOS et al., 2016 e BARBOSA et al., 2018). 
Os felinos acometidos pelo CEGF apresentam disfagia, halitose, anorexia, sialorreia 
com ou sem a presença de sangue, dor, perda de peso, perda de dentes, prostração e 
desidratação. As lesões podem estar localizadas na gengiva, vestíbulo e na parte inicial 
da faringe com coloração avermelhada. A queda dos dentes molares ou pré-molares é 
frequente em felinos que apresentam reabsorção odontoclásticas. Algumas infecções 
podem ocasionar o aumento dos linfonodos mandibulares (WINER et al., 2016 e 
MEDINA et al., 2016). 
O diagnóstico geralmente é clínico, porém pode-se realizar biópsia e histopatológico das 
lesões para diagnóstico definitivo. O histopatológico em CEGF revela a presença de 
infiltrado linfocítico-plasmocítico. O hemograma pode apresentar leucocitose e 
neutrofilia e no bioquímico é notado hiperproteinemia secundária à hiperglobulinemia. 
Recomenda-se radiografias da cavidade oral a fim de avaliar reabsorções ósseas. O 
diagnóstico diferencial pode ser feito para granuloma eosinofílico felino, carcinoma de 
células escamosas, penfingua vulgare, lúpus eritematoso sistêmico, periodontites, 
diabete melito e insuficiência renal (WIGGS, R. B. 2009 e OLIVEIRA, J. R. A. 2017). 
O tratamento é baseado na higiene periodontal, uso de antibióticos, anti-infamatórios 
não-esteroidais e imunossupressores ou imunomoduladores. Deve-se realizar o 
tratamento periodontal completo como a tartarectomia e exodontia se necessário 
(HENNET et al., 2011). Os antibióticos mais eficazes são a Clindamicina, a associação 
de Metronidazol com Espiramicina, Amoxicilina com ácido clavulânico e a Doxiciclina 
(HARVEY, 2006). O controle da dor é essencial, podendo utilizar Meloxicam e fármacos 
opioides como o Tramadol, Buprenorfina (NIZA et al., 2004). Os imunossupressores de 
escolha é a Prednisolona e a Ciclosporina (LOMMER, 2013) Para NIZA et al., 2004 os 
interferons (IFN) são utilizados como imunomoduladores, pode-se usar o Interferon Alfa-
2A Recombinante Humano (rHuIFN-2α) ou Interferon Ómega Recombinante Felino 
(rFeIFN-Ω) 
RELATO DE CASO 
Foi atendido no HPV da Anclivepa/Zona Norte um felino, macho, SRD, de 6 anos de 
idade e pesando 3,1kg. O animal não tinha nenhuma vacinação e controle de ecto e 
endoparasitas atualizado. O tutor relatou que o felino apresentava secreção 
sanguinolenta na boca e sialorreia há mais de 15 dias, anorexia e seleção alimentar e 
halitose. 
No exame físico o animal encontrava-se em alerta, mas irritado, sem dor abdominal ou 
de coluna, auscultação cardiopulmonar sem alterações dignas de nota, TPC < 2s, 
mucosas congestas e com intensa gengivite e inúmeras estomatites na cavidade oral, 
desidratação leve, temperatura de 38,9° e nenhum linfonodo palpável reativo. 
Foi coletado sangue realização de hemograma e bioquímico (uréia, creatinina, 
ALT/TGP, fosfatase alcalina e proteínas totais). Foi administrado Ringer Lactato 
(250mL, SC), Cloridrato de Tramadol (0,24mL, IM) e Amoxicilina (0,4mL, IM). Foi 
prescrito Prednisolona (BID, por 10 dias em dose imunossopressora), Gabapentina em 
farmácia de manipulação (1 cápsula, VO, BID) e Amoxicilina em suspensão (1,2mL, BID 
durante 7 dias) e retorno depois de 15 dias. No retorno foi passado o resultado do exame 
de sangue para o tutor que apresentou eosinofilia, neutrofilia, anisocitose e 
hiperproteinemia. No retorno o animal apresentou melhora clínica do CGEF, o tutor 
ainda relatou que o animal já estava se alimentando melhor, porém ainda muito seletivo. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O CEGF é uma doença muito comum nos felinos e frequentemente encontrada na rotina 
clínica-médica. É essencial, em toda consulta em felinos, examinar a sua cavidade oral 
detalhadamente, assim como se atentar ao histórico clínico do animal. 
O tratamento eletivo para a doença é baseado em antibioticoterapia, controle da dor e 
imunossupressão. O protocolo medicamentoso descrito no relato de caso acima é feito 
na maioria dos felinos que apresentam CEGF e apresentam resultados bons em até 10 
dias de tratamento. Na maioria das vezes o tratamento clínico é suficiente,porém pode-
se indicar tratamento periodontal e/ou exodontia. 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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