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Hipoglicemia neonatal Laís Rios Saad – T9 Distúrbios do metabolismo da glicose Durante a gestação, o feto mantem sua homeostase a partir do aporte de glicose da mãe, portanto, a produção de glicose pelo feto não é necessária. A passagem transplacentária da glicose é feita por difusão facilitada. A placenta é impermeável aos hormônios que controlam a glicemia, ou seja, insulina, glucagon, adrenalina e hormônio de crescimento. Sendo assim, o feto produz sua insulina. O excesso de glicose no feto é acumulado como glicogênio hepático, que pode ser utilizado após o nascimento, se necessário. Nas últimas semanas de gestação, esse acumulo é crescente e se deve ao amadurecimento da via regulada pela enzima glicogênio sintetase e dos efeitos da insulina fetal, que aumenta a captação de glicose pelos tecidos muscular e adiposo. Após o nascimento, os RN apresentam risco aumento de hipoglicemia devido à elevada taxa de utilização de glicose em função de possuírem uma massa cerebral proporcionalmente maior em relação ao tamanho corporal. Assim, com a súbita interrupção da oferta, o RN entra em um estado de jejum relativo e começa a ocorrer processos metabólicos e endócrinos peculiares ao RN que permitem sua adaptação às demandas elevadas de glicose no período neonatal, ou seja, a mobilização do glicogênio acumulado, via glicogenólise e a utilização de substratos para produzir glicose (gliconeogênese). A glicose é a fonte de energia preferencial do neurônio, mas, em situação de carência, os corpos cetônicos transformam-se em substrato energético alternativo capaz de cruzar a barreira hemato-cerebral. A queda da glicemia é maior se o tempo de gestação for menor e o RN tiver restrição de crescimento intrauterino. Além disso, filhos de mãe diabética e mães com distúrbios hipertensivos também são fatores de risco para a hipoglicemia. O RN a termo tem produção inicial de glicose de 4 a 6 mg/kg/min capaz de atender a demanda cerebral, que é de 5 mg/kg/min. Hipoglicemia A hipoglicemia ocorre devido a diminuição ou alteração na produção de glicose-gliconeogênese e/ou cetogênese, produção excessiva de insulina, substrato baixo pela alimentação inadequada, produção de hormônios contrarreguladores alterada e distúrbios de oxidação de ácidos graxos. Assim, são fatores de risco para hipoglicemia: Prematuros PIG GIG Filhos de mãe obesa Filhos de mãe diabética RN com doença hemolítica por incompatibilidade Rh RN com policitemia RN hipotérmicos RN com asfixia perinatal Ao nascer, os níveis de glicemia do RN caem rapidamente: Cerca de 30 mg/dL durante as primeiras 2 a 3 horas; 40 a 45 mg/dL nas primeiras 4 a 6 horas; Manutenção nas primeiras 12 horas de vida. Definição de hipoglicemia neonatal Não existe consenso na literatura sobre um número certo para definir a hipoglicemia e, sim, um limiar operacional. RN a termo saudáveis < 24 horas de vida: 30-35 mg/dL que se elevam para 45 mg/dL após alimentação e não voltam a cair > 24 horas de vida: 45-50 mg/dL RN com sinais ou sintomas 45 mg/dL Em qualquer RN Se glicemia < 25 mg/dL administrar glicose via IV em bolus para elevar > 45 mg/Dl RN assintomáticos com FR Glicemia = 36 mg/dL, com acompanhamento a cada hora da glicemia e da aceitação alimentar OBS: glicemia inferior a 40 mg/dL em qualquer RN nas primeiras 24h de vida e < 45 mg/dL após 24h exige realização de medidas seriadas de glicemia antes das mamadas e monitorização aceitação da alimentação. Etiologia HIPER INSULINISMO BAIXA RESERVA DE GLICOGÊNIO MISTO RN GIG RN pré termo Situações de estresse Mãe DMG RN PIG EXT (sangue com heparina) Eritoblastose fetal Baixo peso ao nascer Policitemia Síndromes genéticas CIUR EIM 1 2 3 Aumento do consumo - hiperinsulinismo Pouca produção – baixa reserva de glicogênio Causas mistas Rastreio Os RN com risco devem ser identificados a partir das causas citadas ou então aqueles que apresentem sintomatologia sugestiva de hipoglicemia, devem ser monitorizados de rotina RN com baixa reserva de glicogênio e causas mistas Com 3, 6, 12, 24 horas até a estabilização da glicemia (> 50 mg/dL) e depois de 8/8 horas até 72 horas de vida RN com hiperinsulinismo Com 1, 3, 6, 12, 24 horas até a estabilização da glicemia (> 50 mg/dL) e depois de 8/8 horas até 72 horas de vida RN com sinais e sintomas Realizar triagem no momento que o RN apresentar os sintomas OBS: o rastreio é feito por meio do dextro ou HGT, porém a confirmação só é feita por meio de exame laboratorial da dosagem de glicemia plasmática. Sempre que tiver sintomatologia suspeita, deve-se pesquisar por hipoglicemia! Tratamento Adicionar 4 mL/kg/dia de gluconato de cálcio às soluções de glicose nas infusões prolon gadas, mas nunca no bolus. Após a estabilização da glicemia em níveis adequados, reduzir lentamente as taxas de infusão da glicose. Na prática, reduzir 1 mg/kg/min a cada vez (em intervalos nunca inferiores a uma hora) Quando não se consegue a manutenção da glicemia plasmática acima de 45 mg/dL (ou sanguínea acima de 40 mg/dL) com taxa de infusão de glicose acima de 12 mg/kg/min, considerar a administração de corticoide (hidrocortisona) por via IV na dose de 5 mg/kg/dose, a cada 12 horas, concomitantemente à oferta de glicose. Prednisona a 2 mg/kg/dia por via oral ou EV também pode ser utilizada. Nos casos de hiperinsulinemia persistente (nesidioblastose), está indicado o diazóxido, que atua diretamente nas células beta pancreáticas, diminuindo a liberação de insulina. Por ser um hipotensor, monitorar a pressão arterial.
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