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Capítu lo 13 I Controle Genético do Desenvolvimento 397 As proteínas Hox têm uma sequência em comum lab pb Df d Ser Antp Ubx abd-A abd-B NNSGRTNFTNKQLTELEKEFHFNRYLTRARRIEIANTLQLNETQVKIWFQNRRMKQKKRV PRRLRTAYTNTQLLELEKEFHFNKYLCRPRRIEIAASLDLTERQVKVWFQNRRMKHKRQT PKRQRTAYTRHQILELEKEFHYNRYLTRRRRIEIAHTLVLSERQIKIWFQNRRMKWKKDN TKRQRTSYTRYQTLELEKEFHFNRYLTRRRRIEIAHALCLTERQIKIWFQNRRMKWKKEH RKRGRQTYTRYQTLELEKEFHFNRYLTRRRRIEIAHALCLTERQIKIWFQNRRMKWKKEN RRRGRQTYTRYQTLELEKEFHTNHYLTRRRRIEMAHALCLTERQIKIWFQNRRMKLKKEI RRRGRQTYTRFQTLELEKEFHFNHYLTRRRRIEIAHALCLTERQIKIWFQNRRMKLKKEL VRKKRKPYSKFQTLELEKEFLFNAYVSKQKRWELARNLQLTERQVKIWFQNRRMKNKKNS Sequência -RRGRT-YTR-QTLELEKEFHFNRYLTRRRRIEIAHALCLTERQIKIWFQNRRMK-KKE- consenso Hélice 1 Hélice 2 Hélice 3 Figura 13.8 Sequências de homeodomínios da mosca. Todos os oito genes Hox de Drosophila codificam proteínas que contêm um domínio altamente conservado de 60 aminoácidos, o homeodomínio, composto de três hélices O'.. As hélices 2 e 3 formam um motif hélice-- giro-hélice similarmente ao repressor Lac, Cro e outras proteínas de ligação ao DNA. Os resíduos comuns aos genes Hox estão sombreados em amarelo; os resíduos diferentes estão sombreados em vermelho; aqueles comuns aos subgrupos de proteínas estão sombreados em azul ou verde. [De 5. 8. Carrol/,}. K. Grenier e 5. D. Weatherbee, From DNA to Diversity: Molecular Genetics and the Evolution of Animal Design, 2nd ed. 81ackwel/, 2005.] cidos. A sequência de aminoácidos do homeodomínio é mui- to similar entre as proteínas Hox (Figura 13.8). Embora a descoberta de um motif proteico comum em cada uma das proteínas Hox tenha sido muito entusiasmante, análises posteriores da estrutura do homeodomínio revela- ram que ela forma um motif hélice-giro-hélice comum ao repressor Lac, ao repressor À, à Cro e às proteínas regulado- ras a2 e a 1 dos Zoei de tipos reprodutivos de leveduras. Essa similaridade sugeriu imediatamente (e, subsequentemente, mostrou) que as proteínas Hox são proteínas de ligação ao DNA sequência-específicas, e exercem seus efeitos controlan- do a expressão de genes nos segmentos em desenvolvimento e apêndices. Assim, os produtos desses genes notáveis funcio- nam por meio de princípios que já são conhecidos dos Capí- tulos 11 e 12, ligando-se a elementos reguladores de outros genes para ativar ou reprimir sua expressão. Veremos que isso também é verdade para outros genes toolkit: uma fração significativa desses genes codifica fatores de transcrição que controlam a expressão de outros genes. Mensagem. Muitos genes too/kit codificam fatores de trans- crição que regulam a expressão de outros genes. Vamos ver como as proteínas Hox e outras proteínas toolkit orquestram a expressão gênica no desenvolvimento um pou- co mais adiante. Primeiro, há uma grande descoberta a des- crever, e ela revela que o que aprendemos dos genes Hox tem implicações gerais para o reino animal. Grupos de genes Hox controlam o desenvolvimento na maioria dos animais Quando o homeoboxe foi descoberto em genes Hox de moscas, houve dúvida se essa característica era alguma peculiaridade desses bizarros genes de mosca ou estava mais amplamente distribuída, em outros insetos ou animais segmentados, por exemplo. Para abordar essa possibilidade, os pesquisadores procuraram homeoboxes nos genomas de outros insetos, bem como de minhocas, sapos, vacas e até mesmo humanos. Eles encontraram muitos homeoboxes em cada um desses geno- • • mas amma1s. As similaridades nas sequências homeoboxe de espé- cies diferentes foram surpreendentes. Em mais de 60 dos aminoácidos do homeodomínio, algumas proteínas Hox de camundongos e sapos eram idênticas às sequências das mos- cas em até 59 das 60 posições (Figura 13.9). Tendo em vista A proteína Hox de Drosophila e a de vertebrados mostram marcantes similaridades Mosca Dfd Anfíbio Hox4 Camundongo HoxB4 Humano HoxB4 PKRQRTAYTRHQILELEKEFHYNRYLTRRRRIEIAHTLVLSERQIKIWFQNRRMKWKKDN KLPNTKNVR TKRSRTAYTRQQVLELEKEFHFNRYLTRRR~EIAH,SLGLTERQIKIWFQNRRMKWKKD RLPNTKTRS PKRSRTAYTRQQVLELEKEFHYNRYLTRRRRVEIAHWLCLSERQIKIWFQNRRMKWKKDH KLPNTKIRS PKRSRTAYTRQQVLELEKEFHYNRYLTRRRRVEIAHWLCLSERQIKIWFQNRRMKWKKDH KLPNTKIRS Galinha HoxB4 PKRSRTAYTRQQVLELEKEFHYNRYLTRRRRVEIAHSLCLSERQIKIWFQNRRMKWKKDH KLPNTKIRS Sapo HoxB4 ~RSRTAYTRQQVLELEKEFHYNRYLTRRRRVEIAHTL!RLSERQIKIWFQNRRMKWKKDH KLPNTKIKS Fugu HoxB4 PKRSRTAYTRQQVLELEKEFHYNRYLTRRRRVEIAHTLCLSERQIKIWFQNRRMKWKKDH KLPNTKVRS Peixe-zebra HoxB4 2\KRSRTAYTRQQVLELEKEFHYNRYLTRRRRVEIAHTL!RLSERQIKIWFQNRRMKWKKDH KLPNTKIKS Figura 13.9 As sequências do homeodomínio da proteína Deformed de Drosophila e de vários genes da proteína Hox do grupo 4 em vertebrados são muito similares. Os resíduos em comum estão sombreados em amarelo. Os resíduos divergentes estão sombreados em ver- melho; os resíduos comuns a subgrupos de proteínas estão sombreados em azul. As regiões flanqueadoras C-terminais muito similares fora do homeodomínio estão sombreadas em verde. [De 5. 8. Carrol/,}. K. Grenier e 5. D. Weatherbee, From DNA to Diversity: Molecular Genetics and the Evolution of Animal Design, 2nd ed. 8/ackwell, 2005. ] 398 Introdução à Genética as grandes distâncias evolutivas entre esses animais, mais de 500 milhões de anos desde que tiveram um ancestral comum, a amplitude da similaridade das sequências indica uma pressão muito forte para manter a sequência do homeo- domínio. A existência dos genes Hox com homeoboxes em todo o reino animal foi totalmente inesperada. Por que tipos dife- rentes de animais teriam os mesmos genes reguladores não era óbvio, motivo pelo qual os biólogos ficaram surpresos com os resultados quando foi examinada a organização e a expressão de genes Hox em outros animais. Nos vertebrados, como o camundongo de laboratório, os genes Hox também estão aglomerados em quatro grandes complexos gênicos em quatro cromossomos diferentes. Cada grupo contém de 9 a 11 genes Hox, um total de 39 genes Hox. Além disso, a ordem dos genes nos complexos Hox de camundongos é paralela à ordem de suas contrapartes mais relacionadas nos complexos Hox das moscas, bem como em cada um dos outros grupos Hox de camundongos (Figura 13.10a). Essa correspondência indica que os complexos Hox de insetos e vertebrados estão relacionados, e que alguma forma de complexo Hox existiu em seu distante ancestral comum. Os quatro complexos Hox em camundongos surgiram por duplicações de complexos Hox inteiros (talvez de cromossomos inteiros) nos ancestrais dos vertebrados. Por que tais animais diferentes têm esses conjuntos de genes em comum? Seus ancestrais comuns indicam que os genes Hox têm algum papel fundamental no desenvolvimento da maioria dos animais. Esse papel é aparente pelas análises de como os genes Hox são expressos em animais diferentes. Nos embriões dos vertebrados, genes Hox adjacentes tam- bém são expressos em domínios adjacentes ou parcialmente superpostos ao longo do eixo anteroposterior do corpo. Além disso, a ordem dos genes Hox nos complexos corresponde à ordem da cabeça à cauda das regiões do corpo nas quais os genes são expressos (Figura 13.10b). Os padrões de expressão dos genes Hox dos vertebrados sugeriram que eles também especificam a identidade das regiões corpóreas, e subsequentes análises de mutantes do gene Hox levantaram essa sugestão. Por exemplo, as muta- ções nos genes Hoxa11 e Hoxd11 causam a transformação homeótica das vértebras sacrais em vértebras lombares (Figura 13.11). Assim, como na mosca, a perda ou ganho de função dos genes Hox em vertebrados causa a transforma- ção da identidade de estruturas serialmente repetidas. Tais resultados foram obtidos em várias classes, incluindo mamí- feros, aves, anffbios e peixes. Além disso, os grupos de genes Hox foram mostrados governando a padronização de outros insetos e dispostos em regiões ao longo do eixo anteroposte- rior em anelídeos, moluscos, nematódeos, vários artrópodes, A ordem dos genes Hox é paralela à das partes do corpo nas quaiseles são expressos (a) Camundongo Hoxa Camundongo Hoxb a-1 b-1 a-2 a-3 a-4 b-2 b-3 b-4 Camundongo ------- a-5 a-6 a-7 a-9 a-10 a-11 a-13 b-5 b-6 b-7 b-8 b-9 b-13 Hoxc c-4 c-5 c-6 c-8 c-9 c-10 c-11 c-12 c-13 ~~;~ndongo __ d_ 1 ----il=:J~f--------11DH 1 r 1 1 1 1 H l-d-3 d-4 d-8 d-9 d-10 d-11 d-12 d-13 (b) Embrião de camundongo Figura 13.1 O Como os das moscas-das-frutas, os genes Hox de vertebrados são organizados em grupos e expressos ao longo do eixo anteroposterior. (a) No camundongo, quatro complexos dos genes Hox, compreendendo 39 genes no total, estão presentes em quatro cro- mossomos d iferentes. Nem todo gene é representado em cada complexo. A lguns foram perdidos no curso da evolução. (b) Os genes Hox são expressos em domínios distintos ao longo do eixo anteroposterior do embrião de camundongo. As cores representam os grupos d iferentes de genes mostrados na parte a. [Oe 5. 8 . Carrol/, "Homeotic Genes and the Evolution of Arthropods and Chordates'~ Nature 376, 1995, 479-485.J Capítu lo 13 I Controle Genético do Desenvolvimento 399 cordados primitivos, platelmintos e outros animais. Portanto, apesar das enormes diferenças na anatomia, a posse de um ou mais grupos de genes Hox que estão dispostos em regiões ao longo do eixo corpóreo principal é uma característica comum, fundamental, de pelo menos todos os animais bilaterais. De fato, as lições surpreendentes dos genes Hox mostraram o que se tornou uma tendência geral entre os genes toolkit; isto é, a maioria desses genes é comum a animais diferentes. Eixo -: 1 dorsoventral Eixo Dorsal 1 1 1 Ventral A relação entre os eixos corpóreos embrionário e adulto. Mensagem. Apesar das grandes diferenças anatômicas, muitos genes too/kit são comuns a uma ampla gama de diferentes ramos de animais. Façamos agora um inventário do resto do instrumental . " . . para ver que outros pr1nc1p1os gerais emergem. 13.3 Definição da too/kit Os genes Hox talvez sejam os membros toolkit mais bem conhecidos, mas formam uma pequena família em um grupo muito grande de genes necessários para o desenvolvimento dos números apropriados, formas, tamanhos e tipos de parte do corpo. Pouco se sabia sobre outras toolkit até finais da década de 1970 e início de 1980, quando Christine Nüsslein- Volhard e Eric Wieschaus, que trabalhavam no Max Planck Institute em Tübingen, Alemanha, encontraram os genes necessários para a formação da organização segmentar do embrião e da larva de Drosophila. Até seus esforços, a maioria dos trabalhos com o desen- volvimento da mosca enfocava fenótipos em adultos viáveis e não em embriões. Nüsslein-Volhard e Wieschaus perce- beram que os tipos de genes que eles estavam procuran- do eram provavelmente letais para os embriões ou larvas em mutantes homozigotos. Assim, eles criaram um esque- ma para procurar genes que são necessários no zigoto (o produto da fertilização; Figura 13.12, embaixo). Eles tam- bém desenvolveram triagens para identificar os genes com produtos que funcionam no zigoto, antes que o genoma zigótico seja ativado, e são necessários para a padronização adequada do embrião. Os genes com produtos transmiti- dos pela fêmea para o zigoto são chamados de genes de efeito materno. Os fenótipos mutantes de genes de efeito materno estrito dependem apenas do genótipo da fêmea (Figura 13.12, em cima) . Nessas triagens, foram identificados genes que eram necessários para produzir o número e o padrão apropriados dos segmentos larvares, suas três camadas de tecidos ( ecto- derma, mesoderma e endoderma) e padronizar os detalhes finos da anatomia animal. O poder das triagens genéticas Os genes Hox regulam a identidade de estruturas serialmente repetidas em vertebrados (a) Tipo selvagem (b) Hoxa11+/Hoxa11; Hoxd11-1Hoxd11- (e) Hoxa11-1Hoxa11 ; Hoxd11-1 Hoxd11- Figura 13.11 As morfologias das diferentes regiões da coluna vertebral são regu ladas pelos genes Hox. (a) No camundongo, seis vérte- bras lombares formam-se logo anteriores às vértebras sacrais (números em vermelho). (b) Em camundongos sem a função de posterioridade do gene Hoxd11 e com uma cópia funcional do gene Hoxa 11, formam-se sete vértebras lombares e uma vértebra sacra! é perdida. (c) Em camundongos sem a função de ambos, Hoxa 11 e Hoxd11, formam-se oito vértebras lombares e duas vértebras sacrais são perdidas. [Fotografias por cortesia da Ora. Anne Boulet, HHMI, University of Utah; de S. 8. Carrol,}. K. Grenier e S. D. Weatherbee, From DNA to Diversity: Molecular Genetics and the Evolution of Animal Design, 2nd ed. Blackwel/, 2005.] 400 Introdução à Genética Triagens genéticas para genes de desenvolvimento de efeito materno e necessários no zigoto GENES MATERNOS NECESSÁRIOS Genitores Prole mi+ o x mi+ ~ ---+ mim, mi+, +I+ todos normais mim o x mi+ ~ ---+ mim, mi+ +I+, mi+, ou mim o x mim~ ---+ mi+, mim GENES NECESSÁRIOS NO ZIGOTO Genitores mi+ o x mi+~ ~ mi+, +I+ mim todos normais todos fenótipos mutantes Prole normal fenótipo mutante Figura 13.12 As triagens genéticas identificam se um produto gênico funciona no ovócito ou no zigoto. Os fenótipos da prole dependem do (em cima) genótipo materno para genes de efeito materno ou (embaixo) do genótipo da prole (zigótico) para genes zigoticamente necessários (m, mutante; +, tipo selvagem). era sua natureza sistemática. Saturando cada cromossomo da mosca (exceto o pequeno quarto cromossomo) com muta- ções induzidas quimicamente, os pesquisadores conseguiram identificar a maioria dos genes que eram necessários para a construção da mosca. Por seus esforços pioneiros, Nüsslein- Volhard, Wieschaus e Lewis dividiram o Prêmio Nobel de 1995 de Fisiologia ou Medicina. A característica mais notável dos mutantes recém-iden- tificados foi que eles apresentavam defeitos impressionan- tes, mas bem definidos, na organização ou padronização do embrião. Isto é, a larva morta não era uma carcaça amor- fa, mas exibia defeitos de padronização específicos e, com frequência, acentuados. O corpo da larva de Drosophila tem várias características em que o número, a posição ou o padrão podem servir como marcos para diagnosticar ou classificar as anomalias nos animais mutantes. Cada locus podia, portanto, ser classificado de acordo com o eixo corpóreo que é afetado e o padrão de defeitos causados pelas mutações. Os cruzamen- tos revelam se o locus é ativo no ovócito materno ou zigoto. Cada classe de genes parece representar etapas diferentes no refinamento progressivo do plano corpóreo embrionário, dos que afetam grandes regiões do embrião até aqueles com áreas mais limitadas de influência. Para qualquer gene toolkit, três informações são funda- mentais para se compreender o funcionamento gênico: (1) o fenótipo mutante, (2) o padrão da expressão gênica e (3) a natureza do produto gênico. O estudo exaustivo de algumas dezenas de genes levou a um quadro detalhado de como cada eixo do corpo é estabelecido e subdividido em segmentos ou camadas germinativas. Eixos anteroposterior e dorsoventral Algumas dúzias de genes são necessárias para a organização apropriada do eixo corpóreo anteroposterior do embrião da mosca. Os genes são agrupados em cinco classes distintas, com base em sua área de influência no padrão embrionário. • A primeira classe estabelece o eixo anteroposterior e con- siste nos genes de efeito materno. Um membro impor- tante dessa classe é o gene Bicoid. Os embriões de mães mutantes Bicoid não apresentam a região anterior do cor- po (Figura 13.13), significando que o gene é necessário para o desenvolvimento dessa região. As três classes seguintes são genes zigoticamente ati- vos necessários para o desenvolvimento de segmentos do embrião. • A segunda classe contém os genes gap. Cada um desses genes afeta a formação de um bloco contíguo de segmen- tos; as mutações nos genes gap levam a grandes espaços na segmentação (Figura 13.14, à esquerda) . • A terceira classeconstitui os genes de regra dos pares, que atuam com uma periodicidade de segmento duplo. Os mutantes de regras dos pares são partes que faltam de cada par de segmentos, mas genes diferentes de regra dos pares afetam partes diferentes de cada segmento duplo. Por exemplo, o gene even-skipped afeta um grupo de li- mites segmentares, e o gene odd-skipped afeta o conjunto complementar de limites (Figura 13.14, no meio). • A quarta classe consiste nos genes de polaridade segmen- tar, que afetam a padronização dentro de cada segmento. Os mutantes dessa classe apresentam defeitos na polarida- de e no número de segmentos (Figura 13.14, à direita). A quinta classe de genes determina o destino de cada segmento. • A quinta classe inclui os genes Hox já discutidos; os mutan- tes Hox não afetam o número de segmentos, mas alteram o aspecto de um ou mais segmentos. Figura 13.13 O gene de efeito materno Bicoid (bcd) afeta a parte anterior da larva em desenvolvimento. Essas fotomicrografias são de larvas de Drosophila que foram preparadas para mostrar seus rígidos exoesqueletos. Estruturas densas, como as bandas de dentículos seg- , ' mentares, aparecem em branco. (A esquerda) Uma larva normal. (A direita) Uma larva de um mutante homozigoto bcd fêmea. As estru- turas da cabeça e torácica anterior estão faltando. [Oe e. H. Nüss/ein- Vo/hard, G. Frohnhõfer e R. Lehmann, "Determination of Anteroposterior Po!arity in Drosophi/a '~ Science 238, 1987, 1678.] Capítu lo 13 I Controle Genético do Desenvolvimento 401 Os mutantes de genes de segmentação são as partes que faltam nos segmentos Gap Regra dos pares Polaridade segmentar .. ----:...: · ·I:.--~ . ·z.~· Krüppel knirps . ------- --~ ·: :-- : :· /;- Çç:>' . . . . . .. .. even-skipped -,,----, . . . -~- ~ _/ · ·~· --- ---, paired . ·-- ... . . _J. ___ -- -.... ~ . _.,. . . .. ------- - ~ -- --- ----- ··· / .. --- --- / . .. ......... . . . ........ . odd-skipped --- ----· ·- - . . ---::s.: ------~ - - runt . -- .. . ,. .... .. . . . . -,.. .... - . . gooseberry ... ..... ... . . . - . . . ------- ---- .. ~ .. -- ----. . _/ / .. . ·-- _/ ~ .. · ··- _/ / . . .. . . . . -. . ~ - . . -.. . . -. ...... ... --- ----- - -- ---- -- . .. .. --. patched Figura 13.14 Classes de mutantes de gene de segmentação de Drosophila. Esses diagramas mostram mutantes gap, regra dos pares e polaridade segmentar. Os trapézios em vermelho são as bandas densas de exoesqueleto vistas na Figura 13.13. O limite de cada segmento é ind icado por uma linha pontilhada. O diagrama da esquerda de cada par mostra uma larva do tipo selvagem, e o d iagrama da direita mostra o padrão formado em determinado mutante. As regiões sombreadas em rosa nos diagramas do tipo selvagem indicam os domínios da larva que estão faltando ou foram afetados no mutante. Expressão dos genes too/kit Para compreender a relação entre genes e o fenótipo mutante, precisamos conhecer a cronologia e a localização dos padrões de expressão gênica e a natureza molecular dos produtos gênicos. Os padrões de expressão dos genes toolkit corres- pondem nitidamente a seus fenótipos, pois são precisamente correlacionados com as partes do corpo em desenvolvimento que estão alteradas nos mutantes. Cada gene é expresso em uma região que pode ser mapeada em coordenadas especí- ficas ao longo do eixo do embrião. Por exemplo, a proteína Bicoid de efeito materno é expressa em um padrão graduado que emana do polo anterior do embrião inicial, a seção do embrião que falta nos mutantes (Figura 13.15a). Similarmen- te, as proteínas gap são expressas em blocos de células que correspondem a futuras posições dos segmentos que estão fal- tando nos respectivos mutantes do gene gap (Figura 13.15b). As proteínas de regra dos pares são expressas em padrões de faixas: uma faixa transversa é expressa a cada dois segmentos, em um total de sete faixas cobrindo os 14 futuros segmentos corpóreos (a posição e a periodicidade das faixas correspon- dem à periodicidade de defeitos nas larvas mutantes), como mostrado na Figura 13.15c. Muitos genes de polaridade seg- mentar são expressos em faixas de células dentro de cada segmento, 14 faixas no total, correspondendo a 14 segmentos corporais (Figura 13.15d). Note que os domínios da expressão gênica tornam-se progressivamente mais refinados à medida que o desenvolvimento continua: os genes são expressos pri- meiro em grandes regiões (proteínas gap), então em faixas de três a quatro células de largura (proteínas de regra dos pares) e, a seguir, em faixas de uma a duas células de largura (proteínas de polaridade segmentar). Além do que aprendemos sobre os padrões espaciais da expressão dos genes de desenvolvimento, a ordem de expres- são desses genes ao longo do tempo é lógica. A proteína Bicoid de efeito materno aparece antes das proteínas gap zigóticas, que são expressas antes do aparecimento dos padrões de sete faixas das proteínas de regra dos pares que, por sua vez, pre- cedem os padrões de 14 faixas das proteínas de polaridade segmentar. A ordem de expressão gênica e o refinamento pro- gressivo dos domínios no embrião revelam que a produção do plano corpóreo é um processo gradativo, com importantes subdivisões do corpo ocorrendo primeiro e, então, refinadas 402 Introdução à Genética Figura 13.15 Os padrões de expressão de genes too/kit correspon- dem a fenótipos mutantes. Os embriões de Drosophila foram corados com anticorpos para (a) a proteína Bicoid de origem materna, (b) a proteína gap Krüppel, (c) a proteína de regra dos pares Hairy e (d) a proteína de polaridade segmentar Engrailled e visualizados por métodos imunoenzimáticos (corados em marrom) (a) ou por imuno- fluorescência (corados em verde) (b-d). Cada proteína está local izada nos núcleos em regiões do embrião que são afetadas por mutações nos respectivos genes. [Fotomicrografias por cortesia de (a) Ruth Leh- mann e (b-d) James Langeland.] expressão de outros genes toolkit. Por exemplo, nos embriões de mães mutantes Bicoid, a expressão de vários genes gap é alterada, bem como a expressão dos genes de regra dos pares e de polaridade segmentar. Esse achado sugere que a proteína Bicoid de algum modo (direta ou indiretamente) influencia a regulação dos genes gap. até ser estabelecido um padrão fino. A ordem de ação gênica sugere, ainda, que a expressão de um grupo de genes pode controlar a expressão dos grupos de genes seguintes. Outro indício de que a expressão de um grupo de genes poderia controlar a expressão de sucessivos grupos de genes vem do exame dos produtos proteicos. A inspeção da sequência proteica Bicoid revela que ela contém um homeodomínio, correlato mas distinto dos das proteínas Hox. Assim, Bicoid tem as propriedades de um fator de transcrição de ligação ao DNA. Cada gene gap também codifica um fator de trans- crição, como cada gene de regra dos pares, vários genes de polaridade segmentar e, como descrito antes, todos os genes Hox. Esses fatores de transcrição incluem representantes da maioria das fanu1ias conhecidas de proteínas de ligação ao DNA sequência-específicas; assim, embora não haja restrição quanto a que fanu1ias podem pertencer, muitas proteínas toolkit de ação precoce são fatores de transcrição. As que não são fatores de transcrição tendem a ser componentes de vias de sinalização (Tabela 13.1). Essas vias, mostradas genericamente na Figura 13.16, medeiam processos de sina- lização induzidos por ligantes entre células, e seu produto Um indício de que essa progressão é, de fato, o que ocorre vem da análise dos efeitos das mutações nos genes toolkit na Tabela 13.1 Exemplos de genes do eixo A-P de Drosophila que contribuem para a formação de padrão. Símbolo gênico Nome do gene hb-z hunchback-zygotic Kr Krüppel kni knirps eve even-skipped ftz fushitarazu opa odd-paired prd paired en engrailed wg wingless hh hedgehog ptc patched lab"labial Dfd Deformed Antp Antennapedia Ubx Ultrabithorax Função da proteína Fator de transcrição - proteína zinc-finger Fator de transcrição - proteína zinc-finger Fator de transcrição - proteína do tipo receptor de esteroide Fator de transcrição - proteína homeodomínio Fator de transcrição - proteína homeodomínio Fator de transcrição - proteína zinc-finger Fator de transcrição - proteína PHOX Fator de transcrição - proteína homeodomínio Sinalização da proteína WG Proteína de sinalização HH Proteína transmembrana Fator de transcrição - proteína homeodomínio Fator de transcrição - proteína homeodomínio Fator de transcrição - proteína homeodomínio Fator de transcrição - proteína homeodomínio Papel(éis) no desenvolvimento inicial Gene gap Gene gap Gene gap Gene de regra dos pares Gene de regra dos pares Gene de regra dos pares Gene de regra dos pares Gene de polaridade segmentar Gene de polaridade segmentar Gene de polaridade segmentar Gene de polaridade segmentar Gene de identidade segmentar Gene de identidade segmentar Gene de identidade segmentar Gene de identidade segmentar Capítu lo 13 I Controle Genético do Desenvolvimento 403 Via típica de transdução de sinal Extracelular _ _l lJULllULU Membrana celular Citoplasma TF inativo Ativação da cascata de fosforilação Ativação ou translocação do fator de transcrição para o núcleo TF ativo TF ativo Membrana nuclear Núcleo Ligação a sequências reguladoras de ação eis TF Acentuador Promotor Figura 13.16 A maioria das vias de sinalização opera por lógica simi lar, mas tem componentes proteicos e mecanismos de transdução de sinal diferentes. A sinalização começa quando um ligante liga-se a um receptor de membrana, levando à l iberação ou ativação de proteínas intracelulares. A ativação do receptor em geral leva à modificação de fatores de transcrição (TF) inativos. Os fatores de transcrição modificados são translocados para o núcleo celu lar, onde se ligam a sequências de DNA reguladoras de ação eis ou a proteínas de ligação ao DNA e regulam o nível de transcrição do gene-alvo. [De 5. 8. Carrol!,}. K. Crenier e 5. D. Weatherbee, From DNA to Diversity: Molecular Cenetics and the Evolution of Animal Design. 2nd ed. 81ackwel/, 2005. J geralmente leva à ativação gênica ou repressão. Assim, a maioria das proteínas toolkit, seja direta (como fatores de transcrição) ou indiretamente (como componentes de vias de sinalização), afeta a regulação gênica. Mensagem. Muitas proteínas too/kit são fatores de transcrição ou componentes de vias de transdução de sinal mediadas por ligante. Os mesmos princípios aplicam-se à formação do eixo cor- póreo dorsoventral e do eixo anteroposterior. O eixo dorso- ventral também é subdividido em regiões. Vários genes de efeito materno, como o dorsal, são necessários para estabele- cer essas regiões em posições distintas do lado dorsal (alto) em relação ao lado ventral (baixo) do embrião. Os mutan- tes dorsais são "dorsalizados" e não têm estruturas ventrais (como o mesoderma e o sistema nervoso). Diversos genes que são ativados no zigoto também são necessários para a subdivisão do eixo dorsoventral. O produto do gene de efeito materno dorsal é um fator de transcrição - a proteína Dorsal, que se expressa em um gradiente ao longo do eixo dorsoventral, com seu mais alto nível de acúmulo em células ventrais (Figura 13.17a). O gradiente estabelece sub-regiões de concentração diferen- te da proteína Dorsal. Em cada sub-região, um conjunto diferente de genes zigóticos expressos define as regiões que dão origem a camadas teciduais particulares, como o mesoderma e o neuroectoderma (a parte do ectoderma que origina o sistema nervoso ventral), conforme mostrado na Figura 13.17b. O controle genético do desenvolvimento é, então, funda- mentalmente uma questão de regulação gênica no espaço e no tempo. Como o ato de ligar e desligar genes toolkit cons- trói a forma animal? E como isso é coreografado durante o desenvolvimento? Para responder a essas perguntas, exami- naremos as interações entre as proteínas toolkit da mosca e os genes em maiores detalhes. Os mecanismos que veremos para o controle da expressão de genes toolkit no embrião de 404 Introdução à Genética Drosophila surgiram como modelos para a regulação espacial da expressão gênica no desenvolvimento animal em geral. 13.4 Regulação espacial da - A e expressao genica no desenvolvimento Vimos que os genes toolkit são expressos em relação a coor- denadas no embrião. Mas como as coordenadas espaciais do embrião em desenvolvimento funcionam como instruções para os genes, para ligá-los ou desligá-los em padrões pre- cisos? Conforme descrito nos Capítulos 11 e 12, o controle fisiológico da expressão gênica em bactérias e eucariotos simples é governado, em última instância, por proteínas de ligação ao DNA sequência-específicas que agem em elemen- tos reguladores de ação eis (p. ex., operadores e elementos de sequência de ativação antecedente, ou UAS). Similarmente, o controle espacial da expressão gênica durante o desenvol- vimento é amplamente governado pela interação de fatores de transcrição com elementos reguladores de ação eis. Entre- tanto, o controle espacial e temporal da regulação gênica no desenvolvimento de um embrião multicelular tridimensional requer a ação de mais fatores de transcrição em elementos reguladores mais numerosos e mais complexos de ação eis. Para definir uma posição em um embrião, tem de haver informação reguladora capaz de distinguir essa posição das regiões adjacentes. Se representarmos um embrião tridi- mensional como um globo, então a informação posicional deve ser especificada indicando a longitude (local ao longo do eixo anteroposterior), a latitude (local ao longo do eixo dorsoventral) e a altitude ou profundidade (posição nas camadas germinativas) . Ilustraremos os princípios gerais de como as posições da expressão gênica são especificadas com três exemplos, que devem ser pensados apenas como algu- mas ilustrações do grande número de interações regulatórias que coordenam o desenvolvimento da mosca e do animal. O desenvolvimento é um contínuo no qual cada padrão de atividade gênica tem uma base causal precedente. Todo o processo inclui dezenas de milhares de interações regulató- rias e produtos. Enfocaremos algumas conexões entre os genes em níveis diferentes de hierarquias que determinam o plano corpóreo Figura 13.17 Os domínios de expressão dos genes de padrão do eixo dorsoventral correspondem a camadas específicas de futuros tecidos. (a) A proteína Dorsal de origem materna é expressa em um gradiente, com a maior concentração de Dorsal nos núcleos de células ventrais (embaixo, na foto). (b) Expressão dos quatro genes zigóti- cos de padrão do eixo dorsoventral revelada pela hibridi- zação in situ com RNA. Nessa visão lateral, são revelados os domínios dos genes decapentaplegic (amarelo), musc/e segment homeobox (vermelho), intermediate neurob/asts defective (verde) e ventral neurob/asts defective (azul). [Fotografias por cortesia de (a) Michael Levine e (b) David Kosman, Bill McGinnis e Ethan Bier.] segmenta! básico, e os pontos nodais onde genes importantes integram vários estímulos reguladores e respondem produ- zindo expressões gênicas mais simples. Gradientes maternos e ativação gênica A proteína Bicoid é um fator de transcrição do tipo homeo- domínio, que é traduzido do mRNA depositado no zigoto e situado no polo anterior. Como o embrião inicial de Droso- phila é um sincício, sem membranas celulares que possam impedir a difusão de moléculas proteicas, Bicoid pode se difundir pelo citoplasma. Essa difusão estabelece um gra- diente de concentração proteica (Figura 13.18a): a proteína Bicoid é muito concentrada na extremidade anterior, e essa concentração diminui gradualmente à medida que a dis- tância dessa extremidade aumenta, até haver muito pouca proteína Bicoidalém do meio do embrião. Esse gradiente de concentração dá informação posicional sobre a localização ao longo do eixo anteroposterior. Uma alta concentração signifi- ca a extremidade anterior, e a menor concentração significa a metade, e assim por diante. Portanto, um modo de garantir que um gene seja ativado em um só local ao longo do eixo é correlacionar a expressão gênica ao nível de concentração. Seria o caso dos genes gap, que devem ser ativados em regiões específicas ao longo do eixo. Vários genes zigóticos, incluindo os genes gap, são regula- dos por níveis diferentes da proteína Bicoid. Por exemplo, o gene hunchback é um gene gap ativado no zigoto na metade anterior do embrião. Essa ativação ocorre pela ligação dire- ta da proteína Bicoid a três sítios 5' do promotor do gene hunchback. Bicoid liga-se aos sítios cooperativamente, isto é, a ligação de uma molécula de proteína Bicoid a um sítio facilita a ligação de outras moléculas Bicoid a sítios vizinhos. , E possível ver como a ativação de hunchback depende do gradiente de concentração fazendo-se alguns testes in vivo, os quais requerem a ligação de sequências reguladoras do gene a um gene repórter (um gene codificador de uma enzima, como o gene LacZ ou a proteína verde fluorescente da água- viva), a introdução do construto de DNA na linhagem ger- minativa da mosca e o monitoramento da expressão repórter na prole do embrião de moscas transgênicas (Figura 13.19). Embora as sequências do tipo selvagem 5' do gene hunchback sejam suficientes para ativar a expressão repórter na metade anterior do embrião, as deleções dos sítios de ligação a Bicoid Capítu lo 13 I Controle Genético do Desenvolvimento 405 Os genes gap são ativados por proteínas específicas fornecidas por via materna (a) Gradiente Bicoid (b) Proteínas Bicoid ~o ~ Elemento regulador de ação 5' eis hunchback com sítios de ligação Bicoid o o Q ...... I gene repórter .. Expressão hunchback Expressão repórter Figura 13.18 A proteína Bicoid ativa a expressão zigótica do gene hunchback. (a) A expressão da proteína Bicoid é graduada ao longo do eixo anteroposterior. O gene gap hunchback é expresso na metade anterior do zigoto. (b) A proteína Bicoid (azul) liga-se a três sítios 5' do gene hunchback. Quando esse DNA 5' é colocado antecedendo um gene repórter, a expressão do gene repórter recapitula o padrão da expressão hunchback (em cima, à direita). Entretanto, a deleção progressiva de um, dois ou todos os três sítios de ligação à Bicoid ou leva a uma expressão mais restrita do gene repórter ou a suprime. Essas observações mostram que o nível e o padrão da expressão hunchback são controlados por Bicoid, por sua ligação a sequências reguladoras de DNA hunchback. nesse elemento regulador de ação eis reduzem ou abolem a expressão repórter (Figura 13.18b). Mais de um sítio Bicoid deve ser ocupado para gerar uma delimitação da expressão repórter, o que indica que um limiar de concentração da proteína Bicoid é necessário para ocupar vários sítios antes que a expressão gênica seja ativada. Um gene gap com pou- cos sítios de ligação não será ativado em locais com menor concentração da proteína Bicoid. Cada gene gap contém elementos reguladores de ação eis com disposições diferentes de sítios de ligação, os quais podem ter afmidades diferentes pela proteína Bicoid. Consequente- mente, cada gene gap é expresso em um único domínio dis- tinto no embrião, em resposta a níveis diferentes de Bicoid e outros gradientes de fatores de transcrição. Um tema similar é encontrado na padronização do eixo dorsoventral: os ele- mentos reguladores de ação eis contêm números diferentes de arranjos de sítios de ligação para Dorsal e outros fatores de transcrição dorsoventral. Em consequência, são ativados genes em domínios discretos ao longo do eixo dorsoventral. Mensagem. A resposta dependente de concentração dos genes 1 a estímulos graduados é uma característica crucial da regulação gênica no embrião inicial de Drosophila. Os elementos regu- ladores de ação eis que controlam respostas distintas contêm números e arranjos diferentes de sítios de ligação de fatores de transcrição. Desenho das faixas: integração dos impulsos de proteínas gap A expressão de cada gene de regra dos pares em sete faixas é o primeiro sinal da organização periódica do embrião e futuro animal. Como tais padrões periódicos são gerados a partir de uma informação prévia aperiódica? Antes da análise molecular da regulação do gene da regra dos pares, vários modelos foram criados para explicar a formação das faixas. Todos consideraram as sete faixas como resultados idênti- cos em resposta a estímulos idênticos. Entretanto, o modo real pelo qual os padrões de alguns genes de regra dos pares importantes são codificados e gerados é uma faixa por vez. A solução para o mistério da geração de faixas destaca um dos mais importantes conceitos quanto ao controle espacial da regulação gênica em animais em desenvolvimento, ou seja, os elementos reguladores de ação eis de genes individuais são controlados independentemente. A principal descoberta foi que cada uma das sete faixas que constituem os padrões de expressão dos genes de regra dos pares even-skipped e hairy é controlada independentemente. Consideremos a segunda faixa expressa pelo gene even-skipped (Figura 13.20a). Essa faixa fica dentro de uma região larga de expressão hunchback e nas bordas das regiões de expressão de duas outras proteínas gap, Giant e Krüppel (Figura 13.20b). Assim, dentro da área da futura faixa, existirão grandes quan- tidades de proteína Hunchback e pequenas quantidades das proteínas Giant e Krüppel. Haverá também uma certa concen- tração de proteína Bicoid de efeito materno. Nenhuma outra faixa do embrião conterá essas proteínas nessas proporções. A formação da faixa 2 é controlada por um elemento regulador de ação eis específico, um acentuador que contém um número de sítios de ligação para essas quatro proteínas (Figura 13.20c). Assim, o padrão periódico total das sete faixas é a soma dos diferentes conjuntos de estímulos em elementos regulado- res de ação eis separados. A análise detalhada do elemento regulador de ação eis eve faixa 2 revelou que a posição dessa "simples" faixa é controlada por não menos de quatro fatores de transcrição distribuídos aperiodicamente, incl11indo uma , A , protema materna e tres protemas gap. Especificamente, o elemento eve faixa 2 contém vários sítios para a proteína materna Bicoid e as proteínas gap Hunchba- ck, Giant e Krüppel (Figura 13.20d). A análise mutacional de diferentes combinações dos sítios de ligação revelou que Bicoid e Hunchback ativam a expressão do elemento eve faixa 2 em uma ampla região. As proteínas Giant e Krüppel são repres- sores que afinam os limites da faixa apenas a algumas célu- las de largura. O elemento eve faixa 2 atua, então, como um 406 Introdução à Genética Análise de elementos reguladores de ação eis com genes repórter Gene too/kit A B e Promotor Região codificadora Elementos reguladores de ação eis Fragmentos de DNA regulador de ação eis isolados. A B e ' Fragmentos clonados no DNA vetor com promotor geral e gene repórter. Fragmentos quecontêm ~ A, B ou C f Promotor Gene repórter Injetar construtos recombinantes nos embriões hospedeiros (tornar transgênico por inserção na linhagem germinativa); analisar a expressão espacial do gene repórter corando enzimas ou por fluorescência. Figura 13.19 Os toei de too/kit frequente- mente contêm múltiplos elementos regulado- res independentes de ação eis que controlam a expressão gênica em lugares d iferentes ou em épocas d iferentes durante o desenvolvimento ou ambos (p. ex., A, B, C, aqui). Esses ele- mentos são identificados por sua capacidade, quando colocados em eis a um gene repórter e inseridos novamente em um genoma hos- pedeiro, de controlar o padrão, a cronologia ou o nível,ou todos os três, da expressão do gene repórter. Neste exemplo, cada elemen- to deflagra um padrão diferente de expressão gênica em um embrião de mosca. A maioria dos genes repórter codifica enzimas ou proteí- nas fluorescentes que podem ser faci lmente v isualizadas. • Embriões de mosca interruptor genético, integrando várias atividades de proteínas reguladoras para produzir uma faixa de três a quatro células de largura no embrião. Os acentuadores para outras faixas contêm diferentes combinações de sítios de ligação. Mensagem. A regulação dos elementos reguladores de ação eis por combinações de ativadores e repressores é um tema comum na regulação espacial da expressão do gene. Os padrões complexos de estímulos são frequentemente integrados para pro- duzir padrões mais simples de respostas. Diferenciação dos segmentos: integração dos estímulos Hox A atividade combinada e sequencial de efeito materno, gap, regra dos pares e proteínas de polaridade segmentar estabele- ce o plano corpóreo segmentado básico do embrião e da larva. Como são estabelecidas as identidades segmentares diferentes pelas proteínas Hox? Esse processo tem dois aspectos. Primei- ro, os genes Hox expressam-se em domínios diferentes ao longo do eixo anteroposterior. A expressão do gene Hox é amplamen- te controlada por proteínas de segmentação, em especial as proteínas gap, por mecanismos similares aos já descritos (bem como alguma regulação cruzada por proteínas Hox de outros genes Hox). A regulação de genes Hox não será considerada em profundidade aqui. O segundo aspecto do controle Hox da identidade segmentar é a regulação dos genes-alvo por proteí- nas Hox. Examinaremos um exemplo que ilustra bem como uma característica importante do plano corpóreo da mosca é controlada mediante a integração de muitos estímulos por um único elemento regulador de ação eis. Os membros pareados, partes da boca e antenas de Dro- sophila desenvolvem-se a partir de pequenas populações de Capítulo 13 I Controle Genético do Desenvolv imento 407 (a) (b) r (/) Q) ..... o "O co ::i C> Q) ..... Q) "O o lB, co ..... -e: Q) (.) e: o I I , ' ' , .. I ~ ' ' ' ' Eve faixa 2 I 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 : 1 ' ' 1 -- Proteína Bicoid -- Proteína Giant -- Proteína Hunchback -- Proteína Krüppel - - - Proteína Eve faixa 2 ü Posição ao longo do embrião --+ (e) gene eve Acentuador das faixas 3, 7 Acentuador Codificador da faixa 2 1 ,_ __ Acentuador das faixas 4, 6 Acentuador das faixas 1, 5 1 DNA 1 • 1 1 -4 +8 (d) elemento eve faixa 2 Kr5Gt3 Gt2 Kr4 Gt1 Kr3 Repressores -1 .550 o~ ~ D ~D-1.010 Ativadores 0 0 o o 0 0 Bcd-5 Bcd-4 Bcd-3 Bcd-2 Hb-3 Bcd-1 Figura 13.20 Regulação de uma faixa de regra dos pares: controle combinatório de um elemento regulador de ação eis independente. (a) A regulação do elemento regulador de ação eis eve faixa 2 controla a formação da segunda faixa da expressão de eve no embrião inicial, apenas uma das sete faixas da expressão de eve. (b) A faixa forma-se nos domínios das proteínas Bicoid e Hunchback e na borda das proteínas gap Giant e Krüppel. Bcd e Hb são ativadores e Gt e Kr são repressores da faixa. (e) O elemento eve faixa 2 é apenas um dos vários elementos reguladores de ação eis do gene eve, dos quais cada um controla partes diferentes da expressão eve. O elemento eve faixa 2 engloba cerca de 1 a 1,7 kb antecedentes à transcrição da unidade eve. (d) No elemento eve faixa 2 existem vários sítios de ligação para cada fator de transcri- ção (os repressores são mostrados acima do elemento; os at ivadores, embaixo). O produto dessa combinação de ativadores e repressores é a expressão da estreita faixa eve. [De}. Gerhart e M . Kirshner, Cel/s, Embryos, and Evolution. 8/ackwel/ Science, 7997.] cerca de 20 células. Estruturas diferentes desenvolvem-se de segmentos diferentes da cabeça e do tórax, enquanto o abdo- me não tem membros. O primeiro sinal de desenvolvimento dessas estruturas é a ativação de genes reguladores dentro de pequenos grupos de células, que são chamados de primórdios de apêndices. A expressão do gene Distal-less (Dll) marca o início do desenvolvimento dos apêndices. Esse gene é um dos alvos importantes dos genes Hox, e sua função é necessária para o desenvolvimento subsequente das partes distais de cada um desses apêndices. Os pequenos grupos de células que expressam Distal-less surgem em vários segmentos da cabeça e em cada um dos três segmentos torácicos, mas não no abdome (Figura 13.21a). Como a expressão Distal-less é restrita a segmentos mais anteriores? Reprimindo sua expressão no abdome. Várias linhas de evidência revelaram que o gene Distal-less é repri- mido por duas proteínas Hox, as proteínas Ultrabithorax e Abdominal-A, funcionando em colaboração com duas proteí- nas de segmentação. Note, na Figura 13.6, que o Ultrabitho- rax é expresso nos segmentos abdominais de um a sete, e 408 Int rodução à Genética Proteínas Hox reprimem a formação de apêndices no abdome (a) 011 (vermelho) reprimido em A 1-A8 (b) Ubr AB A? A6 AS A4 T1 T2 T3 A1 011 desreprimido em A 1 (e) Ubr, abd-A- AB A? Md Mx A1 011 desreprimido em A 1-A? Figura 13.21 A ausência de membros no abdome é controlada pelos genes Hox. (a) A expressão do gene Oista/-/ess (OI~ (vermelho) marca a posição de apêndices futuros; a expressão do gene Hox Ultrabithorax (roxo) marca a posição dos segmentos abdominais A1 até A7, e a expressão do gene engrailed (azul) marca a posição posterior de cada segmento. (b) Representação esquemática do embrião Ubx- mostrando que a expressão de OI/ (círculos vermelhos) é desreprimida no segmento A 1. (e) Representação esquemática do embrião Ubx- abd-A- mos- trando que a expressão de OI/ (círculos vermelhos) é desreprimida nos primeiros sete segmentos abdominais. [(a) Fotomicrografia de Dave Kosman, Ethan Bier, e Bill McGinnis; (b e e) baseadas em B. Gebelein, D. }. McKay e R. 5. Mann, "Direct lntegration of Hox and 5egmentation Gene Inputs During Drosophila Development'; Nature 431, 2004, 653- 659.] Abdominal-A é expresso nos segmentos abdominais dois a sete, superpondo-se a todos, menos o primeiro segmen- to coberto por Ultrabithorax. Nos embriões mutantes Ultra- bithorax, a expressão de Distal-less expande-se ao primeiro segmento abdominal (Figura 13.21 b) e, nos embriões duplos mutantes Ultrabithorax/Abdominal-A, a expressão deDistal-less estende-se pelos primeiros sete segmentos abdominais (Figu- ra 13.21c), indicando que ambas as proteínas são necessárias para a repressão da expressão de Distal-less no abdome. O elemento regulador de ação eis responsável pela expres- são de Distal-less no embrião foi identificado e caracterizado em detalhe (Figura 13.22a). Ele contém dois sítios de ligação para as proteínas Hox. Se esses dois sítios de ligação forem mutados, de modo que as proteínas Hox não possam ligar- se, a expressão de Distal-less será desreprimida no abdome (Figura 13.22b). Várias proteínas adicionais colaboram com as proteínas Hox na repressão de Distal-less. Duas são proteí- nas codificadas por genes de polaridade de segmento, Sloppy- paired (Slp) e Engrailed (En). As proteínas Sloppy-paired e Engrailed são expressas em faixas que marcam os compar- timentos anterior e posterior de cada segmento, respectiva- mente. Cada proteína também se liga ao elemento regulador Figura 13.22 Integração dos estímulos das proteínas Hox e dos estímulos de segmentação por um elemento regulador de ação eis. (a, à esquerda) Um elemento regulador de ação eis do gene OI/ controla a repressão da expressão de OI/ no abdome por um conjunto de fatores de transcrição. (a, à direita) A expressão de OI/ (vermelho) estende-se ao tórax, mas não ao abdome em um embrião do tipo selvagem. (b-f) Mutações nos respectivos sítios de ligação mostram desrepressão de OI/ em vários padrões no abdome. Os sítios de ligação são:Slp, Sloppy- paired; Hox1 e Hox2, Ultrabithorax e Abdominal-A; Exd, Extradenticle; En, Engrailed; Hth, Homothorax. [Baseada em dados de B. Gebelein, D. }. McKay e R. 5. Mann, "Direct lntegration of Hox and 5egmentation Gene Inputs During Drosophila Development'; Nature 431, 2004, 653- 659.] Capítu lo 13 I Controle Genético do Desenvolvimento 409 Proteínas Hox e proteínas de polaridade segmentar controlam a localização de apêndices ELEMENTO REGULADOR DE AÇÃO CIS EXPRESSÃO DE GENE REPÓRTER (a) Tipo selvagem • Slp 1 Hox1 Exd En Hth Hox2 T1 T2 T3 A1 Reprimido em A 1- A? AS (b) Mutações Hox ~-----'-~X...._.~-------~X"'""""" __ _ A3 Md -;M:;:x~-=-L~b ~T~1L_::T::!2 ~Ti:3--;A~1 Desreprimido em A 1- A? AS A? (e) Mutação Slp . X j ~--_,, ~- ------- A3 T1 T2 T3 A1 Desreprimido em aA 1- aA? Desreprimido em pA 1- pA? AS A? (e) Mutações Slp, En X X A3 T1 T2 T3 A1 Desreprimido em A 1- A? (f) Mutações Exd, Hth X X A3 . Lb T1 T2 T3 A 1 Desreprimido em A 1- A? 410 Introdução à Genética de ação eis Distal-less. Quando o sítio de ligação Sloppy-paired é mutado no elemento regulador de ação eis, a expressão do gene repórter é desreprimida nos compartimentos de seg- mentos abdominais (Figura 13.22c). Quando o sítio de ligação de Engrailed está mutado, a expressão do repórter é desre- primida nos compartimentos posteriores de cada segmento abdominal (Figura 13.22d). Quando os sítios de ligação de ambas as proteínas estão mutados, a expressão do gene repór- ter é desreprimida em ambos os compartimentos de cada segmento abdominal, do mesmo modo que quando os sítios de ligação Hox estão mutados (Figura 13.22e). Duas outras proteínas, chamadas de Extradenticle e Homothorax, que são amplamente expressas em cada segmento, também se ligam ao elemento regulador de ação eis Distal-"less e são necessárias para a repressão transcricional no abdome (Figura 13.22f). Assim, duas proteínas Hox e quatro outros fatores de transcrição ligam-se a um trecho de 57 pares de bases e atuam juntos para reprimir a expressão Distal-less e, por- tanto, a formação de apêndices no abdome. A repressão da expressão Distal-less é uma demonstração clara de como as proteínas Hox regulam a identidade segmentar e o número , de reiteradas estruturas corpóreas. E também uma boa ilus- tração de como diversos estímulos reguladores convergem e atuam combinatoriamente em elementos reguladores de ação eis. Nesse caso, a presença de sítios de ligação Hox não é suficiente para a repressão transcricional: são necessárias interações colaborativas e cooperativas entre várias proteínas para reprimir completamente a expressão no abdome. Mensagem. A regulação combinatória e cooperativa da trans- crição gênica impõe maior especificidade nos padrões espaciais de expressão gênica e permite sua maior diversidade. Embora a diversidade evolutiva não tenha sido explicita- mente abordada neste capítulo, a presença de vários elemen- tos independentes reguladores de ação eis para cada gene toolkit tem profundas implicações para a evolução da forma. Especificamente, a modularidade desses elementos permite mudanças em um aspecto da expressão gênica independente de outras funções gênicas. A evolução da regulação gênica é importante na evolução do desenvolvimento da morfologia. Voltaremos a esse tópico no Capítulo 20. 13.5 Regulação pós-transcricional da expressão gênica no desenvolvimento Embora a regulação transcricional seja um meio importante de restringir a expressão dos produtos gênicos para definir áreas durante o desenvolvimento, não é um meio exclusivo de fazer isso. A recomposição alternativa do RNA também contribui para a regulação gênica e, assim, para a regulação da tradução do mRNA em proteínas e microRNA (miRNA). Em cada caso, as sequências reguladoras no RNA são reco- nhecidas por fatores de recomposição, proteínas de ligação ao mRNA ou miRNA, e controlam a estrutura do produto proteico, sua quantidade ou a localização onde a proteína é produzida. Veremos um exemplo de cada tipo da interação reguladora no nível do RNA. Recomposição do RNA e determinação do sexo em Drosophila Uma decisão fundamental para o desenvolvimento nos orga- nismos de reprodução sexuada é a especificação do sexo. Nos animais, o desenvolvimento de muitos tecidos segue vias diferentes, dependendo do sexo do animal em questão. Em Drosophila, foram identificados muitos genes que controlam a determinação do sexo pela análise de fenótipos mutantes nos quais a identidade sexual é alterada ou ambígua. O gene doublesex ( dsx) tem um papel central no sentido de controlar a identidade sexual do tecido somático (linhagem não germinativa). As mutações nulas em dsx fazem com que machos e fêmeas se desenvolvam como intersexos interme- diários, que perderam as diferenças distintas entre os teci- dos masculinos e femininos. Embora a função de dsx seja necessária em ambos os sexos, diferentes produtos gênicos são produzidos pelo locus em sexos diferentes. Nos machos, o produto é uma isoforma específica maior, DsxM, que con- tém uma única região C-terminal de 150 aminoácidos não encontrada na isoforma DsxF específica das fêmeas que, em vez disso, contém uma sequência única de 30 aminoácidos na carboxila terminal. Cada forma da proteína Dsx é um fator de transcrição de ligação ao DNA que, aparentemente, liga- se às mesmas sequências de DNA. Entretanto, as atividades das duas isoformas diferem: DsxF ativa alguns genes-alvo nas fêmeas que DsxM reprime nos machos. As formas alternativas da proteína Dsx são geradas pela recomposição alternativa do RNA transcrito primário de dsx. Assim, nesse caso, a escolha dos sítios de corte precisa ser regulada para produzir mRNA finais que codificam proteí- nas diferentes. Os vários fatores genéticos que influenciam a expressão de Dsx e a determinação do sexo foram identifi- cados por mutações que afetam o fenótipo sexual. Um regulador importante é o produto do gene transformer (tra) . Enquanto as mutações nulas em tra não têm efeito nos machos, as moscas fêmeas XX que têm mutações tra são trans- formadas no fenótipo masculino. A proteína Tra é um fator de recomposição alternativa que afeta as escolhas de corte no RNA transcrito de dsx. Na presença de Tra (e uma proteí- na correlata Tra-2), ocorre uma recomposição que incorpora o éxon 4 do gene dsx ao transcrito dsxF final (Figura 13.23), mas não os éxons 5 e 6. Os machos não têm Tra; logo, essa recomposição não ocorre, e os éxons 5 e 6 são incorporados ao transcrito dsxM, mas não ao éxon 4 (Figura 13.23). A proteína Tra explica como formas alternativas de Dsx são expressas, mas como a expressão da própria Tra é regulada para diferir em fêmeas e machos? O próprio RNA de tra é recomposto alternativamente. Nas fêmeas, o fator de recom- posição codificado pelo gene Sex-"lethal (Sxl) está presente. Esse fator de recomposição liga-se ao RNA de tra e impede o evento da recomposição que, de outro modo, iria incorporar um éxon que contém um códon de fim. Nos machos, não é feita nenhu- ma proteína Tra, pois esse códon de fim está presente. Capítulo 13 I Controle Genético do Desenvolvimento 411 Uma cascata de recomposição alternativa regula a determinação do sexo em Drosophila Fêmea Pré-mRNA Macho Recomposição específica Sex-lethal Recomposição default ,.--,.--- AAA ... ~ _de_fe_A m_ea_, l 1 1 1 2 1 )l__._I 4_.l_ l._s .__I ...._l 6 ........ 1 ........ 17__..l__._I a ........ 1---+ 11 1 2 !' 4 l s l 6 l 71 8 ~AAA Exon masculino 1 2 4 5 6 7 8 - ,...., Códon de fim Letal de sexo transformer 1 3 4 - AAA+----- 1 3 4 1 2 3 4 -AAA - .\ ~ --~,,,.-- Tra-2 Códon de fim Transformer doub/esex 1 2 3 4 ~ AAA ~--- L.__1 _._I __J_l_2___.____.__3___J_JI l.___4 _._I ...... t __ @ ___ _.___,. --)o 1 2 3 AAA Fêmea Doublesex Reprime genes masculinos e ativa genes femininos. t Desenvolvimento feminino Macho Doublesex Reprime genes femininos. Desenvolvimentomasculino Figura 13.23 Três pré-mRNA de genes importantes para a determinação do sexo em Drosophila são alternativamente recompostos. A via específica das fêmeas é mostrada à esquerda e a via específica dos machos é mostrada à direita. Os pré-mRNA são idênticos em ambos os sexos e mostrados no meio. No macho, nos mRNA sex-/ethal e transformer, existem códons de fim que terminam a tradução. Essas sequências são removidas por recomposição para produzir proteínas funcionais na fêmea. As proteínas Transformer e Tra-2, então, recompõem o pré- mRNA de doub/esex da fêmea para produzir a isoforma específica da fêmea da proteína Dsx, que difere da isoforma específica do macho pela recomposição alternativa de vários éxons. [De 5. 5. Gilbert, Oevelopmenta/ Biology, 7th ed. Sinauer, 2003.] A produção da proteína Sex-lethal é, por sua vez, regulada tanto pela recomposição do RNA quanto por fatores que alteram o nível da transcrição. O nível da transcrição de Sxl é controlado por ativadores no cromossomo X e repressores nos autossomos. Nas fêmeas, a ativação de Sxl prevalece e a proteína S:xl é pro- duzida, regulando a recomposição do RNA de tra e fazendo um feedback para regular a recomposição do próprio RNA de Sxl. Nas fêmeas, um códon de fim é recomposto, de modo que a pro- dução da proteína S:xl possa continuar. Entretanto, nos machos, em que nenhuma proteína S:xl está presente, o códon de fim ainda está presente no RNA transcrito não recomposto de Sxl, e nenhuma proteína S:xl pode ser produzida. Essa cascata de recomposição de RNA específico de sexo em D. melanogaster ilustra um modo pelo qual o genótipo específico de cromossomo sexual leva a formas diferentes de proteínas reguladoras que se expressam em um sexo e não no outro. Curiosamente, a regulação genética da determinação do sexo difere muito entre as espécies animais, pois o genótipo sexual pode levar à expressão diferencial de genes reguladores por vias bem diferentes. Entretanto, as proteínas relacionadas à Dsx têm papéis na diferenciação sexual em uma ampla gama de animais, incluindo os humanos. Assim, embora existam muitos modos para gerar a expressão diferencial de fatores de transcrição, uma família de proteínas similares parece estar subjacente a grande parte da diferenciação sexual. Regulação da tradução do mRNA e linhagem celular no e. elegans Em muitas espécies animais, o desenvolvimento do embrião envolve a repartição de células ou grupos de células em linha- gens discretas, que darão origem a tecidos distintos no adulto. Esse processo é mais bem compreendido no verme nematódeo C. elegans, no qual o animal adulto é composto apenas de cerca de 1.000 células somáticas (das quais um terço é representado por células nervosas) e um número similar de células germina- tivas na gônada. A estrutura simples, o rápido ciclo de vida e a transparência do e. elegans o tornaram um poderoso modelo para a análise do desenvolvimento (veja o boxe Organismo- modelo Caenorhabditis elegans, adiante). Todas essas linhagens 412 Introdução à Genética Organismo-modelo Caenorhabditis elegans O Nematódeo Caenorhabditis elegans como Modelo para Decisões do Destino de Linhagens Celulares Nos últimos 20 anos, os estudos com o nematódeo Cae- norhabditis elegans (veja o Diagrama 1) aumentou muito nossa compreensão sobre o controle genético das decisões Faringe Oviduto de linhagens celulares. A transparência e a simples cons- trução desse animal levaram Sydney Brenner a prosseguir com seu uso como um organismo-modelo. O verme adulto contém cerca de 1.000 células somáticas, e os pesquisado- res, liderados por John Sulston, cuidadosamente mape- aram toda a série de decisões de células somáticas que produzem o animal adulto. Ânus Vulva Diagrama 1 Caenorhabditis elegans adulto hermafrod ita, mostrando vár ios órgãos. Algumas das decisões de linhagens, como a formação da vulva, foram modelos fundamentais para as chama- das interações indutivas no desenvolvimento, em que a sinalização entre as células induz as mudanças do des- (a) Tecido derivado das células 1 aria, 2aria e 3aria tino celular e a formação de órgãos (veja o Diagrama 2). Exaustivas triagens genéticas identificaram muitos com- ponentes participantes na sinalização e na transdução de sinal na formação da vulva. ú tero 1 aria ::=::::.--:-::-3-.ª~'iª~~-========2=ª="ª::db::2=ª":.ª :::::====~;:::3~ª~'iª===---==== Hipoderme Vulva Hipoderme (b) Pedigrees das células célula 1 ª"ª da vulva célula 2aria da vulva célula 3aria da vulva 1 r 1 1 r r 1 r N 1 r a D a o Esquerda r Direita N Sem divisão a Anterior p Posterior Diagrama 2 Produção das linhagens celu lares da vu lvar. (a) As partes da anatomia vulvar que são ocupadas pelas chamadas células primárias (1 aria), secundárias (2ª';ª) e terciárias (3ªriª). (b) As linhagens ou heredogramas das célu las primárias, secundárias e terciárias diferem por seus padrões de divisão celular. Para algumas das divisões celulares embrionárias e lar- várias, em part icular as que contribuem para o sistema nervoso do verme, uma célula genitora dá origem a duas células genitoras, das quais uma, então, sofre morte celu- lar programada. A análise de mutantes em que a morte celular programada é aberrante, feita por Robert Horvitz, revelou muitos componentes das vias de morte celular programada comuns à maioria dos animais. Sydney Bren- ner, John Sulston e Robert Horvitz dividiram o Prêmio Nobel de 2002 em Fisiologia ou Medicina por seu trabalho pioneiro baseado no e. elegans. Capítu lo 13 I Controle Genético do Desenvolvimento 413 de células animais foram mapeadas em uma série de estudos sofisticados liderados por John Sulston no Medical Research Council (MRC) Laboratory em Cambridge, Inglaterra. Tria- gens genéticas sistemáticas quanto a mutações que alteram ou estendem linhagens celulares forneceram muitas informa- ções sobre o controle genético das decisões das linhagens. A genética do C. elegans foi especialmente importante na com- preensão do papel da regulação pós-transcricional no RNA, e examinaremos aqui dois mecanismos: (1) controle da tradução por proteínas de ligação ao mRNA e (2) controle da expressão gênica por miRNA. Controle da tradução no embrião inicial Primeiro veremos como começa uma linhagem celular. Após duas divisões celulares, o embrião de C. elegans contém quatro células, chamadas de blastômeros. Cada célula começará uma linhagem distinta, e as descendentes das linhagens separa- das terão destinos diferentes. Já nesse estágio, são observadas diferenças nas proteínas presentes nos quatro blastômeros. Pelo que já aprendemos, muitas dessas proteínas são toolkit que determinam quais genes serão expressos nas células descendentes. O que é surpreendente é que os mRNA que codificam algumas das proteínas toolkit dos vermes estão presentes em todas as células do embrião inicial. Entretanto, em uma célula específica, apenas alguns desses mRNA serão traduzidos em proteínas. Assim, no embrião de e. elegans, a regulação pós-transcricional é crítica para a especificação apropriada dos destinos celulares iniciais. Durante a primeira divisão celular, a polaridade dentro do zigoto leva à repar- tição de moléculas reguladoras para células embrionárias específicas. Por exemplo, o gene glp-1 codifica uma proteína receptora transmembrana (relacionada ao receptor Notch de moscas e outros animais). Embora o mRNA de glp-1 esteja presente em todas as células do estágio de quatro células, a proteína GLP-1 é traduzida apenas nas duas células anterio- res ABa e ABp (Figura 13.24a). Essa expressão localizada de Proteínas de ligação ao mRNA reprimem a tradução do mRNA para determinar as linhagens celulares (a) (b) Construto mRNA-gene repórter SCR do tipo selvagem lacZ SCR mutada lacZ (e) SCR glp-13' UTR SCR XX Mutações SCR do tipo selvagem em embrião glcr /acZ SCR Expressão repórter ABp ABa p 2 EMS ABpABa EMS ABp ABa EMS Figura 13.24 Regulação da tradução e decisões de linhagem celular no embrião ini- cial de C. elegans. (a) No estágio de quatro célu las do embrião de C. elegans, a proteína GLP-1 é expressa em duas células anteriores (verde-claro), mas não em outras célu las. A tradução do mRNA de glp-1 é regulada pela proteína GLD-1 nas células posteriores. (b) A fusão de glp-1 3' UTR ao gene repórter lacZ leva à expressão repórter nas células ABa e ABp do estágio de quatro células do embrião de C. elegans (sombreado, à direita). As muta- ções em sítios de ligação GLD-1 na região de controle espacial (SCR) causam desrepressão e tradução nas l inhagens EMS e P2, bem como (c) perda da função de gld. [(a) Cortesia de Thomas Evans, University of Colorado Health Sciences Center. ] 414 Introdução à Genética GLP-1 é crítica para o estabelecimento de destinos distintos. As mutações que abolem a função glp-1 no estágio de quatro células alteram os destinos das descendentes ABp e ABa. GLP-1 está localizada nas células anteriores, graças à repressão de sua tradução nas células posteriores. A repres- são da tradução de GLP-1 exige sequências na 3' UTR do mRNA de glp-1 especificamente, uma região de 61 nucleotí- dios chamada de região de controle espacial (SCR). A impor- tância da SCR foi demonstrada ligando-se o mRNA transcrito de genes repórter para variantes diferentes da SCR. A deleção dessa região ou a mutação de sítios importantes dentro dela fazem com que o gene repórter seja expresso em todos os quatro blastômeros do embrião inicial (Figura 13.24b). Com base no controle transcricional já descrito, podemos supor que uma proteína liga-se à SCR para reprimir a tradu- ção do mRNA de glp-1 . Para identificar essas proteínas repres- soras, os pesquisadores isolaram proteínas que se ligam à SCR. Uma proteína, GLD-1, liga-se especificamente a uma região da SCR. Além disso, a proteína GLD-1 é enriquecida em blastômeros posteriores, nos quais a expressão de glp-1 é reprimida. Finalmente, quando a expressão de GLD-1 é inibida usando-se RNA de interferência, a proteína GLP-1 é expressa nos blastômeros posteriores (Figura 13.24c). Essa evidência sugere que a GLD-1 é uma proteína repressora da tradução que controla a expressão de glp-1. A regulação espacial da tradução de GLP-1 é um exemplo do controle da tradução no desenvolvimento ou pela GLD-1. Muitos outros mRNA são regulados no nível de tradução, e a GLD-1 liga-se a outros mRNA-alvo nas células embrionárias e da linhagem germinativa. l Mensagem. Proteínas de ligação ao RNA sequência-especí- ficas atuam por meio de sequências do RNA de ação eis para regular o padrão espacial da tradução da proteína. miRNA controla a cronologia do desenvolvimento em e. elegans e outras espécies O desenvolvimento é um processo ordenado, tanto em ter- mos temporais quanto espaciais. O momento em que os even- tos ocorrem é tão importante quanto onde acontecem. As mutações nos genes heterocrônicos de e. elegans foram fontes de percepção do controle da cronologia do desenvolvimen- to. As mutações nesses genes alteram a época dos eventos na especificação do destino celular, fazendo com que esses eventos sejam reiterados ou omitidos. A investigação detalha- da dos produtos de genes heterocrônicos levou à descoberta de um mecanismo inteiramente inesperado da regulação da expressão gênica, por meio de microRNA. Os primeiros membros dessa classe de moléculas regula- doras foram descobertos em C. elegans RNA produzidos pelos genes lin-4 e let-7. O gene lin-4 controla a transição do pri- meiro para o segundo estágio larvar; let-7 regula a transição dos destinos celulares dos últimos estágios larvares para o adulto. Nos mutantes let-7, por exemplo, os destinos das célu- las larvares são reiterados no estágio adulto (Figura 13.25a). Um microRNA controla a cronologia do desenvolvimento {a) Tipo selvagem let-7 V1-V4 V1-V4 L1 L2 L3 L4 Adulto {b) lin-41 3' UTR let-7 GUU A 5'- UUAUACAACC CUACCUCA-3' 3'-UGAUAUGUUGG GAUGGAGU-5' AU Figura 13.25 Normalmente, C. elegans desenvolve-se até adulto após quatro estágios de larva, e as linhagens de células hipodérmicas con- cluem seu desenvolvimento em L4 (l inhagens de eclosão dupla nos tér- minos das linhagens V1-V4). (a) Nos mutantes let-7, a transição do estágio de larva L4 para adulto é retardada e as linhagens celulares de células hipodérmicas laterais M são reiteradas. (b) let-7 codifica um miRNA que é complementar a sequências em 3' UTR no m RNA de lin-4 7. Em contrapartida, o aumento de dosagem do gene let-7 cau- sa especificação precoce dos destinos adultos nos estágios larvares. Nem let-7 nem lin-4 codificam proteínas. Let-7 codifica um RNA final com 22 nucleotídios, regulado temporalmente e processado a partir de um precursor de aproximadamente 70 nucleotídios. ORNA final é complementar a sequências nas regiões 3' não traduzidas de vários genes regulados durante o desenvolvimento, e a ligação de miRNA a essas sequências impede a tradução desses transcritos gênicos. Um desses genes-alvo, lin-41, também afeta a transição de larva para adulto. Os mutantes lin-41 causam a especificação precoce dos destinos celulares dos adultos, sugerindo que o efeito da hiperexpressão de let-7 deve-se, pelo menos em parte, a um efeito da expressão de lin-41. O mRNA de Zet-7 liga-se ao RNA de lin-41 in vitro em vários sítios complementares imperfeitos (Figura 13.25b) . O papel de miRNA no desenvolvimento de C. elegans estende-se bem além desses dois genes. Várias centenas de miRNA já foram identificados, e demonstrou-se que muitos genes-alvo são regulados pelo miRNA. Além disso, a desco- berta dessa classe de RNA reguladores levou a pesquisas de tais genes em outros genomas e, em geral, centenas de genes de miRNA candidatos foram detectados em genomas ani- mais, inclusive os de humanos. Surpreendentemente, o gene de miRNA let-7 é ampla- mente conservado e encontrado em Drosophila, ascídios, moluscos, anelídeos e genomas de vertebrados (inclusive o humano) . O gene lin-41 também é conservado, e as evidên- Capítu lo 13 I Controle Genético do Desenvolvimento 415 cias sugerem que as interações reguladoras let-7-lin41 tam- bém controlam os eventos temporais no desenvolvimento em , . outras especres. A descoberta da regulação do miRNA nos genes de desen- volvimento e do âmbito do repertório de miRNA é um tan- to recente. Os geneticistas e outros biólogos ficaram muito entusiasmados quanto aos papéis dessa classe de moléculas reguladoras no desenvolvimento e na fisiologia, o que levou a novas pesquisas intensas e rápidas nessa área. 13.6 De moscas a dedos, penas e placas do assoalho: os muitos papéis de genes too/kit ----" Vimos que as proteínas toolkit e os RNA reguladores têm múltiplos papéis no desenvolvimento. Por exemplo, lem- bre que, na mosca, a proteína illtrabithorax reprime a formação de membros no abdome e promove o desen- volvimento das asas posteriores no tórax. Similarmente, Sloppy-paired e Engrailed participam da geração da or- ganização segmentar básica do embrião e colaboram com as proteínas Hox para suprimir a formação de membros. Esses papéis são apenas alguns dos muitos desempenha- dos por esses genes toolkit em todo o curso do desen- volvimento da mosca. A maioria deles funciona em mais de uma época e lugar, podendo influenciar a formação ou os padrões de muitas estruturas diferentes que são formadas em partes diferentes do corpo da larva ou do adulto. Aqueles que regulam a expressão gênica podem regular diretamente alguns a centenas de genes diferen- tes. A função de uma proteína (ou RNA) toolkit é quase sempre dependente do contexto, daí o motivo pelo qual a analogia com a caixa de ferramentas é tão apropriada. Como em uma caixa de ferramentas de um carpinteiro, um conjunto comum de ferramentas pode ser usado para fazer muitas estruturas. Para ilustrar mais nitidamente esseprincípio, veremos o papel de uma proteína toolkit no desenvolvimento de muitas características dos vertebrados, incluindo algumas presen- tes nos humanos. Essa proteína é homóloga nos vertebrados àquela do gene hedgehog de Drosophila. O gene hedgehog foi primeiro identificado por Nüsslein-Volhard e Wieschaus como um gene de polaridade segmentar. Ele foi caracterizado como codificador de uma proteína sinalizadora secretada por células em Drosophila. À medida que aumentaram as evidências de que os genes toolkit são comuns em diferentes ramos de animais, a desco- berta e a caracterização desses genes na mosca, como o hed- gehog, tornaram-se uma base comum para a caracterização de genes em outros grupos, particularmente os vertebrados. A clonagem de genes homólogos baseada na similaridade de sequências (veja o Capítulo 14) foi uma via rápida para a iden- tificação dos genes toolkit nos vertebrados. A aplicação dessa estratégia ao gene hedgehog ilustra o poder e os benefícios de usar uma homologia para descobrir genes importantes. Vários homólogos distintos de hedgehog foram isolados do peixe-ze- bra, de camundongos, galinhas e seres humanos. No espírito da nomenclatura do gene de Drosophila, os três homólogos de vertebrados foram denominados Sonic hedgehog (personagem de videogame), Indian hedgehog e Desert hedgehog. Um dos primeiros meios de caracterização dos papéis potenciais desses genes no desenvolvimento foi examinar onde eles são expressos. Viu-se que o Sonic hedgehog (Shh) expressa-se em várias partes do desenvolvimento de gali- nhas e outros vertebrados. Mais curiosa foi sua expressão na parte posterior do broto dos membros em desenvolvi- mento (Figura 13.26a) . Essa parte do broto dos membros foi considerada por décadas como a zona de polarização de atividade (ZPA), porque é um organizador responsável por estabelecer a polaridade anteroposterior do membro e de O gene Sonic hedgehog tem múltiplos papéis (a) (b) • • • • • • • • • • • • •• • • • • • • • •• •• •• • •••••• • • . . J ' ... ,, .,, . . ,,, . ' '•' ,,. ' ,. ,, ',,,, Figura 13.26 O gene Shh é expresso em muitas partes diferentes do embrião de galinha em desenvolvimento (indicadas pela colora- ção escura), incluindo (a) a zona de polarização de atividade em cada um dos dois brotos dos membros em desenvolvimento e o longo tubo neural, e (b) os brotos das penas em desenvolvimento. O mRNA de Shh é visualizado por hibridização in situ. [Fotomicrografia por cortesia de (a) Cliff Tabin e (b) Matthew Harris e John Fallon. ) 416 Introdução à Genética seus dedos (veja a Figura 13.26b). Para testar se o Shh pode ter um papel na função da ZPA, Cliff Tabin e colaboradores, na Harvard Medical School, fizeram com que a proteína Shh se expressasse na região anterior dos brotos dos membros de galinha em desenvolvimento. Eles observaram o mesmo efeito que o transplante de ZPA, a indução de dedos extras com polaridade reversa. Seus resultados foram uma incrível evidência de que Shh era o morfógeno há muito procurado produzido pela ZPA. Shh também se expressa em outros curiosos padrões em galinha e outros vertebrados. Por exemplo, Shh é expres- sa nos brotos das penas em desenvolvimento, onde tem o papel de estabelecer o padrão e a polaridade da formação de penas (veja a Figura 13.26b), bem como no tubo neural em desenvolvimento dos embriões de vertebrados, em uma região chamada de placa do assoalho (veja a Figura 13.26a) . Os experimentos subsequentes mostraram que a sinalização Shh dessas células da placa do assoalho é crítica para a subdivisão dos hemisférios cerebrais e subdivisão do olho em desenvol- vimento nos lados esquerdo e direito. Quando a função do gene Shh é eliminada por mutação no camundongo, esses hemisférios e regiões do olho não se separam, e o embrião resultante é ciclópico, com um olho central e um único pro- sencéfalo (ele também não tem membros). Os impressionantes e diversos papéis de Shh são um exem- plo bem ilustrativo dos diferentes papéis desempenhados pelos genes toolkit em diferentes locais e épocas no desenvolvimento. Os resultados da sinalização Shh são diferentes em cada caso: a via de sinalização Shh irá induzir a expressão de um gru- po de genes no membro em desenvolvimento, um conjunto diferente no broto das penas e, ainda, outro na placa do asso- alho. Como tipos diferentes de células e tecidos são capazes de responder diversamente à mesma molécula sinalizadora? O resultado da sinalização Shh depende do contexto fornecido por outros genes toolkit que estão agindo ao mesmo tempo. Mensagem. A maioria dos genes too/kit desempenha múltiplos papéis em tecidos e tipos de célu las diferentes. A especificidade de sua ação é determinada pelo contexto dado por outros genes too/kit que atuam em combinação com eles. 13.7 Desenvolvimento e doença A descoberta de toolkits para o desenvolvimento de moscas, vertebrados e humanos também teve um profundo efeito no estudo das bases genéticas das doenças humanas, particular- mente defeitos congênitos e câncer. Identificou-se um grande número de mutações em genes toolkit que afetam o desenvol- vimento humano e a saúde. Enfocaremos aqui alguns exem- plos que ilustram como a compreensão do funcionamento e da regulação dos genes em modelos animais foi traduzida em uma compreensão melhor da biologia humana. Polidactilia Uma síndrome relativamente comum em seres humanos é o desenvolvimento de dedos extras, parciais ou completos, nas mãos e pés. Tal condição, chamada de polidactilia, surge em cerca de 5 a 17 de cada 10.000 nativivos. Nos casos mais marcantes, a condição ocorre tanto nas mãos quanto nos pés (Figura 13.27). A polidactilia é comum nos vertebrados, em gatos, galinhas, camundongos e outras espécies. A descoberta do papel da Shh nos padrões dos dedos levou os geneticistas a investigarem se o gene Shh foi altera- do em humanos com polidactilia e em outras espécies. De fato, algumas mutações de polidactilia são mutações no gene Shh. Elas estão em um elemento regulador de ação eis, longe da região gênica codificadora, que controla a expressão de Shh no desenvolvimento do broto dos membros. Os dedos extras são induzidos pela expressão de Shh em uma parte do membro em que o gene não é normalmente expresso. As mutações nos elementos reguladores de ação eis têm duas propriedades importantes, distintas das mutações nas regiões codificadoras. Primeiro, como afetam a regulação em eis, os fenótipos em geral são dominantes. Segundo, como apenas um dos vários elementos reguladores de ação eis pode ser afetado, outras funções do gene podem ser completamente normais. A polidactilia pode ocorrer sem nenhum dos pro- blemas colaterais do desenvolvimento. As mutações codifi- cadoras em Shh, entretanto, contam uma história diferente, como veremos na próxima seção. Figura 13.27 Essa pessoa tem seis dedos em cada mão e sete dedos em cada pé devido a uma mutação regu ladora no gene Sonic hedgehog. (Fotografias por cortesia do Dr. Robert Hill, MRC Human Genetics Unit, Edinburgh, Scotland; de L. A. Lettice et ai., "Disruption of a Long-Range Cis-Acting Regulator for Shh Causes Preaxial Polydactyly'~ Proc. Natl. Acad. Sei. USA 99, 2002, 7548.] Capítu lo 13 I Controle Genético do Desenvolvimento 417 Holoprosencefal ia Mutações na região codificadora do Shh também já foram identificadas. As alterações consequentes na proteína Shh estão associadas a uma síndrome chamada de holoprosencefa- lia, na qual ocorrem anormalidades no tamanho do cérebro, na formação do nariz e em outras estruturas da linha média. Essas anomalias parecem ser contrapartes menos graves dos defeitos do desenvolvimento observados em camundongos mutantes homozigotos Shh. De fato, as crianças afetadas vistas em clínicas são heterozigotas. Uma cópia de um gene normal Shh parece ser insuficiente para o desenvolvimento da linha média normal (o gene é haploinsuficiente). Os fetos humanos homozigotos para