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1 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC GASTROENTEROLOGIA JULIANA OLIVEIRA DIARREIA II DIARREIA CRÔNICA Se estende por período superior a 30 dias, podendo ou não haver síndrome de má absorção associada. A importância da diarreia crônica, consiste no fato de ser uma situação mais frequente de má absorção intestinal. O que leva, na maioria das vezes, a uma má absorção intestinal é o quadro de diarreia, além de oferecer o risco de desnutrição e ser uma manifestação decorrente de múltiplas etiologias. Mecanismos fisiopatológicos Importante lembrar que podem coexistir dois mecanismos fisiopatológicos justificando a diarreia. ➔ Osmótico: Soluto não absorvível na luz intestinal exerce força osmótica, carreando água para dentro das alças. p.ex. deficiência de lactase, uso crônico de sorbitol ou lactulose. ➔ Secretório: Alteração no transporte de eletrólitos através da membrana luminal via AMPc, GMPc ou cálcio dependente, havendo perda excessiva de eletrólitos, água e nutrientes para a luz intestinal. p.ex. Vibrios, e. coli, shigella, salmonella, c. difficille. ➔ Redução da superfície absortiva: P.ex. Síndrome do intestino curto, ressecções intestinais (enterocolite necrotizante, volvo intestinal, atresia), doença celíaca e redução do tamanho e nº das microvilosidades. ➔ Alteração da motilidade intestinal: p.ex. desnutrição, esclerodermia, DM e síndromes obstrutivas. ➔ Inflamatória: Produção de mediadores inflamatórios que estimulam a secreção de eletrólitos e água através da mucosa p.ex. DII, alergia a proteína do leite da vaca, enterite eosinofílica e amebíase. Atenção! ▪ Intolerância à lactose: Refere-se a doença relacionada a fração de carboidrato. ▪ Alergia à proteína do leite da vaca: Refere-se a fração proteica do leite da vaca. Etiologia ➔ Não disabsortivas: ▪ Doenças funcionais. ▪ Intolerância à lactose. ▪ Deficiência congênita de lactase/sacarose. ▪ Dietas laxativas. ➔ Disabsortivas: ▪ Desordens pancreáticas: Fibrose cística e pancreatite crônica. ▪ Desordens gástricas: Gastrite atrófica e anemia perniciosa. ▪ Enteropatias: Infecciosas, doença celíaca, linfagiectasia intestinal, síndrome do intestino curto, enteropatia eosinofílica, colite isquêmica e microscópica, enterite actínica, fístulas gastro e enterocólicas, anastomoses gastro e enteroentéricas. ▪ Desordens biliares: Hepatopatias, síndromes obstrutivas biliares, ressecção do íleo terminal e supercrescimento bacteriano. ➔ Causas extraintestinais ▪ Diabetes mellitus. ▪ Vipoma, gastrinoma. ▪ Somatostinoma, hipertireoidismo Como colher a anamnese desse paciente? Bioquímica: Iodograma: Sódio, potássio, magnésio, cloreto. Função renal: Ureia, creatinina. Albumina para ter noção de nutrição. Parasitoses intestinais 2 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC GASTROENTEROLOGIA JULIANA OLIVEIRA Importante! O quadro verde demonstra a forma de transmissão dos enteroparasitas, de modo que a maioria se dá pela ingestão de cistos ou ovos. A ingestão de cistos ou ovos é a maneira pela qual entramos em contato com a giárdia, entamoeba histolytica, cryptosporidium, áscaris, enterobius, trichuris e as tênias. Já ancilostomídeos, strongyloides e o schistosoma a contaminação se dá através de penetração na pele. FISIOPATOLOGIA DA PARASITOSE INTESTINAL ➔ Mecanismos da diarreia crônica: ▪ Resposta inflamatória sem dano tecidual local (diarreia osmótica). ▪ Invasão da mucosa intestinal (diarreia inflamatória). ▪ Diarreia por hipermotilidade. ➔ Localização intraluminal estrita: Tem-se a taenia solium, saginata, áscaris lumbricoides e enterobius vermiculares, os quais NÃO promovem diarreia. Nesse caso é importante estar ciente que a diarreia não é o sintoma principal causado por esses parasitas, podendo cursar com dor abdominal por suboclusão intestinal do que diarreia, visto que são parasitas de localização intraluminal, logo, não invadem a mucosa ou causam dano tecidual. ➔ Invasão da mucosa: Helmintos, T. trichiura, A. duodenae, S. stercoralis e S. mansoni. ➔ Imunocomprometidos: Os pacientes imunocomprometidos tem mais chance de cursar com diarreia por conta do cryptosporidium parvum. ➔ Diarreia dos viajantes: MANIFESTAÇÃO CLÍNICA ➔ Eliminação de formas adultas. ➔ Obstrução intestinal. ➔ Migração (obstrução biliar, apêndice). ➔ Síndrome de Loeffler (importante): Tem-se a migração de parasitas em direção ao sistema pulmonar, e essa síndrome é marcada por eosinofilia + ciclo pulmonar que determinados parasitas desencadeiam como p.ex. necator americanus, ancylostoma duodenale, strongiloides stercoralis e áscaris lumbricoides. Obs: Essa síndrome entra no diagnóstico diferencial de pacientes que tem eosinofilia e achados no rx que são sugestivos de pneumonia. ➔ Clínica: ▪ Anemia ferropriva. ▪ Sangue oculto nas fezes ▪ Lesão dermatológica eritematosa e pruriginosa. ▪ Tenesmo, prurido anal e prolapso retal. ▪ Diarreia aguda persistente ou crônica recorrente. ▪ Síndrome de má absorção intestinal. ▪ Diarreia muco sanguinolente ou abscesso hepático amebiano. ▪ Colite grave (isquemia, necrose e perfuração colônica). EXAMES COMPLEMENTARES ➔ Macroscopia das fezes ➔ EPF (protoparsitológico): ▪ Método de escolha inicial. ▪ Baixo custo e acessível. ▪ Indicar a suspeita diagnóstica no pedido e a técnica. ▪ Frasco seco requer transporte imediato. ▪ Frasco com fixadores pode ser armazenado na geladeira a 4ºC, por isso é importante que esse frasco fique no fundo da geladeira e não na porta. ▪ Baermann: Identifica larvas. 3 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC GASTROENTEROLOGIA JULIANA OLIVEIRA ▪ Fita adesiva transparente: Ovos de enterobius sp ou taenia sp. Aderidos à pele do períneo. ▪ Métodos de coloração específicos: Criptosporídeos ou microsporídeos. ▪ Coleta de aspirado duodenal: Giardia sp, larvas de strongyloides sp. ▪ Resultado positivo requer um tratamento específico. ▪ Coleta complexa (3 amostras de 3 movimentos intestinais diferentes e consecutivos). ▪ Baixa sensibilidade. ▪ Examinador dependente. Baermann x Exame direto: O exame de baermann identifica apenas as larvas, no entanto, nem todos os parasitas vão ser encontrados nesse formato, assim, para não se comprometer é melhor solicitar um parasitológico de fezes com exame direto com fezes recém emitidas, visto que esse identifica todas as formas evolutivas. ➔ Pesquisa de antígenos em amostra fecal: ▪ G. lamblia,E. histolytica, C. parvum. ▪ Maior sensibilidade. ▪ Menos disponível. ▪ Maior custo. ➔ Para agentes bacterianos: ▪ Coprocultura → sempre que houver suspeita de diarreia crônica e infecciosa. ▪ Pesquisa de toxina do C. difficile por PCR. ➔ Sorologia: ▪ Amebíase, estrongiloidiase e esquistossomose. ▪ Maior sensibilidade. ▪ Menos disponível. ▪ Maior custo. ➔ Inespecíficos: ▪ Hemograma ▪ PSO ▪ Métodos de imagem e endoscópicos. TRATAMENTO ➔ Não se tem obrigatoriedade para solicitar o EPF. ➔ Preconiza-se que seja realizado a cada 6 meses ou 1 ano conforme a prevalência de parasitose local. ➔ Deve-se priorizar as drogas de maior espectro para tratamento em massa. Atenção! ➔ Pacientes com diagnóstico de doenças reumáticas autoimunes – LES, AR, espondiloartropatias – têm maior risco de ocorrência de manifestações graves das parasitoses intestinais. ➔ É indicada profilaxia antes do início de medicação imunomoduladora, imunossupressora ou imunobiológica. Doença inflamatória intestinal É o resultado de desequilíbrio entre a flora bacteriana comensal e o aparato imunológico da mucosa intestinal. É uma doença que cursa com uma reatividade excessiva do sistema imunológico. 4 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC GASTROENTEROLOGIA JULIANA OLIVEIRA EXPOSIÇÃO AMBIENTAL ➔ Fator protetor: p.ex. aleitamento materno. ➔ Fator possivelmente causal: ▪ Consumo de dieta mais industrializada. ▪ Exposição ambiental a xenobióticos. ▪ Anticoncepcional oral, vacinas, estresse psíquico. ▪ Dieta rica em gordura. ▪ Uso de atb no 1º ano de vida. ▪ Hipótese da higiene. ▪ Tabagismo → fator de risco para a doença de crohn, mas protege contra o desenvolvimento de reto colite ulcerativa. QUADRO CLÍNICO ➔ A doença de Crohn e a reto colite ulcerativa possuem em comum a diarreia, no caso da RCU é com sangue. ➔ Sintomas sistêmicos como febre, anorexia e mal estar. ➔ Diarreia está presente em 70% dos casos associados ou não à presença de sangue ou muco. ** CI: Colite Indeterminada. Atenção! A doença íleo colônica (delgado e cólon) está presente em 40 a 55% das vezes, sendo a primeira localização mais frequente. Doença anorretal (fístula, fissura e abscesso) em 30 a 40% das vezes. Isoladamente o cólon em 20 a 25% das vezes. Esôfago, estômago e duodeno em 3 – 5% das vezes. ➔ Manifestações extraintestinais: ▪ Úlceras orais ▪ Uveíte ▪ Espondilite anquilosante ▪ Artralgia/artrite ▪ Cálculo renal ▪ Cálculo biliar ▪ Eritema nodoso ▪ Pioderma gangrenoso ▪ Colangite esclerosante ▪ Episclerite ▪ Sacroleíte Quadro clínico da RCUI: O paciente pode ter proctite, colite esquerda (até a flexura esquerda), extensa (proximal à flexura esplênica), dor abdominal tipo cólica, intensidade variável, sem alívio com a eliminação de fezes ou flatos e emagrecimento em 60% dos casos. ** A doença na RCU é contínua e ascendente, logo, começa na região anal e ascende para o cólon esquerdo. Quadro clínico da doença de Crohn: Alterações do número de evacuações, peso, bem estar geral, dor abdominal, além da presença de manifestações extraintestinais e tumoração em FID. EXAME LABORATORIAL ➔ Hemograma: Anemia, aumento das plaquetas e leucocitose. ➔ Provas de atividade inflamatória: VHS, aumento da mucoproteína e aumento da PCR. ➔ Marcadores sorológicos: Anticorpo anti neutrófilo perinuclear (p-ANCA), anticorpo anti-saccharomyces cerevisiae (ASCA). ➔ Pesquisa EAF: Hemácias e leucócitos. ➔ Pesquisa de clostridium difficille ➔ Dosagem de alfa 1 anti tripsina fecal ➔ Calprotectina fecal > 100ug: Bom marcador para avaliar recidiva das doenças. Correlaciona com atividade endoscópica e diferencia de doenças funcionais. Só está presente quando há inflamação intestinal. 5 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC GASTROENTEROLOGIA JULIANA OLIVEIRA DIAGNÓSTICO ➔ Scores: Tem-se alguns scores que avaliam a atividade da doença, tanto para a doença de crohn (CDAI) quanto para a reto colite ulcerativa (RCUI). Esses scores são obtidos através de achados clínicos (anamnese + exame físico). CDAI: (Índice de atividade da doença de Crohn) Esses scores no final da pontuação indicam se o paciente está com um score compatível com doença em remissão ou doença em gravidade importante. RCUI: (Classificação de Montreal) ➔ RCUI: Colonoscopia com biópsias seriadas: Localização no reto que se estende proximalmente (em direção ao sigmóide, descendente e flexura esplênica), além da continuidade das lesões tem-se ulcerações superficiais. ➔ Doença de Crohn: ▪ Colonoscopia: Localização do processo inflamatório, lesões contínuas ou descontínuas (pode haver áreas de mucosa normal intercaladas por áreas de mucosa inflamadas), úlceras profundas e longitudinais. ▪ Enterotomografia ou enterorressonância/cápsula endoscópica → importantes para acompanhar a evolução, visto que a colonoscopia só fornece informações acerca da mucosa intestinal. ▪ Enteroscopia assistida por balão. Diagnóstico endoscópico ➔ Biópsias RCUI: Inflamação as custas de infiltrado de plasmócitos, agregados linfoides, espessamento da muscular da mucosa, distorções e alargamentos das criptas, depleção de células caliciformes, metaplasia das células de Paneth. ➔ Biópsias doença de Crohn: Os granulomas estão presentes em 15-60% dos pacientes (frequência maior em peças cirúrgicas do que em biópsias de mucosa). Abscesso de cripta. TRATAMENTO ➔ RCUI: ▪ Depende da intensidade/gravidade. ▪ Escore de Mayo (quanto > grau, maior a gravidade). ▪ O primeiro objetivo desse tratamento é que o paciente fique assintomático, e posterior a isso é a cicatrização da mucosa (colono controle ou calprotectina para saber se a mucosa está cicatrizada). ➔ Doença de Crohn: ▪ Os corticosteóides são efetivos em induzir a remissão da doença. ▪ Manifestações sem uso de corticosteóides são frequentes e então é necessário o uso de imunossupressores. ▪ A maioria dos pacientes não apresentam cicatrização da mucosa com o tratamento. 6 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC GASTROENTEROLOGIA JULIANA OLIVEIRA Doença celíaca É uma doença que reduz muito a capacidade absortiva do intestino visto que ela destrói as vilosidades. Além disso tem-se a hiperplasia de criptas. FISIOPATOLOGIA É uma doença multifatorial e muito complexa. Sabe-se que o que desencadeia essa doença é uma reatividade a proteína do glúten que estápresente em vários alimentos p.ex. trigo, cevada, centeio e aveia. Essa proteína possui uma fração chamada de gliadina a qual sofre a ação da desaminação devido a transglutaminase tissular, e se transforma em peptídeos, esses peptídeos acabam sendo apresentados as células apresentadoras de antígenos como se fossem maléficos ao organismo. Isso desencadeia uma resposta th1 e th2, bem como o surgimento de toda a cascata inflamatória que envolve a doença celíaca. DESORDENS RELACIONADAS COM O GLÚTEN QUADRO CLÍNICO O quadro clínico do paciente com doença celíaca depende da extensão acometida. ➔ Má absorção de um único nutriente. ➔ Pandisabsorção. ➔ Anemia: Deficiência de ferro ou ácido fólico. ➔ Hiopcalcemia. ➔ Anticorpo anti gliadina AGA (até 18 meses). ➔ Anticorpos anti endomísio IgA (S: 100%, E: 99%, monitorização da dieta). ➔ Anticorpo anti transflutaminase: Pode estar elevado em outras patologias sistêmicas ou GI. A forma clássica de apresentação consiste no paciente que sofre com uma má absorção de nutrientes e caquexia. A forma não clássica ou atípica que pode ser uma forma digestiva ou extra digestiva. A forma latente que consiste no fato do paciente ser assintomático, na maioria das vezes, com a mucosa normal, mas com história familiar positiva bem como autoanticorpos. A forma assintomática é aquela que só se percebe um número aumentado de linfócitos intraepiteliais nas biópsias, sendo esse um achado inespecífico. DIAGNÓSTICO Avaliação da integridade da mucosa do intestino delgado por meio da D-xilosemia. ➔ História clínica. ➔ Anticorpos específicos: Acs Anti-gliadina, anti- endomísio e anti-transglutaminase. ➔ Biópsia 2ª porção duodenal: Classificação de Marshal → avalia-se a atrofia vilositária. ➔ Testes genéticos: Mutação HLA DQ8 HDLADQ2. ➔ Diagnóstico diferencial: Anticorpos p-Anca e ASCA para doença inflamatória intestinal. 7 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC GASTROENTEROLOGIA JULIANA OLIVEIRA Algoritmo para manejo de diarreia crônica
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