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TCC SS Estácio - Finalizado

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8
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
Curso de Serviço Social
VALÉRIA APARECIDA PEREIRA CANDIDO
TRANSTORNO MENTAL: OS DESAFIOS E O DIA A DIA DAS PESSOAS QUE VIVEM COM O TRANSTORNO
Ribeirão Preto
Abril/2019
VALÉRIA APARECIDA PEREIRA CANDIDO
TRANSTORNO MENTAL: OS DESAFIOS E O DIA A DIA DAS PESSOAS QUE VIVEM COM O TRANSTORNO
Trabalho apresentado à Universidade Estácio de Sá como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social.
Orientador: Prof. Maria Eunice Amaral Dantas.
Ribeirão Preto
Abril/2019
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
Curso de Serviço Social
VALÉRIA APARECIDA PEREIRA CANDIDO
TRANSTORNO MENTAL: OS DESAFIOS E O DIA A DIA DAS PESSOAS QUE VIVEM COM O TRANSTORNO
Trabalho apresentado à Universidade Estácio de Sá, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social.
Banca Examinadora:
_______________________________
Maria Eunice Amaral Dantas
Professora Orientadora
_______________________________
Professor(a) 2º membro da banca
_______________________________
Professor(a) 3º membro da banca
RIBEIRÃO PRETO/2019
DEDICATÓRIA
À minha família Renato, João Vítor e Manuela, que são a minha base, o meu pilar. Que me incentivaram durante toda a minha jornada e não me deixaram desistir. Através da compreensão e carinho, passamos juntos por mais uma etapa. Com vocês aprendi o amor, a solidariedade, o perdão, a viver.
AGRADECIMENTOS
À todas as pessoas que me influenciaram e me tornaram quem sou.
Aos meus pais, exemplo de vida, de garra, de carinho, respeito e paciência.
Ao meu marido e filhos que me deram suporte para enfrentar os obstáculos e superar os desafios.
Ao meus professores e amigos de uma vida que plantaram cada semente do meu ser.
Aos meus novos amigos que ensinaram-me que a vida possui mais de um olhar.
Deus, obrigada!
RESUMO
CANDIDO, Valéria Aparecida Pereira: Transtorno mental: os desafios e o dia a dia das pessoas que vivem com o transtorno. Curso de Serviço Social. Universidade Estácio de Sá, 2019.
A partir da contextualização sobre o significado do transtorno mental e saúde mental, se faz um reflexão sobre quais são os desafios e o cotidiano das pessoas com o distúrbio psiquiátrico. São abordados desde a concepção histórica da loucura no meio social, o estigma e preconceitos abarcados pela normatização social marginalizando o indivíduo e da negação de direitos, determinantes expressos da questão social onde o assistente social tem sua condição profissional, e atrelada à Reforma Psiquiátrica na luta pela justiça social e equidade de oportunidades, na garantia de participação e inclusão, via sociedade-família-Estado. Em conclusão, é possível afirmar que a mudança no modelo de assistência à saúde mental, no cuidado, na reabilitação psicossocial e na integração do portador de sofrimento psíquico é, e então somente só será possível através da informação, do entendimento global da doença e da aceitação social do ‘diferente’ da saúde mental sobre os ‘iguais’.
Palavras-chaves: Transtorno Mental; Preconceito; Direitos, Reforma Psiquiátrica.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO	8
2 SAÚDE MENTAL	12
2.1.1 Contexto Histórico da Saúde Mental no Brasil	12
2.1.2 Segregação e Marginalização	13
2.1.3 Reforma Psiquiátrica	14
2.1.4 Legislação	16
2.1.5 Exclusão Social	19
2.2 O QUE É TRANSTORNO MENTAL?	22
2.2.1 Definição Transtorno Mental	22
2.2.2 Tipos de Transtorno	22
2.2.3 Assistência Social na Saúde Mental	24
2.2.4 Reabilitação Psicossocial	26
2.2.5 Desafios do cotidiano	28
3 CONCLUSÃO	31
REFERÊNCIAS	34
1 INTRODUÇÃO
Os desafios de uma pessoa portadora de saúde mental não difere daqueles que não os têm. Educação, trabalho, saúde, valores, crenças, orientação sexual e comportamento agregados à realidade social e cultural do indivíduo na sociedade.
Este processo de socialização é caracterizado por experiências vividas com diferentes pessoas, gerações, modificações culturais que moldam e formam o indivíduo, sujeito social, na sua compreensão de mundo e no seu comportamento.
Os determinantes e ou motivos para o desenvolvimento de algum tipo de transtorno mental são por diferentes causas: traumas, genética, fatores sociais, culturais, econômicos, políticos e ambientais, padrões de vida, química cerebral, nutrição, relacionamentos, luto, estresse e tantos outros. 
O termo “doença mental” ou transtorno mental é uma alteração do comportamento e da mente do indivíduo. Sem saber quem ou quando, o transtorno mental afeta mais de 400 milhões de pessoas em todo o mundo e no Brasil, a estimativa é de 23 milhões, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
A pessoa com sofrimento psíquico vive um cotidiano de segregação, estigma e preconceito, prejuízos causados pela doença, os quais afetam em sua qualidade de vida e em seu comprometimento funcional, contribuindo para o seu isolamento social. Segundo Gaspari (2002), “o homem não é um ser isolado, é um membro ativo e reativo de grupos sociais. A família é um grupo social natural, um sistema que faz parte de outros sistemas, que afetam a sua organização. A trama de relações sociais inclui, além da família, amigos e colegas”; relações que se estabelecem baseadas em diferentes atividades do cotidiano, nas atividades sociais, culturais, esportivas, religiosas e de cuidados com a saúde.
A exclusão social dos usuários com transtorno, a inviabilização dos direitos sociais, privação de seu convívio social e do sistema sócio-ocupacional no mercado de trabalho e a não inserção dos mesmos nas redes intersetoriais, determinantes das expressões da questão social na saúde mental, são vivenciadas na exclusão social dos usuários com transtorno mental.
O artigo 6º da Constituição Federal estabelece que são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, no entanto, portadores de transtorno metal não têm garantidos seus direitos sendo prejudicados e discriminados em todas as áreas de suas vidas.
“As estruturas da vida cotidiana expressam e estabelecem os espaços de vida possíveis para estas pessoas. O cotidiano está relacionado não somente à evolução da doença, mas desempenha um papel ativo de construção psíquica e sócio-cultural do indivíduo doente” (GOLDBERG, 1998).
O indivíduo se insere na sociedade através da interação e participação por meio de atividades, interesses e comportamentos na família, amigos, colegas de trabalho construindo sua rede de relações sociais.
Para Foucault, “o louco não pode ser louco para si mesmo, mas apenas aos olhos de um terceiro que, somente este, pode distinguir o exercício da razão da própria razão”. Na sociedade em geral para ter justificada a exclusão do doente mental, ainda prevalece o estigma advindo de um processo sócio-histórico, onde é necessário ensinar as regras e condições de convívio social ou de proteger os “normais” de ações insanas. Instalado, enclausurado e marginalizado. 
“A exclusão do louco/doente mental se perpetuou no tempo, de tal modo que, ainda hoje, o tratamento se faz sobremaneira pela rotulação, pelo tratamento dos sintomas à base de medicamentos e pela manutenção do doente em instituição psiquiátrica; retirando-o da família, do mercado de trabalho, dos vínculos sociais; excluindo-o da vida em sociedade” (Psico-USF, v. 13, n. 1, p. 115-124, jan./jun. 2008; 116). 
Com os avanços das Reformas Sanitária e Psiquiátrica no Brasil e estudos sob a saúde mental, surgiram novas propostas de tratamento que não coloca a doença como eixo principal, e sim os serviços substitutivos e a comunidade.
“O processo de saúde e doença é compreendido em complexa integração com aspectos biológicos, psicológicos, sociais e ambientais, estando em evidência a conexão entre o corpo individual e o social” (MINAYO, 2004).
Dessa forma, a inclusão social da pessoacom transtorno mental deve ocorrer com o usuário vivendo em sua comunidade. “As pessoas com transtorno mental precisam articular o tratamento com a vivência na sociedade” (SARACENO, 2001).
No campo de saúde mental muitas mudanças vêm ocorrendo no eixo da saúde, mas a principal e mais importante é o processo de desinstitucionalização da pessoa com sofrimento psíquico com a implementação de serviços de saúde em meio aberto, como os CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), os Hospitais-dia e as Residências Terapêuticas. 
A reabilitação psicossocial é um processo que atua com a finalidade de propiciar a inserção social através do acolhimento, da assistência, de cuidados especializados e humanização para reabilitação do indivíduo com doença mental.
No entanto, nem a sociedade, nem a família estão preparadas e amparadas para o acolhimento do portador de sofrimento psíquico, somente através da informação e entendimento global da doença e no cuidado integralizado ao portador é possível avançar na eliminação do estigma e preconceito sem julgamento e discriminação para as pessoas que estão mentalmente doentes.
"O cuidado oferecido deve respeitar e acolher a diferença do psicótico, ele deve ser percebido como um sujeito humano e não como um sintoma a ser debelado; além disso, o exercício da ousadia, da criatividade e da alegria deve estar sempre associado à atividade terapêutica" (Teixeira, 1999).
Mas, o que fazer? como fazer? É necessário divulgar e conhecer a doença mental, o que é, qual é sua evolução, quais os tipos de tratamento, quais as políticas públicas, formas de assistência e reabilitação.
Sabemos o quando. É agora!
A reabilitação somente será possível quando sujeitos – família – governo – comunidade estiverem integrados na construção de políticas públicas eficazes para a saúde mental, prestação de atendimento integrado entre a saúde e a assistência social, pesquisas, informações de promoção e prevenção, ações que ressignificam a doença contribuindo para a eliminação do estigma e preconceito social.
Percebendo a importância do debate sobre a pessoa que vive com o transtorno mental, esse trabalho surgiu do interesse em adentrar em um universo cercado de estereótipos e tabus sociais e de aproximação em questões em torno da saúde mental, desenvolvidas ao longo da minha graduação, no qual fiz participação em três semestres letivos na AAPSI – Associação de Apoio ao Psicótico – RP, que por sua vez, através de experiências, vivências e na convivência com pessoas com transtorno mental, foi possível um melhor aprofundamento e conhecimento na questão da saúde mental.
No campo de estágio, na atuação do assistente social, foi possível conhecer os desafios vivenciados diariamente da pessoa com transtorno mental. Por meio do acolhimento, da convivência e depoimentos de familiares e usuários, foi possível conhecer a realidade que vivem, os desafios e buscar meios de assistência.
Diante disso, a pesquisa que emerge esse trabalho, no primeiro Capítulo será abordado o contexto histórico do qual circunscreve a saúde mental, a segregação e marginalização dos doentes, a Reforma Psiquiátrica e o processo de desinstitucionalização e a legislação, bem como o processo que se configura as desigualdades e o estigma vivenciados pelo portador de transtorno mental. Para isso, buscamos analisar a definição de transtorno mental, seu processo histórico bem como a exclusão social, do qual destaco contribuições literárias de alguns autores como: Michel Foucault, Paulo Amarante, Thomas Szasz e Nilson Costa. 
No segundo Capítulo, busco mostrar como a profissão do Serviço Social é inserida no contexto da Saúde Mental no Brasil, o processo de humanização e a luta diária para se viver uma vida comum. Esse capítulo vai abordar também os transtornos metais e tipologia, a família e sociedade como espaço de vivências e socialização, finalizando ao mostrar como é possível romper com o preconceito e estigma.
Como pergunta de investigação: Afinal, o que define o “normal”? 
Dessa forma, na busca da resposta da pergunta acima, espera-se, com esta pesquisa, contribuir para reflexão sobre os processos estabelecidos na sociedade diante das pessoas que vivem com transtorno mental. Identificando as condições e práticas favoráveis ou desfavoráveis à qualidade de vida, reconhecendo sua participação social e cidadania, conhecendo os direitos legais das pessoas que vivem com problemas de saúde mental e na compreensão da doença. 
Pela grande dificuldade e desafios vivenciados pelas pessoas com transtorno mental, é comum um desarranjo familiar, existe a segregação e marginalização das pessoas por preconceito e desinformação, os espaços sociais são reduzidos por falta de reabilitação e tratamento, mau acompanhamento clínico e psiquiátrico, políticas públicas deficitárias e pela complexidade que envolve interação e participação social das pessoas com transtorno mental na sociedade, e na necessidade de informar, conscientizar e transformar, esta pesquisa apresenta uma proposta de conhecimento e reconhecimento do doente mental enquanto ser, ser social.
O método utilizado foi a pesquisa bibliográfica, através da identificação dos principais problemas vivenciados pelos doentes mentais dos quais se destacam o estigma e preconceito, a exclusão social e a falta de informação, que impedem o pleno exercício da cidadania em uma sociedade que padroniza comportamentos. 
Buscamos descrever a complexidade que envolve o transtorno mental e as interações sociais bem como as motivações subjetivas de experiências, vivências e percepções do cotidiano que impactam na relação sujeito e sociedade na necessidade de gerar informação e conhecimento úteis de interesse social no propósito da reinserção, integração e inclusão.
2 SAÚDE MENTAL
Saúde Mental é um estado de bem estar relacionado ao nível de qualidade de vida cognitiva ou emocional; refere-se à capacidade do indivíduo de manter o equilíbrio de suas ações por meio de atitudes positivas à si próprio e às exigências do ambiente, harmonizando desejos, capacidades, ambições, ideias e emoções com o intuito de promover crescimento, desenvolvimento e auto realização.
2.1.1 Contexto Histórico da Saúde Mental no Brasil
São nas relações de grupo e de classe social que são construídos significados, padrões de comportamento e sentimento de pertencimento onde são apontados a saúde e a doença, no qual o adoecimento psíquico está associado a diferentes causas relacionados à fatores biológicos, sociais e culturais, ou seja, a doença mental representa o indivíduo inserido na sua cultura social.
As representações que foram construídas acerca do doente mental durante o tempo interferem diretamente nas relações e interações sociais do indivíduo associando a loucura à doença mental, expondo o estigma e a exclusão destes indivíduos fazendo-os viverem à margem da sociedade dita “normal”.
A partir do nascimento da sociedade moderna, a loucura passou a ser vista de um modo muito diferente. É verdade que sempre existiram formas de encarceramento dos loucos; igualmente, desde a Antiguidade, a Medicina se ocupava deles; eram também abordados por práticas mágicas e religiosas; muitos, ainda, vagavam pelos campos e pelas cidades. Contudo, nenhuma dessas formas de relação da sociedade com a loucura prevalecia, variando sua predominância conforme as épocas e os lugares. Apenas a partir do final do século XVIII, instala-se, ao menos na sociedade ocidental, uma forma universal e hegemônica de abordagem dos transtornos mentais: sua internação em instituições psiquiátricas (FOUCAULT, 1961).
Com o declínio dos ofícios artesanais e o início da sociedade industrial, as cidades, cada vez maiores, encheram-se de pessoas que não encontravam lugar nesta nova ordem social. Multiplica-se nas ruas os desocupados, os mendigos e os vagabundos – os loucos dentre eles (FOUCAULT, 1961). As medidas adotadas para abordar esse problema social foram essencialmente repressivas – estas pessoas eram sumariamente internadas nas casas de correção e de trabalho e nos chamados hospitaisgerais. Tais instituições, muitas vezes de origem religiosa, não se propunham a ter função curativa – limitando-se à punição do pecado da ociosidade. Ali, o louco não era percebido como doente, e sim como um dentre vários personagens que haviam abandonado o caminho da Razão e do Bem. É esse o fenômeno chamado por Foucault de Grande Internação (MINAS GERAIS, 2006).
“Eles são mais mal tratados que os criminosos; eu os vi nus, ou vestidos de trapos, estirados no chão, defendidos da umidade do pavimento apenas por um pouco de palha. Eu os vi privados de ar para respirar, de água para matar a sede, e das coisas indispensáveis à vida. Eu os vi entregues às
mãos de verdadeiros carcereiros, abandonados à vigilância brutal destes.
Eu os vi em ambientes estreitos, sujos, com falta de ar, de luz, acorrentados em lugares nos quais se hesitaria até em guardar bestas
ferozes, que os governos, por luxo e com grandes despesas, mantêm nas
capitais” (ESQUIROL, 1818, apud DESVIAT, 1999, P. 68).
2.1.2 Segregação e Marginalização
Estar segregado e marginalização traduz o estar do indivíduo separado do resto da sociedade, forçado a ocupar as margens sociais, ou seja, não ser considerado parte integrante da sociedade.
Desde a concepção da “loucura” e os estereótipos criados relacionados à doença e ao imaginário popular, o louco é o indivíduo que não é capaz de viver em sociedade, portanto, deveria ser separado.
Neste contexto de enclausuramento e exclusão, a assistência psiquiátrica ao doente mental estava atrelada ao tratamento restrito ao interior de hospícios e manicômios com internação prolongada e manutenção da segregação do portador de transtorno mental, permanecendo durante muito tempo acorrentado à alienação, a segregação social e ao estigma da loucura, aprisionados e desprovidos de autonomia e isolados da família e do meio social.
À instituição hospitalar cabia a responsabilidade de eliminar os sintomas da desordem psíquica. E, muitos são os relatos e histórias das pessoas que sofreram e ainda sofrem com esta condição de tratamento empregadas à elas, muitas são as marcas físicas, psicológicas e sociais da falta de humanização e cidadania.
Após transformações sociais que influenciaram os modos de vida da sociedade, um olhar foi de encontro às necessidades da pessoa com distúrbio mental e uma mudança se fazia necessária; tocante à isso, estruturou-se movimentos de reforma, que tinham como temática central o aprimoramento e a humanização nos hospitais psiquiátricos, que começaram a ser substituídos por serviços territorializados de saúde mental, agora em liberdade.
Nesse momento, inicia- se o processo de desintucionalização na saúde mental, que consiste no processo de desconstrução das práticas manicomiais (tratamento onde eram utilizados recursos que iam desde a internação, técnicas de hidroterapia, administração excessiva de medicamentos, até aplicação de estímulos elétricos ou o uso de procedimentos cirúrgicos) e construção de novos saberes com o intuito de privilegiar a subjetividade e autonomia do indivíduo, bem como o livre exercício de sua cidadania.
2.1.3 Reforma Psiquiátrica
A partir da segunda metade do século XX, impulsionada principalmente por Franco Basaglia[footnoteRef:1], inicia-se uma radical crítica e transformação do saber psiquiátrico, do tratamento e das instituições, que se baseavam na assistência asilar de permanência e isolamento, onde o indivíduo era transformado em objeto de intervenção clínica, sem identidade, sem valores, sem nome. Sendo, portanto, uma intervenção excludente e repressora. [1: Franco Basaglia era médico e psiquiatra, e foi o precursor do movimento de reforma psiquiátrica italiano conhecido como Psiquiatria Democrática. Nasceu no ano de 1924 em Veneza, Itália, e faleceu em 1980.] 
Esse movimento inicia-se na Itália, mas tem repercussões em todo o mundo e muito particularmente no Brasil. Este movimento promovia a substituição do tratamento hospitalar e manicomial por uma rede de atendimento.
Na defesa dos direitos humanos e no resgate da cidadania dos portadores de distúrbio mental, dá-se início ao movimento de Reforma Psiquiátrica, que propunha a inclusão da pessoa com transtorno mental na sociedade e na família.
No Brasil, o movimento de reforma psiquiátrica inicia-se no final da década de 70 com a mobilização de profissionais e familiares no modelo de atenção em saúde mental com a criação de novos dispositivos de tratamento bem como a terapêutica e o modo de conceber e tratar a pessoa com transtorno mental.
Entendemos por Reforma Psiquiátrica um processo complexo no qual quatro dimensões simultâneas se articulam e se retroalimentam. Por um lado, pela dimensão epistemológica que opera uma revisão e reconstrução no campo teórico da ciência, da psiquiatria e da saúde mental. Por outro, na construção e invenção de novas estratégias e dispositivos de assistência e cuidado, tais como os centros de convivência, os núcleos e centros de atenção psicossocial, as cooperativas de trabalho, dentre outras. Na dimensão jurídico-política, temos a revisão de conceitos fundamentais na legislação civil, penal e sanitária (irresponsabilidade civil, periculosidade, etc.), e a transformação, na prática social e política, de conceitos como cidadania, direitos civis, sociais e humanos. Finalmente, na dimensão cultural, um conjunto muito amplo de iniciativas vão estimulando as pessoas a repensarem seus princípios, preconceitos e suas opiniões formadas (com a ajuda da psiquiatria) sobre a loucura. É a transformação do imaginário social sobre a loucura, não como lugar de morte, de ausência e de falta, mas como também de desejo e de vida. (PAULO AMARANTE[footnoteRef:2], 1830-1920.1982). [2: AMARANTE, P. D. de C. Psiquiatria social e colônias de alienados no Brasil: 1830-1920. 1982. Dissertação (Mestrado em Medicina social) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 1982.] 
Em 1990, o Brasil torna-se signatário da Declaração de Caracas[footnoteRef:3] na qual propõe a reestruturação da assistência psiquiátrica, e, em 2011, é aprovada a Lei Federal 10.216 que dispões sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. [3: Documento que marca as reformas na atenção à saúde mental nas Américas.] 
A lei 10.216 de 2001, conhecida como a Lei da Reforma Psiquiátrica estabelece a necessidade de respeito à dignidade humana das pessoas com transtorno mental. As legislações anteriores relacionadas à Saúde Mental no Brasil se preocupavam mais em excluir as pessoas com transtornos mentais – então denominados “alienados” e “psicopatas” – do convívio em sociedade para evitar a “perturbação da ordem”, do que em oferecer tratamento adequado para a melhora do paciente. Os decretos traziam dezenas de artigos, cuja maioria apenas regulamentava o ambiente terapêutico que se dava dentro do hospital psiquiátrico (Brito, Ventura, 2012).
Com o decreto da nova legislação o enfoque foi ressignificado para a proteção, atendimento médico e modelo assistencial às pessoas com transtorno mental. A lei reconhece a pessoa com transtorno mental como cidadão e suas relações com profissionais da saúde, sociedade e Estado.
Com o intuito de desinstitucionalizar a pessoa com transtorno mental, a reforma criou projetos de serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), as residências terapêuticas e leitos psiquiátricos em hospitais gerais, regulamentados conforme a portaria do nº. 336, de 19 de fevereiro de 2002. 
Constituem-se em serviços estratégicos, substitutivos ao modelo manicomial. São caracterizados por porte e clientela, recebendo as denominações de: CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPS i e CAPS ad. Estes devem estar capacitados para realizar prioritariamente o atendimento de pacientes com transtornos mentais severos e persistentes em sua área territorial, em regime de tratamento intensivo, semi-intensivo e não-intensivo. Além disso, deverão funcionar independentemente de qualquer estrutura hospitalar[footnoteRef:4].[4: Ministério da Saúde. Portaria/GM nº 336, de 19 de fevereiro de 2002. Define e estabelece diretrizes para o funcionamento dos Centros de Atenção Psicossocial. Brasília: Ministério da Saúde; 2002.] 
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são unidades especializadas em saúde mental para tratamento clínico e terapêutico com ações de reinserção social e inclusão do indivíduo na sociedade.
2.1.4 Legislação
Lei n° 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental.
Art. 1o Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra.
Art. 2o Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo.
Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental:
I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades;
II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade;
III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;
IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas;
V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária;
VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;
VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento;
VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis;
IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental.
Art. 3o É responsabilidade do Estado o desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada em estabelecimento de saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que ofereçam assistência em saúde aos portadores de transtornos mentais.
Art. 4o A internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes.
§ 1o O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinserção social do paciente em seu meio.
§ 2o O tratamento em regime de internação será estruturado de forma a oferecer assistência integral à pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer, e outros.
§ 3o É vedada a internação de pacientes portadores de transtornos mentais em instituições com características asilares, ou seja, aquelas desprovidas dos recursos mencionados no § 2o e que não assegurem aos pacientes os direitos enumerados no parágrafo único do art. 2o.
Art. 5o O paciente há longo tempo hospitalizado ou para o qual se caracterize situação de grave dependência institucional, decorrente de seu quadro clínico ou de ausência de suporte social, será objeto de política específica de alta planejada e reabilitação psicossocial assistida, sob responsabilidade da autoridade sanitária competente e supervisão de instância a ser definida pelo Poder Executivo, assegurada a continuidade do tratamento, quando necessário.
Art. 6o A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos.
Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica:
I - internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário;
II - internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e
III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça.
Art. 7o A pessoa que solicita voluntariamente sua internação, ou que a consente, deve assinar, no momento da admissão, uma declaração de que optou por esse regime de tratamento.
Parágrafo único. O término da internação voluntária dar-se-á por solicitação escrita do paciente ou por determinação do médico assistente.
Art. 8o A internação voluntária ou involuntária somente será autorizada por médico devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina - CRM do Estado onde se localize o estabelecimento.
§ 1o A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de setenta e duas horas, ser comunicada ao Ministério Público Estadual pelo responsável técnico do estabelecimento no qual tenha ocorrido, devendo esse mesmo procedimento ser adotado quando da respectiva alta.
§ 2o O término da internação involuntária dar-se-á por solicitação escrita do familiar, ou responsável legal, ou quando estabelecido pelo especialista responsável pelo tratamento.
Art. 9o A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo juiz competente, que levará em conta as condições de segurança do estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários.
Art. 10. Evasão, transferência, acidente, intercorrência clínica grave e falecimento serão comunicados pela direção do estabelecimento de saúde mental aos familiares, ou ao representante legal do paciente, bem como à autoridade sanitária responsável, no prazo máximo de vinte e quatro horas da data da ocorrência.
Art. 11. Pesquisas científicas para fins diagnósticos ou terapêuticos não poderão ser realizadas sem o consentimento expresso do paciente, ou de seu representante legal, e sem a devida comunicação aos conselhos profissionais competentes e ao Conselho Nacional de Saúde.
Dessa lei origina-se a Política de Saúde Mental[footnoteRef:5] que busca consolidar um modelo de atenção à saúde mental aberta e de base comunitária, na qual, basicamente, visa garantir o cuidado ao paciente com transtorno mental em serviços substitutivos aos hospitais psiquiátricos, superando assim a lógica das internações de longa permanência que tratam o paciente isolando-o do convívio com a família e com a sociedade como um todo, através de uma rede de atendimento através de diferentes mecanismos de assistência os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), os Centros de Convivência e Cultura e os leitos de atenção integral (em Hospitais Gerais, nos CAPS III) e o Programa de Volta para Casa. [5: A Política Nacional de Saúde Mental é uma ação do Governo Federal, coordenada pelo Ministério da Saúde, que compreende as estratégias e diretrizes adotadas pelo país para organizar a assistência às pessoas com necessidades de tratamento e cuidados específicos em saúde mental.] 
2.1.5 Exclusão Social
O relatório sobre a Saúde no Mundo da OMS (2001) evidencia com clareza o impacto dos transtornos mentais sobre a sociedade. Estes são universais afetando pessoas de todos os países, sociedades, classes sociais e em todas as idades.
Os processos psíquicos do indivíduo, sofre influência por diversos fatores, a bem mais por ter um caráter subjetivo, contemplando a área social, econômica e cultural, que baseado nestas condições aquele que se parece “anormal” ou “fora do padrão” é colocado à margem da sociedade e passa a ser rotulado de louco.
A legislação que protege, os mecanismos que atendem, não efetiva a cidadania do portador de transtorno mental. O estigma, o preconceito e a falta de oportunidades e garantias de acesso, oportunidades e serviços condicionam a segregação e marginalização do doente.
Tradicionalmente, o doente mental era o sujeito que possuía uma patologia natural, manifestada por meio de sintomas, em analogia às doenças orgânicas. Na contemporaneidade, duas perspectivas diferentes da tradicional se destacam: uma formulada por Carl Wernicke, postula que “as doenças mentaissão doenças cerebrais”. Outra vertente; fundada por E. Kraepelin, considerado o pai da moderna medicina mental, considera a loucura como resultado de um distúrbio originado no interior do indivíduo. “A doença mental” pode também refletir uma desorganização da chamada “personalidade individual” (MINAS GERAIS, 2006).
Independentemente da classificação da doença mental o que caracteriza o estigma e a desigualdade estão condicionadas à norma que é imposta a sociedade e estes indivíduos violam. O indivíduo é considerado louco em relação a um outro, tido como normal, ou seja, a definição de loucura está relacionada a de “normalidade”, “racionalidade” ou “saúde” (MINAS GERAIS, 2006).  
Erasmo de Roterdam, em Elogio da Loucura (1509), chega a afirmar ser a loucura o estado natural do homem. Diz que não há sábio, filósofo ou cientista que não tenha tido seu momento de loucura. Henri Ey dizia que a doença mental é a patologia da liberdade, a perda da liberdade interior. Infelizmente, constatamos com grande frequência que a doença mental também é acompanhada da perda da liberdade exterior, do direito de ir e vir, de ter opinião, de ser ouvido, de ser tratado com respeito e dignidade. É necessário que se encontre o justo equilíbrio entre o dever de tratar os cidadãos com transtornos mentais e o direito destes à liberdade (EY, 1994).
A razão determina o consenso, os padrões e as regras sociais da coletividade na sociedade, e aquele que não se adequa tendo consciência ou não da infração deve ser punido, ou seja, aprisionado.
A cidadania está diretamente ligada a qualidade de ser cidadão, sujeito de direitos e deveres, na participação ativa do governo e do povo, e quem dela não a tem está excluído ou marginalizado da vida social e da tomada de decisões, figurando posição inferior a outrem.
O tratamento involuntário, a falta de conhecimento na forma pela qual se lida com a loucura, a concepção da doença à periculosidade e incurabilidade, comportamentos condicionados impostos socialmente, vontade, autonomia e liberdade cerceados, uso de contenção física e química indiscriminadamente, hospitalização de longa permanência e compulsória imprime modos que dificultam a convivência social; retirando-o da família, do mercado de trabalho, dos vínculos sociais; excluindo-o da vida em sociedade.
“A justificativa para a exclusão social do doente mental é, quase sempre, a necessidade de ensinar a eles regras e condições de convívio social ou de proteger os “normais” de ações insanas” (Birman,1991).
Historicamente, a doença mental tem sido considerada, por sua própria natureza, como uma condição que incapacita o indivíduo para tomar decisões válidas, autônomas. É preciso voltar nossas vistas para a relação entre saúde mental e liberdade, saúde mental e cidadania, doença mental e direitos humanos; Se faz necessária a desconstrução da loucura que permeia nossa sociedade, o manicômio mental, silencioso, que destrói novas formas de pensar; não adianta novas estratégias de cuidar em liberdade se na mente e nas atitudes do meio social ainda estão impregnadas ideias que remetem ao preconceito e ao estigma da loucura.
2.2 O QUE É TRANSTORNO MENTAL?
2.2.1 Definição Transtorno Mental
Transtorno mental ou “doença mental” é uma desordem mental com impactos na cognição, emoções e comportamento do indivíduo que causam sofrimento clinicamente significativo dele com ele mesmo e/ou com as pessoas ao redor ou prejuízo funcional.
Segundo o DSM-5:
“Um Transtorno Mental é uma Síndrome caracterizada por perturbação clinicamente significativa na cognição, na regulação emocional ou no comportamento de um indivíduo que reflete uma disfunção nos processos psicológicos, biológicos ou de desenvolvimento subjacentes ao funcionamento mental. Transtornos Mentais estão frequentemente associados a sofrimento ou incapacidade significativos que afetam atividades sociais, profissionais ou outras atividades importantes. Uma resposta esperada ou aprovada culturalmente a um estressor ou perda comum, como a morte de um ente querido, não constitui transtorno mental. Desvios sociais de comportamento (por exemplo, de natureza política, religiosa ou sexual) e conflitos que são basicamente referentes ao indivíduo e à sociedade não são transtornos mentais a menos que o desvio ou conflito seja o resultado de uma disfunção no indivíduo, conforme descrito” (DSM-5, p. 20).
	O transtorno mental ou distúrbio psíquico possui uma grande variedade de condições que afetam humor, raciocínio e comportamento, caracterizado pelo sofrimento; é o sofrimento clinicamente significativo e incapacitante socialmente, emocionalmente, profissionalmente e em outra área da vida do indivíduo em qualquer pessoa e idade, que determina qual o tipo de transtorno.
“Existem diversos transtornos mentais, com apresentações diferentes. Eles geralmente são caracterizados por uma combinação de pensamentos, percepções, emoções e comportamento anormais, que também podem afetar as relações com outras pessoas” (OPAS/OMS).
2.2.2 Tipos de Transtorno
Entre os transtornos mentais, estão a depressão, o transtorno afetivo bipolar, a esquizofrenia e outras psicoses, demência, deficiência intelectual e transtornos de desenvolvimento, incluindo o autismo.
Os transtornos mentais mais comuns (ESPAÇO DIGITAL INFORMATIVO TUA SAÚDE, 2018), são:
· Ansiedade: é caracterizada por uma sensação de desconforto, tensão, medo ou mau pressentimento forte o bastante para interferir na sua vida diária;
· Depressão: definida como um estado de humor deprimido persistente, tristeza, perda do interesse ou prazer das atividades acompanhados com sintomas como irritabilidade, insônia ou excesso de sono, apatia, emagrecimento ou ganho de peso, falta de energia ou dificuldade para se concentrar;
· Esquizofrenia: é o principal transtorno psicótico, caracterizado como uma síndrome que provoca distúrbios da linguagem, pensamento, percepção, atividade social, afeto e vontade apresentando sinais e sintomas comumente de alucinações, alterações do comportamento, delírios, pensamento desorganizado, alterações do movimento ou afeto superficial;
· Transtornos alimentares: intensa preocupação com o peso com uma percepção distorcida da forma corporal e auto avaliação baseada no peso e na forma física;
· Estresse pós traumático: é a ansiedade que surge após ser exposto a alguma situação traumática, como um assalto, uma ameaça de morte ou perda de um ente querido, com recordações ou sonhos persistentes com intensa ansiedade e sofrimento psicológico;
· Somatização: múltiplas queixas físicas em diferentes partes do corpo sem alteração clínica;
· Transtorno Bipolar: é uma doença psíquica que provoca oscilações imprevisíveis no humor, variando entre depressão e impulsividade;
· Transtorno obsessivo compulsivo: pensamentos obsessivos e compulsivos que prejudicam que levam a comportamentos repetitivos, como exagero em limpeza, obsessão por lavar as mãos, necessidade de simetria ou impulsividade por acumular objetos.
Existe ainda diversos outros tipos de transtornos, relacionados a problemas sociais, educacionais, profissionais ou econômicos.
2.2.3 Assistência Social na Saúde Mental
O assistente social tem caracterização profissional a área da saúde, raiz de formação e fundamentação, a justiça social, o direito social e democracia, a garantia da efetividade dos direitos sociais, o protagonismo social, inserção nas redes intersetoriais, fazendo intervenções nas diversas Expressões da Questão Social.
Seu fazer profissional na Saúde Mental está relacionado aos mecanismos de atendimento realizados nos Centros de Atenção Psicossocial – Caps, os quais são fundamentais para o processo de reabilitação e ressocialização dos usuários dos serviços de saúde mental. 
O cenário atual da Política Nacional de Saúde Mental, por meio da Reforma Psiquiátrica e do Movimento da Luta Antimanicomial[footnoteRef:6], buscam a reversão do modelo hospitalar para uma ampliação significativa da rede extra–hospitalar, de base comunitária, nos lembrando que todo cidadãosem distinção têm o direito fundamental à liberdade, o direito de viver em sociedade, além do direito de receber cuidado e tratamento. [6: O Movimento da Luta Antimanicomial se caracteriza pela luta pelos direitos das pessoas com sofrimento mental. ] 
Após a incorporação da saúde no texto constitucional, a área da saúde mental passa a ser regulamentado pela Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Esta Lei de criação do Sistema Único de Saúde - SUS, dispõe sobre as ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação da saúde.
A partir da década de 90, observa-se que a trajetória de Serviço Social na área da saúde tem enfrentado alguns desafios para atingir sua maioridade intelectual, tendo por meta a articulação com os demais profissionais de saúde e os movimentos sociais. Assim, compreende-se que cabe ao Serviço Social, em uma ação articulada com outros segmentos que defendem a melhoria do Sistema Único de Saúde - SUS, formular estratégias que busquem reforçar ou criar experiências nos serviços de saúde que efetivem o direito social à saúde, levando-se em conta que o trabalho do assistente social, que queira se nortear pelo projeto ético profissional, deve estar articulado com os projetos de Reformas Sanitárias (MATOS, 2003; BRAVOS e MATOS, 2004).
O assistente social enquanto defensor dos direitos humanos, conforme prevê o Código de Ética Profissional do Assistente Social, tem como princípios a busca pela concretização desses direitos; sua ação profissional é fundamental no processo de construção de uma rede de cuidados, na efetivação de tratamento digno e, na defesa da socialização e participação política.
“Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças”. (Artigo VI – Código de Ética do/a Assistente Social – Princípios Fundamentais. Lei Federal nº 8.662/1993).
A atuação do Serviço Social junto à Saúde Mental trabalha na reabilitação social, no fortalecimento de vínculos familiares, na orientação e no esclarecimento das dúvidas, possibilidades de tratamento acerca da doença e ajudar na construção da percepção que a doença não é um impeditivo de vida.
A intervenção do Serviço Social na área de saúde mental é de grande relevância institucional, pois mediante o assistente social, que se (re)conhece a história de vida de cada usuário atrelado ao seu instrumental se viabiliza todo atendimento, ou seja, através do resgate de sua história, bem como seus projetos e internações. Em posse de todas as informações, busca-se intervir no ambiente do usuário como forma de reinseri-lo em seu contexto sócio familiar, por meio da desmistificação da doença no meio social. 
As práticas voltadas para os considerados doentes mentais apresentam a mesma lógica que move os mecanismos de dominação e imposição da lei e da ordem. Dentro de uma perspectiva sociológica, torna-se muito difícil discerni-las do conjunto de instituições aparelhadas para vigiar e classificar, punir e produzir as condutas consideradas criminosas e controlar as camadas populares urbanas percebidas como classes perigosas. (PAIXÃO, 1985, p. 11-44).
No campo das políticas públicas de saúde a ‘humanização” é ação ou efeito de transformar os modelos de atendimento de gestão dos serviços e sistemas de saúde, determinando ao assistente social atuação e participação vinculando-se à todas as etapas da atenção da saúde mental; nas atividades de acolhimento e escuta qualificada, no fortalecimento de vínculos, na orientação, na reabilitação e tratamento terapêutico, na efetivação dos direitos e benefícios, até na inserção e reinserção social do usuário. Articulando, mediando e inovando frente às demandas impostas, por meio de encaminhamentos à rede socioassistencial.
O olhar diferenciado do assistente social proporciona aos usuários e familiares, que estão fragilizados, baseado no relacionamento humano como principal componente do processo de trabalho em saúde, viabilizar orientações e ações socioeducativas, potencializar mudanças no plano simbólico, em concepções de mundo e valores, e dessa maneira, modificar as relações sociais mais gerais da sociedade. 
2.2.4 Reabilitação Psicossocial
As estratégias de reabilitação psicossocial são entendidas como um conjunto de práticas que visam promover o protagonismo para o exercício dos direitos de cidadania de usuários e familiares da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) por meio da criação e desenvolvimento de iniciativas articuladas com os recursos do território nos campos do trabalho/economia solidária, da habitação, da educação, da cultura, da saúde, produzindo novas possibilidades de projetos para a vida. (MINISTÉRIO DA SAÚDE).
A Rede de Atenção Psicossocial – Raps, é formada por diferentes pontos de atenção, de cuidado à pessoa com transtorno mental, engloba de acordo com o Ministério da Saúde, os serviços e atendimentos:
· Centros de Atenção Psicossocial (CAPS): possui diferentes modalidades de atendimento caracterizados pela territorialidade e tipificação dos transtornos;
· Urgência e emergência: SAMU, sala de estabilização, UPA 24h e pronto socorro: serviços de atendimento de urgência e emergência determinados pela classificação de atendimento e risco;
· Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT): moradias destinadas ao cuidado de pacientes egressos de internações psiquiátricas de longa permanências que não possuam suporte social e laços familiares;
· Unidades de Acolhimento (UA): oferece cuidados contínuos de atendimento, em ambiente residencial para pessoas que apresentem acentuada vulnerabilidade social e/ou familiar;
· Ambulatórios Multiprofissionais de Saúde Mental: serviços que atuam no tratamento dos pacientes que apresentem transtornos mentais, por meio de consultas em atendimento integrado e multiprofissional;
· Comunidades Terapêuticas: serviço de cuidado contínuos de saúde, de caráter residencial transitório para pacientes, com necessidades clínicas estáveis;
· Enfermarias Especializadas em Hospital Geral: serviços destinados ao tratamento e manejo adequado de pacientes com quadro clínico agudizados, em ambiente protegido e com suporte;
· Hospital Dia: assistência intermediária entre a internação e o atendimento ambulatorial.
A rede de serviços e a reabilitação psicossocial integram o processo que proporciona melhora na qualidade de vida e a busca de autonomia e funcionamento independente da pessoa com transtorno mental na sociedade, minimizando incapacidades através de métodos na organização, cuidado e intervenções com a finalidade de habilitação no indivíduo na comunidade, participando de atividades sociais e econômicas. 
Anthony, Cohen e Farkas, assinalam que o tratamento e a reabilitação são procedimentos que idealmente deverão ocorrer em sequência ou simultaneamente, sobrepostos e complementares um a outro. Apontam que as técnicas de tratamento e reabilitação são realizadas no mesmo programa ou em programas separados na mesma instituição. E ambos, tratamento e reabilitação, algumas vezes providos pelo mesmo profissional.
A reabilitação psicossocial em saúde mental visa ampliar a autonomia da pessoa, preservar de direitos, poder de participação na tomada de decisões que impactam em sua vida, acreditando na dignidade da pessoa humana e escolhas, no resgate e preservação da história de vida das pessoas.
“Os princípios da reabilitação psiquiátrica são os seguintes: individualização de todos os serviços; máximo envolvimento de clientes, preferência e escolha; normalização e serviços comunidade-baseado; focalizar os pontos fortes; avaliação situacional; integração tratamento/reabilitação, abordagem holística; serviços coordenados, acessíveis e contínuos; foco vocacional; treinamento de habilidades; modificações ambientais e suporte; participação com a família e foco orientado na identificação, avaliação e resultado”( PRATT W, GIL KJ, BARRET, NM ET AL.1999)
 A reabilitação depende do relacionamento interpessoal entre profissional e usuário, a validação de identidade,do respeito, do acolhimento, no partilhar experiências e no desenvolvimento de ações práticas do cotidiano que resultam em modificações concretas na vida das pessoas.
Portanto, a reabilitação psicossocial está associada ao desenvolvimento de possibilidades de transformação no cotidiano das pessoas que vivem com o transtorno mental.
2.2.5 Desafios do cotidiano
As necessidades, dificuldades, alegrias, sentimentos, desafios diários, ao mesmo tempo que diferem de pessoa pra pessoa, que são modificados pelo ambiente, as experiências, relacionamentos e percepções é comum para todas as pessoas.
A pessoa com transtorno mental tem uma perturbação mental aumentada, ainda tabu na sociedade devido ao desconhecimento da doença, sintomas, motivações, reações e tratamento, devido a falsos conceitos ou pré-concebidos erroneamente, são deveras incompreendidos, julgados, excluídos, marginalizados vivendo no contexto da segregação.
A pessoa com transtorno mental tem dificuldades na expressão de sentimentos e sensações, são devastados por uma doença que tem acometido cada dia mais pessoas, devem participar de uma rotina de tratamento e atendimento multidisciplinar, que param parte da sua vida e, ainda encontram dificuldade no voltar.
O dia 10 de Outubro é comemorado em todo o mundo o Dia Internacional da Saúde Mental, data instituída em 1992, na intenção de chamar atenção pública para o assunto.
A falta de informação, que no passado transformaram as pessoas com transtorno mental pessoas desprovidos de direitos, cidadãos excluídos da sociedade e submetidos a internação hospitalar, na contemporaneidade mesmo considerado cidadão possuidor de direitos e participando na mesma comunidade, vivem a segregação isolados do convívio com outras pessoas, a exclusão social. Os mitos, aliados à discriminalização, aumentam os sintomas do problema.
O conceito “sociedade” tem sua característica um processo de construção e reconstrução de relações tanto individuais e coletivas. É um sistema de intercâmbio de ideias, valores, crenças, dinâmico entre seus integrantes, formando a rede social.
Na construção de sua identidade, o indivíduo pertence à múltiplas comunidades e a expressão relacionada neste conjunto emerge o pertencimento, onde neste momento ele reconhece a si mesmo, seus interesses e afetos, canalizados e formalizados no grupo.
Mesmo vivendo na comunidade, esta população muitas vezes está isolada da convivência e é justamente na convivência na comunidade que são favorecidas a formação e construção de relacionamentos.
A desinformação, preconceito e disseminação de falsos conceitos atrelados à saúde mental que a doença promove conceituação descontruídos da realidade. O dizer que a doença é fruto da imaginação pessoal, é frescura, ela escolhe ter ou não ter, as pessoas são preguiçosas, é disfarce para não encarar problemas, falta força de vontade para superar, que o processo de exclusão social acontece.
A atenção, o acolhimento e a compreensão dessas pessoas e seus familiares são fundamentais para a identificação de necessidades assistenciais, alívio do sofrimento, planejamento de intervenções e no tratamento favorecem a diminuição das dificuldades vivenciadas por elas. 
O cuidado com as pessoas com transtorno mental e seus familiares envolve respeito à suas necessidades, adaptação após o diagnóstico da doença, orientação familiar, adesão ao tratamento, internação, auxílio financeiro, assistência para transporte, inclusão nos serviços extra-hospitalares antes e após os episódios. A integração, reinserção social e o estabelecimento de vínculos interpessoais juntamente à pessoa com transtorno mental proporciona a reabilitação das mesmas.
Na construção de redes sociais, o estabelecimento de relações e trocas são necessárias e significativas ao sujeito em diferentes células, na família, amigos, trabalho, estudo, amor e relacionamentos que compõe uma rede social ampliada e diversificada.
É notória a importância da comunidade na vida cotidiana das pessoas, a forma com que se relacionam com as pessoas e nem sempre àquelas com transtorno mental têm acesso, reflete um contexto social que impera a discriminação e o preconceito. As pessoas com transtornos mentais precisam de incentivo e oportunidades de se definirem independente de sua doença mental.
É necessário incluir, desmitificar padrões, informar, conhecer a realidade das pessoas que vivem com o transtorno, seus desafios e cotidiano em busca da reconstrução da sua identidade e dos laços sociais, para que na prática a sociedade possa acolher. É preciso transformar a visão das pessoas de ver o doente mental.
A situação está posta. A sociedade se depara com a situação e precisa relacionar-se com os doentes, vivemos e convivemos sem ao menos saber ou ter consciência dos mesmos, sem ter rosto. Os velhos modelos estão retidos no imaginário popular, são necessárias a reinvenção de novas formas de ver, tratar e se aproximar, ajudar, e lidar no dia a dia com as pessoas com transtorno mental.
3 CONCLUSÃO
Afinal o que define o normal?
Em suas observações sobre a doença mental, Lévi – Strauss, percebe que as doenças mentais podem ser também consideradas como incidência sociológica na conduta do indivíduo cuja história e constituições pessoais se dissociaram parcialmente do sistema simbólico do grupo dele ser alienado. E mais: que a saúde individual do espírito implica participação da vida social, como a recusa em prestar-se a essa participação (sempre em obediência às modalidades impostas) corresponde ao surgimento das perturbações mentais.
Normal, ou seja, aquele que age conforme a regra, que se comporta de acordo com a norma, que não foge aos padrões. O meio exerce uma pressão para que toda a sociedade se promova entre os iguais. E, o que é desigual, o que não é normal não pode e não deve pertencer, dessa forma o indivíduo que não se enquadra nesse ambiente pode se sentir excluído e a partir deste fato, desenvolver a doença mental.
Ligada a fatores biológicos e predominantemente por fatores sociais, a doença mental ainda é cercada por ignorância, preconceito e discriminação, pilares fundantes do estigma.
Além de todas as dificuldades enfrentadas pela doença, as pessoas com transtorno mental ainda sofrem pela barreira social causada pelo estigma e preconceito.
No mundo contemporâneo onde a pressão sobre as tarefas diárias são cada vez maiores, as relações interpessoais são mais valorizadas, a autopromoção evidenciada, o índice de doenças mentais também tornaram-se mais frequentes. É preciso dialogar sobre a doença mental.
O debate, o esclarecimento e a conscientização são necessárias para a reflexão sobre os processos estabelecidos socialmente consigo e com os demais, na complexidade e multiplicidade de fatores que possam promover a qualidade de vida, conhecimento, participação, mudanças e transformação.
Segundo Aristóteles, a práxis – definida por ele como a ação voluntária de um agente racional em vista de um fim considerado bom – é, por excelência é a política. Para ele o homem é, por natureza, um ser político que não consegue viver sozinho, por isso realiza a sua felicidade plena na polis. É na cidade que se concretiza a felicidade, já que não teria sentido algum para o homem ser virtuoso se não fosse com o objetivo de compartilhar com os demais cidadãos.
A pessoa com transtorno mental se sente sozinha no mundo e em suas relações social, consequente retrato fiel do cotidiano desses indivíduos.
“O homem é o lobo do homem” (Thomas Hobbes)
A cidadania é a tomada de consciência do indivíduo de seus direitos, de participação e contribuição social. É por meio da sociedade que os seres buscam qualidade de vida individual e coletiva e liberdade. Cada pessoa é única, em história, necessidades e angústias.
A difusão das doenças mentais estão caracterizadas pelo perfil da sociedade, exigente e perfeccionista, da dependência dos meios tecnológicos e de comunicação que nos isolam socialmente e na facilidade de acesso às drogas, utilizadas com meio de fuga da realidade erecreação.
As doenças mentais resultam na perda considerável da capacidade humana, com prejuízos à toda comunidade, a resistência da abordagem em saúde mental é histórica e nunca foi tão amplamente discutida como nos dias atuais, mas apesar do avanço, ainda prevalece o estigma e preconceito. 
A eliminação de qualquer tipo de preconceito deve estar atrelada a uma abordagem baseada nos direitos humanos, na equidade e na justiça social, na garantia e no respeito ao acesso a saúde, emprego e educação.
As dificuldades que são caracterizadas após o diagnóstico transformam a vida da pessoa com transtorno mental e dos demais que os cercam, seu círculo familiar e social, suas condições físicas, biológicas e psíquicas são alteradas, que não só dificultam, mas aumentam a resistência e o enfrentamento.
Compreender a doença, quais ações e contribuições e como é possível contribuir para a diminuição do sofrimento das pessoas é responsabilidade de toda a sociedade, de envolvimento conjunto com o paciente, a família e o Estado.
Novas abordagens são necessárias, novas práticas acionadas, o planejamento e desenvolvimento de políticas públicas eficazes, qualifidade no tratamento e atendimento, acolhimento e acima de tudo o respeito ao cidadão.
É necessário o cuidado àqueles que sofrem, atrelado aos princípios fundamentais e deveres do Serviço Social, é preciso que haja um esforço intenso e direcionado no combate contra as desigualdades, eliminar preconceitos em busca da formação e participação plena do cidadão na sociedade, na construção do bem estar social. 
Expor o problema e buscar soluções, conscientizar, educar, falar abertamente sobre, ser informado e informar, compreender e entender a doença; é tarefa que cabe a cada um de nós, na responsabilidade por mudanças e transformação, no olhar e ver a pessoa com transtorno mental. 
Todos somos iguais, aceitar e respeitar a diferença, isso sim é normal.
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