Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CURSO: DIREITO DISCIPLINA: DIREITO CIVIL V – DIREITO DAS COISAS (6º SEMESTRE) DOCENTE: PROFESSORA VERÔNICA RODRIGUES DE MIRANDA APOSTILA DE DIREITOS DAS COISAS – LIVRO III DA PARTE ESPECIAL DO CC - ARTS. 1.196 A 1.510 DO CC/2002 MÓDULO VII – SUPERFÍCIE E SERVIDÃO DEMAIS DIREITOS REAIS - DIREITOS REAIS SOBRE COISA ALHEIA O proprietário concede parte de seus poderes sobre a coisa a terceiros (são parcelas então do direito de propriedade). 1) Direitos reais de gozo ou fruição: a) Superfície; b) Servidão; c) Usufruto; d) Uso; e) Direito real de habitação. 2) Direitos reais de garantia: a) Penhor; b) Hipoteca; c) Anticrese; d) Propriedade fiduciária (Como já visto no módulo VI, a propriedade fiduciária, apesar de se enquadrar como um direito real de garantia, os direitos reais se dão sobre a própria coisa do credor e não sobre coisa alheia). 3) Direito real de aquisição: promitente comprador DIREITO REAL DE SUPERFÍCIE (Arts. 1.369 a 1.377 do CC e Arts. 21 a 24 do Estatuto da Cidade) - Regime jurídico: Art. 1.377 do CC. Prevalece, entre particulares, o CC e, nas suas lacunas, aplica-se o Estatuto da Cidade. Se o direito de superfície for de pessoa jurídica de direito público interno aplica-se primeiro o Estatuto e, nas suas lacunas, o CC. - Definição: É o direito real temporário de se ter a propriedade de construção ou plantação em terreno alheio. Assim, há uma propriedade temporária desvinculada do solo, uma vez que uma pessoa é proprietária do solo e outra da construção ou da plantação temporariamente (há, portanto, um seccionamento da propriedade). Permite-se a divisão do direito de propriedade, em que o superficiário seja dono temporário de plantações e construções sobre o solo, enquanto o concedente é o dono do solo. OBS: - É uma exceção às acessões, uma vez que as construções e as plantações são acessões (Arts. 1.252 e seguintes do CC), razão pela qual aquilo que adere ao solo passa a pertencer ao dono do solo. - É um instituto muito comum na Europa. Ex: cadeira de teatro, cadeira em estádio de futebol, etc. - O que pode ser objeto do direito de superfície? Art. 1.369 do CC: Construções e plantações. Parágrafo único: O direito de superfície não autoriza construção/obra no subsolo, salvo quando for inerente ao objeto da constrição. Ex: garagem em prédio, direito funerário. No entanto, o Estatuto da Cidade determina que nada impede que se faça construção sob o solo, razão pela qual tal diploma é utilizado em sobras subterrâneas, supletivamente ao CC. O art. 1.369 do CC trata do denominado direito real de superfície por concreção: direito de construir ou plantar em terreno e se tronar dono do construído ou plantado, temporariamente. O CC não prevê, mas também não proíbe, o denominado direito real de superfície por cisão: O concedente já é dono do solo e da construção ou plantação e ele aliena ao superficiário, em caráter temporário, a construção ou a plantação. Assim, o concedente é dono de tudo logo no início, diferentemente da por concreção. - Modos de aquisição: Art. 1.369 do CC: Trata de apenas um dos modos de aquisição do direito real de superfície – negócio jurídico “inter vivos” + registro (art. 108 do CC – instrumento público). OBS: - E o negócio jurídico “causa mortis”? Pode ocorrer quando alguém, por testamento, pode criar direito de superfície. Princípio da “saisine”. - Características do direito real de superfície: 1) Art. 1.369 do CC: O direito real de superfície se constitui por tempo determinado, é temporário (prazo especificado). 2) Art. 1.370 do CC: O direito real de superfície pode ser oneroso ou gratuito, diante da autonomia privada das partes. O CC não possui nenhuma regra de como se deve cobrar tal direito, então se dará segundo o critério das partes. 3) Art. 1.371 do CC: Os encargos e os tributos incidentes sobre o imóvel são pagos pelo superficiário, mas referida norma é dispositiva, cabendo a disposição das partes como quiserem nesse tocante. OBS: O valor que o superficiário paga ao concedente pela propriedade temporária das construções ou plantações e chama “solarium”. 4) Art. 1.372 do CC: O direito real de superfície é transmissível. Assim, o superficiário pode alienar o seu direito, assim como se transferes “causa mortis”. É norma cogente!! 5) Art. 1.373 do CC: O direito real de superfície é alienável. Há preferência recíproca entre eles (concedente e superficiário), a fim de se evitar que um terceiro interfira em tal relação. Caso não se observe tal regra, aquele que foi preterido em sua preferência poderá ingressar com a ação de preferência – é uma ação real, em que se pede perdas e danos + a perseguição da coisa que está em poder de terceiro. - Extinção do direito real de superfície (Arts. 1.374 a 1.376 do CC): Causas da extinção: Rol meramente exemplificativo. 1) Término do prazo; 2) Extinção antecipada da superfície pelo desvio de uso: Caso o beneficiário não dê à coisa a destinação que se comprometeu (não constrói). 3) Desapropriação: É modo originário de propriedade, sendo que a indenização será rateada pelo superficiário e concedente. 4) Distrato: Escritura de distrato levado a registro gerará a extinção da superfície. 5) Confusão: Concedente e superficiário tornam-se a mesma pessoa. 6) Descumprimento das obrigações assumidas pelo superficiário (inadimplemento): Tal causa se encontra no estatuto da Cidade. Caso mais comum: superficiário não paga o “solarium”, resolvendo-se o contrato e o registro é cancelado. OBS: Extinta a superfície, as plantações e construções voltam a ser acessões, se reincorporando à propriedade do dono do solo. O concedente indeniza o superficiário? A princípio, não se opera a indenização, somente sendo cabível no caso de as partes assim convencionarem. Assim, no caso do contrato prever o direito a indenização, caberá, igualmente, o direito a retenção (enquanto o não for paga a indenização, o superficiário não devolve as construções ou plantações). DIREITO REAL DE SERVIDÃO (SERVIDÃO REAL OU PREDIAL) (Arts. 1.378 a 1.389 do CC) Servidão X Servidão Administrativa X Servidão legal Servidão Servidão Administrativa Servidão Legal - Origem: Direito civil - vontade das partes (contrato de servidão) ou, excepcionalmente, a usucapião; - É preciso levar a servidão a registro, uma vez que é ele que constitui o direito real de servidão; - Não se tem equilíbrio entre os direitos e deveres dos donos dos dois imóveis (não há reciprocidade).; - Existe, por uma questão de comodidade e atende ao interesse privado das partes, razão pela qual, em regra, as normas são dispositivas. - Origem: Provêm do direito administrativo; - Pode ser imposta por desapropriação, não havendo prédio dominante e prédio serviente (não se exige consenso de quem sofrerá a servidão). - Origem: Direito Civil - Direito de vizinhança. A lei dá origem a esse instituto; - A lei lhe dá publicidade, razão pela qual não há necessidade de registro; - A limitação é entre ambos (Há equilíbrio entre os imóveis vizinhos). Ex: não se pode construir a 1,5 m de distancia, etc; - Como as limitações decorrem da lei e existem para apaziguar as relações entre os vizinhos, as normas são cogentes (não podem ser suprimidas pela vontade das partes). - Conceito (Art. 1.378 do CC): As servidões são restrições de um prédio (serviente) para uso e utilidade do prédio dominante pertencente a proprietário diverso (2 imóveis e cada qual com um dono diferente). É a Servidão predial, em que se verifica a utilização de um prédio por outro. - Exemplos de servidão: Como o CC não taxou os tipos de servidões que poderiam serutilizadas é permitida qualquer modalidade, desde que haja a relação de sujeição de um prédio a outro prédio. Assim sendo, as servidões podem tomar formas variadas, sendo as mais conhecidas: - Servidão de trânsito (servidão de passagem): Em tal servidão, um prédio cede direito a outro prédio de transitar pela sua propriedade (imóvel do vizinho), pois mais acessível à via pública, do contrário, p.ex., teria que circular a propriedade do vizinho para atingir o seu destino. Ex.: Pedro e Paulo são vizinhos. Pedro trabalha numa fábrica que fica poucos metros da propriedade de Paulo. Se Pedro passar pelos fundos da propriedade de seu vizinho, consegue gastar um tempo bem menor para chegar ao seu trabalho do que se simplesmente saísse de sua própria propriedade. Pedro, então, estabelece um negócio jurídico bilateral, onde Paulo cede o direito de Pedro atravessar a sua propriedade, sendo que Pedro constrói uma passarela nos fundos do imóvel de Paulo. - Servidão de aqueduto (canalização): Um prédio concede água a outro prédio através de tubulação, fazendo com que a água escoe pela outra propriedade. Assim, consiste fundamentalmente na sua condução para o prédio onde é utilizada (dominante), por meio de cano condutor, através de prédio alheio (serviente). A água vai do prédio serviente ao dominante. Ex.: André tem uma família um tanto quanto grande: sua mulher, Amanda, e cinco filhos adolescentes. Consequentemente, a família de André consome muita água diariamente, sendo a quantidade atual muito pouca para suportar todos os membros da família. Então, descobrindo que seu vizinho, João, tem água em demasia, resolve convencê-lo em ajustar um contrato de servidão, com o intuito de construir um sistema de canalização, fazendo com a água de João seja também distribuída para André. - Servidão de não construir além de certa altura (servidão de vista): Serve para não prejudicar a atual vista de um prédio, proibindo contratualmente de o prédio serviente construir o seu prédio na altura que venha a prejudicar a visão do prédio dominante. Não há limite para a distância que o outro prédio se encontre, assim, a servidão poderá ser admitida. Ex.: Pedro é dono de um apartamento que fica ao lado de uma propriedade muito bonita, recém-construída por Irene. Acontece que essa residência tem uma vista muito agradável da praia e se Pedro vir a aumentar o seu apartamento, prejudicará a visão de Irene. Então, Irene resolve registrar com Pedro uma servidão de não edificar a certa altura, combinando um preço razoavelmente acessível. - Servidão de pastagem (de gado): Confere a prerrogativa de outrem poder usufruir do imóvel do serviente a fim de que sirva de pastagem para seu gado. Ex.: Um pecuarista tem uma grande quantidade de gado em seu imóvel, porém, está gastando mais do que deveria, pois a pastagem não é tão promissora. Ele resolve então pactuar com um conhecido seu, onde este confere ao pecuarista o direito de utilizar de sua fazenda para abrigar o seu gado bovino. Etc... OBS: Para que seja possível a servidão os prédios devem ser vizinhos, embora não haja a necessidade de que sejam contíguos. - Características: 1) É um direito real: Tem, portanto, oponibilidade geral (“erga omnes”) e tem aderência (sequela) nos dois imóveis (seguem os 2) e não leva em conta os donos dos imóveis (não é “intuito personae”), razão pela qual a morte de qualquer um dos donos dos imóveis é irrelevante para a servidão, pois leva-se em consideração o imóvel em si; 2) Incide sobre prédios vizinhos; 3) A servidão não se presume: A servidão é uma restrição, ela onera, então, na dúvida, ela não existe. Deve-se pautar, aqui, por uma interpretação restritiva, devendo ser provada a sua existência. 4) A servidão é indivisível (Art. 1.386 do CC); 5) A servidão é inalienável: Se pode realizar a venda de qualquer dos prédios, mas, o que não se pode fazer é a venda do direito de servidão, em razão de sua natureza acessória. Assim, a servidão segue o próprio imóvel (que é o principal). Ex: servidão de passagem – somente será transferida a outra pessoa se o proprietário vender o imóvel, pois o direito de servidão vem junto, está inerente ao imóvel. OBS: Pode-se alugar o direito de servidão. 6) A servidão, se for criada por prazo indeterminado, tende à perpetuidade: A servidão somente termina se ocorrer algumas das causas previstas em lei (Art. 1.387 do CC). Caso contrário, seguirá o direito de servidão. Existem servidões de 100, 150 anos. - Modos de aquisição: 1) Ato “inter vivos” + registro (Art. 1.378, parte final, do CC): O registro, como já visto, através da escritura pública, é constitutivo do direito real. 2) Testamento (Negócio jurídico “causa mortis”): Como já visto em outras ocasiões, o registro aqui tem efeito meramente declaratório/regularizatório, uma vez que o direito a servidão se opera com a morte. 3) Usucapião (Art. 1.379 do CC): Pode-se usucapir as servidões aparentes (Súmula 415 do STF). A servidão aparente é aquela que se constata externamente, que se pode ver. A servidão não aparente não é passível de aquisição por usucapião. Prazo: 10 anos (com título); Prazo: 20 anos (sem título). 4) Decisão judicial (Art. 596, II, do NCPC): O juiz, ao julgar a ação divisória, pode estabelecer servidão de um imóvel com relação a outro. 5) Doutrina com base no direito romano – destinação do proprietário – “servidão do pai de família”: É criada pelo proprietário de dois imóveis, o qual cria uma servidão sob condição suspensiva (Se eu alienar um dos dois imóveis, cria-se uma servidão futura). - Princípios das Servidões: 1) É vedada a servidão entre prédios pertencentes ao mesmo dono (Nulli res sua servit): Toda vez que se fala em servidão, será entre prédios de proprietários distintos, pois, ao contrário, estará se referindo à serventia. Assim, dois prédios do mesmo dono, onde um tem serventia sobre o outro, como, por exemplo, quando um prédio garante que não falte água ao outro. Como bem leciona Carlos Alberto Gonçalves: “(…) Se forem do mesmo proprietário, este simplesmente usará o que é seu, sem que se estabeleça uma servidão. Enquanto os prédios se encontram em mãos de um mesmo dono não existe servidão, mas mera serventia. Este exerce integralmente os direitos decorrentes do domínio, uno e indivisível.” 2) Consiste em servir a coisa, não o dono (servitus in faciendo consistere nequit): Daí se sustentar que a servidão é predial, não pessoal. O proprietário do prédio não faz nada, portanto se entende que subsiste tão somente uma obrigação negativa, ou seja, de não fazer o que se estipulou no contrato de servidão. Ex: Se foi pactuado que o prédio serviente não deverá construir a sua edificação além de certa altura, o proprietário terá de se abster de fazê-lo; se sujeitou o seu prédio a passar água ao outro, não poderá impedir sua circulação. A de se dizer que, como na servidão de passagem, o proprietário do prédio serviente tem o seu direito de uso restringido, haja vista que não poderá fazer nada com aquele espaço que foi demarcado para o dono do prédio dominante. Caio Mário da Silva Pereira diz que: “(…) Como direito real que é, a servidão grava um dos prédios e o acompanha nas mutações por que venha a passar, até que se extinga por uma das causas legais.” Assim, a relação jurídica continuará subsistindo mesmo que os proprietários tenham mudado, desde que o prédio dominante e o serviente subsistam e não tenha ocorrido nenhum dos fatos que acarretam a extinção da servidão. - Classificação das servidões: Aparentes Não aparentes Contínuas Não contínuas São aquelas com sinal exterior da sua existência. Ex: servidão de passagem, servidão de escoamento de água. São aquelas que não possuem sinais físicos dasua existência. Ex: servidão de não edificar, de não construir além de certa altura. (Leva-se tais determinações a registro). São aquelas cujo exercício não depende de um comportamento do dono do prédio dominante. Ex: servidão de não construir, servidão de escoamento de água. São aquelas cujo exercício depende de um comportamento do dono do prédio dominante. Ex: servidão de passagem (para exercer a servidão, eu devo passar – é um comportamento). - Direitos e dever do dono do prédio dominante: 1) Direitos: a) Usar e fruir da servidão sem embaraço do serviente: Gera obrigação de não fazer para o serviente (não embaraçar, não prejudicar o uso da servidão, etc). b) Remover a servidão: O prédio dominante pode requerer em Juízo a remoção da servidão, desde que ela se faça sem prejuízo ao prédio serviente. Se houver prejuízo não poderá ser removida a servidão. c) Ampliação da servidão em razão de fato superveniente: O prédio dominante pode pedir em Juízo tal ampliação, mas mediante indenização. Dever: Implementar e conservar as obras da servidão – O prédio dominante deve arcar com os custos e com as obras de implementação e de conservação das servidões. - Causas de extinção da servidão (Art. 1.387 a 1.389 do CC): O rol é meramente exemplificativo!! OBS: A servidão, quando devidamente registrada, somente se extingue, com relação a terceiros, quando cancelado esse registro (Art. 1.387). 1) Desapropriação (Art. 1.387, caput): A extinção da servidão pode ser dar em função de desapropriação (É modo originário de aquisição da propriedade, em que se adquire o imóvel livre e o dono do prédio dominante é citado nessa ação de desapropriação, tendo direito a receber indenização). 2) Renúncia (Art. 1.388, I); 3) Cessação da utilidade (Art. 1.388, II): O motivo determinante da servidão é melhorar a exploração do prédio dominante. Cessada a utilidade, não mais persiste a razão que levou à criação da servidão. 4) Resgate (Art. 1.388, III): Ocorre quando o dono do prédio dominante faz um distrato, desfazendo a servidão por meio de escritura pública. 5) Confusão (Art. 1.389, I): Ocorre quando o prédio dominante e o prédio serviente forem do mesmo dono, a não ser que se configure a hipótese de servidão por destinação dom proprietário (como visto anteriormente). 6) Supressão das obras (Art. 1.389, II): A servidão se extingue pela supressão das obras indispensáveis ao exercício da servidão, por convenção das partes. 7) Não uso em 10 anos contínuos (Art. 1.389, III): A servidão se extingue pelo seu não uso, em 10 anos contínuos. É um prazo decadencial. 8) Decurso do prazo: A servidão se extingue pelo decurso do prazo, caso haja prazo convencionado entre as partes. 9) Condição resolutiva: A servidão se extingue se houver condição resolutiva e se observar tal condição.
Compartilhar