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HANSENÍASE Doença infectocontagiosa, conhecida popularmente como lepra, causada pelo Mycobacterium leprae. Acomete, inicialmente, o sistema nervoso periférico (SNP); para depois, atingir a pele (grupo não contagiante, paucibacilar); e na maioria dos doentes brasileiros, também acomete os outros órgãos e sistemas, exceto o sistema nervoso central (grupo contagiante, multibacilares). Características do bacilo de Hans - tem plg1 (promove neurotropismo da bact), tem dopa alfa oxidase, gram +, intracelular, proliferação lenta, baixa patogenicidade EPIDEMIOLOGIA - Brasil: 2a posição no mundo no número de novos casos de hanseníase (cerca de 30 mil novos casos por ano) - VIRCHOWIANA mais comum em homens TRANSMISSÃO - se dá por infectados multi bacilíferos não tratados - ocorre de pessoa para pessoa, através do trato respiratório, principalmente ao falar e tossir. - bacilo entra em pequenas erosões em cavidade oral e nasal. - infectividade é elevada, embora sua patogenicidade seja baixa - apenas 5% dos infectados desenvolvem a doença GENÉTICA - Associação de fatores genéticos x não genéticos x ambientais - Acredita-se que variantes genéticas do complexo MHC/HLA tem maior susceptibilidade à doença - Genes estão relacionados ao desenvolvimento da doença - Polimorfismo do gene Parquina (PARK2) é fator de risco pra doença - Genes controlam os estados reacionais que o paciente vai apresentar (tipo 1 ou 2) - Determina a resposta imune th1 ou th2 IMUNOLOGIA - A resposta da imunidade do indivíduo contra o agente infeccioso determina se haverá ou não a doença, a forma clínica da doença e o aparecimento das reações hansênicas. - Imunidade inata: primeira linha de defesa contra o microorganismo, mas nem sempre o elimina. Os bacilos introduzidos no organismo são fagocitados pelos macrófagos diretamente ou apresentados por células (Langerhans, Schwann, queratinócitos e endoteliais). Nesse momento, pode passar a habitar os macrófagos, as células de Schwann e a pele (NERVOS PERIFÉRICOS + PELE) - Período de incubação - média de 2 a 5 anos, mas pode ser de meses a >10 anos: em virtude do M. leprae ser um micro-organismo “lento”, que se reproduz por divisão binária simples a cada 14 dias, sendo necessários muitos anos para que o organismo possua uma carga bacilar capaz de expressar-se clinicamente. - A imunidade humoral (dependente de anticorpos, th2) é ineficaz contra o M. leprae - A defesa é efetuada pela imunidade celular (th1), capaz de fagocitar e destruir os bacilos, mediada por citocinas (TNF-alfa, IFN-gama) e mediadores da oxidação, fundamentais na destruição bacilar no interior dos macrófagos. - A imunidade celular inespecífica leva os pacientes a produzirem altos títulos de anticorpos contra o M. leprae, podendo ocorrer formação de autoanticorpos - Portanto, o paciente pode desenvolver 2 respostas: - citocinas com resposta th1 - Hanseníase tuberculóide: os bacilos fagocitados induzem nos macrófagos a produção de IL-12 e TNF-α, que atuam sobre os linfócitos TH1, os quais induzem IL-2, IFN-γ e TNF-α, caracterizando a resposta imune celular. Essa resposta destrói o bacilo (resp celular) - citocinas com resposta th2 - Hanseníase virchowiana: as citocinas produzidas pelos macrófagos atuam sobre os linfócitos TH2, que produzem IL-4, IL-5, IL-6, IL-8 e IL-10, as quais são supressoras da atividade macrofágica (falta do ifn gama) e que estimulam linfócitos B. Assim, a deficiência de macrófagos, impede a destruição dos bacilos. - CLASSIFICAÇÃO DOS DOENTES - Grupo paucibacilar: doentes não contagiantes, com poucos bacilos e acometimento neural e cutâneo (paucibacilares). Formas: inicial indeterminada e tardia tuberculóide. A diretriz da eliminação da hanseníase tem como classificação de doente paucibacilar, aqueles com até cinco lesões de pele - Grupo multibacilar: doentes contagiantes – com muitos bacilos em todos os tecidos acometidos (exceto no SNC) e, portanto, também tem muitas lesões cutâneas. Formas:dimorfa e virchowiana. A diretriz da eliminação da hanseníase tem como classificação de doente multibacilar aqueles com > 5 lesões de pele. QUADRO CLÍNICO - Apresentam-se em um largo espectro, entre os polos - tuberculoide e virchowviana (o resto das classificações está no meio) As primeiras manifestações e lesões clínicas da MH ocorrem, exclusivamente, no SNP e, em geral, passam despercebidas e antecedem os sinais cutâneos. No início, são sensitivas: ocorre perturbação da sensibilidade térmica, em seguida, dolorosa e, finalmente, a tátil. A infecção progride, na direção proximal, aos ramos secundários e, finalmente, aos troncos neurais periféricos, que se tornam edemaciados, dolorosos à palpação ou percussão (sinal de Tinel+). Essa inflamação ocorre, principalmente, próxima às articulações e provoca graves perturbações na circulação neural, agravando a isquemia com consequente disestesia grave ou perda da função. Portanto, ocorrem alterações sensitivas e motoras (paresias ou paralisias) às quais se seguem: amiotrofias, retrações tendíneas e fixações articulares (garras). Os principais nervos mistos (sensitivo-motores) afetados são ulnar (garra ulnar; hipo ou anestesia nos IV e V dedos), mediano (garra do mediano; hipo ou anestesia nos I, II e III dedos); fibular e o tibial (hipo ou anestesia plantar; os dois fatores, sensitivo e motor, conjugam-se na fisiopatologia da úlcera plantar); trigêmeo e o facial. - Resumindo o quadro clínico: Manchas hipocrômicas, acastanhadas ou avermelhadas, com alterações de sensibilidade térmica, dolorosa e/ou ao tátil; Formigamentos, choques e câimbras nos braços e pernas; Pápulas, tubérculos e nódulos, sem sintomatologia associada; Diminuição ou queda de pelos, localizada ou difusa, especialmente nas sobrancelhas (madarose); Febre e artralgia, associados a linfadenopatia, de aparecimento súbito; Pele infiltrada, com diminuição ou ausência de suor no local. - Ao exame físico: Dor, choque e/ou espessamento de nervos periféricos à palpação; diminuição e/ou perda de sensibilidade nas áreas dos nervos afetados; diminuição e/ou perda de força nos músculos inervados por estes nervos; edema de extremidades com cianose e ressecamento da pele. FORMAS CLÍNICAS Hanseníase Indeterminada (HI) - Paucibacilar: Trata-se da fase inicial na história natural da hanseníase e todos os doentes passam pela mesma, entretanto, pode ser perceptível ou não. Caracteriza-se pelo aparecimento de mancha(s) hipocrômica(s), com bordas imprecisas, e não é elevada. As lesões podem se localizar em qualquer área da pele. Geralmente há perda da sensibilidade térmica e/ou dolorosa, mas a tátil é preservada. Acomete, geralmente, crianças <10 anos. A HI, após período de tempo que varia de poucos meses até anos, evolui para cura ou para outra forma clínica - Mancha hipocrômica - bacilo na pele inibe atividade dopa oxidase que está no ciclo da formação da melanina - Pilocarpina (teste) - avalia a integridade dos ramos periféricos - após 5min tem aparecimento da gotícula de suor em pessoas normais. Em hansenianos não tem suor ou tem hipoidrose - Quanto maior a resistência imunológica, menor o número de manchas - Fazer teste de histamina - avalia o SNA, que é o primeiro a alterar, através da vasodilatação reflexa. No lugar onde existe perturbação da sensibilidade, não haverá formação do eritema maior de origem reflexa. TRÍPLICE REAÇÃO DE LEWIS - causada pelo teste da histamina -> não precisa fazer a reação e esperar a tríplice se o paciente já tiver alteração de sensibilidade,em qualquer nível. - Ordem da alteração da sensibilidade: temperatura - dor - tato - Teste de Mitsuda - feito nos indeterminados para saber se vai ter resposta th1 (polo tuberculóide) ou th2 (polo virchowiano) - guia o prognóstico Hanseníase Tuberculóide: lesões pequenas, em placas devido a formação de granulomas na derme, mitsuda positivo. Ocorre em pessoas com alta resistência ao bacilo. Alteração das 3 sensibilidades - pode ter tronco nervoso afetado. Sudorese pode estar diminuída ou ausente. Pode ter neurite - neurite ocorre pois bacilo acomete o tronco nervoso. Geralmente afeta de forma assimétrica, ver os troncos mais comuns. - hanseníase neural pura - apenas nervo afetados, mas é mt raro. - tem muitos diagnósticos diferenciais: - A diminuição da sensibilidade fala muito a favor da hanseníase - Acometimento neural agudo Hanseníase de Virchow (HV) - Multibacilar: a imunidade celular é nula e o bacilo se multiplica muito, levando a um quadro mais grave; tem mais anticorpo. É a mais GRAVE - muitas lesões + face leonina - Indivíduo com face infiltrada, lobo orelha maior, madarose - Lesões cutâneas caracterizam-se por placas infiltradas e nódulos (hansenomas), de coloração eritemato-acastanhada ou ferruginosa; acompanham de febre, mal-estar, queda do estado geral. - Pode ainda ocorrer acometimento da laringe, com quadro de rouquidão e de órgãos internos (fígado, baço, supra renais e testículos), - Pode alterar sistemicamente por ter anticorpos - Progressão lenta, acometimento neural lento. Acomete principalmente n. ulnar, mediano, radial nos MMSS, tronco do n. tibial posterior e fibular nos MMII, ramo zigomático do nervo facial na face. - Biopsia - são vistas globias → aglomerado de bacilos dentro dos macrofagos na derme, ou céls de Virchow. - Hansenoma → nódulos subcutâneos salientes, resultantes do acúmulo de células de Virchow. - Hanseniase de Lúcio: - infiltração, não tem nódulo nem placa - tem vasculite e NECROSE → muitos bacilos circulando → formam êmbolos e trombose → necrose na área - Lesões maculares equimóticas que se ulceram, podem ocorrer em pequeno número ou por uma área extensa da pele, sendo observada mais comumente em extremidades inferiores Hanseníase Dimorfa ou Borderline: Todos os seus subtipos são multibacilares. Fazem mais reações hansênicas devido a instabilidade imune, que promove diferentes respostas, sem um padrão específico. - Lesões numerosas e pode migrar entre virchow e tuberculóide. Manifestações neurais precoces e assimétricas; placas de tamanhos, cores variadas - Dimorfa - Dimorfa ou Borderline - Borderline: Lesão em “queijo suico”, lesão foveolar. Toda instável, sem um padrão. - Borderline Tuberculóide - características do pólo tuberculóide - Borderline virchowviana - características do polo virchowviano REAÇÕES HANSÊNICAS Ocorrem devido a uma hiper-reatividade e instabilidade imunológica, como resposta a presença do bacilo nos nervos periféricos e na pele. Podem ser precipitadas por gravidez, vacinas, puberdade, medicamentos, coinfecções, etc. Pode ocorrer antes, durante ou depois do tratamento. - Reação tipo 1 (ou REVERSA) - reação de hipersensibilidade tardia (resposta celular tipo 4) aos antígenos (M. leprae). A imunidade celular encontra-se exacerbada, promovendo mecanismos de destruição bacteriana e inflamação tecidual intensa, que pode ter consequências irreversíveis, principalmente dano aos nervos periféricos. Quadro clínico:Caracteriza-se pela exacerbação das lesões preexistentes, que se tornam edemaciadas, eritematosas, brilhantes, semelhante à erisipela; podem surgir novas lesões, embora pouco numerosas. Os sintomas sistêmicos variam (geralmente uma febre baixa). Surgem lesões novas à distância e as neurites mostram-se frequentes e graves, podendo ser a única manifestação clínica. Se não tratadas precocemente, deixam sequelas. As neurites podem ser silenciosas, ou seja, o dano funcional do nervo se instala sem quadro clínico de dor e espessamento do nervo. Os nervos mais comprometidos são os ulnares e medianos nos membros superiores, fibular comum e tibial posterior nos membros inferiores e facial e grande auricular no segmento cefálico. - No geral: piora de lesões, novas lesões e afeta nervos - Reação tipo 2 (ERITEMA NODOSO HANSÊNICO): síndrome desencadeada por depósito de imunocomplexos nos tecidos e vasos - resulta em sintomas agudos sistêmicos. Há aumento de citocinas séricas, como o fator de necrose tumoral alfa e o interferon gama sem, haver mudança definitiva da condição imunológica do paciente. - reação tipo 3 do sistema imune Quadro Clínico: Observada nas formas multibacilares (virchowianas ou dimorfas), em geral, após seis meses de tratamento - o tratamento leva a destruição dos bacilos e a uma maior exposição ao conteúdo antigênico, induzindo a reação. Caracteriza-se pelo aparecimento de nódulos subcutâneos dolorosos e placas dolorosas, acompanhados ou não de manifestações sistêmicas como: febre, dor articular, mal-estar generalizado, orquite, iridociclites, com ou sem espessamento e dor de nervos periféricos (neurite). - DIAGNÓSTICO Clínico: mancha e/ou área(s) da pele com alteração (perda) de sensibilidade, característica da hanseníase E/OU acometimento de nervo(s) periférico(s), com ou sem espessamento, associado a alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas; - Indeterminada → mancha e mitsuda guia qual a reação futura do paciente; biópsia - infiltrado em filete nervoso. baciloscopia - negativo. - tuberculóide → mitsuda positivo; placa eritematosa, biópsia com granuloma; baciloscopia negativa - dimorfa → varia muito - virchowiana → ace leonina; baciloscopia positiva, mitsuda negativo, biópsia com globias. - Baciloscopia → Lobo joelho e orelha + lesão → áreas mais frias, preferidas pelos bacilos. Positiva de esfregaço intradérmico, em casos multibacilares. BAAR negativo - mostra que é paucibacilar - Prova da histamina - a pele com hanseníase não tem a fase secundária que depende da integridade dos filetes nervosos. É importante pra fazer diag diferencial com outras doenças que cursam com hipocromia - Dosagem de Antígeno glicolípide fenólico-1 - dosagem de anticorpo em virchowiana - TESTE INTRADÉRMICO DE MITSUDA (teste celular) - antígeno morto no antebraço -> se positivo significa que vai ter resistência a infecção, que indica que o paciente vai evoluir pra tuberculóide se desenvolver a doença (indica q pct tem resposta TH1). Se neg, indica q tem resposta th2. (positivo se pápula > que 5mm) TRATAMENTO - O tratamento da hanseníase é ambulatorial, utilizando-se esquemas terapêuticos padronizados Critério de alta: o tratamento está concluído com 6 cartelas em até 9 meses. Na dose supervisionada, os doentes devem ser submetidos ao exame dermatológico, à avaliação neurológica simplificada e do grau de incapacidade física para receber alta por cura. Duração: 12 cartelas em até 18 meses. Seguimento dos casos: comparecimento mensal para dose supervisionada. Critério de alta: o tratamento estará concluído com 12 cartelas em até 18 meses. Na 12ª dose supervisionada, os doentes devem ser submetidos ao exame dermatológico, à avaliação neurológica simplificada e do grau de incapacidade física para receber alta por cura. - Dose supervisionada de rifampicina + doses autoadministradas Tratamentopara quem mora com o paciente - examinar os contactantes íntimos. Profilaxia com bcg se não tiverem tomado as 2 doses posteriormente. Em caso de 1 marca de vacina, dar dose de reforço. Vacinar em braço direito. Tratamento das reações - reação 1 - prednisona ou dexa - neuralgia - antidepressivos tricíclicos - reação 2 - talidomida (teratogênica) com ou sem prednisona (não é tão eficaz mas pode ajudar) OBS: - Se paciente com TB e Hanseníase - TTo de tb + os restantes da hanseníase. - Se paciente com HIV ou AIDS - tto igual ao normal. - Dapsona - pode dar anemia hemolítica - Clofazimina e rifampicina podem ser hepatotóxicas.
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