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Introdução: Hanseníase é uma moléstia infecciosa, de evolução crônica, granulomatosa, causada pelo Mycobacterium leprae, que acomete inicialmente o sistema nervoso periférico para depois acometer a pele. Na maioria dos doentes brasileiros também compromete outros órgãos e sistemas, exceto o sistema nervoso central. É uma doença de notificação compulsória, que tem cura e não deixa sequelas quando diagnosticada e tratada na fase inicial. O homem doente é a única fonte de infecção (mas há relatos de infecção natural em tatus, macacos e chimpanzés na Costa do Marfim), que elimina o vírus por vias respiratórias, e da inicio as etapas de transmissão, entrada e multiplicação (potencial de invasão). O contato é principalmente por vias aéreas superiores e a multiplicação se faz por divisão binária a cada 12-21 dias. Além disso, essa doença atinge todas as idades, ambos os sexos e raramente em crianças, e é influenciado pelas condições socioeconômicas desfavoráveis. Aspectos Históricos: Na idade média os doentes eram considerados sujos, não confiáveis e corruptos, havendo uma segregação dos leprosos (forma que eram referidos os doentes), em que era proibida a entrada deles na cidade, e ainda houve a criação de leprosários (isolavam essas pessoas) juntamente a utilização de roupas identificáveis ou sino. O termo lepra é altamente estigmatizante tanto para o doente como para sua família e sociedade; logo, outras terminologias foram sendo utilizadas, como moléstia de Hansen, hansenose ou hanseníase. O termo lepra significa, pelas traduções gregas da bíblia hebraica, impuro, desonra, vergonha, desgraça. Nesse sentido havia uma grande marginalização e exclusão desses doentes. Atitudes mais humanitárias em relação aos pacientes com hanseníase, iniciam-se na Noruega, no século XIX, a partir das primeiras pesquisas sobre a doença, juntamente com a criação de um registro nacional de doentes e a teoria de que a lepra era hereditária. Vale ressaltar que em 1873 é identificado o agente etiológico por Hansen. Epidemiologia: A hanseníase é uma doença endêmica no Brasil, em decréscimo continuo desde 2003, mas ainda é um problema grave. Existem variações de tendencia e magnitude da endemia na comparação entre regiões e unidades das federações. Dentre as estratégias adotadas pelo Brasil para eliminar a hanseníase como problema de saúde destacam-se: ampliação da oferta de serviços de diagnóstico e tratamento; implementação de atividades que promovam a interrupção da cadeia de transmissão, como intensificação da busca ativa de casos. O boletim epidemiológico do Ministério da Saúde de 2022, mostrou uma tendência de redução de casos; entretanto, devido ao isolamento e a sobrecarga do sistema de saúde (atrapalha diagnóstico) devido a pandemia pode ter contribuído para esses resultados. Etiologia: O agente Mycobacterium leprae – também denominado bacilo de Hansen – é um agente intracelular obrigatório, com afinidade por células cutâneas e células do sistema nervoso periférico. A sua multiplicação é lenta (12 a 16 dias), e trata-se de um bacilo levemente gram-positivo e álcool ácido resistente – corado pelo método de Zielh Neelsen ou Wade – que infecta os nervos periféricos, mais especificamente as células de Schwann, por isso a manifestação da doença na maioria das vezes é uma neurite. Vale ressaltar que bacilos inviáveis/mortos mostram falhas na coloração do corpo bacilar, aparecendo como estruturas granulosas. Em relação a sua morfologia, sabe-se que possui forma de bastonete reto ou levemente encurvado, com 1 a 8 micrômetro de comprimento por 0,3 micrômetro de largura. Nas preparações para exames bacterioscópico, ao microscópio comum, os bacilos de Hansen (BH) podem ser vistos isolados, agrupados ou em agrupamentos compactos chamados de “globias”, nestas os bacilos estão fortemente unidos por material gelatinoso (gleia) e dispostos de modo semelhante a cigarros colocados paralelamente em um maço. É a única bactéria que apresenta esse tipo de disposição. A análise de bacilos de Hansen à microscopia eletrônica mostra parede celular formada por membrana dupla, sendo a mais externa (eletron transparente) composta de proteoglicanos e a interna (eletrodensa) de lipopolissacarídeos. A externa, mais espessa, contém um trissacarídeo imunogênico espécie-específico, ligado ao fenoldimicocerosil-ftiocerol e a ácidos micólicos, o glicolipideofenólico-1 (PGL-1). Os bacilos apresentam atividade dopaoxidase por terem no citoplasma a enzima O-difeniloxidase, capaz de oxidar a di-hidroxifenilalanina (DOPA). Essa atividade faz o BH ser ímpar entre as micobacterias patogênicas. A parede do Mycobacterium leprae é rica em lipídeos, que se associam a produtos excretados pelo bacilo e são responsáveis pela penetração e pela sobrevivência da bactéria no interior de macrófagos. É na parede que se encontra a lipoarabinomanana (LAM), e o glicolipideofenólico-1 (PGL-1), que distingue este bacilo de outras micobactérias. Existe ainda um único trissacarídeo, que parece ser o alvo de anticorpos IgM, como determinante espécie-específico, sobretudo nos pacientes com a forma virchowiana da doença. Apesar de ser microrganismo de alta infectividade, o bacilo tem baixas virulência e patogenicidade. No meio ambiente, permanece viável por 36 horas. Além disso, o período de incubação do BH após invadir o organismo é de 2 a 5 anos. Classificação: Primeiramente, é importante saber os fatores de risco para hanseníase, em que se destacam a precariedade de condições de vida, aglomeração domiciliar, convivência com um caso multibacilar, suscetibilidade genética, e no Brasil é mais frequente em pardos e negros. Dentre aquelas pessoas saudáveis que tiveram contato com o bacilo, 90% não adoecem, enquanto 10% podem adoecer e evoluir para as diversas formas da doença: virchowana (HV) ou lepromatosa (HL); tuberculoide (HT); indeterminada (HI); dimorfa (HD) ou borderline, intermediária entre HV e HT. Para fins operacionais e práticos, a OMS estabeleceu uma classificação em duas categorias: pacientes paucibacilares, com teste de Mitsuda positivo e índice baciloscópico (IB) < 2); e pacientes multibacilares com teste de Mitsuda negativo e baciloscopia positiva (IB > 2). As lesões cutâneas iniciais são máculas que, em pequeno número e localizadas, indicam resistência e o tipo paucibacilar (tuberculoide). Quando são múltiplas, difusas e com limites imprecisos, mostram baixa ou nenhuma resistência e tendem a evoluir para o tipo multibacilar (virchowiano). Os pacientes com lesões com ambas as características se encontram no grupo dimorfo ou borderline. As primeiras alterações são sensoriais e apresentam-se como distúrbio da sensibilidade térmica e parcialmente dolorosa, que progressivamente é perdida; finalmente, perde-se a sensibilidade tátil. Com a progressão das lesões em sentido proximal, os troncos neurais periféricos tornam-se edemaciados e dolorosos à palpação. Em consequência, surgem alterações sensoriais e motoras, levando a amiotrofia (atrofia muscular espinhal), retração de tendões e fixação de articulações. Entre os nervos mais acometidos, encontram-se o facial, trigêmeo, ulnar, mediano, radial, fibular e tibial. Em hansenianos tuberculoides, as lesões neurais são mais precoces, assimétricas e agressivas; em virchowianos, aparecem mais tarde e são simétricas e menos intensas. Forma Indeterminada: Hanseníase indeterminada (HI) surge em indivíduos que convivem diretamente com pacientes bacilíferos, com as formas dimorfa ou virchowiana. Clinicamente, manifesta-se por máculas hipocrômicas ou acrômicas, eritematosas ou eritêmato-hipocrômicas,de limites imprecisos (mal delimitada), com alterações da sensibilidade. As lesões cutâneas são ovalares ou circulares, isoladas ou confluentes, com localização e número variáveis. Em alguns pacientes, aparecem apenas distúrbios da sensibilidade em áreas aparentemente sadias. Nas lesões, existem hiperstesia ou anestesia, anidrose e alopecia. Distúrbios motores estão ausentes pela inexistência de comprometimento de troncos nervosos. Forma Tuberculoide: Hanseníase tuberculoide (HT) resulta de evolução lenta ou rápida da forma indeterminada e manifesta-se por lesões de transição ou maculoanestésicas, com expansão das bordas, ficando o limite externo nítido e o interno, impreciso. A placa apresenta anestesia térmica, dolorosa e tátil. São bem características as lesões “em raquete”, ou seja, uma placa infiltrada da qual emerge filete nervoso superficial espessado, e o “abscesso do nervo”, por necrose caseosa do nervo; tais lesões formam tumorações. Os nervos periféricos, em particular o ulnar, tornam-se espessados e facilmente palpáveis. Manifestações neurológicas incluem distúrbios sensoriais (paresias, paralisias, amiotrofias, mão em garra, pé caído), tróficos (mal perfurante, reabsorções ósseas, mutilações) e vasomotores (acrocianose). Forma Virchowiana: Ao contrário da forma tuberculoide, em que os macrófagos se diferenciam em células epitelioides e formam granulomas com capacidade de lisar a bactéria, a hanseníase virchowiana (HV) revela macrófagos incapazes de destruir os bacilos, permitindo sua multiplicação intracitoplasmática. Apresenta lesão avermelhada elevada, mal delimitada, com centro irregular e “esburacado”, anestésica ou hipoestésica. Além disso, há espessamento do nervo fibular superficial na região anterolateral da perna no terço inferior. Pode apresentar-se com múltiplas manchas hipocrômicas com bordas imprecisas, sensibilidade e sudorese diminuídas e/ou ausentes. No surto reacional do tipo eritema nodoso, pode haver neurite aguda com maior compressão e destruição de fibras nervosas. Há infiltração difusa ou localizada, com formação de placas e lesões nodulares: os hansenomas. Como não há resistência à disseminação bacilar, as lesões cutâneas mostram limites imprecisos, e os bacilos invadem não só a pele como órgãos internos. Infiltração da mucosa nasal pode causar dificuldade respiratória e até perfuração do septo. Rouquidão e dispneia surgem em consequência de lesão da laringe. Inicialmente discretas, as lesões neurais manifestam-se nos mesmos nervos acometidos no tipo tuberculoide (ulnar, mediano, ciático, poplíteo externo, tibial posterior). Além dessas lesões, na HV podem aparecer outras manifestações. O fenômeno de Lúcio caracteriza-se por vasculite com proliferação endotelial, obstrução da luz e trombose de vasos na derme e hipoderme. O infiltrado mononuclear é discreto, com grande número de bacilos na parede e no endotélio dos vasos. Oclusão vascular causa necrose isquêmica, infartos hemorrágicos e ulcerações. No eritema nodoso hansênico, ocorre vasculite leucocitoclásica, com neutrófilos e eosinófilos. Em torno dos vasos, há raros bacilos fragmentados e agregados de células espumosas. Forma Dimorfa: Hanseníase dimorfa ou borderline (HD) engloba os casos que se encontram entre os polos tuberculoide e virchowiano, com características de ambos. Os casos dimorfos reacionais lembram, clinicamente, os tuberculoides reacionais, embora haja maior comprometimento do estado geral e do sistema nervoso periférico, além de edema intenso de mãos e pés. Os surtos tendem a ser persistentes, o que aproxima esses casos dos virchowianos. As lesões são placas com pele normal no centro, borda interna de limite nítido e borda externa imprecisa. Em casos avançados, ainda com imunidade celular, pode haver surtos reacionais. Fisiopatologia: Assim como o M. tuberculosis, o M. leprae não possui toxinas; as lesões encontradas na doença devem-se à resposta do organismo aos antígenos presentes na parede bacteriana. Após fagocitose do M. leprae por macrófagos, os antígenos são apresentados por moléculas MHC I e II e estimulam a resposta imunitária adaptativa do hospedeiro, como acontece também na tuberculose. Há dois padrões de resposta: ✓ Th1, em que há estimulação de linfócitos T CD4+ e resposta celular (inflamatória), mediante a ação de citocinas pró-inflamatórias (IFN-γ, TNF e IL-12), com formação de granulomas e lise dos bacilos; ✓ Th2, com estimulação de linfócitos T CD8+ e produção de citocinas IL-4, IL-5, IL-10 e IL-13. Esta resposta não destrói os bacilos e permite sua multiplicação no hospedeiro. A imunidade inata (inicial) direciona padrões diferentes de respostas adaptativas mediadas por linfócitos T, em relação aos seus subtipos. Nessa etapa inicial há o reconhecimento das estruturas do bacilo pelas células dendríticas ou macrófagos teciduais, que posteriormente fagocitam e apresentam os antígenos para os linfócitos no linfonodo (ponte entre imunidade inata e imunidade adaptativa). Essas células dendríticas e macrófagos apresentam receptores na sua superfície, capazes de reconhecer as estruturas da micobacteria (lipoarabinomanana e glicolipideofenólico-1/PGL-1), sendo chamados de receptores de reconhecimento padrão, no caso de hanseníase são os receptores transmembranas do tipo Toll- Like (TLR). Ainda dentro da imunidade inata, temos dois tipos de macrófago (M1 e M2) que estimulam diferentes subtipos de linfócito T (lembrando que a resposta mais eficaz é a do Th1). Os macrófagos do tipo M1 são inflamatórios e estimulados por fragmentos bacterianos (LPS) e pelo interferon gama; logo, possuem maior capacidade de destruir o microrganismo e induz a ação pela linhagem Th1 (produz IFN-gama). Já os macrófagos do tipo M2, os quais não possuem atividade inflamatória intensa, sendo mais característico de reparo tecidual; logo, não são eficazes na eliminação do bacilo, estando relacionada a resposta pela linhagem Th2 (produz IL-4 e IL-13). A resposta adaptativa do tipo Th1 (presente no polo tuberculóide) é referida como uma imunidade celular pois a principal função desses linfócitos é ativar macrófagos para ingerir/fagocitar e destruir microrganismos, além de potencializar a ativação de linfócitos, sendo que a principal citocina produzida é o interferon-gama. A liberação de interferon-gama resulta na produção de espécies reativas a oxigênio, oxido nítrico e enzimas lisossomais levando a morte das bactérias nos fagolisossomos (potencializa a capacidade bactericida dos fagócitos). Além disso, há secreção de TNF (fator de necrose tumoral) e IL-1, as quais recrutam leucócitos, desenvolvendo um quadro inflamatório. Juntamente com essas citocinas, há a secreção de IL-12, capaz de estimular a diferenciação em Th1 e produção de mais IFN-gama, e expressão aumentada de coestimuladores e MHC. A resposta adaptativa da linhagem Th2 (presente no polo virchowana), é uma resposta independente de fagócitos, e tem como função estimular a produção de anticorpos (resposta humoral), ativação de mastócitos e eosinófilos, por isso ela é eficaz nas parasitoses e infecções extracelulares, o que não é o caso da hanseníase. A principal citocina produzida por linfócitos do tipo Th2 é a IL-4 (apesar de ter outras como IL-13 e IL-10), a qual vai ser responsável por ativar linfócitos B que vão produzir anticorpos contra o bacilo, mas não alcançam o foco de disseminação bacilar. Além disso, a citocina IL-4 e IL-13 vão suprimir a ativação de fagócitos e estimular a diferenciação de M2. Outro fator da IL-4 é a estimulação do desenvolvimento de TH2 (retroalimentação), e o recrutamento de eosinófilose mastócitos. Diagnóstico: No que se refere ao manejo de um paciente com hanseníase deve: realizar a notificação da doença, solicitar baciloscopia do raspado dérmico, solicitar exames complementares (HMG e perfil hepático), realizar avaliação neurológica simplificada e grau de incapacidade, classificar e tratar. O exame físico é essencial para o diagnóstico, e deve considerar um caso de hanseníase a pessoa que apresenta um ou mais dos seguintes sinais cardinais: ✓ Lesão(ões) e/ou área(s) da pele com alterações de sensibilidade; ✓ Acometimento de nervo(s) periférico(s), com ou sem espessamento, associado a alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas; ✓ Baciloscopia positiva de esfregaço intradérmico. Além disso, suspeita-se de hanseníase naqueles pacientes com: ✓ Diminuição ou queda de pelos, localizada ou difusa, especialmente nas sobrancelhas (madarose); ✓ Áreas da pele ou manchas esbranquiçadas (hipocrômicas), acastanhadas ou avermelhadas com alteração de sensibilidade ao calor e/ou dolorosa, e/ou ao tato; ✓ Pápulas, tubérculos e nódulos (caroços), normalmente sem sintomas; ✓ Formigamentos, choques e câimbras nos braços e pernas, que evoluem para dormência (a pessoa se queima ou se machuca sem perceber); ✓ Pele infiltrada (avermelhada), com diminuição ou ausência de suor no local. Como exame complementar, há o teste de sensibilidade, sendo ela térmica (tubo de água fria e quente), dolorosa (agulha) e tátil (chumaço de algodão ou monofilamentos de Semmes- Weintein), sendo os únicos testes essenciais para o diagnóstico pois avalia as funções neurológicas. Já a baciloscopia é o exame realizado para detectar bacilos no raspado dérmico de 4 sítios (lóbulos da orelha direita e esquerda, cotovelos direito e esquerdo) ou em lesão. O resultado varia de 0 a 6+ (cruz). A baciloscopia negativa não exclui o diagnóstico de hanseníase, sendo a baciloscopia positiva utilizada para classificar o paciente como multibacilar, independentemente do número de lesões, e não é necessário esperar o resultado da baciloscopia para iniciar o tratamento. A biopsia que na forma indeterminada encontra infiltrado inflamatório inespecífico e sem bacilos; na forma tuberculóide verifica-se granulomas tuberculóides sem bacilos; na virchowiana encontra-se granulomas macrofágicos e a presença de células de Virchow (macofragos com numerosos bacilos e gotículas lipídicas no citoplasma); e na dimorfa há ambos os granulomas. Biópsias de lesões suspeitas de hanseníase devem incluir a hipoderme, pois é nela que se localizam as lesões essenciais para o diagnóstico das formas não contagiosas (indeterminada e tuberculoide) e contagiosas (dimorfa e virchowiana). O teste de Mitsuda consiste na injeção intradérmica de suspensão de bacilos mortos, para avaliar a imunidade celular especifica do paciente contra ao bacilo, sendo feita uma leitura tardia (28 a 30 dias) para verificar se houve o surgimento de um nódulo ulcerado ou não no local da injeção. Após isso, verifica-se o tamanho do nódulo formado, e quanto maior a medição, maior é a resposta celular do paciente contra o bacilo: 3- 5mm (+); 5-10mm (++); ulcerado > 10mm (+++). A avaliação neurológica e o grau de incapacidade deverão ser avaliados a cada 3 meses ate a alta por cura, ou ser realizada quando o paciente apresentar qualquer queixa que indica acometimento de nervo periférico (perda de força, dormência, dor, etc). Tratamento: O tratamento da hanseníase é realizado com poliquimioterapia (PQT) padrão, preconizada pelo Ministério da Saúde/OMS, e os medicamentos devem ser solicitados mensalmente, pelo farmacêutico da unidade de saúde, ao NAF da CAP, através de planilha após notificação do paciente. O esquema PQT é feito com o uso de dapsona, rifampicina e clofazimina, (dose mensal supervisionada na unidade de saúde) mais um tratamento mensal de dose diária de dapsona e clofazimina. Vale ressaltar que a forma multibacilar é tratada por 12 meses e a paucibacilar é durante 6 meses. Vale ressaltar que todos os contatos intradomiciliares devem ser avaliados, juntamente com os contatos sociais de convívio próximo e prolongado. Nesse sentido, recomenda-se avaliação dermatológica pelo menos 1x ao ano, por pelo menos 5 anos dessas pessoas próximas que não foram identificados como casos de hanseníase na avaliação inicial. Vale lembrar que se tiver baciloscopia positiva, deve classificar como multibacilar independente do numero de lesões. Reações Hansênicas: São reações inflamatórias agudas que podem acometer pacientes antes, durante ou após o tratamento com a poliquimioterapia padrão, representando uma urgência que deve ser encaminhada para referencia da área, pois são a maior causa de lesão do nervo periférico e aumento das incapacidades. Pode ser desencadeada por infecções, estresse físico ou emocional, cirurgias, traumas, vacinação, gestação..... A presença de reações hansêmicas não indica interrupção da PQT e nem o reinicio do tratamento. Reações do tipo 1, as lesões ficam mais definidas e aparecem novas lesões que na verdade já existiam (subclínica); enquanto na reação do tipo 2 (eritema nodoso sistêmico) surgem nódulos e placas dolorosas, febre e mal-estar. O tratamento desses pacientes é feito principalmente com o uso de corticoides, analgésicos ou AINEs, pois os nervos periféricos ficam mais dolorosos e as lesões cutâneas mais eritematosas e edematosas. Referências: Tratado de dermatologia/editores Walter Belda Junior, Nilton di Chiacchio, Paulo Ricardo Criado. – 2. Ed. – São Paulo: Editora Atheuneu, 2014. OUTOR, Carol; HORDINSKY, Maria. Dermatologia clínica. São Paulo: Grupo A, 2014. FILHO, Geraldo B. Bogliolo - Patologia. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2021.
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