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PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU A FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO SOBRE SUSTENTABILIDADE E TECNOLÓGICO SUMÁRIO: APRESENTAÇÃO UNIDADE I: O SUJEITO ECOLÓGICO 1. Introdução 2. O sujeito ecológico: definição e princípios 3. Sociedade plenamente ecológica 4. A reconstrução dos valores 4.1. Para reconstruir novos valores 5. Concepção de educação: a constituição de sujeitos ecológicos 5.1. Educação do sujeito ecológico e sua concepção de ensino e aprendizagem 5.2. A constituição do sujeito ecológico no contexto escolar UNIDADE II: O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM 1. Formação do sujeito ecológico e a crise socioambiental contemporânea 2. O ensino: posicionamentos críticos e reflexivos e atuação cidadão UNIDADE III: CONSTITUIÇÃO DE SUJEITOS ECOLÓGICOS 1. Cidadania ambiental e consciência ecológica 2. Sustentabilidade e cidadania 3. Sustentabilidade socioambiental 4. O sujeito ecológico: ecodesenvolvimento ou sustentabilidade UNIDADE IV: EDUCAÇÃO AMBIENTAL 1. Introdução 2. Educação Ambiental: processos evolutivos e conceituais 3. Educação Ambiental: natureza, fins e competências 4. Educação Ambiental: características, concepção e estruturação pedagógica 5. Educação Ambiental: um processo em construção e reconstrução 6. Educação Ambiental: uma necessidade emergente UNIDADE V: EDUCAÇÃO AMBIENTAL 1. Aspectos legais e suas práticas educativas UNIDADE VI: A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO PROCESSO EDUCATIVO 1. Introdução 2. A educação ambiental no processo ensino-aprendizagem 3. Educação ambiental e currículo 4. Critérios de seleção e organização dos conteúdos da educação ambiental UNIDADE VII: A INTERDISCIPLINARIDADE METODOLÓGICA E EPISTEMOLÓGICA NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL 1. Introdução 2. Educação ambiental como tema transversal 3. Enfoque voltado para a solução de problemas 4. Pensar a sustentabilidade 5. Sociedade de risco, reflexividade e complexidade UNIDADE VIII: OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O PAPEL DO PROFESSOR 1. Introdução 2. Formação de professores e a educação ambiental 3. Identidade de educador ambiental como sujeito ecológico 4. Mudanças de paradigmas: interdisciplinaridade e organização do trabalho educativo na escola 5. Educação ambiental e a formação da cidadania ecológica 6. Sustentabilidade, movimentos sociais e a educação ambiental UNIDADE IX: AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS 1. Introdução 2. Estratégias metodológicas 2.1. Projeto educativo coletivo 2.2. Perspectiva global e local 2.3. Maior sinergia escola e comunidade 2.4. Interdisciplinaridade 2.5. Transversalidade 3. Exercício do pensamento complexo 4. Dinâmicas para práticas de educação ambiental 4.1. Dinâmica de apresentação 4.2. Dinâmica de preparação para o trabalho 4.3. Dinâmica de fixação 4.4. Dinâmica da engrenagem 4.5. Dinâmica dos paradigmas: 4.6. Dinâmica do salvador 5. Vivência I: percepções 6. Completar as frases 7. Teia da vida 8. Estudo de caso 9. Sugestões de estudos de caso 9.1. Poluição do solo (disposição de resíduos sólidos em lixão ilegal) 9.2. Poluição do ar (queima ilegal de resíduos sólidos) 9.3. Poluição da água (disposição de resíduos domésticos, agrícolas e industriais ilegais nos rios. Colocar nome dos rios) 9.4. Separação do lixo (coleta irregular do lixo pelos catadores não cadastrados) 10. Práticas 10.1. Minicomposteira 10.2. Papel reciclado 10.3. Detergente ecológico 10.4. Detergente ecológico multiuso: 11. Orientações de como elaborar projetos em educação ambiental 11.1. Introdução 11.2. O planejamento das etapas do projeto 11.3. O diagnóstico 11.4. O resultado do diagnóstico 12. O projeto em educação ambiental REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS UNIDADE I: O SUJEITO ECOLÓGICO 1. INTRODUÇÃO A concepção de meio ambiente tem uma relação direta com as práticas pedagógicas que serão elaboradas e a situação ambiental que vivenciamos hoje é imperativa no sentido de exigir que soluções sejam condizentes com a realidade. Nesse sentido, o sujeito ecológico tem seu alicerce embasado na corrente crítica de Educação Ambiental, que concebe o meio ambiente em sua totalidade, considerando as complexas e conflituosas interfaces que permeiam a relação homem e natureza. Nessa unidade buscaremos apresentar as concepções sobre o que é o Sujeito Ecológico, definindo-o, contextualizando-o frente às demandas sociais de sustentabilidade, desenvolvimento tecnológico e refletir sobre o a formação desse sujeito imprescindível, capaz de assumir compromisso social, político e ético com a sustentabilidade do planeta. Vamos inicialmente compreender o conceito e seus princípios: 2. O SUJEITO ECOLÓGICO: DEFINIÇÃO E PRINCÍPIOS O sujeito ecológico designa um ideal, pessoal e social norteador das decisões e estilos de vida dos que adotam, em alguma medida, uma orientação ecológica em suas vidas. Segundo Isabel Carvalho (2008), o sujeito ecológico é um ideal de ser que condensa a utopia de uma existência ecológica plena, o que também implica uma sociedade plenamente ecológica. A palavra utopia que se encontra na definição, não deve ser vista de forma pejorativa. Entenda-se por utopia, o norte das ações do homem que nada poderia fazer se não tivesse idealizado previamente. “A utopia é aquele conjunto de projeções, de imagens, de valores, e de grandes motivações que inspiram práticas novas e conferem sentido às lutas e aos sacrifícios para aperfeiçoar a sociedade” (BOFF, 2002, p.98). O conceito de sujeito ecológico norteia para um ideal de ser, um modelo diferente de plasmar a realidade; sinaliza para uma convocação que não deve ser negligenciada, porque não é um ato de caridade, e sim, de responsabilidade. É a via que pode arrebatar a pessoa da vida vegetativa (concebida às vezes como vida normal) para o ímpeto das potencialidades da pessoa. Mas o conceito não deve se revestir de um caráter utilitário, porque não é uma ferramenta disponível, seria converter o ideal em pura técnica. Este ideal é uma invocação, e não um instrumento a ser utilizado num sistema complexo de utensílios. Mas comprometer-se com o ideal do sujeito ecológico não se resume ao ativismo ou a adoção de atitudes naturalistas, pois é preciso ir, além disso, para que exista uma sociedade plenamente ecológica. 3. SOCIEDADE PLENAMENTE ECOLÓGICA Entendemos ser fundamental para a formação do sujeito ecológico que se compreenda o valor da participação na mudança, e a necessidade da reconstrução dos valores. Ser um sujeito ecológico participante não significa somente estar presente, participar nesse contexto, diz respeito à atitude cooperativa, à assunção voluntária e consciente do compromisso com o progresso, imprimindo discretamente a dignidade de sua conduta em todo lugar onde se fizer presente. Entretanto, essa dignidade não assenta na pretensão de uma perfeita moralidade, mas no reconhecimento da falibilidade humana e na luta incessante e silenciosa do homem com ele mesmo. O sujeito ecológico deve ter em mente que a cultura consiste num compartilhamento de ideias e de atitudes que se constroem umas das outras, e precisa zelar por elas. “[...] os indivíduos se fazem uns aos outros, tanto física como espiritualmente, mas não se fazem a si mesmos [...]”. (ENGELS & MARX. 1987, p.55). Parece simplório sugerir a assunção desse compromisso, visto que há muita gente vivendo em adversidade, e que pouco ou nada se importa com tal causa, já que tem coisas mais importantes para se preocupar, como assuntos relativos à própria subsistência, como: comer, vestir-se, trabalhar, cuidar da família. Outros fatores, que certamente parecem fragilizar esse propósito encontra-se ancorado na cultura da sociedade contemporânea que justifica sua postura de “sujeito não ecologicamentecorreto” diante dos vários obstáculos impostos pela nossa sociedade, como por exemplo, a valorização da rapidez, que pode reforçar a opção pelo transporte individual em geral mais rápido, e conflitará com opções mais ecológicas, como ir a pé, de bicicleta, ou de transporte público para o trabalho, nem sempre é possível adotar a proposta ecológica de forma integral e exclusiva. Sabemos que mudar cultura, hábitos e valores não é tarefa fácil nem impossível. Sendo assim, a busca de imprimir uma orientação ecológica à vida não nos poupa de contradições, conflitos e negociações diárias. Para alguns grupos sociais, os ideais preconizados pelo sujeito ecológico são vistos como ingênuos, anacrônicos, pouco práticos, excêntricos, ou de alguma forma reconhecidos como “valores não desejáveis”, para uma sociedade extremamente consumista e inconsequente, que não vê o meio ambiente como parte da sua própria existência e sobrevivência. Contudo, não se solicita a um cego que contemple uma obra de arte, ou a um mudo que cante; só se fazem requerimentos àqueles suscetíveis de correspondê-los, esses incitarão outros, e assim sucessivamente. “Uma vez que o homem resista à totalidade da sua época, que a faça deter à porta, e a obrigue a prestar contas, isso exerce forçosamente influência. [...]”. (NIETZSCHE, 2007, p.127). A falta de participação das pessoas consta mais no amor a si mesmo que na falta de condições psicológicas, ou de esclarecimento. Não há quem nunca tenha sonhado um dia em viver num mundo melhor, mas a maior parte do contingente não se dispõe a contribuir para isso. Só é oferecido de si o que lhes exige pouco esforço. O medo de aventura-se em busca do novo não os permite desvencilhar-se do atavismo que continua ecoando na história. Ficam enviscados na certeza do imediato por receio de se arriscarem nas possibilidades do futuro. Buscam avidamente por um meio de se garantirem numa realidade palpável, sem se darem conta que a perpetuação dessa mesma realidade é uma prisão sem muros, e que não os deixa menos vulneráveis aos riscos do devir. Costuma-se criticar os estadistas, as pessoas jurídicas, a elite, como se estes fossem seres heterogêneos e perversos, responsáveis por todo mal da sociedade. Não se percebe que se trata de pessoas semelhantes àquelas que constituem as massas, e apresentam nuanças quanto aos defeitos e qualidades que possuem; e mesmo se houvesse uma ditadura do proletariado como pretendia Engels e Marx (1987), as mudanças que ocorressem seriam apenas na configuração da tessitura social, mas não cessariam os conflitos porque suas raízes emergem das deficiências morais humanas. A maior dificuldade em encontrar os caminhos para mudança social, reside em as pessoas lançarem-se num ponto de vista que não as incluem, a não ser como vítimas. Para além disso, mudar demanda coragem, não só diante da incerteza quanto ao futuro, mas também perante os preconceitos sociais. É uma renúncia de si que remete ao encontro consigo. Num grupo social, geralmente, só são aceitas mudanças triviais, aquelas que não ameaçam a estabilidade dos valores instituídos e hierarquizados. Toda diferença que apresente um caráter insólito constitui um risco para as mentes conservadoras. Por recearem não serem aceitos, muitas pessoas se entregam ao peso da normatividade dos costumes, e se dissolvem na heteronomia de uma vida ditada. Impressiona como as pessoas expõem mais ao risco seus próprios corpos que as representações de si. Não entendem que é impossível vencer a força imperativa de uma tendência sem propugnar, e não se sai do combate sem ferimentos. A vitória é prerrogativa dos que se lançam na batalha e na reconstrução dos valores, de ideologias, de costumes e de novas concepções de sustentabilidade. 4. A RECONSTRUÇÃO DOS VALORES Toda cultura se desenvolve sob valores e crenças, que moldam a forma de pensar daqueles que estão inseridos nela, isto é, constitui suas ideologias. Chauí (2000) define a ideologia como um corpo sistemático de representações e de normas que nos “ensinam” a conhecer e agir. Na visão de Marx a ideologia tem um sentido pejorativo, como algo que distorce a realidade e nos aprisiona na alienação. Outros pensadores como Mounier (2004) e Ricoeur (2008), a concebem de outra forma. O primeiro considerava que sempre se incorre em alguma forma de alienação, e que a única forma de se subtrair a isso seria ter conhecimento cabal do mundo e de tudo que há nele. Para o segundo, não há como eludir da ideologia, pois, mesmo o pensamento mais racional, consiste num conjunto de ideias desenvolvidas, isto é, uma ideologia. Consideremos um pouco da visão de cada um, uma vez que não poder alijar-se de qualquer forma de ideologia, e que mesmo que esta possa conduzir a uma ilusão nefasta, não condena o indivíduo ao aprisionamento num dado conjunto de ideias. Esta questão é de extrema importância, porque as pessoas dificilmente inquirem suas próprias ideias, ou buscam fundamentação lógica na origem dos valores que adotaram, mas parecem aderir cegamente a tais valores de forma que estes não se constroem sob reflexão. Chauí (2000) salienta que as ideias deveriam estar nos sujeitos e acompanhar-lhes nas suas relações, mas na ideologia (no sentido pejorativo), são os sujeitos que parecem se encontrar nas ideias. É nesse sentido que a ideologia constitui uma ameaça, porque pode favorecer a cultura de massas, fazendo com que os sujeitos passem a enxergar como natural, uma realidade artificial minuciosamente planejada. 4.1. Para Reconstruir Novos Valores De acordo com Gadotti (2000), o capitalismo tem necessidade de substituir felicidades gratuitas por felicidades vendidas ou compradas. Conforme, na maioria das vezes, as pessoas tentam permutar os bens gratuitos pelas “maravilhas” da modernidade, como foi apontado por Santos (2007), no caso de algumas formas de migrações, que nem sempre tem como causa a dificuldade econômica, mas a falta de acesso ao consumo. As verticalizações, bem como os aparatos tecnológicos e as novas opções de lazer (que exclui aqueles que não dispõem de condições econômicas para usufruí-las), faz com que a maioria do contingente populacional esqueça-se das gratuidades da natureza que ainda podem ser logradas. O sentido da vida é impregnado pela lógica do mercado, onde só adquire valor aquilo que pode ser cifrado; os ideais de vida converteram-se em pura mimese da felicidade simulada nas telas do cinema e da TV; o conhecimento não tem outra finalidade a não ser conquistar um espaço no mercado de trabalho e angariar altos salários; atrela-se o valor de cada pessoa pelo status (que não é só o econômico) que está apresenta. Todos esses problemas se esteiam e perpetuam pelo fato de as pessoas insistirem em adaptar-se a essa realidade em vez de tentarem mudá-la. A soberania popular se esboroa em núcleos de reciprocidades que se tecem em continência aos ditames de uma ordem que lhes é estranha, conquanto aceita, segregando os atores sociais e esmaecendo seu poder de transformação. Santos (2007), afirma que a força da alienação advém da fragilidade dos indivíduos quando estes apenas conseguem identificar o que os separa e não o que os une. Faz-se necessário que se construam novos valores, que se busque pensar o impensado, que se partam os grilhões dessa cadeia ideológica, e que se formem mais indivíduos autônomos, ao invés de autômatos. Para reconstruir novos valores, o sujeito ecológico precisa ter senso de compromisso, e este deve se firmar na incumbência que a vida delega a todos que estão nela. Dentro dos grupos sociais que se identificam com os ideais ecológicos está o Educador Ambiental, que é alguém identificado com o sujeito ecológico como ideal de ser e formador deste mesmo ideal na sua ação educativa e na constituiçãode sujeitos ecológicos. Vamos entender como eles se constituem no contexto escolar? 5. CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO: A CONSTITUIÇÃO DE SUJEITOS ECOLÓGICOS Retomando a questão anterior entendemos a educação como um processo de formação contínuo e permanente. Logo, é possível educar o sujeito ecológico. Parafraseando Freire, “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda” (PAULO FREIRE, 2000 p.3). A educação é um instrumento de formação e de transformação de saberes, consciências, comportamentos, capaz de contribuir significativamente na formação de sujeitos ecológicos e muni-los de ferramentas para entender e transformar a realidade. 5.1. Educação do sujeito ecológico e sua concepção de ensino e aprendizagem A concepção de ensino de aprendizagem para a formação do sujeito ecológico consciente e comprometido com o desenvolvimento sustentável deve ser pautada na relação sócio-histórico-interacionista, que tem como pressuposto teórico metodológico as teorias de Piaget e de Vygotsky. Nutrindo a convicção de que os conhecimentos precisam ser reconstruídos em consonância com as novas demandas sociais, histórica, econômica, política e, acrescento, ambientalistas no qual as interações ocorrem, estimulando os sujeitos a refletir sobre a sua realidade e a buscar alternativas para transformá-la. Nessa perspectiva, a constituição do sujeito deve ser entendida como um processo contínuo, multidimensional, contextualizado, dinâmico, dialético que se constrói e reconstrói na interação entre sujeito e o meio social. Concomitantemente, pessoas e rede de significações são continuamente e mutuamente transformadas e reestruturadas e transformadas em novo conhecimento. Desse modo, a constituição do sujeito se dá numa rede de relações, num jogo de interações em que diferentes papéis complementares são assumidos e atribuídos pelos e aos vários participantes. O que um sujeito é em cada momento está ligado às interações que ele estabelece com outros sujeitos, aos papéis que assume em relação aos outros e os outros em relação a ele. Papéis que são definidos segundo ideias e valores de determinados grupos em confronto com outros grupos. Na Concepção Piagetiana, ressaltamos os aspectos lógicos da aprendizagem, em constante interação com questões que mobilizam o pensar. O pensar produz conhecimento e a ação que produz conhecimento é a ação de resolver problemas. Assim, é necessário possibilitar que a inteligência de quem aprende aja sobre o que se quer explicar. Aprendemos a partir da interação e do aprofundamento nas exterioridades dos problemas, estabelecendo uma relação dialética que nos permite elaborar uma representação pessoal sobre um objeto da realidade, sendo que este está em interação com outros tantos objetos. Pelo prisma do construtivismo, nada está acabado e o conhecimento nunca está terminado. A questão que se coloca nesse cenário reflexivo é compreender como é possível a constituição desse sujeito ecológico no contexto escolar. 5.2. A Constituição do sujeito ecológico no contexto escolar No contexto educacional é fundamental que se reflita sobre o processo de ensino e aprendizagem na formação do sujeito ecológico diante da crise socioambiental contemporânea. Carvalho (2008) sinaliza que nos dias atuais a formação do sujeito deve ultrapassar a prática de transmissão de conteúdo e informação, pois o ensino deve promover subsídios para posicionamentos críticos e reflexivos, em que possibilite a atuação cidadã diante dos problemas ambientais. Torna-se relevante compreender quais são os valores, as atitudes e as crenças centrais que devem constituir o sujeito ecológico e como ele deverá operar em consonância com a orientação socioambiental, para expressar seu ponto de vista considerando as características individuais e coletivas nos contextos histórico, social e cultural. Sendo assim, a proposta educativa poderia ser pautada na formação de um sujeito capaz de ler seu ambiente e interpretar as relações, os conflitos e os problemas aí presentes. A escola deve formar cidadãos críticos, pois diante de toda repercussão sobre as causas e consequência dos impactos ambientais na vida e organização dos seres vivos, temos sido interpelados e convidados a participar mais efetivamente dos embates envolvidos no campo ambiental, mas para tanto precisa-se de indivíduos com espírito de luta, sede de mudança e compromisso para defender um mundo sustentável em que haja responsabilidade no uso dos recursos naturais. Assim, a escola poderá contribuir neste sentido, tendo como uma de suas metas promover os primeiros passos para a constituição de sujeitos ecológicos em prol da cidadania ambiental. Assim, faz-se necessário compreender a complexidade dessa formação e como ela se efetiva no processo de ensino aprendizagem dos sujeitos ecológicos. UNIDADE II: O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM 1. FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO E A CRISE SOCIOAMBIENTAL CONTEMPORÂNEA A abordagem dos estudos relacionados à problemática ambiental tem sido incorporada às discussões mais centrais da sociedade contemporânea. Isso ocorre também no setor educacional, no qual o ambiente é entendido como um tema transversal, que deve abranger todas as áreas, permeando toda a prática educacional. Carvalho (2008) destaca que, na esfera educativa se observa a formação de consenso da necessidade de problematização da questão ambiental. O trabalho pedagógico torna-se de extrema importância para a compreensão das questões ambientais relacionadas não apenas com os fatores naturais – natureza –, mas também com as dimensões sociais e culturais que permeiam a interação do homem com o ambiente. Para Carvalho (2008), ocorre com frequência, no trabalho pedagógico, com o tema ambiente, a socialização da visão naturalista, que reduz o ambiente à natureza, sem vínculos com os demais fatores que interagem com o meio. A ação educativa deve ser voltada para uma educação ambiental cidadã, com intervenção político-pedagógica direcionada para o estabelecimento de uma sociedade de direitos e ambientalmente justa. O processo educativo tem um papel preponderante na compreensão da relação entre homem, ambiente, sociedade, cultura e tecnologia, promovendo discussões e debates sobre a prudência no uso dos recursos naturais na sociedade contemporânea. Surge então a necessidade da formação de sujeitos críticos e atuantes no exercício da cidadania, portanto, conscientes dos problemas ambientais que envolvem o indivíduo e a coletividade no contexto socioambiental. O sujeito ao qual nos referimos é denominado de sujeito ecológico (CARVALHO, 2008), aquele que busca repensar os dilemas sociais, éticos e estéticos configurados pela crise socioambiental, apontando para a possibilidade de um modo de vida socialmente justo e ambientalmente sustentável. Sendo assim, é fundamental que se reflita sobre como o processo de ensino e aprendizagem deve ocorrer na formação do sujeito ecológico diante da crise socioambiental contemporânea. Torna-se relevante compreender quais são os valores, as atitudes e as crenças centrais que devem constituir o sujeito ecológico e como ele deverá operar em consonância com a orientação socioambiental, para expressar seu ponto de vista, considerando as características individuais e coletivas nos contextos histórico, social e cultural (CARVALHO, 2008). 2. O ENSINO: POSICIONAMENTOS CRÍTICOS E REFLEXIVOS E ATUAÇÃO CIDADÃO Sendo assim, a proposta educativa poderia ser pautada na formação de um sujeito capaz de ler seu ambiente e interpretar as relações, os conflitos e os problemas aí presentes para tomar decisões embasadas no espírito crítico em que os interesses individuais e coletivos sejam ponderados. Nestesentido, Penteado (2007) pondera sobre a necessidade da participação ampla e diversificada dos cidadãos nas tomadas de decisões e recomenda a distribuição ampla do exercício do poder político entre todos os atores sociais, pois, com a participação social do exercício político, é possível ampliar a previsão e estabelecer metas para um ambiente sustentável, além de exercer com plenitude a cidadania. Ao se falar em cidadania, esta deve ser considerada como um processo histórico vivenciado pelos atores sociais sendo baseada em direitos e instituições. As abordagens sobre a prática da cidadania estão relacionadas com o estabelecimento de uma sociedade democrática, considerando-se a democracia não só como um regime político, mas como uma forma de sociabilidade que se insere nos espaços sociais (BRASIL, 1997). Para Penteado (2007), o exercício da cidadania refere-se a comportamentos desenvolvidos para lidar com os direitos e deveres, sendo aprendido quando o sujeito participa de ações para a resolução de problemas que o afetam e, consequentemente, afetam também o meio ambiente. O exercício da cidadania também está diretamente relacionado com a participação ativa do cidadão em questões que remetem à luta a favor dos direitos sociais, igualdade social e econômica, qualidade da educação, saúde e moradia, portanto, com sua participação na gestão pública (BRASIL, 1997). Sendo assim, a capacidade de tomada de decisão é um fator de grande relevância na formação da cidadania. Mortimer e Santos (2001, p. 101) salientam que: A tomada de decisão em uma sociedade democrática pressupõe o debate público e a busca de uma solução que atenda ao interesse da maior parte da coletividade. Para isso o cidadão precisa desenvolver a capacidade de julgar a fim de poder participar do debate público. A formação para o exercício da cidadania deve ser propiciada nas várias dimensões do ambiente em que o cidadão se encontra inserido e deve se iniciar muito cedo. Um dos lugares onde os direitos e deveres do cidadão devem ser abordados de forma crítica, para que ele possa praticar ações e tomar decisões conscientes e favoráveis ao bem-estar individual e coletivo é a escola. Deve-se ter em mente que o processo de tomada de decisão apresenta algumas diferenças. A tomada de decisão relativa a um problema escolar, que assume uma natureza objetiva, difere bastante daquela relativa a um problema real do cotidiano em que predomina a subjetividade (MORTIMER; SANTOS, 2001, p. 102). Na escola, pode-se trabalhar com as questões ambientais voltadas para o exercício da cidadania. Segundo Layrargues (2002), a educação voltada para a gestão ambiental pode propiciar o desenvolvimento de ação coletiva dirigida ao fortalecimento da cidadania e ao debate sobre os conflitos socioambientais. Ressalta, ainda que a gestão ambiental é entendida como um processo de mediação de conflitos de interesses. Além da diversidade de atores sociais envolvidos em conflitos socioambientais, existe a assimetria do poder político e econômico presente no interior da sociedade, na qual nem sempre o grupo dominante leva em consideração os interesses de terceiros nas suas decisões. Desse modo, a prática pedagógica relacionada ao ambiente, considerando tais questões, pode promover a sensibilização dos indivíduos e o engajamento coletivo nas tomadas de decisões, propiciando o exercício da cidadania ambiental e consciência ecológica. UNIDADE III: CONSTITUIÇÃO DE SUJEITOS ECOLÓGICOS 1. CIDADANIA AMBIENTAL E CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA Na visão se Santos (2005), a cidadania passou a ter uma dimensão ambiental e requer, com isso, responsabilidade, solidariedade e participação do cidadão em decisões ambientais que afetam a coletividade. A cidadania ambiental está relacionada com as condições de vida dos cidadãos, o que nos remete a repensar o natural e o social, o homem e o ambiente, o local e o global, o pessoal e o público, o desenvolvimento sustentável e o conhecimento sustentável, entre outras dualidades. Compreende-se, com isso, que a formação para uma atuação crítica não deve provocar a perda do sentido do trabalho com o tema ambiente ou saber ambiental, pois, juntos, coadunam conhecimentos voltados para questões não só relacionadas com os princípios da natureza, mas, também, para questões de natureza política e ética, como se pode constatar nas orientações curriculares relativas aos temas transversais, cuja abordagem ressalta as ligações entre cultura e conhecimento (MATOS, 2005). Em termos do trabalho com o tema ambiente, devem-se também levar em consideração os princípios da ética, nos quais as questões ambientais, partindo de um contexto cultural, devem ser discutidas em coletividade para a tomada de decisões (também coletivas) voltadas para um projeto social e coletivas. Assim, o ensino sobre ambiente deve estar voltado para a conexão entre as relações pessoal-grupal e social-ambiental. 2. SUSTENTABILIDADE E CIDADANIA Considerando a ética da sustentabilidade e os pressupostos da cidadania, a política pública pode ser entendida como um conjunto de procedimentos formais e informais que expressam a relação de poder e se destina à resolução pacífica de conflitos, assim como à construção e ao aprimoramento do bem comum. O meio ambiente como política pública, não pontual, no Brasil, surge após a Conferência de Estocolmo, em 1972, quando, devido às iniciativas das Nações Unidas em inserir o tema nas agendas dos governos, foi criada a SEMA (Secretaria Especial de Meio Ambiente) ligada à Presidência da República. Mas apenas após a I Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental de Tibilise, em 1977, a educação ambiental foi introduzida como estratégia para conduzir a sustentabilidade ambiental e social do planeta. 3. SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL Nesse sentido, passamos a vislumbrar como meta uma educação ambiental para a sustentabilidade socioambiental recuperando o significado do ecodesenvolvimento como um processo de transformação do meio natural que, por meio de técnicas apropriadas, impede desperdícios e realça as potencialidades deste meio, cuidando da satisfação das necessidades de todos os membros da sociedade, dada a diversidade dos meios naturais e dos contextos culturais. A educação ambiental entra nesse contexto orientada por uma racionalidade ambiental, transdisciplinar, pensando o meio ambiente não como sinônimo de natureza, mas uma base de interações entre o meio físico-biológico com as sociedades e a cultura produzida pelos seus membros. Leff (2001) coloca a racionalidade ambiental como produto da práxis, ou seja, seria "um conjunto de interesses e de práticas sociais que articulam ordens materiais diversas que dão sentido e organizam processos sociais através de certas regras, meios e fins socialmente construídos" (LEFF, 2001, p. 134). 4. O SUJEITO ECOLÓGICO: ECODESENVOLVIMENTO OU SUSTENTABILIDADE A partir das discussões sobre o eco desenvolvimento do planeta, foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) para se discutir essas questões e traçar estratégias de políticas e ações de preservação do meio ambiente. Inclusive sobre o conceito de eco desenvolvimento, o qual se contrapunha aos atuais modelos de desenvolvimento adotados. Destarte, após o Relatório Brundtland, o conceito eco desenvolvimento foi substituído pela expressão “desenvolvimento sustentável”. A expressão sustentabilidade apareceu pela primeira vez em 1980, num relatório da International Union for the Conservation of Natureand Natural Resources (IUCN), World Conservation Strategy, que sugeria esse conceito como uma aproximação estratégica à integração da conservação e do desenvolvimento coerente com os objetivos de manutenção do ecossistema, preservação da diversidade genéticae utilização sustentável dos recursos. O conceito de desenvolvimento sustentável foi mais tarde consagrado no relatório "O Nosso Futuro Comum", publicado em 1987 pela World Commission on Environment and Development, uma comissão das Nações Unidas, chefiada pela então Primeira-Ministra da Noruega, a Sr.ª Gro Harlem Brundtland. O Relatório Brundtland (1987), como ficou a ser conhecido o documento, definia desenvolvimento sustentável como: "(...) desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações vindouras satisfazerem as suas próprias necessidades". A noção de desenvolvimento sustentável tem implícito um 'compromisso de solidariedade com as gerações do futuro', no sentido de assegurar a transmissão do patrimônio capaz de satisfazer as suas necessidades. Implica a integração equilibrada dos sistemas econômico, sociocultural e ambiental, e dos aspectos institucionais relacionados com o conceito muito atual de gestão ambiental. Os pressupostos do desenvolvimento sustentável são: a preservação do equilíbrio global e do valor das reservas de capital natural; a redefinição dos critérios e instrumentos de avaliação de custo-benefício a curto, médio e longo prazos, de forma a refletirem os efeitos socioeconômicos e os valores reais do consumo e da conservação; a distribuição e utilização equitativa dos recursos entre as nações e as regiões a nível global e à escala regional. Nesse sentido, faz imprescindível uma educação ambiental que seja realmente capaz de encarnar os dilemas societários, éticos e estéticos da atual civilização, pode muito contribuir para a efetivação de um desenvolvimento que seja realmente sustentável (CARVALHO, 2006). Dentro desse contexto, é clara a necessidade de viabilizar no âmbito das instituições de ensino, práticas educativas que levem a formação de uma consciência e comportamentos socioambientais. Entretanto, é preciso que se considere que a prática pedagógica da educação ambiental na cotidianidade escolar constitui um enorme desafio. UNIDADE IV: EDUCAÇÃO AMBIENTAL 1. INTRODUÇÃO A Educação Ambiental (EA) surge como uma das possíveis estratégias para o enfrentamento da crise civilizatória de dupla ordem, cultural e social. Do histórico de ações da EA, três vertentes podem ser identificadas: positivista, construtivista e crítica. Os positivistas buscam enfatizar informações ecológicas em detrimento dos processos de ensino-aprendizagem, buscando a mudança de comportamentos individuais. Os construtivistas ampliam os espaços da educação ambiental trazendo a preocupação pedagógica e o cuidado na aprendizagem. A afetividade e a corporeidade somam-se à dimensão informativa, buscando elos sociais e ecológicos mais amplos. Educação ambiental crítica preocupam-se com a participação e o empoderamento dos grupos sociais, privilegiando a emancipação e autonomia numa perspectiva mais política, sem, contudo, negligenciar as informações ecológicas e a construção dos conhecimentos. A Educação Ambiental pode ser considerada uma práxis educativa e social que contribui para a tentativa de implementação de uma sociedade mais igualitária e que considera o “ambiente” segundo uma concepção de inclusão do ser humano em todos os processos, sendo filosoficamente indistinto do que se denomina “natural”. Sua perspectiva crítica e emancipatória visa à deflagração de processos nos quais a busca individual e coletiva por mudanças culturais e sociais estão dialeticamente indissociadas. No entanto, é comum associá-la a vertente construtivista no processo de formação do sujeito ecológico. 2. EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PROCESSOS EVOLUTIVOS E CONCEITUAIS Em sua evolução, o conceito de educação ambiental permaneceu estritamente vinculado ao próprio conceito de meio ambiente e à maneira como este era percebido. Depois de considerar-se o meio ambiente, sobretudo em seus aspectos biológicos e físicos, passou-se a uma concepção mais ampla, na qual o essencial são seus aspectos econômicos e socioculturais, ressaltando a correlação existente entre todos esses aspectos. Até certo ponto, a educação esteve sempre associada ao meio ambiente. Nas sociedades antigas e mesmo hoje, nos grandes segmentos da população rural, a preparação do homem para a vida se dava por meio de experiências intimamente relacionadas com a natureza. Os sistemas modernos de educação incorporaram, em grande escala, objetivos e conteúdos relativos ao meio ambiente em seus programas, embora abordando somente seus aspectos biofísicos. Esse foi o caso das disciplinas derivadas das “Ciências da Natureza”, para as quais se deu um tratamento isolado e carente de coordenação. Com esse padrão tradicional, esperava-se que o aluno fizesse por si mesmo a síntese dos conhecimentos adquiridos, delineasse uma perspectiva geral da realidade do meio que o rodeava e captasse as relações existentes entre seus diversos elementos. Essa educação era, geralmente, abstrata, desligada da realidade do contexto que se pretendia ensinar. Além disso, atinha-se a divulgar dados sobre a natureza, sem criar nem valorizar comportamentos de responsabilidade em relação à mesma. O próprio conceito de meio ambiente, reduzido exclusivamente aos seus aspectos naturais, não permitia analisar nem as interações entre os elementos, nem a contribuição das Ciências Sociais para a compreensão e melhoria do meio humano. Mais recentemente, e devido a preocupações de ordem econômica e ao desenvolvimento de disciplinas ecológicas, o meio ambiente começou a ser objeto de uma integração explícita no processo educativo. Não obstante, a atenção passou a se concentrar, antes de mais nada, nos problemas de conservação dos recursos naturais e de proteção da vida animal e vegetal, ou em temas semelhantes. Atualmente, como resultado das preocupações e diretrizes formuladas pela Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Humano (Estocolmo, 1972), preveem-se novos enfoques para os problemas ambientais. Se, por um lado, os aspectos biológicos e físicos constituem a base natural do meio humano, por outro lado as dimensões socioculturais e econômicas definem as diretrizes e instrumentos conceituais e técnicos com os quais o homem poderá compreender e utilizar melhor os recursos da natureza para satisfazer suas necessidades. 3. EDUCAÇÃO AMBIENTAL: NATUREZA, FINS E COMPETÊNCIAS Além disso, essa educação deve contribuir para que se perceba claramente a importância do meio ambiente nas atividades de desenvolvimento econômico, social e cultural. Ela deve favorecer, em todos os níveis, a participação responsável e eficaz da população na concepção e aplicação das decisões que põem em jogo a qualidade do meio natural, social e cultural. Para tanto, a educação deve divulgar informações sobre as modalidades de desenvolvimento que não repercutam negativamente no meio ambientes, além de fomentar a adoção de modos de vida compatíveis com a conservação da sua qualidade. Finalmente, a educação ambiental deve mostrar, com toda clareza, as interdependências econômicas, políticas e ecológicas do mundo moderno, segundo as quais as decisões e comportamentos de todos os países possam ter consequências de alcance internacional. Assim, a educação ambiental desempenha a importante função de desenvolver o sentido de responsabilidade e solidariedade entre os países e regiões, qualquer que seja seu grau de desenvolvimento, como base de uma ordem internacional que garanta a conservação e a melhoria do meio humano. Essa deve ser a tendência da cooperação internacional, com vistas ao desenvolvimento da educação ambiental. As finalidades da educação ambiental devem adaptar-se à realidade econômica, social, cultural e ecológica de cada sociedade e de cada região e, particularmente, aos objetivos deseu desenvolvimento. Entretanto, cabe definir determinadas finalidades educativas gerais em função das características do desenvolvimento da região ou do país de que se trata. Um dos principais objetivos da educação ambiental consiste em o ser humano compreender a complexa natureza do meio ambiente, resultante da interação de seus aspectos biológicos, físicos, sociais e culturais. Portanto, ela deve criar para o indivíduo e para as sociedades, os meios de interpretação da interdependência desses diversos elementos no espaço e no tempo, a fim de promover uma utilização mais reflexiva e prudente dos recursos do universo para atender às necessidades da humanidade. As finalidades descritas constituem a meta de uma prática educativa unificada. Seria pouco eficaz adotar um novo enfoque global do meio ambiente e conceber medidas educativas que visem à conquista fragmentada e parcial de alguns desses objetivos. Todos os programas de educação ambiental devem contribuir para o desenvolvimento dos conhecimentos já adquiridos e para a tomada de atitudes e competências necessárias à conservação e melhoria do meio ambiente. A consecução dessas finalidades pressupõe que o processo educativo dispensa conhecimento e métodos, facilitando a aquisição de atitudes e valores que propiciem a compreensão e a solução dos problemas ambientais. No que se refere ao conhecimento, a educação deverá proporcionar, com grau de especificidade e precisão, variáveis de acordo com seu público, meios que permitam compreender as relações entre os diferentes fatores físicos, biológicos e socioeconômicos do meio ambiente, bem como sua evolução no tempo e sua transformação no espaço. Como esse conhecimento deve culminar em mudanças de comportamento e em medidas de proteção e melhoria do meio ambiente, ele deve ser adquirido através de um esforço de estruturação a partir da observação, da análise e da experiência prática de determinados tipos de meio ambiente. No que tange aos valores, a educação deverá insistir nas diferentes opções em termos de desenvolvimento, levando em conta a necessidade de melhorar o meio ambiente. Para isso, necessitará promover desde seus primeiros anos de existência, procedimentos pedagógicos que permitam um debate bastante amplo sobre as possíveis soluções dos problemas ambientais e o caráter dos valores correspondentes. De fato, o comportamento diante do meio ambiente só poderá transformar-se quando a maioria dos membros de uma sociedade tiver adotado valores mais positivos. A tomada de uma atitude favorável ao meio ambiente constitui um requisito prévio e indispensável para o alcance das demais categorias de objetivos. Quanto à competência a ser atribuída, é preciso promover, de acordo com a modalidade e com um diferente grau de complexidade conforme o público, uma ampla gama de atitudes científicas, tecnológicas e informativas que permitam agir racionalmente em relação ao meio ambiente. Em geral, o fato é que, em todos os níveis da educação formal e não- formal, toma-se a atitude de colher, analisar, sintetizar, comunicar, aplicar e avaliar os conhecimentos existentes sobre o meio ambiente, o que permitirá aos interessados participar ativamente da formulação de soluções aplicáveis aos problemas ambientais. O melhor meio de desenvolver essa capacidade consistirá no exercício de atividades voltadas para a proteção e a melhoria do meio ambiente. 4. EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CARACTERÍSTICAS, CONCEPÇÃO E ESTRUTURAÇÃO PEDAGÓGICA Os debates da Conferência de Tbilisi permitiram precisar as características de uma educação que cumpra com os propósitos aqui expostos. Tais características se referem tanto à concepção e à estruturação do conteúdo educativo quanto às estratégias pedagógicas e à organização dos métodos de aprendizagem. A educação ambiental deverá orientar-se no sentido de solucionar os problemas concretos do meio humano. Isso implica um enfoque interdisciplinar, sem o qual não seria possível estudar as inter-relações, nem abrir o mundo da educação para a comunidade, estimulando seus membros para a ação. Finalmente, a educação ambiental se situa numa perspectiva regional e mundial, voltada para o futuro, de modo a garantir a permanência e o caráter global das atividades empreendidas. Além disso, é preciso levar em conta duas ideias fundamentais: A primeira é de que a educação ambiental não seja apenas uma nova disciplina que se soma a outras já existentes. Ela deve ser a contribuição de diversas disciplinas e experimentos educativos para o conhecimento e a compreensão do meio ambiente, bem como para a solução de seus problemas e seu gerenciamento. A segunda ideia é a de que o interesse dessa educação não se restrinja somente a provocar mudanças no ensino escolar. Sobretudo, ela deve suscitar novos conhecimentos fundamentais e novos enfoques dentro de uma política global de educação, que insista na função social dos corpos docentes e nas novas relações entre todos aqueles que intervêm no processo educativo. 5. EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM PROCESSO EM CONSTRUÇÃO E RECONSTRUÇÃO O conhecimento sistemático sobre o meio ambiente ainda está em construção e, por ser um processo dinâmico, é provável que nunca se venha a ter um conceito definitivo. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN): “muitos estudiosos da área ambiental consideram que a ideia para a qual se vem dando o nome de meio ambiente não configura um conceito que interesse ou possa ser estabelecido de modo rígido e definitivo. É mais relevante estabelecê-lo como uma representação social, isto é, uma visão que evolui no tempo e depende do grupo social em que é utilizado. São estas representações, bem como suas modificações ao longo do tempo, que importam: é nelas que se busca intervir quando se trabalha com meio ambiente”. Visando uma prática pedagógica contextualizada sobre ambiente, é importante conhecer as concepções ou as representações coletivas dos grupos de atores sociais que causam ou atuam com problemas ambientais, sabendo que estas são dinâmicas e se modificam rapidamente. Nesse sentido é importante identificar as representações individual e social sobre ambiente, para que se possa conhecer e refletir sobre os conflitos entre ser humano– sociedade - natureza. Segundo (ANA, 2006), a dissociação entre o que é “humano” e o que é “natural” se tornou corriqueira, sendo mostrada dos filmes à mídia cotidiana e representa hoje um desafio para a educação e consequentemente para os professores. 6. EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA NECESSIDADE EMERGENTE Os meios de comunicação social desempenham um papel importante na sensibilização do público em relação aos problemas ecológicos. Entretanto, esse tipo de informação é limitado, já que se costuma insistir em aspectos superficiais ou episódicos. Além disso, só se informa realmente a quem já está informado. Portanto, é indispensável uma educação ambiental que não somente sensibilize, mas também modifique as atitudes e proporcione novos conhecimentos e critérios. Para fazer frente aos problemas ambientais, os programas nacionais ou internacionais insistiram primeiro na formação e no treinamento de especialistas e técnicos, com o objetivo de atender às necessidades urgentes em termos de pessoal especializado. No entanto, é cada vez mais evidente que os problemas não poderão ser resolvidos unicamente pelos especialistas, por mais competentes que sejam, e que não haverá soluções viáveis sem uma transformação da educação geral, em todos os seus níveis e modalidades. As dificuldades inerentes a essa mudança conceitual e institucional só poderão ser superadas mediante uma evolução gradual. É preciso preparar o fortalecimento de uma consciência e uma ética ecológica em escala mundial, bem como fomentar o desenvolvimento da capacidadecientífica e tecnológica para resolver os problemas que buscam a melhoria das condições de vida. Cabe, também, estimular a participação efetiva dos setores ativos da população, na concepção, decisão e controle das políticas inspiradas pelas novas opções do desenvolvimento. UNIDADE V: EDUCAÇÃO AMBIENTAL 1. ASPECTOS LEGAIS E SUAS PRÁTICAS EDUCATIVAS A atual Constituição da República Federativa do Brasil foi promulgada em cinco de outubro de 1988. Bastos e Martins (1988), afirmam que esse foi o primeiro documento na história a abordar o tema meio ambiente, dedicando a este um capítulo por inteiro (VI), o qual preceitua, em seu Art. 225, que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988). Criada no dia 31 de agosto de 1981, a Lei 6.938, que dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), foi um marco na história do País. Por meio dela, parte dos nossos recursos ambientais foi preservada. Essa Lei foi responsável pela inclusão do componente ambiental na gestão das políticas públicas e decisiva inspiradora do Capítulo do Meio Ambiente na Constituição de 1988. No que diz respeito à educação ambiental, a Lei 9.638/81, Art. 2º, inciso X, afirma que a educação ambiental deve ser ministrada a todos os níveis de ensino, objetivando capacitá-la para a participação ativa na defesa do meio ambiente. O nível de ensino a que se refere à Lei citada diz respeito aos níveis do ensino formal e não-formal. A Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, que dispõe sobre a Educação Ambiental e institui a Política Nacional de educação ambiental enfatiza em seu Art. 2º que a “educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal”. De acordo com a citação acima, a educação ambiental, deve estar presente em todos os níveis e modalidades do processo educativo, seja ele formal ou não-formal. A Lei é bem clara: a educação não deve ser uma atividade pedagógica pontual ou esporádica dentro dos sistemas de ensino. A educação ambiental, segundo a Lei em questão, deve ser uma atividade educativa permanente e articulada com todos os níveis de ensino. Atualmente, a maioria das ações didáticas voltadas para a educação ambiental tem sido efetuada de forma difusa, esporádica e desarticulada entre os diferentes níveis de ensino formais. Além disso, sua abordagem em sala de aula, na maioria das vezes, é marcadamente naturalista, ou seja, concebe o meio ambiente tão somente em sua expressão biológica. Nessa visão, é reforçada a dicotomia entre Natureza e Sociedade, Natureza não- humana e Natureza humana, ecossistemas naturais e ecossistemas socioculturais. Em outras palavras, essa perspectiva não leva em consideração a interface que existe entre a natureza e sociocultural. Outro aspecto significativo da Lei 9.795/99 é que a educação ambiental não deve ser implantada na instituição de ensino de níveis fundamental e médio como disciplina específica, isto, é territorializada, dentro da Geografia, das Ciências ou da Biologia. A educação ambiental necessita ser abordada na prática pedagógica de forma transversal, multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar. Somente nos cursos superiores a educação ambiental pode ser desenhada matricialmente dentro de uma disciplina curricular específica. Para que a prática pedagógica da educação ambiental consiga atingir o seu desiderato, a Lei 9.795/99, em seu Capítulo I, Art. 5º preceitua os seguintes objetivos: I - O desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos; II - A garantia de democratização das informações ambientais; III - O estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social; IV - O incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; V - O estímulo à cooperação entre as diversas regiões do Educação do País, em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade; VI - O fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia; VII - O fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade. (BRASIL, 1999). Segundo a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA – Lei 9795/99), artigo primeiro, a educação ambiental é definida como processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos e habilidades, atitudes e competências voltadas para conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade . A Constituição do Brasil de 1988, em seu Capítulo VI, sobre o meio ambiente, institui como competência do Poder Público a necessidade de “promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” (artigo 225, parágrafo 1º, inciso VI). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional prevê a Educação Ambiental como uma diretriz para o currículo da Educação Fundamental. O Ministério da Educação apresentou, em sua proposta de “Parâmetros Curriculares Nacionais” (PCN), a EA como um tema transversal (Meio Ambiente) no currículo escolar. Instituiu-se em 1999, a Política Nacional de Educação Ambiental. Tudo isso demonstra que a Educação Ambiental vem rapidamente se institucionalizando, sem que, no entanto, se proceda a uma grande discussão a respeito do assunto na sociedade e entre os educadores. Essa demanda pela Educação Ambiental, não só decorrente dos aspectos legais, mas também dos problemas ambientais vivenciados por toda a sociedade, provoca a necessidade de formar profissionais aptos a trabalhar com essa nova dimensão do processo educativo. Há um reconhecimento, ainda que difuso, em segmentos diversos da sociedade a respeito da gravidade da crise ambiental, bem como uma consciência maior da necessidade de “fazer algo” para a superação do problema. Essas visões consensuais de profissionais da educação, alunos e comunidades a respeito da gravidade da crise ambiental e da necessidade de “fazer algo” geram uma grande expectativa em relação às possibilidades da Educação Ambiental, que vem sendo chamada a dar conta da mudança de valores e atitudes da humanidade diante da natureza, sendo colocada como um dos pilares para a efetivação de um modelo de desenvolvimento sustentável. UNIDADE VI: A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO PROCESSO EDUCATIVO 1. INTRODUÇÃO A educação ambiental nasce como um processo educativo que conduz a um saber ambiental materializado nos valores éticos e nas regras políticas de convívio social e de mercado, que implica a questão distributiva entre benefícios e prejuízos da apropriação e do uso da natureza. Ela deve, portanto, ser direcionada para a cidadania ativa considerando seu sentido de pertencimento e corresponsabilidade que, por meio da ação coletiva e organizada, busca a compreensão e a superação das causas estruturais e conjunturaisdos problemas ambientais. Trata-se de construir uma cultura ecológica que compreenda natureza e sociedade como dimensões intrinsecamente relacionadas e que não podem mais ser pensadas seja nas decisões governamentais, seja nas ações da sociedade civil de forma separada, independente ou autônoma (CARVALHO, 2004). Atualmente a questão ambiental se impõe perante a sociedade. A discussão sobre a relação educação-meio ambiente contextualiza-se em um cenário atual de crise nas diferentes dimensões, econômica, política, cultural, social, ética e ambiental (em seu sentido biofísico). Em particular, essa discussão passa pela percepção generalizada, em todo o mundo, sobre a gravidade da crise ambiental que se manifesta tanto local quanto globalmente. A gravidade da crise ambiental, que aponta até para a ameaça à vida humana pelas dimensões dos problemas ambientais em escala planetária (efeito estufa, destruição da camada de ozônio etc.), resultou em mobilizações internacionais para buscar soluções. Como forma de superação dessa crise, tem sido apresentado em diversos fóruns, o modelo de desenvolvimento sustentável, que propõe associar desenvolvimento econômico com preservação do meio ambiente. Um dos instrumentos apresentados nesses fóruns como meio para se atingir esse tipo de desenvolvimento tem sido a Educação Ambiental (EA), na maioria das vezes, segundo uma visão idealista de educação como equalizadora de todos os problemas sociais. Desse modo, a educação ambiental é parte integrante do processo educativo. Deve girar em torno de problemas concretos e ter um caráter interdisciplinar. Sua tendência é reforçar o sentido dos valores, contribuir para o bem-estar geral e preocupar-se com a sobrevivência da espécie humana. Deve ainda aproveitar o essencial da força da iniciativa dos alunos e de seu empenho na ação, bem como inspirar-se nas preocupações tanto imediatas quanto futuras. A contribuição da educação para a indispensável melhoria da gestão deste patrimônio comum, que é a terra, tem uma importância capital. Na verdade, ela pode sensibilizar todas as camadas da população no que diz respeito aos problemas prioritários pendentes. Pode também introduzir um determinado número de conceitos e ideias de modo a perceber tais problemas e destacar os interesses e valores que intervêm em cada situação. Sobretudo, pode transmitir e desenvolver a vontade e os conhecimentos teóricos e práticos necessários à solução de uma série de problemas ambientais. Não se trata de um simples intercâmbio de informações e conhecimentos fragmentados sobre determinados problemas, tais como a proteção das espécies ameaçadas de extinção ou a poluição de áreas recreativas. Não se trata tampouco de ditar receitas para estabelecer a lista de danos existentes numa região. Ao contrário, cabe incorporar a educação ambiental aos processos educativos, introduzindo certas mudanças nos contextos educativos institucionais. Diante do que é visto, percebe-se que a Educação Ambiental se estabelece hoje como uma nova dimensão na educação, e, portanto, deve estar inserida dentro do planejamento do ensino, nas práticas escolares, projetos interdisciplinares e ações sociais e comunitárias. 2. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM A instituição escolar desempenha papel significativo na formação da personalidade do ser humano, sendo determinante o processo ensino- aprendizagem como um todo, como observado nos levantamentos anteriores. Conviver com a diversidade, assim como em um ambiente onde leitura e escrita tenham significado, torna-se fator determinante para a formação do cidadão crítico. Considerando que esta instituição é um relevante instrumento para que o homem se desenvolva social e intelectualmente desde criança, observa-se que em seu papel de receptora, abriga uma grande concentração de diversidade humana, cujos anseios, perspectivas e necessidades são dos mais variados, ideias estas compartilhadas por Rocha (2002). Em razão disso, os conteúdos a serem trabalhados devem atingir o consenso, precisando ser a eles adequados e corresponder às expectativas das instituições e de seu corpo docente. Torna-se evidente que o desafio é construir uma proposta educacional no cotidiano da sala de aula, onde a possibilidade da superação da participação passiva e alienada seja substituída pela participação ativa e coletiva, despertando no aluno seu papel de cidadão, lutando contra aquilo que impede a efetivação da educação libertadora, desde as séries iniciais do Ensino Fundamental. Nesta perspectiva, a Educação Ambiental torna-se o esforço e o processo estratégico no qual considera a dimensão ambiental nas variadas esferas do cotidiano, buscando a conquista da qualidade de vida, para que o ser humano cresça consciente do seu papel de cidadão. Trabalhar com a prática da Educação Ambiental reforça a importância da abordagem, onde os bons resultados colhidos são os estimuladores desta tarefa. Por intermédio de projetos é possível refletir sobre a necessidade de práticas educacionais que valorizem os indivíduos enquanto seres atuantes, e as crianças enquanto seres em processo de formação da personalidade. É fundamental adotar a Educação Ambiental como princípio formador no currículo, centrando-se na ideia da participação de todos na gestão dos seus respectivos lugares, seja a escola, a rua, o bairro, a cidade. Desta forma, o indivíduo abandona a condição de telespectador ou simples usuário do seu lugar, para tornar-se capaz de realizar escolhas, tomando decisões, realizando ações reflexivas e deliberadas no seu meio. O percurso pedagógico utilizado para tal finalidade deve ser o exercício de percepção ambiental reflexivo, acompanhado do enfrentamento das questões que emergem desta atividade. As metodologias participativas constituem técnicas que estimulam ações reflexivas e a participação ativa de todos, proporcionando um espaço para a formulação e a expressão de ideias, proposições, esclarecimentos e descobertas. Estes instrumentos ajudam os envolvidos a compreender as questões abordadas, aumentando a confiança, ampliando conhecimentos, assim como a maneira de ordenar os pensamentos. Por intermédio destas trocas, os participantes podem tomar consciência da identidade grupal, respeitando a si mesmo e aos outros mediante o falar e o ouvir. As dinâmicas de grupo, como destacado anteriormente, possibilitam o aprofundamento de conteúdos curriculares, a discussão de problemas detectados no diagnóstico, considerando suas múltiplas dimensões, suas causas, consequências e possíveis soluções, além do planejamento coletivo de ações. A questão ambiental nas séries iniciais do Ensino Fundamental centra-se, sobretudo, no desenvolvimento de valores, atitudes e posturas éticas, assim como no domínio de procedimentos e não somente na aprendizagem de conceitos, uma vez que diversos dos conceitos em que o professor se baseia para tratar dos assuntos ambientais pertencem às áreas disciplinares. A prática cotidiana tem refletido sobre a tendência de preservação do meio ambiente, onde, mesmo através de atitudes simples, estas refletem a conscientização de uma parcela cada vez maior da população, como se verifica em Martine (1996). A escola, dentro do processo, tem se mostrado significativa intermediadora, mesmo tendo ainda longo caminho a ser percorrido. Para tanto, o processo de conscientização do indivíduo precisa ter como foco inicial o microcosmo escolar, para garantir a maximização dos resultados; os alunos buscam nesta instituição o fortalecimento de valores adquiridos no seio familiar, assim como enriquecer-se culturalmente e princípios de cidadania. Na dinâmica, o fortalecimento de valores como a preservação e sustentabilidade ambiental precisam fazer parte da rotina, onde aulas ou noçõesde cidadania não podem se embasar apenas em manuais ou currículos, constituindo-se práticas constantes e promovendo a interiorização dos papeis dos agentes sociais. As ações precisam priorizar a análise das condições locais, não perdendo de vista a dimensão global; a Educação Ambiental é uma ação educacional voltada para as populações do presente e do futuro, onde a tecnologia e o desenvolvimento aproximam cada vez mais pessoas e lugares, sendo fundamental o respeito das diferenças e privilegiando valores como integração, tolerância, cooperação, solidariedade. Além disso, é significativo que se respeite o princípio da universalidade da natureza humana, sendo expresso tanto na identidade individual e coletiva quanto nas semelhanças e diferenças apresentadas entre os povos, buscando a unidade na diversidade. A atuação dever ocorrer em uma abordagem que considera o ambiente como um sistema organizado em funcionamento; o todo e as partes compõem um conjunto, devendo comunicar-se com agilidade, de modo integrado e articulado. Quando uma das partes difere em ritmo ou apresentação, o todo se altera. Desta forma, a visão sistêmica permite efetuar as relações entre todo e partes, em uma visão de totalidade, compreendendo os acontecimentos como componentes de um mesmo processo, no qual os fatos ocorrem mediante avanços e recuos, acordos e interconexões; tanto as similaridades e afinidades quanto às contradições são elementos reais que fazem parte da dinâmica processual. Segundo Brasil (1997, p. 21) verifica-se que "a complexidade da natureza exige uma abordagem sistêmica para seu estudo, [...] com os diversos componentes vistos como um todo, [...] bem como em suas [...] interações com os [...] componentes". O documento destaca ainda que, "para se conhecer um sistema não basta observar suas partes, mas é preciso enxergar como elas se interligam e se modificam, em sua própria estrutura e sentido de ser, por causa dessas interações". É interessante ressaltar que as parcerias passam a ocorrer naturalmente, com uma ampla variedade de indivíduos e instituições. Tomando consciência da sincronicidade existente entre os procedimentos dos indivíduos e as instituições, encontramos propostas que acontecem em pequena e em grande escala, ao mesmo tempo e em diversos lugares. Este modo de pensar facilita perceber que podem ocorrer simultaneamente a parceria, a sincronicidade, o conflito e a contradição, possibilitando atuar em conjunto, através da integração, da interdisciplinaridade e da busca de pontos comuns entre diferentes propostas. A visão de "cidadão do mundo" é cada vez mais necessária, para que se possa transitar entre os semelhantes, os diferentes e os muito específicos, o que não deve impressionar. Em algumas situações, devido às resistências encontradas, deve-se ir mais lentamente, negociando cada pequeno avanço, tendo de ceder em alguns pontos, para obter um sucesso posterior. Mas se compreender a dinâmica do processo, aceitando a coexistência dos contrários, pode-se atingir as finalidades. Agindo segundo os princípios da interatividade, podem-se estabelecer parcerias e associações com naturalidade, pois será possível atuar em conjunto com múltiplos parceiros e de modo ágil, sem duplicar esforços ou confundi-los, como ocorre com os que agem de modo departamental ou fragmentado. Partindo de uma visão sistêmica do meio ambiente, pode-se buscar a articulação de ações com múltiplos parceiros, atuar interativamente e considerar tanto os avanços ocorridos na defesa ambiental quanto às contradições existentes como integrantes do processo permanente de transformação. O mundo contemporâneo é marcado pela rapidez e pela transformação e requisita atualização permanente de informações e conhecimentos. A complexidade da ciência e da tecnologia atual exige a especialização técnica em todas as áreas de ação. No entanto, todas as profissões requerem, cada vez mais, uma base ética comum e esta base deve incluir, obrigatoriamente, valores, princípios e conceitos ambientais. Isso representa o cultivo e a expressão de valores universais como o respeito e a proteção a todas as formas de vida, a preservação das fontes naturais de energia, a busca da harmonia homem/natureza e o desenvolvimento científico e tecnológico equilibrado com a preservação do meio ambiente (MEDINA; SANTOS, 1999). Tais valores têm como decorrências o equilíbrio dinâmico homem/natureza, a ampliação da qualidade de vida e do exercício de cidadania para todos, a reversão dos atuais quadros de miséria, a alteração de hábitos de consumo, a readequação do atual modelo econômico, a defesa da biodiversidade e de áreas de relevante importância para o equilíbrio ambiental global. O processo permanente de transformação, do qual a sociedade deve participar, necessita ser estruturado em bases éticas, que incluam valores de caráter ambiental relativos a proteção à vida, ao exercício da cidadania e à defesa do meio ambiente global. Como se verificam nos estudos de Medina; Santos (1999), trabalhar com a prática da Educação Ambiental dá a certeza da importância desta abordagem. Os bons resultados colhidos são os estimuladores maiores desta tarefa. A partir dos principais problemas socioambientais locais e regionais, suas causas, efeitos, impactos gerados e os agentes responsáveis, pode-se desenvolver um efetivo trabalho dentro do processo ensino-aprendizagem, outorgando a escola seu papel de formadora do cidadão ativo. Contudo, as atividades não devem se restringir somente a leituras teóricas e consultas aos manuais: antes devem agregar aulas práticas, passeios ecológicos, orientações quanto à coleta seletiva, além de trabalhos na rotina de sala de aula, com desenhos, redações, leituras. A vivência e o repertório do aluno sempre devem ser levados em consideração no contexto, assim como o seu convívio familiar. Esta nova realidade pedagógica vem dando bons resultados, pois muitos alunos nem sequer tinham noções básicas relacionadas às questões ambientais. É possível observar, em muitos casos, mudanças no quadro. A rotina familiar também se altera, sendo constantes os relatos de pais sobre as novas perspectivas dos filhos, a importância que estes passam a identificar, principalmente nos noticiários, da preservação ambiental. A prática da educação ambiental não-formal pode ser definida como as ações educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais, bem como a organização e a participação da sociedade na defesa da qualidade do meio ambiente. Para que a educação não-formal se consolide, o Poder Executivo deve incentivar a difusão de campanhas educativas e programas, em espaço nobre nos meios de comunicação de massa, contendo informações de temas relacionados ao Meio Ambiente A construção de uma proposta de Educação Ambiental emancipatória e comprometida com o exercício da cidadania exige a explicitação de pressupostos que devem fundamentar sua prática. Há que se reafirmar os princípios constitucionais em que o meio ambiente sadio é direito de todos, bem de uso comum e essencial à boa qualidade de vida. Compartilhando dos estudos de Cavalcanti (1995), é possível identificar que preservar e defender o meio ambiente é dever tanto do poder público como da coletividade e um compromisso ético com as presentes e futuras gerações. Isto implica no compromisso da construção de um padrão de desenvolvimento econômico socialmente justo e ambientalmente seguro e na prática de uma Gestão Ambiental democrática, fundada no princípio de que todas as espécies têm direito a viver no planeta. A partir dos principais problemas socioambientais locais e regionais, suas causas, efeitos, impactos gerados e os agentes responsáveis, pode-se desenvolver um efetivo trabalho dentro do processo ensino-aprendizagem, outorgandoà escola seu papel de formadora do cidadão ativo. Para cada região, devem ser definidas estratégias e linhas de ação de projetos e atividades de educação ambiental relacionados com as atividades econômicas e o perfil da região. Desta maneira, a Educação Ambiental passa a ter um papel ativo na direção do desenvolvimento com sustentabilidade. Da relação - em diferentes épocas e lugares - dos seres humanos entre si e com o meio físico-natural emerge o que se denomina [...] de meio ambiente. Diferente dos mares, dos rios, das florestas, da atmosfera, que não necessitaram da ação humana para existir, a meio ambiente precisa do trabalho dos seres humanos para ser construído e reconstruído e, portanto, para ter existência concreta. Por tudo isto, afirma-se que meio natural e meio social são faces de uma mesma moeda e assim indissociáveis. (BRASIL, 1995, p. 9). A Educação Ambiental é um valioso instrumento para a implantação de políticas de gestão ambiental nos diferentes espaços sociais e tem como um dos desafios mediar conflitos de interesses entre vários atores sociais que agem sobre os meios físico e natural. Segundo Rocha (2002, p. 2), "como um dos objetivos da Educação Ambiental é disseminar a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania", torna-se "necessário que todos os setores sociais sejam envolvidos nos programas, projetos e atividades promovidas em seu nome". Tem-se plena convicção que a Educação Ambiental em escolas, é um forte recurso para a preservação da natureza, como também, um processo eficaz para a manutenção das espécies; atualmente, a aceitação deste trabalho é cada vez maior. Mediante este contexto, o processo educativo tornou-se de suma importância para o desenvolvimento de um programa prático e simples em defesa da vida. Alves (1995, p. 34) apresenta que "o diálogo caminha para uma dialética entre os diversos saberes. [...] a interdisciplinaridade está relacionada ao desenvolvimento de um processo dialógico, que deve ser compreendido no sentido dialético de confrontação que gera sínteses, novas análises e novas sínteses". A dimensão ambiental deve ser incorporada à formação dos educadores de todos os níveis e modalidades de ensino, bem como à especialização e à atualização dos educadores já em exercício. Os profissionais que atuam em atividades de gestão ambiental também devem ter capacitação pertinente ao assunto. Contudo, a Educação Ambiental não deve ser implantada como uma disciplina específica no currículo de ensino e sim ser desenvolvida como uma prática educativa integrada. O assunto deve também estar presente em atividades interdisciplinares. Para se garantir que a gestão ambiental se dê por um enfoque sistêmico, é imperioso a garantia dos espaços da participação e da mobilização e a luta permanente pela ampliação destes espaços, o que permitirá a explicitação dos conflitos geradores de problemas ambientais e estruturantes da realidade socioambiental. (SANTOS; SATO, 2001, p. 193). Apesar de atual e muito difundido, é do conhecimento de todos, que a prática da Educação Ambiental não é comum em todas as escolas; não são constantes estes tipos de trabalhos, ideias estas compartilhadas por Brugger (1999). Sente-se que todos os alunos e jovens desejam conhecer as formas práticas de defesa da natureza, seguindo suas próprias pesquisas nas atividades extraclasse. Desenvolvendo a criatividade e o conhecimento da área no dia a dia, proporcionando às crianças, jovens e comunidades o conhecimento através do contato direto com a natureza, pode-se atingir os objetivos de forma mais consistente. Desenvolver um projeto prático e de linguagem fácil constitui o primeiro passo para a reversão do quadro, procurando responder todas as perguntas e tirar dúvidas sobre o assunto tratado, com a participação direta dos envolvidos. Nas atividades extraclasse o próprio aluno vai gerenciar suas curiosidades e conhecimentos. Ele deixa de ser um simples participante do meio para se tornar um indivíduo responsável e participativo. Deverá buscar apoio de todas as formas dentro e fora da escola para melhor se orientar. Na organização haverá a participação direta de todos. Programas neste sentido são de fundamental importância, sendo responsável pela reversão da degradação do meio ambiente em um contexto amplo de participação e conscientização do papel do cidadão ativo e responsável pela manutenção da sociedade que integra. Como se verifica em Peltier (1990), o contexto atual quanto às questões relacionadas ao meio ambiente, está a exigir a construção de uma racionalidade ambiental que viabilize a formação de um novo saber científico e tecnológico, onde práticas produtivas, administrações setoriais de desenvolvimento e políticas públicas venham contribuir em campos de conhecimento teórico-práticos, capazes de orientar a rearticulação das relações sociedade-natureza. Nesta nova esfera, o homem passa a observar o seu contexto de maneira mais crítica, percebendo seu verdadeiro papel frente ao seio social que integra. Aliado ao processo, a instituição escolar tem se estruturado na medida em que passa a intermediar o processo, otimizando valores e potencializando ações para a reversão do quadro da degradação ambiental. As relações da sociedade civil organizada entre instituições governamentais responsáveis pela Educação Ambiental caminham juntas para a construção de uma cidadania ambiental sustentável, baseada na participação, justiça social e democracia consciente. É evidente que o aprofundamento de processos educativos ambientais se apresenta como uma condição sumária para construir uma nova racionalidade ambiental que possibilite modalidades de relações entre a sociedade e a natureza, entre o conhecimento científico e as intervenções técnicas no mundo, nas relações entre os grupos sociais diversos e entre os diferentes países em um novo modelo ético, centrado no respeito e no direito à vida em todos os aspectos. 3. EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CURRÍCULO A educação ambiental, por não estar presa a uma grade curricular rígida, pode ampliar conhecimentos em uma diversidade de dimensões, sempre com foco na sustentabilidade ambiental local e do planeta, aprendendo com as culturas tradicionais, estudando a dimensão da ciência, abrindo janelas para a participação em políticas públicas de meio ambiente e para a produção do conhecimento no âmbito da escola. Buscamos formas abertas e inovadoras de construir juntamente com formadores, professores e alunos aquilo que Edgar Morin (2001) chama de conhecimento pertinente, que possibilita apreender os problemas globais e fundamentais para neles inserir os conhecimentos parciais e locais. Nesses dois saberes têm-se implícita a busca de um conhecimento complexo, não fragmentário e que se amplia continuamente sem, entretanto, trazer um conhecimento totalizador, também limitado. O conhecimento pertinente reconhece que, em meio à complexidade do real, nunca é possível a compreensão total. É por isso, também, que a busca do conhecimento se torna um esforço infinito, mas que pode se tornar um círculo virtuoso. Por não se tratar de uma disciplina, a educação ambiental permite inovações metodológicas na direção do educere tirar de dentro por ser necessariamente motivada pela paixão, pela delícia do conhecimento e da prática voltados para a dimensão complexa da manutenção da vida. Por um lado, pensamos na diversidade de saberes e complexidade dos sistemas naturais e sociais. Por outro, a nossa "pedagogia da práxis" envolve um trabalho com a simplicidade do natural, de materiais didático- pedagógicos, do diálogo e de compartilhar experiências e conhecimentos. Para darmos conta da complexidade das dinâmicas do mundo contemporâneo, optamos pela arte da simplicidade. Isso só pode ser feito