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1 ANA PAULA – MED UNIMES XXII GASTROENTEROLOGIA Gastrites Definição: Gastrite significa inflamação gástrica. É importante conceituar porque muitas vezes gastrite não significa dor no estômago, mas para ser gastrite mesmo precisa ter inflamação. Deve-se saber diferenciar da dispepsia funcional, que tem a mesma sintomatologia da gastrite, mas não há inflamação no estômago. Mucosa gástrica: • CAMADAS: - Células mucosas (epitélio cilíndrico simples) - Glândulas tubulosas ramificadas e não ramificadas - Lâmina própria - Muscular da mucosa • TIPOS: Antral: mucosa responsável pela secreção de muco; onde ficam as células G produtoras de gastrina Oxíntica (corpo e fundo): secreção de ácido clorídrico e fator intrínseco (onde estão as células parietais, produtora de prótons) Cárdica: glândulas mucosas com aspecto = antral Classificação das gastrites: Classificação endoscópica e histológica. A endoscópica é caracterizada de acordo com o que é visto pela endoscopia, dependendo do local afetado (ex: se afeta só o corpo, só o antro). A classificação histológica estuda se há um patógeno associado, verificação da topografia, se tem sinais de inflamação em atividade, sinal de atrofia, metaplasia e pesquisa de H. pylori. Nas duas classificações é graduada a gravidade da gastrite (leve, moderada ou severa). • GASTRITES AGUDAS: O processo inflamatório gástrico é agudo. ✓ Gastrite aguda hemorrágica ✓ Gastrite aguda H pylori • GASTRITES CRÔNICAS: O processo inflamatório gástrico é crônico. ✓ Gastrite crônica H pylori ✓ Gastrite auto-imune ✓ Gastrite alcalina de refluxo biliar 2 ANA PAULA – MED UNIMES XXII GASTROENTEROLOGIA Gastrite hemorrágica aguda: • CONCEITO: A gastrite aguda hemorrágica também pode ser chamada de gastrite erosiva aguda, úlcera de estresse ou lesão aguda da mucosa gastroduodenal (LAMGG), porque também pode acometer o duodeno com as mesmas características. Estresse → é o estresse orgânico. • ENDOSCOPIA: Na imagem endoscópica é possível ver lesões superficiais na mucosa, soluções de continuidade. Placas brancas → fibrina Áreas vermelhas → pequeno sangramento Placa preta → hematina (eram áreas de sangramento que entraram em contato com o ácido clorídrico e escureceram). • LESÕES: Erosões superficiais na mucosa caracterizadas por múltiplas lesões hemorrágicas puntiformes associada com alteração superficial e edema. • RISCO: O maior risco dessa gastrite é melena e hematêmese (Hemorragia Digestiva Alta). • FISIOPATOLOGIA: Desequilíbrio entre os fatores agressivos e defensivos da mucosa. • FATORES DEFENSIVOS DA MUCOSA: ✓ Barreira mucosa: Propriedade da mucosa que impede que o íon hidrogênio faça troca com o sódio do tecido (o hidrogênio lesa a mucosa). ✓ Secreção de muco e bicarbonato: O muco e o bicarbonato formam uma película gástrica que impedem a agressão direta do ácido gástrico e dos alimentos. ✓ Renovação epitelial: A mucosa gástrica renova suas células constantemente. ✓ Fluxo sanguíneo na mucosa gástrica: Fornece oxigênio e nutrientes, vai funcionando como um tampão junto com a camada de bicarbonato para impedir que o ácido lesione a mucosa. ✓ Síntese das prostaglandinas: As prostaglandinas são liberadas em diversas situações, algumas são citoprotetoras (protegem o organismo) e outras que são liberadas quando há um processo inflamatório agudo. São responsáveis por: Regularem a motilidade gástrica Regularem o fluxo sanguíneo Diminuem a secreção de ácido e estimula a secreção de muco e bicarbonato • FATORES AGRESSIVOS: ✓ Drogas → uso de AINH, AAS, corticoide Anti-inflamatórios: ↓ a síntese de prostaglandinas, mas existem duas vias para a síntese das prostaglandinas a COX1 (via para a produção das prostaglandinas responsáveis pela proteção) e COX2 (prostaglandinas responsáveis pela inflamação). Há alguns anti-inflamatórios que inibem as duas vias. Já os anti-inflamatórios seletivos foram desenvolvidos para inibirem apenas a COX2, inibindo apenas as prostaglandinas responsáveis pela inflamação. Mas eles não conseguiram ser 100% seletivos, ainda inibem uma parcela da COX1, além disso, eles AINH seletivos não possuem um bom poder analgésico. COX1 → síntese das prostaglandinas citoprotetoras COX → síntese das prostaglandinas inflamatórias AAS: ácido acetilsalicílico Essas lesões vistas na endoscopia são super- ficiais, hemorrágicas, pequenas, e múltiplas, mas podem se juntar e formar placas maiores. Estão associadas com edema e alteração da superfície. 3 ANA PAULA – MED UNIMES XXII GASTROENTEROLOGIA Corticosteroides: principalmente em pacientes com doenças autoimunes. ✓ Álcool: estimula a secreção do ácido clorídrico no estômago. ✓ Estresse fisiológico: liberação de radicais livres de oxigênio (sepse, grandes queimados, doenças graves que levam a um desarranjo no organismo, pancreatite aguda). ETIOPATOGENIA: Esses fatores agressivos inibem os fatores de defesa e permitem que o fator agressivo principal lese a mucosa (ácido clorídrico e pepsina). Portanto, os fatores de defesa agem impedindo a ação do ácido clorídrico e da pepsina na mucosa. Com alterações nos fatores de defesa, os fatores etiológicos permitem que estes ajam na mucosa. Exemplo: o AINH não lesa diretamente a mucosa para causar uma gastrite erosiva, primeiro vai inibir as prostaglandinas, com isso, diminui a secreção de muco e bicarbonato, reduz o fluxo sanguíneo, leva à isquemia da mucosa, portanto, é de maneira indireta. • ETIOPATOGENIA: O principal fator etiológico da gastrite aguda hemorrágica é o uso de AINH. Uso de AINH que inibem a síntese de prostaglandinas, responsável pela produção dos fatores de defesa, além de ↓ o fluxo sanguíneo da mucosa, levando a uma isquemia da mucosa com lesão gástrica. Nas áreas de isquemia é onde se tem as áreas de sangramento vistas na endoscopia. AINH → inibe síntese de prostaglandinas → ↓ síntese de fatores de defesa → ↓ fluxo sanguíneo → isquemia da mucosa → lesão gástrica O AINH causa inibição da síntese de prostaglandinas causa redução do fluxo sanguíneo, inibição da síntese de muco e bicarbonato. Com isso, tem-se o ácido clorídrico e a pepsina agindo diretamente nas células da mucosa gástrica. • QUADRO CLÍNICO: • DIAGNÓSTICO: Endoscopia digestiva alta (EDA), porque permite visualizar a mucosa. • TRATAMENTO: ✓ Misoprostol → prostaglandina citoprotetora Funcionaria reparando a prostaglandina que está deficiente pelo uso de AINH (uma vez que o principal fator de defesa ausente ou em déficit nesses pacientes são as prostaglandinas). Mas é uma medicação que não está mais disponível no mercado, apenas em unidades obstétricas, porque é indutora de aborto (Citotec ®). ✓ Antiácido → neutraliza apenas o ácido que está na luz do estômago (leva a um efeito rebote, porque estimula a gastrina a produzir ainda mais ácido, por isso não é mais utilizado). Efeito rebote: o antiácido alcaliniza o pH gástrico porque neutraliza o ácido que já está na luz do estômago. A célula G estimula ✓ Dor epigástrica ✓ Náuseas ✓ Vômitos ✓ Plenitude pós-prandial 4 ANA PAULA – MED UNIMES XXII GASTROENTEROLOGIA a célula parietal produzindo ainda mais gastrina para formar mais ácido gástrico. Quanto mais antiácido se toma → mais ácido gástrico é produzido. Mas hoje em dia o antiácido não é mais utilizado como tratamento por causa desse efeito rebote. ✓ Bloqueadores histamínicos H2 → inibem uma das vias de liberação do ácido clorídrico que já está produzido pela bomba de prótons. Mas continua liberando ácido pelas outras vias. No mercado:cimetidina, ramitidina, famotidina, niatidina. ✓ Inibidores da bomba de prótons → esse medicamento se ligam a bomba de prótons e atuam inibindo a liberação do ácido produzido. Mas não inibem 100%, para não causar acloridria (acloridria é perigoso porque poderia causar câncer gástrico). Administrado pela manhã em jejum. No mercado: omeprazol, pantoprazol, rabeprazol, esomeprazol, deslansoprazol. ✓ Inibidores ácido-potássio competitivos (Vonoprazam)→ medicação nova. Compete com o potássio na produção do ácido, tem efeito muito rápido, ação bem mais imediata na restauração da mucosa. CASO CLÍNICO Homem 65 anos, portador de osteoartrose procura assistência médica com queixa de dor epigástrica há cerca de 20 dias. Sofreu queda com pequena fratura em M I direito há 1 mês e iniciou, por prescrição do ortopedista, uso de diclofenaco sódico – comprimido de 50 mg 2x dia para alívio da dor. Nega uso de outras medicações. Diclofenaco sódico → anti-inflamatório hormonal não seletivo. 1. Qual sua hipótese diagnóstica? Gastrite hemorrágica aguda, lesão da mucosa gástrica pelo uso de AINH. Também poderia ser úlcera (diferencia- se pela endoscopia). 2. Qual a conduta para confirmação do diagnóstico? Endoscopia digestiva alta. 3. Qual tratamento proposto? Após a hipótese diagnóstica já pode iniciar o tratamento, porque demora muito até realizar a endoscopia. Já pode iniciar o tratamento com inibidor da bomba de prótons ou inibidor ácido- potássio competitivos. Geralmente, quando o paciente vai realizar a endoscopia e retorna ao consultório já até melhorou da gastrite com o tratamento receitado. Geralmente o tratamento é por 8 sem. Gastrites aguda por Helicobacter pylori: • HERLICOBACTER PYLORI: ✓ É a 2ª infecção mais frequente no mundo. ✓ Gram negativo ✓ Espiralado, flagelado Atividade produtora urease potente → O H. pylori produz a enzima urease, que é responsável pela sua patogenicidade. Essa enzima promove a degradação da ureia em amônia (alcalina) e CO2, dessa forma, consegue manter o estômago menos ácido (↑ pH) para se proteger. • HABITAT: O H. pylori não fica dentro da célula e sim da sua superfície. Habitat: interior e sob a camada de muco gástrico. Portanto, como não fica dentro da célula, não é responsável pela lesão direta da mucosa gástrica. O que ocorre é que a bactéria causa um desequilíbrio, alterando os fatores de defesa, causando uma lesão indireta. Outros locais: placa dental e epitélios gástricos ectópicos (esôfago, metaplasia gástrica duodenal, divertículo de Meckel e reto). 5 ANA PAULA – MED UNIMES XXII GASTROENTEROLOGIA • EPIDEMIOLOGIA: O H pylori causa gastrite e é a principal causa de úlcera gástrica (70%) e duodenal (92%), também é a principal causa de adenocarcinoma gástrico. ✓ Transmissão oral-fecal ✓ Condição sanitária precária ✓ Agrupamento e contato íntimo • FISIOPATOLOGIA: O H. pylori consegue causar infecção crônica na maioria dos casos. FATORES DE COLONIZAÇÃO ✓ Motilidade: a bactéria se move, tem motilidade, o que favorece a procura de um local adequado para ficar. ✓ Microaerofilismo: precisa de pouco oxigênio para sobreviver (o que facilita a colonização). ✓ Adesinas: consegue se fixar na superfície das células. ✓ Urease: enzima que alcaliniza. FATORES DE PERSISTÊNCIA Os fatores de persistência permitem que, uma vez que o H pylori colonizou a mucosa, continue ali. ✓ Adesinas ✓ Escape imune: fica escondido, o nosso organismo produz anticorpo anti H Pylori. ✓ Imunossupressão: causa uma imunossupressão no local onde está, não deixa o sistema imune agir. ✓ Formas cocóides: mais uma forma de escapar do sistema imunológico. ✓ Lipopolissacarides (LPS) FATORES PATOGÊNICOS ✓ ↓ secreção de muco ✓ ↑ secreção de pepsinogênio, fosfolipases, citoxina vacuolizante, proteína CagA. Citoxina vacuolizante e proteína CagA são responsáveis pela patogenicidade do H. pylori. • PROTEÍNA CagA: As bactérias que possuem essa proteína positiva têm maior capacidade inflamatória e maior risco de doença gastroduodenal (cepa de maior patogenicidade). Mas não tem como identificar se o H pylori é de cepa CagA positivo ou negativo. Se tratar uma úlcera duodenal e não tratar o H pylori, terá recidiva da úlcera. • FISIOPATOLOGIA: H pylori infecta o organismo e causa inflamação aguda com liberação de enzimas que caracterizam um processo inflamatório agudo. Embora a gastrite cause um processo inflamatório agudo, na maioria das vezes, é assintomático (passa desapercebido) até gerar um processo inflamatório crônico. • DIAGNÓSTICO: EDA com biópsia para pesquisa de H pylori. Na endoscopia pode-se observar alguma alteração de mucosa, como vermelhidões e erosões, até mesmo lesões pseudo-tumorais. 6 ANA PAULA – MED UNIMES XXII GASTROENTEROLOGIA Mas o diagnóstico de infecção por H pylori é confirmado apenas com a biópsia. • TRATAMENTO: Erradicação do H pylori. Gastrites crônica por H. pylori: O H pylori consegue se esconder e causar uma inflamação crônica. 95% das gastrites crônicas são causadas por H. pylori. A infecção é mais comum no antro. Geralmente é assintomática: diagnóstico pela endoscopia quando tem sintoma por algum outro motivo (como uma dispepsia, refluxo). • DIAGNÓSTICO: EDA + pesquisa H pylori Na endoscopia é possível ver a mucosa com aspecto nodular. Esse aspecto sugere a presença de H pylori. • TRATAMENTO: esquema tríplice. • INFECÇÃO POR H PYLORI: Gastrite do antro (mais comum): quando o H pylori acomete a mucosa antral. O paciente vai ter um aumento da produção de gastrina, com hipersecreção ácida (úlcera duodenal). Gastrite do corpo: o H. pylori leva a inflamação e atrofia da mucosa do corpo. Com a atrofia tem uma diminuição da secreção do hiposecreção ácida (acloridria), são pacientes que podem ter úlcera gástrica e câncer gástrico. Pesquisa de H. pylori: TESTES NÃO INVASIVOS Testes de H pylori que não precisam da endoscopia. A vantagem desse exame é que um paciente assintomático pode realizar. • TESTE RESPIRATÓRIO UREIA-C: Muito utilizado para verificar se o tratamento funcionou. H pylori produz urease, que quebra a ureia em amônia e CO2. O paciente ingere ureia e carbono marcado. Se tiver H pylori, irá quebrar a ureia (amônia + CO2) e o paciente liberará CO2 com carbono marcado, que será expelido pela respiração do paciente. Se tiver CO2 com carbono marcado na expiração → confirmado o diagnóstico de H. pylori. • ANTÍGENO FECAL H PYLORI (HPSA): Colhe uma amostra de fezes, nessas fezes fazem a pesquisa para o H pylori. • SOROLOGIA (IgG, IgA): Solicita IgG e IgA. O paciente pode ter IgG e ainda estar em infecção crônica (fica positivo por muito tempo) → não é um teste indicado para controle após tratamento. Não se pede IgM porque a infecção aguda é assintomática. • PCR NA SALIVA E NAS FEZES TESTES ENDOSCÓPICOS • TESTE RÁPIDO UREASE: Consiste no paciente que faz endoscopia e colhe uma biópsia, coloca em um reagente, se houver mudança de cor desse reagente, existe H pylori. O líquido contém ureia e um corante amarelo. Se tiver H pylori, essa ureia será quebrada em CO2 e amônia, nesse corante tem um pH sensível à variação, que fica vermelho quando se tem quebra da ureia pela liberação da amônia. • MICROSCOPIA DIRETA: Patologista procura o H pylori. 7 ANA PAULA – MED UNIMES XXII GASTROENTEROLOGIA • HISTOLOGIA • CULTURA: Método mais demorado e caro, utilizado apenas para pesquisa. Indicações para erradicação: Desde 2010, tratar todos os pacientes H pylori positivo. Não se pode deixar de tratar pacientes quando: ✓ Paciente teve úlcerapéptica (ativa ou inativa) ✓ Úlcera péptica complicada ✓ Linfoma gástrico tipo MALT de baixo grau ✓ Gastrite atrófica ✓ Após ressecção de câncer gástrico ✓ Parentes (1º grau) de pacientes com câncer gástrico ✓ Paciente em uso prolongado de AAS e AINES (principais causadores de gastrite hemorrágica/ulcera aguda erosiva) ✓ Anemia ferropriva inexplicada (após exclusão de outras causas) ✓ Trompocitopenia auto-imune em adultos Tratamento H. pylori: • ESQUEMAS DE ERRADICAÇÃO: PRIMEIRA LINHA IBP dose padrão Amoxicilina 1000 mg Claritromicina 500 mg Pode-se substituir o IBP pelo inibidor ácido-potássio competitivo (Vonoprazam), mas nesse caso são 7 dias de tratamento. Mas ainda não está no consenso brasileiro, porque é um medicamento novo, mas em breve ele estará incluído no consenso. SEGUNDA LINHA → 10 a 14 dias O tratamento de segunda linha serve para retratamento ou se o paciente possui alguma contraindicação para algum dos medicamentos de escolha na primeira linha. Esquema clássico de retratamento: IBP dose padrão 2x/dia Subcitrato de bismuto 240 mg 2x/dia ou 120 mg 4x/dia Tetracilina 500 mg 4x/dia Metronidazol 400 mg 3x/dia Esquema alternativo de retratamento: IBP dose padrão 2x/dia Amoxacilina 1000 mg 2x/dia Levofloxacina 500 mg 1x/dia Confirmação da erradicação do H pylori: Após tratar o H pylori é necessário confirmar se realmente foi tratado. O que é possível ser feito por meio dos testes (4 semanas após o tratamento, porque a chance de falso positivo é muito grande). ✓ Teste respiratório ✓ Antígeno fecal ✓ Endoscopia e biópsia ✓ Cultura O melhor é o teste respiratório, mas é um exame ainda não muito disponível. O que se faz na prática é uma nova biópsia CASO CLÍNICO Homem, 35 anos submetido a endoscopia digestiva alta sem queixas dispépticas, por história familiar de câncer gástrico. Diagnóstico endoscópico: gastrite nodular antral. Colhidas biópsias para exame anatomopatológico com diagnóstico de gastrite crônica ativa H pylori positivo. Qual a melhor conduta para esse caso? a) manter controle endoscópico anual b) tratar infecção pelo H pylori c) orientar retorno para nova endoscopia apenas caso tenha sintoma dispéptico d) usar inibidor de bomba de prótons para resolução da gastrite ALTERNATIVA CORRETA: B. O paciente não tem sintoma e tem um processo inflamatório crônico 2x/dia por 14 dias 8 ANA PAULA – MED UNIMES XXII GASTROENTEROLOGIA assintomático. O problema é que o H pylori causa, com o tempo, uma metaplasia intestinal (transforma o epitélio), o problema é que a metaplasia pode levar a uma displasia e, posteriormente, neoplasia. Portanto, o H pylori é a principal causa de câncer gástrico. Não é tratado com bomba de prótons porque ele não tem sintomas e não tem lesão da mucosa, tem apenas um aspecto nodular que é causado pela infecção do H pylori. Portanto, o mais grave desse paciente é o H pylori que poderia causar câncer gástrico. Gastrite crônica autoimune (atrófica): • FISIOPATOLOGIA: Inflamação crônica da mucosa oxíntica (onde há as células parietais que produzem fator intrínseco e ácido clorídrico). Essa inflamação crônica levará a uma atrofia da mucosa: ATROFIA AUTOIMUNE LOCAL ACOMETIDO: corpo e fundo. ATROFIA: parcial ou completa das glândulas do corpo e do fundo. Essa atrofia leva a uma substituição parcial ou completa das células superficiais normais. ANTICORPOS: pacientes podem ter anticorpo anti célula parietal e anti fator intrínseco. • ATROFIA DAS CÉLULAS PARIETAIS: As células parietais produzem ácido clorídrico e fator intrínseco. A atrofia dessas células, portanto, leva à hipocloridria e deficiência de fator intrínseco. Hipocloridria ou acloridria: ✓ Deficiência da absorção do ferro → o ferro é absorvido no duodeno e quanto mais ácido o pH, melhor a absorção. Por isso que se pode ter anemia ferropriva. ✓ Supercrescimento bacteriano no intestino → o ácido gástrico é a primeira barreira contra a infecção bacteriana. Se não tem ácido o suficiente, as bactérias vão proliferar mais. ✓ Hipergastrinemia (↑ gastrina) → as células G, produtoras de gastrina ficam no antro. Quando se tem atrofia da célula parietal, reduz a produção de ácido. As células G detectam a queda de pH e liberam ainda mais gastrina para estimular a produção de mais ácido clorídrico. Deficiência de fator intrínseco: O fator intrínseco é responsável pela absorção de vitamina B12 no íleo, porque o receptor do íleo só recebe o complexo fator intrínseco + vitamina B12. Se não há fator intrínseco, a vitamina B12 não é absorvida. Dessa forma, o paciente pode desenvolver anemia macrocítica perniciosa. Contudo, felizmente, produzimos uma quantidade muito maior de fator intrínseco, há armazenado. Portanto, para desenvolver anemia tem que ser uma deficiência muito intensa. • EPIDEMIOLOGIA: 9 ANA PAULA – MED UNIMES XXII GASTROENTEROLOGIA ✓ Maior prevalência no sexo feminino (3:1) ✓ Prevalência em idosos ✓ Fatores genéticos associados (HLA) • QUADRO CLÍNICO: ✓ Assintomática no TGI ✓ Plenitude → devido ao supercrescimento bacteriano o paciente pode ser saciedade precoce. ✓ Sintomas hematológicos → deficiência de ferro e vitamina B12. • DIAGNÓSTICO: endoscopia Pode-se ter algumas alterações endoscópicas, a mucosa atrofiada pode ficar mais lisa, brilhante, delgada, visualização dos vasos da submucosa. O diagnóstico mesmo só é confirmado com o exame histopatológico após a biopsia. • HISTOLOGIA: Atrofia da mucosa com desaparecimento das glândulas. Pontos arroxeados → linfócitos (processo inflamatório crônico) NORMAL ATROFIA • INVESTIGAÇÃO: A suspeita de gastrite autoimune surge com um achado hematológico (anemia por deficiência de ferro ou B12). Na maioria das vezes é um paciente encaminhado pelo hematologista. Sempre pesquisar H pylori, anticorpos anti células parietais e anti fator intrínseco. • TRATAMENTO: ✓ Reposição da vitamina B12 → via intramuscular (porque se não há fator intrínseco não funciona por via oral) 200 microgramas por mês. ✓ Reposição de ferro → via oral juntamente com um alimento ácido. Corrige as alterações hematológicas sem alterar histologia gástrica. É um processo irreversível, não corrige a atrofia, por isso que o risco de câncer não reduz após o tratamento. Esse paciente precisa ser monitorado (endoscopia a cada 3-5 anos se não tiver displasia importante). Gastrite crônica de refluxo GASTRITE CAUSADA PELA BILE Refluxo de bile do intestino delgado para o estômago. É uma gastrite rara. Comum após ressecções gástricas, ocorre mais com as anastomoses do tipo BI, BII (utilizadas após tratamento cirúrgico por úlcera). Na Bilrroth II é mais comum de ocorrer, porque facilita a passagem de bile no corpo gástrico. A bile possui ácido e sais biliares. Ultimamente esse tipo de cirurgia não tem mais sido utilizada para tratamento enterogástrico: 10 ANA PAULA – MED UNIMES XXII GASTROENTEROLOGIA de úlceras, mas estão sendo muito utilizadas para cirurgias bariátricas. • QUADRO CLÍNICO: ✓ Epigastralgia ✓ Vômitos biliosos ✓ Emagrecimento (dificuldade de se alimentar pelo processo inflamatório) ✓ Anemia (microerosões com micro sangramentos) Não aliviam com antiácidos/ antissecretores, porque não é causado pelo ácido clorídrico. • DIAGNÓSTICO: EDA Na EDA é possível visualizar uma mucosa bem inflamada, presença de bile no corpo gástrico. Sintomas e exclusão de outras patologias: excluir a possibilidade de outras patologias para realizar um tratamento adequado. • TRATAMENTO: Nenhum tratamento conseguirá reduzir100% a doença. Mas se a causa da gastrite é a passagem de bile no corpo gástrico, o objetivo é reduzir essa bile no estômago. Objetivo: Redução do tempo em que a bile fica no estomago ou inativando os componentes tóxicos da bile, que são os ácidos e sais biliares. ✓ Resinas de trocas iônicas: colestiramina (quelante de sais biliares – se liga a eles e inativa) ✓ Ácido urodesoxicólico: torna bile menos tóxica para mucosa ao alterar proporção de ácidos da bile (ácidos cólicos, desoxicólico, litocólico) ✓ Pró-cinéticos: faz com que a bile saia mais rápido possível do estômago (aumentam a contratilidade do estômago). ✓ Cirurgia: para pacientes com sintomatologia mais intensa e debilitante (emagrecimento e anemia) – tentativa de correção para fazer com que a bile não reflua para o estômago. Assinale a alternativa FALSA: a) O microaerofilismo contribui para colonização da mucosa gástrica pelo H pylori. b) Pacientes com gastrite atrófica têm maior risco de desenvolverem câncer gástrico c) As gastrites químicas geralmente ocorrem após ressecções gástricas. d) O tratamento dos pacientes com gastrite atrófica com vitamina B12 é de fundamental importância para reversão da anemia perniciosa e restauração da mucosa. e) Esquema clássico para erradicação do H pylori consiste na associação de inibidor de bomba de prótons com Claritromicina e Amoxacilina. Alternativa D porque o tratamento melhora a anemia, mas não restaura a mucosa.
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