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Anestesia local

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1 Laís Flauzino | TÉCNICA OPERATÓRIA | 4°P MEDICINA 
ANESTESIA LOCAL 
Em meados do século XIX, foram introduzidas duas 
descobertas: anestesia e antissepsia, que reduziram 
significativamente a mortalidade e possibilitaram a 
expansão da cirurgia. 
O anestesiologista tem capacidade de proporcionar 
uma anestesia segura e tranquila para inúmeros 
procedimentos cirúrgicos. 
São várias as técnicas anestésicas. 
 
Anestesia local ou locorregional: 
o Utilizam bloqueios nervosos para alívio completo 
da dor. 
Os agentes anestésicos podem ser classificados em: 
✓ Amino-esteres: 
• Procaína 
• Cloro-procaína 
• Tracaína 
✓ Aminoamidas: 
• Lidocaína 
• Bupivacaína 
• Etidocaína 
• Mepivacaína 
 
As técnicas de anestesia regional variam desde a 
aplicação tópica de solução anestésica até o bloqueio 
de grandes partes do corpo em anestesia espinhal. 
 
Propriedades desejáveis de anestésico local : 
o Não deve ser irritante para o tecido ao qual é 
aplicado 
o Não deve causar qualquer alteração permanente 
da estrutura nervosa. 
o Sua toxicidade sistêmica deve ser baixa. 
o Deve ser eficaz, independente da via de 
administração. 
o O tempo de início da anestesia deve ser o mais 
breve possível. 
o A duração de ação deve ser longa o suficiente 
para permitir o procedimento, porém sem 
recuperação prolongada. 
 
Tipos de anestesia local: 
Anestesia tópica: 
o Contato direto com a superfície em questão (pele, 
mucosa, cavidades). 
o Contato por forma de deposito, nebulização ou 
gotejamento (spray também). 
o Aplicação pelo menos 1 hora antes do 
procedimento desejado. 
o Duração do efeito: de 50 a 60 minutos. 
o A duração sempre vai depender do fármaco, a 
quantidade e associação com vasoconstritores – 
adrenalina. 
 
Anestesia por inf il tração: 
o É o método mais utilizado em ambientes 
hospitalares. 
o Há infiltração do anestésico no local onde será 
realizado o procedimento (Sutura). 
o Ação diretamente sobre as terminações nervosas, 
local. 
o Em cirurgias de superfície, de porte pequeno ou 
médio e em procedimentos que envolvem 
pequenas áreas. 
 
 
Lesão de extremidades: anestésico sem adrenalina – 
porque a risco de necrose devido a vasoconstrição. 
 
Anestesia por bloqueio: 
o Injeção do anestésico nas proximidades do 
procedimento a ser realizado. 
o Empregado em diversas técnicas: coleção de 
líquidos, remoção de corpos estranhos, tratamento 
de feridas traumáticas, desbridamento de feridas 
infectadas entre outras. 
 
Anestesia de condução ou regional: 
o Aplicação diretamente no tronco nervoso com 
distância razoável da região onde será realizado o 
procedimento. 
o Esse tipo de anestesia quando se bloqueia o 
tronco nervoso é chamada de troncular, quando 
há um bloqueio das raízes nervosas e a aplicação 
for no espaço extradural é chamada de peridural 
e caudal, porém se esse bloqueio for no espaço 
subdural será caracterizado com uma 
raquianestesia. 
o Extradural: peridural e caudal 
o Subdural: raquianestesia 
 
 
 
2 Laís Flauzino | TÉCNICA OPERATÓRIA | 4°P MEDICINA 
Apresentações comerciais: 
o Lidocaína – mais utilizada. 2% e 1% 
o Bupivacaína – 0,75% 
o Levobupivacaína – 0,25% 
o Ropivacaina – 1%, 0,75%, 0,5% e 0,2% 
LIDOCAÍNA: 
o Anestesia rápida e intensa – início: 3-15 minutos 
o Duração: em torno de 120 minutos 
o Principal anestésico usado em anestesia por 
infiltração 
o Apresentação com e sem vasoconstritor. 
o Infiltração e espinhal. 
BUPIVACAÍNA: 
o Estrutura semelhante a lidocaína. 
o Um anestésico local do tipo amino-amida de 
longa duração com efeitos anestésico e 
analgésico. 
o A administração de altas doses produz anestesia 
cirúrgica, enquanto em baixas doses, produz 
bloqueio sensitivo (analgesia) com bloqueio 
motor menor. 
o Administração: tópica, perineural e epidural. 
o Meia-vida: 3,5 horas (adultos); 8 horas 
o Anestesia prolongada início: 10-20 minutos. 
o Obstetrícia – trabalho de parto epidural e espinhal 
 
Efeitos adversos: 
SNC: 
o Inicialmente estimulação do SNC 
o Inquietação 
o Desorientação 
o Tremores 
o Convulsões 
o Depressão generalizada 
o Insuficiência respiratória 
Sistema cardiovascular : 
o Depressão do miocárdio (Bradicardia) 
o BAV – bloqueios atrioventriculares 
o Vasodilatação 
o Hipotensão grave 
 
Apl icação da anestesia em fer imentos 
superf ic iais: 
o O processo de anestesia se faz necessário para a 
redução do sofrimento do paciente, assim como 
para o mesmo não sentir ainda mais dor durante 
alguns procedimentos invasivos, como a sutura. 
o O mecanismo da anestesia local se resume no 
bloqueio de uma geração ou propagação do 
impulso nervoso na região onde foi realizado o 
procedimento. 
o Dessensibilização da região é reversível, durando 
apenas alguns minutos dependendo do fármaco 
utilizado, da quantidade aplicada (dose) e a 
associação com vasoconstritores. 
o O primeiro anestésico utilizado foi a cocaína, em 
1868. 
o Atualmente, os anestésicos locais mais utilizados 
no Brasil são: bupivocaína, ropivacaína e 
lidocaína. 
o o mecanismo de bloqueio desses fármacos está 
relacionado com o processo de condução do 
impulso nervoso, que exige uma despolarização 
da membrana celular. 
o Os anestésicos locais inibem o funcionamento 
dos canais de sódio, fundamental para a 
despolarização celular. 
Há diversas técnicas específicas para a aplicação da 
anestesia local, mas há um ponto em comum entre a 
maioria delas: a utilização da infiltração do anestésico 
nas bordas ou perímetro da ferida. 
Antes de começar vamos lembrar: 
1. Identificação da lesão 
2. Limpeza da região operatória 
3. Antissepsia do campo operatório e do 
profissional 
4. Limpeza das mãos e paramentação (uso 
sempre de luvas estéreis) 
5. Isolamento da região por campos cirúrgicos 
 
A primeira etapa é o preparo do anestésico: é a 
aspiração do fármaco que está contido em um frasco, 
normalmente uma dosagem próxima de 5mL de 
Lidocaína 1% (10mg/mL) é suficiente, porém é válido 
aspirar o máximo que a seringa suportar. 
Melhor sobrar do que faltar. Vale lembrar que a dose 
máxima que se deve usar é de 30mL. 
Algumas dicas na hora da aspiração: 
o Usar uma agulha com calibre maior na hora da 
aspiração diminui o tempo do processo e a 
contaminação da ferida cirúrgica. 
o Injetar ar no frasco com a quantidade desejada de 
anestésico facilita e muito a aspiração. 
o Usar uma agulha de menor calibre e diferente 
para aplicação na pele. 
o O próximo passo é entrar na pele íntegra ou na 
ferida, com o bisel da agulha para cima, inserindo 
apenas uma parte da agulha em uma angulação 
de 30 a 45 graus. 
o Logo em seguida devemos aspirar para ver se não 
atingimos nenhum vaso, assim, tendo a certeza 
que estamos longe do perímetro vascular, 
injetamos gradualmente até que se forme um 
acúmulo de anestésico na pele, o chamado botão 
anestésico. 
o Após isso deve-se, em direção a alguma das 
bordas do ferimento, aprofundarmos a injeção ao 
máximo. 
 
VÍDEO: INFILTRAÇÃO DE ANESTÉSICO LOCAL 
o Antissepsia: Em ferimentos limpos, pode-se fazer 
da incisão para a periferia. Já ferimentos 
contaminados, faz-se da periferia para a incisão. 
360° graus. 
o Agulha rosa – 40 por 12. 
o Apresenta o anestésico de ponta a cabeça. 
 
3 Laís Flauzino | TÉCNICA OPERATÓRIA | 4°P MEDICINA 
o Agulha de infiltração – preta/cinza – 25 por 7, ou 
30 por 7. 
o Tira o ar – escorre uma gota. 
o Entra 2 ou 3 mm no vértice da lesão, aspira, não 
veio sangue, faz-se o botão anestésico – infiltra e 
espera uns 10 segundos. 
https://www.youtube.com/watch?v=KeW6aCFnY8E 
 
Anestésico: 
Vidro escuro – com adrenalina, tarja vermelha. 
Vidro transparente – sem adrenalina. 
 
Considerações: 
A aplicação de anestésicos locais (AL) em tecidos 
inflamados podem causar respostas clínicas 
diferentes das esperadas. 
✓ O AL é menos eficaz em tecido inflamado. 
✓ Ocorre queda na efetividade do AL, mas não se 
pode afirmar que ocorre perda total de função. 
✓ A alcalinização da solução anestésica ajuda adiminuir a latência do anestésico, aumentando a 
eficácia do AL no tecido inflamado. 
 
O grau de solubilidade lipídica de um anestésico local 
influencia diretamente na sua potência, e 
consequentemente na sua dosagem. 
✓ Quanto maior o grau de solubilidade lipídica, 
maior a potência de um anestésico, e isso pode 
levar a um maior risco de efeitos adversos. 
✓ A bupivacaína é mais lipossolúvel e mais potente 
do que lidocaína. 
✓ A lidocaína é amplamente utilizada 
ambulatorialmente, ao contrário da bupivacaína. 
✓ O grau de solubilidade lipídica interfere 
diretamente na potência do AL, e isso influencia 
na dose utilizada. 
✓ A lidocaína é menos potente do que a 
bupivacaina, logo é utilizada em maiores 
dosagens. 
 
Um aspecto muito importante que deve ser levado em 
conta durante um procedimento que faz uso de 
anestesia local é o tempo de duração do bloqueio 
anestésico. 
✓ Quanto maior a taxa de ligação proteica, mais 
tempo a forma ativa do AL fica ligada aos canais 
de Na, e mais tempo dura o bloqueio. 
✓ Por apresentar uma maior taxa de ligação 
proteica, o bloqueio anestésico da bupivacaína 
pode durar até o dobro do tempo, quando 
comparado à lidocaína – a lidocaína tem um 
tempo de bloqueio médio de 2 horas, e a 
bupivacaína de até 4 horas. 
✓ O grau de ionização de um AL se relaciona com 
sua latência/efetividade, e não com a duração do 
bloqueio. 
 
A adição de adrenalina na solução de anestésico local 
serve para reduzir os efeitos sistêmicos da droga, 
além de aumentar o bloqueio na região. No entanto, 
o seu uso na solução anestésica deve ser evitado em 
algumas regiões, como os dedos. 
✓ O uso de adrenalina (vasoconstritor) na solução 
de AL deve ser evitado nas extremidades, 
justamente para evitar o risco de isquemia. 
 
A alcalinização da solução de lidocaína é um recurso 
comumente utilizado na anestesia local, visto que essa 
associação tem como efeitos: 
✓ Redução da dor na injeção 
✓ Aumento da eficácia em tecido inflamado 
✓ Diminuição da latência do anestésico no tecido. 
Obs: a alcalinização da solução não tem relação com 
o tempo de bloqueio anestésico. 
 
A aplicação de AL em casos onde o paciente necessita 
receber anestesia tópica em mucosas pode ser 
realizada por meio de anestésicos em gel/pomada. 
✓ Esse tipo de AL geralmente apresenta uma 
latência de cerca de 5 minutos, e sempre deve-se 
conferir o efeito antes de dar início ao 
procedimento. 
 
Em relação à aplicação de anestesia tópica em creme, 
como o EMLA a conduta deve ser: 
✓ Aplicar diretamente sobre o ferimento, realizar a 
cobertura da região e aguardar cerca de 30-60 
minutos para dar início ao procedimento. 
 
Na aplicação de anestesia infiltrativa as etapas de 
aplicação são: 
✓ Assepsia do local 
✓ Introdução de agulha fina 
✓ Movimento leve de sucção 
✓ Aplicação lenta do anestésico 
✓ Teste da sensibilidade da região 
✓ Dar início ao procedimento 
 
Caso clínico: 
Paciente masculino, 70 kg, chega ao atendimento 
com uma laceração de 3cm couro cabeludo, 
decorrente de impacto em uma quina de um armário. 
Após constatar a ausência de danos maiores, a 
conduta esperada é a realização da sutura do corte. 
Qual a melhor escolha de anestésico local e dosagem 
máxima para o caso? 
R: lidocaína 2% com adrenalina ate 24,5mL. 
✓ Lidocaína com adrenalina -> 7 mg/kg 
✓ Lidocaína sem adrenalina -> 5 mg/kg 
✓ Cálculo desse caso: 70 kg x 7 mg = 490 mg -> 
solução a 2% (cada ml corresponde à 2o mg) -> 
490/20 = 24,5 ml 
 
Paciente feminina, 65 kg, chega ao atendimento 
devido a corte por faca na região da falange medial 
do dedo indicador. Após devida assepsia, qual seria a 
melhor escolha de anestésico local e dosagem 
máxima para o caso? 
R: lidocaína 2% sem adrenalina, até 16,25mL. 
Cálculo desse caso: 65 kg x 5 mg = 325 mg -> solução 
a 2% (cada ml corresponde à 2o mg) -> 325/20 = 
16,25 ml. 
 
https://www.youtube.com/watch?v=KeW6aCFnY8E

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