Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
COLOPROCTOLOGIA Equipe SJT Editora Coloproctologia. São Paulo: SJT Editora, 2016. ISBN 978-85-8444-115-0 Copyright © SJT Editora 2016 SJT Editora Todos os direitos reservados. Diretor editorial e de arte: Júlio César Batista Diretor acadêmico: Raimundo Araújo Gama Editor de arte: Carlos Renato Projeto gráfico: Equipe SJT Editora Capa: Erick Balbino Pasqua Editoração eletrônica: Reginaldo Diniz Contato com o departamento editorial: editora@sjtresidencia.com.br Contato com o departamento acadêmico: aluno@sjtresidencia.com.br Avenida Paulista, 949 – 9º andar Cerqueira César – São Paulo/SP CEP: 01311-917 Fone: (11) 3382-3000 http://www.sjteducacaomedica.com.br Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. É expressamente proibida a reprodução ou transmissão deste conteúdo, total ou parcial, por quaisquer meios empregados (eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação e outros), sem autorização, por escrito, da Editora. Este material didático contempla as regras do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que vigora no Brasil desde 2009. Apresentação à 16ª edição Apresentamos, à comunidade médica, a mais nova edição do conteúdo didático SJT Preparatório para Residência Médica. Entendemos que nossa função não consiste apenas em prepará-lo(a) para as provas de Residência Médica, mas possibilitar conhecimento e cultura para o desenvolvimento de sua carreira profissional. O corpo docente do SJT, composto por professores das melhores instituições de São Paulo, tem como meta de trabalho fornecer o melhor preparo a você, fazendo com que seus planos se tornem realidade, por meio de muito esforço, determinação e vontade. O material didático SJT 2016 está atualizado com as últimas questões dos concursos de Residência Médica de todo o país. Estude com atenção e entusiasmo. Respeite sua agenda, pois aprendizado requer dedicação. O maior responsável pelo seu sucesso é você. Participe regularmente das atividades do site – o melhor programa on-line de atividades acadêmicas. Estamos juntos neste objetivo: Residência Médica 2017! O contato com o departamento acadêmico deverá ser feito pelo email: aluno@sjtresidencia.com.br. Você será Residente em 2017! un i verso sjt online www.sjteducacaomedica.com.br Login CPF sem pontos e traço. 4 primeiros números do CPF. Relação de cursos SJT. Encontre o seu. Meu perfil Calendário com atividades, agenda de aulas, atualizações, eventos, etc. Novidades Notícias atualizadas sobre os temas dos cursos. Meu perfil Perfil do aluno, informações sobre aces- so, atividades, notas, etc. Mensagens: Por aqui o aluno poderá trocar mensagens com professores, tutores e colegas de curso. Curso atual Nesta opção você poderá encontrar to- dos os participantes do curso e navegar pe- los temas que serão abordados no mesmo. Meus cursos Caso você esteja matriculado em mais de um curso, poderá acessá-los por aqui. Administração do curso Área em que o aluno poderá consultar no- tas em simulados, fóruns e outras atividades. Configurações de perfil Nesta opção o aluno poderá alterar seus dados de perfil, e-mail, imagem, senha, con- figurações de notificações (Ex.: se receberá notificações por e-mail, ou apenas pelo AVA). Página inicial do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) Visite ao menos uma vez por semana o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA)! Aprender mais significa investir na sua felicidade. Você é o dono do seu sucesso. O Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) Neste ambiente você poderá encontrar todo o material didático dos cursos, principais e complementares: Links para videoaulas; Glossário; Apostilas; Material complementar de leitura (manuais e artigos científicos, guidelines, etc); Exercícios de fixação; Fóruns de discussões temáticas Sumário 1 Anatomia e fisiologia do intestino grosso ....................................................................................21 2 Abordagem diagnóstica ...........................................................................................................................28 3 Doenças do apêndice ................................................................................................................................38 4 Obstrução do intestino grosso .............................................................................................................51 5 Pseudo-obstrução aguda do cólon (Síndrome de Ogilvie) .......................................... 60 6 Megacólon ..........................................................................................................................................................65 7 Isquemia colônica (colopatia isquêmica) ....................................................................................70 8 Hemorragia digestiva baixa (HDB) ....................................................................................................77 9 Doença diverticular ......................................................................................................................................83 10 Retocolite ulcerativa inespecífica (RCU) ......................................................................................94 11 Tiflite ...................................................................................................................................................................... 112 12 Colite pseudomembranosa (CPM) ................................................................................................. 115 13 Novas colites ................................................................................................................................................... 118 14 Poliposes ............................................................................................................................................................124 15 Câncer colorretal (CC) ..............................................................................................................................135 16 Doenças anorretais .................................................................................................................................... 156 Caderno de imagens Omento maior (removido) Tênia omental do colo (exposta pelo gancho) Tênia omental do colo Tênia livre do colo Apêndices omentais (adiposos) Pregas semilunares do colo Junção retossigmoidea Reto Mesocolo sigmoide Tênia livre do colo Tênia mesocólica do colo (exposta pelo gancho) Mesocolo transverso Flexura direita do colo Flexura esquerda do colo Figura 1.1 Topografia e estrutura do cólon. Artéria cólica média Mesocolo transverso Artéria mesentérica superior 1ª artéria jejunal Artérias jejunais e ileais Arco justacólico (artéria marginal do colo) Artéria mesentérica inferior Artéria cólica esquerda Ramo ascendente Ramo descendente Arco justacólico (artéria marginal do colo) Artérias sigmóideas Mesocolo sigmoide Artéria retal superior Artéria retossigmóideas Bifurcação da artéria retal superior Artéria pudenda interna no canal pudendo (de Alcock) Artérias retas Artéria retal infeiorRamo da artéria retal superior Artéria retal média Artéria vesical inferior Artéria vesical superior (da parte aberta da artéria umbilical) Artéria sacral mediana (da parte abdominal da aorta) Artéria obturatória Artéria ilíaca interna Artéria apendicular Artéria cecal posterior Artéria cecal anterior Arco justacólico (artéria marginal do colo) Artéria ileocólica Artéria cólica direita Arco justacólico (artéria marginal do colo) Artéria pancreatico- duodenal inferior Parte comum Artérias retas Ramo posterior Ramo anterior Ramo cólico Ramo ileal Arco justacólico (artéria marginal do colo) Figura 1.2 Suprimento vascular, linfático e nervoso do intestino grosso. Atenção: ponto crítico de Griffiths lo- calizado no ângulo esplênico e que corresponde ao limite de separação entre os territórios da artéria mesentéricasuperior e inferior. Ponto crítico de SUDECK: é uma região do cólon em que recebe, escassamente, uma mistura de dois suprimentos sanguíneos, das artérias sigmoideanas e retal superior (junção retossigmoide). 10 Coloproctologia SJT Residência Médica – 2016 Figura 2.1 Colonoscopia virtual (TC colonográfica); A: imagem de pólipo (seta) evidenciada em padrão bidimen- sional na TC scan; B: TC colonográfica em visão tridimen- sional; C: imagem colonoscópica da lesão polipoide (seta). Figura 2.2 A: colonoscopia evidenciando lesão polip- oide obstrutiva da região do sigmoide; B: clister-opaco mostrando lesão estenosante de contornos irregulares na mesma topografia; C: espécime cirúrgica mostrando lesão anular estenosante com aparência em guardanapo. Ponto de Lantz Ponto de McBurney's Ponto de Morris Figura 3.3 Pontos apendiculares. Neoplasias (60%) Miscelânea (10%) Doença diverticular (10%) Vólvulo (20%) Figura 4.2 Volvo do sigmoide Patogênese do volvo sigmoide 1- Alça sigmoide longa 2- Contração da base do mosossigmoide 3- Torção, obstrução estrangu- lamento, distensão Distensão abdominal extrema Figura 4.5 Sequência fisiopatológica do volvo de sigmoide. 11 SJT Residência Médica – 2016 Volvo do ceco Ceco sem fixação Volvo do sigmoide Volvo do ceco Volvo do ceco Figura 4.6 Sequência fisiopatológica do volvo do ceco. Peritônio Mucosa Divertículo Concentração no divertículo Vaso sanguíneo perfurando a musculatura Relação entre divertículos, vasos sanguíneos e tênias (esquemática) 3 2 Músculo circular Tênia cólica Apêndice omental Figura 9.2 Figura 1: visualização colonoscópica dos divertículos. Figura 2: distribuição anatômica dos di- vertículos; Figura 3: patogenia da doença diverticular. Os divertículos são herniações da mucosa através dos pontos de entrada dos vasos sanguíneos pela parede muscular. Pelo fato de estes divertículos serem formados apenas por mucosa em vez de o serem por toda a parede do instestino, eles são chamados falsos divertículos. Note que os divertículos formam-se apenas entre as tênias mesentéricas e cada uma das duas tênias laterais. Pelo fato de não haver vasos perfurantes, os divertículos não se formam no lado antimesentérico do cólon. Figura 4: clister opaco evidenciando os divertículos. Figura 9.3 Classificação de Hinchey para a diverticulite. Estágio I: diverticulite perfurada com abscesso paracólico confinado. Estágio II: diverticulite perfurada que fechou espontaneamente com a formação de um abscesso dis- tante. Estágio III: diverticulite perfurada não comunicante com peritonite fecal (o colo do divertículo está fechado e, portanto, o contraste não será expelido livremente nas im- agens radiográficas). Estágio IV: perfuração e comunicação livre com o peritônio, resultando em peritonite fecal. Figura 10.10 RCUI em atividade: úlceras maiores. Figura 10.11 RCUI em atividade: granularidade da mucosa. 12 Coloproctologia SJT Residência Médica – 2016 Figura 10.12 RCUI fora de atividade: pseudopólipos + alteração vascular da submucosa. Figura 10.13 RCUI fora de atividade: processo cicatri- cial da mucosa e pseudopólipos. Figura 14.8 Na região centrofacial, discretas lesões papulosas cor da pele. Figura 14.9 A: língua plicata e lesões papulosas na gengiva. B: hiperceratose puntata plantar. Figura 14.10 A: colonoscopia na polipose familiar adenomatosa. 13 SJT Residência Médica – 2016 Cólon normal Hiperproliferação epitelial APC hMSH2 hMLH1 anormalidades (síndromes hereditárias) Anormalidades de metilação APC hMSH2 hMSH1 inativação K-ras mutação 18q deleção p53 deleção Acúmulo adicional de anormalidades genéticas Adenoma Carcinoma A B C D E F Figura 15.1 Sequência adenoma-carcinoma. A e D: focos de displasia; B e E: pólipo adenomatoso; F e C: carcinoma invasivo. Figura 15.2 Peça de adenocarcinoma do cólon sincrônico no mesmo segmento. 14 Coloproctologia SJT Residência Médica – 2016 Adenocarcinoma Epitélio adenomatoso Adenocarcinoma Mucosa colônica normal Muscular da mucosa Submucosa Muscular própria Tecido conjuntivo subseroso Adenoma séssilAdenoma pediculado Tecido conjuntivo subseroso própria Muscular Submucosa Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Nível 0 Figura 15.3 Pontos de referência anatômicos de adenomas pediculados e sésseis. Neoplasia maligna primária Cólon Linfáticos vênulas Capilares Estabelecimento do microambiente Fígado Colônias tumorais secundárias (metástases) Extravasamento Aderência de células tumorais Parada nos órgãos Transporte Veia porta Fígado Coração Interação com: Plaquetas, linfócitos e outros componentes do sangue Vascularização Invasão Embolismo Figura 15.4 Cascata das metástases. A metástase é um processo de múltiplas etapas. Para as células tumorais poderem formar focos metastáticos em locais distantes, deverão ser capazes de completar todos os estágios desse processo complexo. 15 SJT Residência Médica – 2016 Figura 15.9 A: lesão em sela. O carcinoma colôni- co polipoide (seta grande) está se propagando cir- cunferencialmente pela parede intestinal (pontas de seta) fazendo com que a lesão tenha o aspecto de uma sela. B: colonoscopia. Lesão tumoral sub- estenosante em cólon sigmoide. Figura 15.12 A: colonoscopia de carcinoma do sig- moide com sangramento ativo. B: carcinoma do cólon com sangramento intermitente. Figura 15.13 A: carcinoma infiltrativo de ceco. B: clis- ter opaco com lesão infiltrativa de ceco. 16 Coloproctologia SJT Residência Médica – 2016 Figura 15.14 Anatomia do cólon e reto e irrigação do cólon. MAS: artéria mesentérica superior; AMI: artéria mesentérica inferior; AIC: artéria ileocólica; ACD: artéria cólica direita; ACM: artéria cólica média; ACE: artéria cólica esquerda; AS: artéria sigmoidea; ARS: artéria retal superior. Figura 15.15 Ressecções para câncer de cólon e reto. A: colectomia direita; B: colectomia direita ampliada; C: transversectomia; D: colectomia esquerda; E: sigmoidectomia; F: retossigmoidectomia; G: anastomose coloanal (di- reta, com reservatório em J); H: amputação de reto. Um mínimo de doze (12) amostras de linfonodos é considerado necessário para definir com precisão o estágio do tumor. tumor de ceco Figura 15.16 Esquema mostrando a extensão da ressecção para tumor de ceco. Colectomia direita conven- cional com ligadura alta das artérias ileocólica e cólica direita e ramo direito da artéria cólica média. A fixação do tumor pode ocorrer no duodeno ou pâncreas, incluindo a avaliação de ressecção em bloco nesses casos. 17 SJT Residência Médica – 2016 tumor do ângulo hepático Figura 15.17 Esquema mostrando a colectomia di- reita ampliada, ressecção de tumor, ângulo hepáti- co e porção direita do cólon transverso. Ligadura do ramo esquerdo da artéria cólica média. tumor do cólon transverso Figura 15.18 Esquema mostrando os limites da ressecção para tumor do cólon transverso. O supri- mento sanguíneo dessa região deriva da artéria cólica média e dos vasos cólicos direito e esquerdo. A flexura esplênica tem maior risco de comprometimento da vas- cularização, em decorrência de seu arco vascular ser mais tênue e com maior comprimento, dificultando a irrigação (ver o artigo). A localização da lesão indica disseminação para os linfáticos regionais da cólica média, cólica direita e ramos da cólica esquerda. Em geral, na lesão proximal indica-se a hemicolectomia direita estendida e no trans- verso distal a hemicolectomia esquerda estendida. Na lesão da porção média do cólon transverso, realiza-se a colectomia do transverso limitada. tumor do ângulo esplênico Figura 15.19 Esquema mostrando a extensão da ressecção convencional para tumor da flexura esplêni- ca e a porção esquerda do cólon transverso. Ligadura da artéria cólica média (ramo esquerdo) e da artéria cólica esquerda preservando-se as artérias sigmoidianas e retal su- perior. Reconstrução do cólon direito ao sigmoide proximal. tumor do cólon descendente Figura 15.20Amplitude de ressecção para tumor do cólon descendente. Colectomia esquerda con- vencional com ligadura de artéria mesentérica inferior. Anastomose colorretal alta. tumor do sigmoide Figura 15.21 Amplitude de ressecção para tumores de sigmoide. A mobilização do ângulo esplênico facilita a realização da anastomose do cólon descendente do reto. A ligadura da artéria mesentérica inferior na origem em relação à ligadura de ramos sigmoideanos é o princí- pio a ser seguido para as lesões no cólon sigmoide. Aten- ção deve ser dada ao detalhe de se deixar remanescente cerca de 1 cm de coto de artéria mesentérica inferior, a fim de não comprometer a preservação simpática dos nervos esplâncnicos pélvicos. 18 Coloproctologia SJT Residência Médica – 2016 tumor da junção retossigmoidiana Figura 15.22 Esquema mostrando a amplitude de ressecção para tumor da junção retossigmoidiana ou reto alto. tumores sincrônicos tumores sincrônicos Figura 15.23 Esquema mostrando a amplitude de ressecção para tumores sincrônicos e para pólipos múltiplos e polipose adenomatosa familiar do cólon – colectomia total ileorretoanastomose. Lembrar que na PAF a cirurgia ideal é proctocolectomia com bolsa ileal. Pressão aumentada Espaço vascular Linha pectínea Pressão diminuída Figura 16.2 Corpos cavernosos: esquema da submucosa do canal anal e o espaço vascular dos corpos cavernosos, sob pressão aumentada e diminuída, contribuindo para a continência fecal. Aorta Sacral média Ilíaca interna Pudenda interna Retal inferior Retal média Retal superior (bifurcação) Sigmoideas Mesentérica inferior Cólica esquerda Figura 16.3 Circulação arterial de anorreto. Representação esquemática das principais artérias da região anorretal. 19 SJT Residência Médica – 2016 Plexo interno Plexo externo Trombose hemorroidária Figura 16.4 Trombose hemorroidária. Representação esquemática do processo inflamatório tromboflebítico no canal anal. Figura 16.5 Trombose hemorroidária. Presença de ex- tensos processos inflamatórios endoflebíticos, com inten- so edema local. Figura 16.6 Lesão fissurária da doença de Crohn: lesão ulcerada do canal anal com bordas definidas e el- evadas de localização posterolateral esquerda. A 45% 5%20% B 30% Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3 Tipo 4 C D Figura 16.9 Localização anatômica das fístulas anorre- tais – Interesfincteriana em A, transesfincteriana em B, su- praesfincteriana em C e extraesfincteriana em D. CAPÍTULO 1 Anatomia e fisiologia do intestino grosso Introdução O intestino grosso abrange o cólon que vai desde a válvula ileocecal, do apêndice até o reto, finalmente aca- bando no canal anal e ânus, dividindo-se em cinco segmentos: � cólon direito (cólon ascendente); � cólon esquerdo (cólon descendente); � cólon transverso; � cólon sigmoide; � reto. A extensão do cólon é de 1,5 metro e compreende as seguintes camadas: serosa – muscular circular – mus- cular longitudinal (tênias) – submucosa – mucosa. Flexura hepática: separa o cólon direito do transverso. Flexura esplênica: separa o transverso do cólon esquerdo. O cólon aparece no quadrante inferior direito e faz a forma de uma ferradura, terminando na pelve. Não existem vilos na mucosa colônica como no intestino delgado; o que é característico histologicamente são as crip- tas de Lieberkun. Embora o cólon seja considerado intraperitonial, é importante lembrar que o cólon ascendente e descenden- te são retroperitoniais. Assim, um divertículo que rompe, por exemplo, no cólon descendente pode dar pneumo- retroperitônio, e não necessariamente pneumoperitônio. Durante a embriologia, o cólon roda em sentido horário ao longo do eixo da artéria mesentérica superior (AMS). O ceco migra do quadrante superior esquerdo do abdome até sua posição anatômica no quadrante infe- rior direito fixado pelo peritônio. Anormalidades do ceco podem ocorrer com rotações incompletas do intestino ou mesmo na má rotação onde o ceco pode se localizar solto na cavidade peritonial, o que pode levar à torção do intestino (volvo). “É nos momentos de decisão que o seu destino é traçado”. – ANTHONY ROBBINS. Existem três diferenças fundamentais do cólon para o intestino delgado: 1. tênias; 2. haustrações; 3. apêndices epiploicos. A camada muscular longitudinal do cólon consti- tui, na tênia, característica do intestino grosso. A união das três tênias é no apêndice vermiforme. No retossig- moide, as tênias geralmente coalescem e formam uma camada muscular única ao reto. Quando as tênias se contraem, fica aquela forma característica do cólon com as haustrações (saculações que se projetam para o inte- rior do cólon e dão o aspecto característico no raio X). As haustrações são semicirculares e diferentes das válvulas coniventes do intestino delgado (válvulas de Ker- ckring), que são circulares na totalidade da luz intestinal. Os apêndices epiploicos são extensões da gordu- ra peritonial na borda antimesentérica do cólon. Ceco e apêndice A válvula ileocecal é um esfíncter localizado na junção do ileoterminal e o ceco. O esfíncter é o resul- tado da fusão das fibras musculares circulares superio- res e inferiores do íleo e ceco, que previnem o refluxo das fezes do ceco de volta ao ileoterminal. Embora não bem desenvolvido anatomicamente como a válvula ileocecal, existe um outro esfíncter na junção do ceco com o cólon ascendente. Essa válvula ce- cocolônica foi estudada in vivo através da colonoscopia e ex vivo em espécimes cirúrgicos após estimulação far- macológica (é equivalente ao rúmen nos ruminantes). O ceco mede de 7-9 cm, é intraperitonial e é fixa- do no peritônio no quadrante inferior direito. Como o ceco é grande em diâmetro, dificilmente existe obstru- ção; na maioria das patologias que acomete essa área existe anemia e sintomas mais arrastados. Lei de la Place = Tensão na parede + pressão x raio Espessura Assim, segundo a lei de La Place, o ceco é geral- mente o sítio de rotura quando existe uma obstrução distal no cólon (obstrução em alça fechada). O apêndice vermiforme geralmente se projeta inferomedialmente no ceco. O comprimento e curso do apêndice são amplamente variáveis, sendo que a ponta do apêndice pode estar apontando para o baço (mais comum), mas também pode estar na pelve ou mesmo retrocecal (na apendicite retrocecal pode ocor- rer diarreia e leucocitúria). Similarmente ao ceco, o apêndice pode ser in- traperitonial ou parcialmente retroperitonial. Quan- do o apêndice é retroperitonial é chamado apêndice retrocecal. Cólon ascendente e flexura hepática do cólon Localiza-se no quadrante direito do abdome, indo até próximo ao fígado (ângulo ou flexura hepáti- ca, medindo 15 cm) onde dobra-se transversalmente para formar o cólon transverso. A flexura hepática do cólon é envolvida por dobra de peritônio que se fixa ao retroperitônio, fígado e vesícula em local muito próxi- mo ao duodeno. Assim, ocasionalmente, os tumores envolvendo a flexura hepática do cólon podem fazer erosão para o duodeno. Cólon transverso e flexura esplênica É totalmente intraperitonial e mede cerca de 50 cm e é a porção mais móvel do cólon, podendo ser acha- do no abdome superior, mas pode chegar até a pelve. O cólon transverso é suspenso pelo mesocólon transverso e coberto pelo omento maior. O omento maior pode ser separado do cólon transverso sem sa- crifício vascular algum. Esse é o plano para a entrada da retrocavidade dos omentons (plano da gastrecto- mia) onde temos a exposição da parede posterior do estômago e pâncreas. A flexura esplênica é o ângulo entre o cólon transverso e o cólon descendente localizado mais ce- falicamente que a flexura hepática. Junto com o reto infraperitonial, a flexura esplênica é uma das mais di- fíceis de se abordar e expor. Os ligamentos espleno- cólico e frenocólico devem ser cuidadosamente dis- secados durante a mobilização do cólon para evitar posterior esplenectomia. Cólon descendente e sigmoideO cólon descendente está no quadrante esquerdo do abdome e vai até o sigmoide. É parcialmente peri- tonizado, pois está retroperitonial. O sigmoide está na pelve e tem a forma de “S” com 10-30 cm e acaba no 22 Coloproctologia SJT Residência Médica – 2016 reto. O sigmoide tem mesentério livre, e muitas ve- zes existe propensão ao volvo. Alguns já descreveram também zona de esfíncter na junção retossigmoide (18 cm da margem anal). É essa área que é propensa a AGANGLIONOSE, criando a acalásia do sigmoide que ocorre não somente por megacólon chagásico, mas também na constipação crônica. Reto Tamanho = 15 cm A junção retossigmoidiana é delimitada por outra flexura em nível de promontório sacral. A junção do sigmoide móvel com o reto, que é mais fixo, forma o ângulo sigmoidorretal. A origem do reto é no promon- tório sacral, fazendo curvas junto ao sacro (válvulas de Houston – geralmente três – que aparecem como pro- jeções intraluminais) e finalmente se acaba no canal anal e ânus. Entretanto, antes do canal anal existe uma anteriorização do reto pelo músculo puborretal (ângulo anorretal). Esses ângulos têm a forma de um número 7 e exercem papel fundamental na manobra de Valsalva com o aumento da pressão intra-abdominal. A ampola retal é a parte mais distal do reto que é fusiforme e vai aumentando progressivamente de tamanho. No reto inferiormente já não existe peritô- nio; assim, podemos dizer que a maior parte do reto é EXTRAPERITONIAL. Sangue e linfáticos chegam ao reto através do mesorreto, que cobre a parede latero- posterior do reto. Ânus É a porção terminal do trato intestinal. É envol- vido por dois tubos musculares que estão envolvidos no mecanismo da continência. Desprovido de glândulas sebáceas, sudoríparas ou mesmo folículos pilosos. O anoderma acaba na margem anal. A área de mucosa colônica que se une ao anoderma cria a linha denteada, que está localizada a 1,5 cm da margem anal. Acima da linha denteada existe zona de transição de 6-12 mm, onde o epitélio escamoso gradualmente muda para cilíndrico simples. Acima da linha denteada (ou pec- tínea), o intestino tem inervação simpática e parassimpá- tica; a irrigação, a drenagem venosa e a linfática estão re- lacionadas aos vasos hipogástricos. Abaixo, a inervação é somática, e o suprimento sanguíneo e a drenagem venosa derivam do sistema hemorroidário inferior. Colunas de Morgani (8 a 14) são pregas na mu- cosa, localizadas acima da linha denteada, onde come- çam a coalescer para formar as criptas anais. O canal anal é envolvido por dois músculos tipo esfíncter que são responsáveis pela continência: Esfíncter interno: continuação da camada muscular interna do reto; é musculatura lisa com controle involun- tário e inervação autônoma. Este músculo liso tem es- pessura média 0,5 cm e comprimento de 2,5 cm a 4 cm. Esfíncter externo: músculo estriado com controle voluntário e inervação somática. A parte mais profun- da do esfincter está intimamente relacionada ao mús- culo puborretal, por qual é considerado atualmente um componente de ambos os grupos musculares, ele- vador do ânus e esfíncter externo do ânus. Vascularização Arterial do cólon Do ceco até a metade proximal do transverso = artéria mesentérica superior (MAS) ½ distal do transverso, cólon descendente e sigmoide = artéria mesentérica inferior (AM) Na maioria das pessoas a artéria ileocólica e a ar- téria cólica média são ramos separados da MAS. A artéria cólica direita nasce da ileocólica ou mesmo da cólica média. A vascularização do cólon esquerdo e sigmoide vem da AMI através da cólica esquerda e ramos de va- sos sigmoidianos e hemorroidários superiores. Arterial do reto É segmentar: 1. artéria retal superior (ramo terminal da AMS) vasculariza o reto superior e médio; 2. artéria retal média e inferior (ramos da artéria ilíaca interna). Artéria marginal de Drummond: bifurcação de va- sos formando arcadas de 1-2 cm da borda mesentérica. Arcada de Riolan: anastomose entre as arcadas de vasos mesentéricos superior e inferior. Anomalias vasculares são relativamente comuns no cólon. Assim, a cólica direita pode nascer da AMS em 10%; a artéria hepática direita acessória pode nas- cer da AMS e mesmo a artéria cólica média pode nas- cer da artéria esplênica. 23 1 Anatomia e fisiologia do intestino grosso SJT Residência Médica – 2016 Omento maior (removido) Tênia omental do colo (exposta pelo gancho) Tênia omental do colo Tênia livre do colo Apêndices omentais (adiposos) Pregas semilunares do colo Junção retossigmoidea Reto Mesocolo sigmoide Tênia livre do colo Tênia mesocólica do colo (exposta pelo gancho) Mesocolo transverso Flexura direita do colo Flexura esquerda do colo Figura 1.1 Topografia e estrutura do cólon. Artéria cólica média Mesocolo transverso Artéria mesentérica superior 1ª artéria jejunal Artérias jejunais e ileais Arco justacólico (artéria marginal do colo) Artéria mesentérica inferior Artéria cólica esquerda Ramo ascendente Ramo descendente Arco justacólico (artéria marginal do colo) Artérias sigmóideas Mesocolo sigmoide Artéria retal superior Artéria retossigmóideas Bifurcação da artéria retal superior Artéria pudenda interna no canal pudendo (de Alcock) Artérias retas Artéria retal infeiorRamo da artéria retal superior Artéria retal média Artéria vesical inferior Artéria vesical superior (da parte aberta da artéria umbilical) Artéria sacral mediana (da parte abdominal da aorta) Artéria obturatória Artéria ilíaca interna Artéria apendicular Artéria cecal posterior Artéria cecal anterior Arco justacólico (artéria marginal do colo) Artéria ileocólica Artéria cólica direita Arco justacólico (artéria marginal do colo) Artéria pancreatico- duodenal inferior Parte comum Artérias retas Ramo posterior Ramo anterior Ramo cólico Ramo ileal Arco justacólico (artéria marginal do colo) Figura 1.2 Suprimento vascular, linfático e nervoso do intestino grosso. Atenção: ponto crítico de Griffiths lo- calizado no ângulo esplênico e que corresponde ao limite de separação entre os territórios da artéria mesentérica superior e inferior. Ponto crítico de SUDECK: é uma região do cólon em que recebe, escassamente, uma mistura de dois suprimentos sanguíneos, das artérias sigmoideanas e retal superior (junção retossigmoide). 24 Coloproctologia SJT Residência Médica – 2016 As artérias intermediárias Situam-se entre os três maiores ramos aórti- cos (AMS, TC e AMI) e os plexos microscópicos. São constituídas por uma rede de vasos anatomicamente visíveis, que incluem os vasos intestinais, as arcadas do intestino delgado e a circulação marginal e os vasos retos do cólon. Os ramos iniciais da AMS para o intes- tino delgado são estreitos, espaçados a intervalos de 1-2 cm e não formam um sistema de arcada. Porém, à medida que se avança distalmente, o sistema torna-se mais complexo e desenvolve-se em uma série de três a quatro arcadas paralelas. A artéria marginal do cólon (formada pela união dos três principais ramos colôni- cos que têm origem no lado direito da AMS) continua em direção à flexura esplênica, para se juntar à artéria cólica esquerda (ramo da AMI). A disposição dos vasos ao longo do cólon direito é constante e inclui uma artéria marginal fornecen- do vasos retos e breves, os quais ocasionalmente se comunicam. Estes vasos retos dividem-se em ramos anterior e posterior, os quais caminham em direção à tênia antimesentérica, onde se dividem novamente e atravessam a musculatura circular. Os vasos breves, por sua vez, dirigem-se para a margem mesentérica onde se anastomosam e, finalmente, atravessam o músculo de cada lado da tênia mesentérica. Tênia antimesentérica Tênia mesentérica Vaso breve Vaso reto Artéria marginal Apêndice epiploico Circulação completa Figura 1.3 Vasos retos e breves. Microcirculação Compreende os vasos intramurais e a circulação para as vilosidades. Os primeiros são constituídos por pequenos ramosque partem dos vasos retos e breves e que se dirigem ao peritônio visceral e apêndices epiploi- cos (no caso do cólon). Abaixo da serosa, eles formam um plexo muscular externo e, após perfurarem o mús- culo, as artérias se unem em um rico plexo submucoso, o qual se estende como uma camada contínua ao longo do intestino. Nesta rede e entre os vasos existe uma ma- lha mais fina, da qual se originam arteríolas que cursam em direção às vilosidades ou entre as criptas para suprir a mucosa. O plexo submucoso é mais desenvolvido no intestino delgado do que no cólon, o que torna aquele mais resistente à isquemia do que este. A densidade vascular é mais pronunciada nas ca- madas mucosa e submucosa. Parecem existir conexões arteriovenosas no plexo submucoso, embora alguns autores considerem que elas sejam pouco numerosas e de pequena importância funcional. Essas comunica- ções são mais facilmente demonstradas no estômago. Os vasos do plexo submucoso fornecem uma única arteríola para cada vilosidade, a qual caminha através do estroma central e se torna capilarizada (isto é, perde a camada muscular lisa) logo após ter deixa- do a base. À medida que se aproxima da ponta da vi- losidade, a arteríola começa a se arborizar, podendo se dividir em um sistema muito complicado de finos canais subepiteliais, os quais eventualmente drenam para uma veia central. Esta relação artéria/veia na cir- culação das vilosidades é extremamente íntima e de crucial importância na manutenção da circulação da mucosa em estados de hipotensão e na produção de pseudomembranas (trocas contracorrentes de oxigê- nio e nutrientes). Como resultado, a extremidade das vilosidades é relativamente hipóxica, o que explica a vulnerabilidade dessas células durante a isquemia. Drenagem venosa Veia mesentérica inferior = carreia sangue do có- lon esquerdo para a veia esplênica. Veia mesentérica superior = carreia sangue do cólon direito e se junta com a veia esplênica para for- mar a veia porta. A veia retal superior carreia sangue do reto supe- rior e médio para a veia porta e mesentérica inferior. As veias retais médias drenam o reto inferior e o canal anal, esvaziando na veia cava via veias ilíacas internas. O importante é notar que tumores do reto po- dem dar metástase para canais venosos que entram no sistema portal (veia porta) ou, ainda, sistêmico (veia cava) e daí disseminação generalizada. Drenagem linfática Os linfáticos intramurais da mucosa e submuco- sa perfuram a camada muscular junto com os vasos e formam a rede linfática subserosa que se dirige à in- serção do mesocólon para formar as cadeias linfáticas extramurais que acompanham os vasos sanguíneos. De acordo com sua localização, formam quatro grupos: epicólicos, paracólicos, intermediários e principais. A drenagem linfática do reto e canal anal se faz através de três pedículos; pedículo superior formado pe- los gânglios que acompanham as artérias retal superior e mesentérica inferior drenando para os gânglios peria- 25 1 Anatomia e fisiologia do intestino grosso SJT Residência Médica – 2016 órticos; pedículo médio, drenando para gânglios ao nível da origem da artéria retal média, sacrais laterais e sacral média; pedículo inferior, que drena a porção inferior do reto e o canal anal para os gânglios inguinais, ilíacos ex- ternos e na origem da artéria pudenta interna. Nodos mesentéricos superiores Nodos ileocólicos Ceco Nodos retais médios Com vasos retais inferiores para os nodos ilíacos internos Nodos ilíacos Para os nodos inguinais Ânus Reto Colo sigmoide Nodos mesentéricos inferiores Nodos cólicos esquerdos Nodos paracólicos AMI AMS Colo Colo Co lo transverso as ce nd en te descendente Figura 1.4 Diagrama dos vasos linfáticos do intestino grosso. Os linfonodos do cólon dispõem-se em quatro grupos – 1: nodos cólicos, sobre a parede do intestino; 2: nodos paracólicos, ao longo das margens mediais dos colos ascendente e descendente; 3: nodos cólicos direitos, médios e esquerdos, ao longo das respectivas artérias cólicas; 4: nodos mesentéricos superiores e in- feriores, próximos aos troncos principais das artérias mesentérica superior (AMS) e inferior (AMI). Inervação do cólon O intestino grosso é inervado por fibras simpáti- cas e parassimpáticas. Simpático: Cólon direito: gânglios celíacos e mesentérico superior; cólon esquerdo: plexo mesentérico inferior. Parassimpático: Cólon direito: nervo vago (X); cólon esquerdo: plexo hipogástrico (pélvico). O parassimpático estimula a motilidade e o sim- pático inibe. Inervação autônoma intrínseca do intestino grosso: Plexo de Meissner (submucoso) e Auerbach (mio- entérico), que são mais numerosos na porção distal do intestino. A ausência ou diminuição desses plexos de- termina distúrbios na motilidade de grande repercus- são clínica (megacólon adquirido ou congênito). Fisiologia A reciclagem dos nutrientes depende da ativida- de metabólica da flora intestinal, da motilidade colô- nica e da absorção e secreção da mucosa. Função do cólon: reciclagem de nutrientes. Função do reto: eliminação das fezes. 1. Absorção de água e eletrólitos O cólon, com sua extensão aproximada de 1,5 m, é o segmento do canal alimentar responsável pela esto- cagem, por longos períodos, dos materiais a serem eli- minados pela evacuação. Essa função ocorre em razão de sua grande complacência, capacidade de adaptação e dos seus movimentos de propulsão, peristálticos, pouco frequentes. A ele cabe, também, concluir as últimas eta- pas da absorção de água que recebe do intestino delgado, o que faz com eficiência até maior, considerando-se que recupera 90% do seu volume, em particular na sua me- tade direita, à custa da passagem de sódio para o meio interno, na troca com potássio, e de cloro por bicarbo- nato, comandadas pela aldosterona. Por intermédio de contrações segmentares, as de maior número, o cólon fica dividido em compartimentos funcionais, retardando o deslocamento caudal do seu conteúdo, o que favorece o contato da água com a mucosa, chegando até a produ- zir movimentos anterógrados com o mesmo objetivo. Não há mais nutrientes a serem absorvidos, à exceção de alguns ácidos graxos, remanescendo apenas a ação dos componentes da flora bacteriana sobre resíduos não di- geridos, a auxiliar a formação final do bolo fecal. O tempo de trânsito fisiológico pelo cólon pode atingir cerca de 48 horas, portanto, muito acima do observado no intestino delgado. 2. Fermentação bacteriana Os glicídios que não foram digeridos sofrem ação bacteriana e ocorre produção de ácidos graxos de ca- deia curta que fornecem energia para o transporte ati- vo de Na+ na mucosa colônica. 3. Armazenamento de fezes Aquilo que não é absorvido fica armazenado no cólon até ser eliminado voluntariamente nas fezes. Aproximadamente 1/3 do peso seco das fezes é BACTÉRIA. Cada grama de fezes contém 1011-1012 bactérias com prevalência de anaeróbios. O intervalo entre as evacuações é influenciado por hábitos alimentares e sociais, sendo mais frequen- temente de 24 horas, mas podendo ser considerados normais intervalos de 8 a 12 horas ou de dois a três dias. O importante, do ponto de vista clínico, são as alterações do hábito intestinal que são muitas vezes um sinal precoce de doenças do cólon e do reto. Bacteroides é anaeróbio e é o germe mais comum no cólon. Escherichia coli é o mais comum aeróbio. 26 Coloproctologia SJT Residência Médica – 2016 4- Gás colônico Resulta de três fatores: (1) ar digerido; (2) produção intraluminal e (3) difusão sanguínea. São eles: nitro- gênio, oxigênio, CO2 e metano. Repare agora nas bactérias que compõem a microbiota indígena (flora normal). Anaeróbicos Coliformes Flora Gram + 101 103 105 107 109 1011 Estômago Duodeno Jejuno Íleo Cólon N úm er o de O rg an is m os / m L Figura 1.5 Composição da flora bacteriana de acordo com a topografia do trato gastrointestinal. 27 1Anatomia e fisiologia do intestino grosso SJT Residência Médica – 2016 CAPÍTULO Abordagem diagnóstica 2 Exame clínico Como na avaliação de qualquer afecção, a histó- ria clínica e o exame físico formam a base para o diag- nóstico das doenças do intestino grosso e do ânus. Ainda, orientam o médico na solicitação do exame complementar ideal, reduzindo custos e minimizando a manipulação do paciente. Os sintomas das afecções colônicas e anorretais são variáveis, e é fundamental a correlação do exame físico com o complementar. Relacionamos a seguir os sinais e sintomas mais comuns em coloproctologia. � Dor abdominal: quando decorrente de disten- são do intestino grosso ou de peristaltismo co- lônico exacerbado, a dor abdominal de origem colônica é geralmente em cólica. A dor é do tipo contínua ou em pontada quando provocada por irritação do peritônio visceral. � Dor anorretal ou proctalgia: quando ocorre durante a defecação, está frequentemente asso- ciada à fissura anal. A proctalgia dos abscessos anorretais é contínua, de forte intensidade, exacerbando-se quando há aumento de pressão intra-abdominal. A dor referida na região sacro- coccígea, de origem proctológica, é rara e geral- mente é ocasionada por inflamação ligamentar ou do periósteo do cóccix. � Prurido anal: sintoma muito comum, tem etiologia variável, que inclui higiene precária, dermatite de contato alérgica (produtos de hi- giene pessoal), irritante primário (detergentes), afecções dermatológicas do períneo (psoríase, fungos dermatófitos e leveduras), neoplasias do ânus ou do canal anal e infestações parasitárias como as por Enterobius vermicularis. Pode estar associado à mucorreia, ao sangramento ou a ul- cerações do anoderma. � Tenesmo: o tenesmo (esforço evacuatório inefe- tivo, longo e doloroso) é um desconforto frequen- te, decorrente de doenças inflamatórias, infeccio- sas ou neoplásicas dos segmentos anorretais. � Alteração do hábito intestinal (constipação e/ ou diarreia): qualquer alteração do hábito intes- tinal, principalmente em pacientes acima de 40 anos, requer investigação colônica. Alteração do hábito intestinal, emagrecimento, anemia e massa palpável sugerem carcinoma do cólon. Os pacientes com carcinomas colorretais distais ou anais podem apresentar fezes em fita, puxo e tenesmo. � Incontinência: é a incapacidade de controlar fe- zes e flatos, que indica a ausência de integridade da musculatura e/ou da inervação esfincteriana. � Prolapso mucoso: é a exteriorização da mu- cosa e submucosa e deve ser diferenciado da procidência, em que todas as camadas do reto são exteriorizadas. Em geral associado à doença hemorroidária, papilas anais hipertróficas ou pólipos, o prolapso mucoso pode ou não ocor- rer durante a evacuação e reduzir-se de forma espontânea ou manual. “O homem consistente acredita no destino, o homem volúvel, no acaso”. – BENJAMIN DISRAELI. 29 2 Abordagem diagnóstica SJT Residência Médica – 2016 � Sangramento: as hemorragias do intestino grosso podem apresentar-se como melena ou enterorragia (hematoquezia), dependendo da intensidade e do local de sangramento. Uma perda de 50 mL de sangue no trato gastroin- testinal superior é suficiente para ocasionar melena. A hemorragia digestiva alta geral- mente produz melena, mas hemorragias ma- ciças do trato gastrointestinal alto ou do in- testino delgado podem exteriorizar-se como enterorragia. A presença de sangue “vivo”, eliminado conjuntamente com as fezes, na superfície externa destas, é geralmente ori- ginária de lesões anorretais distais. Assim, são importantes a sondagem nasogástrica e a aspiração do conteúdo gástrico em pacientes com enterorragia intensa. � Evacuação de muco: a produção de muco, as- sociada ou não ao sangramento, geralmente re- laciona-se a doenças inflamatórias do intestino grosso ou ao adenoma viloso do cólon ou reto. Exame físico No exame abdominal, deve-se observar a presen- ça de distensão, peristaltismo visível ou ascite. Procu- ra-se palpar massas em topografia colônica, identificar a presença de hepatomegalia, esplenomegalia e linfa- denomegalia inguinal. O exame proctológico inicia-se com a inspeção da região perineal. Normalmente o períneo apresenta simetria e o orifício anal como fenda longitudinal. A simples inspeção pode trazer informações importan- tes sobre o anoderma e doenças anorretais como fís- tulas, fissuras, abscessos e hemorroidas. O segundo tempo de um exame proctológico deve ser obrigatoriamente o toque retal, que também deve preceder todos os métodos endoscópicos. Cerca de 60 a 70% dos cânceres do reto e de 25% de todas as neoplasias malignas do intestino grosso são sen- tidos no exame retal. Deve-se sentir a tonicidade dos esfíncteres, em repouso e por contrações voluntárias, estreitamentos anulares ou tubulares e a sensibilida- de dolorosa (presente em fissuras, abscessos, criptites e ulcerações). As paredes retais são de consistência mole, lisa e depressível. A presença de sangue macros- cópico ou oculto deve ser determinada. Os carcinomas colorretais apresentam-se como lesões vegetantes, ul- ceradas e de consistência dura, sem limites precisos. Ainda pelo toque retal, podem-se avaliar a próstata, as vesículas seminais, o útero, os paramétrios e o fundo- -de-saco de Douglas. A anuscopia possibilita a avaliação do canal anal e faz parte do exame proctológico de rotina. Avaliam- -se a presença de doença hemorroidária interna, fis- sura, papilas anais hipertróficas e carcinoma. Existem inúmeros modelos de anuscópicos, sendo que alguns, com iluminação própria, permitem a realização de pe- quenos procedimentos. A ligadura elástica de mamilos hemorroidários internos ou a esfincterotomia para o tratamento cirúrgico da fissura anal são procedimen- tos preferencialmente ambulatoriais. Exame coprológico Macroscopia � Volume: o volume das fezes é variável, de- pendendo do conteúdo de fibras vegetais in- gerida e da concentração de água das fezes. Em uma dieta hospitalar habitual, o volume diário de fezes situa-se entre 100 e 200 mL. Entretanto, nas síndromes diarreicas, como na doença celíaca e na insuficiência pancre- ática exócrina, o volume fecal pode elevar-se para 1 a 2 litros por dia. Em pacientes com síndrome da cólera pancreática, secundária a uma neoplasia endócrina do pâncreas, o vo- lume líquido perdido com as evacuações pode alcançar 10 litros por dia. � Consistência: existe uma ampla variação da consistência normal das fezes. O estado físico depende da dieta, principalmente da quantida- de de fibra ingerida, sendo mais pastosa quanto maior a ingestão de vegetais. � Cor: a cor normal das fezes deriva principal- mente dos pigmentos biliares e varia normal- mente do marrom-claro ao escuro. A dieta pode alterar a coloração das fezes. A ingestão de gran- des quantidades de leite ou laticínios empresta tonalidade clara às fezes, confundindo com a acolia das hepatopatias colestáticas. Alimentos ricos em ferro tingem as fezes de negro e neces- sitam ser diferenciadas de melena. Na insuficiência pancreática exócrina há um aumento dos triglicerídeos nas fezes, que adquirem manchas amareladas. As fezes flutuam e aderem-se à parede do receptáculo. � Odor: o indol e o escatol, derivados da descarbo- xilação do triptofano pela ação bacteriana, são responsáveis pelo odor característico das fezes numa dieta equilibrada. Nas dietas hiperprotei- cas, o odor é mais marcante devido à produção de mercaptanos, ácido sulfúrico, e ao metabo- lismo putrefativo das proteínas. Por outro lado, em uma dieta rica em carboidratos ou láctea, as fezes são quase inodoras. A administração de antibióticos reduz o odor fecal pela diminuição da flora bacteriana entérica. 30 Coloproctologia SJT Residência Médica – 2016 Sangue oculto nas fezes O Hemocult II é o teste mais comumente utiliza- do no rastreamento do câncer colorretal. Novos testes como o Hemocult II SENSA (baseado no guáiaco) e o teste imunoquímicoHemeSelect e FlexSure melhoram a precisão no rastreamento do câncer. Os reativos diferem entre si, principalmente quanto à sua sensibilidade. Em estudo recente, Gre- enberg et al. avaliaram quatro testes em uso isolado e a associação de dois testes (associação de testes imu- noquímicos com os baseados no guáiaco). Compro- varam que testes modernos de pesquisa do sangue oculto melhoram a sensibilidade no rastreamento do câncer colorretal, enquanto o uso de dois testes melhora a especificidade. Devido à alta sensibilidade dos métodos para detecção de sangue oculto nas fezes, é importante sa- lientar que a perda de 1 mL de sangue por dia, dis- tribuído em 150 g de fezes, resulta em uma concen- tração de 1 mg de hemoglobina por grama de fezes, podendo positivar o exame para sangue oculto em 11% das vezes. Normalmente há perdas de 2 a 3 mg de hemoglobina por grama de fezes por dia no trato gastrointestinal, podendo ocasionar resultados falso- -positivos. É importante observar que, quando ocorre melena ou hematêmese persistente por 3 a 5 dias, o teste com o guáiaco pode permanecer positivo por 2 a 3 semanas. Um teste positivo em três amostras de fezes obriga a investigação endoscópica ou radioló- gica do intestino grosso. Cinco estudos controlados demonstraram que pacientes assintomáticos, fora de grupo de risco para câncer colorretal, com idade aci- ma de 50 anos e exame positivo na pesquisa de sangue oculto, tiveram uma prevalência de câncer colorretal ou pólipo adenomatoso de 39% em média (variando de 22 a 58%). Com o objetivo de determinar méto- dos de rastreamento do câncer colorretal, uma meta- -análise foi realizada por Towler et al. Foi observado que um total de 10 mil pacientes submetidos a exame do Hemocult resultaria em 2.800 colonoscopias e na prevenção de 8,5 mortes em um período de dez anos. Estudos fisiológicos São ainda controversos. Geralmente, a história e o exame físico já são suficientes para determinar diagnóstico e tratamento. Entretanto, alguns estudos podem ser úteis: Manometria anorretal: dá informação de tônus e habilidade do esfíncter de se contrair; pode também documentar a presença do reflexo retoesfinctérico (au- sente no Hirschsprung). Eletromiografia (velocidade de condução do nervo pudendo) pode evidenciar lesão aos nervos pudendos que inervam o esfíncter anal. Análise fecal Pesquisa de toxina do Clostridium difficile: deve ser feito em pacientes com diarreia e suspeita de colite pseudomembranosa. Osmolaridade e eletrólitos: ajuda na diferen- ciação entre diarreia secretora e má absorcão. Gap osmótico: (Na+ fecal + K+ fecal) x 2 – osmo- laridade calculada. Se o gap for negativo, significa diarreia secretora. Gap positivo é diarreia de má absorção. Gordura fecal: sugere má absorção. A esteator- reia é a excreção de mais de 7 g de gordura por dia. Mutações K-Ras: têm sido pesquisada nas fezes e representam mutações que predispõem ao apareci- mento de câncer colorretal. Entretanto, têm sido en- contradas também em pacientes com pancolite. Retossigmoidoscopia Pode ser flexível ou rígida. O grande benefício da retossigmoidoscopia em relação à colonoscopia é que pode ser feita sem sedação. Pode ser feita biópsia, po- lipectomia e mesmo hemostase. É interessante na ava- liação das colites de cólon distal (isquêmica, actínica, granulomatosa ou mesmo colite ulcerativa). Antigamente, era muito comum se fazer proc- tosigmoidoscopia rígida para diagnóstico de pato- logias colorretais e ela acabou sendo substituída pela colonoscopia. Entretanto, hoje ainda é utili- zada nos casos em que o coto retal do Hartmann é difícil de ser encontrado e facilita muito para esse achado no intraoperatório. Indicações � Avaliação de anormalidades achadas no enema ba- ritado. � Avaliação e acompanhamento de doença inflamatória. � Diagnóstico diferencial entre doença diverticular e câncer. � Presença de pólipo (ou histório de pólipo prévio). � Sintomas gastrointestinais (sangramento, dor, ane- mia etc.). � Follow-up de ressecção de câncer de cólon. � Sangramento agudo gastrointestinal. � Redução de volvo sigmoide. � Exclusão de metástases sincrônicas (mais de um foco de neo no cólon). Tabela 2.1 31 2 Abordagem diagnóstica SJT Residência Médica – 2016 Estudos radiográficos Enema opaco É exame muito custo-efetivo para identificar patologias do cólon. O problema é que não é efetivo para screening de câncer e não pode fazer diagnóstico definitivo, pois não permite biópsia. Não é necessário fazer sedação, mas necessita de preparo de cólon pre- viamente ao exame. O enema contrastado hidrossolúvel (gastrografi- na) é interessante em casos de suspeita de perfuração intestinal. Nesse caso, o uso do bário poderia induzir à peritonite química e formação de aderências. Tomografia computadorizada Excelente método de avaliação de pacientes com suspeita de diverticulite (enemas podem piorar a in- flamação). Reações inflamatórias podem ser revela- das, bem como abscessos, que podem ser drenados por TC. A TC é útil na detecção de metástases. Ressonância magnética Parece oferecer poucas vantagens sobre a TC. Tal- vez uma das vantagens em especial é a diferenciação entre recidiva cancerosa e fibrose no pós-operatório. O interessante na RM é que não se usa radiação. – Limitantes do método: movimento e gás; isso explica por que a sensibilidade da TC no estadiamento do câncer colorretal é significativamente maior do que na RM. Colonoscopia virtual É o exame do momento. Especula-se que futura- mente esse exame irá substituir a colonoscopia. É si- milar à TC e é feita tomografia em 3D, reconstituindo a mucosa tridimensionalmente. É minimamente inva- siva comparada à TC, sendo mais acurada em relação à localização, forma e tamanho das estruturas. Pode fazer desde detecção de pólipos e/ou carcinomas até o estadiamento de neoplasias colônicas. O nome colonoscopia virtual refere-se à repre- sentação da mucosa em imagem sem a necessidade da endoscopia. Segundo o Consenso do Colégio Brasileiro dos Cirurgiões, a colonoscopia virtual ainda não substi- tui a colonoscopia e não deve ser empregada como tal. Entretanto, em pacientes nos quais não se consegue ou não existem condições clínicas para fazer colonoscopia talvez, a colonoscopia virtual seja uma boa opção. Cintilografia A cintilografia com hemácias marcadas é exa- me de escolha para sangramento baixo ativo do TGI. Atualmente tem ainda duas novas aplicações: trânsito intestinal e rastreamento de recidiva de câncer color- retal (cintilografia rastreadora de CEA). O uso da cintilografia para verificar anormalida- des de trânsito intestinal é uma analogia da cintilo- grafia para detectar anormalidades de esvaziamento gástrico. Assim, alterações na motilidade intestinal podem ser detectadas. Defecografia A defecografia é uma técnica radiográfica contras- tada e dinâmica utilizada para o estudo da evacuação. O exame consiste na ingesta de 300 mL de solução di- luída de bário e na realização do enema de uma pasta de bário no momento do exame. Com o paciente sentado, tomam-se imagens radiográficas; com o paciente em repouso, quando contrai vigorosamente o ânus (conti- nência voluntária); e durante a defecação propriamente dita. Medições são realizadas ao repouso, durante a eva- cuação, e o tempo da evacuação é controlado (que pode ser parcial ou completa). Os seguintes parâmetros são analisados: ângulo anorretal, alterações anatômicas du- rante a continência e a defecação, comprimento e calibre do canal anal e porcentagem de expulsão do material contrastado. Algumas patologias podem ser suspeitadas ou confirmadas com a proctografia evacuatória como a retocele, o anismo, a intussuscepção e o prolapso. Colonoscopia A colonoscopia é um excelente método diagnóstico das afecções do intestino grosso, apresentando sensibilida- de e, quando realizada sob condições ideais, a especificida- de é próxima a 100%. Quando realizada por endoscopistas experientes,a frequência de colonoscopia total (intubação cecal) varia entre 91 e 99% em vários estudos publicados. Estudos recentes reportam taxas de complicações varian- do de 0,2 a 1% para sangramento importante, de 0 a 0,2% para perfuração e de 0 a 0,06% para mortalidade. As soluções orais para limpeza colônica mais co- mumente utilizadas são o polietileno glicol (PEG), a solução de fosfato de sódio e, no Brasil, a solução de manitol a 10%. Apesar de obrigar o paciente a ingerir um grande volume líquido, as vantagens do PEG são as de uma solução osmoticamente balanceada (uma solução eletrolítica não absorvida), que limpa o intes- tino por simples lavagem e não promove trocas signi- ficativas de água e eletrólitos. A solução de fosfato de sódio e o manitol são preparados hiperosmóticos que promovem a secreção de fluídos na luz para estimular a evacução. Apresentam grande tolerabilidade, mas al- 32 Coloproctologia SJT Residência Médica – 2016 teram os níveis de eletrólitos e podem causar depleção do volume intravascular. O manitol e a solução fosfa- tada estão contraindicados em pacientes com insufi- ciência renal, cardiopatia congestiva ou isquêmica e ascite. Os esquemas de preparo podem ser alterados (como nos casos de retocolite ulcerativa) ou até mes- mo contraindicados (como na suboclusão intestinal). É exame que substituiu o enema baritado desde 1990. Apesar de a colonoscopia permitir visualização direta da mucosa, o índice de detecção de lesões não é 100%. Isso ocorre porque o colonoscópio passa rapi- damente por determinadas áreas tipo junção retossig- moidiana, flexura hepática e esplênica. Indicações para estudo diagnóstico Estudo Indicações mais comuns Raio X Obstrução, perfuração, megacólon tóxico Enema baritado Sangramento retal (investigação eletiva) Trânsito intestinal Constipação crônica Colonoscopia Screening/Follow-up câncer colo, biópsia, polipectomia Sigmoidoscopia flexível Monitorização colite distal, redu- ção de volvo Sigmoidoscopia rígida Planejo pré ou intraoperatório, redução volvo TC Câncer colorretal, diverticulite, doença inflamatória RNM Câncer de reto Ultrassom abdo- minal Avaliação de massa em sigmoide Ultrassom endorretal Câncer de reto, incontinência fecal Defecografia Prolapso retal, constipação crônica Manometria anorretal Incontinência fecal Cintilografia Sangramento, constipação crônica, recidiva de câncer cólon Colonoscopia virtual Rastreamento de câncer de cólon Tabela 2.2 Sabiston, 2001. Ultrassom endorretal É a interpretação ultrassonográfica de quatro ca- madas básicas da parede e tecidos do reto e do canal anal: a submucosa, o esfíncter anal interno, a camada longitudinal e o esfíncter anal externo. É um exame pouco disponível no Brasil, mas não expõe o doente a radiações ionizantes. Sua principal limitação é a este- nose da luz retal menor do que 2 cm (o que impossibi- lita a introdução do transdutor). O exame é realizado com a introdução endorre- tal do transdutor do aparelho ultrassonográfico. Es- tudam-se 360º de toda a parede retal e as estruturas pélvicas adjacentes. Nas mulheres, também podem ser obstipadas imagens com o transdutor introduzi- do via vaginal. A ultrassonografia intrarretal é muito utilizada na avaliação de possíveis lesões traumáti- cas dos esfíncteres. Também é um método útil para o estagiamento das neoplasias do reto, da invasão dos órgãos adjacentes e linfonodos comprometidos. Pode auxiliar, portanto, na determinação do procedimen- to cirúrgico a ser empregado. A correlação histopatológica do grau de infiltra- ção neoplásica da parede intestinal (estagiamento T) varia entre 80 e 95% quando comparado com 65 e 75% da tomografia e 75 e 85% da ressonância magnética. Em estudos recentes, a precisão do ultrassom na de- tecção de linfonodos perirretais comprometidos tem sido desapontadora. Resultados demonstram preci- são aproximada entre 70 e 75% para a ultrassono- grafia, comparada com 55 e 65% da tomografia e 60 a 65% da ressonância magnética. O exame ultrasso- nográfico é operador-dependente, e estudos demons- trando baixa correlação histopatológica não são uma surpresa, já que 20% dos linfonodos comprometidos são menores que 5 mm. Outras aplicações da ultrassonografia intrarretal são o seguimento pós-operatório do câncer, objetivan- do a detecção precoce de recidivas locais e regionais, é a avaliação da fístula perianal, da dor anal de etiologia desconhecida ou abscessos. 33 2 Abordagem diagnóstica SJT Residência Médica – 2016 Exame clínico Como na avaliação de qualquer afecção, a histó- ria clínica e o exame físico formam a base para o diag- nóstico das doenças do intestino grosso e do ânus. Ainda, orientam o médico na solicitação do exame complementar ideal, reduzindo custos e minimizando a manipulação do paciente. Os sintomas das afecções colônicas e anorretais são variáveis, e é fundamental a correlação do exame físico com o complementar. Relacionamos a seguir os sinais e sintomas mais comuns em coloproctologia. � Dor abdominal: quando decorrente de disten- são do intestino grosso ou de peristaltismo co- lônico exacerbado, a dor abdominal de origem colônica é geralmente em cólica. A dor é do tipo contínua ou em pontada quando provocada por irritação do peritônio visceral. � Dor anorretal ou proctalgia: quando ocorre durante a defecação, está frequentemente asso- ciada à fissura anal. A proctalgia dos abscessos anorretais é contínua, de forte intensidade, exacerbando-se quando há aumento de pressão intra-abdominal. A dor referida na região sacro- coccígea, de origem proctológica, é rara e geral- mente é ocasionada por inflamação ligamentar ou do periósteo do cóccix. � Prurido anal: sintoma muito comum, tem etiologia variável, que inclui higiene precária, dermatite de contato alérgica (produtos de hi- giene pessoal), irritante primário (detergentes), afecções dermatológicas do períneo (psoríase, fungos dermatófitos e leveduras), neoplasias do ânus ou do canal anal e infestações parasitárias como as por Enterobius vermicularis. Pode estar associado à mucorreia, ao sangramento ou a ul- cerações do anoderma. � Tenesmo: o tenesmo (esforço evacuatório inefe- tivo, longo e doloroso) é um desconforto frequen- te, decorrente de doenças inflamatórias, infeccio- sas ou neoplásicas dos segmentos anorretais. � Alteração do hábito intestinal (constipação e/ ou diarreia): qualquer alteração do hábito intes- tinal, principalmente em pacientes acima de 40 anos, requer investigação colônica. Alteração do hábito intestinal, emagrecimento, anemia e massa palpável sugerem carcinoma do cólon. Os pacientes com carcinomas colorretais distais ou anais podem apresentar fezes em fita, puxo e tenesmo. � Incontinência: é a incapacidade de controlar fe- zes e flatos, que indica a ausência de integridade da musculatura e/ou da inervação esfincteriana. � Prolapso mucoso: é a exteriorização da mu- cosa e submucosa e deve ser diferenciado da procidência, em que todas as camadas do reto são exteriorizadas. Em geral associado à doença hemorroidária, papilas anais hipertróficas ou pólipos, o prolapso mucoso pode ou não ocor- rer durante a evacuação e reduzir-se de forma espontânea ou manual. � Sangramento: as hemorragias do intestino grosso podem apresentar-se como melena ou enterorragia (hematoquezia), dependendo da intensidade e do local de sangramento. Uma perda de 50 mL de sangue no trato gastroin- testinal superior é suficiente para ocasionar melena. A hemorragia digestiva alta geral- mente produz melena, mas hemorragias ma- ciças do trato gastrointestinal alto ou do in- testino delgado podem exteriorizar-se como enterorragia. A presença de sangue “vivo”, eliminado conjuntamente com as fezes, na superfície externa destas, é geralmente ori- ginária de lesões anorretais distais. Assim, são importantes a sondagem nasogástrica e a aspiração do conteúdo gástrico em pacientes com enterorragia intensa. � Evacuação de muco: a produçãode muco, as- sociada ou não ao sangramento, geralmente re- laciona-se a doenças inflamatórias do intestino grosso ou ao adenoma viloso do cólon ou reto. Exame físico No exame abdominal, deve-se observar a presen- ça de distensão, peristaltismo visível ou ascite. Procu- ra-se palpar massas em topografia colônica, identificar a presença de hepatomegalia, esplenomegalia e linfa- denomegalia inguinal. O exame proctológico inicia-se com a inspeção da região perineal. Normalmente o períneo apresenta simetria e o orifício anal como fenda longitudinal. A simples inspeção pode trazer informações importan- tes sobre o anoderma e doenças anorretais como fís- tulas, fissuras, abscessos e hemorroidas. O segundo tempo de um exame proctológico deve ser obrigatoriamente o toque retal, que também deve preceder todos os métodos endoscópicos. Cerca de 60 a 70% dos cânceres do reto e de 25% de todas as neoplasias malignas do intestino grosso são sen- tidos no exame retal. Deve-se sentir a tonicidade dos esfíncteres, em repouso e por contrações voluntárias, estreitamentos anulares ou tubulares e a sensibilida- de dolorosa (presente em fissuras, abscessos, criptites e ulcerações). As paredes retais são de consistência mole, lisa e depressível. A presença de sangue macros- cópico ou oculto deve ser determinada. Os carcinomas colorretais apresentam-se como lesões vegetantes, ul- ceradas e de consistência dura, sem limites precisos. Ainda pelo toque retal, podem-se avaliar a próstata, as vesículas seminais, o útero, os paramétrios e o fundo- -de-saco de Douglas. A anuscopia possibilita a avaliação do canal anal e faz parte do exame proctológico de rotina. Avaliam- -se a presença de doença hemorroidária interna, fissu- ra, papilas anais hipertróficas e carcinoma. 34 Coloproctologia SJT Residência Médica – 2016 Existem inúmeros modelos de anuscópicos, sendo que alguns, com iluminação própria, per- mitem a realização de pequenos procedimentos. A ligadura elástica de mamilos hemorroidários inter- nos ou a esfincterotomia para o tratamento cirúrgi- co da fissura anal são procedimentos preferencial- mente ambulatoriais. Exame coprológico Macroscopia � Volume: o volume das fezes é variável, de- pendendo do conteúdo de fibras vegetais in- gerida e da concentração de água das fezes. Em uma dieta hospitalar habitual, o volume diário de fezes situa-se entre 100 e 200 mL. Entretanto, nas síndromes diarreicas, como na doença celíaca e na insuficiência pancre- ática exócrina, o volume fecal pode elevar-se para 1 a 2 litros por dia. Em pacientes com síndrome da cólera pancreática, secundária a uma neoplasia endócrina do pâncreas, o vo- lume líquido perdido com as evacuações pode alcançar 10 litros por dia. � Consistência: existe uma ampla variação da consistência normal das fezes. O estado físico depende da dieta, principalmente da quantida- de de fibra ingerida, sendo mais pastosa quanto maior a ingestão de vegetais. � Cor: a cor normal das fezes deriva principal- mente dos pigmentos biliares e varia normal- mente do marrom-claro ao escuro. A dieta pode alterar a coloração das fezes. A ingestão de gran- des quantidades de leite ou laticínios empresta tonalidade clara às fezes, confundindo com a acolia das hepatopatias colestáticas. Alimentos ricos em ferro tingem as fezes de negro e neces- sitam ser diferenciadas de melena. Na insuficiência pancreática exócrina há um aumento dos triglicerídeos nas fezes, que adquirem manchas amareladas. As fezes flutuam e aderem-se à parede do receptáculo. � Odor: o indol e o escatol, derivados da descarbo- xilação do triptofano pela ação bacteriana, são responsáveis pelo odor característico das fezes numa dieta equilibrada. Nas dietas hiperprotei- cas, o odor é mais marcante devido à produção de mercaptanos, ácido sulfúrico, e ao metabo- lismo putrefativo das proteínas. Por outro lado, em uma dieta rica em carboidratos ou láctea, as fezes são quase inodoras. A administração de antibióticos reduz o odor fecal pela diminuição da flora bacteriana entérica. Sangue oculto nas fezes O Hemocult II é o teste mais comumente utiliza- do no rastreamento do câncer colorretal. Novos testes como o Hemocult II SENSA (baseado no guáiaco) e o teste imunoquímico HemeSelect e FlexSure melhoram a precisão no rastreamento do câncer. Os reativos diferem entre si, principalmente quanto à sua sensibilidade. Em estudo recente, Gre- enberg et al. avaliaram quatro testes em uso isolado e a associação de dois testes (associação de testes imu- noquímicos com os baseados no guáiaco). Compro- varam que testes modernos de pesquisa do sangue oculto melhoram a sensibilidade no rastreamento do câncer colorretal, enquanto o uso de dois testes melhora a especificidade. Devido à alta sensibilidade dos métodos para detecção de sangue oculto nas fezes, é importante sa- lientar que a perda de 1 mL de sangue por dia, dis- tribuído em 150 g de fezes, resulta em uma concen- tração de 1 mg de hemoglobina por grama de fezes, podendo positivar o exame para sangue oculto em 11% das vezes. Normalmente há perdas de 2 a 3 mg de hemoglobina por grama de fezes por dia no trato gastrointestinal, podendo ocasionar resultados falso- -positivos. É importante observar que, quando ocorre melena ou hematêmese persistente por 3 a 5 dias, o teste com o guáiaco pode permanecer positivo por 2 a 3 semanas. Um teste positivo em três amostras de fezes obriga a investigação endoscópica ou radioló- gica do intestino grosso. Cinco estudos controlados demonstraram que pacientes assintomáticos, fora de grupo de risco para câncer colorretal, com idade acima de 50 anos e exame positivo na pesquisa de sangue oculto, tiveram uma prevalência de câncer colorretal ou pólipo adenomatoso de 39% em média (variando de 22 a 58%). Com o objetivo de determinar méto- dos de rastreamento do câncer colorretal, uma meta- -análise foi realizada por Towler et al. Foi observado que um total de 10 mil pacientes submetidos a exame do Hemocult resultaria em 2.800 colonoscopias e na prevenção de 8,5 mortes em um período de dez anos. Estudos fisiológicos São ainda controversos. Geralmente, a história e o exame físico já são suficientes para determinar diagnóstico e tratamento. Entretanto, alguns estudos podem ser úteis: Manometria anorretal: dá informação de tônus e habilidade do esfíncter de se contrair; pode também documentar a presença do reflexo retoesfinctérico (au- sente no Hirschsprung). Eletromiografia (velocidade de condução do nervo pudendo) pode evidenciar lesão aos nervos pudendos que inervam o esfíncter anal. 35 2 Abordagem diagnóstica SJT Residência Médica – 2016 Análise fecal Pesquisa de toxina do Clostridium difficile: deve ser feito em pacientes com diarreia e suspeita de colite pseudomembranosa. Osmolaridade e eletrólitos: ajuda na diferen- ciação entre diarreia secretora e má absorcão. Gap osmótico: (Na+ fecal + K+ fecal) x 2 – osmo- laridade calculada. Se o gap for negativo, significa diarreia secretora. Gap positivo é diarreia de má absorção. Gordura fecal: sugere má absorção. A esteator- reia é a excreção de mais de 7 g de gordura por dia. Mutações K-Ras: têm sido pesquisada nas fezes e representam mutações que predispõem ao apareci- mento de câncer colorretal. Entretanto, têm sido en- contradas também em pacientes com pancolite. Retossigmoidoscopia Pode ser flexível ou rígida. O grande benefício da retossigmoidoscopia em relação à colonoscopia é que pode ser feita sem sedação. Pode ser feita biópsia, po- lipectomia e mesmo hemostase. É interessante na ava- liação das colites de cólon distal (isquêmica, actínica, granulomatosa ou mesmo colite ulcerativa). Antigamente, era muito comum se fazer proc- tosigmoidoscopia rígida para diagnóstico de pato- logias colorretais e ela acabou sendo substituída pela colonoscopia. Entretanto, hoje ainda é utili- zada nos casos em que o coto retal do Hartmann é difícil de ser encontrado e facilita muito para esseachado no intraoperatório. Indicações � Avaliação de anormalidades achadas no enema ba- ritado. � Avaliação e acompanhamento de doença inflamatória. � Diagnóstico diferencial entre doença diverticular e câncer. � Presença de pólipo (ou histório de pólipo prévio). � Sintomas gastrointestinais (sangramento, dor, ane- mia etc.). � Follow-up de ressecção de câncer de cólon. � Sangramento agudo gastrointestinal. � Redução de volvo sigmoide. � Exclusão de metástases sincrônicas (mais de um foco de neo no cólon). Tabela 2.1 Estudos radiográficos Enema opaco É exame muito custo-efetivo para identificar patologias do cólon. O problema é que não é efetivo para screening de câncer e não pode fazer diagnóstico definitivo, pois não permite biópsia. Não é necessário fazer sedação, mas necessita de preparo de cólon pre- viamente ao exame. O enema contrastado hidrossolúvel (gastrografi- na) é interessante em casos de suspeita de perfuração intestinal. Nesse caso, o uso do bário poderia induzir à peritonite química e formação de aderências. Tomografia computadorizada Excelente método de avaliação de pacientes com suspeita de diverticulite (enemas podem piorar a in- flamação). Reações inflamatórias podem ser revela- das, bem como abscessos, que podem ser drenados por TC. A TC é útil na detecção de metástases. Ressonância magnética Parece oferecer poucas vantagens sobre a TC. Tal- vez uma das vantagens em especial é a diferenciação entre recidiva cancerosa e fibrose no pós-operatório. O interessante na RM é que não se usa radiação. – Limitantes do método: movimento e gás; isso explica por que a sensibilidade da TC no estadiamento do câncer colorretal é significativamente maior do que na RM. Colonoscopia virtual É o exame do momento. Especula-se que futura- mente esse exame irá substituir a colonoscopia. É si- milar à TC e é feita tomografia em 3D, reconstituindo a mucosa tridimensionalmente. É minimamente inva- siva comparada à TC, sendo mais acurada em relação à localização, forma e tamanho das estruturas. Pode fazer desde detecção de pólipos e/ou carcinomas até o estadiamento de neoplasias colônicas. O nome colonoscopia virtual refere-se à repre- sentação da mucosa em imagem sem a necessidade da endoscopia. Segundo o Consenso do Colégio Brasileiro dos Cirurgiões, a colonoscopia virtual ainda não substi- tui a colonoscopia e não deve ser empregada como tal. Entretanto, em pacientes nos quais não se consegue ou não existem condições clínicas para fazer colonoscopia talvez, a colonoscopia virtual seja uma boa opção. 36 Coloproctologia SJT Residência Médica – 2016 Cintilografia A cintilografia com hemácias marcadas é exa- me de escolha para sangramento baixo ativo do TGI. Atualmente tem ainda duas novas aplicações: trânsito intestinal e rastreamento de recidiva de câncer color- retal (cintilografia rastreadora de CEA). O uso da cintilografia para verificar anormalida- des de trânsito intestinal é uma analogia da cintilo- grafia para detectar anormalidades de esvaziamento gástrico. Assim, alterações na motilidade intestinal podem ser detectadas. Defecografia A defecografia é uma técnica radiográfica contras- tada e dinâmica utilizada para o estudo da evacuação. O exame consiste na ingesta de 300 mL de solução di- luída de bário e na realização do enema de uma pasta de bário no momento do exame. Com o paciente sentado, tomam-se imagens radiográficas; com o paciente em repouso, quando contrai vigorosamente o ânus (conti- nência voluntária); e durante a defecação propriamente dita. Medições são realizadas ao repouso, durante a eva- cuação, e o tempo da evacuação é controlado (que pode ser parcial ou completa). Os seguintes parâmetros são analisados: ângulo anorretal, alterações anatômicas du- rante a continência e a defecação, comprimento e calibre do canal anal e porcentagem de expulsão do material contrastado. Algumas patologias podem ser suspeitadas ou confirmadas com a proctografia evacuatória como a retocele, o anismo, a intussuscepção e o prolapso. Colonoscopia A colonoscopia é um excelente método diagnóstico das afecções do intestino grosso, apresentando sensibilida- de e, quando realizada sob condições ideais, a especificida- de é próxima a 100%. Quando realizada por endoscopistas experientes, a frequência de colonoscopia total (intubação cecal) varia entre 91 e 99% em vários estudos publicados. Estudos recentes reportam taxas de complicações varian- do de 0,2 a 1% para sangramento importante, de 0 a 0,2% para perfuração e de 0 a 0,06% para mortalidade. As soluções orais para limpeza colônica mais co- mumente utilizadas são o polietileno glicol (PEG), a solução de fosfato de sódio e, no Brasil, a solução de manitol a 10%. Apesar de obrigar o paciente a ingerir um grande volume líquido, as vantagens do PEG são as de uma solução osmoticamente balanceada (uma solução eletrolítica não absorvida), que limpa o intes- tino por simples lavagem e não promove trocas signi- ficativas de água e eletrólitos. A solução de fosfato de sódio e o manitol são preparados hiperosmóticos que promovem a secreção de fluídos na luz para estimular a evacução. Apresentam grande tolerabilidade, mas al- teram os níveis de eletrólitos e podem causar depleção do volume intravascular. O manitol e a solução fosfa- tada estão contraindicados em pacientes com insufi- ciência renal, cardiopatia congestiva ou isquêmica e ascite. Os esquemas de preparo podem ser alterados (como nos casos de retocolite ulcerativa) ou até mes- mo contraindicados (como na suboclusão intestinal). É exame que substituiu o enema baritado desde 1990. Apesar de a colonoscopia permitir visualização direta da mucosa, o índice de detecção de lesões não é 100%. Isso ocorre porque o colonoscópio passa rapi- damente por determinadas áreas tipo junção retossig- moidiana, flexura hepática e esplênica. Indicações para estudo diagnóstico Estudo Indicações mais comuns Raio X Obstrução, perfuração, megacólon tóxico Enema baritado Sangramento retal (investigação eletiva) Trânsito intestinal Constipação crônica Colonoscopia Screening/Follow-up câncer colo, biópsia, polipectomia Sigmoidoscopia flexível Monitorização colite distal, redu- ção de volvo Sigmoidoscopia rígida Planejo pré ou intraoperatório, redução volvo TC Câncer colorretal, diverticulite, doença inflamatória RNM Câncer de reto Ultrassom abdo- minal Avaliação de massa em sigmoide Ultrassom endorretal Câncer de reto, incontinência fecal Defecografia Prolapso retal, constipação crônica Manometria anorretal Incontinência fecal Cintilografia Sangramento, constipação crônica, recidiva de câncer cólon Colonoscopia virtual Rastreamento de câncer de cólon Tabela 2.2 Sabiston, 2001. Ultrassom endorretal É a interpretação ultrassonográfica de quatro ca- madas básicas da parede e tecidos do reto e do canal anal: a submucosa, o esfíncter anal interno, a camada longitudinal e o esfíncter anal externo. É um exame pouco disponível no Brasil, mas não expõe o doente a radiações ionizantes. Sua principal limitação é a este- nose da luz retal menor do que 2 cm (o que impossibi- lita a introdução do transdutor). 37 2 Abordagem diagnóstica SJT Residência Médica – 2016 O exame é realizado com a introdução endorre- tal do transdutor do aparelho ultrassonográfico. Es- tudam-se 360º de toda a parede retal e as estruturas pélvicas adjacentes. Nas mulheres, também podem ser obstipadas imagens com o transdutor introduzi- do via vaginal. A ultrassonografia intrarretal é muito utilizada na avaliação de possíveis lesões traumáti- cas dos esfíncteres. Também é um método útil para o estagiamento das neoplasias do reto, da invasão dos órgãos adjacentes e linfonodos comprometidos. Pode auxiliar, portanto, na determinação do procedimen- to cirúrgico a ser empregado. A correlação histopatológica do grau de infiltra- ção neoplásica da parede intestinal (estagiamento T) varia entre 80 e 95% quando comparado com 65
Compartilhar