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CARTILHA SOBRE BAMBU Abordagem dos principais aspectos que envolvem o MANEJO ADEQUADO desta versátil planta, que acompanha a história da humanidade desde tempos imemoriáveis e que tem sido vista como “A MADEIRA DO FUTURO”, por sua alta produtividade e excelentes características físicas, química e mecânicas. 2017 2 Esta cartilha foi elaborada com a intenção de divulgar informações sobre as potencialidades do bambu, uma planta muito especial, que acompanha a humanidade desde os seus primórdios e que até hoje, mesmo com toda a tecnologia e modernidade, está sendo vista como “a madeira do futuro”. As informações aqui contidas são frutos de pesquisa teórica e prática, iniciada em meados de 2005. Começou como um hobby de final de semana, criando luminárias e artefatos com o bambu. Com o passar do tempo o trabalho foi crescendo e criou-se a necessidade de maior conhecimento sobre esta versátil planta, pois algumas peças foram rapidamente devoradas pelos carunchos. Quando comecei a pesquisar sobre o bambu fiquei impressionado com as possibilidades de utilização, grande variedade de gêneros e espécies e inúmeras outras particularidades desta planta. No final de 2009 iniciamos o Projeto “Espaço Naturalmente”, um local que serve como um laboratório, onde testamos e desenvolvemos as técnicas de Permacultura, como saneamento ecológico, Bioconstrução com Terra Crua e Bambu, fornos e fogões à lenha com combustão eficiente, jardins comestíveis e alimentos orgânicos de polinização aberta/sementes crioulas, artefatos de bambu etc. Neste local também ministramos cursos relacionados a Permacultura, Bambu e Bioconstrução. Nesta caminhada percebemos que através do PLANEJAMENTO ECOLÓGICO, utilizando das técnicas de Permacultura, que é o resgate da cultura tradicional somada as ciências modernas, e se utilizando de uma forte base “ÉTICA” (Cuidado com a Terra / Cuidado com as Pessoas / Partilha Justa dos Recursos Naturais) podemos criar ambientes humanos sustentáveis (casas / comunidades) totalmente integrados com o ambiente e ecossistema. Podemos utilizar recursos locais, respeitando e entendendo os ciclos naturais, adaptando a arquitetura ao clima local, produzindo alimentos saudáveis e nutritivos através das técnicas de agroecologia e agrofloresta, saneando o esgoto através de “Jardins Filtradores” (Saneamento Ecológico), utilizando e desenvolvendo tecnologias apropriadas e utilizando energias renováveis, reinserindo o “Ser Humano” em seu habitat natural, de forma cooperativa com a natureza e com as pessoas! E tudo isto através de técnicas de fácil entendimento e aplicação, sendo apenas necessário empenho e dedicação no desenvolvimento prático destas técnicas, no melhor estilo “faça você mesmo”, junto com amigos e familiares. Quando construímos algo coletivamente, estamos construindo também laços de amizade e alegria, pois a cooperação faz parte da essência humana e assim se contagia facilmente as pessoas ao redor de algo em comum e positivo para todos! Isto não tem nada de novo, é o resgate de uma cultura humana integrada com a sua Mãe Natureza! Carlos Eduardo da Silveira Bambuzeiro e Permacultor 3 Índice 1- Introdução...........................................................4 2- História................................................................5 3- Botânica...............................................................7 4- Morfologia............................................................8 5- Crescimento e Desenvolvimento dos Colmos......11 6- Florescimento.....................................................12 7- Cultivo................................................................12 8- Manejo................................................................13 9- Plantio................................................................16 10- Corte.................................................................19 11- Cura..................................................................22 12- Tratamento.......................................................23 13- Armazenagem de colmos..................................28 14-Espécies e Aplicações.........................................29 15-Diversos.............................................................33 16-Bambu Medicinal................................................34 17-Detalhes Práticos...............................................35 Anexos....................................................................35 4 1-Introdução BAMBU: um recurso sustentável e renovável ●Planta perene e rústica que pode ser cultivada em solos com baixa fertilidade; ●Depois que um bambuzal atinge sua idade adulta, em torno de 5 a 8 anos, produz colmos (troncos) anualmente; ●Não precisa ser replantado (a extração de madeira é apenas uma “poda”). Um bambuzal bem manejado pode viver mais de 120 anos; ●Brotos para alimentação, rico em proteínas, fibras e substâncias antioxidantes. Pode substituir a extração do Palmito Juçara, ameaçado de extinção; ●Fitorremediação (utilização de plantas como agentes descontaminantes de solo e água) que pode ser utilizada em recuperação de áreas degradadas. O bambu também pode ser utilizado no tratamento de águas residuais de esgotos domésticos; ●Ciclagem de nutrientes (grande produção de biomassa); ●Grande versatilidade de aplicações e usos; ●Excelentes características físicas, químicas e mecânicas. Frases sobre o Bambu: “Por se tratar de uma planta tropical, perene, renovável e que produz colmos anualmente sem a necessidade de replantio, o Bambu apresenta um grande potencial agrícola. Além de ser um eficiente sequestrador de carbono, apresenta excelentes características físicas, químicas e mecânicas. Pode ser utilizado em reflorestamentos, na recomposição de matas ciliares, e também como um protetor e regenerador ambiental, bem como pode ser empregado em diversas aplicações ao natural ou após sofrer um adequado processamento. Porém o Bambu ainda é pouco utilizado, quer seja pelo desconhecimento de suas espécies, de suas características e aplicações, quer seja devido à falta de pesquisas específicas e à ineficiente divulgação das informações disponíveis. No Brasil, o uso que se faz do Bambu, excetuando-se a produção de papel, está restrito a algumas aplicações tradicionais, como artesanato, vara de pescar, fabricação de móveis, e na produção de brotos comestíveis (PEREIRA, 2001).” “O Bambu é o recurso natural que se renova em menor intervalo de tempo, não havendo nenhuma outra espécie florestal que possa competir com o Bambu em velocidade de crescimento e de aproveitamento por área (JARAMILLO, 1992).” “O Bambu, uma planta predominantemente tropical e que cresce mais rapidamente do que qualquer outra planta do planeta, necessitando, em média, de 3 a 6 meses para que um broto atinja sua altura máxima, de até 30 metros, para as espécies denominadas de gigantes, apresenta uma admirável vitalidade, grande versatilidade, leveza, resistência e facilidade em ser trabalhado com ferramentas simples, formidável beleza do colmo ao natural ou após ser processado, qualidades que lhe têm proporcionado o mais longo e variado papel 5 na evolução da cultura humana, quando comparado com qualquer outro tipo de planta (FARRELY, 1984).” “O Bambu sempre esteve presente na cultura e na vida diária do homem primitivo de todos os continentes com exceção da Europa que não tem o Bambu na forma nativa. Nos tempos mais remotos o Bambu era empregado na fabricação de arcos e flechas, habitações, utensílios domésticos, embarcações e outros. Mais tarde o Bambu foi matéria prima na construção da primeira lâmpada, avião e bicicleta (SALGADO,1992).” Estudos realizados no Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia da UNESP em Bauru mostram que as espécies mais indicadas para o uso estrutural na construção civil são as dos gêneros Guadua (conhecido no Brasil como Taquaruçu), Dendrocalamus (denominado Bambu gigante ou Bambu balde) e Phyllostachys pubescens. 2-História A origem do Bambu, segundo Hidalgo Lopes, remonta o final do período Cretáceo e início do período Terciário, por volta de 65 milhões de anos atrás. Sítios arqueológicos no Equador mostram que o Bambu é utilizado há cerca de 5000 anos na América do Sul, primeiramente pelos indígenas. O artigo do Dr. J.J. Parsons na Geographical Review Vol. 81: “Giant American Bamboo in the Vernacular Architeture os Colombia and Ecuador”, de 1991 é didático no assunto. Pontes, cercas, barricadas, aquedutos e até prisões já foram feitas de bambu da espécie Guadua Angustifolia, preferido dos colombianos e equatorianos. O Bambu foi e é utilizado das mais variadas formas possíveis, alimentação humana, palitos de dentes e churrasco, palhetas de saxofones, pranchas de surf, skate, como armadilhas para peixes e como Arma de Guerra. No Quilombo dos Palmares foram usadas Armadilhas de bambu, como arma de defesa, também usavam paliçadas, de forma a impedir o avanço do inimigo. O bambu por ser biodegradável, quando soterrado, não apresenta a mesma resistência que materiais como; pedra, osso, cerâmica, vidro, chifre, metais, dificultando sua colaboração com a Arqueologia, sendo, portanto muito raro achados de artefatos de bambu, dependem muito das condições do solo e do clima para que cheguem ate nossos dias. Atualmente alguns achados na China estão sendo revelados. Na lenda do Saci-Perere, ele nasce dentro do colmo do bambu, passa sete anos dentro do colmo, depois sai, e vive setenta e sete anos, durante o dia ele fica dentro do bambu e a noite sai, para fazer suas traquinagens. A colheita do Bambu no Japão para determinados fins, é realizada com muito respeito, apenas homens com mais de sessenta anos, vestidos todos de branco. Uma antiga lenda Chinesa diz que, um grupo de sábios fugitivos da ira de um Imperador se refugiou num bambuzal, só que naquela época o bambu era uma planta sagrada na China, acredita-se que um espírito, o elemental do bambu morava no interior do colmo. Esses sábios, sem ter nada para comer, passaram a 6 comer os brotos do bambu, e utilizá-lo para fazer casas, móveis e todos os utensílios de uma casa. Com a morte do imperador que havia perseguido o grupo inicial de sábios e quando o novo imperador assumiu, já se falava na Cidade de Bambu, então o novo imperador mandou um destacamento procurar a Cidade de Bambu. Quando a encontraram, os habitantes mostraram para os emissários do imperador tudo o que haviam feito com Bambu. Então construíram um barco de bambu e enviaram para o imperador. Este liberou o uso do bambu para se fazer qualquer coisa com ele, passando a ser utilizado de forma irrestrita na China. Durante o Ciclo das Navegações, principalmente os Portugueses e Espanhóis, introduziram algumas espécies de bambu no Novo Mundo, normalmente provenientes do Oriente. Algumas dessas espécies se aclimataram muito bem nos países para que foram levadas, no Brasil a mais comum é a Bambusa Vulgaris. Para denominar esta planta, os indígenas brasileiros empregam, entre outras, as palavras Taboca e Taquara. No setor da construção civil, o uso do bambu é bastante difundido na Ásia e em outros países da América Latina, como Peru, Equador, Costa Rica e Colômbia, onde vários exemplos de edificações confirmam sua potencialidade. Vale ressaltar o trabalho dos arquitetos Oscar Hidalgo e Simon Vélez na Colômbia, que pela sua técnica refinada tem difundido o uso adequado do bambu na construção civil. O importante centro de pesquisa chinês China Bamboo Research Center – CBRC (2001) destacou que a partir dos anos 80 tem havido uma intensificação no uso do bambu em diversas áreas industriais, sobressaindo-se a produção de alimentos, fabricação de papel, além de aplicações em engenharia e na química. Produtos à base de bambu processado podem substituir, ou até mesmo evitar, o corte e o uso predatório de florestas tropicais, destacando-se, dentre outros, produtos como carvão ativado, palitos, chapas de aglomerados, chapas de fibra orientada (OSB), chapas entrelaçadas para uso em fôrmas para concreto (compensado de bambu), painéis, produtos à base de bambu laminado colado( tais como pisos, forros, lambris), esteiras, compósitos, componentes para construção e habitações, movelaria, dentre outros. Dos anos 2000 em diante estão começando a ocorrer algumas ações governamentais de apoio ao uso do bambu, como editais de projetos para o financiamento de pesquisa e recentemente um projeto aprovado pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) que cria a Política Nacional de Incentivo ao Manejo Sustentado e ao Cultivo do Bambu. Em relação às propriedades estruturais do Bambu, Janssen (2000) comentou que se forem consideradas as relações de resistência / massa específica e rigidez / massa específica, tais valores superam as madeiras e o concreto, podendo ser tais relações comparáveis, inclusive ao aço. Os principais centros de pesquisa no Brasil são: PUC-Rio, se destacando na área de construção, estudada pela AMBENTEC, dirigida pelo professor Ghavami e também na área de Desing com o LILD (Laboratório de Investigação de Livre Design) dirigida pelo professor Ripper; IAC – Instituto Agronômico de Campinas, que possui o maior banco de espécies de bambu no Brasil, com cerca de 100 espécies; InBambu em Alagoas e a UNESP. 7 3-Botânica Os Bambus pertencem à família Gramínea e subfamília Bambusoidea, algumas vezes tratados separadamente como pertencentes à família Bambusacea, com aproximadamente 50 gêneros e 1300 espécies, que se distribuem naturalmente dos trópicos às regiões temperadas, tendo, no entanto, maior ocorrência nas zonas quentes e com chuvas abundantes das regiões tropicais e subtropicais da Ásia, África e América do Sul. Os bambus nativos crescem naturalmente em todos os continentes, exceto na Europa, sendo que 62% das espécies são nativas da Ásia, 34% das Américas, e 4% da África e Oceania (HIDALGO LOPEZ, 2003). São encontrados em altitudes que variam de zero até 4800 metros. Os tons de cor são variados: preto, vermelho, azul, violeta, tendo o verde e o amarelo como principais. No Brasil, as espécies nativas são em sua grande maioria enquadradas na categoria de ornamentais, e estão associadas a um meio ambiente específico, como as florestas. A maioria das espécies de bambu que se vê plantadas são exóticas, originárias em sua maior parte de países orientais, de onde foram sendo trazidas e aqui introduzidas desde o tempo do descobrimento, exceção feita ao gênero Guadua, originário da América, sendo muito utilizado na Colômbia e Equador, e possuindo várias espécies nativas no Brasil (PEREIRA, 2001). De acordo com Figueira & Gonçalves (2004), o Brasil possui 34 gêneros e 232 espécies de Bambus nativos (174 consideradas endêmicas), sendo considerados 16 gêneros de bambus do tipo herbáceo (ornamental) e 18 gêneros do tipo lenhoso. Dentre os bambus lenhosos existem 6 gêneros (com 129 espécies) endêmicos, destacando-se os gêneros Merostachys, com 53 espécies; Chusquea (*bambu maciço), com 40 espécies; e Guadua, com 16 espécies. No Brasil ocorrem 89% de todos os gêneros e 65% de todas as espécies conhecidas na América. Conforme Azzini & Beraldo (2001), algumas espécies de bambu nativas no Brasil são conhecidas geralmente como: taquara, taboca, jativoca, taquaruçú ou taboca-açú, conforme a região de ocorrência. Essas espécies de bambus ocorrem, deacordo com Filgueiras & Gonçalves (2004), em ambientes de mata, como a Floresta Atlântica (65%), Amazônia (26%), e os Cerrados (9%) servindo como um tipo de cicatrização da floresta quando se processa a retirada indiscriminada das árvores. 8 4-Morfologia (*Forma e disposição das partes que compõem um vegetal.) Apesar de ser uma gramínea, os Bambus apresentam hábito arborecente, e possui parte subterrânea com rizoma e raiz e a parte aérea constituída por colmo, folhas e ramificações. *Partes do bambu (NMBA, 2004) Rizoma Paquimorfo - Entouceirante 9 4.1-Rizoma É um caule subterrâneo dotado de nós e entrenós com folhas reduzidas a escamas e que se desenvolve paralelamente a superfície do solo. Não deve ser confundido com a raiz que é uma parte distinta da planta. Os rizomas se reproduzem de outros rizomas mais antigos e permanecem conectados entre si. Nesta interconexão, todos os indivíduos de um mesmo grupo são descendentes do rizoma primordial, e são, até certo ponto, interdependentes e solidários, pois entre eles há troca de fotoassimilados (energia). Os brotos utilizam as reservas de um grupo para crescerem e brotarem. Os bambus do centro do grupo são os mais velhos e os da periferia os mais jovens. Os Bambus podem ser divididos em seis tipos diferentes de rizomas, sendo três os principais: ●Entouceirante (Simpodial) ●Alastrante (Monopodial) ●Semi-Entouceirante (anfipodial) *Diferentes tipos de rizomas (NMBA 2004). Paquimorfo, também denominado entouceirante ou Simpodial, apresenta os gêneros Bambusa e Dendrocalamus como principais representantes. A maior parte destes bambus se desenvolve melhor em climas tropicais, apresentando um crescimento mais lento em temperaturas baixas. Seus rizomas são sólidos, com raízes na sua parte inferior e se denominam paquimorfos por serem curtos e grossos. Os rizomas são dotados de gemas laterais que dão origem somente a novos rizomas. Leptomorfo, também denominado Alastrante ou Monopodial, são bem resistentes ao frio, tem como representante mais conhecido o gênero Phyllostachys . Os rizomas leptomorfos raramente são sólidos e de um modo geral apresentam diâmetros menores que o dos seus colmos correspondentes. Nos nós dos rizomas encontram-se algumas gemas que permanecem por um tempo ou permanentemente dormentes. Geralmente quando em estado ativo estas gemas brotam e produzem colmos esparsos o que permite caminhar entre eles. 10 Estes bambus são extremamente invasores, demandando cuidados especiais ao serem cultivados. Tais cuidados referem-se à necessidade de manter a floresta plantada confinada em uma área previamente definida, evitando desta forma conflitos com vizinhos, com as áreas de reserva legal, áreas de preservação permanente e a competição com outras culturas na mesma propriedade. Os bambus leptmorfos podem ser isolados por meio de barreiras físicas como: mantas plásticas, estradas com trânsito regular e cursos d’água. Vale lembrar contudo que não é recomendado o uso dos cursos naturais de água para este fim, uma vez que dado a grande capacidade de estabelecimento das espécies deste grupo, a invasão da mata ciliar seria inevitável. Tal fato além de causar um dano ambiental seria por consequência uma transgressão da legislação ambiental brasileira. Anfimorfo, também denominado Semi-Entouceirante ou Anfipodial, possuem rizomas de hábito intermediário ao Paquimorfo e Leptomorfo. Um mesmo indivíduo forma várias touceiras próximas e interligadas pelo rizoma. O seu principal representante é o gênero Guadua, nativo das Américas. 4.2-Colmo O colmo, originando-se de uma gema ativa do rizoma, compõe a parte aérea dos bambus e dá sustentação para os ramos e folhas. Como os bambus não apresentam crescimento radial, o colmo já surge com o seu diâmetro máximo na base e afunila em direção ao ápice assumindo assim a sua forma cônica. Os colmos são segmentados por nós e os espaços compreendidos entre dois nós são denominados entrenós, que são menores na base, aumentam o seu comprimento na parte mediana e reduzem novamente o tamanho na medida em que vão aproximando do ápice. Os bambus são plantas de rápido crescimento que expressa de forma visível no alongamento dos seus colmos. Na sua fase inicial de crescimento observam-se as maiores velocidades de crescimento do reino vegetal, com algumas espécies gigantes crescendo até 40 cm por dia. 4.3-Raízes As raízes dos bambus partem dos rizomas, se lançam na projeção da copa numa profundidade diretamente proporcional as dimensões de cada espécie. Por ser uma monocotiledônea a raiz é fasciculada ,sendo portanto destituído de raiz principal. Além de ancorar a planta, juntamente com os rizomas, as raízes têm a importante função de extrair nutrientes e água do solo. 4.5-Folhas e ramificações As folhas dos bambus respondem pela função de elaborar as substâncias necessárias ao rápido crescimento desta planta através do processo da fotossíntese. Características como: dimensão, formato da lâmina e presença de pelos nas folhas são informações taxonômicas de grande valia para a identificação das espécies. A grande quantidade de folhas depositadas constantemente no solo demonstra que esta planta tem uma notável capacidade de reposição foliar e produção de biomassa. Durante as primeiras fases do seu desenvolvimento os colmos dos bambus são protegidos pela folha do colmo que apresenta uma bainha com uma área muitas vezes superior ao da lâmina. Quando o ápice do colmo ultrapassa o dossel, alcançando a luz, aumenta a emissão de ramificações e o solo na projeção da planta fica tomado pelas folhas caulinares que vão gradativamente se desprendendo do colmo. Nos bambus do gênero Guadua as folhas caulinares são mais persistentes, podendo acompanhar o colmo por boa parte da sua existência. 11 As ramificações dos bambus originam-se das gemas localizadas nos nós e são sempre alternas. Diferem entre as espécies, além de outras características, pelo número e a posição que partem do colmo assim como pela presença ou não de espinhos. Os espinhos, sempre presentes nos bambus do gênero Guadua, embora não sejam restritivos, representam uma dificuldade a mais no manejo de florestas comerciais de bambus. São tão agressivos que podem facilmente perfurar um calçado. 5- Crescimento e desenvolvimento dos colmos ● A fase de brotação dos bambus entouceirantes inicia-se em meados da primavera e permanece durante todo o verão. ● A fase de brotação dos bambus alastrantes ocorre entre os meses de agosto a novembro. *Estas épocas de brotação são referentes ao hemisfério sul. Existem 3 fases de crescimento e desenvolvimento dos colmos: ●Fase 1- Alongamento do colmo: inicia-se quando os colmos, ainda na forma de brotos, são tenros, apresentam entre 30 e 40 cm de altura e estão completamente cobertos pelas folhas caulinares. Esta fase termina quando os colmos atingem praticamente a altura total; ●Fase 2- Aparecimento de brotações laterais: estas brotações laterais dão origem aos ramos. Nesta fase as folhas caulinares começam a se desprender do colmo. ●Fase 3- Aparecimento das folhas: é caracterizada pelo aparecimento das folhas e estende-se até o desenvolvimento completo da copa do colmo. ●O total desenvolvimento dos colmos se dá em aproximadamente: (desde o broto até sua altura máxima) 4 meses para entouceirantes; 2 meses para alastrantes. *É o vegetal que cresce mais rápido na natureza. A maturidade dos colmos acontece quando estes atingem 3 anos, para bambus de rizoma paquimorfo (entouceirante) e 5 anos para bambus de rizoma leptomorfo (alastrante). 12 6- Florescimento Em muitas espécies de bambus o florescimento é um fenômeno raro, podendo acontecer em intervalosde até 120 anos. Várias espécies de bambus morrem ao florescer devido a energia desprendida pela planta para a formação de um grande número de sementes. Porém, nem todo bambu que floresce morre. Ximena Londoño afirma que o gênero Guadua costuma ter sempre um indivíduo florescendo em um dado grupo. Os bambus apresentam três tipos de florações: ●Esporádica - ocorre apenas em algumas plantas de uma população sendo que ao florescer a planta ou parte dela morre. ●Sincrônica - ocorre simultaneamente em todas as plantas de uma população. Neste caso toda a população poderá morrer. As causas deste tipo de floração continuam sendo um enigma para os botânicos, existindo muitas teorias carentes de comprovação. A ocorrência simultânea de florações de uma mesma espécie em diferentes locais do mundo é um evento ainda estudado. A teoria mais aceita é que as plantas de um mesmo clone (reproduzidas através de pedaços de uma mesma planta) podem florescer simultaneamente em locais diferentes. ●Floração de “stress” – ocorre quando a planta é submetida a uma agressão ou uma forte adversidade ambiental. Neste caso pode ocorrer o florescimento em apenas alguns bambus. 7- CULTIVO O estabelecimento de uma plantação de bambu demora, em média, de cinco a oito anos, dependendo das condições locais, quando a moita atinge as dimensões características da espécie, como diâmetro, espessura da parede e altura do colmo (KUSACK, 1999). Porém, uma touceira conterá sempre certa quantidade de colmos com variadas idades, denominados brotos (um ano), jovens (de um a três anos) e maduros (superior a três anos), sendo em média, formados dez novos colmos anualmente, em touceiras que se encontrem estabilizadas. Não há, ainda, uma concordância sobre a produtividade alcançada pelo bambu (LIESE, 1985), sendo obtidos valores anuais da ordem de 10 t/ha a 30 t/ha. O colmo de bambu tem sua durabilidade durante certo tempo no bambuzal, pois se trata de uma cultura perene, que se renova ou brota todo ano, com isso o colmo cresce e depois de alguns anos morre. Este tempo pode variar conforme o gênero. O gênero Bambusa dura em torno de 7 anos, já o Dendrocalamus dura de 15 a 20 anos na touceira. Vantagens para produção de matéria prima para fins estruturais: ●Planta rústica que se adapta bem em diferentes climas e solos; ●Depois que um BAMBUZAL atinge a maturidade, em torno de 8 anos, pode-se coletar colmos anualmente; ●Com o manejo adequado, não precisa ser replantado. 13 Comparação entre o cultivo de Bambu, Pinus e Eucalipto: 8-Manejo As mudas de bambus recém plantadas levarão certo período até começarem a desenvolver colmos com o diâmetro definitivo da espécie. As plantas irão, ano a ano, aumentar o número de colmos por bambuzal e aumentar em diâmetro e altura a cada nova brotação. Isso acontece até o momento em que seja alcançado o diâmetro e altura máxima de cada espécie. Normalmente o primeiro manejo de uma plantação estabelecida de bambu inicia-se no quarto ano, por meio da retirada e da limpeza dos colmos que nasceram no primeiro ano. No quinto ano se retiram ou se colhem os colmos nascidos no segundo ano, e assim sucessivamente. Como regra geral deve-se colher anualmente somente os colmos maduros, com pelo menos três anos, e os colmos defeituosos ou que iriam congestionar a moita. O ideal é fazer uma marcação com o ano de nascimento em cada colmo, assim teremos maior precisão na hora de colher os colmos maduros. Durante a fase de formação, a plantação necessita apenas de capinas mecânicas ou manuais, isto quando o mato estiver crescido. Essa recomendação é necessária até o segundo ano, pois a partir do terceiro já não mais será preciso, já que o bambuzal desenvolver-se-á suficientemente abafando o mato. Devem ser feitas limpezas periódicas nos bambuzais, para eliminar os caules secos, velhos, com defeitos e quebrados e deixar as touceiras mais arejadas. Tal prática propicia maior recebimento dos raios solares e evita também, na hora da colheita, que o agricultor tenha dificuldades no corte e remoção das plantas melhores. Segundo especialistas, o mais importante é o raleamento anual da colheita, que consiste em retirar da touceira todos os bambus finos e fracos, que devem ser cortados pela base, pois assim ter-se-á uma touceira mais rala e com maior ventilação, constituída apenas de bambus fortes, espessos e uniformes. Não é recomendável ainda deixar restos vegetais amontoados nas touceiras, que podem prejudicar o bom desenvolvimento dos novos brotos. Mas nem todos os restos vegetais devem ser retirados, como é o caso das folhas que cobrem o solo, pois servem de adubo, fornecem sílica e impedem a evaporação da água do solo; dessa forma, mantém-se maior umidade e evita-se superaquecimento, causado pela incidência direta dos raios solares. 8.1- Produtividade A produtividade dos bambuzais varia em função dos seguintes fatores: características naturais da espécie, disponibilidade de água e nutrientes, qualidade do manejo realizado e condições climáticas. Em estudo sobre o desenvolvimento de touceiras de bambu gigante (Dendrolamus sp) no campus de Bauru, da UNESP, com manejo anual, verificou-se 14 a produção anual média de 8 colmos por touceira, ou 1640 colmos por hectare com espaçamento entre mudas de 7x7m. (Pereira, Beraldo, 2007). Já os bambus alastrantes varia de ano para ano, ocorrendo alternância entre ano mais produtivo e ano menos produtivo (Austin et al., 1977). Um bambuzal da espécie Phyllostachys bambusoides, desenvolvendo-se em clima temperado, produz entre 1000 e 3700 colmos hectare ano, enquanto a espécie Phyllostachys pubescens (mossô), em clima temperado, varia de 500 a 1500 colmos hectare/ano (Austin et al., 1977). Sem a realização do manejo anual, o cultivo regride e perde vertiginosamente a produtividade ideal característica de cada espécie. 8.2-Tipos de manejo específicos: Quando são bambuzais que já existiam, e que nunca foram manejados, ou apenas cortados esporadicamente, temos que analisar alguns fatores: -As posições e crescimento de fibras ao longo dos colmos, como a tortuosidade e redução de tamanho (encolhimento, muitas vezes causado pela super população de bambuzal não manejado); -Adensamento da touceira, verificar se existem colmos de boa qualidade, mas sem disponibilidade de corte; -A produção real, o que pode ser realmente utilizado; Cálculo para verificação do bom desenvolvimento do bambuzal Para saber se realmente o colmo está atingindo uma boa qualidade e se o bambuzal está tendo um bom desempenho, recomenda-se o seguinte cálculo: Diâmetro do pé do colmo X X 60 Resultado maior que o colmo, bambuzal de má qualidade; Resultado menor que o colmo, bambuzal de boa qualidade. *Cálculo proposto por Ueda (China) ●Raleamento Retirada dos colmos podres e finos, varas quebradas e excesso de galhos. Colher 50% dos maduros, deixando o restante dos colmos maduros em diferentes setores da touceira. Fazer caminhos para acessar o centro da touceira, onde estão os bambus mais antigos. Manejo indicado para touceiras com bambus fortes, retilíneos e não muito adensados. ●Corte total Cortar todos os colmos da touceira. Corte na altura de 30 cm, um pouco depois do período de chuvas. Manejo indicado para touceiras adensadas (populosa), com muitos colmos podres, fracos e finos, com pouca brotação e irregular. Após aproximadamente 4 anos começa a emitir novamente os colmos no diâmetro da espécie. Pode matar a touceira. Fazer uma única vez na planta. ●Corte parcial Dividir a touceira em seis setores. Retirar todos os colmos de um setor por ano. Após seis anos a touceira estará renovada. Indicado para touceiras com muitos bambus maduros e de boa qualidade. 15 8.3-Manejopara obtenção de brotos comestíveis O manejo da plantação para fornecimento de brotos é um pouco diferente do manejo para obtenção de colmos estruturais. Enquanto que nesse último caso deseja-se a maior quantidade de colmos possíveis em uma touceira (normalmente de 40 a 50 colmos, entre brotos, jovens e adultos), para a produção de brotos a touceira não deve apresentar mais do que dez colmos. O manejo consiste basicamente em cortar o broto com 30 a 40 cm, assim que ele interrompe seu crescimento inicial, que pode durar de 10 a 15 dias. Depois desta fase o broto irá crescer e se tornar muito fibroso, tornando-se, portanto, inadequado para o consumo humano. Assim que um broto é colhido, é ativada uma nova gema presente no rizoma (para as espécies entouceirantes) e produz-se um novo broto, que, ao ser colhido, vai estimular uma nova gema e um novo broto, podendo tal fato repetir-se durante dois a três meses. Para alcançar grande produtividade a touceira necessita de adubação mais frequente para este tipo de manejo, sendo indicado adubar mensalmente as touceiras durante o período de colheita. Também se deve deixar que anualmente dois a três brotos se transformem em colmos maduros, os quais serão as mães para os brotos do ano seguinte. A maioria das espécies de bambu fornece brotos comestíveis, ricos em proteínas, fibras e substâncias antioxidantes, os quais muito se assemelham em ao palmito jussara (Euterpe edulis). O broto de bambu apresenta uma textura suave e um tanto crocante, sendo muito utilizado nas culinárias chinesa e japonesa. Algumas espécies, como o Dendrocalamus giganteus, Dendrocalamus asper, Dendrocalamus latiflorus, Bambusa oldhami e Phyllostachys pubecens, são muito apreciados na produção de brotos. Na prática, o broto de qualquer espécie de bambu é comestível, pois o que varia é a quantidade de ácido cianídrico presente, e que vai ser responsável pela qualidade do sabor. As espécies Guadua angustifólia e Bambusa vulgaris não são muito apreciadas, pois produzem brotos muito amargos. Portanto, antes de utilizar um broto de bambu na alimentação humana, deve-se fazer uma fervura de pelo menos trinta minutos, acrescentando uma porção de bicarbonato de sódio ou de fermento branco, o que normalmente é suficiente para eliminar o ácido cianídrico e, consequentemente o sabor amargo do broto. Para as espécies com maior concentração de ácido cianídrico sugere-se fazer duas ou mais fervuras, trocando a água a cada fervura. *Foto da esquerda: gemas ativas no rizoma (Dendrocalamus asper / entouceirante), que dão origem a novos brotos de bambu. *Foto da direita: brotos iniciando o crescimento. 16 *Brotos de Phylostachys (Bambu alastrante). 9-Plantio ●Propriedades físicas do solo: as características físicas tais como declividade do terre, textura do solo, densidade, capacidade de retenção de umidade e temperatura constituem importantes fatores para o bom desenvolvimento dos bambus. (kleinhenz; Midmore, 2001). Os alastrantes em seu ambiente natural predominam em regiões montanhosas, principalmente nas encostas. Os entouceirantes, por sua vez, nas áreas de ocorrência natural, são mais comumente encontrados em regiões planas, onde se adaptam melhor (Fu; Banik, 1995). Solos ricos em pequenas partículas, como os argilosos, são pouco apropriados para o cultivo de bambu. A alta densidade do solo limita o bom desenvolvimento dos rizomas e raízes. Por outro lado solos ricos em partículas grandes, como os arenosos, também não são ideais para o crescimento dos bambus, pois apresentam baixa capacidade de retenção de umidade. Entretanto, a incorporação de matéria orgânica aos solos extremamente arenosos pode melhorar a capacidade de retenção de água e, consequentemente colaborar para da produtividade destes solos. As condições ideais, quanto às propriedades físicas do solo para o desenvolvimento de bambuzais são: abundância de matéria orgânica, boa drenagem e alta umidade. Vale ressaltar que quando se fala em alta umidade, estamos nos referindo a solos com boa capacidade de retenção de água e não a solos encharcados, como os de regiões de brejo e banhados. ●Propriedades químicas do solo: além da disponibilidade de nutrientes, a salinidade e o grau de acidez são fatores de grande relevância para o cultivo de bambus. A maioria das espécies de bambu é intolerante a condições de alta salinidade dos solos. Com relação ao grau de acidez do solo, os bambus em geral desenvolvem- se, preferencialmente, em solos com pH entre 5,0 e 6,5 ou até 7,0 para proporcionar melhor assimilação de Fósforo pelo bambuzal. 17 ●Condições climáticas: os bambus alastrantes, em geral, se desenvolvem melhor em regiões de clima temperado, onde as estações do ano são bem definidas. Os bambus entouceirantes preferem as regiões tropicais. Porém, é possível encontrar bambus alastrantes e entouceirantes desenvolvendo-se relativamente bem em condições diferentes das descritas acima. Os bambus entouceirantes tem pouca resistência a geadas, principalmente quando se trata de uma planta jovem. De um modo geral os bambus se desenvolvem bem em regiões com precipitações oscilando entre 1.800mm e 2.500mm anuais e umidade relativa entre 75% - 85% (Pereira e Beraldo, 2007). Os bambus lenhosos em geral se desenvolvem bem em condições de semi sombreamento, mas atingem o desenvolvimento ótimo em condições de insolação total. ●Exigências nutricionais: antes de iniciar a fertilização, é importante que seja realizada uma análise de solo para a verificação da fertilidade e principalmente do grau de acidez do mesmo. Espécies de bambu, em geral, necessitam dos macronutrientes, em quantidade, na seguinte ordem decrescente: K (potássio) > N (nitrogênio) > Ca (cálcio) > Mg (magnésio) > P (fósforo) > S (enxofre). Com relação aos micronutrientes a relação é a seguinte: Fe (ferro) > Zn (zinco) > Mn (manganês) > B (boro) > Cu (cobre). Além dos minerais citados, os bambus necessitam de grandes aportes de Silício (Si), na forma de silicatos, para o seu desenvolvimento. O Potásio (K) é o nutriente mais exigido pelos bambuzais em todas as fases de desenvolvimento. Esse mineral é responsável pela formação dos açúcares nas folhas e o seu transporte para os colmos. Bambuzais bem providos de K são mais resistentes às secas, ao frio e às pragas. Já o Nitrogênio (N) é consumido em maiores quantidades pela planta nos estágios iniciais de desenvolvimento. O Cálcio (Ca), nos bambuzais, é responsável pelo cumprimento de importantes funções fisiológicas, além de facilitar a assimilação de todos os demais nutrientes. ●Manutenção: devemos ter em mente que um solo saudável resulta em plantas saudáveis e em menos trabalho. Por isso recomenda-se a adoção de medidas que visem preservar a qualidade e as propriedades do solo. Nesse sentido recomendamos a incorporação de composto orgânico e mulch, pelo menos duas vezes ao ano. Jamais se deve manter o solo descoberto, pois solos sem cobertura vegetal são mais susceptíveis a compactação, à erosão e à lixiviação dos nutrientes. A adubação de manutenção, a cada ano, deverá suprir a planta, principalmente de K e N. 9.1-Preparo da cova e plantio Abrir um buraco no solo com aproximadamente 50cm de diâmetro por 50cm de profundidade, em seguida coloca-se no fundo do buraco uma camada de aproximadamente 20cm de esterco de curral curtido e revigorado com 300g de calcário dolomítico, visando o fornecimento de Cálcio e Magnésio e eventuais correções de acidez do solo. Depois desta etapa coloca-se o torrão da muda na cova, completando o restante do volume com terra preta e com a primeira camada de 20 cm de solo que foi retirada para a abertura do buraco. Deve-se atentar para deixar a muda levemente abaixo do nível do solo, formando uma suave depressão, de modoque a água de chuvas e regas possa se acumular no pé da muda. Por fim o solo deve ser 18 coberto com mulch (cobertura vegetal seca), para diminuir a perda de umidade do solo e proteção contra a lixiviação. Os maiores cuidados nesta fase são com as regas, que devem ser frequentes, e com o ataque de formigas saúvas, principalmente com mudas jovens. Também deverá ser feito capinas periódicas, nos primeiros anos, evitando que a muda fique sufocada. O gado gosta de comer as folhas de bambu e pode se tornar um problema no início do plantio, quando as mudas ainda são pequenas. 9.2-Espaçamento Para espécies gigantes, geralmente se utiliza o espaçamento de 7x5 metros, com ruas largas para manuseio e transporte dos colmos de forma prática e eficiente. As espécies alastrantes podem ser plantadas em 3x3 metros, de forma a deixar também ruas largas para manuseio e transporte, o que facilitará o controle de invasão, que poderá ser manual, com a retirada de novas brotações e rizomas ou então fazendo valetas que limitarão o seu sistema radicular. 9.3-Produção de mudas A forma mais utilizada para fazer mudas de bambu é a propagação vegetativa. Pode ser realizada por separação de colmos, rizomas ou galhos. Separação de rizomas Deve-se escolher rizomas de um ano de idade no máximo. Para rizomas paquimorfos (entouceirante) corta-se no pescoço, onde se liga ao rizoma antigo, e acima do primeiro nó do seu jovem colmo. Depois planta- se vertical, com o colmo para fora, ou horizontalmente, com o rizoma a poucos centímetros abaixo da terra. Para rizomas leptomorfos (alastrante) sem colmos deve-se cortar um segmento com pelo menos três nós com gemas não usadas. Planta-se horizontalmente, abaixo da terra. No caso de rizomas leptomorfos com colmos deve-se cortar um segmento com algumas gemas e acima do primeiro nó do colmo. Depois planta-se o rizoma horizontalmente abaixo da terra, com o colmo para fora. Separação de colmos Funciona muito bem com gêneros tropicais como Bambusa e Dendrocalamus. O colmo deve ter até um ano de idade. Deve-se deixar os galhos principais que saem das gemas dos nós do colmo, mas cortados acima dos seus primeiros nós. Pode-se usar um nó simples, ou seja, cortar antes e depois de um nó, enterrando horizontalmente, com o galho apontando para cima. 19 Pode-se também usar um nó duplo, ou seja, cortando antes de um nó e depois do nó seguinte. Ainda pode-se fazer um furo, encher parcialmente a parte interna do entrenó de água, e tapar com alguma bucha (algodão, pano). Depois enterra-se com algum galho orientado para cima. Este método é mais seguro de funcionar do que o simples. Galho lateral Indicado para bambus entouceirantes. Corta-se o galho na base, onde se liga ao colmo. Deixa-se o galho com 3 nós, cortando acima do terceiro nó. Enterra até a metade, em vaso ou sacos para mudas. Tem um índice de 50% de “pega”. Depois de 6 meses pode ser plantado no local definitivo. *Mistura da terra para o saco de muda: 50% de areia + 25% de esterco curtido + 25% de argila. 10-Corte A moita ou bosque necessita ser podada todos os anos. Assim haverá mais luz para a fotossíntese e mais nutrientes para os colmos restantes. ●Todos os colmos secos e podres devem ser retirados. ●O ponto de corte deve ser logo acima do primeiro nó aparente, rente ao solo. O corte deve ser bem acima do nó, evitando deixar um “copo”. A água da chuva contida nestes “copos” apodrece o rizoma abaixo da terra e prejudica a formação de novos brotos no bambuzal. Usa-se uma serra de poda ou “dente de tubarão” para o manejo adequado. Evitamos usar facões para este tipo de corte, visto que este procedimento poderá trincar o bambu, favorecendo o apodrecimento do rizoma na touceira ou bosque. Como visto anteriormente, a maturidade dos colmos acontece quando estes atingem 3 anos, para bambus de rizoma paquimorfo (entouceirante) e 5 anos para bambus de rizoma leptomorfo (alastrante). 20 *Detalhe do ponto de corte, acima do nó, sem formar copo. Evitando assim que acumule água e apodreça o rizoma, prejudicando novas brotações 10.1- Identificação da idade dos colmos de bambu: ●Colmos maduros apresentam fungos e liquens, tendo aspecto de “sujo”. ●Colmos jovens são “limpos” e muitas vezes ainda apresentam um pó esbranquiçado próximo dos nós, proveniente da folha caulinar, que após alguns meses de vida do colmo, se desprende do mesmo. Colmo com fungos e liquens Colmo recoberto pela folha caulinar 21 10.2- A colheita de colmos de Bambu deve respeitar a fisiologia da planta Devemos evitar colher no período em que a planta está emitindo os brotos e os momentos que antecedem esta fase. Nesta hora os colmos maduros estão carregados de carboidratos presentes na seiva, já que durante esta fase os colmos realizam a função de transloucar boa parte da seiva, que é produzida na fotossíntese, via rizomas aos brotos, como suprimento energético para seu crescimento. Esse processo de translocação de seiva se prolonga até o momento em que os novos colmos completam o desenvolvimento das estruturas foliares. Quando os últimos colmos gerados já apresentam superfície foliar suficiente para realizar a fotossíntese é que os colmos maduros podem ser removidos, sem prejudicar o crescimento dos colmos jovens e para a obtenção de colmos com menor quantidade de amido, o alimento de fungos e insetos. ●Entouceirantes (paquimorfos): colheita entre julho, agosto e setembro. ●Alastrantes (leptomorfos): colheita entre os meses de dezembro a maio. *Referente às regiões Sul e Sudeste do Brasil Estando na época certa do ano deve-se escolher a fase adequada da lua, esta sendo a lua minguante. Outra atenção especial a ser tomada é a idade do bambu. Para fins de tecelagem ou cestaria usam-se os bambus jovens e imaturos, pela sua flexibilidade. Para fins de construção deve-se usar os bambus maduros, mas não podres, com cerca de 3 a 6 anos, quando atingiram sua resistência ideal. Para evitar que o bambu “trinque”, devemos furar os diafragmas (membrana que divide os entrenós internamente) logo após o corte. Pode ser feito com barra de ferro ou outro bambu menor. 22 11- Cura O processo de cura consiste na secagem e diminuição da seiva, que é alimento dos insetos que atacam o bambu. *Não confundir com tratamento. Em diversos materiais sobre bambu os processos de cura são erroneamente confundidos com tratamentos, podendo causar danos ou acidentes, pois estes bambus “curados” ainda tem grande possibilidade de pegarem caruncho ou o tigre do bambu, que são os insetos que se alimentam das paredes internas dos colmos de bambu. Outro problema que encontramos na produção e comercialização de colmos de bambus no Brasil é que alguns produtores que comercializam varas do gênero Phyllostachys (Cana da Índia / Mirim / Mossô), costumam utilizar o método de fervura das varas em água ou no vapor, e vendem estes mesmos bambus como “tratados”, porém estes mesmos colmos não estão imunizados corretamente. ●Cura na mata: cortar o colmo de bambu e deixar no próprio bambuzal, escorado, por 30 dias, ainda com as folhas. Durante este tempo o bambu irá transpirar boa parte de sua seiva através das folhas. Também fica mais fácil de retirar os colmos do bambuzal, visto que estes ficarão mais leves (com menos umidade). Não é 100% eficiente. ●Imersão em água: As varas de bambu devem ficar totalmente imersas em água por quatro semanas – o bambu é rico em amido e açúcar que serão eliminados em grande parte (mas não totalmente) com esse banho – após, devem ser armazenadas na posição vertical, em ambiente livre de umidade e sem incidência direta dos raios de sol nas varas, para uma secagem lentae natural. O amido irá degradar-se através de fermentação anaeróbica. Outro modo muito utilizado para “cura” é ferver o bambu em água. Aconselham-se períodos de 15 a 60 minutos para cada grupo. Porém, as varas curadas com este método ficam mais suscetíveis a trincar. Utilizado para bambus de rizoma alastrante (Phyllostachys) ●Cura pela ação do fogo: consiste em submeter os colmos ao aquecimento em fogo direto, para eliminar a seiva por exsudação. Com o aquecimento procura-se alterar (degradar) quimicamente o amido, tornando-o menos atrativo ao caruncho. Essa cura é utilizada para colmos de bambu pertencentes ao gênero Phyllostachys. Durante a cura com fogo ocorre o derretimento de uma cera natural presente nas camadas periféricas do colmo. Geralmente essa cera é retirada, ainda quente, com a fricção de um pano. Nestes bambus, obtém-se com este processo, uma coloração parda brilhante, conferindo excelente aspecto estético ao colmo. No entanto, espécies de bambus entouceirantes, não adquirem tal coloração e nem tal brilho característico. Com maçarico Deve-se começar a secagem a partir da base da vara, indo em direção a parte superior. Técnica conhecida como “Penteamento de Fibras”, por alinhar as fibras do bambu. Utiliza-se fogo baixo, sempre girando o bambu para que seque de forma uniforme. Antes de iniciar o processo com fogo, devemos perfurar os diafragmas (parede interna dos nós), com um pedaço de ferro, por exemplo, evitando riscos de um entrenó “estourar” com a pressão que fica ao ser aquecido. Esta cura é indicada para os bambus alastrantes (leptomorfos). 23 *É comum este processo de cura com maçarico (fogo), ou a fervura em água, ser chamado de “tratamento”, porém, vale ressaltar que não é tratamento, sendo este outro processo (ver item 12). Em nossa experiência prática com o uso do bambu constatamos que uma porcentagem em torno de 5 a 10% das varas curadas com fogo são atacadas por Brocas e/ou Tigres do Bambu, que são os insetos que devoram os bambus. Processo de cura com maçarico. Podemos fazer uns detalhes mais escuros no bambu, utilizando o fogo. 12-Tratamento O bambu possui teor de amido relativamente elevado em sua constituição, por isso ele é bastante susceptível ao ataque de pragas. Para se obter maior resistência e durabilidade, principalmente quando destinado à construção, é muito importante que algumas providências sejam tomadas no sentido de otimizar o aproveitamento desse material. Existe muita informação divergente sobre este assunto! O bambu absorve água e não absorve óleo, deste modo devemos utilizar uma substância que seja inseticida e/ou fungicida solúvel em água, para um tratamento eficiente do bambu. Alguns métodos como o uso do fogo, imersão em água ou defumação são processos ineficientes e não se caracterizam como tratamento. O tratamento consiste em colocar uma substância imunizante (inseticida e/ou fungicida) dentro das fibras do bambu. 24 Para este processo existem alguns métodos, como substituição de seiva, imersão em solução preservativa, boucherie (por pressão) etc. Detalhe importante: Os bambus têm o crescimento diferente das árvores. Enquanto as árvores crescem finas e vão engrossando seu caule com o tempo, os bambus já nascem grossos, na grossura que serão a vida inteira. Com o tempo eles engrossam a parede interna, ou seja, a parte mais mole do tronco do bambu é a parede interna, onde os bichos costumam atacar (Broca e Tigre do Bambu). Deste modo não adianta passar veneno ou defumar por fora, pois o ponto crítico do bambu são as paredes internas. 12.1-Tratamento artesanal e natural Solução preservativa: Tanino Tratamento natural contra fungos e insetos. Os taninos são componentes polifenólicos distribuídos em plantas, alimentos e bebidas (MAKKAR; BECKER, 1998, SANTOS et al. 1997). De acordo com Zucker (1983), os taninos encontram-se distribuídos em plantas superiores, ocorrendo em aproximadamente 30% das famílias. Eles são solúveis em água e solventes orgânicos polares, sendo capazes de precipitar proteínas (HARTICH; KOLODZIEJ, 1997). Pode-se extrair o Tanino de forma alternativa através da fervura da casca da árvore, ou através de fornecimento de empresas que tem o processo industrializado de extração, sendo fornecido em liquido concentrado ou em pó para diluição. Utilizado em larga escala no curtimento do couro. ÁRVORES EM QUE A CASCA PODE SER APROVEITADA PARA A EXTRAÇÃO DO TANINO: 1. ACÁCIA NEGRA E ACÁCIA MIMOSA; 2. IMBAÚBA-VERMELHA, EMBAÚBA, EMBAÚVA; 3. GRÁPIA, GRAPINHAPUNHA, GARAPA; 4. SUCARÁ, AÇUCARÁ, CORONDA, CORONILHA; 5. BRACATINGA, ABRACATINGA, YBIRÁ-CAÁ-TINGA; 6. CABREÚVA, CABRIÚVA, ÓLEO-PARDO, CABURE; 7. ANGICO, ANGICO-VERMELHO, GURUCAIA, PARICÁ, ANGICO-CAÁ; 8. AMENDOIM, CANAFÍSTULA, GUARACAIA, IBIRÁ-PUITÁ; 9. PAU-JACARÉ; 10. JACATIRÃO, JACATIRÃO-AÇU, CARVALHO-VERMELHO, NHACATIRÃO; 11. CATIGUÁ, CARRAPETA, QUEBRA-MACHADO, CAÁ-TING-NÁ; 12. CAPOROROCA, CAPOROROCA-VERMELHA, CAPOROROCÃO; 13. ARAÇÁ,ARAÇAZEIRO,ARAÇA-DA-PRAIA,ARAÇA-AMARELO 14. CAMBOATÁ-VERMELHO, CUVUTÃ, ARCO-DE-PENEIRA; 15. AÇOITA-CAVALO, IVATINGI, IVATINGUI. *Lista disponibilizada por Luciano Tizziani em “Tratamento preservativo ecológico de bambus”. Outras árvores que apresentam elevado teor de taninos totais são a Goiabeira (Psidium guajava: 13 a 17%) e o Araça Pitanga (Psidium runn: 20%). A Erva Cidreira de arbusto (Lippia alba) possui 20% de taninos totais e apresenta um grande potencial para a extração de tanino, por se tratar de um arbusto e ter rápido crescimento, se comparado às árvores, visto que a coleta da casca de uma árvore, em grande quantidade, acaba por matar a mesma. 25 Devemos plantar a espécie que pretendemos utilizar para extrair o tanino e utilizá- lo no tratamento de bambu, em média ou larga escala. Em pequena escala poderá ser feito uma poda na árvore escolhida e utilizar galhos e folhas para a produção do chá de tanino. Este método utilizando o tanino ainda tem poucos dados publicados. ●Devemos fazer testes práticos para atestar a viabilidade deste tratamento. Guilhermo Gayo, dirigente do Takuara Rendá no Paraguai, centro de estudos sobre o bambu (www.takuararenda.org) aprendeu essa técnica com os índios do Paraguai. Para produzir o tanino utiliza as cascas e folhas de aroeira pimenteira e cozinha-se com água. O tanino inibe o ataque às plantas por herbívoros vertebrados ou invertebrados, como o caruncho (diminuição da palatabilidade, dificuldades na digestão, produção de compostos tóxicos a partir da hidrólise dos taninos) e também por micro-organismos patogênicos tais como os fungos (Wikipédia). Colocar o “chá” de tanino em um balde, extrair a vara do bambuzal, colocando a base dentro de um balde com tanino e deixar o bambu apoiado no bambuzal por 30 dias. Neste tempo o bambu vai puxar o tanino para os colmos. O tanino sobe aproximadamente 5 metros no colmo. Semelhante ao processo de “cura na mata”. *Processo de tratamento com Tanino 12.2-Tratamento Químico Solução preservativa indicada (baixa toxidade): Bórax (sal) *Esta é a substância mais utilizada para tratamento, mundialmente, entre os profissionais deste ramo. 26 Receita utilizada por Jörg Stamm ●2,5 kg de Bórax ●2,5 kg de Ácido Bórico ●100l de água; *5% de solução preservativa. *Dissolver o bórax e o ácido bórico em recipiente com uns 10 litros de água, dissolvendo lentamente e em recipiente separados. De um dia para o outro vai mexendo algumas vezes até o “sal” sumir na água. Depois de dissolvido se adiciona no restante da água, onde se formará o pentaborato. Pode-se aquecer a água a 80° para ajudar a dissolver o bórax e ácido bórico, porém se chegar a 100° o bórax volatizae se perde. *Não recomenda-se utilizar os produtos CCB (boro+sulfato cobre + dicromato) e CCA (cromo + boro + arsênio) para tratamento de bambus ou madeiras. O dicromato e o arsênio são altamente tóxicos! Bórax: O bórax é um sal natural (pó branco inodoro), não é inflamável, não combustível, não explosivo e tem baixa toxicidade oral e dermatológica. -Efeitos do produto: O produto em grande quantidade se inalado pode ser prejudicial às vias respiratórias. A exposição do produto a pele não é preocupante, pois o produto não é absorvido pela pele. -Efeitos ambientais: O produto em grandes quantidades pode ser perigoso para as plantas e outras espécies, deve-se reduzir a descarga no meio ambiente. -Também é utilizado como micronutriente de adubação orgânica, porém bem diluído (100l água para 1l de solução). 12.3- Formas de utilização das soluções preservativas ●Por capilaridade (ou substituição de seiva) Logo após o corte do colmo (ou no máximo 12 horas após), imergir a parte basal (base do colmo) em solução preservativa. Utilizado em peças de 2,5m até 3m de comprimento. Pode-se utilizar um tonel de 200l com solução preservativa. Utiliza-se apenas 100l de solução neste tonel de 200l, para ter espaço para a colocação dos colmos sem que transborde a solução do tonel. Deixar por 7 dias no tonel, após virar as varas (parte basal para cima) e deixar por mais 7 dias. Logo após a extração do colmo este ainda continua vivo (até 12h após) e continua “puxando a seiva” e ao ser colocado no tonel com a solução preservativa esta entra nas fibras substituindo a seiva, que evapora pelo topo cortado do bambu. Após deixar secar por 2 ou 3 meses. 27 Método de substituição de seiva. ●Boucherie Consiste em aplicar o produto por pressão. Na parte basal do colmo é conectada uma bolsa, de forma a ficar bem aderida, ligada a um tubo por onde a substância preservativa será transportada, do tambor onde está armazenada para o colmo. Ao passo que a pressão é dada, a substância penetrará pelos vasos condutores do colmo até sair em sua outra extremidade. A fonte de pressão pode ser por força gravitacional ou por um compressor de ar. Deve ser aplicado aos colmos de bambu recém cortados, e sem perfuração dos diafragmas do colmo. *Imagem do Livro “Manual de Construccion con Bambu” ●Por imerção em solução preservativa Os colmos são totalmente imersos horizontalmente em tanque com solução preservativa por um período de 4 dias. O tanque pode ser de alvenaria, ou tonéis de metal cortados pela metade e soldados. Usam-se os colmos ainda verdes (com seiva), com os diafragmas perfurados. 28 Neste caso o processo de migração do bórax para dentro das fibras do bambu se dá por osmose, por isso é importante que as células estejam “vivas”, absorvendo assim a solução preservativa. Pode ser feito até 2 meses após a colheita. *Depois que o bambu está seco, o processo de osmose fica comprometido, e as paredes do bambu absorvem a água, porém não penetra o sal preservativo na célula. *Imagem retirada do livro “Manual do Arquiteto Descalço”. *Esquema utilizando tonéis abertos e soldados. Este modelo pode ser utilizado tanto para imersão como fervura de bambus. ●Método do “copão”: Furam-se todos os diafragmas do bambu menos o último (na parte superior da vara); Coloca-se o colmo de bambu na vertical ou na diagonal (dependendo do comprimento) e preenche o interior do colmo com a solução preservativa (enchendo como se fosse um “copo”); Podemos deixar as varas já cortadas no tamanho que iremos utilizar; Neste caso o processo de penetração da solução preservativa nas fibras dos bambus se dá por osmose, por isso é importante que as células estejam “vivas”, absorvendo assim a solução preservativa. Ou seja, deverá ser realizado antes da vara secar completamente. O colmo fica com a solução preservativa em seu interior por 4 dias. Ao fim rompemos o último diafragma e deixamos escorrer a solução para dentro de um reservatório. OBS: Neste caso o colmo não poderá apresentar rachaduras ou furos. 13- Armazenagem de colmos Para armazenar colmos de bambus devemos ter alguns cuidados. Após a colheita devemos colocá-los em local abrigado da umidade do solo e da chuva, incidência direta de raios solares nos colmos e boa ventilação. *É indicado deixar os bambus que ainda contém umidade em pé, na posição vertical, até a perda total ou quase total da umidade (mudança na tonalidade de cor), facilitando assim a saída da seiva e dos líquidos de seu interior e diminuindo a incidência de trincas nos colmos. A forma mais utilizada para armazenamento dos colmos secos é em prateleiras horizontais. 29 *Galpão de beneficiamento no Instituto Pindorama – Nova Friburgo-RJ. 14- Espécies e Aplicações ●Bambusa textilis Espécie de bambu entouceirante, de médio porte, com colmos retos e lisos. -Altura dos colmos: até 15m; -Diâmetro dos colmos: 3 a 5cm; -Espessura da parede: fina; -Clima e solo: Sub-Tropical, solos médios a ricos; -Temperatura mínima: -15°C; -Distribuição natural: China; -Usos mais comuns: artesanatos e utensílios domésticos. ●Bambusa tulda Espécie de bambu entouceirante de elevado a médio porte. -Altura dos colmos: até 30m; -Diâmetro dos colmos: 7cm; -Espessura da parede: fina; -Clima e solo: regiões semi-úmidas; -Temperatura mínima: -2°C -Distribuição natural: Bangladesh, Myanmar, Tailândia e Índia; -Usos mais comuns: polpa e papel, alimento (broto), artesanatos em geral. ●Bambusa vulgaris Espécie de bambu entouceirante, de médio porte, com colmos tortuosos e elevado teor de amido. -Altura dos colmos: 15 a 25m; -Diâmetro dos colmos: 6 a 15cm; 30 -Espessura da parede: 7 a 15mm; -Clima e solo: variedade de climas e solos, até 1,500m de altitude. -Temperatura mínima: -2°C; -Distribuição natural: Espécie Pantropical; -Usos mais comuns: Construção, polpa e papel, móveis, andaimes e artesanatos. ●Bambusa tuldoides Espécie de bambu entouceirante, de médio porte. Bastante comum no Brasil, conhecido como “Taquara”. -Altura dos colmos: 12m; -Diâmetro dos colmos: 6cm; -Clima e solo: regiões semi-úmidas; -Temperatura mínima: -9°C -Distribuição natural: China. -Usos mais comuns: construção, cercas, artesanatos, móveis e tutoramento de tomates. ●Bambusa oldhamii Espécie de bambu entouceirante, com colmos retos, de médio porte. -Altura dos colmos: 18m; -Diâmetro dos colmos: 10cm; -Temperatura mínima: -9°C; -Distribuição natural: China; -Usos mais comuns: Alimento (broto), móveis, artesanatos e estruturas leves. 31 ●Dendrocalamus asper: Espécie de bambu gigante, entouceirante, de grande porte. -Altura dos colmos: 20 a 30m; -Diâmetro dos colmos: 8 a 20cm; -Espessura da parede: 11 a 20mm; -Clima e solo: regiões úmidas a semi-áridas, solos ricos e altitudes de até 1.000m; -Temperatura mínima: -5°C; -Distribuição natural: Índia, Tailândia, Vietnã, Malásia, Indonésia e Filipinas. -Usos mais comuns: Construção pesada, uma das melhores espécies para produção de brotos comestíveis, móveis, instrumentos musicais, artesanatos e utensílios domésticos. ●Dendrocalamus giganteus: Espécie de bambu gigante, entouceirante, de grande porte. -Altura dos colmos: 24 a 40m; -Diâmetro dos colmos: 10 a 20cm; -Espessura da parede: 1 a 3cm; -Clima e solo: regiões tropicais úmidas até regiões subtropicais; -Temperatura mínima: -2°C; -Distribuição natural: Sri Lanka, Bangladesh, Nepal, Tailândia e China; -Usos mais comuns: Construção pesada, laminados de bambu, fabricação de polpa e papel, utensílios, móveis, artesanatos,alimentação (brotos). 32 ●Phyllostachys aurea Espécie de rizoma alastrante, de pequeno porte e muito comum no Brasil. Popularmente conhecida como “cana da índia”. -Altura dos colmos: 8m; -Diâmetro dos colmos: 3 a 6cm; -Espessura da parede: fina; -Clima e solo: clima temperado e solo rico em matéria orgânica; -Temperatura mínima: -18°C; -Distribuição natural: China; -Usos mais comuns: móveis, varas de pescar, cerca viva e paisagismo. ●Phyllostachys pubescens Espécie de rizoma alastrante, de médio porte, também conhecido como Mosô. -Altura dos colmos: 10 a 20m; -Diâmetro dos colmos: 7 a 15cm; -Espessura da parede: média; -Clima e solo: clima temperado e solo rico em matéria orgânica; -Temperatura mínima: -15°C; -Distribuição natural: China; -Usos mais comuns: Construção, alimento (broto), móveis, artesanatos etc. 33 Phyllostachys aurea Phyllostachys pubecens ●Guadua angustifolia Espécie de bambu gigante, de rizoma semi-entouceirante, com espinhos nas gemas, de elevado porte e excelentes propriedades mecânicas e grande durabilidade natural dos colmos, sendo muito importante para a economia rural na Colômbia e Equador. -Altura dos colmos: até 30m; -Diâmetro dos colmos: até 20cm; -Espessura da parede: 1,5 a 2cm; -Clima e solo: Clima trocpical, solos médios a ricos, cresce ao longo de rios ou colinas; -Temperatura mínima: -2°C -Distribuição natural: América do Sul, incluindo a região Norte do Brasil até o Panamá; -Usos mais comuns: Construção e usos diversos no meio rural. 34 15-Diversos Como alternativa ao uso das árvores, tem-se os bambus lenhosos, que vem sendo utilizado secularmente para várias finalidades. Aproximadamente, 22 milhões de hectares são cultivados em nosso planeta, sendo descritos mais de 4.000 usos para esta planta. É um material ecológico, leve, resistente, versátil e com excelentes características físicas, químicas e mecânicas, que lhe possibilitam milhares de aplicações ao natural ou processadas. Na prática o bambu serve como alimento humano e animal, biomassa energética para energia renovável e energia limpa, material de construção e matéria-prima industrial para vários setores-cosmética e medicina, como papel, celulose e compósitos de madeira, além de também ser identificado como elemento de conservação e recuperação ambiental, principalmente para conter a erosão. Estudos de mercado relacionados diretamente com o bambu são mais comuns nos países asiáticos, pois estes mercados são mais tradicionais na produção e uso do bambu. O bambu possui mais celulose que o pinheiro e o eucalipto. A resistência das fibras apresenta qualidade igual ou superior às fibras da madeira, podendo, ainda substituir fibras inorgânicas como o asbesto (PAULI, 1999) No Brasil, o valor total da produção do setor de base florestal em 2005, foi de 27,8 bilhões de dólares, ou seja, 3,5% do PIB nacional. Neste valor estão incluídos celulose, papel, madeira industrializada sob todos os processos, móveis, siderurgia a carvão vegetal e produtos florestais não madeireiros (SBS, 2005). A existência de áreas de cultivo comercial de bambu no Brasil estão restritas a plantios nos estados do Maranhão, Paraíba e Pernambuco (RIBEIRO, 2005). Conforme Nunes (2005), os plantios da Paraíba e Pernambuco são destinados à fabricação de papel objetivando a produção de sacos para embalagem de cimento portland. Na China são pesquisados e fabricados (industrializados) diversos produtos à base de bambu tais como: pisos, forros, lambris, móveis, chapas de tiras, laminados para assoalho, cortinas, chapas de aglomerado e chapas entrelaçadas como formas para concreto (compensado de bambu) (QISHENG; SHENXUE, 2001). A valoração econômica ambiental busca avaliar o valor econômico de um recurso ambiental através da determinação do que é equivalente, em termos de outros recursos disponíveis na economia, que estaríamos (os seres humanos) dispostos a abrir mão de maneira a obter uma melhoria de qualidade ou quantidade do recurso ambiental. Com base nestas constatações e tendo as populações uma busca crescente por recursos naturais renováveis, observasse que esta busca tem aumentado na medida em que novas tecnologias são inseridas no processo produtivo, fazendo com que matérias primas de impacto negativo no meio ambiente sejam substituídas, desta forma o bambu tem se mostrado como um ativo ambiental de grande potencial no seu complexo produtivo. 35 16-Bambu Medicinal A folha de bambu oferece benefícios para pele, unhas, dentes e cabelos, funcionando como um renovador. As propriedades medicinais do chá das folhas de bambu: diurético, digestivo, controla febre e tosse, asma, afecções intestinais, osteoporose, antiartrose, hemorroidas e males do estômago, remineralizante e tônico geral do organismo, brilho e maciez para os cabelos, antitóxico e anti-helmítico. A folha de bambu também é excelente para uma pele saudável. Ela tem uma grande quantidade de sílica que ajuda a deixar a pele com mais elasticidade e ajuda o organismo produzir colágeno. A melhor forma de usar esse tratamento é fazer um emplastro de folha de bambu e água quente e colocar diretamente no rosto. A sílica encontrada na folha de bambu também é um ótimo tratamento para manter seus cabelos fortes, com fios brilhantes e crescendo. Receita: ferva 8 copos de água com duas mãos cheias de folhas de bambu. Deixe em ebulição por três minutos, desligue, tampe e espere pelo menos uma hora antes de aplicar. Aplique no cabelo e deixe até o dia seguinte. Uma receita que vem ganhando popularidade entre as mulheres que querem ter uma unha bonita e forte é a mistura de água fervente e folhas de bambu. Depois de ferver a mistura deixe esfriar, coe e coloque as mãos na mistura por cerca de 20 minutos. Enxague com água fria. Para completar faça uma massagem com óleo de coco. 17-Detalhes Práticos O Bambu é uma planta muito enigmática e são necessários anos para começar a entender e compreender a melhor forma de utilizá-la. O grande desafio é sem dúvida o tratamento/imunização. Se queremos que um móvel ou estrutura de bambu tenha durabilidade, temos que imunizar contra insetos (ver capítulo sobre Tratamentos) de forma adequada. Sobre estruturas de bambu, após a correta imunização e secagem, devemos levar em conta alguns pontos que não podem ser deixados para trás, se queremos que uma obra de bambu tenha longevidade: Na Colômbia, a grande referência em construção civil com Bambu, se diz que uma estrutura de bambu tem que ter “salto alto e chapéu de aba longa”, ou seja, fundação com no mínimo 40cm acima do solo e beiral grande para proteção contra umidade e chuva, além do excesso de sol que poderá fazer com que algumas peças trinquem. Exemplo de beiral em estruturas de grande porte de Bambu 36 Exemplo de sapatas da fundação elevadas do solo 37 Fontes: -Manual de Construcción con Bambú; Oscar Hidalgo Lópes -Manual do Arquiteto Descalço; Johan Van Lengen -Bambu: Cultivo e Manejo; Thiago Greco e Marina Crowberg; Florianópolis 2011. Ed. Insular -Bambu de Corpo e Alma; Marco A. R. Pereira e Antônio L. Beraldo -Apostila do curso de capacitação em estruturas de bambu; Instituto Pindorama, 2012. Facilitação de Bruno Salles -Curso com Jörg Stamm; Ministrado no Instituto TIBA-RJ, em novembro de 2016. Elaboração- Equipe Naturalmente Revisada em março / 2017 38 Anexos Retirado do livro “Manual de Construcción con Bambú”; de Oscar Hidalgo Lópes. 39 40 4142 43 44 45 46 47 48
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