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Laísa Dinelli Schiaveto Fisiologia do Sistema Renal INTRODUÇÃO O Sistema Renal tem como funções básicas a excreção da maior parte dos produtos do metabolismo e de regular o volume (volemia) e a osmolaridade plasmática, além de contribuir na manutenção do equilíbrio ácido-base e no controle da eritropoiese, contribuindo, assim, para a constância do meio interno (homeostasia celular). REVISÃO ANATOMO-FUNCIONAL Os constituintes do Sistema Renal são: 1) Rins (e os néfrons) 2) Vascularização 3) Bexiga 4) Vias Urinárias RINS Em número de dois, localizados nos lados esquerdo e direito, sendo o direito mais baixo devido ao fígado, são retroperitoneais, entre L1 e L4, são envoltos por uma cápsula fibrosa e pesam cerca de 150g cada um. Cada rim contêm cerca de 1.200.000 néfrons – sua unidade funcional. Num corte longitudinal, observa-se duas regiões: o córtex e a medula. Destaca-se que, a medula renal é formada por 4 a 14 pirâmides, as quais reúnem-se a pelve renal, onde tem origem o ureter. NÉFRON É a unidade funcional dos rins. Trata-se de uma estrutura que inicia-se na cápsula de Bowman e vai até a pelve renal. Cada néfron tem a propriedade de produzir a urina. Este é composto pelas seguintes estruturas: • Túbulo Contorcido Proximal (TCP) • Alça de Henle Descendente e Ascendente (AH) • Túbulo Contorcido Distal (TCD) • Túbulo Coletor (TC) NÉFRONS CORTICAIS: Apresentam Alça de Henle curtas e penetram apenas na medula externa, produzindo apenas urina diluída (baixa osmolaridade). NÉFRONS JUSTAMEDULARES: Apresentam Alça de Henle longas e penetram até a parte interna da medula, produzindo apenas urina concentrada (alta osmolaridade). VASCULARIZAÇÃO A artéria renal penetra no rim pelo hilo e se subdivide em artérias segmentares, as quais se subdividem em artérias interlobares, que por sua vez, se subdividem em artérias arqueadas, levando a formação das arteríolas aferentes. Na cápsula de Bowman, cada arteríola aferente gera os capilares glomerulares, sendo que depois, a arteríola eferente gera, em seguida, novos capilares – capilares peritubulares e a vasa reta. Laísa Dinelli Schiaveto Assim, o sangue é drenado para as veias arqueadas, interlobares, segmentares e para a veia renal. Fluxo Sanguíneo Renal (FSR) é cerca de 1,2 litros/min. Obs.: Apenas 20% do valor do FSR seria o suficiente para manter o metabolismo. BEXIGA Trata-se de uma câmara muscular lisa, formada pelo corpo (porção periférica) e pelo colo (porção cilíndrica), que retém urina até o momento da micção. Esta pode armazenar de 300 a 500 ml de urina. A urina chega pelos ureteres, formando uma penetração oblíqua, e sai pela uretra, a qual possui dois esfíncteres (interno e externo). VIAS URINÁRIAS Tem como função apenas a condução. Inicia-se na pelve renal até a bexiga (ureter) e da bexiga até o meio externo (uretra). O ureter mede de 25 a 30 cm, com diâmetro médio de 5 mm. A uretra masculina mede de 15 a 20 cm de comprimento, enquanto a feminina mede de 4 a 5 cm; ambas com diâmetros de 8 a 10 mm. No ureter há a presença de fibras musculares lisas, que por peristaltismo, empurram a urina em direção a bexiga. No entanto, na uretra não há este mecanismo, assim dependendo da contração muscular da bexiga para gerar pressão durante a micção. MECANISMOS DE FORMAÇÃO DA URINA CONCEITOS BÁSICOS FILTRAÇÃO: Quantidade de água e substâncias que passam dos capilares glomerulares para o TCP. EXCREÇÃO: Quantidade de água e substâncias que são eliminadas pela urina. REABSORÇÃO: Quantidade de água e substâncias que passam pela luz tubular dos néfrons para a célula tubular em direção ao interstício e, posteriormente, para os capilares peritubulares. SECREÇÃO: Quantidade de substâncias que passam dos capilares para a célula tubular e, posteriormente, para a luz tubular, sendo eliminadas na urina. FILTRAÇÃO GLOMERULAR O glomérulo é composto por uma ramalhete de capilares glomerulares, os quais são envoltos pela cápsula de Bowman. Nestes capilares ocorre o processo de filtração glomerular, o qual formará um ultrafiltrado idêntico ao plasma, porém possuindo pequenas moléculas (ex.: glicose, aminoácidos e íons). Assim, em condições normais, não há a presença de células sanguíneas e grande proteínas. Então, parte do plasma (20%) que chega aos capilares glomerulares passa para a cápsula de Bowman e, posteriormente, para o TCP. Laísa Dinelli Schiaveto Ainda, o endotélio capilar glomerular sendo fenestrado apresenta permeabilidade 50 vezes maior que os outros capilares teciduais, facilitando o processo de filtração glomerular. FORÇAS QUE ATUAM NA FILTRAÇÃO GLOMERULAR As 4 forças que atuam na filtração glomerular são as mesmas de qualquer outro capilar sistêmico, mas as magnitudes destas forças são diferentes, em especial porque a pressão coloidosmótica tubular é nula, uma vez que praticamente não há proteínas neste filtrado. Obs.: Valores positivos facilitam a filtração, enquanto valores negativos dificultam. Ainda, o coeficiente de filtração (Kf) glomerular é elevado pelo capilar ser fenestrado. FILTRAÇÃO GLOMERULAR (FG) Em condições normais: FG = Kf . [(Pc + Pct) – (Pht + Pcg)] FG = 12,5 . [(60 + 0) – (18 – 32)] FG = 125 ml/min Valores Normais da FG: • 125 ml/min • 180 litros/dia • 5500 litros/mês • 65000 litros/ano REABSORÇÃO E SECREÇÃO NO TCP No Túbulo Contorcido Proximal (TCP) ocorre cerca de 60-70% da reabsorção de sódio e outros íons (cloreto, potássio e bicarbonato), água, glicose, aminoácidos e ureia. Também, ocorre a secreção de hidrogênio, amônia e outros ácidos orgânicos. 1) Reabsorção Tubular de Sódio Na membrana apical, a reabsorção de sódio é passiva, a favor do seu gradiente eletroquímico. Na membrana basal, é um processo ativo, indo contra seu gradiente eletroquímico, dependendo da bomba Na+/K+ ATPase. 2) Reabsorção Tubular de Potássio Na membrana apical, a reabsorção de potássio é passiva, indo a favor apenas do gradiente elétrico OU ativo, indo contra o gradiente de concentração. Na membrana basal, seu transporte se faz junto ao sódio, apresentando alta permeabilidade. 3) Reabsorção Tubular de Cloreto e Bicarbonato Em ambas as membranas, a reabsorção de cloreto e bicarbonato é passiva, seguindo o transporte de sódio. 4) Reabsorção Tubular de Água A reabsorção de água ocorre por um mecanismo de “gradiente estável”. Assim, como o sódio é transportado ativamente também para os espaços intracelulares/laterais, cria-se um gradiente osmótico para o transporte de água. Destes espaços, a água flui para o capilar peritubular devido a elevada pressão coloidosmótica plasmática e a baixa pressão hidrostática no capilar peritubular. 5) Reabsorção Tubular de Glicose A glicose é uma molécula osmoticamente ativa e como é uma sustância sem cargas, não é influenciada por potenciais elétricos nas células renais. Assim, a reabsorção de glicose ocorre em co-transporte com o sódio através de difusão facilitada e apresenta um transportador específico (GLUT) e saturação. Obs.: Os rins filtram e reabsorvem cerca de 1,5 kg/dia de glicose (ou 100 mg/ml). Laísa Dinelli Schiaveto 6) Secreção Tubular de Hidrogênio Parte do hidrogênio é secretado ativamente devido ao transporte passivo do sódio (contra transporte) na membrana apical. Este é importante, pois auxilia no equilíbrio ácido-base do organismo. 7) Secreção Tubular de Amônia e Ácidos Orgânicos O mecanismo ainda não é totalmente conhecido, porém, na membrana apical, ocorre por transporte passivo e, na membrana basal, ocorre por transporte ativo. Este mecanismo também promove a secreção do ácido para-amino-hipúrico (PAH), alguns antibióticos, ácido úrico, creatinina e ácidos biliares. REABSORÇÃO E SECREÇÃO NA AH A Alça de Henle(AH) divide-se em ramo delgado descendente e ascendente e em ramo espesso ascendente. Sua função básica é concentrar a urina, pois o ramo descendente apresenta uma elevada permeabilidade à água e baixa ao soluto, enquanto o ramo ascendente é impermeável à água e permeável ao soluto. 1) Reabsorção Tubular de Sódio No ramo descendente, há pouco transporte efetivo de sódio. Já, no ramo ascendente delgado, este transporte aumenta. E, no ramo ascendente espesso, por ser altamente permeável, o sódio passa do túbulo para a medula renal, tornando a medula hipertônica e o túbulo hipotônico. 2) Reabsorção Tubular de Potássio e Cloreto No ramo ascendente, ocorre reabsorção de potássio (cerca de 10% do filtrado). Já, o cloreto segue o sódio. Obs.: Destaca-se que, o transporte de outros íons não são conhecidos, devido à dificuldade de acesso à AH. E, aparentemente, não ocorre secreção iônica. 3) Reabsorção Tubular de Água A parte descendente é altamente permeável à água, fazendo com que esta substância se mova para a medula devido a sua hipertonicidade. Já, a parte ascendente é impermeável à água. REABSORÇÃO E SECREÇÃO NO TCD O Túbulo Contorcido Distal (TCD) apresenta a característica de passar próximo ao glomérulo, formando o aparelho justaglomerular e, em seguida, sofre as ações iniciais do hormônios aldosterona e antidiurético (ADH) para o controle da volemia e osmolaridade. • Presença de ADH = ligeiramente hipertônico • Ausência de ADH = hipotônico 1) Reabsorção Tubular de Sódio e Cloreto Ocorre grande reabsorção de sódio, sendo que o transporte é semelhante ao TCP, porém a água não acompanha o soluto e, assim, o túbulo apresenta-se diluído (hipotônico). Já, a reabsorção de cloreto se faz passivamente, acompanhando o sódio. 2) Reabsorção Tubular de Água O TCD é sensível ao ADH e, quando este está presente, ocorre a reabsorção de água, fazendo com que o túbulo torne-se ligeiramente hipertônico (ocorre reabsorção de até 10% da água filtrada). 3) Secreção Tubular de Potássio e Hidrogênio A secreção de potássio ocorre por um processo passivo, motivado pela eletronegatividade do túbulo e influenciado pela reabsorção de sódio e secreção de hidrogênio. Destaca-se que, a aldosterona potencia a secreção do potássio. Já, a secreção de hidrogênio é eletrogênica e tende a reduzir a negatividade do túbulo. REABSORÇÃO E SECREÇÃO NO TC O Túbulo Coletor (TC), à medida que aprofunda em direção à papila renal, recebe várias gerações de túbulos menores. Sob ação do ADH permite a formação da urina concentrada e sob ação do peptídeo natriurético atrial (ANP) reduz a permeabilidade para a reabsorção do sódio, promovendo a natriurese. 1) Reabsorção Tubular de Sódio A reabsorção de sódio continua ao longo do TC, principalmente sob ação da aldosterona. Já, o ANP promove a redução da permeabilidade ao sódio e, portanto, a natriurese. Laísa Dinelli Schiaveto 2) Reabsorção Tubular de Água Na parte papilar da medula renal, a osmolaridade é muito alta (até 1200 mOsm/l) e, devido ao aumento da permeabilidade à água pelo ADH (ação das aquaporinas), a reabsorção de água continua, podendo produzir uma urina muito hipertônica ou, na ausência de ADH, produzir uma urina hipotônica. Dessa forma, o ADH também aumenta a permeabilidade do TC à ureia. 3) Secreção Tubular de Potássio e Hidrogênio A secreção de potássio continua de forma passiva, enquanto a secreção de hidrogênio é eletrogênica. TRANSPORTE DA GLICOSE O rim tem a propriedade, em condições normais, de reabsorver toda a glicose filtrada, principalmente no TCP. No entanto, se a carga de glicose ofertada ao rim exceder sua capacidade máxima de reabsorção, têm- se a perda renal de glicose (glicosúria) acompanhado de grande volume de água (poliúria) – ex.: diabetes descompensada. Limiar Renal: Concentração de glicose plasmática máxima antes de iniciar a glicosúria (180-200 mg/dL). Transporte Máximo de Glicose (Tm): Capacidade máxima de reabsorção tubular em função da carga filtrada (320-375 mg/min). FLUXOS NOS SEGMENTOS TUBULARES Ao longo do néfron, ocorre grande reabsorção de água, reduzindo o fluxo tubular de água ao longo do néfron, como também intensas trocas iônicas, promovendo, assim, os ajustes na volemia e na osmolaridade plasmática. CLEARANCE RENAL Clearance Renal (C) ou Depuração Plasmática é o volume virtual de plasma limpo (depurado) de uma substância qualquer que foi filtrada. Para o cálculo do Clearance de uma substância x é necessário: • Substância seja livremente filtrada • Determinar sua concentração plasmática • Determinar sua concentração urinária • Determinar o volume urinário Cx = Ux . V / Px Cx = clearance (ml/min); Ux = concentração urinária (mg/ml); Px = concentração plasmática (mg/ml); V = volume urinário (ml/min). CARGA EXCRETADA (QE) A Carga Excretada (QE) representa a quantidade de substância que foi eliminada pelos rins na urina. QEx = Ux . V QEx = carga excretada (mg/min); Ux = concentração urinária (mg/ml); V = volume urinário (ml/min). CARGA FILTRADA (QF) A Carga Filtrada (QF) representa a quantidade de substância que foi filtrada no glomérulo. QFx = TFG . Px QFx = carga filtrada (mg/min); TFG = taxa de filtração glomerular (ml/min; Px = concentração plasmática (mg/min); TAXA FILTRAÇÃO GLOMERULAR (TFG) A Taxa de Filtração Glomerular (TFG) pode ser determinada pelo Cin (Clearance da Inulina), uma substância exógena, livremente filtrada e que não sofre reabsorção e nem secreção. Cin = Uin . V / Pin Cin = clearance da inulina (ml/min); Uin = concentração urinária (mg/ml); Pin = concentração plasmática (mg/ml); V = volume urinário (ml/min). RELAÇÃO Cx e Cin Cx > Cin = Secreção Tubular Cx < Cin = Reabsorção Tubular FLUXO PLASMÁTICO RENAL (FPR) O Fluxo Plasmático Renal (FPR) pode ser determinado pelo Cpah (Clearance do Ácido Para-Amino- Hipúrico), uma substância exógena, livremente filtrada e que é totalmente secretada. Laísa Dinelli Schiaveto Cpah = Upah . V / Ppah Cpah = clearance do ácido para-amino-hipúrico (ml/min); Upah = concentração urinária (mg/ml); Ppah = concentração plasmática (mg/ml); V = volume urinário (ml/min). FRAÇÃO DE FILTRAÇÃO % (FF) A Fração de Filtração (FF) representa, em porcentagem, a capacidade que os rins têm de filtração. Assim, de tudo que chegou (100%), quanto foi filtrado (5-20%). FF = TFG / FPR = Cin / Cpah FLUXO SANGUÍNEO RENAL (FSR) O Fluxo Sanguíneo Renal (FSR) é cerca de 1,2 litros/min e apenas 20% deste valor seria suficiente para manter o metabolismo. FSR = FPR / 1 – Hematócrito FSR = fluxo sanguíneo renal cortical (ml/min); FPR = fluxo plasmático renal (ml/min) CLEARANCE OSMOLAR (Cosm) O Clearance Osmolar (Cosm) é uma forma de conhecer a capacidade dos rins de formar uma urina concentrada. Cosm = Uosm . V / Posm Cosm = clearance osmolar (ml/min); Uosm = osmolaridade urinária (mosm/l); Posm = osmolaridade plasmática (mosm/l); V = volume urinário (ml/min). Lembrando que, a osmolaridade plasmática é de 300 mOsm/l; enquanto osmolaridade da urina pode variar de 50 (urina muito diluída) até 1200 (urina muito concentrada). MICÇÃO Micção é o processo pelo qual a bexiga se esvazia e a urina lá armazenada é eliminada para o exterior. Inicialmente, há o enchimento da bexiga até o momento em que a tensão exercida pela urina, devido ao volume armazenado, atinja um certo valor denominado de limiar de micção. Em seguida, ocorre o reflexo de micção, controlado por um reflexo autonômico (involuntário) que pode ser inibido/facilitado pelo tronco cerebral (ponte) e córtex de maneira voluntária. O músculo liso vesical – detrusor – é o responsável pelo reflexo involuntário. Na parede posterior da bexiga e no colo vesical,há uma região denominada de trígono e na sua porção mais inferior tem-se a abertura a uretra posterior e a chegada de dois ureteres. A uretra posterior tem creca de 2 a 3 cm e é entrelaçada pelas fibras lisas do detrusor e tecidos elásticos, formando o esfíncter interno de controle involuntário (autonômico parassimpático). Na sequência anatômica, há a continuidade com a uretra, a qual passa pelo diafragma urogenital que contém a camada muscular esquelética, formando o esfíncter externo de controle voluntário. à Para micção ocorrer deve haver relaxamento de ambos os esfíncteres. A composição da urina é a mesma no ureter, bexiga e uretra. Isso porque os ureteres e a uretra possuem apenas a função de condução, enquanto a bexiga possui apenas a função de armazenamento. A inervação da bexiga é feita pelos nervos pélvicos do ramo parassimpático (S2-S3) sensoriais e motores. As informações sensoriais informar o SNC sobre o grau de distensão da parede vesical e, quando estimulado, tem-se a vontade de urinar. A função vesical, também, é mediada também por mais duas inervações: I) inervação parassimpática do nervo hipogástrico (L2) com funções vasculares e II) fibras motoras esqueléticas do nervo pudendo que inervam o esfíncter externo. 1) Relação do Volume Vesical com a Vontade de Urinar • Volume Vesical de 50 ml – Promove o início da pressão na bexiga; • Volume Vesical de 200 ml – Pressão de 8 cmH2O e início da vontade de urinar; • Volume Vesical de 350 ml – Pressão de 12 cmH20 e vontade de urina máxima devido à distensão vesical do músculo detrusor. Laísa Dinelli Schiaveto 2) Ciclo da Sensação de Urinar • Aumento progressivo da pressão vesical e do volume; • Período de pressão suportada; • Redução da pressão vesical (relaxamento do músculo detrusor); • Inibição do ato de urinar; • Se houver eliminação de toda a urina ou parte dela, a vontade de urinar é perdida por um certo tempo. 3) Etapas do Processo de Micção Voluntária • Contração da musculatura abdominal; • Inibição central do tônus do esfíncter externo; • Contração do músculo detrusor; • Saída do volume de urina (de 50 a 300 ml); • Contração voluntaria do esfíncter externo (voluntario) e do interno (involuntário). FORMAÇÃO DA URINA Os rins, para manter a constância do meio interno, podem formar uma urina muito diluída (hipotônica), uma urina com a mesma osmolaridade do plasma (isotônica) ou uma urina muito concentrada (hipertônica). Isso deve-se a ingesta de líquidos (maior ou menor) e as suas perdas pela urina e, também, pelas fezes, suor e respiração. A urina pode ser tão diluída quanto 50 mOsm/l ou tão concentrada como 1200 mOsm/l. Assim, na urina diluída há a presença de grandes volumes de água, enquanto na urina concentrada este volume é bem reduzido. Em condições normais, a formação diária de urina é de 1 a 2 litros/dia e, em condições especiais, este valor pode variar de 20 a 0,4 litros/dia. O mecanismo que leva as modificações no volume urinário deve-se a ação do hormônio antidiurético (ADH), produzido nos núcleos supra-óptico e paraventricular do hipotálamo, próximos ao centro da sede e armazenados na neurohipófise. Trata-se de um hormônio proteico com apenas 9 aminoácidos e age somente no TCD e TC devido a presença de receptores. Quando necessita-se de uma redução da perda de água pelo organismo, os níveis circulantes de ADH estão elevados, promovendo a reabsorção de água no TCD e TC. Já, para a perda de água do organismo, os níveis de ADH estão reduzidos ou zerados. Assim, o ADH promove ajustes na perda de água, não interferindo na concentração dos solutos (deve-se a ação da aldosterona). Valores Plasmáticos Normais de ADH: • < 300 mOsm/l = 0 a 0,5 pg/ml • = 300 mOsm/l = 0,4 a 2,4 pg/ml • > 300 mOsm/l = 2 a 12 pg/ml Fatores que Levam a Secreção de ADH pela Neurohipófise: • Osmolaridade plasmática (variações de apenas 2 mEq/l já são detectadas pelos osmorreceptores) • Pressão sanguínea • Volume plasmático Ações Principais do ADH: • Aumentar no TCD e TC a permeabilidade à água (ação principal) • Estimular a reabsorção de NaCl no ramo ascendente espesso da AH • Aumentar a permeabilidade no TC à ureia Se um indivíduo beber 1 litro de água pura, dentro de alguns minutos, haverá redução da osmolaridade urinária (de 600 para 100 mOsm/l), aumento do fluxo urinário (de 1 para 6 ml/min), porém manutenção da osmolaridade do plasma. Quando for eliminado o excesso de água (2 a 3 horas), os valores voltam a condição anterior. Laísa Dinelli Schiaveto URINA DILUÍDA Urina diluída, também conhecida como diurese, se apresenta de maneira hiposmótica (< 300 mOsm/l) e, em geral, com grande volume urinário. A formação da urina diluída ocorre nos néfrons corticais, os quais não apresentam a capacidade de formar urina concentrada, pois não mergulham na medula renal. A excreção de água, em condições normais, é regulada separadamente da excreção de solutos. No TCP, a reabsorção de água e solutos são simultâneos. Na AH, na parte descendente ocorre somente reabsorção de água, enquanto a parte ascendente é permeável ao soluto e impermeável à água. No TCD e TC, sob ação do ADH e aldosterona, a reabsorção de água e solutos são independentes. Quando há excesso de água no organismo, a osmolaridade no TCP pode ser isosmótica ou hiposmótica, mas, à medida que este fluido mergulha na parte descendente da AH, este fica mais concentrado (até 600 mOsm/l) devido à grande permeabilidade à água. No entanto, conforme vai atingindo a parte ascendente espessa da AH, devido à saída de NaCl e à impermeabilidade à água, o fluido no TCD é sempre hiposmótico (100 mOsm/l). Nesta condição, pela ausência ou níveis baixos de ADH, praticamente não ocorre reabsorção de água no TCD e TC, uma vez que as aquaporinas encontram-se inativadas. Porém, ocorre alguma reabsorção de NaCl, tornando este fluido ainda mais hiposmótico. Assim, no final do TC, a osmolaridade da urina vai estar baixa (50 mOsm/l) e com grandes volumes de água (diurese aquosa). Obs.: A deficiência patológica na produção de ADH é suprimida pela administração de acetato de desmopressina com ação semelhante ao ADH. MECANISMO DE CONTRACORRENTE A formação da urina concentrada exige níveis elevados de ADH e um gradiente osmótico na medula renal, onde os néfrons justamedulares mergulham. A medula renal apresenta, próxima ao córtex renal, uma osmolaridade de 300 mOsm/l, valor que vai aumentando, até a parte inferior da medula renal, com a osmolaridade ao redor de 1200 mOsm/l. A manutenção deste gradiente osmótico medular renal é fundamental para a formação da urina concentrada, sendo que este gradiente depende do Mecanismo de Contracorrente (Sistema Multiplicador de Contracorrente). Além disso, esse mecanismo também impede a perda deste gradiente osmótico durante a reabsorção de água no TC (“lavagem” da medula renal). CURIOSIDADE: Em humanos, apenas 25% dos néfrons são justamedulares e produzem urina concentrada devido à existência da AH longa (mergulha na medula renal), vasa reta (paralela a AH), capilares peritubulares e o TC (ambos da medula renal). Fatores Responsáveis pelo Gradiente de Concentração Hiperosmolar na Medula Renal: 1) Transporte ativo de sódio e co-transporte de potássio e cloreto para o interstício medular renal; 2) Transporte ativo de íons do TC para o interstício medular; 3) Difusão facilitada de ureia do TC para o interstício medular; 4) Difusão de pouca quantidade de água dos túbulos renais medulares para o interstício em relação à reabsorção de solutos para o interstício. GERAÇÃO DE HIPEROSMOLARIDADE O efeito multiplicador do sistema de contracorrente promove a gênese de hiperosmolaridade no interstício medular renal e dentro da AH (1200 mOsm/l) cerca de 4x maior eu no TCP (300 mOsm/l). ETAPA 1: Inicialmente, antesde gerar o gradiente hiperosmótico, a osmolaridade no TCP, ao longo de toda AH (descendente e ascendente), TCD e no interstício medular renal é igual em 300 mOsm/l. ETAPA II: O transporte ativo de íons, principalmente cloreto de sódio, na parte ascendente espessa da AH faz com que haja um aumento na osmolaridade do interstício (400 mOsm/l) e uma redução no túbulo da AH ascendente (200 mOsm/l), uma vez que esta é impermeável à água. Laísa Dinelli Schiaveto ETAPA III: Através do gradiente osmótico, há a passagem de água da parte descendente da AH, por osmose, para o interstício, com o intuito de manter o equilíbrio. A osmolaridade do interstício é mantida em 400 mOsm/l, mas na parte descendente da AH ocorre uma elevação para 400 mOsm/l, enquanto na parte ascendente o valor continua o mesmo (200 mOsm/l). ETAPA IV: Ocorre a chegada de mais filtrado glomerular no final do TCP para AH, fazendo com que o líquido com 400 mOsm/l da AH seja empurrado para a parte ascendente fina, a qual passa de 200 mOsm/l para 400 mOsm/l. Já, a parte ascendente espessa mantém-se em 200 mOsm/l. ETAPA V: A reabsorção ativa dos íons na parte espessa da AH, faz com haja um aumento na osmolaridade do interstício para 500 mOsm/l na parte inferior da medula renal e uma redução para 350 mOsm/l próximo ao córtex renal. No final da parte espessa da AH e início do TCD, o fluido encontra-se bem hiposmótico (em torno de 150 mOsm/l). ETAPA VI: Novamente, o fluido no ramo descendente da AH atinge o equilíbrio com o interstício através da osmose e empurra o líquido para a parte ascendente da AH. Assim, ocorre uma elevação da osmolaridade na parte descendente da AH (de 400 para 500 mOsm/l), a manutenção da osmolaridade no interstício medular e a mesma hipotonicidade no início do TCD. ETAPA VII: A repetição várias vezes destas fases, em especial das fases 4 a 6, leva a maior hiperosmolaridade (concentração de sódio e ureia) na parte inferior do interstício medular, chegando até 1200 mOsm/l, permitindo um gradiente osmolar na parte descendente da AH (de 300 próximo ao TCP até 1200 mOsm/l), uma elevação na osmolaridade no início do ramo ascendente fino (1000 mOsm/l) e sua redução até o início do TCD (100 mOsm/l). Em resumo, a reabsorção ativa e repetitiva de cloreto de sódio, outros íons e ureia no ramo ascendente espesso da AH, a qual é impermeável à água, e a chegada de novos íons (NaCl) no início do ramo descendente da AH, a qual é permeável à água, faz surgir um sistema multiplicador de contracorrente e permite a manutenção da hiperosmolaridade na medula renal. No entanto, esta hiperosmolaridade não pode ser perdida (“lavagem” da medula) quando ocorre reabsorção de água no TC devido à ação do ADH, portanto, tem-se o papel da vasa reta na manutenção desta hiperosmolaridade medular renal. VASA RETA A vasa reta serve como um trocador do mecanismo de contracorrente, diminuindo a retirada de solutos do interstício medular renal (evitando sua “lavagem”). O sangue flui pela medula renal pela vasa reta, a qual apresenta alta permeabilidade à água e aos solutos (NaCl), de forma semelhante aos outros capilares sanguíneos. À medida que o sangue flui pela vasa reta descendente, em direção à papila renal, ele progressivamente torna- se mais concentrado pela difusão dos solutos vindos do interstício. Já, quando este flui pela parte ascendente, em direção ao córtex renal, ele progressivamente torna-se menos concentrado, uma vez que ocorre difusão dos solutos para o interstício. Assim, ocorre um “desvio” da osmolaridade da parte descendente e ascendente em relação ao interstício. Em relação ao fluxo de água, pelo gradiente osmótico, ocorre o fluxo de água da vasa reta para o interstício na parte descendente (saída de água) e entrada de água na vasa reta ascendente. Devido a forma em U, a vasa reta evita a “lavagem” da medula renal e pode receber a água reabsorvida no TC, sem a perda de hiperosmolaridade medular, pois a vasa reta localiza-se ao lado da AH e do TC. Obs.: Sem a existência da vasa reta, o mecanismo multiplicador de contracorrente deveria ser “contínuo”, principalmente as etapas 4 a 6, as quais gastariam muita energia. Assim, a existência desta, a qual também possui um mecanismo contracorrente, auxilia na geração de hiperosmolaridade. URINA CONCENTRADA A urina concentrada, também conhecida como antidiurese, se apresenta de maneira hiperosmótica Laísa Dinelli Schiaveto (> 300 mOsm/l) e, em geral, com pequena volume urinário. A formação de urina concentrada ocorre nos néfrons justamedulares, os quais mergulham profundamente na medula renal, indo quase até a papila renal. Esta é produzida sob ação do hormônio antidiurético (ADH), cujos receptores estão localizados no TCD e principalmente no TC. Assim, o TCP e a AH não sofrem influências dos níveis de ADH. O fluido no TCP tem a mesma osmolaridade plasmática (300 mOsm/l) e, como nesta estrutura, ocorre a reabsorção isosmótica de água, cloreto de sódio e ureia, a osmolaridade não é alterada ao longo do TCP. Na parte descendente da AH, em direção à papila renal, devido à alta permeabilidade à água e baixa permeabilidade ao soluto, o fluido tubular torna-se mais concentrado (hiperosmótico), nos mesmo valores do interstício da medula renal até valores próximos a 1200 mOsm/l junto à papila renal. A parte ascendente fina da AH é basicamente impermeável à água e pouco permeável aos solutos, então ocorre reabsorção passiva do soluto, fazendo com que haja uma redução na concentração osmolar do fluido. A parte ascendente espessa da AH continua a ser impermeável à água, porém ocorre reabsorção ativa dos solutos (cloreto de sódio, potássio e outros) e o fluido torna-se hiposmótico no final da AH (100 mOsm/l). O valor ao longo do TCD vai depender da presença do ADH. Na formação da urina concentrada, os níveis de ADH estão elevados, tornando este túbulo permeável à água, devido à ação das aquaporinas, fazendo com que haja reabsorção de água e aumento na concentração osmolar do fluido. A ureia tem baixa permeabilidade. Assim, no final no TCD, a osmolaridade é cerca de 300 mOsm/l (isosmótica) ou igual ao filtrado glomerular. A concentração do fluido no TC vai depender da osmolaridade da medula renal e da presença de ADH. Níveis elevados de ADH tornam o TC altamente permeável à água, devido à ação das aquaporinas, e ocorre difusão da água do TC para o interstício da medula renal e, posteriormente, para a parte ascendente da vasa reta, evitando a perda renal de água. À medida que o fluido no TC, desloca-se em direção a papila renal, este torna-se mais concentrado (hiperosmótico) em valores iguais aos observados na medula renal (até 1200 mOsm/l). Assim, tem-se a formação de uma urina concentrada e com baixo volume. Ainda, a ureia no TC, devido a transportadores específicos, é reabsorvida para a medula renal, contribuindo para a manutenção da osmolaridade medular renal. A concentração osmolar elevada da urina deve-se à presença de cloreto de sódio, mas também de outros solutos (potássio, ureia e creatinina). Ressalta-se que a eliminação do NaCl irá depender dos níveis circulantes da aldosterona. Assim, em níveis elevados tem-se a elevada reabsorção do NaCl e a urina, apesar de concentrada, tem baixo volume deste sal e deve-se a presença de outros solutos. Já, em níveis baixos tem- se a grande perda renal de cloreto de sódio. CONTROLE DA VOLEMIA A volemia é definida como a quantidade de sangue total de um indivíduo; sendo que volemia globular define a quantidade de células sanguíneas e volemia plasmática define o volume de plasma na circulação. A manutenção da volemia plasmática, ou apenas volemia, é de fundamental importância. O ganho de água e outros líquidos advém do mecanismo da sede, da água contida nos alimentos e do metabolismo (em menor parcela). Já, a perdade água se faz pela urina (maior valor), fezes, suor e respiração. O organismo só consegue controlar com eficiência a ingesta oral de água e a perda renal, assim os mecanismos renais no controle da volemia se fazem Laísa Dinelli Schiaveto pela excreção de um volume elevado ou diminuído de urina, com uma urina diluída ou concentrada, respectivamente. HORMÔNIO ANTIDIURÉTICO (ADH) Trata-se de um hormônio produzido na região hipotalâmica e secretado pela parte posterior da hipófise (neurohipofise). Promove a reabsorção renal de água (retendo água no organismo). SECREÇÃO DE ADH A secreção de ADH pela neurohipofise deve-se a: • Variações do volume plasmático • Variações da osmolaridade plasmática (principal) • Variações da pressão arterial Ainda, outros fatores podem promover estímulos para a sua secreção (náusea, angiotensina II e nicotina) ou inibição (ANP, álcool e bradicinina). Obs.: Uma variação da osmolaridade plasmática menor que 1% já é suficiente para alterar a secreção de ADH, uma vez que os receptores hipotalâmicos são altamente sensíveis. Os receptores localizados no átrio e em grandes vasos pulmonares são os responsáveis por gerar informações que vão até o hipotálamo das variações de baixa pressão. Já, os baroceptores do seio aórtico e carotídeo são responsáveis pelas variações de alta pressão, ambos fazendo uma sinapse no tronco cerebral antes de chegar ao hipotálamo. PAPEL DO ADH NO CONTROLE DA VOLEMIA Os osmoceptores hipotalâmicos controlam a secreção de ADH. Quando secretado pela neurohipófise, este age nos TCD e TC renais. O ADH promove a formação dos canais de água (aquaporinas) e permite o fluxo de água dos túbulos renais, principalmente do TC, para o interstício medular renal. Permite, também, a secreção de ureia do TC para o interstício através da difusão facilitada, que auxilia na manutenção da osmolaridade medular. A água reabsorvida no TCD e TC segue para a parte ascendente da vasa reta e retorna à circulação. MODO DE AÇÃO DO ADH O ADH liga-se no receptor basolateral da célula do TC denominado de V2 (vasopressina), ativa a proteína G, que por sua vez, ativa a adenil ciclase e promove a formação do AMPc. Este ativa a fosfodiesterase, levando a formação da proteína cinase A (PKA), que resulta na inserção de vesículas de canais de água denominadas de aquaporina 2 (AQP2) na membrana apical e, também, no núcleo leva a formação de novas AQP2; enquanto, as AQP3 e AQP4 estão na membrana basal. Além disso, o ADH aumenta a permeabilidade do TC à ureia por meio do sistema AMPc/PKA e está associado à fosforilação dos receptores UT-A1 e UT-A3, que são transportadores de ureia, assim, permitindo a difusão facilitada da ureia do TC para o interstício. Esta ureia é responsável (40%) para a manutenção do gradiente hiperosmótico da medula renal. Quando a osmolaridade estiver aumentada, o volume plasmático ou a pressão sanguínea estiverem reduzidos é induzido o mecanismo da sede para repor o volume de água no organismo – a sensação da sede é satisfeita já pelo ato de beber água (ação neural), mesmo antes da água ser absorvida pelo TGI. CONTROLE DA OSMOLARIDADE A osmolaridade plasmática é definida como o número de partículas osmoticamente ativas de um soluto presentes em um litro de plasma. Esta é dada pelos: • Íons catiônicos: Na+, K+, Ca++ e Mg+ • Íons aniônicos: Cl-, HCO3- e H2PO4- • Substâncias osmoticamente ativas não iônicas: glicose, ureia, proteínas e outras. Obs.: Cerca de 80% da osmolaridade plasmática é devido ao cloreto de sódio (NaCl). A osmolaridade e a volemia plasmática guardam estreita relação entre si. Assim, se um individuo aumentar a ingesta de sal, há aumento da osmolaridade e a expansão volêmica (sede). No entanto, apesar desta relação, o controle renal do conteúdo de água e Laísa Dinelli Schiaveto sal são distintos e, em partes, independentes. Enquanto o controle do volume de água é regulado pelos níveis circulantes de ADH, o controle da osmolaridade é realizado pelos níveis circulantes de aldosterona e do peptídeo natriurético atrial (ANP). ALDOSTERONA Trata-se de um hormônio esteroide derivado do colesterol, da classe dos mineralocorticoides, produzidos pelas células da zona glomerulosa do córtex da glândula adrenal (ou sura-renal). Sua concentração plasmática é de 5 a 8 ng%, sendo transportado nas formar livres no plasma e ligado a proteínas. É degradada no fígado e excretada parte pela bile e parte pelos rins. Promove a reabsorção renal de sódio (retendo sódio no organismo). EFEITOS FISIOLÓGICOS DA ALDOSTERONA • Aumento da reabsorção renal de sódio, sendo que o cloreto segue o sódio • Aumento da reabsorção renal de água (por osmose) • Aumento da secreção de potássio e hidrogênio Assim, a aldosterona é um hormônio que controla a natremia (concentração de sódio no plasma) e a calemia (concentração de potássio no plasma). SECREÇÃO DE ALDOSTERONA • Níveis elevados de angiotensina II (e III discretamente) • Níveis elevados de potássio (hipercalemia) A angiotensina II advém do Sistema Renina- Angiotensina-Aldosterona (SRAA) e a elevação de apenas 3 mEq/l na concentração de potássio plasmático aumenta os níveis de aldosterona em cerca de 8 a 10 vezes. A perda total de aldosterona (adrenalectomia) leva a severa depleção do sódio (hiponatremia) e aumento da concentração de potássio (hipercalemia), as quais levam ao óbito entre 3 a 15 dias. MODO DE AÇÃO DA ALDOSTERONA A aldosterona apresenta um efeito via o núcleo da célula tubular renal, formando as proteínas indutoras (ação genômica) e uma ação mais rápida (ação não genômica), aumentando a permeabilidade ao íon potássio para a sua secreção. Por ser lipossolúvel, vai até o núcleo da célula tubular, via receptores específicos, e induz a formação de proteínas indutoras, as quais irão formar os canais para a reabsorção de sódio. As proteínas indutoras migram até a membrana apical e cria os canais de sódio, os quais difundem passivamente para a célula tubular e, posteriormente, para os espaços intercelulares, por meio de transporte ativo pela bomba de Na+/K+ ATPase. O potássio é secretado ativamente para o lúmen. A aldosterona age basicamente no TC pela translocação dos canais de sódio na membrana apical, promovendo a reabsorção de sódio. Como o co- transporte, o íon cloreto é reabsorvido passivamente com o sódio, devido ao potencial elétrico. A água segue, por osmose, a reabsorção de cloreto de sódio. Assim, tem-se reabsorção de NaCl sem alteração da osmolaridade plasmática. Secreção de Renina O aparelho justaglomerular é composto pelas células da mácula densa (no início do TCD, ao lado das arteríolas) e das células justaglomerulares. Variações no fluxo de sódio da mácula densa informa, de modo desconhecido, as células justaglomerulares a produzirem a enzima renina, que são estocadas em grânulos de secreção, sendo lançadas na circulação renal. A secreção de renina deve-se a 3 fatores: • Pressão Perfusão: quando está reduzida é detectada pela arteríola aferente (barorreceptores de alta pressão) e induz a secreção de renina; Laísa Dinelli Schiaveto • Ativação dos Nervos Simpáticos: o aumento do tônus do SNS na arteríola afrente, aumenta a secreção de renina; • Ação da Mácula Densa: quando a liberação de NaCl pela mácula densa é reduzida, a secreção de renina é aumentada. A renina cliva a molécula de angiotensinogênio com 14 aminoácidos, formando a angiotensina I, uma molécula com 10 aminoácidos, sem efeitos fisiológicos. No entanto, a ação da Enzima Conversora da Angiotensina (ECA), produzida nos pulmões e um pouco nos rins, tem a capacidade de formar a angiotensina II com 8 aminoácidos, com muitos efeitos fisiológicos. A angiotensina III com 7 aminoácidos aumenta discretamente a secreção da aldosterona. Já, os efeitosfisiológicos da angiotensina II, que é muito potente, são: • Estimulação de secreção de aldosterona das supra- renais (principal efeito da ação renal) • Vasoconstrição arteriolar acentuada, aumentando a pressão arterial • Estimulação da secreção do hormônio antidiurético (ADH) • Indução do mecanismo central da sede • Aumento da reabsorção renal de cloreto de sódio PEPTÍDEO NATRIURÉTICO ATRIAL (ANP) Trata-se de um hormônio produzido pelas células atriais do coração, sendo formado por um anel de peptídeo de 17 aminoácidos e duas hastes com 11 aminoácidos, totalizando 28 aminoácidos. Apresenta uma meia vida de 2 a 4 minutos. Este determinou a conexão hormonal entre o coração e o rim, podendo assim o coração ser considerado um órgão endócrino. Promove a secreção renal de sódio (eliminando sódio do organismo). SECREÇÃO DE ANP • Expansão volêmica • Aumento da pressão sanguínea Os barorreceptores de baixa pressão estão localizados nos átrios e no ventrículo direito e respondem ao estiramento devido ao enchimento cardíaco aumentado. Atua na regulação da volemia, da osmolaridade e da pressão arterial, promovendo a natriurese (perda renal de sódio) e, como consequência, do cloreto e da água, sem variações grandes da osmolaridade. EFEITOS FISIOLÓGICOS DO ANP • Natriurese (excreção de sódio) e diurese (excreção de água), reduzindo no TC a reabsorção de NaCl e água • Vasodilatação da arteríola aferente e constrição da aferente, com elevação da TFG e da carga filtrada de sódio • Inibição parcial da secreção de renina pelas células do aparelho justaglomerular • Inibição parcial da secreção de angiotensina II devido à redução dos níveis de renina • Inibição parcial da secreção de aldosterona pela supra-renal • Inibição parcial da secreção de ADH pela neurohipófise • Provável secreção de uma molécula pelos rins com efeitos semelhantes ao ANP chamada de urodilatina As ações renais do ANP se fazem por meio do mensageiro GMPc, que inibe os canais ativos de cátions na membrana apical da célula tubular por redução da atividade da bomba Na+/K+ ATPase, diminuindo a reabsorção ativa de sódio e, assim, aumentando sua excreção. EFEITOS CIRCULATÓRIOS DO ANP • Vasodilatação venosa e arterial • Inibição dos efeitos constritores da angiotensina II, catecolaminas e endotelina EFEITOS SOBRE O SNC DO ANP • Redução do tônus simpático periférico • Redução do reflexo da sede no hipotálamo • Redução da secreção de ADH pela neurohipófise Laísa Dinelli Schiaveto MECANISMO DA SEDE A sede é a sensação consciente do indivíduo para buscar a reposição de líquidos no organismo. Este mecanismo ocorre quando há elevação da osmolaridade plasmática, redução volêmica ou pressórica (ex.: hemorragia ou transpiração excessiva), aspectos sociais e culturais (ex.: beber numa festa) ou por alguma doença que afete a função renal (ex.: diabetes insipido). Uma elevação da osmolaridade plasmática de apenas 2-3%, desencadeia forte sensação de sede, porém, para a mesma intensidade de sensação, a volemia ou pressão arterial pode reduzir de 10-15%. O limiar da sede inicia-se em torno de 294 mOsm/l, tornando intenso ao redor de 310 mOsm/l. Em um mecanismo de sede normal e livre acesso à água, a osmolaridade é mantida constante apenas de poder existir grandes variações nos mecanismo de formação das urina concentrada. Em uma pessoa com diabetes insipido (incapacidade de secretar o ADH), a ingesta e a excreção de água pode ser até superior a 10 litros/dia, sem alterar a osmolaridade plasmática, uma vez que o volume de água que sai é o mesmo que entra. Os osmoceptores estão localizado no órgão vascular da lâmina terminal (OVLT) e no órgão subfornical (OSF), localizados no hipotálamo. Eles recebem influências dos receptores de alta e baixa pressão (volemia), dos receptores da orofaringe e do TGI (umidificação das mucosas), níveis de angiotensina II e ADH, influências do hipotálamo (térmicas e límbicas) e do córtex cerebral (conscientes ou não). Os osmoceptores localizados no OVLT detectam variação da concentração de sódio, pois a infusão de uma solução hipertônica de cloreto de sódio em animais gera antidiurese, mas a infusão de solução hipertônica de sacarose ou ureia suprime esta resposta. A desidratação destes receptores gera potenciais de ação que atingem os núcleos supra-óptico e paraventricular e, estes desencadeiam potenciais de ação para a secreção de ADH da neurohipófise e a sede. O ato de beber água gera impulsos nervosos aferente de origem na orofaringe, que suprime a sensação de sede temporariamente, mesmo antes da absorção do TGI e as correções da osmolaridade e volemia plasmáticas. Ainda, a ingesta de água também é influenciada por fatores sociais e culturais. DOENÇAS NEFRÓTICAS GLOMERULONEFRITE É uma inflamação e dano nos capilares glomerulares. Esta começa com acúmulo de complexos antígenoanticorpos na membrana das células glomerulares, com formação lenta de processo inflamatório, espessamento da membrana capilar, invasão de tecido fibroso, com redução acentuada da filtração glomerular (redução do Kf) que evolui para a incapacidade de haver a filtração glomerular, apresenta proteinuria, hematúria e edema de extremidades. As causas principais são infecções (virais ou por estreptococo), doenças vasculares e autoimunes. O tratamento depende da causa primária e inclui correção da hipertensão, administração de antibióticos, corticosteroides e imunossupressores. PIELONEFRITE É uma inflamação do rim, em geral causada por bactérias, como a escherichia coli e enterobacter. Os sintomas são febre, náuseas, ardor ao urinar, podendo evoluir para insuficiência renal e sepse. Os principais fatores de risco são as infecções recorrentes do trato urinário, relações sexuais de risco e obstrução do ureter; acomete mais mulheres que homens. O tratamento envolve a administração de antibióticos, a ciprofloxacina e, se associado a cálculos renais, uma intervenção cirúrgica pode ser necessária. Laísa Dinelli Schiaveto SÍNDROME NEFRÓTICA Também chamada de nefrose, é uma patologia renal que caracteriza-se por elevação acentuada da permeabilidade capilar glomerular que implica em perda significante de proteínas (proteinúria) que desencadeia hipoproteinemia, edemas, ascite, urina turva e sensação de cansaço. As principais causas podem ser a glomeruloesclerose, nefropatia membranosa, lúpus, presença de lesão do glomérulo renal, hepatite B, drogas e câncer. O tratamento foca a origem da doença, como a hipertensão, diabetes ou acidentes tromboembólicos e não há medicação específica. DIABETES INSIPIDO É uma doença caracterizada pela redução acentuada na secreção de ADH pela neurohipófise ou resistência dos receptores do ADH nos TCD e TC renais. A Diabetes Insipido (DI) pode ser classificada em 4 tipos, a saber: • DI Central: dano no hipotálamo (ato cirúrgico, infecções, AVC ou tumor central) que reduz ou anula a secreção de ADH. É o tipo mais frequente. • DI Nefrogênico: quando há lesão grave renal (nos néfrons); é rara. • DI por Polidipsia: causada por defeito no mecanismo da sede. • DI Gestacional: ocorre somente durante a gestação. O diagnóstico da Diabetes Insipido é em função dos níveis circulantes de ADH com restrição da ingesta de água, do volume e osmolaridade plasmática (diurese), ao volume de água ingerido (dispepsia) e a urina não apresentar moléculas de glicose (sem glicosúria). O tratamento se faz com a administração de doses de desmopressina (um análogo sintético do ADH). INSUFICIÊNCIA RENAL Pode ser classificada em Insuficiência Renal Aguda (IRA) ou crônica (IRC), quando os rins deixam de funcionar ou reduzem sua eficiência, apresentando redução da TFG e acúmulo de metabólitos no sangue. As causas mais comuns da IRA são a redução da pressão arterial, bloqueio do trato urinárioe síndrome hemolítica-urêmica. As causas da IRC são a hipertensão arterial, nefropatia diabética, síndrome nefrótica e doença renal policística. Os sintomas característicos são a antidiurese acentuada, edema, náuseas e vômitos, fadiga e uremia. O tratamento, na fase aguda, inclui hemodiálise ou diálise peritoneal e até transplante renal; na fase crônica inclui diuréticos, antibióticos (para prevenir infecções), restrição alimentar (sódio e potássio) e de líquidos. DOENÇA RENAL POLICÍSTICA Também denominada de síndrome renal policística é uma doença genética que afeta os rins, é hereditária (mutações nos genes PKD1) que leva a formação de vários cistos (tumor benigno com crescimento lento e indolor). Manifesta-se com alterações da função renal, é uma doença sistêmica que pode acometer outros órgãos (fígado e pâncreas). Esta relacionado à imunidade do paciente e os leucócitos contribuem para a lesão tecidual, devido à produção de mediadores inflamatórios e relacionam-se com os genes dos receptores de citocinas. Os sintomas são a hipertensão arterial, cansaço, dor lombar, hematúria e infecções do trato urinário. O diagnóstico é feito por ultrassom e não há tratamento específico para a doença, só a redução dos sintomas. NEFRITE INTERSTICIAL É caracterizada por uma inflamação renal com lesão nos túbulos renais e no tecido intersticial. Seu aparecimento deve-se a uma reação imunológica a um fármaco, neoplasia, doença autoimune ou alteração metabólica. As principais causas são por quimioterápicos, infecções renais (bacteriana, viral ou fúngicas), nefropatia idiopática e principalmente reação imunológica a certos fármacos (penicilina, ampicilina, sulfa, analgésicos e anti-inflamatórios não esteroides). Os sintomas incluem proteinuria, leucocitúria, hematúria, febre, dor lombar e nas articulações e micção frequente. Laísa Dinelli Schiaveto O tratamento deve ter correções da dieta, descontinuar o fármaco que levou à reação imunológica e o uso de antibióticos (contra infecções) e anti-inflamatórios não esteroides. SÍNDROME DE LIDDLE É um distúrbio hereditário raro, com mutações nos genes SCNN1B e SCNN1G, nos quais os túbulos renais (TC) excretam muito potássio, mas reabsorve muito sódio e água, de forma semelhante ao hiperaldosteronismo. Esta aumentada a atividade dos canais de sódio, levando a um quadro hipertensivo. Os sintomas incluem hipertensão, retenção de líquidos, alcalose do tipo metabólica e hipopotassemia. O tratamento se faz com a utilização de diuréticos poupadores de potássio, como a amilorida.
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