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130603983-Bonnici-Thomas-Teoria-e-critica-pos-colonialistas_13

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(s ed.."..cP-i». 
( 
COLONIALISTAS 
Thomas Bonnici 
o DISCURSO E 0 PODER: FOUCAULT E SAID 
A teoria e a crftio p6s-colonialistas, constituindo uma nova estetica peb qual os textos 
sao interpretados "po liticam ente", baseiam-sc l1a fntima rela~ao entre 0 discurso e 0 poder. 
Antes, portanto, de analisar 0 P6s-colonialismo em todos os seus aspectos, necessar io se faz 
indagar sobre uma faceta do pensamento pos-estruturalista referente a equa~ao dis curso e 
poder. As for~as pollticas e economicas, 0 controle ideologico e social subjazem ao di sc urso 
e ao texto, E evidente que 0 pocler, com todas as suas consequencias. e exerciclo para que 
surta 0 maximo efeito possive!. Gera~6es de europeus se convenciam de sua superioridade 
cultural e intelectual diante da "nudez" dos amerfndios ; gera~6es de homens, praticamente 
de qualquer origem, tomavam como fato indiscutfvel a infe rioridade das mulheres, Nesses 
casos, estabeleceu-se uma rela~ao de poder entre 0 "s uj e ito" e 0 "objeto", a qual nao reflete 
a verdade. 
Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900) proclama qu e os indivfduos primeiro dec idem 
o que desejam e depois encaixam os fatos em seus objetivos. Consequentemente, 0 homem 
encontra nas coisas somente 0 que e le mesmo colocoll nelas. Para Nietzsche, todo conhecimento 
expressa "0 desejo do poder". Como a verclade e 0 conhecimento objeti\'o nao existem, esses 
dois fatores sao apropriados por s istemas de poder para camuflar sell desejo de poder. Os 
individuos adotam certo tipo de filo so fia ou teoria cientffica quando esta de acordo com a 
"verdade" proposta pelas autoridades intelectuais ou pollticas contemporaneas , pela elite ou 
pelos ideologos. 
A teoria do discurso de Michel Foucault (1926-1984) une 0 ceticismo referente ao discurso 
e a abordagem historica da interpre ta~ao. Reconhece que 0 di sc urso, escrito ou oral, jamais 
poderia estar livre das amarras do pe rfodo historico em que foi produzido. Ou seja, 0 discurso 
esta inerente a todas as praticas e in s titui~6es culturais e necessita da agencia dos indivfduos para 
poder se r efetivo. Scmelhantemcnte a teoria de Lacan, 8. subjetivid8.dc e construfd8. 8.tfrlves do 
di sc urso: 0 indivfduo se identifica com OLl reage contra varias posi~6e s d e sujeito oferecidas por 
llma variedade de discursos num dado momento. Os ihdivfduos que pensam OLl falam fora dos 
http:subjetivid8.dc
·· . ... 
.. BONNICI .. 
" p",mwo, do di<c""o domin'mc <'0 definido< como lo"eo< ou ,·,du,ido< '0 cmudecim,n!o.1
. Em A hisloria da IOll{{fra (1961), Vigiar C plillir (1975), A hist(Jria da scxlIalid,lde (1976) , Foucault 
examina os campos discursivos mutantes em que esses problemas se descnvolvem em etapas 
especfficas da hist6ria e chega a conciusao de que os indivfduqs nao pensam nem falam sem 
obedecer aos arquivos de regras e restric;;6es socia is , especialmente ao sisrema educacional, 0 
qual define 0 que e racional e academico. Essas regras, cOlltrolando a cscrita e 0 pensamento, 
formam 0 arqllivo ou 0 inconscicllie posilivo da cultura. 
As regras estruturais que informam os varios campos de conhecimento VaG alem da 
conscicncia individual. Nao conhecemos 0 arquivo da epoca em que vivemos, porque e 
sinonimo do inconsciente a partir do qual falamos. Compreendemos 0 arquivo de outra epoca, 
porque somos absolutam e nte diferentes e distanciados dela. Por exemplo. percebemos as varias 
correspondencias que formam 0 discurso do pcrfodo medieval; os escrirores da Idade Media 
percebiam os eventos contemporaneos e pensavam atraves dessascorrespondencias e, portanto, 
nao podiam vc-Ias como n6s as vemos atualmente. 
FOllcault tenta descobrir as regras do discurso de llln perfodo espccffico e rebciona-Ias 
a analise do conhecimento e do poder. 0 discurso e historizado e a hisr6ria contextualizada. 
Ele considera a hist6ria em termos de lima luta sincronica do poder. Para ele 0 poder nao 
e nece ssaria mente algo repressivo, mas lima forc;;a produtiva que une as diferentes forc;;as da 
sociedade. Nenhum acontecimento nasce de uma causa lJJ1ica , mas e 0 produto de lima vasta 
rede de significantes e de poder. Ademais, a hist6ria e a hist6ria das idcias sao intimamente 
. ligadas a leitllra e a produ\,ao de textos litedrios. Esses rextos , pOI' sua WZ, sao a expressao de 
praticas discursivas determinadas hist6rica e material mente. Esses discursos sao produzidos 
dentro de urn contexte de luta pelo poder. Dc fato, na politica, nas artes c na ciclIcia 0 poder se 
constr6i atrave s do discurso e, portanto , a pretensao de que haja objeri\'idade nos discllrsos e 
falsa, havendo, entao, apenas discursos mais podcrosos e menos poderosos. 
A lItilizaC;;ao da geografia e da cicncia ilustrara esse POlltO . Quando se analisam os l1lapas 
dos cartografos medievais e renascentistas, pcrcebe-se que eics, com seus contornos, detalhes 
e nomes, tornaram-se lima tecnologia do imperio, lima interface graltca indispensavel nao 
apenas para navegar mas especialmente para gerenciar 0 mundo. 0 conhecimellto e 0 saber dao 
direito as terras prometidas supostamente de "nillguem", a divisao do l11undo, ao herofsl11o dos 
exploradores, a diversidade cultural, a alteridade, ao racismo. A partir da Nall/rali.\' Hisloria (77 
d.C.), de PUnio, e passando pelo Liber ChronicarUlI1 (1493), de Hartmann Schedel, e pelo SyslclI1a 
Nail/rae (1758) , de Linnaeus, ate as obras de certos cientistas do seculo XIX, cspecialmente A. 
de Gobineau, em A desigllaldade das Yafas humanas (1855), as discussoes diretas OU indiretas 
sobre 0 racisll10 pareciam sempre tender a comprovar a superioridade das rac;;as europeias e 
colocar na alteridade 0 resto do mundo . A apropria<;;ao das ciencias seguiu 0 mesmo padrao 
do colonizador, definido como a "inciina<;;ao a dividir, subdividir e redi vidir 0 seu tema sem' 
nunca mudar de opiniao sobre 0 Oriente como algo que e sempre 0 mesmo objeto, imutavel, 
uniforme e radicalmente peculiar" (SAID, 1990, p. 107).0 legado do imptrialisl110 foi construir 
as estruturas cientfficas. sobre crenc;;as existentes e herdadas, com a iinalidadc de indicar e 
consolidar os supostos donos do mundo. 
Para Foucault, 0 saber e 0 produto de urn discurso especffico que 0 formulou, sem nenhuma 
validade fora disso. As "verdades" das ciencias derivam do discurso ou da linguagem. 0 saber nao 
eo efeito do acesso das ciencias para 0 mundo real ou para a realidade autentica, mas das regras de 
seu proprio discurso. Segue-se que 0 saber das ciencias humanas econstrufdo porque as pessoas 
foram persuadidas a aceita-lo como tal. E saber porque 0 discurso e tao poderoso que nos fn 
acreditar que seja saber. 0 saber, portanto, e produzido pelo poder. Para Foucault, a questao da 
veracidade ou falsidade de um discurso nao e importante, ja que a "verdade" e produzida pelo 
poder. Concentra-se, portanto, naformafao disClirsiva, ou seja, nas regras pelas quais 0 discurso e 
coerente ou nos princfpios subjacentes ao discurso. Esses discursos dernminam 0 nosso modo 
de falar e pensar sobre, por exemplo, a sexualidade ou a sanidade mental, e nos persuade para 
258 - TEO R I A LITERA RIA 
· . 
--' -~ TEO R 'A E C R i ,>, C i\ P 6 s - CO L 0 N , ., L , S T ,\ S 
o autopoliciamento e a supervisao dos outros. Funcionando independentemente das inten ~6es 
especificas individuais (Foucault n ao es ta falando sobre 0 abuso do poder por individuos ou 
por governos que manipulam se us suditos e os m al1tem sob seu controle), os di sc ursos se 
perpetuam pelos usu ar ios qu e reproduzem se u poder. Na concep~ao de Foucault , 0 di sc llrso 
e internalizado por n6s, organizando 0 nosso ponto de vista do mundo e colocando-nos como 
um elo (inconsciente) na cadeia do poder. Foucault, portantQ, coloca a linguagem no centro do 
podersocial e das praticas sociais. E nesse ponto que se encontra 0 papel social da linguagem e 
da literatura como poder hegemonico. Todo 0 discmso de Os I/lsradas, qu e iriOllenciou inteiras 
gera~6es lu sas, come~ando pela sua imita~ao da Encida, ate as proezas heroicas dos portuglleses 
nos pontos embrionarios da Africa e da Asia, constroi a base de sua id eo logia da superioridade 
do europeu, qu e, por mandato divino, sllbmete os outros povos asua lei "s uperior". Semelhante 
influencia exerce u 0 discurso das pe~as teatrais d e Shakespeare, que outremiza e hierarquiza 
os pm'os lilllitrofes (os irlandeses), os de so rdeiros (homens e I1lLilhe res das tavern as) e os 
habitante s das longinquas colonias (Cajiba). Esse fator sera visto melhor no contexto do pos­
colonialismo. 
Embora 0 disc urso scja reple to de poder, nao e imune aos desafios Oll as mlldan~as inte rna s: 
e 0 lugar de confliro e lura, encarregado de criar e suprimir a resis te ncia. Para Foucault, 0 
di scurso refor~a 0 pod er e, ao mes mo tempo, 0 su bverte. Ao ser exposto, 0 di sc urso torn a-se 
fragil e fica mais propenso a ser contrariado. 
Seguindo os para metros de FOl1cault c Gramsci, Edward Said (193 5-2003), em Oriclilalisl/lO, 
publicado em 1978, de rnonstra como a teoria da desconstrl1~ao poder" dcsafiar a preten sao de 
objeti\'idade no contexto da hi stori a cultural. Desconstruindo a natllrc za do poder colonial, 
Sa id (1978) aprofu nda a critica pos-colon ial ista que se desenvolveu d man te os til ti m os qua ren ta 
anos. Ele d esco ns troi a imagem que 0 mundo ocidental tem do Oriente , ima ge l11 ess a que foi 
construida por lJistoriadores, escritores, poctas e estudiosos durante varios sec ulos . Utilizando 
"nao so os trahalhos erudiros mas tamhem as obras literar ias , as passagens politicas, os textos 
jornalisticos. livros de viagcns, es tudos reli g iosos e filolo gicos" (SAID, 1990, p. 34), Said mostra 
a constru~ao do Oriente atraves de romances. d esc ri~6es e informa~6es sobre a historia e a 
cliitura oriel1tais. 
Essas fOl'll1a s de escrita ocidcntal cOl1stroem llill discurso fOuClliltiano , ou seja , lim s istema 
de afirl11a~6e s e press upostos que constitllem um suposto sa ber e pelos quai s se constroi 0 
"conh ec im en to" sobre 0 Oriente. Evidentemente, tai s cli sc ursos, aparentel11ente dedicados 
exclusival11ente ao sa ber, estabelecem verdadeira s rel a~6es de poder. Para Said (1990), as 
representa~6es do Oriente (ou Orientalismo) feita s pelo Ocidente levam consciente e 
dete rmini sticamente asubordina~ao . Percebe-se, d e fato, um di sc urso etnocentrico repress ivo 
qu e legitima 0 controle europeu sobre 0 Orie nte atraves do estabelecimento de um (omlmlo 
negati\·o. A esperteza, 0 ocio, a i rracionalidade , a rudeza , a sensual idade , a crueIdade, entre ou tros, 
formam esse (oll slmIO, ern oposi~ao a outro (OII.(lmlo, positivo e supe rior (racional, dernocratico, 
progress ivo . civilizado etc.) , defendido e difundido pe la cuitllra ociclental. Encontra-se n esse 
ponto a hcgelllo llia do di scurso ocidental. Segundo Gramsci (1998) , a hegemonia e a domin a~ao 
consentida, ou seja, 0 metodo pelo qual os dominadores con seg uem oprimir os subalternos 'I'.. 
atraves d a ap rova~ao dparente de ssas rne smas classes sociais, especialmente peIa cultura. 0 
Orientalisrno, portanto, legitirnou 0 imperialismo e 0 exp;msionisrno para os proprios europells 
e convencell os "nativos" sobre 0 universa li smo (d mai s adiantada civiliza~ao do planetd e a 
europeia) dd civiliza~ao europeia. 
A teo ria d e Sa id (1990) e de outros te6ricos pos-co lon ialistas, q uase s i m u Itaneamen te 
adotada pelos adeptos de estudos afro-americanos e por feministas, stlbverte os pressupostos de 
tlma objeti\'idade esptlria que sustenta 0 Ocidente, a unicidade de sua cultura e de se u ponto 
de vista. 
T II( " " ~\ B O N.-"':IC I / LG c l :\ O~ A ;-"; :\ Z O LI N (OIlGAN I ZAD O RES ) - 259 
N N I C I 
-
Etnografia 
A pratica etnografica tOrna-se uma descri <;50 preco nce itual da cultura de uma ra<;J a pa rtir 
de pressupostos hegemonicos dos conqui stado res. 
Outro o sujeito hege m onico europe u . 
Hegemonia 
Alem de significar 0 do minio de um estado sobre outro, hege m onia e 0 pode r da classe 
dominante pa ra conve ncer as outras classes de que os interesses del a (da cl asse do minante) 
sao interesses comuns; conscquentemente, s~o ace itos por tOdas as Ollt raS classes. 
ouJro 
o suj eitO marginalizado pela hegemo nia euro peia; uma pessoa de ra<;a o u etnia di ferente, 
ou seja , n50-branca e nao-euro pei a. 
Etnicidade 
Distinta da ide ntidade racial, a etnicidade da pessoa inclui se us aspectos culturais, como J 
religiao , tradi <;6es de vestimenta e de comida , WeltanschauulIg etc. 
Discurso 
o rexto transform ado pe lo contexto o u interpreta<;ao; ponamo, altamente carrcgado peb 
ideologia domil13 n te, que exclui e degrada qualq ue r o utro discurso . 
Nativo 
Frequenrem ente, e um term o degrad ante para significa r a pessoa primitiva, 
educada, des prov ida de literarura o u cultura . 
paga. nao-
Imperio 
A pra tica 
europeu. 
polftica e ideol6gica de uma na<;ao hegemonica para o u tre m i za r 0 na o-
Panatico 
Eum si stema de supe n:i sao, consequcncia do poder sobre 0 sujeito o utrel11i zado, 0 qu;d e 
amea<;ado po r todo tipo de reprova<;ao moral e cultural c de exclusao . 
Quadro 1. Poder e controle . 
HISTORlA DO POS-COLONIAUSMO 
Iniciou-se 0 seculo XX com um rr is te panorama composto (1) por dezenas de povos c ll a ~6es 
s u bmetidosao colonial ismo eu ropeu, (2) po r milh6es de negros, descendentes de escravos, espccia Imente 
nos Esrados Unid os e na Africa do Sui, di sc riminados em seus direitos fundamentais, (3) pcla metade 
feminina da popula~ao mundial vivendo num contexte patriarcal, (4) pe lo poder politico c economico 
nas maos da ra~a branca, crista e ri ca em paises industrializados. Apesa r dessa imagem sombria, um 
dos fatores m ais caracreristicos do seculo XX foi a nitida consciencia da subjetiv idade pol iti co-cultural' 
e da res istencia de povos e nac;;6es contra qualquer tentativa para m anter a obj e tifica~ao ou iniciar uma 
nova modalidade de dependencia. 0 Renasc imento do Harlem (movimento cultural e literario entre 
escritores e arti stas norte-americanos, espec ialmente na cidade de Nova Io rque, cuj a finalidade foi 
rea l ~ar 0 interesse na cult~ra africana ao redor do m undo) nos Estados Unidos nas dccadas de 1920 c 
1930 mostra a recusa em deixa r a cultura eurocentrica, crista e branca continuar definindo a ol//ro em 
geral e a populaC;;ao afro-americana em particul ar (APPWI; GATES, 1997). Identica atitude estava 
por tras do movimento N egritl/de na decada de 1930 em varios paises afri can os. Essa tendencia para a 
autodeterminac;;ao dos povos em todos os aspectos teve um recrudescimento, apos a Segunda Guerra 
Mundial, especial mente nos movimentos pel os Direitos Civis nos Estados U nidos e na lura contra 
o colonialismo britanico, frances, ponugues, alemao, belga em todos os contin entes. N esses caSOS a 
autodetermina~ao politica e a autodefini C;;ao cultural andavam juntas. Na pratica , 0 Renascimento do 
Harl em e N egritude sao definidos como um mom enta cultural, literario e polftico d e tal envergadura 
que 0 teorico m artiniql1iano-arge lino Frantz Fanon confe re grande poder de luta po lirica as culturas 
e literaturas nacionais . 
260 - TE O R I A LIT E R A RIA 
· -.-_.-.~ T EO R I A E C R i ·r I C A I' 6 s - CO L 0 N I t\ LIS T A S 
Descoloniza<;ao I 
( 1776-1825) 
Movirnentos 
(1920-1939) 
Illdcpendcncia no 
Common\,·ea lth 
brit5nico 
( 1930-19-12) 
Desco l oniza<;~o II 
( 1945-1949) 
MovilncIltos prc­
independcncia 
(dCcada de 1930) 
Desco lo ni za<;ao III 
(1955 -1 975) 
Estados Unidos; 
America Centra l; 
America do Sui. 
RenascimclllO do 
Harlem, Estados 
Unidos; 
Ncgrirllde, lIa 
Africa. 
Canad:\; Australia . India ; Pa'luistao; 
Indonesia; 
Oriente Medio. 
Negritllde, lI a Africa; 
gucrril has. 
Africa do Nom; 
Africa equatorial e 
subcq uato rial; i1has 
do Caribc e col6n ias 
do slldeste asiatico c 
Ocea ni;\. 
Quadro 2. Mapa da descoloniza<,;ao entre 1776-1 975. 
Historicamente 0 movimento pr6 -independencia, especialm e nte das Americas britanica, 
portuguesa e espanhola, respectivamente no ultimo quartel d o sec ulo XVIII e no primeiro quartel 
do sec llio XIX, favorece u ce rta autonomia as culturas nao-europeias (mas nao-ind igenas) , com 
o consequente nascimento de uma literatura nac io nal (JOZEF, 1982). N os sec ulos XVIII e XIX, 
abundam no Brasil escritores e esc ritoras que desenvolviam seu trabalho com larga incorpora<,;ao 
de temas brasileiros, seguilldo padroes estCt iros europe/H. Foram 0 Moderni smo brasileiro, contudo, 
iniciado na cl ecada de 1920, e s ll as subco rrentes que ap resentaram propostas de uma arte 
cssencialmente brasileira. Em geral , todavia, fortes la<,;os ainda ama rravam as literatllras americanas 
aos modelos ellropeus. Praticamente ate meados do seculo XX, no co ntexto dos paises novos 
fabricados pelo colonialismo, nao existia llma lite ratura nacional na Africa e na Asia , e a literatura 
prodll zi da nesses contine ntes seguia padroes eurod~ntrjcos, ja qu e foi esc rita por viajantes, 
missionari os , mulheres de aclministradores coloniais e sol dados intimamente ligados a metr6pole 
colonizadora. Hariss imos foram os casos em que surgiram prodll<,;oes literari as diferentes clas da 
metr6polc. Por olltro lado, nao havia cl1lbasamento te6rico para detcctar a resistencia na lit eratura 
de entao. Tampou co eram clese n\'olv idas form as cl e leitura e escrita que pudessem "respo nde r" a 
co lo niza <,;ao ellrope ia arrai gacla nos para.metros do essenc ialisl11o, de supe ri o riclade cultural e de 
degradaC;ao da cultllra dos 01111'0.1. 
o pcriodoa p6s a Segunda G uerra Mundial viu 0 surgimento da te rceira onda de indcpcndencia 
politica cspecialm e nte nas na\ocs Clr iben has , africanas e as iaticas e, ao mesmo tempo. de llma 
lite ratllra escrita pe los nativos, nao sem problematiza<,;ao, nas lingu as dos ex-colonizadorcs. Os 
romances The Pallll-Wille Drinkard (1952), de Amos Tutuola , e Things Fall Apart (1958) , de C hinue 
Achebe, ambos nigerian os, fo ram tal vez as primeiras expressoes literarias alllmlicall/CIIIC lIalillas 
oriundas d a Africa e escritas em ingl es . Nasce entao uma lite ratura original e m inglcs a partirdas ex­
col6nias britanicas, a qual nao poderia se r chamada simples mcntc "literatura inglesa". Criticos d a 
metr6pole inglesa logo desenvolveram a id e ia de Commofllveallh Litera ture (literatura da comUll idade 
das cx-col6nias britanicas). Evidentemente, pode-se ver qu e a ideia de lima COlllll1oll l/lcalth Lileralure 
seguia os antigos pad roes m e tr6pole-coI 6 nia, com a Inglaterra posicionando-se no centro e as 
novas nac;oes independen tes colocadas na m argem. Na decada de 1970, os esc ritores caribenhos, 
africanos e asiaticos rej e itaram qllalquer conota<;ao do CO/IIlf/OI1 wealth, dcvido a continua<;ao do 
eurocentrismo peb critica britanica e a reeusa dos escrito res nativos em admitir a superioridade 
da civiliza<;ao britanica e europe ia . A expressao Commonwea lth Literature foi abandonada e surgiu a 
ide ia de chamar Literatllrasem ingles aexpressao literaria em lingua in g1esa oriunda das ex-col6nias 
britanicas. Esse fe n6meno nao ficou restrito aliteratura em lingu a inglesa, mas a todas as literaturas 
nasc idas nas ex-coI6nias. Em seu importante livro, Dathorne (1976) intitula os capitulos "Teatro 
africano em frances e em ingles", "Literatura africana em portugues". 
Nestas ultimas tres decadas surgiu 0 problema de como ler as obras de escritores que, 
es crevendo nas Hnguas europeias, sao etnicamente nao-euro peus. Hi atualmente escritores 
africa nos escrevend o em frances, ingles e portugues; autores caribenhos escrevendo em espanhol, 
ingles, frances ou ho landes; escritores indianos, paquistaneses e egipcios desenvolvendo uma 
TH OMA S BONNICI / LUCIA O SANA ZO ll N (ORG ANIZA DORES) - 261 
II 
II 
i I 
-
(Er»o N N I C I 
"'-'(
I literatura em ingles. Ejll sto ler essas obcls, profundamente in se ridas numa cultura nao-ocidental, 
atraves de parametros estrllturalistas, pos-estruturalistas, materialistas culturais. ou seja, atraves 
de lima abordagem ocidentaP Qual e 0 statlls dessas literaturas produ zi das nas ex-colonias? Se a 
rela<:;ao entre a metropole e a colonia' sempre foi ten sa, nao deveria essa lirera tura, escrita a partir 
da invasao colonial ate 0 presente, mostrar as tensocs inerentes aos cnconrros coloniais? Se a 
literatura da metropole foi usada para enfatizar a superioridade europeia atraves da degrada<:;ao ou 
an iquilamento da cultura nao-europeia, qual e 0 papel dessas lite raturas pos-coloniais? 
COLONIALISMO 
o termo colonialismo caracteriza 0 modo pec uliar como aconteceu a explora<:;ao cultural durante 
os ultimos 500 anos causada peb expansao ellropeia. Distinguem-se 0 imperialisll10 mediterraneo 
da Antiguidad e e 0 colonialismo pos-Renascimento. No mundo antigo, as grandes civiliza<:;oes 
mediterraneas orgulhavam-se em possuir colonias e insistiam na hegemonia da merropole sobre a 
periferia, a qual era considerada barbara , inculta e inferior. Said (1995, p. 40) define esse imperillm 
como "a pratica, a teoria e as atitudes de um centro metropolitano dominante governando um 
territorio di stante", como aconteceu a partir de 336 a.C., quando 0 imperio de Alexandre da 
Macedonia levou a civiliza<:;ao helenica para fora do Mediterraneo e polarizoll as ideias e as 
energias europeias para 0 Oriente, ou quando 0 imperio romano, apos 264 a.c., conquistou as 
ilhas mediterran eas, a Espanha, 0 norte da Africa, 0 Oriente Medio, 0 Egiro, a Galia, a Alemanha e a 
Inglaterra. Por outro lado, 0 mesmo autor afirma que 0 coloniali smo praticado apos 0 Renascimento 
"e a implanta<;ao de colonias em territorio distante" como consequencia do capiralismo incipiente, 
com a finalidade de explora<:;ao material para 0 cnriquecimento da mctropolc. 
A expansao colonial europeia nos seculos 'Arv e XVI coincidiu, ponanro, COIll 0 inicio de um 
sistema capitalista moderno de trocas economicas. As colonias foram imediaranlelHc percebidas como 
fonte de materias-primas que sllstentariam por 111 II ito tempo 0 poder central da merropole . Limitando­
nos ao Brasil, pode-se constatar que, a partir da Carta de Pero Vaz de Caminha are a publica<:;ao, em 
1711, de Oilillra e 0pl/lencia do Brasil, de Andre Joao Antonil, inumeros sao os rextos inf'ormativos sobre 
os recursos economicos das colonias e as praticas de explora<:;ao do territorio colonial. Adel1lais, 0 
sistema pan6plico pelo qual se supervisionava 0 espa<;o colonial era 0 metodo de viajanres c exploradores 
europeus dos seculos XIX e XX representando 0 conhecimento e 0 poder. Entre 0 colonizador e 0 
colonizado estabeleceu-se um sistema de diferen<:;a hierarquica £:,dada ajamais admitir lim equillbrio 
no relacionamento econ6mico, social e cultural. 
Mais grave tornou-se a situa<;ao de povos colonizados que eram racialmente diferen tes (os 
"hotentotes" na costa africana) ou que formavam uma rninoria (os aborfgenes da Australia). Entre 
o colonizador e 0 colonizado havia 0 fator ras:a, que construfa um relacionamento illjusto e desigua!. 
Os te rmos ras:a, m(islIIo e precollceito /'a(ial sao oriundos da posi<:;ao hegemonica cmopeia. Esse topico 
transformou-se numa justificativa para introduzir 0 regime escravocrata a partir de m eados do 
seculo XVI, quando se formou a ideia de um mundo colonial habitado por genre "naturalmente" 
inferior, programada pela natureza para trabalhar bra<:;almente e servir ao homem europeu branco. 
Do ponto de vista dos gregos e dos romanos, os barbaroi apenas nao falavam a lingua "clllta" e 
situavam-se fora da historia e da civiliza<:;ao. Aos olhos dos europeus colonizadores, 0 estado 
naturalmente inferior dos colonizados era umfato indiscutfve l, "provado" no seculo XIX pelas 
teorias da evolu<:;ao e da sobrevivencia do mais forte na doutrina darwinista. Se frequentemente 0 
colollizaclo aceitava a ideologia e os valores do colonizador c transformava-se emfantoche (lIIimic 
lIlan nos romances de VS. Naipaul), em outras ocasioes mostrava sua resistencia e subversao 
atraves da mfmica e dapar6dia. 
262 - TEO R I A L ITERARIA 
-
· t~ . 
--~~~y TEOR1A E CRiT1CA rOS-COLON1AL1STAS 
Segundo Ashcroft el al. (1991), podemos sistematizar as col6nias em (1) col6nias de povoadores, 
(2) col6nias de sociedades invadidas e (3) col6nias de sociedades duplamente invadidas. Nas 
col6nias de colonizadores (America espanhola, Brasil, Estados Unidos da America, Canada, 
Australia, Nova Zelandia), a terra foiocupada por colonos europeus que conquist;lr;lm, m;ltaram 
ou deslocaram as populac;6es indfgenas. Um;l modalidade de civilizac;ao europeia foi transplant;lda 
no vnio construfdo e os descendentes de europeus, mesmo ;lp6s a independenci;l polltica, 
mantiver;lm 0 idiom;l nao-indigena. Os colonos inquestionavelmente consider;lv;lm que 0 idioma 
europeu era ;lpropriado para expressar a complexa realid;lde do lug;lr ocupado, margin;lliz;lndo as 
linguas indigenas. 
Nas col6nias de sociedades invadidas (India e Africa com suas civiliz;lc;6es em varios estagios de 
desenvolvimento), as popula<:;6es foram colonizadas em SU;l terra. Os escritores n;ltivos, portanto, ja 
possuiam ideologi;ls, organizac;oes societarias e formas politicas, embora estas fossem marginalizadas 
pelos colonizadores. Raramente 0 idioma europeu substituiu 0 idioma do nativo; no m;lis, ofereceu­
Ihes um;l oportunidade para eomuniear-se com outr;ls soeiedades, elevar seu l1ivel cultural e manter 
as ligac;6es com a metr6pole. Em todos os casos, 0 idioma europeu sempre causou e ;lind;l C;lusa cert;l 
ambiguidade, espeeialmente na literatura nativa. 
As eol6nias das soeiedades duplamente invadidas referem-se ao esp;lC;o ocupado pel;lS soeied;ldes 
primordiais dos indigenas d;lS ilhas do C;lribe, as quais foram completamente exterminadas nos 
primeiros cern anos do descobrimento. A populac;ao atu;ll das indias Ocident;lis \'eio d;l Africa, Indi;l , 
Oriente Medio e d;l Europ::t, e e 0 resultado do desloc::tmento, do exilio 011 da escr;lvidao Entre todas 
as sociedades colonizadas, t;llvez a sociedade caribenha sej;l ;l que mais sofreu os efeitos devastadotes 
do proeesso eoloniz;ldor, onde 0 idioma e a eultura dominantes foram impostos e as eulturas de povos 
tao diversos, aniquilrldas. 
COLONlAS DE POVOADORES COLONlAS DE SOCIEDADES 
I NVAD IDAS 
COLONlAS DE SOCIEDADES 
DUPLAMENTE COLONIZADAS 
Americas espanhola c portuguesa, 
Estados Unidos da America, Canada, 
Australia, Nova Zcl;1ndia. 
india c Africa As illm do Caribc: 0 gcnocidio 
praticado contra os indigenas efctivou 0 
dcslocamcllto de popula~6cs da Africa, 
india, Asia, Oriente Medio e da Europa 
para a rCgiao. 
Linglias nativas quasc extintas, 
prevalcccndo as Iinglias ellropcias. 
Linguas nativas 
intcnsamentc; lingua 
apropriada. 
praticadas 
europeia 
Linguas originais suprimidas totalmente, 
prevalecendo as linguas europeias. 
QU;ldro 3. Tipos de col6nias, vicissitude das I inguas nati\'as e lingu;ls dominantes. 
A colonizaC;30 e 0 discurso colonialista eram tambem impregn;ldos pelo patriarealismo e pela 
exclusivid;lde sexista. 0 termo homem e seus derivados inclufam 0 homem e a mulher; 0 mesmo 
privilegio nao era dado ao termo mulher. A ideologia subj;lcente consistia, portanto, n;l junc;ao das 
noc;6es metr6pole e patriarc;llismo que estav;lm empenhad;ls em impor a eivilizac;ao europeia ao res to 
do mundo. A ac;ao "civilizadora" levada ao interior pelo eolonizador britanieo, a partir de 1750, na 
Africa, India e no sudeste asiatico, era tao bern preparada que eseondia a violencia e a degradac;ao as 
quais foram submetidos os nativos. Dois seeulos antes, a mesma justificativa de Colombo para faze­
los "cristianos" e de Caminha para "salvar esta gente" foi utilizada por portugueses e espanh6is para il 
camuflar a utilizac;ao de mao-de-obra indfgena em suas col6nias amerieanas, A tarefa civilizadora e 
a tutelagem paternal aSSlImidas pelas nac;oes europeias nada mais foram que urn pretexto pelo qual 
THOMAS BONNICI / L0cl.' OSAN,' ZOllN (ORGANIZADORES) - 263 
i 
-~;. . 
~o N N I C I 
intensificavam a rapinagem e a luta para a aquisi<;ao de materias-primas para suprir as na<;6es em) 
processo de industrializa<;ao crescente. 
o estigma da inferioridade cultural e do racismo impregnou tambem os colonos brancos, 
que, aos olhos dos agentes governamentais e da metr6pole, ficaram degenerados pelo hibridismo. 
Em Wide Sargasso Sea (1966), de Jean Rhys, foram ;,tribuldas aprotagonista Antoinette Cosway 
acusa<;6es de incesto, loucura, adulterio e ninfom;,ni;" porque ela era 0 result;,do cia mesti<;agem 
de descendentes britanicos com negros c;,ribenhos. No romance 0 wrtifo (1890), Jeronimo, 0 
portugues exemplar, mergulha na mass;, humam da f;'\'e!;, e degrada-se di;,nte dos encantos do 
ambiente, cia mllsica tropical e, de modo especial, da sensualid;,de de Rita Baiana. A metr6pole, 
portanto, enfatizava 0 fato de que esses colonos degenerados, prescindindo da heran<;a cultural 
de seus antepassados europeus, desenvolveram as caracrerfsticas dos nativos (pregui<;a, dan<;a) 
ou generalizaram aspectos de sua tipicidade nacional (;, bebedeira dos irlandeses). Todos esses 
aspectos criaram urn sistema mundial no qual certas culturas e sociedades eram consideradas 
essencialmente inferiores. Nos seculos XVI e XVII, os colonizadores espanh6is, portugueses 
e holandeses, e, mais tarde, nos seculos XVIII, XIX e XX, a Inglaterra e ;, Fran<;a, puseram 
em pratica 0 conceito polarizador "n6s - eles" ou Ollira - olliro. Para garantir a coesao do 
Outro diante das vicissitudes do mundo modemo, 0 colonizado foi incentivado a receber e 
compartilhar as benesses da civiliza<;ao. Para 0 colonizado, esse futuro promissor foi sempre 
preterido . 
OUTRO (0 COLONIZADOR) Outro (0 COLONlZADO) 
1. 0 centro imperial (a) constr6i 0 sistema pelo 
qual 0 sujeito colonizado forma a sua identidade 
como ciependente ou outro; (b) torna-se a 
unica estrutura pela qual 0 sujeito colonizado 
compreende 0 mundo. 
2. Representa 0 Outro Simb6lico e a Lei-do-Pai 
(conforme a terminologia de Lacan). 
1. 0 outro e formado por discursos de (a) 
primitivisl1lo; (b) canibalisl1lo; (c) separac;ao 
binaria entre 0 colollizador e 0 colonizado; (d) 
afirmac;ao da supremacia da cultura, ideologia e 
visao do mundo do colonizador. 
2. o sujeito colonizado e "filho" do imperio e 0 
sujeito degradado do discurso imperial. 
Quadro 4.0 Outro e 0 outro no sistema colonial. 
o colonialismo, fortanto, gira em torno de urn pressuposto no qual 0 poderoso centro cria a 
sua periferia. Embora 0 binomio centro/margem seja uma no<;ao binaria, ela define 0 que ocorreu 
na representa<;ao dos indivfduos durante 0 periodo colonial. 0 mundo foi dividido em duas 
partes, hierarquicamente constitufdas, e 0 centro se consolida\'a apenas atraves da existencia do 
outro colonizado. Segue-se que 0 centro, a civiliza<;ao, a ciencia, 0 progresso existiam porque havia 
todo urn discurso sobre a colonia, a selvageria, a ignorancia, 0 atraso cultural. Constituindo­
se 0 centro e relegando tudo 0 que havia fora dela como peri feria da cultura e da civiliza<;ao, a 
Europa sentia-se na incumbencia (missao) de colocar, sob diversos pretextos, essa margem em 
seu ambito. Enquanto DomJoao III escreve em 1548 que 0 principal objetivo de "povoar as ditas 
terras do Brasil foi para que a gente delas se convertesse anossa fe cat6Iica", em 18970 secretario 
das colonias ingles Joseph Chamberlain considerava as col6nias britanicas como estados nao­
desenvolvidos que jamais poderiam se desenvolver sem a assistencia imperial e que nao havia 
outra solu<;ao para garantir emprego pleno aos ingleses sem a cria<;ao de novos mercados (LANE, 
1978). 
264- TEO R ) A LITERARIA 
.-~ 
-~~.~ TE O R I .~ E C R ! T [ CAP 6 s - COLON I A li S T ., S 
SUJEITO E OBJETO 
· t A opressao, 0 silencio e a repressao das sociedades p6s-coloniais decorrem de uma ideologia de 
sujeito e de objeto mantida pelos colonizadores. Nas sociedades p6s-coloniais, 0 sujeito e 0 objeto 
pertencem a uma hierarquia em que 0 oprimido e fI.xado pela superioridadc moral do dominador. 
o colonizador, seja espanhol, portugues, ingles, se ill1poe como poderoso, civilizado, cuI to, forte, 
versado na ciencia e na literatura. Por outro lado, 0 colonizado e descrito constantemente como sem 
roupa, sem religiao, sem lar, scm tecnologia, ou seja, em nfvel bestial. Ea dialetica do sujeito (agente) 
e do objeto (0 outro, subalterno). A lingua cortada do personagem Friday no romance Foe (1986), de 
J. M. Coetzee, e 0 simbolo do colonizado mudo por ara voluntlrio do colonizador. A ausencia de 
relatos de indios ou de escravos brasileiros e de mulheres escritoras em todo 0 periodo colonial e pre­
republicano e emblematico. A autoetnografIa nao existe por for<;a da hierarquia imposta. 
Pode-se usar 0 termo subalterno para descrever 0 colonizado-objeto. 0 sllbaltefllo, termo em prestado 
da obra Note sulla storia italiana (1935), de Antonio Gramsci (1891-1937), refere-se a pessoas na 
sociedade que sao 0 objeto da hegemonia das classes dominantes. As classes subalternas podem ser 
compostas por colonizados, trabalhadores rurais, operarios e outros grupos aos quais 0 acesso ao poder 
e vedado. Os estudos coloniais interessam-se pel a hist6ria de grupos subalternos, necessariamente 
fragmentaria, ja que sempre esta submetida a hegemonia da c1asse dominante, sujeito da hist6ria 
oficial. 0 colonizado quase nao possuia meios para se apresentar e tampouco tinha acesso acultura e a 
organiza<;ao social. No Brasil existe apenas a etnografIa de indios do seculo XVI, cscrita e manipulada . 
por grupos europeus. Praticamente 0 mesmo pode ser afIrmado dos escravos negros trazidos ao Brasil 
e de seus descendentes brasileiros, das mulheres, dos agricultores sem terra, dos operarios urbanos 
exclufdos. 
Foi 0 colonizador europeu que lan<;ou 0 espa<;o colonial e 0 nativo avista do mundo num processo 
que Spivak (1987) chama de wor/ding. Wor/ding e a maneira pela qual a colonia come<;ou a existir como 
parte do mundo eurocentrico. A grande quantidade de (extos, incluindo mapas, pinturas, frontispfcios 
de livros, sobre 0 Brasil nos seculos XVI e XVII e publicados na Europa, formou, no imaginario 
europeu, urn conjunto de conceitos sobre a America portuguesa. Ea inscri<;ao do discurso imperial 
sobre 0 espa<;o colonizado. 0 metodo mais 6bvio consiste no preenchimento do mapa brasileiro com 
nomes de acidentes geograficos, 0 que signifIca conhecer e controlar. 0 segundo tipo de wor/ding e 
o "passeio" do europeu pelo pals colonizado. Ha muitas gravuras e desenhos mostrando 0 soldado 
ingles caminhando por territ6rio indiano ou africano. Nesse caso 0 sujeito colonial esta mostrando 
ao nativo quem realmente manda naquele espa<;o. Em sua Carta, 0 escrivao Caminha descreve os 
"passeios" dos portugueses pelas praias baianas, impondo na mente dos indigenas a supremacia do 
branco colonizador. A terce ira modalidade refere-se a degrada<;ao sistematica do nativo. Por que 
na cartografia brasileira e nas primeiras paginas dos livros impressos nos primeiros do is seculos de 
coloniza<;ao encontram-se constantemente cenas de antropofagia? Por que a nudez, 0 atefsmo, a 
pregui<;a, a selvageria, a sensualidade e a ignorancia sao t6picos constantes na descri<;ao do negro, .! 
quer no Brasil, quer na Africa do SuI? A imagem do nativo/escravo em tais condi<;6es foi 0 gatilho 
II
psicol6gico para a rapinagem da colonia em todos os sentidos. 
Os crfticos tentam expor os processos que transform am 0 colonizado numa pes so a muda e as 
estrategias dele para sair dessa posi<;ao. Spivak (1995, p. 28) discursa sobre a mudez do sujeito colonial 
e da mulher subalterna: "0 sujeito subalterno nao tem nenhum espa<;o a partir do qual ele possa falar". 
Bhabha (1998) afirma queo subalterno pode falar e a voz do nativo pode ser recuperada atraves da 
par6dia, da mlmica e da cortesia ardilosa, que amea<;am a autoridade colonial. Fanon (1990) e Ngugi 'i 
(1986) admitem que 0 colonizado pode ser reescrito na hist6ria, embora esse tipo de descoloniza<;ao I 
sempre seja urn fenomeno violento. 0 colonizado fala quando se transforma num ser politicamente 
consciente que enfrenta 0 opressor. Embora escritos por europeus, muitos relatos de viagens e 
romances pre- e p6s-independencia revelam inconscientemente a voz e os atos dos oprimidos. 
Materializa-se, portanto, 0 processo de agencia, ou seja, a capacidade de alguem executar uma a<;ao livre 
THOMAS Bo,",",c' / LUCIA OSANA ZOllN (ORGANIZADORES) - 265 
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j 	e independentemente, vencendo as impedimentos processados na constru«ao de sua idelltidade. Note­
se que em 0 Uragulli, cuja finalid;tde foi a exalta«ao do marques de Pombal, destacam-se as vozes dos 
indios. Esse fato mostra a supera«ao de estado de objetos e as revela como agentes. Nos estudos p6s­
coloniais, a agencia e urn elemento fundamental , porque revela a alltonomia do sujeito em revidar e 
contrapor-se ao poder colonial. Nesse contexto, e importante a teoria da subjetividade construida pela 
ideologia (segundo Althusser), pela linguagem (segundo Lacan) e pelo discurso (segundo Foucault), 
ja que qualqu~r ato do sujeito e conseql1encia desses tres fatores. A questao envolve a constitui<;ao da 
identidade na divisao Outro-outro imposta pelo colonialismo (TODOROV, 1991) . 
1. . SlIuallerno: literalmente significando "sujeito de categoria inferior", 0 termo foi criado por Gramsci ; trata-se de 
gualgue r sujeito sob a hegemonia das classes dominames. 
2. 	 Em termos pos-co]oniais, as esluda.< slIuallernos se referem aanalise da subordina~ao na sociedade devido ac1asse, casta, 
ldade, genero, profissao, religiao e outros. 
3. 	 o fator mais constante nos estudos subalternos sao os metodos de resis/ellcia adotados contra 0 colonizador ou a elite 
dominadora. 
4. 	 Pode 0 subaltemo falor' e a pergllnta mais imporr;\Jlte. 
5. 	 Em sociedadcs pos-coloniais, a mlllher e dllplamellte sllbalterna: cIa e 0 objeto da historiografia colonialista e da 
constru~ao do genero. 
6. 	 o diswrso pas-colollia! e a apropria(clO da lill.li"agc lIl pelo subaltcrno constituem mctodos p~r~ que a voz lTlargill~lizada 
possa ser ouvida. 
Quadro 5. 0 subaltcrno e sua voz. 
COLONIALISMO E FEMINISMO 
Ha estreita rela«ao entre as estudos p6s-coloniais e a feminismo. Em pnmelro lugar, ha uma 
analogia entre patriarcalismo/ feminismo e metr6pole!colonia au colonizador/colonizado. "Urna 
mulher da colonia e uma metafora da mulher como colonia" (DU PLESSIS, 1985, p. 46). Em segundo 
lugar, se a homem foi colonizado, a mulher, nas sociedades p6s-coloniais, foi duplamellte colonizada .. 
Os romances de Jean Rhys, Doris Lessing, Toni Morrison e Margaret Atwood testemunham essa 
dialetica. Na hist6ria do Brasil, a mulher sempre foi relegada ao servi«o do homem, ao silencio, adupla 
escravidao, aprostitui«ao au a objeto sexual. Na literatura, muitos sao as romances que representam, 
atraves de Sl1as personageris femininas, essa sitlla«ao. Diversos romances de Jorge Amado, par exemplo, 
retratam essa subjuga«ao da mulher. 
o objetivo dos discursos p6s-coloniais e do feminismo, nesse sentido, e a integra«ao da mulher 
marginalizada a sociedade. De modo semelhante ao que acontecell nas ref1exoes do discurso 
p6s-colonial, no primeiro periodo do discurso feminista, a preocllpa«ao consistia na sllbstitui«ao 
das estruturas de domina«ao. Essa posi«ao simplista evoluiu para urn questionamellto sobre as 
formas literarias e 0 desmascaramento dos fundamentos masculinos do dnone. Nesses debates, 
o feminismo trouxe aluz muitas questoes que 0 p6s-colonialismo havia deixado obscuras, e vice­
versa. De fato, 0 p6s-colonialismoajudoll 0 feminismo a precaver-se de pressupostos ocidentais 
do discurso feminista. 
266 - TEO RIA LITERARIA 
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- -_..-~ TEO R I A E C R i TIC .\ P 6 s - COL 0 N I A LI S T A S 
1. A Illulher edllp/Oillellie r%llizada pcb sociedade indfgena e pelo poder colonial. 
2. frequ entementc as questoes deg<'IIt"(,· sao minilllizadas ou releg~das a segundo plano na analise pos-colonial. 
3. A o!Jjelij/rQ(;iio da lilli/her torna-se a Il1c[,ifora da degrada<;ao das sociedades sob 0 coloniali smo. 
4. A voz da Ir/u/her na fic<; ;io e 110 dest' I\ \'olvimcnto do canone literario rompe os pressupostos ma sculinos 
5. Ques toes de idell/idade, colltro/e, po,h (agi!uria) e de all/oria tornalll-se as mais relevante s. 
6. Consolida-se 0 estilo litcrario carac[aizado pela diferC/l(a, dil/widade e illlprevisi!Ji/idade. 
7. Ha necess idade de constaflle lligil<ill(jll contra as manobras do Outro (a sociedadc branca Oll homens negros). 
Quadro 6. 0 feminismo em sociedades p6s-coloniais. 
Petersen (1995) observa qut' em muitos parses do Tercejro Mundo ha 0 dilema sobre 0 que e 
necessario empreender primeiro: a igualdade feminina ou a luta contra 0 imperialismo presente na 
cultura ocidental. Em Thillg' Fall.-lparl, 0 personagem Okonkwo e castigado nao pOI-que bateu em sua 
esposa, mas por haver batido Il eb numa semana considerada sagrada. Petersen (1995, p. 254) resolve 
a qllestao com lima cita<,;ao de Ngugi: "Nenhllma liberta<,;ao cultural sem a liberta<,;ao feminina". A 
escritora nigeriana Buchi Emechcta insiste sobre a "autentica perspectiva feminista, a focaliza<,;ao na 
explora<,;30 da mlllher e a luta dela pela liberta<,;ao" (BENSON; CONOLLY, 1994) . Efetivamente, a 
dllpla coloniza<,;30 causou a objerifica<';3o da mulher pela problematica da classe e da ra<,;a, da repcti<,;ao 
de contos de fada europeus e da legisla<,;ao falocentrica apoiada por potencias ocidentais. Entre 
outras, a mais e£leaz estrategia de descoloniv<,;30 feminim concentra-se no uso da linguagem e da 
experimenta<,;50 linguistica. Muiro esclarccedor 0 romancc A repllvliw dos sonhos (1984), de Ntlida 
pirlOn, no gual se dcscrc\'e c st' dnali sa 0 processo de cresccnte consciemiza<,;ao politica de Eulalia, 
Esperan<,;a c Brcta em tres perfodos politicos distintos do seculo XX 
o QUE E A L1TERATURA POS-COLONIAL 
Diante dos princfpios acima. podemos de£lnir a literatura p6s-colonial como toda a literatura, 
inserida no contexto de cllltura. "a fetada pelo processo imperial, desde 0 primeiro momenta da 
coloniza<,;ao europeia ate 0 preseme" (ASHCROFT et a/., 1991, p. 2). A critica p6s-colonial, po tanto , 
abrange a cultllra e a literatura, ocupando-se de perscruta-Ias durante e ap6s a domina<,;30 imperial 
europeia, de modo a desnlldar seus efeitos sobre as Iiteraturas contempodlneas. De fato, todas as 
literaturas oriundas das ex-col6nias ellropeias, sejam elas portllguesas, espanholas, inglcsas ou 
francesa s, (1) surgiram daexperiencia da coloniza<,;30 e (2) reivindicar;l1TI-sc pe rante a tensao com 0 
poder colonial e diante das diferen<,;as com os pressupostos do centro imperial. 
E":periencia da coloniza<;ao 
TCllsao com 0 poder colonial 
literatura pos-colonial
Difercn<;as com os pressupostos 
Imperial 
d o centro 
Quadro 7. A forma<,;ao da literatura p6s-colonial. 
-
~o N N I C I 
I A emergencia e 0 desenvolvimento de literaturas p6s-coloniais dependem de dois fatores 
importantes: (1) a progressao gradual da conscientiza\ao nacionaI e (2) a convic\ao de serem diferentes 
da literatura do centro imperial. Na primeira expressao "Iiteraria" brasileira, nem a conscientiza\ao 
nacional nem a diferencia\ao tem ressonancia. De fato, ela envolve textos literarios que foram 
produzidos por representantes do poder colonizador (viajantes, administradores, soldados e esposas 
de administradores coloniais) . Tais textos e reportagens, com detalhes sobre costumes, fauna, flora 
e lingua, privilegiam 0 centro em detrimento da peri feria, porque visam exclusivamente ao lucro 
que a metr6pole tera com a invasao e a manuten\ao da colonia. As descri\6es de Fernao Cardim, em 
Do clima e terra do Bmsil (edi\ao inglesa de 1625), Jean de Ury, em Viagem a term do Brasil (1578), e 
Gabriel Soares de Sousa, em Tratado desaitil)o do Brasil (1587), com sua pretensao de objetividade sobre 
frutas tropicais, esmeraldas, rios e outros temas, como tambem a atomiza\ao dos objetos descritos 
pelos pintores e botanicos hoJandeses, como Albert Eckhout, Wilkm Piso, Johann Nieuhoff e Georg 
Marcgraf, escondem 0 disCllrso imperial. 
A segunda etapa envolve tel\1:osliterarios escritos sob supervisao imperial por nativos que 
receberam sua educa\ao na metr6pole e que se sentiam gratiflcados em poder escrever na lingua do 
europeu (nessa epoca nao havia nenhuma consciencia de cia ser tambcm do colonizador). A c1asse 
alta da India, os missionarios africanos e, as vezes, prisioneiros degredados na Australia sentiam-se 
privilegiados em pertencer a classe dominante, ou em ser por ela protegidos, e prod uziram volumes de 
poem as e romances. A Prosopopeia (1601), de Bento Teixeira, e 0 Uragllai (1769), de BasIlio da Gama, 
sao exemplos ci;\ssicos desse fenameno na iiterJttlrJ brasii<:>ira. 
Embora muitos dos temas (0 fato de que supostamente a cultura do colonizado era mais antiga do 
que a europeia, a brutalidade do sistema colonial, a riqueza de sellS costllmes, leis, cantos e proverbios) 
abordados por esses autorcs estivessem carregados de SUb\TrSaO, sem dllvida os autores nao podialll ou 
nao queriam perceber essa potencialidade. Alem disso, a mantlten\ao da ordel11 e as restri\oes impostas 
pela potencia imperial nao permitial1l nenhllma Illanifcsta\ao que pudcssc mostrar algo difcrentc dos 
cri tcrios cananicos Oll pol iticos. 
A terceira etapa ell\'olve lima gal1la de tcxtos, a partir de certo grau de difcrcllcia\ao, ate lima total 
rllptura co 111 os padrocs da metr6pole. Evidcntcmentc, cssas literatllras depcndial11 do C<lncelal11ento do 
poder restritivo, Oll seja, come\aram a ser escritas ou umas dccadas antes Oll a partir da independcl1cia 
politica. A oscila\ao de "brasilidade" nas obras de Basilio da Gama, Santa Rita Durao, Clalldio Manoel 
da Costa, dos poctas romanticos e deJose de Alencar emuito Illtida: a bajllla\ao ao colonizador, 0 cstilo 
literario portugucs. 0 afastal11ento da ret6rica camoniana, tcmas brasilclros. fabrica\ao da mitologia 
brasileira. Pela conscientiza\ao p6s-republicana, com Machado de Assis e com 0 Modernismo, 
ocorre a guinada completa do estranhamento e afastamel1to da literatura brasileira dos parametros 
metropolitanos, sejam esses portugueses ou franceses. De\·ido a manuten\ao da centraliza\ao britanica, 
acredita-se que a literatura em ingles oriunda das ex-colonias britanicas tenha ido mais longe em sua 
enfase na linguagem, na par6dia e na satira. Em Things Fall Apart (1958), Cilillua Achebe ridiculariza 
o administrador colonial que deseja escrever 11111 livro sobre os costumes primitivos dos selvagens 
do alto rio Niger, quando 0 autor ja havia e:ll.'}Josto a complexidade de costumes, religiao, hierarquia, 
legisla\ao e proverbios da tribo dos Igbos na regiao chamada Umuofia. 
1. textos literarios prodllzidos por representantes do poder colonial (viajantes. administradores. esposas dos colonizadores, 
religiosos). 
2. textos Iiterarios produzidos por nativos, mas sob supervisao colonial (religiosos nativos. c1asse intelectual educada na 
metr6pole. protegidos dos colonizadores). 
3. textos literarios escritos por nativos a partir de certo grau de diferencia~ao dos pad roes da metr6pole, ate sua 
rllptura total. 
Ql1adro 8. Os tres momentos da Iiteratura p6s-colonial. 
268 - TEO R I A L1TERARIA 
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' .-·-~~TEORrA E cRiTr C A !' 6S -COLONrALrST AS 
QUESTIONANDO 0 CANONE LITERARIO.­
Quais sao os doeumentos historieos ou Iiterarios nos quais a voz do slivallemo e transmitida? Como 
o eolonizado se desereveu durante seeulos de submissao? Como 0 europeu viu a prescn<;;a do olltrol No 
canone literario 0 colonizado eneontrou sua voz ou csta fieou relegada aauseneia Ninguem pode negar' 
que atualmente ha uma verdadeira extensao do canone literario,ja que te,,1:os de mulheres, indigcnas, 
escravos e membros de OlltroS grupos historicamente marginalizados come<;;aram a cmcrgir. Houvc 
tempo em que 0 dnone literario estava feehado: sornente um conjunto de textos, consagrados como 
esteticamente excelenres, era escolhido pelo grupo social e politicamente dominante, e considerado 
digno de ser lido, com a consequente exclusao de outros toctos que nao eoadunavam com 0 ponto de 
vista do grupo hegemonico. Um maior ntimero de textos estao sendo e studados como rcpresenta<;;oes 
da experiencia e da CLlltura da mais variada gama de grupos de pe ssoas. Houve comprometimento nos 
padroes literarios? Os textos formadores do dnone foram escolhidos rela sua exeelencia literaria ou 
pela represemarividade cultural? E legitimo insistir sobre uma representa<;;ao politicamente correta 
para cada minoria, em detrimento da utiliza<;;ao de eriterios literarios? 
Discutem-se muiro , atualmente 0 canone litera rio e sua forma<;;ao. Enquanto Harold Bloom, 
em 0 (finone o(idel/tal (1995), insiste sobre a autonomia do esteeico e deplora qualquer ideologia na 
crltiea literaria , os adeptos do Pos-modernismo (multicllltllralismo, feminismo, Novo Historicisl11o, 
afrocentri smo) dilatam a abrangencia do can one. Nao faltam crlticos, como Perrone-Moises em 
Altas Literatllm.' (1998). que tomam posi<;;:io intermediaria. S;r,be-se, contudo, que a formac;:ao do 
canone literario deu-se porque certas obras literarias em determinados periodos historicos culruavam 
interesses e propositos eultllrais particulares, como se fossem 0 lmico padrao de investiga<;;ao literaria. 
E extremamenre interessante saber como certos textos foram selecionados por intcresses, tornando­
se , portal1to, dignos de serem estudados. E interessante investigar como as ideias de excelencia 
literaria pe rmearam as escolas do ensino fundamental, os exames vestibulares, 0 currlculo dos cursos 
de Letras nas universidades. Os romances de Jose de Alencar (1829-1877) , 0 principal escritor da 
fic<;;ao romal1tica brasileira e expoente maximo do Indianismo, foram apropriados 110 canone literario 
brasileiro porCJue nos pcriodos pos-independencia e pos-republica necessitava-se de alguem que 
mostrasse orgulho, amor, defesa da patria, e criasse arquctipos de uma terra edcnica e da unifica<;;ao 
nacional. Na Inglatcrra, as obras de Alfred Tennyson (1809-1892) naturalmente entraram no canone 
literario por causa d e seu enaltecimento do imperialismo britanico, da coragem de sells soldados e 
dos arquetipos criados no conjul1to de poemas sobre os fundamcl1tos miticos do povo ingles. POl' 
outro lado, numa sociedade patriarcal e machista, os textos e as biografias das escritoras brasileiras do 
seculo XIX e do inicio do seculo XX foram quase todos suprimidos. Suas obras foram literalmente 
relegadas ao esquecimento. Somente nestas ldtimas decadas a academia brasileira (especialmente nas 
universidades federais do Rio Grande do Norte, de Minas Gerais e de Santa Catarina) resgatou a 
historia e as obras de autoras brasileiras. 0 mesmo aconteceu no bojo da sociedade branca e europeia 
dos Estados Unidos. Entraram no canone literario estadunidense os textos dos ex-escravos Frederick 
Douglass (1817-1895) e Harriet Ann Jacobs (1813-1897) apenas nos llitimos vinte e cinco anos do 
seculo XX, de\'ido a interesses de diferentes experieneias culturais e de formas literarias. 
A RELEITURA 
A releill/m e LIma estrategia para ler textos literarios ou nao-literarios e, dessa maneira, garimpar suas 
implica<;;6es imperialistas e trazer atona 0 processo colonial. A releitura do texto fn emergir as n uan<;;as 
colonia is que ele mesmo eseonde. Quando se Ie urn romance da literatura brasileira do seculo XIX, pol' 
exemplo, nada se depara, aprimeira vista, sobre os contrapontos da riqueza pessoal dos personagens, 
da suntllosidade de sells solares e de sua vida folgada. A reinterpreta<;;ao Oll a leilum contrapontual 
TH OMA> B ON Nier / L UC IA O S.\ N A ZOLIN ( O RG A N IZAl> O RES) - 269 
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:00 N N I C 
r	revel a que a origem dessa riqueza esta enraizada na escravidao de indios e negros, no comer-cio da 
carne h umana, na invasao e viola<;ao de terras alheias, nos castigos horrendos, na man u ten<;ao do 
estado racista. Fundamentando-se nao na Intima rcla<;ao entre literatma metropolitana (portuguesa) 
e colonial (brasileira), mas na realidade social e cultural, a releitura e uma volta "ao arquivo cultural 
[que e lido] de forma nao unlvoca, mas em contraponto, com a consciencia simultanea da historia 
metropolitana que esta sendo narrada e daquelas outras historias contra (e junto com) as quais atua 0 
disCllfSO dominante" (SAID, 1995, p. 87). . 
A reinterpreta<;ao e, portanto, LIma maneira de reler os te>..1:OS oriundos das culturas da metropole e da 
colonia para focalizar os efeitos incisivos da coloniza<;ao sobre a produ<;ao literaria, relatos etnicos, registros 
historicos, discursos cientificos e anais dos administradores coloniais. A releitura e a desconstru<;ao das 
obras dos colonizadores, de nativos a servi<;o dos colonizadores e de escritores nacionais. Demonstra 
como 0 texto e contradit6rio em seus pressupostos de ra<;a, civil iza<;ao,justi<;a, religiao. Poe em evidencia a 
ideologia do colonizador e 0 processo da coloniza<;ao. A desconstl"ll<;ao empreendida pelo romance Thillgs 
F(/II Ap(//1 revel a que 0 colonizador que insiste na selvageria das tribos da Nigeria e um mentiroso, porque 
o romance de Achebe esta cheio de epis6dios de literatura oral (orafllra, proverbios), de leis para dirimir 
questoes litigiosas, de praticas religiosas, de convivencia social harmoniosa. 
A reinterpreta<;ao tlZ parte da inevitavel tendencia do academico que trabalha com 0 pos­
colonialismo para subverter 0 texto metropolitano. As estrategias subversivas revelam (1) a forma 
da domina<;ao e (2) a resposta criativa a esse fato. Isso acontece quando (1) se denuncia 0 titulo de 
"centro" que as literaturas europeias deram a si mesmas, e (2) se questiona 0 ponto de vista europeu 
que "natural e constantemente" polariza 0 centro e a periferia. E importante desaflar este ultimo item, 
ou seja, frisar que nao e legitimo ordenar a realidade dessa maneira. 
Ate meados da decada de 1960, Prospero, 0 duqlle e mago, emA fell/pesfaae (1611), de Shakespeare, 
era analisado como um homem maltratado pelo proprio irmao. Prospero c descrito como um pai 
bondoso, um orientador de sua f1lha Miranda e de seu futuro genro Ferdinand, urn homem que 
castiga apenas quando a necessidade mge, um cavalheiro que sabe perdoar os inimigos e esquecer 0 
mal que the f1zeram. Uma leitma pos-colonial. no entanto, come<;a a desenvolver-se a respeito desse 
personagem. Prospero revelou-se 0 Llsurpador que se apoderou da ilha pertencente a Caliba; 0 senhor 
que escravizou 0 nativo ap6s seduzi-Io; 0 controlador cia ITlcmoria de Ariel, CaJiba e Miranda para 
satisfazer sua ambi<;ao; 0 despot a que mantem 0 dOll1lnio sobre a sexualidade de sua f1lha Miranda e 
de seu futuro genro Ferdinand; 0 personagem que sai da cena triunfante e ill1une a Clualquer ato de 
insubordina<;ao. Essa releitura revela as implica<;oes do encontro entre colonizador e colonizado, as 
estrategias de domina<;ao do primeiro, a marginaliza<;ao e a objetiflca<;ao do nativo, a resistencia do 
escravizado pela utiliza<;ao da lingua do colonizador e pelo revide flsico. Revela tambelll a incipiente 
historia da coloniza<;ao britanica e suas estrategias de polariza<;ao que serao desenvolvidas na terrlvel 
historia do imperio ingles entre os secul(Js XVIII e XX. 
A pe<;a Nafesfa ae Sao LOllrw{o (1587), deJose de Anchieta (1534-1597), parece revelar simples mente 
um drama singelo e primario com que 0 missionario podia facilitar a prega<;ao da doutrina crista. U ma 
Ieitura pos-colonialtraz a tona a demoniza<;ao e a zoomorforiza<;ao dos indios, as quais revelam 0 
maniqueJsmo (Oll binarismo) de Anchieta, a objetiflca<;ao dos nativos, 0 vilipendio de Slla Cllitma, a 
superioridade cia civiliza<;ao europeia (e da religiao crista). 0 texto dra matico expoe as claras a ideologia 
colonial. 
Normalmente a leitura de 0 AfC/le/l (1888), de Raul Pompeia, mostra a historia do internato como 
reflexo da sociedade no terceiro quartel do seculo XIX, ou seja, a historia da elite brasileira, "enrig uecida 
pela setentrional borracha Oll pcla charqueada do suI", no contexto de falencia e da decadencia do 
regime monarquico de base escravista. U rna rdeitura poderia revelar 0 sistema educacional europeu 
como centr::dizador e esmagador da personalidade; a resistencia de uma sociedade oprimida que anseia 
por uma independencia verdadeira, em todos os sentidos; a elite traidora da nacionalidade e do povo; a 
incapacidade de distanciar-se do conte>..1:O de dependencia completo; 0 surgimento de sujeitos/agentes 
que constroem dos escombros a autonomia da na<;ao. 
270 - TEO R I A LITERARIA 
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-~TEORIA E.CRiTICA P6S- C OlONIAlISTAS 
I. 	 Passar de uma atitude que define a literatura como enaltecedora e transcendence para uma visao de literatura inserida 
no contexlO hist6rico e no espac;o geopolftico. 
2. 	 Perceber como as obras de cenos autores aprofundaram 0 imperialismo, 0 colonialisl11o e 0 patriarcalismo, 
especial mente quando supoem que os leitores sejam do sexo masculino e brancos . 
.'I. 	 Classificar 0 autor segundo 0 esquema representando os tres momentos da literalllra p6s-colonial. 
4. 	 Detectar na ficc;ao a ambiguidade ameac;adora do nativo e da mulher diante da ideologia dominante da conquista. 
S. 	 Descobrir 0 silencio absoluto, escondendo 0 sistema escravagista, aobjetificac;ao da mulher e 0 avi Itamento de nativos, 
elllbora mascarados atras de manifesta<;oes de riquezas e de patriarcalislllo. 
6. 	 [nvestig-dr 0 aprisionamento do espac;o colon ial e p6s-colonial pelo texto europeu ou pela teoria literaria oriundos das 
metr6poles renascentistas ou rnodernas. 
Quadro 9. Estrategias para analisar uma obra do ponto de vista p6s-colonial. 
A REESCRITA 
A reescrita e um fenomeno liter:hio, muito utilizado em lingua inglesa (porem nao exclusivo 
desta), que consiste em selecionar um texto canonico da metr6pole e, atraves de recursos da par6dia, 
produzir uma nova obra escrita do ponto de vista da ex-colonia. A reescrita faz parte do contradisrurso, 
original mente usado por Terdiman (1985) para demonstrar os metodos empregados pelo discurso da 
peri feria contra 0 discurso dominante do centro imperial. A sele<;:ao gira em torno de certos textos 
particularmente preeminentes e simb6licos que 0 discurso dominante irradiava para impor sua ideologia. 
A reescrita rem por finalidade a quebra da oculta<;:ao da hegemonia canonica e 0 questionamento dos 
varios temas, enfoques, pontos de vista da obra literaria em questao, os quais refor<;:avam a mentalidade 
colonial. Logicamente, a reescrita desemboca na subversao dos textos canonicos e na reinscri<;:ao dentro 
do processo subversivo. 
Varios autores latino-americanos reescreveram A tempestade. Alem das obras de George Lamming e 
Aime Cesaire, basta mencionar A tempestade, de Augusto Boal, Utopia selvagem, de Darcy Ribeiro, a pe<;:a 
Caliball (1997), de Marcos Azevedo, e A-tor-men-ta-do Calibanus (2001), de Guilherme Duraes. 0 romance 
Wide Sargasso Sea (1966), da caribenha Jean Rhys (1890-1979), e uma reescrita deJane Eyre (1847), de 
Charlotte Bronte (1816-1855); Robinson Crusoe (1719), de Daniel Defoe (1660-1731), foi reescrito em Foe 
(1986), do sul-africanoj.M. Coetzee (nascido em 1940). A subversao do canone literario atraves da reescrita 
nao consiste em apenas substituir um texto canonico por outro modemo. De fato, 0 canone em si contem 
algo extremamente complexo, porque envolve pressupostos individuais e comunitlrios sobre a literatura, 
estilo, generos literarios e outros. Esses fatores estao embutidos nas estruturas institucionais e formam as 
grades escolares, a publica<;:ao de textos escolares, exames para vestibulares, hierarquiza<;:ao em men<;:ao e 
em cita<;:6es pela academia. A finalidade da reescrita e (1) a substitui<;:ao de textos, (2) a conscientiza<;:ao das 
institui<;:6es academicas, (3) a relistagem da hierarquia dos textos e (4) a reconstru<;:ao dos textos canonicos 
atraves de leiruras altemativas. 
Robinsoll Crusoe, uma narrativa "autodiegetica", nao menciona sequer uma vez 0 sexo feminino, mas 
mostra a grande previdencia e trabalho meticuloso do homem em varias situa<;:6es limites. 0 romance 
reescrito Foe tem a personagem Susan Barton (inexistente no romance canonico) como narradora; ela 
da sua versao das aventuras do Robinson Crus~ (sic) na ilha desabitada. Na segunda e terceira parte 
do romance, Susan luta para que 0 escritor Defoe nao se aproprie da versao feminina da narrativa e, 
mais uma vez, anule a voz feminina recuperada. No romance p6s-colonial Friday, ao contrario do 
caribenho salvo por Crusoe, nao e 0 indfgena ingenuo que aceita sem nenhuma problematiza<;:ao a 
THOMAS BONNICI I LUCIA OSANA ZOLIN (ORGANIZADORES) - 271 
...- ' -. 
~o N N I C I . . 
I versao rebgiosa, comportamental e lmguistica do europeu. 0 negro e mudo Fnday, agora reescrito, 
recusa a recupera~ao de sua hist6ria pelo homem branco e tenta articular dlversos modos de e:-.-pressao 
para "escrever" a hist6ria do negro pelo negro. 
Em 0 corafao das trevas (1902), de Joseph Conrad, os africanos sao descritos sob 0 POnto de vista 
colonialista, como "um rodopiar de bra~os negros, um bater infinito de palmas das maos , de pisar 
adoidado de pes, 0 balan<;ar de corpos, de rolar de olhos, sob a enlanguescencia de folhagem cansada 
e im6vel". Escrevendo Things Fall Apart (1958), Achebe reinstala a rica cultura africana, rejeita os 
estere6tipos criados pelos colonizadores, confirma a complexidade e a ambivalencia da cultura africana, 
constr6i uma profunda e criativa etnografia e, acima de tudo, apropria-se da forma do romance (a 
ferramenta dominante da representa~ao imperial britanica) . 
A DESCOLONIZA<;:AO 
o deslocamento do dnone literario, a releitura e a reescrita fazem parte de um programa geral de 
descoloniza~ao. A descolonizafao e 0 processo de desmascaramento e demoli<;ao do poder colonial em 
todos os seus aspectos. Enganam-se aqueles que pensam que a declara~ao de independencia politica 
produz, por si, a descololliza{ao da mente e que as literaturas nacionais e 0 ensino da ciencia, da hist6ria e 
da geografia ficam livres de inscri<;6es e de residuos coloniais. Ao contra rio do que muita gente pensa, a 
descoloniza<;ao e um processo complexo e continuo e nao ocorre automaticamente ap6s a independencia 
politica. Ap6s a independencia politica das col6nias, ha resqufcios poderosos, sempre latentes, das for~as 
culturais e institucionais que sustentavam 0 poder colonial. Como em geral os defensores e proclamadores 
da independencia sentem-se herdeiros dos modelos polfticos europeus e relutam em rejeitar a cultura 
importada, nao podem escapar de uma profunda cumplicidade com os poderes coloniais dos quais 
queriam se libertar. Em muitos casos, portanto, a liberta<;ao pura e simples dos liames coloniais (modelos 
econ6mico, polftico e cultural) nao ocorre. Historicamente, isso aconteceu mais nas colol1ias de' pt.woadores 
do que nas colonia.' de sociedades invadidas. Embora nestas ultimas a descoloniza~ao fosse mais radical e 
abrangente, profundos resfduos ainda existem. 
l. Contesta~ao das interpreta~6es eurocentricas. 1. Reescritllra autorreflexiva da hist6ria da colonia na qual 
se percebe que a realidade do passado tern influenciado 0 
presente. 
2_ Desafio a centralidad e, auniversaliza<;ao e as for<;as 
hegemonicas. 
2. A marginalidade ou excentricidade (ra<;a, genero, 
normalidade psicol6gica, exciusao, distancia social, 
hibridismo wltural) e uma fonte de energia criar,,-a.3. Instala~ao do contradiscurso peJa transgressao e 
dissolu<;iio das fonnas liter:irias europcias ou suas 
fronteiras. 
3. A ironia e a par6dia trabalham com os discursos e-xisrentes 
C, ao mesmo tempo, os contestam_ 
Quadro 10. Os princfpios da descoloniza~ao. 
A estrategia do poder colonial e deixar uma elite nativa que perpetua sua ideologia e seus paradigmas. 
Operando atraves do antigo conceito de compmdor, 0 neocoioniaiismo torna-se manifesta<;ao das opera<;6es da 
globaliza~ao do capitalismo ocidental e a estrategia para 0 controle global. Pode-se dizer que agloualizafao 
da economia mundial baseia-se (1) no fato de que as mudan<;as no controle econ6mico e culrural nao 
272 - TEO RIA L1TERAR1A 
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--- -.cOTEORIA E CRiTICA rOS-COL ONIALISTAS 
ocorreram e (2) na convic~ao de que a forma~ao da elite comprometida com as na~6es hegemonicas era 
premeditada e realizara-se atraves de discrimina~6es, lutas classistas e praticas educacionais. Ademais, 0 
eurocentrismo continuou influenciando a mentalidade das na~6es politicamente independentes com 
sellS modelos culturais, especialmente pelo binarismo (Iiteratura e oratura; linguas ellropeias e Ifnguas 
indigenas; inscri~6es culturais europeias e cultura popular etc.). 
1. Apropria~ao da lingua colonial pelo escritor oriundo 
da ex-colonia. 
"0 escritor (africano1deve ser eapn de moldar a lIngua 
do colonizador para que possa transmitir a sua e>-'Pe riencia 
especffica" (ACHEBE, 1975). 
2. Recusa de adotar a lingua do colonizador. "Qual e a diferen~a entre um politico que afirma gue a 
Africa nao se desenvolv·e sem 0 imperialismo e 0 escritor 
que afirma que a Africa necessita das linguas europeias?" 
(NGUGr, 1986). 
3. Recupera~ao e reconstru~ao da cultura pre­
colonial. 
Spivak (1995) e Bhabha (1984) argumentam sobre a 
impossibilidade dessa recupera~ao devido a processos de 
miscigena~ao cultural durante 0 periodo colonial. 
4. Aceita~ao pelo escritor de uma identidade transnacional 
e, ao mesmo tempo, 0 aprofundamento da critica 
diante da cultura conremporanea influenciada peb 
globaliza~ao e pelo neocolonialismo. 
"0 imperio retruca ao centro" (Salman Rushdie). 
5. Os dirigentes intelectuais, especialmente os escritores, 
devem reconstruir radicalmente a sociedade sobre os 
alicerces da tradi~ao do povo e seus valores. 
Conclusao de Fanon (1990) a partir de seu estudo sobre 
os efeitos da domina~ao colon ia l sobre os colonizados e da 
analise marxista do controle social e econom ico. 
6. A descoloniza<;ao e urn processo complexo e 
continuo; nao e algo au tom at ico a partir da 
independencia politica. 
Conclusao de B. Ashcroft, G. Griffiths e H. Tiffin (1991) 
ern seus estudos sobre as soe iedades p6s-independencia . 
7. Vigilancia contra forrnas contemporaneas de coloniza~ao 
(neocolonialismo, globaJizaylo, neoliberalismo). 
''A descoloniz.1~ao freguentemente significa a des­
ocidentaliza~ao cmpreendida pdo homem branco" (Trinh 
Minh-ha) . 
Qlladro 11. Opini6es sobre metodos de descoloniza~ao. 
A tarefa descolonizadora e extremamente ardua, como se ve na Africa e na India . 0 caso das ex­
colonias de colonizadores, como a Australia e 0 Canada, e outro grande problema . Embora nesses 
palses a independencia nos moldes europells fosse concedida ha tempo, suas popula~6es, de maioria 
branca, sofrem de uma profl1nda submissao cultural, sen tem-se impotentes diante das propostas de 
desmantelar os elementos coloniais embutidos em suas institui~6es e culturas, e tem dificuldades em 
cortar 0 Iiame mae-filha incrustado em sua identidade. Ate certo ponto, as asser~6es acima aplicam­
se ao Brasil tambem, embora seja ele urn pafs mesti~o , com predominancia da classe branca ou 
"embranquecida", 0 qual ainda possui fortes resqufcios culturais europel1s. 
Apesar da grande influencia e abrangencia da globaliza~ao, destacam-se para fms de descoloniza~ao 
da mente (1) 0 fomento das linguas nativas, (2) a relativiza~ao das Ifngllas europeias, (3) a democratiza~ao 
da cultura, (4) a recllpera~ao cultural e literaria. No caso da literatura, parece que a tarefa dos escritores 
oriundos das sociedades p6s-coloniais consiste em teorizar extensivamente a problematica do poder e do 
estado p6s-independencia. A Iiteratura descolonizada passa a se r polifOnica em 111gar de monocentrica, 
hfbrida no lugar de pura, carnavalesca em lugar de persuasiva. Caracteriza-se pela narrativa fragmentaria, 
TII OMAS B ONN lel / LUCIA O SANA ZOLIN (ORGANI"DORES) - 273 
~o N N I C I 
! pelos incidentes duplicantes, pelos comentanos metaficcionais, pela cronologia interrompida, pelos generos mistos. Alem disso, existe urn problema que poderia ser chamado "existencial". Urn dos escritores 
pos-coloniais, 0 sul-africano J. M . Coetzee, de ascendencia europeia, sente-se receoso em representar 
flccionalmente os excluidos dos imperios capitalistas, como os negros e os escravos. 0 ex-colonizado e 
o neocolonizado tern olltras e diferentes formas para desenvolver a sua sllbjetividade e a representa<;ao 
literaria de sua identidade. No romance Foe, a europeia Susan Barton tenta em VaG escrever a historia 
do negro Friday, cuja lingua foi cortada. Alem disso, inutilmente incentiva-o a escrever, relembrar ou 
expressar-se por gestos para con tar a sua historia. Os metodos europeus nao funcionam e 0 proprio 
Friday deve recuperar a "voz" no processo de subjetifica<;ao. A tarefa de Friday, portanto, e a metonimia 
da fun<;ao lited.ria do escritor nativo que busca a propria subjetividade e a do povo. Fanon escreve: 
o escritor da colonia deve usar ° pass ado para abrir espa~o ao futuro , como urn convite a 
a~ao e como a base para a esperan<;a. [ ... J A responsabilidadr da pessoa culta nao (; apenas 
uma responsabilidade dian te da cultura nacional, mas uma rrsponsabilidade global referente 
atotalidade da na<;ao, cuja cultura representa apenas urn asprc to da na<;ao (FANON, 1990, 
p. 187). 
A conscientiza<;ao e postura p6s-colonial que a academia assume sao a base da descoloniza<;ao 
da mente. Em primeiro lugar, a academia brasileira nao pode apropriar-se da teoria p6s-colonial 
sem questionamentos. A no<;ao do sujeito descentralizado nao poderia ser mais uma estrategia do 
colonialismo ocidental? 0 estudo do pos-colonialismo nao poderia ser a analise de um pequeno 
grupo ocidentalizado de escritores e pensadores que comercializa os produtos culturais do capitalismo 
mundial para os intelectuais da periferia? Nao e possivel que a intima liga~ao entre pos-modernismo 
e pos-colonialismo, este considerado 0 filho do primeiro, aconte<;a nao por novas perspectivas sobre 
a cultura ou de uma reviravolta do poder, mas apenas um pretexto, ou seja, por causa da visibilidade 
crescente de intelectuais dos paises emergentes como inovadores? Essa problematiza<;ao nao invalida 
a atitude e 0 esfor<;o do academico brasileiro, profissional de Letras, em sell comprometimento para 
descobrir como os povos estao fixados em estruturas opressivas e para descorrinar a subjetifica<;ao de 
tais individuos (neo)colonizados. 0 seu esfor<;o para a flexibilidade da teoria existente e 0 surgimento 
de outras teorias autoctones sao de grande valia para reinterpretar todos os to,:1:0S pre- e pos­
independencia politica oriundos da inscri<;ao colonial (BONNICI, 2000). 
Tendo como principio que descolonizar nao e simplesmente livrar-se das amarras do poder 
imperial, mas procurar tambem alternativas nao repressivas ao discurso imperialista, a descoloniza<;ao 
da literatura e da critica literaria darao um novo e mais aprofllndado entendimento ao academico. E 
ana logo ao sentimento do escravo afro-americano Frederick Douglass (181 7-1895), q llando descobri u 
o segredo da escrita. "Houve uma nova e especial revela<;ao, explicando coisas ate entao obscuras 
e misteriosas, contra as quais 0 meu entendimento juveniJ tentava vislumbrar, mas lutava em vao. 
[ ... ] Foi uma grande vitoria, estimada por mim sobremaneira . A partir daquele momento, entendi 0 
caminho da escravidao para aliberdade" (DOUGLASS, 1988, p. 78). 
ALEM DO P6S-COLONIALISMO 
Se 0 termo 'p6s-colonialismo' e a teo ria "p6s-colonial" referem-se ao impacto cultural 
entre os europcus e os outros, recem descobertos e inventados, desde os primeiros contatos ate a 
conremporaneidade, ha uma estreita liga~ao entre os eventos contemporaneos envolvendo os povos 
do Sui e aqueles relacionados ao projeto colonial europeu de outrora. Novas formas de capitalismo, 
veiculadas por uma mais vigorosa e sofisticada globaJiza~ao, geraram outras questoes Ot! revelaram 
aspectos rna is profundos da historia dos ultimos quinhentos anos. No inicio do seculo 21, a 
literatura e assaz sensfvel para representar, a set! modo peculiar, as repercussoes do racismo, diaspora, 
274 - TEO RIA LITERARIA 
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.,...t~---~ TEO R ! A E C R· iT! C A P6~-COLON IALI ST:\S 
multiculturalismo e outros t6picos que revelam a condi~ao human a e sua luta para encontrar se ntido 
de sua existencia. Portanto, a teo ria p6s-colonial vai alem de uma mera releitura para a recupera\ao 
hist6rico-litera.ria retirada de textos canonicos ou nao; tampouco e um relato de culpabilidades, 
aCl1sa\oes e lamurias sobre 0 sofrimento havido e sobre a perda cultural irreparavel. 
Por onde se olha, no Ocidente ou !las sociedades do Tcrceiro Mundo, parece que 0 sc r etico 
nao pode ser separado do urn ciclo aprofundado de criatividadc atraves do qual poderernos 
visualiza r uma ruptura da violencia absoluta. Esta ruptura exige que aceitemos os contextos do 
advcrsario nos quais as cuituras iutam el1lre si e que adoternos es trategias de camuflagem e de 
mascaras como arcabou~os flexlveis dcntro do misterio de traJl sforrna~ao genllina (HARRIS, 
1985, p. 128). 
Consoante os se us conceitos de hibridismo e olhar enviesado, Harris mostra que estes conceitos 
sao desafios eticos-politicos que a literatura propoe para 0 debate e a interven\ao. 
"RA<;:A" E RACISMO 
Durante mais de 450 anos ser europeu signiflcava ser um homem (mascu lino) branco e participe 
de uma sociedade que dominava 0 planeta. A hegemonia branca em toda a extensao dos imperios 
europeus se deve a pressupostos que atualmente nao sao apenas debatidos, mas recha\ados por 
rnoes hist6ricas, ideol6gicas e biol6gicas. }-Iistoricamente pode prova r que a constitui\Jo etnica dos 
paises e uropeus e tao mista quanto a de gualquer Olitra comunidade heterogenea. Portanto, a suposta 
cultura homogenea e a pse udopureza racial sao apenas um construto (HALL, 2003). Todavia, foram 
exatamente es tes fatores, especialll1ente 0 conceito de ra<;a sllperio r, gue se tornaram necessarios para 
fundamentar ideologicame nte os impcrios ellropeus e, des[a maneira, impor seus valores e outremizar 
os diferen tes povos nao-brancos que integrari am, como subalternos, no projeto capitalista enge ndrado 
pdo binarismo metr6polc-colonia. A revela\ao da existencia de certa convi\·cncia racial na Europa 
desde 0 seculo XVI, c mais tarde, a introdu\Jo dos conceitos de multiculturalismo e de diversidadc 
cultural (BHABHA, 1994) ap6s a II Guerra Mundial e durante 0 periodo de descoloniza<;ao, solaparam 
o conceito de identidade nacional , seus ideais e seu lugar no mundo. 
Embora 0 terIno "ra\a" possa se r apenas uma palavra de usos variegados, a carga de preconce ito 
a ela ine rente e tao forte que muitos guestionam a com'en iencia em usa-Ia. Na acep\ao fenotipi ca, 
"ra \a"( ra\a negra; ra\a amarela) e um conjunto de tra\os ftsicos que permitem a identifica\Jo de 
individuos como pertencentes a lll11 determ inado grupo. N a acep\ao geogrdfica, "ra \a" denota a 
ancestralidade geografica, dando origem a termos como "ra<;a africana" ou "ra\ct europeia". No se ntido 
biol6gico 0 termo "ra\a" e sinonimo a subespecie, ou seja, denota uma pop·!la\Jo geneticamente 
diferente . Todos os antrop610gos afirmam que nao ha atualmente ra\as humanas, mas uma {ll1ica ra\a 
humam. H omo sapiells emergiu da Africa oriental cerca de 150.000 anos atras: deL'>:o ll 0 continente 
aproximadamente h;\ 60.000 anos e aventurou-se subsequentelll en te para 0 resto do planeta. As 
dife ren\as en tre "ra\as" somente poderiam ter ocorrido ap6s sua safda do continente africano. Portanto, 
as caracteristicas "raciais" (piglllenta\ao da pele , cor e te\.l:ura de cabelo, forma de nari z e espessura 
de I;\bios) sao controlados por lim nL'Ilnero pequeno de genes diferentes e permitem uma sele\ao 
rapida impactadas pOI' press6es ambientais. Nada tem a ver com inteligencia, habilidades e talento. A 
trajet6 ri a imperialista, baseada num conceito espurio da filosofia e da ciencia, a partir do seculo XVII, 
infestou 0 termo e produziu 0 racismo atual. As "ra\as" nao-europeias foram estigmatizadas como em 
varios estagios de civiliza\ao para que pudessem servir aos elllpreend imentos das metr6poles. A partir 
do Ilumini smo, a razao e a civiliza\ao tornaram-se sinonimos a "ra\a branca" e ao norte da Europa, 
enquanto 0 primitivisl110 e a selvageria foram alocados as "ra \<1s nao-brancas", geograficam ente postas 
fora da Europa (MALIK, 2008). 
-
N N I C I . 
SEMANTICA DO TERMO "RA<;:N (PENA, 2008) 
Sentido fenotfpico caracterizac;:ao ffsica (textura de cabelo; cor da pele) 
Sentido geografico ancestralidade geografica (rac;:a oriental; rac;:a maori) 
Sentido biologico populac;:ao geneticamen te difcrenciada ou subespecie (Homo sapiens; Homo 
neanderthalensis) . 
Quadro 12. Semantica do termo "ra~a" 
Diante de urn racismo construido em favor do imperialismo europeu (e estadunidense) e diante 
do estabelecimento de conai~ao de pessoas com "desvantagem racializada", surgiu uma literatura 
negra onde se representa a condi~ao racial nao apenas do afro-descendente maS de todos os exclufdos. 
Concomitante as experiencias da literatura negra estadunidense eda literatura caribenha, uma 
das modalidades mais significativas da resistencia contra os para.metrOS e as estrategias coloniais e 
neocoloniais ellropeias eo surgimento da pr6pria literatura p6s-colonial, iniciada por Tutuola, Achebe 
e Ngugi. 0 surgimento de uma literatura negra britanica e urn fato pr6prio e inegavel, oriundo a partir 
dos anos 1960. Em contraste a literatura afro-americana estadunidense, define-se a literatura negra 
britanica como urn conjunto de obras literarias escritas por "negros" (nascidos ou emigrantes no Reino 
Unido) caracterizado pela repres enta~ao do multiculturalismo, das dificuldades de convivencia etnica, 
da diversidade cultural, dos problemas de abertura e tolerancia, e de entraves a urn desenvolvimento 
aa d[fferallre. A heterogeneidade desses autores (africanos, sul-asiaticos, caribenhos, ilheus da Oceania, 
primeiras na~oes australianas, maori neozelandeses) e dos generos literarios empreendidos talvez 
ofusque apenas as diferentes variedades da Ifngua inglesa utilizadas, produtos das intercomunica~oes 
entre as comunidades Iinguisticas diferentes na Inglaterra e naS ex-co16nias. 0 que real mente pode 
ser chamada de "literatura negra britanica" registra a zona de contato entre 0 p6s-colonialismo e as 
cuituras britanicas no Reino Unido, produzindo um entremeio no centro literario britanico. Refuta­
se, portanto, a no~ao excludente de que somente autores brancos podem contribuir legitimamente 
a constru~ao continua da literatura britanica, salientando 0 fato que 0 texto literario negro britanico 
e, a partir de meaaos do seculo XX, 0 lows apropriado para a recupera~ao da voz do ex-colonizado, 0 
banimento do racismo e a negocia~ao na diversidade cultural (GUPTARA, 1986; STEIN, 2004). 
Embora a popula~ao brasiJeira atingisse urn nivel e1evado de mistura genica e a grande maioria 
dos brasileiros tenha algum grau de ancestralidade africana, somcnte recentemente estudos 
sociol6gicos e antropol6gicos mais profundos, como Dois Atlfilltiros, de Sergio Costa; COllreitos 
de literatllra e cultura, organizado por Euridice Figueiredo; UlI1a his/oria de branqueamCll/o 011 0 negro 
em qLles/ao, de A. Hofbauer; Razao, 'cor', e desejo, de Laura MOlltinho,

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