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Prévia do material em texto

LITERATURA PÓS COLONIAL 
Dra. Sylvia Bittencourt 
GUIA DA 
DISCIPLINA 
 
 
1 Literatura Pós Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
1. MEU BRASIL BRASILEIRO 
 
Aquarela do Brasil 
Ary Barroso – 1939 
https://www.mundovestibular.com.br/estudos/portugues/romantismo-no-brasil- - Acesso em 
13/06/20 
 
Brasil 
Meu Brasil brasileiro 
Meu mulato inzoneiro 
Vou cantar-te nos meus versos 
Ô Brasil, samba que dá 
Bamboleio que faz gingar 
Ô Brasil, do meu amor 
Terra de Nosso Senhor 
Brasil, Brasil 
Pra mim, pra mim 
 
Ah, abre a cortina do passado 
Tira a Mãe Preta, do cerrado 
Bota o Rei Congo, no congado 
Brasil, Brasil 
Pra mim, pra mim 
 
Deixa, cantar de novo o trovador 
A merencória luz da lua 
Toda canção do meu amor 
Quero ver essa dona, caminhando 
Pelos salões arrastando 
O seu vestido rendado 
Brasil, Brasil 
Pra mim, pra mim 
Brasil 
Terra boa e gostosa 
Da morena sestrosa 
De olhar indiscreto 
Oh Brasil, samba que dá 
Bamboleio, que faz gingar 
Oh Brasil, do meu amor 
Terra de Nosso Senhor 
Brasil, Brasil 
Pra mim, pra mim 
 
Oh, esse coqueiro que dá coco 
Onde eu amarro a minha rede 
Nas noites claras de luar 
Brasil, Brasil 
Pra mim, pra mim 
Ah, ouve essas fontes murmurantes 
Onde eu mato a minha sede 
E onde a lua vem brincar 
Ah, este Brasil lindo e trigueiro 
É o meu Brasil, brasileiro 
Terra de samba e pandeiro 
 Brasil, Brasil 
Pra mim, pra mim 
 
Objetivo 
Com Aquarela do Brasil - como longa epígrafe - procuro partir de um fato, ou seja: 
a letra da canção. Procuro apresentar argumentos que situem o (a) leitor (a) em relação a 
duas constantes nos estudos literário: estudar literatura não é fazer um fatiamento de 
épocas e escolas literárias que de uma hora para outra, os escritores, poetas, filósofos 
resolvem combinar o que vem a ser a linguagem literária, utopias e estilos da linguagem. E 
de uma década para outra, mudam todos os recursos linguísticos, todos os temas, todos 
os ideais utópicos e todos os valores tidos como estéticos, 
 
Não é assim e nunca foi. Há décadas germinadoras de ideias que mesmo na 
ausência de gênios poetas, são elas as de preparação para mudanças oriundas da própria 
https://www.mundovestibular.com.br/estudos/portugues/romantismo-no-brasil-
 
 
2 Literatura Pós Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
História do país. O tempo espera consolidar uma cosmovisão1, que venha nutrir os artistas, 
unindo-os em torno de valores morais, sociais e estéticos a serem expressos em obras de 
arte literária. Empregamos como método a literatura comparada, ao lado da história de 
literatura porque 
 
“Esta metodologia permite constatar algumas linhas mestras de Literatura 
Brasileira ao longo das diferentes estéticas e entre os diversos gêneros literários.” 
Sylvia Bittencourt. 
 
Introdução 
Para nos apropriarmos da cosmovisão romântica é necessário pedir emprestado o 
olhar do Professor Antônio Cândido em Romantismo no Brasil2. 
 
“Nesse processo foi decisiva a conversão romântica de um grupo de jovens 
brasileiros residentes em Paris mais ou menos entre 1832 e 1838. Eles foram bem 
acolhidos por intelectuais e artistas franceses que tinham vivido no Brasil e faziam 
parte do Institut Historique, onde puderam falar sobre a pátria. Em 1836 publicaram 
os dois únicos números de uma revista considerada marco fundador do 
Romantismo brasileiro, embora a absoluta maioria da matéria fosse de Astronomia, 
Química, Economia... Mas o título indígena, Niterói, equivalia a um programa 
nativista” 
 
Mas antes que eclodisse essa concepção coletiva, foi necessária uma longa jornada 
histórica em terras brasileiras. Desde 1789, com a delação da Inconfidência Mineira, 
passando pela chegada da família Real ao Brasil (1808) o que torna a cidade do Rio de 
Janeiro a capital do Império, até o retorno de D João VI para Lisboa, há um crescimento do 
sentimento de independência. 
 
Ao partir para Portugal (1821), D. João VI previa, os acontecimentos, que o Brasil, 
depois de ter hospedado a Corte, não se conformaria mais com a condição de colônia. 
Seria, pois, mais prudente, deixar aqui o filho, Pedro de Alcântara Bourbon, pelo qual eram 
evidentes as simpatias dos brasileiros. Na véspera da partida, D. João chamou o filho e 
revelou seus temores de uma rebelião que viesse fazer a emancipação do Brasil e disse: 
 
 
1 Visão de mundo; concepção do mundo; MUNDIVIDÊNCIA. substantivo feminino. Maneira subjetiva 
de ver e entender o mundo, especialmente as relações humanas e os papéis dos indivíduos e o seu próprio 
na sociedade, assim como as respostas a questões filosóficas básicas, como a finalidade da existência 
humana, a existência de vida após a morte etc.; visão de mundo. 
 
2 uma publicação da revista Humanitas da Universidade De São Paulo • Faculdade De Filosofia, 
Letras E Ciências Humanas ( FFLCH) 2002. 
 
 
3 Literatura Pós Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
“Pedro, em tal caso, põe a coroa sobre a tua cabeça, antes que algum 
aventureiro lance mão dela! “ 
 
Assim surgiu no horizonte a mais forte motivação para o “7 de setembro” de 1822. 
 
Do ponto de vista da história literária, essas décadas passaram revelando uma 
fraca produção literária, caracterizada pela mistura de Arcadismo sobrevivente com traços 
que no futuro seriam considerados precursores do Romantismo. Não houve inovações 
formais. Todos continuavam a fazer odes, sonetos, elegias, em versificação tradicional e 
quase sempre com as alusões mitológicas conforme o gosto de leitores da época. Mas 
lentamente, começaram a aparecer pequenas mudanças nos temas e recursos estéticos. 
A melancolia, por exemplo, vai sendo cada vez mais associada à noite e à lua, ao salgueiro 
e à saudade, sobretudo ao pormenor dos lugares. Começa assim a projeção dos 
sentimentos humanos na natureza, o que leva à nossa tradição nativista, origem do novo 
sentimento de orgulho nacional, que prenuncia o nacionalismo. 
 
É preciso destacar outro indício temático, cheio de consequências: o surgimento de 
um tipo de religiosidade que se distanciava da devoção convencional para tornar-se uma 
experiência afetiva, ou seja: matéria emocional que confere certa nobreza espiritual. Esta 
é visão nova, oposta ao paganismo ornamental da tradição mitológica greco-latina. 
 
Essa transição ideológica corresponde ao desejo crescente de autonomia, que 
terminou pela separação de Portugal e se exprimiu na ação e nos escritos de intelectuais, 
que falavam em promover as reformas necessárias para civilizar e modernizar o país, 
segundo as ideias do tempo: liberdade de comércio e de pensamento, representação 
nacional, instrução, fim do regime escravista, sentimentos sobressaindo se da racionalidade 
 
Foi Ferdinand Denis (1798- 1890), segundo Professor Antônio Cândido, o intelectual 
francês que viveu aqui alguns anos e depois se dedicou ao brasilianismo e escreveu 
Résumé de l’histoire littéraire du Portugal suivi du résumé de l’histoire littéraire du Brésil 
(1826) obra que funda a teoria e a história da nossa literatura, baseado no princípio, que 
um país com realidade geográfica, étnica, social e histórica definidas deveria 
necessariamente ter a sua literatura peculiar, porque esta se relaciona com a natureza e a 
sociedade de cada lugar. Portanto, a arte deveria fazer a descrição da natureza da terra e 
de seus costumes, dando lugar aos habitantes dela. Enfim, a linguagem literária deveria 
 
 
4 Literatura Pós Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
registrar as particularidades. Inclusive o pitoresco para revelar o desejo de buscar traços 
que diferenciassem o Brasil, da Metrópole. 
 
 Veja que esses aspectos apontados por Denis repercutiram muito no inconsciente 
coletivo e de tal forma que ainda no século XX, na música popular brasileira, encontramos 
no ufanismo as marcas de idealização romântica de um Brasil utópico em Aquarelado 
Brasil. 
 
Vejamos os motivos românticos que comprovam a hipótese inicial: a existência de 
determinados Topoi3 que percorrem o imaginário nacional. 
 
1- Religiosidade expressa com força emocional e reforça a ideia de que Deus é 
brasileiro. Ô Brasil, do meu amor/ Terra de Nosso Senhor 
2- O homem da terra, miscigenado e que dá origem a uma sociedade multicultural 
decorrente do fim a escravidão nos versos: Ah, abre a cortina do passado/ Tira 
a Mãe Preta, do cerrado. Pelos salões arrastando /O seu vestido rendado Meu 
mulato inzoneiro / Da morena sestrosa 
3- A melancolia, saudades, emoções decorrentes do isolamento e faltas: 
Merencória4 luz da lua; 
 
Comprova-se desta forma, que os estudos de Denis apontam tópicos que vieram a 
ser tratados no Romantismo brasileiro e que foram além de uma determinada época, 
tornando-se um eixo temático (TOPOS) em nossa literatura. 
 
Intelectuais e artistas brasileiros colocam em discussão a consciência de autonomia 
que veio sustentar o subjetivismo e o reconhecimento da posição central dos temas 
nativistas; inclinação para o lado das novas tendências estéticas do Romantismo: O Bom 
Selvagem5 
 
 
3 Topoi é o plural de topos em grego. Significa uma constante de um corpus literário 
 
4 Merencória é melancólica 
 
5 O bom selvagem - mito europeu a partir do primeiro contato com as 
populações indígenas da América. Popularização do conceito é atribuída a filósofos iluministas 
como Rousseau, que teorizou uma humanidade naturalmente boa, ingênua e que seria corrompida por um 
processo civilizatório 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ind%C3%ADgena
https://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%A9rica
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Jacques_Rousseau
 
 
5 Literatura Pós Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Apresento a abaixo o Mapa Mental que reúne informações históricas, teóricas, 
autores e obra do Romantismo. É uma técnica empregada para dar ao estudante uma 
visão do todo que engloba o Romantismo literário. Oferecerei mais informações em nossa 
videoaula 1. 
 
 
 
 
6 Literatura Pós Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
2. POESIA ROMÂNTICA 
 
Objetivo 
Oferecer alguns poemas românticos a fim de promover o letramento literário e 
oferecer informações críticas e históricas como fundamentos capazes de dar sentido ao 
que é lido. O conhecimento prévio dá ao leitor instrumentos necessários para conferir 
significado ao que lê. 
 
Introdução 
A partir da publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, Gonçalves de Magalhães 
dedica-se aos temas e à cosmovisão românticos com os quais teve contato na Europa, 
durante o período de aperfeiçoamento de estudos médicos na França. Funda a revista 
“Niterói” que publica estudos sobre a produção literária no Brasil que segundo ele, deveria 
se libertar das influências estrangeiras. Apresento o poema XIV - A TRISTEZA que livro 
Suspiros Poéticos e Saudades 
 
Triste sou como o salgueiro 
Solitário junto ao lago, 
Que depois da tempestade 
Mostra dos raios o estrago. 
 
De dia e noite sozinho 
Causa horror ao caminhante, 
Que nem mesmo à sombra sua 
Quer pousar um só instante. 
 
Fatal lei da natureza 
Secou minha alma e meu rosto; 
Profundo abismo é meu peito 
De amargura e de desgosto. 
À ventura tão sonhada, 
Com que outrora me iludia, 
Adeus disse, o derradeiro, 
Até seu nome me angustia. 
 
Do mundo já nada espero, 
Nem sei por que inda vivo! 
Só a esperança da morte 
Me causa algum lenitivo. 
 
Comecemos a ver de perto o aspecto formal do poema. Como são as rimas? E as 
sílabas que compõem a métrica? São versos de sete sílabas que ao longo do poema se 
tornam ora de oito ou seis sílabas. Isso confere ao poeta e ao poema a liberdade para 
construção do ritmo mais flexível. As cinco estrofes são constituídas por quatro versos. 
Apresentam versos livres, ou seja: sem o esquema rítmico fixo. 
 
Num segundo nível de leitura, vamos identificar as características românticas 
anunciadas por Gonçalves de Magalhaes: a melancolia, a solidão, a subjetividade do poeta 
 
 
7 Literatura Pós Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
projetada na paisagem, a dor decorrente da perda da utopia6. Diante de uma distopia7 real, 
o poeta se isola em sua subjetividade, numa atitude escapista: (Do mundo já nada espero/... 
Só a esperança da morte/Me causa algum lenitivo. 
 
Podemos constatar o estilo romântico presente neste poema, o que confirma os 
dados da História da Literatura. No entanto, podemos ir mais longe e provar que ler é o ato 
de o leitor conferir sentido ao texto. Ousa-se projetar no poema os conhecimentos prévios 
decorrentes do letramento literário. Vamos perguntar: o que nos causa estranhamento no 
poema? A comparação que é uma figura de estilo - “Triste sou como o salgueiro” 
 
A identificação do poeta com o salgueiro, árvore presente há milênios nas artes e 
religião nos leva à necessidade de se fazer uma pesquisa sobre a simbologia do salgueiro. 
Hoje basta recorrer à rápida pesquisa eletrônica para encontrarmos a “chave do poema” o 
que nos ajuda a avaliar o peso da comparação feita pelo poeta. “Triste sou como o 
salgueiro”. Afinal que tristeza é essa? Observe o desenho a seguir: 
 
Imagem de um Salgueiro ou Chorão / Internet 
 
A experiência de vida e a de leitor sempre conferem uma profundidade à leitura, 
desde que não criem um contraponto à mensagem principal. 
 
6 1. Qualquer concepção ou descrição de uma sociedade justa, sem desequilíbrios sociais e 
econômicos, em que todo o povo usufrui de boas condições de vida [A palavra foi criada pelo inglês Thomas 
Morus (1480-1535), que a usou em seu livro Utopia, clássico da literatura universal.]. 
Fig. Ideal impossível de ser realizado; FANTASIA; QUIMERA Dic. Caldas Aulete 
 
7 s. f. || (med.) situação anômala de um órgão ou da sociedade. Dic. Caldas Aulete 
 
 
8 Literatura Pós Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
O salgueiro é um tema recorrente (TOPOS) na arte da palavra, e vou buscar fatos 
para provar esta hipótese. Desde o Salmo 137 do Livro dos Salmos, Antigo Testamento - 
ouvimos o lamento do salmista que chora a miséria presente e recorda-se do tempo feliz 
que passou nas terras de Sião terra dos judeus. Ou seja: o Povo escolhido foi escravizado 
pelos Babilônios e já a caminho para o exílio, os judeus choram a terra de onde se afastam. 
O salmo tornou-se quase o lamento oficial de um dos momentos mais trágicos da história 
de Israel antigo: a destruição de Jerusalém e o exílio na Babilônia (587 aC). Um canto do 
exílio, com saudades de Sião8. 
 
1 Junto aos rios de Babilônia, ali nos 
assentamos e nos pusemos a chorar, 
recordando-nos de Sião. 2 Nos salgueiros que 
há no meio dela penduramos as nossas 
harpas, 3 pois ali aqueles que nos levaram 
cativos nos pediam canções; e os que nos 
atormentavam, que os alegrássemos, 
dizendo: Cantai-nos um dos cânticos de Sião. 
 
É preciso lembrar de um dos mais belos poemas de Camões, é a redondilha 
"Sôbolos os rios que vão". Trata-se de uma apropriação poética do exílio do povo judeu na 
Babilônia, descrito no Antigo Testamento. Camões compara a existência terrena ao exílio 
babilônico, enquanto a volta a Jerusalém se daria só no céu. 
 
Camões mesmo vivendo os Descobrimentos e eternizando em Os Lusíadas a glória 
de Portugal, não ficou cego para ver a decadência crescente de Portugal e critica “a Glória 
de mandar... a vã cobiça ...” que destrói a pátria pela vaidade, a quem chamamos Fama! 
 
 
8 Monte Sião fica Jerusalém, Judeus sentem saudades da terra natal 
 
 
9 Literatura Pós Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Sôbolos rios que vão 
por Babilónia, me achei, 
Onde sentado chorei 
as lembranças de Sião 
e quanto nela passei. 
Ali, o rio corrente 
de meus olhos foi manado, 
e, tudo bem comparado, 
Babilónia ao mal presente, 
Sião aotempo passado 
(...) 
Vi aquilo que mais val., 
que então se entende milhor 
quanto mais perdido for; 
vi o bem suceder o mal, 
e o mal, muito pior, 
E vi com muito trabalho 
comprar arrependimento; 
vi nenhum contentamento, 
e vejo-me a mim, que espalho 
tristes palavras ao vento. 
(...) 
 
No cancioneiro popular brasileiro encontra-se esse motivo poético no samba canção 
de Durval Ferreira 
 
Ó, meu salgueiro chorão 
Amigo da minha solidão 
Quanta tristeza na beleza 
Dos seus galhos voltados para o chão 
Hoje eu vejo a sua sombra, meu salgueiro 
Com o coração descrente 
Tenho os olhos rasos d'água 
Vim chorar a minha mágoa 
Velho amigo e confidente 
Hoje eu sinto que existe entre nós dois 
Uma estranha semelhança 
Você triste com seus galhos voltados pro 
chão 
E eu com a minha esperança e o meu 
coração 
 
https://www.youtube.com/watch?v=GDl83ybTo4U - acesso em 01/07 2020 
 
https://www.youtube.com/watch?v=GDl83ybTo4U
 
 
10 Literatura Pós Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
3. POESIA ROMÂNTICA: as três gerações do Romantismo 
 
Objetivo 
A estética romântica é muito complexa, tanto que para fins de organização didática, 
pode-se agrupar as produções literárias em três gerações distintas. Ou seja: indianista, 
ultra- sentimentalista e condoreira. 
 
Introdução 
O movimento literário do Romantismo aconteceu no final do século XVIII e perdurou 
por boa parte do século XIX. A manifestação foi de cunho artístico, literário, político e social, 
atingindo várias esferas da sociedade. Houve o surgimento de mais um gênero literário 
além da poesia e do teatro. Nasce o romance que foi o gênero destinado à burguesia – a 
nova classe social a chegar ao poder político. 
 
Nesta aula tratarei da poesia nas três diferentes gerações românticas. 
 
A primeira geração romântica é intitulada “indianista” porque nela se destaca a 
figura do índio, sendo o herói do mito de formação da sociedade brasileira. Há o forte tom 
nacionalista a fim de refundar a nacionalidade brasileira com a independência da Coroa 
Portuguesa. 
 
Na poesia, Gonçalves Dias é a voz que valoriza a figura do índio como a de um 
herói nacional. A poesia é expressão de forte nacionalismo e nela há valorização da 
natureza brasileira. 
 
Relação das principais publicações 
• Primeiros Cantos (1846) 
• Segundos Cantos (1848) 
• Últimos Cantos (1851) 
• Os Timbiras (1857) 
 
 
 
11 Literatura Pós Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
A segunda geração romântica, marcada por um intenso sentimentalismo tem uma 
cosmovisão egocêntrica9 acerca da vida. Em outras palavras, nas obras dessa fase, 
encontra-se o subjetivismo, uma exagerada valorização das experiências pessoais, a 
idealização de sentimentos como o amor e a tristeza. É comum chamar tal geração de 
ultrarromântica. 
 
As características predominantes são a presença de intenso sentimentalismo; 
predominância do egocentrismo e tematização do amor, da tristeza. Perante tanto 
desencanto o poeta recorre ao escapismo: refúgio no passado idealizado, no isolamento 
social ou na morte. 
 
O principal autor da segunda geração romântica é Álvares de Azevedo e suas obras: 
Macário (1852), Lira dos vinte anos (1852) Noite nas Tavernas. 
 
A terceira geração romântica teve como preocupação temas sociais a serem 
debatidas pela nação que buscava a sua independência. Castro Alves além da lírica 
amorosa, notabilizou-se pela voz que sensibilizou o povo brasileira para a urgência da 
abolição da escravatura. Publicações: Espumas flutuantes (1870) e Os Escravos (1883) 
 
O Condoreirismo desta geração de poetas inspira-se nos altos ideais da Revolução 
Francesa, fato que os encoraja leva a levantar a bandeira da Liberdade. O símbolo do 
condor expressa por meio dos atributos da ave10. Assim, a campanha do Abolicionismo se 
expande em terras brasileiras. 
 
 
9 Egocentrismo - é a condição ou estado de espírito do egocêntrico. Tem origem no grego, , que 
significa "eu no centro". O egocentrismo consiste em uma exaltação excessiva da própria personalidade, 
fazendo com que toda a realidade exterior seja significada a partir da subjetividade. 
 
10 O condor voa em altitudes elevadas, alcança grandes distâncias e tem muita resistência e como o 
albatroz, atravessa o oceano Atlântico em voo solitário. 
 
 
12 Literatura Pós Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
3.1. Leitura de poemas das três gerações. 
3.1.1. Nacionalismo 
 
CANÇÃO DO EXÍLIO - Gonçalves Dias 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá; 
As aves, que aqui gorjeiam, 
Não gorjeiam como lá. 
Nosso céu tem mais estrelas, 
Nossas várzeas têm mais flores, 
Nossos bosques têm mais vida, 
Nossa vida mais amores. 
 
Em cismar, sozinho, à noite, 
Mais prazer encontro eu lá; 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá. 
Minha terra tem primores, 
Que tais não encontro eu cá; 
Em cismar - sozinho, à noite, 
Mais prazer encontro eu lá; 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá. 
 
Não permita Deus que eu morra, 
Sem que volte para lá; 
Sem que desfrute os primores 
Que não encontro por cá; 
Sem qu'inda aviste as palmeiras, 
Onde canta o Sabiá. 
 
Toda leitura precisa partir, quando possível, do contexto de sua produção. Este 
poema foi escrito quando Gonçalves Dias estava em Portugal e tal estadia era tida como 
degrado voluntário do poeta. Por isso ele registra a saudade do Brasil. Esta informação é 
necessária para dar o sentido correto aos dêiticos “cá” e “lá”: o “cá” refere-se a Portugal e 
o “lá” refere-se ao Brasil. O subjetivismo e a carga emocional conduzem o poeta à 
idealização da terra natal, a ponto de descrevê-la como um paraíso terrestre. O poema deu 
às palmeiras e aos sabiás a força de sintetizar todas as belezas e prazeres da terra. 
 
Outra informação prévia é relativa à epígrafe ao poema feita por Gonçalves Dias. 
 
Kennst du das Land, wo die Citronen 
blühn, Im dunkeln Laub die Gold-Orangen 
glühn, Kennst du es wohl? Dahin, Dahin! 
Möcht ich... ziehn! 
 
Goethe 
Você conhece o país onde os limões 
florescem, as laranjas douradas brilham na 
folhagem escura? Pronto pronto! Eu quero 
...voltar (pra lá)!! 
 
 Goethe 
 
Goethe foi escritor, romancista, dramaturgo e filósofo alemão Johann Wolfgang Von 
Goethe nasceu em Frankfurt, no dia 28 de agosto de 1749. Versátil, ele atuou também na 
esfera da Ciência. Ao lado do filósofo e poeta Friedrich Schiller, ele liderou a corrente do 
romantismo alemão conhecida como Sturm und Drang11. 
 
11 (Tempestade e Desespero) 
 
 
13 Literatura Pós Colonial 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
O tema da saudade da terra natal é um tema recorrente na literatura e na literatura 
brasileira tornou-se uma linha mestra retomada por muitos poetas do modernismo. Sugiro 
que confiram a intertextualidade na "Canção do Exílio", de Murilo Mendes12, bem como o 
“Canto de Regresso à Pátria”, de Oswald, que parodiam a canção de Gonçalves Dias. Veja 
também a “Nova Canção do Exílio", de Drummond, e a "Canção do Exílio", de Casimiro de 
Abreu, que são paráfrases. Vamos avançar mais ao lembrar da música Sabiá de Tom Jobim 
e Chico Buarque. 
 
Comprove que temas literários registram o DNA, a herança cultural de um povo. 
 
Vou voltar 
Sei que ainda vou voltar 
Para o meu lugar 
Foi lá e é ainda lá 
Que eu hei de ouvir cantar 
Uma sabiá 
Cantar 
Uma sabiá 
Vou voltar 
Sei que ainda vou voltar 
Vou deitar à sombra 
De uma palmeira 
Que já não há 
Colher a flor 
Que já não dá 
E algum amor 
Talvez possa espantar 
As noites que eu não queira 
E anunciar o dia 
Vou voltar 
Sei que ainda vou voltar 
Não vai ser em vão 
Que fiz tantos planos 
De me enganar 
Como fiz enganos 
De me encontrar 
Como fiz estradas 
De me perder 
Fiz de tudo e nada 
De te esquecer 
 
3.1.2. Ultrarromantismo 
 
Poema de Álvares de Azevedo – Amor 
Amemos! Quero de amor 
Viver no teu coração! 
Sofrere amar essa dor 
Que desmaia de paixão! 
Na tu’alma, em teus 
encantos 
E na tua palidez 
E nos teus ardentes 
prantos 
Suspirar de languidez! 
Quero em teus lábio beber 
Os teus amores do céu, 
Quero em teu seio morrer 
No enlevo do seio teu! 
Quero viver d’esperança, 
Quero tremer e sentir! 
Na tua cheirosa trança 
Quero sonhar e dormir! 
Vem, anjo, minha donzela, 
Minha ‘alma, meu coração! 
Que noite, que noite bela! 
Como é doce a viração! 
E entre os suspiros do 
vento 
Da noite ao mole frescor, 
Quero viver um momento, 
Morrer contigo de amor! 
 
A poesia ultrarromântica revela o desgosto com a realidade. Sofrem. Buscam pelo 
escapismo um refúgio no amor e na morte. Morrer de amor é uma forma de exprimir a 
grandeza e o enlevo de sentimentos. Dor, desmaios, prantos e suspiros são palavras que 
 
 
 
 
14 Literatura Pós Colonial 
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pertencem ao sofrimento amoroso, tido na época como garantia da grandiosidade do amor. 
A descrição das sensações do poeta são indícios da subjetividade temática. 
3.1.3. Condoreirismo 
 
Castro Alves - O Navio negreiro (fragmentos) 
III 
Desce do espaço imenso, ó águia do 
oceano! 
Desce mais ... inda mais... não pode olhar 
humano 
Como o teu mergulhar no brigue voador! 
Mas que vejo eu aí... Que quadro 
d'amarguras! 
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ... 
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu 
Deus! Que horror! 
(...) 
VI 
Existe um povo que a bandeira empresta 
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!... 
E deixa-a transformar-se nessa festa 
Em manto impuro de bacante fria!... 
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é 
esta, 
Que impudente na gávea tripudia? 
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto 
Que o pavilhão se lave no teu pranto 
Auriverde pendão de minha terra, 
Que a brisa do Brasil beija e balança, 
Estandarte que a luz do sol encerra 
E as promessas divinas da esperança... 
Tu que, da liberdade após a guerra, 
Foste hasteado dos heróis na lança 
Antes te houvessem roto na batalha, 
Que servires a um povo de mortalha!... 
Fatalidade atroz que a mente esmaga! 
Extingue nesta hora o brigue imundo 
O trilho que Colombo abriu nas vagas, 
Como um íris no pélago profundo! 
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga 
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo! 
Andrada! arranca esse pendão dos ares! 
Colombo! fecha a porta dos teus mares! 
http://biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://biblio.com.br/conteudo/CastroAlves/navionegreiro.htm. - Acesso 
em 14/07/2020 
 
Apresento apenas fragmentos do poema, pois ele é muito longo. Sugiro que você 
busque na net o poema integral para sentir a força da voz do poeta que incorpora a visão 
de um condor que sobrevoando o Atlântico, fascinado com a beleza do céu, do mar e com 
o vento, (metáforas de Liberdade) avista do alto, um sinistro navio negreiro. É esse o sonho 
dantesco13, infernal, descrito com todo sofrimento dos escravos. O poeta/condor revolta-se 
com a infâmia de a bandeira do Brasil dar abrigo a tamanha dor. O poeta vai além e pede 
ajuda ao herói de Independência do Brasil para que liberte também os escravos e suplica 
Colombo para que ele feche o caminho do Atlântico para impedir os tráfego negreiro. Castro 
Alves recorre aos dois grandes vultos da história que viabilizaram a América e a nação 
brasileira: José Bonifácio de Andrade e Silva e Cristóvão Colombo. 
 
13 Dante Alighieri, Poeta italiano, autor de A divina Comédia que deu uma descrição do inferno que 
impressiona os pecadores. Assim a visão dantesca é uma alusão ao inferno de Dante. 
http://biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://biblio.com.br/conteudo/CastroAlves/navionegreiro.htm
 
 
15 Literatura Pós Colonial 
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4. A ESTÉTICA REALISTA 
 
Objetivo 
Apresentar as características da Estética Realista e seu contexto histórico no Brasil. 
E oferecer alguns motivos e temas da obra de Machado de Assis. 
 
Introdução 
O Realismo europeu foi uma estética de grande influência nas artes ocidentais no 
final do século XIX. O Realismo é um movimento artístico cujo precursor, na Literatura, é o 
francês Gustave Flaubert. Madame Bovary é considerado o primeiro romance realista da 
história da Literatura. O livro Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, é 
considerado a narrativa inaugural do movimento no Brasil. Contexto histórico do Realismo 
 
No contexto histórico do Realismo destacam-se o surgimento e desenvolvimento de 
teorias científicas na Europa, tais como o Evolucionismo; Determinismo; Positivismo; 
Marxismo; Guerra do Paraguai, Abolição da escravidão no Brasil, em 1888; Proclamação 
da República brasileira, em 1889. Percebe-se que a assinatura da Lei Áurea, a substituição 
da mão de obra escrava pela assalariada (principalmente dos imigrantes que chegaram ao 
Brasil), o ideal republicano cresce e a crise da monarquia se precipita. Deu-se o declínio 
da sociedade aristocrático-escravista e uma gradual ascensão do capitalismo industrial. Em 
São Paulo, as máquinas e as indústrias começaram a surgir, e os cafeicultores, com a mão 
de obra assalariada, passaram de latifundiários a empresários agrícolas. 
 
Realismo tem como principais características: 
Objetividade: Opondo-se ao excesso de subjetividade presente nas obras 
românticas, os autores realistas buscavam representar a realidade exatamente como ela 
era, sem fantasiá-la. 
 
Correção e clareza de linguagem: Para os realistas, usar uma linguagem direta e 
objetiva era fundamental para manter o ideal de representar a realidade verdadeiramente. 
Por isso, não é comum nas obras desse movimento, por exemplo, descrições vagas ou 
imprecisas. 
 
Contenção emocional: traço que afasta o Realismo do movimento antecessor, o 
Romantismo. 
 
 
16 Literatura Pós Colonial 
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Lentidão na narrativa: Para além de contar um enredo, as narrativas realistas 
também buscavam construir análises da sociedade em que se dá o enredo. Muitas vezes 
empregam estratégias inerentes aos métodos científicos; Observação e análise. Por isso, 
é comum ver longos trechos de digressão. Muito empregada por Machado de Assis14. 
 
Impessoalidade do narrador: Principalmente no Realismo europeu, é também uma 
das estratégias utilizadas pelos autores o uso do narrador em terceira pessoa. Isso porque 
esse tipo de narrador sugere certo grau de impessoalidade, enquanto o narrador em 
primeira pessoa – também conhecido como narrador-personagem – impõe uma visão 
individual sobre a realidade. 
 
Linguagem descritiva e detalhada: Os escritores do momento possuíam uma 
linguagem repleta de detalhes, com muitas descrições de ambientes e personagens. 
 
Temas urbanos, sociais e cotidianos: Preocupados em retratar a realidade, os temas 
cotidianos, sociais, urbanos são os mais explorados pelos escritores realistas. 
 
Crítica aos valores burgueses e instituições sociais: faz críticas aos valores 
burgueses e as instituições da época, como o casamento e a igreja. Expõe as fraquezas 
humanas: a hipocrisia, a fraqueza humana, o egoísmo, a falsidade, os adultérios, o 
casamento por interesse, ociosidade, a impotência do ser humano diante das instituições. 
 
Esboçar análise psicológica das personagens: A introspecção humana foi uma das 
principais características, de forma a conhecer o homem em seu viés psicológico. Sendo 
assim, as narrativas realistas são lentas, pois acompanham o tempo psicológico de seus 
personagens. 
 
4.1. Fases da obra de Machado de Assis 
Machado de Assis teve uma carreira literária ininterrupta, produziu de 1855 a 1908. 
Escreveu poesias, romances, contos, crônicas, críticas e peças de teatro. O ponto alto de 
sua produção literária é o romance e o conto, onde se observa duas fases: 
 
14 quando a narrativa é interrompida para que o narrador promova uma reflexão com detalhamento e 
pormenores do tema. 
 
 
17 LiteraturaPós Colonial 
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4.1.1. Primeira fase 
A primeira fase das obras de Machado de Assis apresenta-se presa a algum aspecto 
do “Romantismo”, com uma história cheia de mistérios, com final feliz ou trágico e uma 
narrativa linear. 
 
Apresenta também traços inovadores, como uma linguagem menos descritiva, 
menos adjetivada e sem o exagero sentimental. As personagens têm um comportamento 
não só movido pelo amor, mas também pela ambição e pelo interesse. São dessa fase os 
romances: 
• Ressurreição (1872) 
• A Mão e a Luva (1874) 
• Helena (1876) 
• Iaiá Garcia (1878) 
 
4.1.2. Segunda fase (Realismo) 
A segunda fase das obras de Machado de Assis inicia-se com "Memórias Póstumas 
de Brás Cubas" (1881), onde retrata a miséria humana, indo até seu último romance, 
“Memorial de Aires” (1908) - o livro da saudade, escrito após a morte de Carolina. 
 
É nesse período que se encontram suas mais ricas criações literárias. Diferente de 
tudo quanto havia sido escrito no Brasil, Machado inaugura o “Realismo”. 
 
O estilo realista de Machado de Assis difere de seus contemporâneos, porque ele 
aprofunda-se na análise psicológica dos personagens desvendando a fragilidade 
existencial na relação consigo mesmo e com os outros personagens. São dessa fase os 
romances: 
• Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) 
• Quincas Borba (1891) 
• Dom Casmurro (1899) 
• Esaú e Jacó (1904) 
• Memorial de Aires (1908) 
 
 
 
18 Literatura Pós Colonial 
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Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, o narrador era um defunto que resolveu 
distrair-se um pouco saindo da monotonia da eternidade escrevendo suas memórias, livre 
das convenções sociais, pois está morto. 
 
O narrador fala não só da vida, mas de todos os que com ele conviveram, revelando 
a hipocrisia das relações humanas. 
 
As grandes e imortais “personagens femininas” das obras de Machado de Assis ou 
são adúlteras ou estão a ponto de ser como Virgília, que despreza Brás Cubas quando 
podia casar-se com ele, mas torna-se sua amante depois que está casada com outro 
homem mais importante na escala social. 
 
Sofia, protagonista de Quincas Borba, fica no limiar do adultério, tentando o pobre 
Rubião até levá-lo à loucura, para tirar dele seu último centavo e assim enriquecer seu 
esposo. 
 
Capitu, sua heroína mais famosa, personagem de Dom Casmurro, é o protótipo de 
mulher dissimulada, que engana vilmente o marido – ou parece enganá-lo. 
 
Contos de Machado de Assis apresentam temas originais que retratam a tragédia, a 
ironia da existência. Em Cantigas de Esponsais, o pobre músico sofre por não conseguir 
compor a música a que tanto desejada para dedicá-la à mulher amada. Presenciamos a 
desesperada busca da expressão perfeita e a silenciosa dor de um fracasso. 
 
Em Noites de Almirantes a personagem principal o Almirante ao retornar de uma 
viagem sonha com o reencontro tão esperado com sua amada, mas ao chegar à casa, 
descobre que ela já estava com outro amante. Desiludido, frustrado, volta para navio e 
mesmo sofrendo, finge felicidade para enganar os homens da tripulação. Pior que uma 
perda é revelar aos outros o próprio fracasso. “Noites de Almirantes” nomeiam todas noites 
de felicidades com todos os prazeres. Eis uma das ironias machadianas. 
 
Em Missa do Galo, Nogueira conta que Meneses traía sua esposa, todos sabiam do 
adultério até mesmo Conceição. O jovem narrador decide ficar no Rio porque ele queria 
assistir à Missa do Galo na Corte. No dia da missa, Nogueira combina com seu vizinho de 
ir chamá-lo para eu fossem juntos. Nesta noite, Meneses havia saído para se encontrar 
 
 
19 Literatura Pós Colonial 
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com sua amante, deixando Conceição sozinha com Nogueira. A mulher, que havia resolvido 
ficar acordada, resolve conversar com o rapaz, e logo eles começam a se aproximar, 
havendo nessas cenas uma grande tensão sexual entre os dois. Encantado com a ela, 
Nogueira esquece completamente a Missa do Galo, e fica com Conceição observando-a. A 
conversa só termina quando o vizinho chama o narrador para ir à Igreja. Porém, depois 
dessa noite, ela passa a tratar o jovem com indiferença, como se nada tivesse acontecido 
em sua casa. Porém, nós leitores podemos suspeitar que Conceição tem vontade de se 
envolver com outro homem e logo nossa suspeita é confirmada15. 
 
 
15 Deixo o desfecho do conto para você descobrir mais uma das ironias da vida. Garanto que vale a 
pena. 
http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/MachadodeAssis/miss
adogalo.htm - acesso em 23 de julho de 2020. 
http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/MachadodeAssis/missadogalo.htm
http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/MachadodeAssis/missadogalo.htm
 
 
20 Literatura Pós Colonial 
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5. O ROMANCE MACHADIANO – D. Casmurro 
 
Objetivo 
Ler Machado de Assis é muito mais do que uma obrigação; é um modo de 
compreender melhor a sociedade na qual vivemos e da qual descendemos. Valores éticos 
e morais muitas vezes são relativizados. E foi essa máscara que Machado de Assis 
levantou com destreza, bom humor e ceticismo e nos mostrou o rosto com sorriso irônico. 
 
Introdução 
Comecemos por conhecer as personagens do romance: Bento Santiago 
(Bentinho): protagonista e narrador da história. Capitu (Capitolina): vizinha e grande amor 
de Bento. Dona Glória: mãe de Bento. José Dias: médico agregado na casa de Dona 
Glória. Cosme: tio de Bento, advogado e irmão de Dona Glória. Justina: prima de Dona 
Glória. Senhor Pádua e Dona Fortunata: pais de Capitu. Ezequiel de Souza Escobar: 
melhor amigo Bento desde o seminário. Sancha: amiga de Capitu e mulher de Escobar. 
Capitolina: filha de Escobar e Sancha. Pequeno Ezequiel: filho de Bento e Capitu. 
 
Bentinho (apelidado de "casmurro", de velho, viúvo e calado) decide contar sua 
história desde a infância para compreender algo mais do que o suposto adultério de sua 
mulher: ele quer saber se ela sempre foi como ele a via depois do casamento: falsa e 
dissimulada. Enquanto Bentinho narra seus amores, ele manipula nossas opiniões, pois vai 
dando pistas de que ela poderia mesmo tê-lo traído e ter tido um filho com o melhor amigo 
dele. Essa dúvida o atormenta a ponto de na velhice viver isolado, remoendo as próprias 
dúvidas e tentando com a escrita do romance nos convencer de sua teoria sobre a 
paternidade e seu filho e da traição de Capitu. 
 
A trama tem como local a cidade do Rio de Janeiro durante o período do Segundo 
Império. Quando se instala uma vida social mundana que reunia os “bem nascidos” na 
Passeio Público, nos salões de saraus e nos teatros. Espaço perfeitos para exibir a 
opulência. 
 
Bento começa a descrever sua história desde a infância e a intenção de sua mãe 
enviá-lo a um seminário para ele se tornar padre. Isso porque Dona Glória. Bento acaba 
indo para o seminário, obedecendo a mãe, mas antes do ingresso acontece o beijo que 
mudará seu destino, pois promete se casar com ela. 
 
 
21 Literatura Pós Colonial 
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Enquanto Bento estuda para ser padre, conta com a ajuda do agregado José Dias 
que ardilosamente convence dona Glória a liberar seu filho da promessa e pagar os estudos 
para outro jovem. Durante esse tempo Capitu se aproxima de Dona Glória. No seminário 
Bentinho torna-se amigo íntimo de Escobar a quem confia seu desejo de se casar com 
Capitu. 
 
Depois de formado, ele casa-se com Capitu e o amigo Escobar, casa-se com uma 
amiga do colégio de Capitu, Sacha, e com ela tem uma filha: Capitolina. Durante muito 
tempo os casais saiam juntos e Capitu finalmente fica grávida. Decidem colocar o mesmo 
nome do amigo na criança emhomenagem a ele. 
 
Com a chegada do filho do casal, o pequeno Ezequiel, Bento começa a desconfiar 
de sua esposa. Isso porque seu filho é muito parecido fisicamente com seu grande amigo 
Escobar. Acontece que Ezequiel morre afogado. Bentinho permanece com a dúvida da 
traição de Capitu, o que gera diversas discussões entre eles. 
 
Num momento de fúria e confusão, ele tenta matar a criança, mas por fim, Capitu 
entra na sala. Entretanto, Bentinho chega a dizer para o pequeno Ezequiel que ele não é 
seu pai. Por fim, eles se separam e Bentinho vai para a Europa. De volta ao Brasil, torna-
se cada vez mais amargurado e nostálgico com sua vida. 
 
Capitu vive um bom tempo em Paris desfrutando a agitada vida burguesa da cidade 
Luz, mas, acaba por falecer no exterior. Após a morte da mãe, o filho tenta uma 
reaproximação com seu pai, que o rejeita novamente. 
 
Por fim, o filho do casal morre de febre tifoide numa expedição em Jerusalém. Bento 
constrói uma casa na antiga rua que vivera quando era criança e relembra dos momentos 
de sua vida. Assim Bentinho termina sua versão da história e nasce um intrigante mistério 
que acompanha os leitores da obra: Capitu traiu ou não? Ela é adultera ou ele é 
descontrolado pelo ciúme doentio? Por isso esse romance é uma obra aberta e confere 
ao leitor da época uma valiosa lição: há mais a que ser lido num romance do que descobrir 
o desfecho. 
 
 
 
22 Literatura Pós Colonial 
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Com olhar atento, vê-se a possibilidade de o narrador/ personagem tentar manipular 
o leitor com sua versão dos fatos. Além do mais não se pode dar um veredicto, quando se 
tem apenas uma versão dos fatos. Além do mais, Casmurros costumam se vitimizar... 
 
Lê-se também, a ironia do autor e a crítica à sociedade brasileira da época. Temas 
como o amor, o ciúme, o caráter e a traição são destacados na obra de Machado que com 
engenho conseguiu escrever um drama, unindo a uma história de amor e decepções em 
que deixa a nu a questão de diferenças de classes sociais, uma vez que a família de Bento 
era abastada e a de Capitu era pobre e a arte da manipulação para atender interesses 
pessoais era praticada pelos astutos personagens: Jose Dias, Ezequiel, Capitu. 
 
E nunca é tarde para nos determos na habilidade de Machado criar metáforas 
cheiras de significado: a bela e estonteante metáfora de “olhos de ressaca” ressalta o poder 
sedutor de Capitu que traga Bentinho como as ondas da ressaca. O poder avassalador que 
a pequena terá sobre o homem, conduzindo-o de cordo com os interesses dela. E quando 
ele registra na história este epíteto para Capitu, estabelece uma sugestão para a morte 
trágica de Escobar (afogado no mar de ressaca). 
 
5.1. Pensamentos Machadianos extraídos do romance D Casmurro 
“Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada 
do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana 
oblíqua e dissimulada” 
 
“Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas 
que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo.” 
 
“Como eu quisesse falar para disfarçar o meu estado, chamei algumas palavras cá de 
dentro, mas elas encheram minha boca sem poder sair nenhuma.” 
 
“Nem tudo é claro na vida.” 
 
“A vida é uma ópera e uma grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em 
presença do baixo e dos comprimários, quando não são o soprano e o contralto que lutam 
 
 
23 Literatura Pós Colonial 
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pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos mesmos comprimários. Há coros 
numerosos, muitos bailados, e a orquestração é excelente…” 
 
“Coisa que não era necessário dizer, mas há leitores tão obtusos, que nada entendem, se 
se lhes não relata tudo e o resto. Vamos ao resto.16 “ 
 
 
16 Fonte: https://citacoes.in/obras/dom-casmurro-6486/ - acesso em 24/07/2020 
https://citacoes.in/obras/dom-casmurro-6486/
 
 
24 Literatura Pós Colonial 
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6. O ROMANCE NATURALISTA 
 
Objetivo 
Oferecer a oportunidade de conhecer melhor a literatura Naturalista produzida no 
Brasil e relacioná-la com a pintura e o teatro. E pelas leituras das obras constatar o 
momento de maior influência das ciências biológicas, sociais e psicológicas influíram na 
arte literária a partir do Determinismo Social e genético. 
 
Introdução 
O Naturalismo por ter sido criado no mesmo período que o Realismo, e ser 
confundido com ele, no entanto, é reconhecido com uma ramificação – ou continuação mais 
revolucionária e como instrumento de denúncia. Foi uma das escolas literárias que mais 
escandalizaram a classe tida como nobre. 
 
Por ser uma ferramenta de denúncia, é por meio da análise social que o Naturalismo 
apresenta temas e personagens até então eram marginalizados e excluídos das 
expressões literárias. 
 
Para entender o contexto histórico do Naturalismo é preciso admitir o impacto 
causado pela teoria do Evolucionismo de Charles Darwin, porque o Naturalismo estudava 
o indivíduo e acreditava que suas ações estavam diretamente relacionadas a sua herança 
genética e pelo ambiente em que viveu e cresceu, ou seja o determinismo social Tais 
análises permearam a biologia, psicologia e sociologia por mais de 40 anos, e fizeram um 
grande estardalhaço em uma época em que o capitalismo brutal e a escravidão eram temas 
de pouco debate entre as classes. 
 
A estética Naturalista é expressa em todas as vertentes artísticas e literárias e se 
caracteriza pelos seguintes recursos: 
• Linguagem simples: simplicidade da expressão, sempre utilizando de uma 
linguagem objetiva e muito usada pela sociedade, e chegando até à vulgar. 
• Influência Darwinista: Darwin defende que o homem não possui o livre arbítrio 
e que tudo é consequência da herança familiar e ambiente social vivido. 
 
 
25 Literatura Pós Colonial 
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• Ênfase animalesca: o homem como como a de um animal é governado por 
impulsos e desejos primitivos. Por isso, o indivíduo deixa de ser civilizado e 
entrega-se a vontades primitivas. 
• Cientificismo excessivo: o autor defender teorias sobre comportamento, faz 
experiências, cria hipóteses e investiga causas, assumindo, então, uma postura 
relacionada ao positivismo de Augusto Comte. 
• Predominância do cotidiano: temas que são frequentemente vividos na 
sociedade do século XIX e registra as diferenças de comportamento entre as 
classes sociais, sempre sobressaindo aqueles que são considerados inferiores. 
 
Principais temas abordados no Naturalismo denunciam a desigualdade social e 
alguns desses temas eram intensamente abordados também em quadros artísticos ou 
peças teatrais. 
 
Jean François Millet - As Respigadoras do Trigo 
 
Hionoré Daumier - O Vagão de terceira Classe 
 
 
 
26 Literatura Pós Colonial 
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Como estampam as telas de pintores europeus, os temas brasileiros na literatura 
registram as mesmas realidades; miséria das cidades; crise da produção no campo; 
péssimas condições de vida; violência; crimes; sexualidade; adultério e a marginalização 
da pobreza. 
 
Aluísio Azevedo, a maior expressão da prosa naturalista, muito produziu em versos 
e na dramaturgia, e revelou heterogeneidade muito ampla, pois escreve romances 
naturalistas, de vigor crítico e viés cientificista, com melodramas românticos, publicados em 
folhetins pela imprensa e que foram, durante algum tempo, o ganha-pão do autor. 
 
Buscou influências de Eça de Queirós e Émile Zola para alimentar sua visão 
rigorosamente determinista: o Homem e a sociedade estavam submetidos às leis 
inexoráveis da raça (instinto, hereditariedade), do meio (geográfico, social) e do momento 
(circunstâncias históricas), segundo as Leis do métodode Taine - Raça/ Meio/ Momento. 
 
Criou personagens tipo, que são anti-heróis, ou seja - que mantém sua 
personalidade, temperamento e destino do início ao final da narrativa ao revelar fraquezas 
físicas, psicológicos e morais. Pelas caricaturas vai deformando a natureza humana pelo 
exagero. As personagens são psicologicamente superficiais e subsistem apenas em função 
de contextos predeterminados Elas não experimentam dramas morais; os protagonistas 
são vistos “de fora”, e a tragédia em que as tramas desembocam decorre apenas do 
fatalismo das doutrinas deterministas. 
 
Cortiço de 1890, se passa no Rio de Janeiro, este romance narra o nascimento, vida 
e morte de um cortiço habitado por vidas trágicas. Seu dono, o português João Romão, 
busca a riqueza a qualquer preço. Ao lado, há um sobrado, que simboliza um nível social 
mais elevado e cujo proprietário é também um português, o comendador Miranda. Os 
portugueses conseguem ascensão econômica e social rápidas, que obtêm por meio da 
exploração do brasileiro, representado coletivamente pelo povo do cortiço. Sob a força das 
leis ambientais que interferem no indivíduo. O cortiço e a negra Bertoleza, amásia de João 
Romão, só lhe interessaram enquanto foram úteis a ele. 
 
Quando João Romão se casa com Zulmira, a filha do comendador, e atinge a posição 
social desejada, nem Bertoleza, que o ajudara a subir na vida, nem o cortiço, com o qual 
enriquecera, são mais necessários: o cortiço sofre um incêndio e passa por remodelação, 
 
 
27 Literatura Pós Colonial 
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e Bertoleza, rejeitada e denunciada à polícia (era uma escrava foragida), suicida-se. É 
importante destacar que Cortiço introduz a personagem coletiva que neste caso é o Cortiço, 
mas que tem linhas que amarram as individualidades. São elas a ambição e a exploração 
do homem pelo próprio homem. Se João Romão aspira à riqueza, Miranda, já rico, mas 
aspira à nobreza. Do outro, a “gentalha”, caracterizada como um conjunto de animais, 
movidos pelo instinto e pela fome. 
 
O sexo é apresentado de forma mais degradante que a ambição e a cobiça. A 
supervalorização do sexo conduz Aluísio a buscar quase todas as formas de patologia 
sexual, segundo a ideologia da época, como “acanalhamento” das relações matrimoniais 
até o adultério, prostituição, lesbianismo etc. 
 
As personagens femininas vivenciam duas condições: a primeira, de objeto, usadas 
e aviltadas pelo homem: Bertoleza, Piedade, Leoni e Pombinha. A segunda, são 
simultaneamente. objeto e sujeito: Rita Baiana. 
 
Concluindo, é oportuno ler as considerações feitas pela professora Elisabeth Batista 
no artigo “Que país é este?”: o cortiço revisitado 
 
O novo saber, inaugurado pelo surgimento das ciências modernas do 
século XVIII, deu oportunidade a um grande progresso científico e tecnológico, 
trazendo consequentemente, no século seguinte, o melhoramento industrial e 
mecânico, a descoberta de novas fontes de energia como o vapor, o petróleo, o gás 
e a eletricidade. Taine vivenciou essa grande revolução científica que modificou as 
ideias e a vida em todos os aspectos. Observou que o progresso humano era a 
representação de um jogo previsível de causa e consequência que, na linguagem 
comum, é chamado de destino. Ciência que tem o ser humano como objeto. Vale 
lembrar que o homem como objeto científico é recente, data do sec. XIX. Antes só 
a Filosofia estudava o homem. 
 
Com tal constatação a articulista ressalta o valor da obra pois divulga para uma 
sociedade que frequentava seletos salões frívolos em que poucos eram instruídos que 
havia mais ciências estudando a Humanidade. 
 
 
 
28 Literatura Pós Colonial 
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7. A SEMANA DE ARTE MODERNA – 1922 
 
Objetivo 
Apresentar a chegada das novas estéticas que já agitavam a Europa nas terras de 
São Paulo: A semana de Arte Moderna desencadeando as várias expressões da 
modernidade. 
 
Introdução 
Semana de Arte Moderna ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922, seu 
objetivo foi revelar as novas tendências artísticas que já se manifestavam na Europa. Mas 
causou grande impacto na elite paulistana, que era influenciada pelas formas estéticas 
europeias mais conservadoras. 
 
A Semana de Arte Moderna, realizada entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 1922, 
foi o evento que deu visibilidade para uma das escolas literárias mais inovadoras e 
importantes da história da literatura brasileira – o modernismo. 
 
Apesar de as primeiras manifestações modernistas terem surgido em São Paulo na 
década de 1910, foi apenas a partir de 1922 que o movimento ganhou visibilidade fora da 
capital paulista, alcançando outras partes do país. A ampla divulgação dos ideais 
modernistas deveu-se, principalmente, à Semana de Arte Moderna. 
 
O evento foi aberto ao público, que durante toda a semana pôde visitar o saguão do 
teatro e conferir uma exposição de artes plásticas com obras de Anita Malfatti, Vicente do 
Rego Monteiro, Zina Aita, Di Cavalcanti, Harberg, Brecheret, Ferrignac e Antonio Moya. 
Além da exposição, foram realizados saraus com apresentação de conferências, leitura de 
poemas, dança e música, participação dos escritores Graça Aranha, Menotti del Picchia, 
Guilherme de Almeida e Ronald de Carvalho, com execução de músicas de Ernani Braga 
e Villa-Lobos. 
 
Muitos dos participantes tinham conhecimento das chamadas vanguardas europeias 
as diversas tendências artísticas que floresceram no continente europeu no início do século 
XX e que acabaram por influenciar todo o mundo ocidental. Em busca de novo significado 
para a arte, os artistas das vanguardas romperam com todas as tradições anteriores, 
fizeram diversas experimentações com materiais e técnicas distintas e abriram o caminho 
 
 
29 Literatura Pós Colonial 
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para a arte moderna. As vanguardas foram: Futurismo, Surrealismo, Cubismo, 
Expressionismo, Dadaísmo. 
 
No contexto histórico literário havia a plena aceitação do Parnasianismo. 
Caracterizado pelo rigor formal (preocupação com a forma do poema no que se refere à 
metrificação), pela proposta da “arte pela arte” e pelo academicismo e elevada erudição, o 
Parnasianismo havia sido a tendência estética dominante até então, especialmente na 
poesia, figurando em textos oficiais, como o Hino Nacional Brasileiro. 
 
No entanto, a Revolução Industrial promoveu muitas reviravoltas nas relações 
humanas e sociais. A luz elétrica, a velocidade dos deslocamentos, as máquinas velozes e 
em movimento incessante introduziram a relação como ritmo veloz e suas consequências. 
 
As grandes reviravoltas instituíram uma nova maneira de viver, modificando 
completamente as relações humanas. A luz elétrica e a rapidez dos automóveis e das 
produções fabris em larga escala, transformaram a sociedade. O advento da Primeira 
Guerra Mundial (1914-1918) e a destruição mortífera causada por ela também 
influenciaram social e filosoficamente os artistas do período. O início do século XX trouxe 
inúmeras mudanças ao modo de viver europeu; a arte, portanto, precisava acompanhar 
essas mudanças. Vinham à tona as vanguardas artísticas e, com elas, a consolidação da 
modernidade no âmbito da arte. 
 
Cem anos após a Independência, o Brasil começou a se modernizar. Indústrias 
começavam a se instalar na cidade de São Paulo, e a produção de café do interior paulista 
gerava a exportação, transformando o estado em novo centro econômico brasileiro. Por 
isso, a capital paulista foi o palco dos eventos da Semana de Arte Moderna, que contou 
com o patrocínio de diversos membros da burguesia industrial que ali se consolidava, 
muitos deles imigrantes europeus. Portanto, o Brasil, que se transformava e se 
modernizava, precisava de um novo olhar artístico, sociocultural e filosófico que alicerçasse 
a arte nacional originale atualizada, que se debruçasse sobre problemas brasileiros, que 
tratasse da nossa variedade cultural produzida em nosso vasto território. 
 
Já em 1917, ocorreu a Exposição de Pintura Moderna de Anita Malfatti, também em 
São Paulo. Junto a artistas internacionais, a pintora expôs telas, que impressionaram 
nomes que liderariam, depois, a Semana, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, 
 
 
30 Literatura Pós Colonial 
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Menotti del Picchia e Di Cavalcanti. Este evento causou polêmicas pois Monteiro Lobato, 
redige uma crítica conservadora, muito negativa chamada de “Paranoia ou mistificação?”. 
Este fato mobilizou os meios culturais da cidade que foi idealizada a Semana de 22. Em 
um dos saraus da Semana, que contou com a participação de diversos escritores, que 
tentavam falar no meio da gritaria da plateia, foi lido por Ronald de Carvalho, o famoso 
poema “Os Sapos”, de autoria de Manuel Bandeira, que ridicularizava os parnasianos. Os 
sapos 
 
Enfunando os papos, 
Saem da penumbra, 
Aos pulos, os sapos. 
A luz os deslumbra. 
 
Em ronco que aterra, 
Berra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi à guerra!" 
- "Não foi!" - "Foi!" 
- "Não foi!". 
 
O sapo-tanoeiro, 
Parnasiano aguado, 
Diz: - "Meu cancioneiro 
É bem martelado. 
 
Vede como primo 
Em comer os hiatos! 
Que arte! E nunca rimo 
Os termos cognatos. 
 
O meu verso é bom 
Frumento sem joio. 
Faço rimas com 
Consoantes de apoio. 
 
Vai por cinquenta anos 
Que lhes dei a norma: 
Reduzi sem danos 
A fôrmas a forma. 
 
Clame a saparia 
Em críticas céticas: 
Não há mais poesia, 
Mas há artes poéticas..." 
Urra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!" 
- “Não foi!" - "Foi!" 
- "Não foi". 
 
Brada em um assomo 
O sapo-tanoeiro: 
- A grande arte é como 
Lavor de joalheiro. 
 
Ou bem de estatuário. 
Tudo quanto é belo, 
Tudo quanto é vário, 
Canta no martelo". 
 
Outros, sapos-pipas 
(Um mal em si cabe), 
Falam pelas tripas, 
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!". 
 
Longe dessa grita, 
Lá onde mais densa 
A noite infinita 
Veste a sombra imensa; 
 
Lá, fugido ao mundo, 
Sem glória, sem fé, 
No perau profundo 
E solitário, é 
 
Que soluças tu, 
Transido de frio, 
Sapo-cururu 
 
 
 
 
31 Literatura Pós Colonial 
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“Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. 
Filosoficamente. Única lei do mundo. 
Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os 
coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. 
 
Tupi, or not tupi that is the question.” 
 
 Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade 
 
A Semana divulgadora da arte moderna, fez a consolidação da revolução artística 
e literária que tomou forma após 1922, quando foram lançados os manifestos Manifesto 
Antropofágico de Oswald de Andrade as obras fundamentais do Primeiro Modernismo 
brasileiro, tais como Macunaíma (Mario de Andrade), Memórias Sentimentais de João 
Miramar (Oswald de Andrade) e Ritmo Dissoluto (Manuel Bandeira). 
 
 
 
32 Literatura Pós Colonial 
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8. O ROMANCE DA DÉCADA DE 30 
 
Objetivo 
Apresentar a segunda geração do Modernismo, também conhecida como a geração 
de 30 apontando as principais características na prosa foram: 
• Influência do realismo e romantismo; 
• Nacionalismo, universalismo e regionalismo; 
• Realidade social, cultural e econômica; 
• Valorização da cultura brasileira; 
• Influência da psicanálise de Freud; 
• Temática cotidiana e linguagem coloquial; 
 
Introdução 
Com a produção ficcional de autores como Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, 
Graciliano Ramos, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Dionélio Machado, desponta um Brasil 
com grandes diferenças regionais e culturais, mas todas elas com problemas semelhantes 
em quase todas as regiões: a miséria, a ignorância, a opressão nas relações de trabalho, 
as forças da natureza sobre o homem desprotegido. 
 
Agora, porém fazendo denúncia social com engajamento político. Uniam a ideologia 
e análise sociológica e psicológica a novas técnicas narrativas. O romance de 30 constitui 
um dos melhores momentos da ficção brasileira a ponto de se expandir para outros países 
de Língua Portuguesa. Foi Jorge Amado o escritor que conquistou escritores, leitores e a 
crítica em Portugal, Cabo Verde, Angola e Moçambique, a ponto de impulsionar a formação 
das literaturas dos países Africanos da Língua Portuguesa 
 (PALOP). 
 
A década de 1930, foi um período tenso no âmbito do social e da economia, e 
marcada pela presença de governos totalitários e ditatoriais que aumentavam em alguns 
países da Europa, culminando, em 1939, na Segunda Guerra Mundial. Foi o início da Era 
Vargas e o fim das Oligarquias de Minas Gerais e São Paulo, denominado de "política do 
café com leite". Com a chegada de Getúlio ao poder, a ditadura no país também se 
aproximava com o Estado Novo (1937-1945). Em outubro de 1930, o país passava por um 
golpe de estado conhecido como Revolução de 30 que deu início à ditadura conhecida 
 
 
33 Literatura Pós Colonial 
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como Estado Novo. Os autores da segunda fase do Modernismo no Brasil abordam o tema 
social e político e retratam a história e nacionalismo da sociedade brasileira. 
 
Por ser regionalista, o enredo valoriza o espaço, isto é, personagem e espaço 
tornam-se uma coisa só, pois o lugar em que vive o personagem influencia diretamente o 
seu comportamento. Nessa perspectiva, há uma retomada do determinismo naturalista; 
porém, sem o peso da inevitabilidade do destino. Para a geração de 1930, se o meio é a 
causa dos problemas sociais, isso se resolve ao transformar o meio. Desta forma a 
linguagem é simples já que o autor buscava seduzir os leitores dado o seu caráter 
ideológico presente no romance que intencionalmente buscava alcançar o maior número 
de leitores possível. 
 
Acompanhe a personagem Principal de Vidas Secas, o retirante Fabiano que em 
monólogo interior faz o processe de autoconhecimento: 
 
Era bruto, sim senhor, nunca havia aprendido, não sabia explicar-se. Estava 
preso por isso? Como era? Então mete-se um homem na cadeia porque ele não 
sabe falar direito? Que mal fazia a brutalidade dele? Vivia trabalhando como um 
escravo. Desentupia o bebedouro, consertava as cercas, curava os animais - 
aproveitara um casco de fazenda sem valor. Tudo em ordem, podiam ver. Tinha 
culpa de ser bruto? Quem tinha culpa? Se não fosse aquilo ... Nem sabia. O fio da 
ideia cresceu, engrossou - e partiu-se. Difícil pensar. Vivia tão agarrado aos bichos. 
Nunca vira uma escola. Por isso não conseguia defender-se, botar as coisas nos 
seus lugares. O demônio daquela história entrava-lhe na cabeça e saía. Era para 
um cristão endoidecer. Se lhe tivessem dado ensino, encontraria meio de entendê-
la. Impossível, só sabia lidar com bichos (...) agora se recordava da viagem que 
tinha feito pelo sertão a cair de fome. As pernas dos meninos eram finas como bilros, 
Sinha Vitória tropicava debaixo do baú de trens. Na beira do rio haviam comido o 
papagaio, que não sabia falar. Necessidade. Fabiano também não sabia falar. As 
vezes largava nomes arrevesados, por embromação. Via perfeitamente que tudo 
era besteira. Não podia arrumar o que tinha no interior. Se pudesse ... Ah! Se 
pudesse, atacaria os soldados amarelos que espancam as criaturas inofensivas. 
Graciliano Ramo - Vidas Secas. 
 
A estrutura do romance é feita com treze capítulos, que podem ser lidos como 
contos. O autor revela que a escrita da obra começou com o episódio da morte de Baleia, 
capítulo IX do romance. Ele apresenta uma composição relativamente aberta e 
descontínua, dada a autonomia dos treze quadros. Há apenas a justaposição dos capítulos 
o que impede a existência de uma evolução da ação dramática e um clímax. Assim, a 
estrutura de Vidas secas torna-se similar à incapacidade de Fabianoe sua família. Os 
retirantes da seca são vítimas da impotência (inclusive mental), não conseguem 
compreender a realidade como um todo, vendo-a de maneira fragmentada e desconexa. 
 
 
 
34 Literatura Pós Colonial 
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Narrado em 3ª pessoa Vidas Secas pertence a um gênero intermediário entre 
romance e livro de contos. O discurso indireto é construído em frases curtas, incisivas, 
enxutas, quase sempre em períodos simples. 
 
Alguns motivos e temas são recorrentes, como a paisagem árida, a zoomorfização17 
e antropomorfizarão18 das criaturas, os pensamentos fragmentados das personagens e seu 
constante problema de carência de linguagem. 
 
Constata-se também que as personagens são apresentadas uma por vez, o que 
mostra o afastamento existente entre elas. Cada uma tem sua vida particular, acentuando-
se a solidão em que vivem. 
 
Vidas Secas é a apresentação de pessoas que apesar de caminharem juntas pelo 
sertão conseguem comunicar-se. Nem os opressores comunicam-se com os oprimidos, 
nem cada grupo comunica-se entre si. A nota predominante do livro é o desencontro dos 
seres. Verbalização são apenas xingatórios, exclamações ou mesmo grunhidos. A terra é 
seca, mas, sobretudo o homem é seco. Daí o título Vidas Secas. 
 
José Lins do Rego publica Fogo Morto em 1943, sua obra-prima e o último 
romance da fase regional neorrealista, iniciada nos anos 1930. A obra apresenta a temática 
canavieira (ciclo da cana-de-açúcar) e é estruturada em três partes, cada uma destinada a 
narrar a vida de cada um dos três protagonistas. 
 
1ª parte: O mestre José Amaro 
O primeiro a ser apresentado é Mestre Amaro, um seleiro (artesão que faz selas para 
cavalos), e tem a fama de lobisomem atribuída a ele, em razão de sua personalidade 
amarga e frustrada e de suas andanças à noite. Vivia pressionado pelo dono do engenho 
Santa Fé para deixar suas terras. Amaro vivia amargurado com a sua situação familiar, 
pois não se entendia muito bem com a filha e a esposa. O silêncio e a solidão noturnos lhe 
traziam um pouco de paz e alívio. Mas o povo deu-lhe a fama de ser um lobisomem que se 
nutria de sague dos que encontrava perdidos à noite. 
 
 
17 É uma figura de linguagem que aproxima e descreve o comportamento humano como de um animal, 
o homem é tratado como um animal 
18 Dar forma ou características humanas a algo que não é humano como animais, objetos ou natureza. 
 
 
35 Literatura Pós Colonial 
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2ª parte: O engenho de seu Lula 
A segunda parte faz uma regressão temporal e apresenta ao leitor a figura do capitão 
Tomás Cabral de Melo, o fundador do engenho Santa Fé. Após sua morte, é o marido da 
filha (dona Amélia), seu Lula, quem passa a conduzir o engenho. 
 
A fama da mesquinhez de seu Lula correra pelos quatro cantos. sua falta de 
habilidade para conduzir o engenho é uma das causas da decadência do Santa Fé. Ele 
tinha a fama de tratar com extrema violência os escravos, que acabam por debandar após 
a abolição. Sem se entender com lavradores, seu Lula vai afundando cada vez mais o 
engenho 
 
3ª parte: O capitão Vitorino 
O capitão Vitorino, compadre e amigo de Mestre Amaro, é o personagem central da 
terceira parte. Luta por seus ideais, sendo sonhador em demasia. Deseja ser um herói, mas 
para a maior parte da população do Pilar é tido como um louco ou um bobo. A figura do 
“Papa Rabo”, como era conhecido como herói pícaro Após um incidente com o tenente, o 
capitão tem o reconhecimento que considera ser digno dele. Vitorino Papa -Rabo é um 
herói pícaro19. 
 
Fogo Morto representa a decadência de uma organização econômica e social: o 
engenho. José Lins do Rego nos apresenta três diferentes reações às mudanças, que 
levam a diferentes destinos. 
 
Mestre Amaro e o coronel Lula de Holanda resistem às mudanças e por isso não se 
encaixam nesse mundo em transformação. O primeiro, um artesão, representa o trabalho 
manual que deixará de existir na sociedade industrial que começa a chegar com as usinas. 
O segundo representa uma aristocracia rural inconformada pela perda de seu poder 
econômico e político, antes absolutos. Apenas o capitão Vitorino parece reagir às 
mudanças de forma positiva luta para modificar velhas estruturas porque quer construir uma 
sociedade melhor, mais justa. Apesar de sua ingenuidade, insere no desfecho do romance 
um toque de esperança. 
 
19 O protagonista é um pícaro, de muito baixa posição social e descendente de pais sem honra ou 
abertamente marginalizados ou delinquentes. É um anti-herói, torna-se um contraponto ao ideal 
cavalheiresco. A sua aspiração é melhorar de condição social, mas para isso recorre à sua astúcia e a 
procedimentos ilegítimos, como o engano e a estafa. Vive à margem dos códigos de honra próprios das 
classes altas da sociedade da sua época e a sua liberdade é o seu grande bem. 
 
 
36 Literatura Pós Colonial 
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9. ROMANCISTAS MODERNOS QUE CONQUISTARAM PÚBLICO 
LEITOR 
 
Objetivo 
Aqui estão reunidas informações sobre dois famosos romancistas brasileiros cujas 
obras foram mundialmente editadas e vertidas em grande número de idiomas. As de Jorge 
Amado foram vertidas para 49 idiomas em 55 países e as obras de Érico Veríssimo foram 
publicadas em 16 idiomas. 
 
Introdução 
A partir do enredo e motivos presentes nos romances será desenvolvida uma análise 
literária de dois textos: um de Jorge Amado e outro de Érico Veríssimo. 
 
I. Jorge Amado em Capitães de Areia 
O romance Capitães da areia foi escrito por Jorge Amado em um contexto 
sociopolítico marcado pelo governo de Getúlio Vargas, o Estado Novo exposto a tensão, 
perseguições e prisões. Em 1937, ano da publicação, exemplares do livro foram queimados 
em locais públicos. 
 
Capitães da areia é o nome de um grupo de meninos de rua que circulam pelas ruas 
de Salvador. Todos eles menores de idade com as vidas marcadas, por desventuras 
familiares, cujas consequências as foram a entrada para o grupo, formado por mais de cem 
garotos. As vidas pessoais são entremeadas com as histórias do bando. A sobrevivência é 
garantida por furtos e vivem no trapiche – um que fica próximo à praia. 
 
O narrador traça o perfil dos meninos que tem um papel específico no grupo. As 
funções são ligadas às características físicas ou psicológicas dos garotos: 
• Pedro Bala o líder do bando é ágil, revela senso de justiça. Órfão, sabe apenas 
sobre o passado de seu pai, um líder operário assassinado durante uma greve 
no porto de Salvador. Esta Informação foi dada por João de Adão, organizador 
de greves que apresenta ao bando os ideais das lutas dos trabalhadores. 
• Professor é o braço direito de Bala. É inteligência, era o único do bando que 
sabia ler e se dedicava à leitura e artisticamente talentoso. 
 
 
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• Gato apresenta as características do felino: é ardiloso, esbanja sexualidade é 
ágil. 
• Sem-Pernas é o personagem que reúne mais profundos conflitos internos e seu 
apelido remete a uma deficiência física. 
• Volta-Seca representa sua origem sertaneja é admirador de Lampião, tem 
atitudes que fazem os próprios Capitães sentirem medo. 
• João Grande é amável, dócil, por isso assume o papel de protetor dos mais 
frágeis dentro do grupo. 
• Boa-Vida tem malandragem diferente da do Gato porque foge do trabalho e fica 
sempre descansando. 
• Pirulito é presença religiosa da narrativa. Seu sonho é ser padre. 
 
A única menina do grupo é Dora. Seus pais morreram durante uma epidemia de 
varíola. Ela entra para o bando mesmo a contragosto dos garotos. Mas conquista a 
admiração de todos, já que passa cuidar de todos. Dora e Pedro Bala iniciam um romance 
que tragicamente termina com a morte de Dora com uma forte febre e que graças ao 
narradorque num momento lírico, se transforma em mais uma estrela no céu. 
 
O desfecho dos principais membros do bando encerra o romance: 
• Professor consegue ir para o Rio de Janeiro e torna-se artista. 
• Pirulito entra para uma ordem religiosa. 
• Volta-Seca realiza o sonho de viver com o bando de Lampião. 
• João Grande segue a vida como marinheiro. 
• Sem-Pernas, para não ser pego pela polícia, se suicida, atirando-se do Elevador 
Lacerda. 
• Por fim, Pedro Bala decide seguir os passos do pai e torna-se um dos principais 
líderes grevistas da época. 
 
 
II. Érico Veríssimo - O tempo e o Vento 
O conjunto da obra de Veríssimo tem caráter inovador, o que as aproximam do 
entendimento para o leitor médio. Ela é sóbria sem perder a autenticidade A simplicidade 
da linguagem se revela no emprego dos seguintes recursos: justaposições de sintáticas, 
palavras comuns e lugares comuns da psicologia do cotidiano. 
 
 
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 A inovação reside na criação de monólogos internos, enredo não-linear, 
apresentação das personagens na dimensão interna de sua personalidade e o abandono 
da ordem temporal recortada por flash-backs20. 
 
Sua obra se divide em: 
Romance urbano, quando há na trama conflitos morais e espirituais de uma 
sociedade em crise. As obras Clarissa, Música ao longe, olhai os lírios do campo, entre 
outros. 
 
Romance histórico, quando o leitor fica diante da história do Rio Grande do Sul, 
desde os tempos coloniais, passando pela Revolta da Armada, ocorrida em 1893, até o 
início do governo de Getúlio Vargas. A obra O tempo e o vento, composta por três romances 
– O continente, O retrato e O arquipélago, representam esse tipo de romance. 
 
Romance político internacional: As obras O prisioneiro, O senhor embaixador e 
Incidente em Antares, são exemplos desse tipo de romance. 
 
O que mais engrandece a obra de Veríssimo e a configuração de dois personagens 
arquetípicos desde o primeiro volume de O tempo e o Vento. (o Continente). Rodrigo 
Cambará e Ana Terra podem ser vistos como representação dos tradicionais heróis das 
epopeias gregas. 
 
Um dos destaques nessa obra é o forte sopro épico que ocorre em toda trilogia, a 
exemplo de Ulisses e de outros heróis das epopeias gregas, o Capitão Rodrigo Cambará 
acreditava que só a ação guerreira dá sentido à vida de um homem. 
 
A domesticidade e o cotidiano são os maiores inimigos desses personagens. A 
paixão instintiva que o Capitão experimenta pela vida e seus prazeres, além de haver em 
sua conduta um substrato ético, misto de bravura, fanfarronice, generosidade e 
pensamento libertário. E com tantos atributos, resgata os de Ulisses21, durante os quarenta 
anos que navegou depois da guerra da Troia. 
 
20 Ação ou efeito de lembrar, de reviver uma sensação anterior ou ter uma recordação de algo 
passado; a narrativa principal é interrompida com cenas e momentos passados e lembrança. Etimologia 
(origem da palavra flashback). Do inglês flashback 
 
21 Ulisses herói de Odisseia epopeia grega narrada por Homero 
 
 
39 Literatura Pós Colonial 
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Capitão Rodrigo procura na vida, os prazeres, especialmente os da cama e da mesa. 
Apesar disso, há em sua conduta ética que o leva, a se posicionar contra os tiranos e a 
respeitar sua mulher. Ele age segundo a convicção de que só a ação guerreira dá sentido 
à vida dos homens. A domesticidade e o cotidiano são os maiores inimigos desses 
personagens, que só se sentem felizes no fragor das batalhas e das conquistas. 
 
Este arquétipo do gaúcho perdura tanto em O retrato (parte II) e em O arquipélago 
(parte III), os dois livros que completam a trilogia de O tempo e o vento. Tanto que Dr. 
Rodrigo Cambará, em O retrato e em O arquipélago, será a reduplicação quase que perfeita 
do bisavô, apesar de já ser um caudilho22 ilustrado. 
 
A personagem feminina arquetípica é Ana Terra que se torna o ponto em torno do 
qual orbitarão os principais eventos e a grande responsável pela continuidade da família, 
que se funde, posteriormente, em Terra-Cambará. É o próprio autor que nos dá sentido ao 
nome de Ana Terra: 
 
“Eu penso nela como uma espécie de sinônimo de mãe, ventre, terra, raiz, 
verticalidade (em oposição à horizontalidade nômade dos homens), permanência, 
paciência, espera, perseverança, coragem moral”. 
 
Ela é filha de Maneco Terra e Henriqueta, Ana tornou-se uma mulher de 
personalidade forte e marcante mesmo criada sob um rígido patriarcado em que mulheres 
e escravos figuravam como extensão da propriedade masculina. Ela, entretanto, aspirava 
a uma outra vida que pudesse ter mais requintes e delicadeza no trato com a mulher 
 
A trajetória de Ana Terra assemelha-se a de Penélope23 pelos elementos dominantes 
que constituem a sociedade patriarcal, em que mulheres eram submetidas à conformidade 
de sua condição de servir e procriar. 
 
Apesar de a personagem não mudar seu destino, quem se rebela é a figura do 
narrador, ao retratar a saga dessa mulher valente que irá passar adiante a história, sem o 
rancor de vítima. 
 
22 Pessoa de grande poder e influência em local ou região do interior do país, e que tem liderança ou 
ascendência (econômica, social, política e/ou militar) mais ou menos diretas sobre a população; 
 
23 Esposa de Ulisses que se rebelou contra seus pretendentes pois acreditava no regresso de Ulisses.

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