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1 Literatura Brasileira pós- colonial dra. Sylvia Bittencourt 1 2 2 AULA 9 João Guimarães Rosa: do regional ao universal Origens: O ambiente interiorano de Minas Gerais em que nasceu Guimarães Rosa, Cordisburgo, cidadezinha cercada por morros, vales, fazendas, rios e por uma população típica do meio rural, com suas lendas, tradições e costumes, contribuiu para que Rosa constituísse um imaginário fundamental para a construção de seus enredos. . As narrativas se desenrolam num cenário rural e vão além. Elas nos levam ao mistério cósmico, exploração das dimensões filosóficas e psicológicas da condição humana, o que faz com que a obra tenha um caráter universal. Conflitos, tensões, angústias, as dimensões psicológicas, sociológicas e antropológicas que envolvem os personagens, colocam-nos em um patamar de universalidade. “todos os meus livros são simples tentativas de rodear e devassar um pouquinho o mistério cósmico”. GR 3 4 3 A reinvenção de Língua Portuguesa De Grande Sertão: veredas “As pessoas não morrem, ficam encantadas.” “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.” "Tudo é e não é..." "Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso…“ "Mas ciúme é mais custoso de se sopitar do que o amor. Coração da gente – o escuro, escuros." "Olhe: Deus come escondido, e o diabo sai por toda parte lambendo o prato…“ "O sertão é do tamanho do mundo." Constata-se o dialeto sertanejo mas Guimarães Rosa não o fez de maneira realística ou caricata, como procederam outros escritores da literatura regionalista, que se preocuparam apenas com o plano vocabular. Rosa recriou a língua portuguesa em todos os níveis, empregou arcaísmos (termos em desuso), criou novas palavras (neologismos ), fez empréstimos linguísticos, criou estruturas sintáticas inovadoras. Poesia e prosa dialogam entre si e essa característica é perceptível nos recursos do ritmo, das aliterações, das metáforas e imagens. As narrativas do livro são pequenas lendas, com personagens que protagonizam experiências que transcendem o senso comum e atingem o universo mítico/metafísico, tema recorrente na obra do autor. Autor –filósofo no plano temático a investiga a relação do homem com o mundo a seu redor, trabalhando os “temas universais”, tais como bem e mal, vida e morte, a efemeridade e o mistério da criação. Sagarana O título é um hibridismo: "saga", radical de origem germânica que significa "canto heroico", "lenda"; e "rana", palavra de origem tupi que significa "que exprime semelhança ". Assim Sagarana significa algo como "próximo a uma saga". A leitura exige conhecimentos prévios nos aspectos formal, estilístico e linguístico .As narrativa mostram brincadeiras linguísticas com palavras de idiomas diversos, nomes de lugares, personagens, da flora e fauna local, que não são familiares ao leitor. Porém, reinventa miticamente as formas diversas de uma natureza exuberante do sertão de Minas Gerais. 5 6 4 • . Sete-de-Ouros é um burrinho velho. Fora bom e útil para seus vários donos. Esquecido na fazenda do Major Saulo, tem o azar de ser avistado pelo dono da fazenda, que o escala para ajudar no transporte do gado. Na travessia do Córrego da Fome, todos os cavalos e vaqueiros morrem, exceto dois: Francolim e Badu; este montado e aquele agarrado ao rabo do Burrinho. Turíbio flagra sua mulher, Silvana, com o ex-militar Cassiano Gomes. Ao tentar vingar-se, mata o irmão de Cassiano Gomes. Turíbio foge para o sertão e é perseguido pelo ex- militar. Cassiano adoece e, antes de morrer, ajuda um capiau chamado Vinte-e-um, que passava por dificuldades financeiras. Turíbio volta para casa e é surpreendido por Vinte- e-um, que o executa para vingar seu benfeitor. José é supersticioso, mas zomba do feiticeiro João Mangolô. E reza sem precisar a reza forte de São Marcos e é repreendido pelo feiticeiro. Certo dia, caminhando no mato, fica cego e passa a se orientar por cheiros e ruídos. Descobre o caminho da casa de João Mangolô. Tenta estrangular o feiticeiro . Retoma a visão, percebe que o negro havia colocado uma venda nos olhos de um retrato seu para vingar-se das constantes zombarias. Dois primos, Ribeiro e Argemiro, contraem ela malária que se espalhou em Sarapalha. Os dois estão solitários na região, mulher de Ribeiro, Luísa fugira. Argemiro, temendo a morte e para ter a consciência limpa, confessa o interesse pela esposa do primo. Ribeiro revolta-se de forma agressiva e expulsa Argemiro de suas terras, sem nenhuma complacência. QUATRO CONTOS DE SAGARNA “O burrinho pedrês” “Sarapalha” “Duelo” “São Marcos” “A hora e a vez de Augusto Matraga” Augusto Estêves o “dono” do seu pequeno povoado era esbanjador e com a morte do pai perde todos os bens. Certo dia, recebe dois recados que alterarão sua vida: perdera os capangas para seu inimigo, o Major Consilva, e a mulher e a filha, que fugiram com Ovídio Moura. Augusto Estêves vai sozinho à propriedade do major para tomar satisfação com seus ex-capangas. O Major Consilva ordena que Nhô Augusto seja marcado a ferro e depois morto Assim foi feito e Augusto fica muito ferido . Desesperado, salta de um despenhadeiro. Quase morto é encontrado por um casal de pretos, que cuida dele e chama um padre para lhe dar alívio espiritual. Nhô Augusto decide que sua vida de facínora chegara ao fim. Recuperado, foge com os pretos para a única propriedade que lhe restara, no Tombador. Trabalha para os habitantes e para o casal que o salvara, em retribuição a tudo que fizeram por ele. Leva uma vida de trabalho e privações e para purgar seus pecados e, assim, ir para o céu. Um dia, aparece na cidade o bando de Joãozinho Bem-Bem temido jagunço do sertão. Nhô Augusto e o famigerado jagunço tornam-se amigos à primeira vista e, depois da breve estada, despedem-se com pesar. Com o tempo, Nhô Augusto resolve sair do Tombador, pressentindo a chegada da “sua hora e vez”. Encontra-se por acaso com Joãozinho Bem-Bem, que está prestes a executar uma família, como forma de vingança. Nhô Augusto pede a Joãozinho que não cumpra a execução. O jagunço encara essa atitude de Nhô Augusto como uma afronta e os dois travam o duelo final, no qual ambos morrem. 7 8 5 “O escritor apresenta uma autêntica personalidade de artista e o seu livro tem a verdadeira estrutura da criação ficcionista. Nada existe aqui a expor vacilações, deficiências, incertezas ou puerilidades de estreante [...]. Estamos diante de uma vocação de escritor que se experimentou em meditação e aprendizado técnico, de uma obra intensamente sentida e longamente trabalhada. Pelos assuntos e pelo material da construção ficcionista, pela abundância documental, pelo estilo de artista, pela riqueza e pela ciência do vocabulário, pela capacidade descritiva e pela densidade das situações dramáticas seria impossível classificar Sagarana como obra de principiante”[...] Álvaro Lins apresenta a primeira obra de GuimarãesRosa: Sagarana 9
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