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Maria Paula M. Mattei – Tutorial 3 UC 17 (Psiquiatria) Pá gi n a1 Transtorno Bipolar Oscilações do humor que se alternam entre fases de depressão e maníacas ou hipomaníacas. Epidemiologia: Ocorre eclosão principalmente nos 20 anos Mulheres apresentam maior tendência para ciclagem rápida (4+ viradas maníacas em 1 ano) Quanto mais jovem o início da doença, pior o prognóstico e maior a taxa de comorbidade (uso de substâncias, suicídio e ciclagem rápida) É muito frequente a associação de TB (principalmente o tipo 1) com outros transtornos psiquiátricos, especialmente os de ansiedade. Dentre as doenças psiquiátricas o TB é a que apresenta o maior percentual de participação de fatores genéticos. 50% dos pacientes com depressão na UBS têm transtorno bipolar Fisiopatologia: Principais circuitos cerebrais afetados são os das estruturas como: Corpo estriado Tálamo Córtex pré-frontal Estruturas límbicas (amígdala e hipocampo) Cerebelo Alterações anatômicas também foram encontradas, como: Redução do volume de substância cinzenta dos neurônios em regiões cerebrais envolvidas na regulação do humor Redução de N-acetil-aspartato (marcador de integridade neuronal) Neurotransmissores associados ao TB: Dopamina ( em episódios de mania e na depressão) Noradrenalina ↓ = depressão; ↑ = mania GABA Glutamato (causa disfunções celulares e mitocondriais) Serotonina (risco de suicídio) Pacientes com TB apresentam cortisol e do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) A TB (independente da fase) atividade pró-inflamatória e das citocinas, como TNF e IL-2 na mania, e IL-2 na depressão. Comorbidades Associadas: Diabetes Doenças cardiovasculares Hipotireoidismo Síndromes metabólicas Diagnóstico: Transtorno de humor – bipolaridade (?) → jeito de escrever no protuário Paciente na UBS sendo tratado por depressão ou comorbidade Na UPA vão estar mais os casos de mania, sendo trazidos por trauma, uso de substâncias, taquicardia e dor no peito, tentativa de suicídio. Perguntar: − Planos de vida − Relação interpessoal – casamento, namoro, trabalho − Questões financeiras – gosta de viajar − Resposta ao antidepressivo − História familiar − Perguntar sobre doenças prévias como hipertireoidismo Exame físico: − Roupas extravagantes, cabelos enfeitados, maquiagem − Taquicardia, palpitação − Pressão mais alta − Roupas descuidadas, mas dificilmente é muito desleixado − Mais magro Depressão (mesmos critérios para a maior) Os episódios maníacos podem variar em sua apresentação desde quadros eufóricos e expansivos até disfóricos (irritados). − Aceleração do pensamento − Distraibilidade intensa (qualquer estímulo muda o foco do indivíduo) o Roupa do entrevistador, os ruídos ou as conversas de fundo, os móveis da sala − Alucinações e delírios em quadros extremos (normalmente de natureza religiosa ou grandiosa/poder) − Agitação psicomotora − Anorexia e perda de peso − Apesar da diminuição da quantidade de horas de sono, o indivíduo apresenta excesso de energia, aumento das atividades e hipersexualidade. o Difere da insônia, em que o indivíduo deseja dormir ou sente necessidade disso, mas não consegue. Aqui o paciente pode acordar várias horas mais cedo, sentindo-se repousado e cheio de energia. − Algumas vezes, o humor predominante é irritável em vez de elevado, em particular quando os desejos do indivíduo são negados ou quando ele esteve usando substâncias. − Labilidade (alternância entre euforia, disforia e irritabilidade em breve período de tempo). - A pessoa pode se envolver em vários projetos novos ao mesmo tempo; - Apesar da falta de qualquer experiência ou talento particular, o indivíduo pode dar início a tarefas complexas, como escrever um romance ou buscar publicidade por alguma invenção impraticável. - Delírios de grandeza (p. ex., de ter um relacionamento especial com uma pessoa famosa) Maria Paula M. Mattei – Tutorial 3 UC 17 (Psiquiatria) Pá gi n a2 - Fala rápida, alta e difícil de interromper → podem falar continuamente e sem preocupação com os desejos de comunicação de outras pessoas, frequentemente de forma invasiva ou sem atenção à relevância do que é dito. - Em crianças, supervalorização das capacidades e crença de que, por exemplo, podem ser as melhores no esporte ou as mais inteligentes em sala de aula são comuns; quando, no entanto, essas crenças estão presentes apesar de evidências claras do contrário, ou a criança tenta atos claramente perigosos e, mais importante, representa uma mudança de seu comportamento habitual. Hipomania → sintomatologia semelhante à mania, porém com menos intensidade e sem cursar com sintomatologia psicótica. Não causa prejuízos acentuados à vida do indivíduo e, muitas vezes, passa despercebida por familiares e amigos. → Vão para o hospital por traumas, tentativas de suicídio, uso de substâncias. *No CID-10 precisa de 2 episódios maníacos Diagnóstico Diferencial: Transtorno depressivo unipolar Transtornos de ansiedade Uso de drogas Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade Transtornos da personalidade (personalidade borderline) Transtornos psicóticos (esquizofrenia) Hipertireoidismo Encefalite Sífilis Tratamento: Uma vez resolvido o episódio agudo de humor, também é importante a prevenção de novos episódios. Nas situações em que há risco de suicídio ou homicídio, falta de crítica, baixa adesão ao tratamento ou comportamentos, como atitude sexual de risco ou risco de agressividade → internar. SEMPRE e em TODOS OS MOMENTOS: estabilizadores do humor em monoterapia, que são: Lítio (1ª escolha) → pode ser tóxico, causando hipotireoidismo e insuficiência renal Anticonvulsivantes estabilizadores do humor (carbamazepina, ácido valproico, lamotrigina) o Quadros de mania que apresentem sintomas depressivos associados (quadros mistos) ou pacientes cicladores rápidos (mais de quatro episódios de humor em 1 ano) tendem a obter melhor resposta com o ácido valproico. Antipsicóticos atípicos (risperidona, olanzapina, quetiapina) → Se não houver resposta a uma dose otimizada de um estabilizador do humor de primeira escolha em monoterapia, devem ser associados medicamentos de primeira escolha: − lítio + ácido valproico − lítio + carbamazepina − lítio + antipsicóticos atípicos − ácido valproico + antipsicóticos atípicos − carbamazepina + antipsicóticos atípicos Maria Paula M. Mattei – Tutorial 3 UC 17 (Psiquiatria) Pá gi n a3 O uso de antidepressivos é controverso e pode nunca ser usado. O tratamento com antidepressivos de pacientes bipolares não reconhecidos pode não apenas aumentar a ciclagem do humor, os estados mistos e a conversão em hipomania e mania, além de aumentar a tendência suicida em pacientes mais jovens (< 25 anos). *Pedir para voltar em 2 semanas para ver se está hipomaníaco ou maníaco. *Tricíclicos e iMAOs também causam virada maníaca Psicoeducação: − Informar pacientes e cuidadores a respeito da doença e seu tratamento (sintomas, etiologia, curso, prognóstico, estresses indutores). *Gera maior adesão à terapia farmacológica, bem como passar a reconhecer os sinais precoces de um novo episódio. Ciclotimia Oscilações do humor que não são tão graves quanto a mania franca e a depressão plena, mas que ainda sofre exacerbações e quedas acima e abaixo dos limites do humor normal. Muitos e frequentes períodos de poucos e leves sintomas depressivos (interesse diminuído, cansaço) seguidos, em periodicidade variável, de certa elevação do humor (um tanto eufórica, irritável). Essa oscilação (hipomania – depressão) deve durar no mínimo 2 anos (mas geralmente ocorrem por toda a vida da pessoa), sem jamais atender aos critérios para um episódio de mania,hipomania ou depressão maior. Períodos depressivos são semelhantes à distimia. Períodos de hipomania confere uma sensação de agradável de autoconfiança, aumenta da sociabilidade, atividade laborativa e criatividade. Para ele e para a sociedade, está dentro da normalidade. - Troca frequentemente de trabalho, de cidade, problemas nas relações sociais e afetivos - Dentro do mesmo dia a pessoa oscila - Depressão leve + hipomania TB Tipo 1 Presença de depressão e mania Apresentam episódios maníacos totalmente desenvolvidos ou episódios mistos de mania e depressão, frequentemente seguidos de um episódio depressivo Ou seja, aquele com, pelo menos, um episódio maníaco ou misto (mania e depressão plenas simultaneamente). Embora muitos indivíduos com transtorno bipolar retornem a um nível totalmente funcional entre os episódios, aproximadamente 30% mostram prejuízo importante no funcionamento profissional. TB Tipo 2 Episódios de depressão e hipomania Pelo menos um episódio hipomaníaco durante o curso da vida que ocorre após um episódio depressivo. Maria Paula M. Mattei – Tutorial 3 UC 17 (Psiquiatria) Pá gi n a4 O episódio depressivo maior deve ter duração de pelo menos duas semanas, e o hipomaníaco, de, no mínimo, 4 dias. Normalmente se apresentam ao clínico durante um episódio depressivo maior, sendo improvável que se queixem inicialmente de hipomania. O prejuízo é consequência dos episódios depressivos maiores ou do padrão persistente de mudanças e oscilações imprevisíveis de humor e da instabilidade do funcionamento interpessoal ou profissional → outras pessoas se sentem incomodadas com seu comportamento errático. Não é mais considerado uma condição “mais leve” que o transtorno bipolar tipo I têm maior cronicidade da doença e passam, em média, mais tempo na fase depressiva, que pode ser grave e/ou incapacitante no funcionamento profissional e social. Elevado risco de suicídio Estado Misto Pacientes em mania associada a quadro clínico completo de depressão. Forma transitória: transição entre mania e depressão, e vice-versa. Forma autônoma: representa em si episódio da doença. Sintomas: grave irritabilidade, raiva e hostilidade, demonstração de violência e auto ou hetero-agressividade, por vezes incontroláveis. Quando os sintomas de ambos os polos se misturam surge um quadro de desespero e intenso sofrimento, pois o próprio paciente não entende seu estado clínico. É comum que ocorra tentativa de suicídio, atos impulsivos, comportamento desorganizado → fácil de confundir com personalidade borderline. Espectro Bipolar Quando o paciente apresenta sintomas que não se encaixam em nenhuma das categorias anteriores. Para eles foram criadas categorias “não exatamente bipolar” como: Bipolar ¼ (0,25) → forma instável de depressão unipolar (responde rapidamente às vezes, porém de forma não duradoura, aos antidepressivos) Bipolar ½ e transtorno esquizoafetivo → combina sintomas positivos de psicose com episódios maníacos, hipomaníacos e depressivos. Bipolar I ½ → pacientes com hipomania prolongada ou recorrente sem depressão. Bipolar II ½ → pacientes ciclotímicos que apresentam episódios depressivos maiores. Bipolar III → pacientes que desenvolvem episódios maníacos ou hipomaníacos quando estão em uso de antidepressivo. Bipolar III ½ → transtorno bipolar associado ao uso abusivo de substâncias. Bipolar IV → associação de episódios depressivos a um temperamento hipertímico preexistente (são indivíduos radiantes, otimistas, produtivos e bem-sucedidos, com temperamento estável por vários anos, mas que, de repente, sofrem depressão grave). Bipolar V → depressão com hipomania mista. Bipolar VI → a bipolaridade no contexto da demência, que pode ser incorretamente atribuída aos sintomas comportamentais da demência, em vez de ser reconhecida como estado de humor comórbido e tratada com estabilizadores do humor. Virada Maníaca É a ida da depressão para a mania devido a medicamentos. A cada novo episódio agudo (principalmente de mania) ocorre perda neuronal, levando a déficits cognitivos e maior probabilidade de nova recorrência. *Álcool é um frequente causador de ciclagem Mania: oposto da depressão → elevação do humor, aumento da atividade motora e do pensamento (acelerado e “contaminado” por ideias de grandeza). Intensa sensação de bem-estar, prazer, alegria e euforia. Pessoa plenamente segura em seu discurso, confiante em si e pode exibir um otimismo exagerado. Faz uma avaliação excessivamente positiva de suas características pessoais e capacidades Ciclagem rápida: Quando a mania sofre recidiva pelo menos 4 vezes por ano (mania com ciclagem rápida) OU quando há pelo menos 4 episódios de humor distintos em 1 ano Maria Paula M. Mattei – Tutorial 3 UC 17 (Psiquiatria) Pá gi n a5 Depressão Unipolar x Bipolar ** Como os pacientes sintomáticos com transtorno bipolar passam muito mais tempo no estado depressivo do que no estado maníaco, hipomaníaco ou misto, isso significa que muitos indivíduos deprimidos já foram incorretamente diagnosticados como apresentando depressão maior unipolar e tratados com monoterapia antidepressiva. Unipolar → pacientes que só apresentam o polo para baixo ou depressivo (dura em média 6 meses) Bipolar → pacientes que, em diferentes momentos, apresentam o polo para cima [i. e., maníacos] ou o polo para baixo [i. e., depressivos]. Em geral dura menos que 6 meses. SINTOMAS ATÍPICOS (excesso de sono ou apetite), retardo psicomotor, intensidade da depressão mais grave, início precoce, com sintomas psicóticos, história familiar positiva ou puerpério, refratariedade com tratamento com antidepressivo Quando o paciente está depressivo, as duas são INDISTINGUÍVEIS. O que diferencia é se o paciente teve história de mania ou hipomania. O que ajuda a distinguir: − História de bipolaridade na família (“quem é seu pai?” → faz o paciente contar a história de sua família e “onde está sua mãe?” → faz o paciente trazer mais um parente para a consulta, o que é importante porque temos um 2º ponto de vista sobre o paciente) − História de episódios maníacos e hipomaníacos − Início precoce (< 25 anos) − Depressão com sintomas atípicos − Diversas falhas aos antidepressivos → rápida recuperação, efeitos colaterais ativadores (insônia, agitação e ansiedade) − Sintomas psicóticos episódicos que se iniciam no puerpério ➔ Embora nenhuma dessas características possa discriminar com certeza a depressão bipolar da unipolar, o aspecto importante é estar atento quanto à possibilidade de que o que parece ser depressão unipolar pode, na realidade, ser uma depressão do espectro bipolar quando se efetua uma investigação mais cuidadosa e quando se monitora a resposta ao tratamento. Referências: CANTILINO, Amaury; MONTEIRO, Dennison Carreiro. Psiquiatria Clínica: um guia para médicos e profissionais de saúde mental. Medbook, 2017. DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. 3. ed. Artmed, 2019. STAHL, Stephen M.. Stahl Psicofarmacologia: bases neurocientíficas e aplicações práticas. 4. ed. Guanabara Koogan, 2014.
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