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DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

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DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
QUANDO OCORRER A FRAUDE A EXECUÇÃO, FASES DO PROC. DE CONHECIMENTO – 
ART. 134 AO 138 DO CPC
JULIANA FAGUNDES | DIREITO PROCESSO CIVIL III | 13/10/2021
1. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICAExige apenas o prejuízo ao credor
Desvio de finalidade
TEORIA MENOR
Exige além do prejuízo, abuso de direita, caracterizado por
Art. 28, CDC
Confusão patrimonial
TEORIA MAIOR
Art. 50, CC
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
	A requerimento MP, mesmo se fiscal da lei, OU
Esconde patrimônio na empresa
	 DESCONSIDERAÇÃO INVERSA
A requerimento do interessado
Não pode ser feita de ofício, mas:
Abuso na condição de sócio
	
Com esse enfoque, convém ressaltar as lições de Sérgio Campinho:
 
“Detentora de personalidade jurídica, a sociedade é capaz de direitos e obrigações, passando a ter existência distinta de seus membros. “ (CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa à luz do novo Código Civil. 5 Edição. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 63)
 
Com a mesma sorte de entendimento professam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald:
 
“O consectário natural da personalização das pessoas jurídicas é o reconhecimento de sua autonomia patrimonial em relação aos seus instituidores, como sustentado alhures.
O ordenamento jurídico confere personalidade jurídica às empresas, permitindo que formem uma esfera jurídica e patrimonial autônoma e independente, apartada do patrimônio individual de cada um de seus sócios.”(FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil. 10ª ed. Salvador: Juspodivm, vol. 1, 2012, p. 447)
 Contudo, lamentavelmente, surge dessa autonomia patrimonial da sociedade empresária um problema muito comum: a ocultação do patrimônio da sociedade com o propósito de fraudar os credores.
 A postura adotada funciona como uma blindagem patrimonial. Onde o patrimônio social não se confunde com os dos sócios. 
 Acontece que quando a sociedade empresária se encontra insolvente, nos deparamos por diversas vezes sócios agindo de má-fé procurando encobrir seus bens da sociedade caso venha ter eventuais constrições judiciais.
 Trava-se, uma batalha judicial acirrada entre devedor e credor, e este procurará ‘quebrar” essa blindagem patrimonial, também expressada por Nelson Rosenvald e Cristiano Farias como sendo o “véu societário”.( ob. cit., p. 452).
 Nader, sustenta que esse princípio (da desconsideração) identicamente é conhecido como liftin or piercing the veil, que revela ser levantando ou perfurando o véu. (Curso de direito civil, 7 Ed., Rio de Janeiro: Forense, vol. 1, 2010, p. 215) (cf. também Caio Mário da Silva Pereira, Instituições de direito civil, 23 Ed., Rio de Janeiro: Forense, vol 1, 2010, p. 286).
 Com isso surge a possibilidade do credor formular em juízo – mais a frente irei destacar que essa conduta processual necessita de requerimento expresso do credor (novo CPC, art. 135 e segs.) --, com o fito de “superar” essa blindagem patrimonial; um pedido de desconsideração da personalidade jurídica.
Ademais, se aceita (a desconsideração), tal situação processual ocorrerá episodicamente. É dizer, é um acontecimento transitório que não importa na “despersonificação” da pessoa jurídica. Portanto, ao invés disso, a sociedade empresária é preservada.
Vejamos o seguinte julgado que bem explana esse entendimento:
 
Ementa:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO DE EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. DESNECESSIDADE. MICROEMPRESA. AUSÊNCIA DE DISTINÇÃO ENTRE O PATRIMÔNIO DA PESSOA FÍSICA E JURÍDICA.
Em que pese a parte agravada, seja microempresa e firma individual, o pedido de desconsideração da personalidade jurídica é diverso das razões apresentadas em recurso para que a responsabilidade por obrigações assumidas pela recorrida recaiam sobre o patrimônio particular de seu titular. - É vedada a apreciação em sede de agravo de questão não submetida ao juízo e primeiro grau, sob pena de supressão de instância e ofensa ao princípio constitucional do duplo grau de jurisdição. Agravo de instrumento desprovido. (TJRS; AI 0030179-48.2016.8.21.7000; Novo Hamburgo; Décima Sétima Câmara Cível; Rel. Des. Gelson Rolim Stocker; Julg. 14/04/2016; DJERS 22/04/2016)
O ponto de vista salientado pelo professor Rubens Requião, quando, comentando julgado originário do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, assim ressalvou:
 
“O Tribunal de Justiça de Santa Catarina explicou muito bem que o comerciante singular, vale dizer, o empresário individual, é a própria pessoa física natural, respondendo os seus bens pelas obrigações que assumiu, quer sejam civis, quer comerciais. A transformação de firma individual em pessoa jurídica é uma ficção do direito tributário, somente para o efeito de imposto de renda (Ap. Cív. nr. 8.447 – Lajes, in Bol. Jur. ADCOAS, nr. 18.878/73).”(REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 25 ed. São Paulo: Saraiva, vol. 1, 2005)
 
1.1 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA: OBJETIVO
Tendo-se em conta a situação acima descrita, percebeu o legislador pátrio que seria de toda conveniência fosse provido o credor de mecanismos para inviabilizar a fraude na recepção do crédito inadimplido. Surge, então, aprumado na legislação alienígena, a figura jurídica da desconsideração da personalidade jurídica.
 
A primeira norma nacional que agregou tal hipótese foi o Código de Defesa do Consumidor, datado dos idos de 1990.
 
A esse propósito, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho assim aduzem:
 
“O Código Civil de 1916, todavia, por haver sido elaborado no final do século XIX, época em que os tribunais da Europa se deparavam com os primeiros casos de aplicação da teoria, não dispensou tratamento legal à teoria da desconsideração.
Coube à jurisprudência, acompanhada eventualmente por leis setoriais, o desenvolvimento da teoria no Direito Civil brasileiro.
Nesse contexto, deve ser lembrada a importante contribuição dada pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90), que incorporou em seu sistema normativo norma expressa a respeito da teoria da desconsideração: “(GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. 14 ed. São Paulo: Saraiva, vol. 1, 2012, p. 279)
 	Comment by Juliana Fagundes: 
Citando antes um exemplo bastante esclarecedor, Fábio Ulhoa Coelho discorre acerca da situação em que o devedor almeja favorecer uma blindagem patrimonial e, com esse enfoque, sustenta a separação da autonomia dos bens dos sócios:
 
“Como se vê destes exemplos, por vezes a autonomia patrimonial da sociedade empresaria dá margem à realização de fraudes. Para coibi-las, a doutrina criou, a partir de decisões jurisprudenciais, nos EUA, Inglaterra e Alemanha, principalmente, a ‘teoria da desconsideração da personalidade jurídica’, pela qual autoriza o Poder Judiciário a ignorar a autonomia patrimonial da pessoa jurídica, sempre que ela tiver sido utilizada como expediente para realização de fraude.”(COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 14 Ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 126)
 
Nesse compasso, a desconsideração da personalidade jurídica é um instrumento que serve de anteparo para, eficientemente, permitir que o credor possa, por intermédio do Poder Judiciário, coibir os abusos ou fraudes dos devedores.
 
 
1.2 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA: REQUISITOS
De outra banda, a separação de bens da sociedade e de seus componentes societários é a regra. É dizer, afastar-se a personalidade jurídica da sociedade para atingir o patrimônio dos sócios não é o ordinário. Há exceção, portanto.
 
Bem a propósito são as colocações evidenciadas por Sílvio de Salvo Venosa, quando o mesmo chama atenção que não só o patrimônio dos sócios pode ser atingido. Para além disso, outras pessoas jurídicas ou naturais, alheias ao quadro social, as quais, de forma direta ou indireta, igualmente tenham participado da fraude. (VENOSA, Sílvio de Salvo, cf. Direito Civil. 12 ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 290)
Normalmente, nos deparamoscom casos onde, na praxe jurídica, o credor, por meio de seu advogado, pelo simples fato isolado (por si só) da inadimplência da sociedade empresária, requerer a superação da personalidade jurídica dessa. Não é o caso, por certo.
 
É altamente ilustrativo trazer à colação os seguintes arestos:
CIVIL. PROCESSO CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. DESCONSIDERAÇÃO. PERSONALIDADE JURÍDICA. TEORIA MAIOR. DESVIO DE PERSONALIDADE. CONFUSÃO PATRIMONIAL. PROVA CABAL. INEXISTÊNCIA. O Código Civil adotou a teoria maior da desconsideração da personalidade jurídica em que, além do prejuízo aos credores, exige-se prova do desvio de finalidade (afastamento do objeto social descrito no ato constitutivo) ou da confusão patrimonial, caracterizada pela ausência de separação entre o patrimônio dos sócios e da sociedade empresária. 2. Na via estreita do agravo de instrumento, não é possível verificar a existência de relevante fundamentação que lastreie o pedido de desconsideração de personalidade jurídica, que depende, necessariamente, da demonstração de confusão patrimonial ou de desvio de finalidade da pessoa jurídica, conforme preceitua o art. 50 do Código Civil. 3. Agravo de instrumento conhecido e desprovido. (TJDF; Rec 2015.00.2.027720-4; Ac. 921.556; Terceira Turma Cível; Relª Desª Maria de Lourdes Abreu; DJDFTE 26/02/2016; Pág. 152).
Se de fato fosse assim poucos agregariam esforços para constituir uma sociedade empresária. Afinal, por qualquer imperfeição na administração da empresa, a qual trouxesse inadimplência, seria o suficiente para os sócios sofrerem a dura penalidade da constrição de seus patrimônios pessoais. Felizmente não é assim, em regra.
Por padrão o direito pátrio adota os ditames do quanto contido no art. 50 do Código Civil, quando tratamos de desconsiderar a personalidade jurídica, que assim reza:
“Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.” (grifo nosso).
Os requisitos para ensejar a desconsideração da personalidade jurídica, que de acordo com o art. 50 do Código Civil, é possível desconsiderar a personalidade jurídica, por ato judicial, em caso de abuso de direito caracterizado por i) desvio de finalidade ou ii) confusão patrimonial, deixando antever uma opção explícita pela teoria maior objetiva da desconsideração da personalidade jurídica, não perquirindo de elementos de natureza subjetiva (não se discute o grau de intenção fraudulenta dos sócios)” (ob cit., p. 456).
Com esse enfoque:
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. Execução de título extrajudicial. Decisão que indeferiu a desconsideração da personalidade jurídica. Pleito para o seu deferimento. Possibilidade. Configuração dos elementos previstos no art. 50 do Código Civil. Dissolução irregular cumulada com a insolvência patrimonial. Frustação de todas as tentativas para obter se o crédito. Reforma da decisão exarada pelo juízo a quo para autorizar a desconsideração. 1. A aplicação do art. 50 não pode ser indiscriminada, sob pena de corromper o sistema e a própria função de tipificação de modelos societários. Os pressupostos para a sua aplicação são: a) existência da pessoa jurídica distinta de seus sócios. Logo deverá ter situação de registro e existência, pois quando for uma sociedade de fato, a responsabilidade será voltada diretamente aos seus membros; b) a sociedade limitada, pois se fosse ilimitada, a desconsideração seria desnecessária; c) verificação dos pressupostos objetivos de abuso da personalidade, fraude pautada pelo desvio de personalidade ou confusão patrimonial (medina, José miguel Garcia; Araújo, fábio caldas de. Código Civil comentado. São Paulo: editora revista dos tribunais. 2014).2. Recurso conhecido e provido. (TJPR; Ag Instr 1450726-3; Curitiba; Décima Segunda Câmara Cível; Rel. Juiz Conv. Luciano Carrasco Falavinha Souza; Julg. 16/03/2016; DJPR 20/04/2016; Pág. 294).
Por essa razão que, agora, vê-se no Código de Processo Civil:
 
Art. 133.  O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo.
 
1º O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os pressupostos previstos em lei.
 
É dizer, para que o incidente tenha pertinência, deverá o credor-exequente, necessariamente, comprovar que o pleito atende aos pressupostos previstos na Legislação Substantiva.
2. ABUSO DO DIREITO
Salienta Sérgio Campinho, a mera incompetência na administração da sociedade empresaria não poderá ser, por isso só, motivo suficiente para superar-se a personalidade jurídica e, com isso, penetrar-se no patrimônio dos sócios. (ob cit, p. 69).
 É considerado ato ilícito, quando, ausente o ânimo de causar dano a outrem, o sujeito supera os limites da normalidade admitidos em lei.
3. FRAUDE À EXECUÇÃO NO ÂMBITO DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
A fraude à execução é um instituto de natureza processual que consiste em manobras realizadas pelo devedor, visando frustrar a expropriação de seus bens e por consequência acaba por frustrar a atividade jurisdicional.
Inclusive, a doutrina entende que a fraude à execução revela-se mais grave que a fraude contra credores, na medida em que é cometida no curso do processo executivo.
O ilustre professor Fredie Didier assim ensina:
"A fraude à execução é manobra do devedor que causa dano não apenas ao credor (como na fraude pauliana), mas também à atividade jurisdicional executiva. Trata-se de instituto tipicamente processual. É considerada mais grave do que a fraude contra credores, vez que cometida no curso de processo judicial, executivo o apto a ensejar futura execução, frustrando os seus resultados. Isso deixa evidente o intuito de lesar o credor, a ponto de ser tratada com mais rigor"
A desconsideração da personalidade jurídica é instituto previsto no Código de Defesa do Consumidor (art. 28) e no Código Civil (art. 50), que autoriza imputar ao patrimônio particular dos sócios, obrigações assumidas pela sociedade, quando – e se – a pessoa jurídica houver sido utilizada abusivamente (desvio de finalidade, confusão patrimonial, liquidação irregular etc). O instituto contempla, também, a chamada desconsideração inversa, em que se imputa ao patrimônio da sociedade o cumprimento de obrigações pessoais do sócio.
O CPC/2015 regula a matéria em nível processual (art. 133, § 1º) como tema incidente, no capítulo destinado à intervenção de terceiros.
Não se trata de incidente processado em autos próprios (apartados), pois o NCPC abdicou da técnica, comum no CPC/1973, suprimindo-a em hipóteses clássicas como a do incidente de falsidade documental (art. 430), por exemplo. Em princípio, portanto, o debate dar-se-á no ventre do processo em que debatida a questão principal, mas como o objetivo é a simplificação, nada obsta que, no caso concreto, possa o juiz deliberar pela autuação apartada, se assim recomendar a organização do incidente ou se houver justificativa para que o processo prossiga no trato das questões principais, sobretudo se existirem outros pedidos, eventualmente cumulados, que não se relacionem com o tema incidental.
A suspensão do processo prevista no art. 134, § 3º, faz sentido para a generalidade dos casos, que ocorrem ao tempo da penhora na execução/cumprimento de sentença para cobrança de valor pecuniário, quando se revela a falta de patrimônio penhorável. A decisão do tema incidental se torna, aí, condição para o ato seguinte do processo - a penhora -, com o que não há como prosseguir a execução, que fatalmente ficará suspensa.
Entretanto, a desconsideração não se limita àquelas hipóteses. Por isso, e porque a lógica do NCPC prestigia a celeridade com menos destaque à formalidade, parece que a melhor exegese do §3º do art. 134 deva ser a de que o processo em que tem curso a questão principal só se suspende em vista do incidente se o tema incidental constituir condição para o prosseguimento. Fora disso, não. E tudo remete à possibilidade de autuação apartada, a fim de se garantir celeridade e melhor organização procedimental.
Ainda sobre suspensão, a parte final do § 3º do art. 134, que remete ao § 2º, não significa que o mero posicionamento topográfico do incidente (na inicial) seja o elemento-chave para definir se o processo deve ser suspenso ou não. Até porque o § 2º sequer trata de tema propriamente incidente, mas de hipóteses menos frequentes em que a desconsideração compõe a lide principal, ainda que acessoriamente. Inclusive ações reais ou reipersecutórias, nas quais, ao tempo da propositura, tendo-se já claro qual é o bem (ou conjunto de bens) apto à satisfação da parte autora, esse patrimônio se encontra desviado (ao sócio ou à sociedade). Nessas hipóteses, a desconsideração da personalidade jurídica é proposta na inicial e não suspende o andamento do processo, porque está ligada ao objeto principal.
 O legislador optou pela dispensa de ação própria para o fim da desconsideração.
 Assim, o NCPC, ao reservar o espaço do incidente para o trato da questão, reafirmou o caráter sumário do debate a ser estabelecido. Embora não haja restrições na Lei acerca de tipos de prova ou prazos, o fato é que não se pode imaginar a amplitude do debate peculiar ao de uma ação própria travestida em incidente, sobretudo quando proposto no curso do processo de conhecimento.
Seja como for, a melhor solução é preservar a sumariedade, limitando a atividade probatória, tal como acontece, por exemplo, na atual exceção de pré-executividade, e, se necessário, aplicando à decisão final o disposto no art. 503, § 2º, com a reserva às partes do debate plenário em ação própria posterior, inclusive de natureza indenizatória, se for o caso. 
 Registre-se posicionamento doutrinário diverso, entendendo, sem ressalvas, não serem viáveis restrições probatórias e empregando à decisão caráter “equiparável a uma sentença tendo, pois, o condão de transitar em julgado”, que resolve o mérito da questão incidental (nesse sentido, Wambier, Tereza Arruda Alvim [et al.], Primeiros Comentários ao Novo Código de Processo Civil, RT, São Paulo, 1ª edição, p. 252 e 255).
“Quando a desconsideração de personalidade advier de ato que configure fraude à execução, ainda assim a via para a pronúncia da fraude e ineficácia do desvio patrimonial depende da propositura do incidente (art. 792, § 3º) que, não observado, suscitará embargos de terceiro (art. 674, § 2º, III). A pessoa jurídica ou o sócio são citados com todas as formalidades e consequências próprias do ato citatório (art. 238 a 259), procedendo-se ao registro na distribuição (art. 134, § 1º) e, dependendo do objeto do debate incidental, o registro, por extensão, da existência do incidente na forma do art. 828 (desconsideração em execução pecuniária) ou do art. 167, I, n. 21, da Lei 6.216/75 (desconsideração em demandas de natureza real ou reipersecutória). Tais registros, quando cabíveis, têm por objetivo garantir o requerente contra a alienação de patrimônio pelo terceiro, conforme art. 137 do CPC.
 O provimento do incidente converterá o sócio (ou a pessoa jurídica), em parte no processo, na condição de litisconsorte, inclusive no processo de execução.
Ementa:
Agravo de instrumento. Decisão de acolhimento de incidente de desconsideração de personalidade jurídica, para inclusão de pessoa jurídica integrante do mesmo grupo econômico das rés originais e dos respectivos sócios no polo passivo de cumprimento de sentença. Inconformismo. Descabimento. Notória a caracterização de grupo econômico entre a pessoa jurídica incluída no polo passivo e as rés originais, em razão das coincidências referentes ao quadro societário (com sócios integrantes da mesma família), endereço de sede e objetos sociais relativos a atividades complementares no ramo do mercado imobiliário. Demonstrado grau de atuação conjunta no empreendimento imobiliário objeto da lide. Inclusão dos sócios pessoas físicas que se justifica pela adoção da teoria menor da desconsideração de personalidade jurídica. Relação de direito material entre as partes de caráter consumerista. Decisão mantida. Recurso não provido, com determinação.
(TJ-SP - AI: 20855745920208260000 SP 2085574-59.2020.8.26.0000, Relator: Maria de Lourdes Lopez Gil, Data de Julgamento: 28/08/2020, 7ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 28/08/2020) (grifo nosso).
Ementa: 
AGRAVO INTERNO. REDIRECIONAMENTO DA EXECUÇÃO. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. VIA INVERSA. A desconsideração da personalidade jurídica, (disregard of legal entity* é medida aplicável pela Teoria Maior em caso de abuso da personalidade jurídica caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial (art. 50 do CC), ou pela Teoria Menor, diante do inadimplemento e falta de bens para responder por obrigações perante o consumidor (art. 28 do CDC). - A desconsideração da personalidade na via inversa justifica-se quando inequívoco que ocorreu desvio de patrimônio da pessoa física para a jurídica, com finalidade de fraudar credores, como reconhecido em outros julgamentos. - Circunstância dos autos em que a decisão aplicou a medida de direito adequada ao caso concreto. Agravo interno desprovido.(Agravo, Nº 70066045980, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Umberto Guaspari Sudbrack, Julgado em: 27-08-2015) (grifo nosso).
 Ementa: 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE CIVIL. PRELIMINAR DE COISA JULGADA E PRECLUSÃO REJEITADA. PLEITO DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. PRESENÇA DOS REQUISITOS. CABIMENTO. - PRELIMINAR DAS CONTRARRAZÕES - Conforme sustentado, a matéria já foi examinada neste grau de jurisdição quando do julgamento do Agravo de Instrumento nº 70027125509 pela Egrégia Décima Câmara Cível, bem como em mais duas oportunidades nos presentes autos. Todavia, não vislumbro a existência de coisa julgada, ou mesmo de preclusão (art. 183 do CPC), pois o pedido faz referência expressa a dois novos elementos. Requerimento acompanhado de documentos que não foram objeto dos pedidos anteriores. Preliminar rejeitada. - MÉRITO - A desconsideração da personalidade da pessoa jurídica é medida excepcional de alcance do patrimônio dos sócios ou administradores a partir de dívidas contraídas pela pessoa jurídica por eles administradas, aplicando-se quando constatada a fraude ou abuso da personalidade jurídica. No caso concreto, a exequente busca a satisfação de seu crédito junto à empresa executada, sem lograr êxito. Só o fato de a empresa estar em atividade não é o suficiente para afastar o pleito de desconsideração da personalidade jurídica. Além da prova de que a executada utiliza-se do expediente do abuso de direito, verifica-se a prática de conduta com infração à lei e o cometimento de ato ilícito, o que, na forma do previsto no artigo 28, caput, do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90) já seria suficiente para a desconsideração da personalidade jurídica da executada. Ademais, a receita obtida no ano de 2009, comparada com a inexistência de ativos financeiros em nome da empresa, só demonstra a confusão patrimonial, outro elemento autorizador da desconsideração da personalidade jurídica (art. 50 do Cód. Civil). Agravo provido para incluir os sócios no polo ativo da execução. PRELIMINAR REJEITADA. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO.(Agravo de Instrumento, Nº 70044615003, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Leonel Pires Ohlweiler, Julgado em: 19-10-2011)(grifo nosso).
REFERÊNCIAS:
· https://www.migalhas.com.br/depeso/297344/a-fraude-a-execucao-no-ambito-da-desconsideracao-da-personalidade-juridica
· (Fredie Didier, Curso de Processo Civil, 21ª edição, Revista Ampliada)
· Wambier, Tereza Arruda Alvim [et al.], Primeiros Comentários ao Novo Código de Processo Civil, RT,São Paulo, 1ª edição, p. 252 e 255).
· https://www.tjrs.jus.br/novo/buscassolr/?aba=jurisprudencia&q=&conteudo_busca=ementa_completa;
· https://www.migalhas.com.br/depeso/297344/a-fraude-a-execucao-no-ambito desconsideracao-da-personalidade-juridica;
· Direito Processual Civil - Brasil. 2. Código de Processo Civil - Brasil - Anotado
· Prática Forense.
· Ordem dos Advogados do Brasil. Seção do Rio Grande do Sul.
· Nelson Rosenvald e Cristiano Farias como sendo o “véu societário”.( ob. cit., p. 452).
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