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Rhyan Coelho TUTORIA 02 – ANEMIA HEREDITÁRIA? OBJETIVO: 01 – Discorrer sobre as anemias hemolíticas (esferocitose, deficiência de G6PD, piruvato quinase) 02 – Explicar Anemia falciforme 03 – Entender aconselhamento genético (traço falciforme) OBJETIVO 01 ➔ Condições fisiológicas A hemácia é liberada em circulação com sua forma característica de disco bicôncavo, e sobrevive, em média, por 120 dias. Durante esse período, percorre uma distância de aproximadamente 200 km e enfrenta a turbulência da bomba cardíaca mais de 500 mil vezes. Portanto, é previsível que a hemácia seja uma célula metabolicamente ativa e necessite de suprimento adequado de glicose para produção de energia. Com o envelhecimento, a maioria das enzimas da via glicolítica torna-se menos efetiva e há dificuldade de manutenção da concentração intracelular de ATP. Assim, a membrana perde lipídeos progressivamente, a relação superfície-volume diminui, e a célula se torna semelhante a uma esfera. Além disso, a concentração de Hb intracelular aumenta em consequência da redução do volume, proteínas de membrana tornam-se desnaturadas pela oxidação de grupos SH, e a concentração de íons Ca+2 na membrana se eleva. As moléculas de hemoglobina oxidadas e desnaturadas se ligam à membrana celular em quantidades crescentes, combinando-se com as proteínas do citoesqueleto eritrocitário formando complexos. Esse conjunto de fenômenos resulta em uma célula menos deformável, o que determina em última análise, sua destruição pelos macrófagos do sistema fagocítico mononuclear. • Fagocitose pelos macrófagos (hemólise extravascular) – em condições normais, a destruição das hemácias ocorre preferencialmente no interior dos macrófagos, e somente pequena quantidade de hemólise ocorre no compartimento intravascular. A hemólise no sistema mononuclear acontece primariamente no baço, no fígado e na medula óssea. Devido a sua anatomia vascular peculiar, o baço é extremamente sensível para detectar defeitos eritrocitários mínimos. O fígado não é tão sensível quanto o baço para detectar defeitos mínimos das hemácias. No entanto, sendo a lesão suficientemente importante para ser detectada pelos macrófagos hepáticos, ele é mais eficiente que o baço, pois seu fluxo sanguíneo é muito maior. Assim, na esferocitose hereditária, as hemácias são destruídas no baço; o fígado não é capaz de detectar o defeito. Como consequência, a esplenectomia é terapêutica eficaz nessa moléstia. Já as hemácias na anemia falciforme são suficientemente deformadas para serem detectadas pelo fígado, e de nada adianta a remoção do baço nessa doença. • Hemólise intravascular – Uma lesão grave das hemácias pode levar à sua destruição no espaço intravascular, como acontece nos traumas ou na hemólise por ação do complemento. Nessas circunstâncias, a hemoglobina é liberada na circulação (hemoglobinemia) e pode, eventualmente, ser perdida pela urina (hemoglobinúria). Quando a quantidade de hemoglobina liberada no plasma é pequena, toda ela se liga à haptoglobina, glicoproteína plasmática sintetizada pelo fígado; e o complexo hemoglobina-haptoglobina é levado ao fígado, onde é catabolizado. Esse fenômeno reduz drasticamente a concentração de haptoglobina plasmática. Quando a quantidade de hemoglobina liberada em circulação Rhyan Coelho excede a capacidade de ligação da haptoglobina, a hemoglobina livre é filtrada nos rins. A maior parte da hemoglobina filtrada nos glomérulos é reabsorvida nos túbulos; se a capacidade de reabsorção dos túbulos é excedida, aparece hemoglobina na urina (hemoglobinúria). A hemoglobina reabsorvida é metabolizada na célula epitelial tubular, e o ferro fica acumulado sob a forma de ferritina e hemossiderina. Quando a hemólise intravascular ocorre cronicamente, as células epiteliais carregadas de hemossiderina podem ser demonstradas na urina pela reação do azul da prússia (hemossiderinúria). ➔ Anemias hemolíticas São doenças em que a sobrevida das hemácias em circulação está acentuadamente reduzida e a medula óssea não é capaz de compensação mesmo aumentando sua produção. Essas doenças podem ser facilmente identificadas porque, além de anemia, esses pacientes exibem sinais clínicos e laboratoriais de aumento do catabolismo de hemoglobina e aumento da produção de hemácias. Nas anemias hemolíticas, além dos sinais e sintomas gerais de anemia, costuma haver icterícia e esplenomegalia. A icterícia não se acompanha de colúria e acolia; deve-se a aumento da bilirrubina indireta, por exagero do catabolismo hemoglobínico, superando a capacidade hepática de conjugação. Como circula ligada à albumina, a bilirrubina não-conjugada não é filtrada nos glomérulos renais; o turnover pigmentar exagerado favorece a formação de cálculos biliares. A esplenomegalia é persistente nas anemias hemolíticas crônicas e passageira quando houver apenas surtos de hemólise; pode desaparecer se a doença causar atrofia do baço. Na hemólise intravascular, há hemoglobinúria. Há outros exames também utilizados para caracterizar hemólise: dosagem da haptoglobina, que diminui, e da desidrogenase láctica, que se eleva muito. A maior destruição de hemoglobina resulta em um rápido catabolismo do heme, com produção acelerada dos dois principais catabólicos do heme: pigmentos biliares e monóxido de carbono. Rhyan Coelho Anemias hemolíticas decorrem de defeitos intrínsecos aos eritrócitos – anemias hemolíticas intracorpusculares – ou a fatores hemolíticos extrínsecos – anemias hemolíticas extracorpusculares. As anemias hemolíticas intracorpusculares, quase todas genéticas, são subclassificadas pela natureza do defeito causal. • Defeitos na membrana do eritrócito Defeitos genéticos, qualitativos ou quantitativos, na síntese das principais proteínas, levam à instabilidade estrutural, à perda de vesículas lipoproteicas, à diminuição da superfície da membrana em relação ao volume do glóbulo e à deformação esferoide ou eliptoide. o Esferocitose (hereditária – EsH) – ocorrem anormalidades em proteínas do citoesqueleto eritrocitário (com perda da área de superfície de membrana em relação ao volume intracelular), que resultam em perda de lipídios, colesterol e fragmentos de membrana, com a hemácia perdendo sua forma bicôncava e transformando-se gradualmente em um esferócito. Esses esferócitos podem sofre hemólise intraesplênica e, devido a sua reduzida deformabilidade, podem ser fagocitados pelos macrófagos. Na esferocitose, há todos os sinais clínicos e laboratoriais de hemólise, mas a severidade é variável, desde hemólise compensada, sem anemia, até anemia severa, com Hgb < 8 g/dL. O hemograma mostra policromatocitose*/reticulocitose constante. Nos casos com anemia severa, os esferócitos são numerosos e fáceis de nota à microscopia, pela falta do centro claro por perda da biconcavidade e pelo diâmetro menor; o VCM, entretanto, não costuma estar diminuído, sendo imprópria a denominação microesferócitos. Nos casos leves, os esferócitos são pouco numerosos, geralmente passam despercebidos na rotina do hemograma, e o diagnóstico não é feito. Deve considerar a hipótese de esferocitose em todos os pacientes com anemia de longa data, com icterícia leve (bilirrubina indireta entre 1 a 4 mg/dL) e baço palpável. Às vezes, à hemólise perinatal, com anemia e icterícia, a ser distinguida da doença hemolítica do recém-nascido; na incompatibilidade ABO, os esferócitos também são numerosos. Dada a usual herança dominante, o exame dos pais, muitas vezes, é esclarecedor. A anemia de esferocitose cura-se com a esplenectomia, embora persistam os esferócitos. Deve ser feita entre os 5-7 anos de idade. *Policromatocitose – presença de número chamativo de eritrócitos recém-saídos da medula, denota hiper- regeneração eritroide, isto é, há ou houve hipoxemia,esta provocou aumento da síntese renal de eritropoetina, e a medula está respondendo a seu estímulo fisiológico com aumento da eritropoiese. Rhyan Coelho A xerocitose hereditária ou estomatocitose desidratada é a mais frequente das síndromes e a que mais se confunde com EsH. Caracteriza-se por aumento do efluxo de potássio com perda de cátions e água. As hemácias tornam-se desidratadas e são relativamente rígidas, aumentando o risco de sequestro esplênico e hemólise. A hemólise crônica é geralmente compensada com muita reticulocitose. Diferente das EsH, as hemácias são mais resistentes à lise osmótica, há redução do conteúdo de potássio intracelular, e a esplenectomia não traz benefícios aos pacientes com xerocitose hereditária, pelo contrário, é contraindicada pelo alto risco de trombose. Rhyan Coelho o Eliptocitose (ou ovalocitose) – eliptócito se refere às células cujo maior eixo é pelo menos duas vezes o menor. A sobrevida dos eliptócitos é próxima à normal; a hemólise mínima é facilmente compensada. No RN, a eliptocitose não é notada; os eliptócitos surge após o 4° mês. Paradoxalmente, as combinações genéticas que incluem defeitos da 𝛼-espectrina, às vezes, causam severa anemia hemolítica, com presença no hemograma de extrema pecilocitose, com eliptócitos, esferócitos, eritrócitos fragmentados e numerosos macrócitos policromáticos (quadro piropecilocitose). A tendência é a melhora com alguns meses, com lenta transformação para um quadro usual de eliptocitose. o Hemoglobinúria paroxística noturna (HPN) – é uma doença rara dependente de um defeito clonal adquirido das células primitivas da hematopoese. O gene mutado atribuído é PIG-A (faz a síntese das moléculas de fosfatidil-inositol-glican). Esse glicolipídio serve de âncora para várias proteínas da membrana do eritrócito, necessárias à regulação das moléculas do complemento (CD59, CD55, etc). A falta ocasiona uma suscetibilidade à lise mediada pelo complemento, principalmente em meio acidulado. A mutação pode-se estender-se também à granulocitpoese e à trombocitopoese, daí haver uma curiosa combinação de anemia hemolítica crônica com insuficiente regeneração, neutrocitopenia e trombocitopenia. A hemólise é intravascular, acentua-se nas horas de sono, e o paciente tem hemoglobinúria ao despertar. Outra tendência que dificulta o diagnóstico dessa rara doença é a dos laboratoristas não se darem conta, no exame de urina, de que a positividade do teste para hemoglobina não se acompanha de eritrócitos no sedimento; dão a hemoglobinúria como hematúria. A hemólise, na HPN, não se acompanha de uma hiper-regeneração no nível usual das demais anemias hemolíticas. A filtração renal continuada de hemoglobina causa depósito de hemossiderina nas células tubulares e hemossiderinúria; pode ser notada pela coloração Perls do sedimento. A comprovação do diagnóstico se faz pelo teste de Ham: pesquisa de hemólise dos eritrócitos do paciente em soro fresco (para conter complemento) compatível, acidificado com HCl. O diagnóstico, com quantificação da população acometida pode ser feito por citometria em fluxo, com anticorpos monoclonais anti-CD59 ou anti-CD55. A HPN não tem tratamento curativo, mas a evolução costuma ser lenta e geralmente benigna. O tratamento com anticorpo anticomplemento C5, eculizumab, reduz significativamente a hemólise. Terapêutica das doenças da membrana eritrocitária: Ácido fólico (1 mg/d) deve ser administrado a todos os pacientes com doenças da membrana eritrocitária e hemólise crônica, a fim de prevenir anemia megaloblástica, malformação de tubo neural em fetos de gestantes com carência deste elemento e, possivelmente, trombose decorrente do acúmulo de homocisteína. Entretanto, é possível que a adição de ácido fólico em farinhas, como preconizado no Brasil, possa suprir essa necessidade. Esplenectomia total, por laparotomia ou laparoscopia, cura quase todos os pacientes com doenças de membrana, eliminando a anemia e reduzindo a contagem de reticulócitos para valores próximos do normal, mas está contraindicada nas estomatocitoses hereditárias.1,2 Pacientes com formas graves de doenças de membrana podem não obter remissão completa após a esplenectomia, mas certamente se beneficiarão do procedimento. Pelo risco de septicemia pós-esplenectomia, deve-se adiar o procedimento até que o paciente tenha pelo menos cinco anos de idade. Não há evidências que justifiquem, nos casos graves, adiar a esplenectomia além deste período, lembrando que o risco de colelitíase aumenta dramaticamente após os dez anos de idade. Vacinas antipneumocócica polivalente e anti-H. influenzae devem ser administradas pelo menos oito semanas antes da esplenectomia. Em alguns países recomenda- se também, em crianças, a administração de vacina antimeningocócica. Após a esplenectomia deve-se instituir antibioticoterapia profilática com penicilina (penicilina vis oral, duas vezes ao dia, ou penicilina benzatina IM a cada três semanas), por pelo menos dois anos. Rhyan Coelho • Hemoglobinopatias São defeitos genéticos em que há trocas de aminoácidos na sequência das cadeias globínicas da hemoglobina. As anormalidades da hemoglobina podem ser classificadas genericamente em estruturais e no ritmo de síntese das globinas. A presença da hemoglobina anormal no interior das hemácias pode alterar sua viscosidade ou sua deformabilidade, sendo o exemplo mais conhecido a hemoglobina S (Síndromes Falcêmicas). As anormalidades no ritmo de síntese são representadas pelas síndromes talassêmicas 𝜷 e 𝜶. ➔ Talassemias Constituem um grupo heterogêneo de doenças genéticas que resultam na diminuição da velocidade de síntese cadeias Alfa e Beta. o Síndromes 𝛼-talassêmicas – são causadas em geral por deleção de genes. Havendo em geral quatro cópias do gene de 𝛼-globina, a gravidade clínica pode ser conforme o número de genes que falta ou estão inativos. A perda de todos os quatro genes suprime por completo a síntese de cadeia 𝛼, sendo essencial como parte tanto da hemoglobina fetal como da hemoglobina do adulto, esse defeito é incompatível com a vida e leva à morte in útero (hidropsia fetal). Três deleções do gene 𝛼 provocam anemia microcítica hipocrômica moderadamente severa (hemoglobina 7-11 g/dL) com esplenomegalia, que é conhecida como doença da hemoglobina H (HbH), pois a hemoglobina H (B4) pode ser detectada nos eritrócitos desses pacientes por eletroforese ou em preparações de reticulócitos. o Síndromes 𝛽-talassêmicas – Ou não há síntese de cadeia 𝛽 ou há síntese apenas de quantidade pequena e insuficiente. O excesso de cadeias 𝛼 precipita nos eritroblastos e nos eritrócitos maduros, causando séria eritropoiese ineficaz e intensa hemólise, típicas da doença. Quanto maior o excesso de cadeias 𝛼, mais grave a anemia. A produção de cadeias 𝛾 ajuda a “limpar” o excesso de cadeias 𝛼 e atenua a doença 1. A anemia grave que se nota 3 a 6 meses após o nascimento, quando deve ocorrer a mudança de produção de cadeia 𝛾 para 𝛽. 2. Aumento do fígado e do baço ocorre como resultado da destruição excessiva de eritrócitos, hematopoese extramedular e, mais tarde, sobrecarga de ferro. O baço grande aumenta as necessidades hemoterápicas, porque a destruição e a sequestração de eritrócitos são maiores, além e causar expansão do volume plasmático. Rhyan Coelho 3. A expansão dos ossos causada pela intensa hiperplasia eritroide da medula óssea leva a uma “fáceis talassêmicas” e ao adelgaçamento do córtex e muitos ossos, com tendência a fraturas e à formação de bossas no crânio, como aspecto de “fios de escova” à radiografia. 4. A talassemia maior é a mais frequente doença a causar hemossiderose transfusional; há necessidade de transfusões por toda a vida, desde o primeiro ano, salvo se houver cura por transplante de células-tronco. 5. Há maior isco de infecções por várias razões. Na primeirainfância, sem reposição transfusional adequada, a criança anêmica está sujeita a infecções bacterianas. A esplenectomia causa suscetibilidade ao pneumococo, ao Haemophilus e ao meningococo se não houver profilaxia com penicilina. No diagnóstico laboratorial há anemia hipocrômica microcítica extrema, com aumento de contagem de reticulócitos e com eritroblastos, células em alvo e pontilhado basófilo na distensão de sangue. No tratamento são necessárias transfusões regulares de glóbulos para manter a hemoglobina sempre acima g/dL. Em geral, são necessárias 2 a 3 unidades a cada 4 a 6 semanas. Sangue filtrado para remoção de leucócitos causa menos reações adversas. Ácido fólico (p.ex., 5 mg/dia) é administrado regularmente se a dieta for pobre. Esplenectomia pode ser necessária para diminuir as necessidades de sangue. Deve ser adiada até que o paciente tenha mais que seis anos de idade por causa do alto risco de infecções graves após a esplenectomia. ➔ Síndromes falcêmicas Integram um grupo de condições em que há herança do gene de 𝛽-globina S (de sickle = foicinha). Entre as doenças graves que ocorrem quando há herança homozigótica ou duplamente heterozigótica para essas anomalias hemoglobínicas, a anemia de células falciforme (homozigose Hb SS) é a mais comum; as doenças duplamente heterozigóticas – hemoglobinopatia SC e Hb S/ 𝛽-talassemia -, também causam anemia com afoiçamento dos eritrócitos. Os eritrócitos sofrem deformação falciforme e podem ocluir diferentes regiões da microcirculação ou de grandes vasos, causando infarto de vários órgãos. • Deficiências enzimáticas do eritrócito Os eritrócitos obtêm a energia necessária para manutenção do gradiente catiônico em relação ao plasma e para manter o glutatião em estado reduzido (para a defesa da hemoglobina e das enzimas contra agentes oxidantes) por meio da glicólise anaeróbica. A glicose é o substrato primário para o requerimento energético dos eritrócitos de todas as espécies, com exceção dos suínos. Substratos como ribose, frutose, manose, galactose, dihidroxiacetona, gliceraldeído, adenosina, e inosina podem ser metabolizadas até certo ponto, dependendo da espécie. Uma vez que a glicose entra na célula, ela é fosforilada a glicose 6-fosfato (G6P) pela enzima hexoquinase (HK). A G6P é então metabolizada pela via de Embden-Meyerhof (EMP - glicólise) ou pela via das pentoses (PPP) As deficiências enzimáticas genéticas na via Embden-Meyerhoff causam esgotamento energético prematuro e hemólise; as deficiências na via hexose-fosfato, suscetibilidade a hemólise por agentes oxidantes. A carência de enzimas necessárias ao metabolismo de nucleotídeos também pode causar anemia hemolítica. Rhyan Coelho ➔ Deficiência de glicose-6-fsfato desidrogenase (G6PD) A deficiência de G6PD é conhecida há séculos pela sua ligação à ingestão de favas (Vicia faba), e hoje é o defeito enzimático humano mais comum, afetando mais de 400 milhões de pessoas no mundo. O gene que codifica a sequência de aminoácidos da enzima localiza-se no cromossomo X, de modo que só há defeito clinicamente relevante nos homens (hemizigotos). As mulheres (portadoras heterozigóticas) são geralmente indenes, salvo pequena % negativamente afetada pela lyonização, e as raras homozigotas, filhas de mãe portadora e pai afetado. A G6PD reduz a NADP em NADHP e é a única fonte de NADPH nos eritrócitos, e como o NADPH é necessário para produção de glutationa reduzida, sua deficiência torna o eritrócito suscetível a estresse oxidante, com lesão da membrana do eritrócito. A deficiência de G6PD, em geral, é assintomática. Embora a G6PD esteja presente em todas as células, as principais síndromes são: 1. Anemia hemolítica aguda em resposta a estresse oxidante – por exemplo, fármacos, ingestão de favas ou infecções. A anemia aguda é causada por hemólise intravascular rapidamente progressiva, com hemoglobinúria. A anemia é autolimitada, pois eritrócitos novos são formados com níveis enzimáticos quase normais 2. Icterícia neonatal 3. Raramente, anemia hemolítica congênita não esferocítica. As crises hemolíticas por deficiência de G6PD são fáceis de diagnosticar: anemia súbita, grave, sem sinais de perda sanguínea, geralmente com hemoglobinúria, em paciente das etnias conhecidas, com história de ingestão ou uso do agente oxidante 24 a 48 horas antes. A icterícia surge em 24 horas. O hemograma mostra eritrócitos irregularmente contraídos e fragmentados e eritrócitos com a hemoglobina concentrada numa calota da célula, e o estroma vazio no restante (hemiestromas). A reticulocitose começa entre o 3° e 4° dias. Durante a crise, a coloração própria pode mostrar corpos de Heiz. O diagnóstico definitivo da deficiência de G6PD é baseado numa estimativa de atividade enzimática pela análise espectrofotométrica quantitativa da razão de produção de NADPH de NADP. Dúvida diagnóstica pode surgir quando se mede a atividade enzimática durante uma crise aguda de hemólise ou na presença de altos níveis de reticulóticos, pois o nível de atividade dos eritrócitos novos é mais elevado que em células mais maduras, levando a resultados falso-negativos para deficiência de G6PD. Rhyan Coelho As infecções representam provavelmente a causa mais típica de hemólise em pessoas com deficiência de G6PD. Os vírus da hepatite A e B, citomegalovírus, pneumonia e febre tifoide são causas notáveis. Vários fatores podem afetar a gravidade da hemólise, incluindo drogas administradas, função hepática e idade. Em hemólise grave, transfusões imediatas podem ser necessárias. Falência renal aguda é uma complicação em potencial decorrente de hepatite viral concomitante à deficiência de G6PD; fatores patogênicos incluem necrose tubular aguda devido à isquemia renal e à obstrução tubular causadas por depósitos de hemoglobina. Alguns pacientes com hemólise requerem hemodiálise. O favismo pode se desenvolver após a ingestão de favas (semelhante ao feijão) secas ou congeladas, mas tem maior probabilidade de ocorre após o consumo de favas secas. Divicina, convicine e isouramil, que parecem ser os constituintes tóxicos das favas, aumentam a atividade da via de hexose-monofosfato, promovendo hemólise em pacientes com deficiência de G6PD. Bebês em alimento materno cujas mães consomem favas também correm risco de hemólise. Apresenta-se como anemia hemolítica aguda, geralmente em torno de 24 horas após o consumo de favas. A hemoglobinúria é mais grave do que aquela causada por crises hemolíticas desencadeadas por drogas ou por infecção, apesar de as concentrações de bilirrubina serem mais baixas. A anemia é geralmente aguda e grave, levando à falência renal aguda em alguns pacientes, devido à isquemia ou à precipitação de depósitos de hemoglobina e pode requerer transfusão de hemácias. ➔ Deficiência de piruvatoquinase (PK) É infrequente, mas tem sido vista no Brasil. Há mais de 130 variantes genéticas com atividade defeituosa. É autossômica recessiva, e os pacientes acometidos são homozigotos ou duplamente heterozigotos. O eritrócito fica rígido devido à diminuição da formação de ATP. A gravidade da anemia varia muito (hemoglobina 4 a 10 g/dL) e provoca sintomas relativamente leves em decorrência de desvio para a direta da curva de dissociação causado por aumento do 2,3-difosfoglicerato (2,3-DPG) intracelular. Icterícia clínica é comum, e cálculos vesiculares são frequentes. Pode haver bossa frontal. A distensão de sangue mostra pecilocitose e células distorcidas e espiculadas (prickle cells), particularmente numerosas após esplenectomia. A dosagem direta da enzima é necessária para o diagnóstico. A esplenectomia pode aliviar a anemia, mas não curá-la; é indicada em pacientes que necessita de transfusões frequentes. OBJETIVO 02 A alteração molecular primária na anemia falciforme é representada pela substituição de uma única base no códon 6 do gene da globinaB, uma adenina (A) é substituída por uma timina (T). Essa mutação tem como consequência final a polimerização das moléculas dessa hemoglobina anormal (HbS) quando desoxigenadas. A polimerização da hemoglobina S é o evento fundamental na patogenia da anemia falciforme, resultando na alteração da forma do eritrócito e na acentuada redução de sua deformabilidade. A hemoglobina fetal (HbF) inibe a polimerização, fenômeno responsável pela redução da sintomatologia clínica nos pacientes com elevados níveis de Hb fetal. Todas as hemácias contendo predominantemente hemoglobina S podem adquirir a forma clássica após desoxigenação, em decorrência da polimerização intracelular da desoxi-Hb S, processo normalmente reversível após a reoxigenação. No entanto, a repetição frequente desse fenômeno provoca lesão de membrana em algumas células, fazendo com que a rigidez e a configuração em forma de foice persistam mesmo após a reoxigenação. Assim, esses eritrócitos, denominados geneticamente “células irreversivelmente falcizadas” ou células densas, retém permanentemente a forma anormal, mesmo na ausência de polimerização intracelular de hemoglobina. Em decorrência de sua acentuada rigidez, as células irreversivelmente falcizadas têm vida-média reduzida e contribuem significativamente para a anemia hemolítica dos pacientes. No entanto, o quadro clínico da anemia falciforme, contrastando com as demais formas de anemia hemolítica, não dependem Rhyan Coelho substancialmente dos sintomas causados pela anemia propriamente, mas, sim da ocorrência de lesões orgânicas causadas pela inflamação e obstrução vascular e das chamadas “crises de falcização”. Nos períodos entre as crises, a “fase estável”, os pacientes evoluem praticamente assintomáticos, a despeito da anemia persistente, com níveis de hemoglobina variáveis, mas, em geral, ao redor de 8g/dL. O fenômeno de vaso-oclusão geralmente ocorre na microcirculação. Mas, grandes artérias, principalmente nos pulmões e cérebro, também podem ser afetadas. Atualmente, acredita-se que o fenômeno vaso- oclusivo compreende um processo com várias etapas que envolve interações de hemácias, leucócitos ativados, células endoteliais, plaquetas e proteínas do plasma. A liberação intravascular de hemoglobina pelas hemácias fragilizadas, além da vaso-oclusão recorrente e dos processos de isquemia e reperfusão, leva a dano e ativação das células endoteliais da parede do vaso. Como consequência há indução de uma resposta inflamatória vascular e adesão de células brancas e vermelhas à parede dos vasos sanguíneos. Tal fato, associado a uma redução na biodisponibilidade de Óxido nítrico (NO) no interior do vaso e ao estresse oxidativo, pode ocasionar, em alguns casos, uma redução do fluxo sanguíneo e, finalmente vaso-oclusão. Acredita-se que o processo vaso-oclusivo é desencadeado pela adesão de leucócitos, em especial dos neutrófilos, já que são células grandes e relativamente rígida, à parede da microvasculatura. Adicionalmente, os leucócitos aderidos podem intermediar a adesão secundária de hemácias a parede vascular, e a combinação desses episódios inicia o processo vaso-oclusivo, uma vez que ocorre a obstrução física dos pequenos vasos da microcirculação. Ademais, há indícios de que um número elevado de granulócitos circulantes está associado á maior incidência de complicações na anemia falciforme. As plaquetas, também encontradas em estado ativado na AF, podem aderir ao endotélio vascular, exacerbando a inflamação local pela liberação de mediadores inflamatórios potentes. Assim sendo, as plaquetas também apresentam papel importante no mecanismo de vaso-oclusão. A biodisponibilidade do NO está reduzida na AF, principalmente devido ao seu consumo pela hemoglobina livre, liberada na circulação após a hemólise das hemácias. O resultado principal da redução da biodisponibilidade do NO é a inibição da vasodilatação dependente de NO na vasculatura, contribuindo assim com a vasocontrição e, portanto, favorecendo potencialmente a vaso-oclusão. Indivíduos com AF apresentam níveis elevados de marcadores de ativação de trombina, plaquetas e células endoteliais, tais como o dímero-D, trombina-antitrombina (TAT), ligante de CD40 solúvel (CD40L), Fator tecidual (FT), Fator ativador de plaquetas (FAP), fator de Von Willebrand (FvW), entre outras moléculas. Na AF, múltiplos mecanismos são responsáveis por aumentar a produção de ROS na vasculatura, como p.ex., lesões por isquemia-reperfusão que ocorrem nos vasos sanguíneos devido à interrupção e subsequente reestabelecimento do fluxo sanguíneo. A presença de ROS no vaso sanguíneo e a baixa concentração de oxigênio apresentam um papel importante na ativação das células endoteliais, em que a produção de ROS é amplificada pela presença da enzima xantina oxidase ativada e o desacoplamento (ou inativação) da enzima sintase de NO, a qual pode produzir ânions superóxidos. A atividade aumentada da NADPH oxidase (devido à leucocitose), a formação de Dimetilarginina assimétrica (DMAA) e a auto-oxidação da própria hemoglobina S na presença de oxigênio também contribuem com a produção de ROS. A homozigose para o gene Bs, em geral resultante da herança de um gene anormal do pai e um da mãe, corresponde à forma mais grave das síndromes falciformes. Há ausência de HbA, predominando a produção de HbS acompanhada de quantidades normais de HbA2 e aumento variável de HbF. As heterozigoses AS não apresentam nenhuma anormalidade hematológica significativa; o nível de hemoglobina é normal, assim como os números de leucócitos e plaquetas. As complicações clínicas relacionadas à heterozigose da HbS são extremamente raras porque a concentração de HbS nas hemácias desses indivíduos é inferior a 50%, tornando-as resistentes à falcização nas condições fisiológicas normais. Por outro lado, o ambiente metabólico dos rins é bastante propício à falcização, onde ocorrem as mais frequentes complicações no indivíduo AS. Hematúria é a anormalidade mais frequente, seguida da redução Rhyan Coelho da capacidade de concentrar urina (hipostenúria) e aumento da frequência de infecções urinárias na gravidez. Os heterozigotos para hemoglobina S não necessitam de tratamento médico, e essa alteração aparentemente não altera sua expectativa de vida. Os indivíduos AS devem sempre ser encaminhados para aconselhamento genético, uma vez que têm possibilidade de ter filhos com formas mais graves de doenças falciformes. ➔ Manifestações clínicas e complicações Os episódios dolorosos agudos representam as manifestações clínicas mais comuns e características das doenças falciformes. As crises dolorosas são mais frequentes na terceira e quarta década de vida. A oclusão microvascular, sobretudo na medula óssea é o fator inicial do episódio doloroso. As crises dolorosas típicas atingem principalmente ossos longos, articulações e região lombar. Outras regiões podem também podem ser afetadas, como couro cabeludo, face, tórax e pelve. Episódios agudos de dor e inchaço de mãos e pés (síndrome das mãos e pés ou dactilite) são frequentes em crianças entre seis meses e dois anos de idade, e extremamente raras após os sete anos de idade. O tratamento é sintomático, e se os sinais persistirem, é importante afastar o diagnóstico de osteomielite. Infecções são a principal causa da morbidade e mortalidade na anemia falciforme. O risco de infecções graves é maior em pacientes com menos de quatro anos de idade, e entre estas se destaca a meningite bacteriana, causada em 78% dos casos de pneumococos. Outros tipos de infecções frequentes são pneumonia, osteomielite, septicemia e infecção urinária. As razões de maior suscetibilidade à infecção apresentada pelos pacientes com doenças falciformes ainda não são totalmente conhecidas. Aparentemente, as múltiplas lesões orgânicas e a asplenia (orgânica ou funcional) têm papel preponderante. As alterações histopatológicasno baço de pacientes com AF são conhecidas. Inicialmente há uma esplenomegalia consequente à congestão da polpa esplênica em virtude da obstrução por grandes quantidades de células falcizadas, acompanhas de hemorragias ao redor dos corpúsculos de Malpighi. A oclusão vascular provoca repetidos microinfartos, tornando o órgão fibrótico e atrófico. Comumente há esplenomegalia nos primeiros anos de vida, seguida de ausência do órgão após os seis anos de idade, resultante da autoesplenectomia acompanhada de fibrose. As manifestações cardíacas são relacionadas à circulação hiperdinâmica secundária aos mecanismos compensatórios da anemia. A radiografia de tórax mostra cardiomegalia global mesmo em pacientes jovens. Também são observadas comumente artérias pulmonares proeminentes e aumento do padrão vascular pulmonar. Alguns pacientes podem evoluir para IC principalmente depois da segunda década de vida. As alterações pulmonares têm os episódios agudos denominados de Síndrome Torácica Aguda (STA), e são caracterizados por dor torácica, febre, dispneia, opacidade nova na RX de tórax e queda no nível de hemoglobina, podendo evoluir com hipóxia grave. A STA pode ser causada por infarto de costela (costocondrite – inflamação das cartilagens que ligam as costelas ao osso esterno que pode ser confundida com o infarto) ou esterno, pneumonia, embolia pulmonar após necrose de medula óssea, ou infarto pulmonar devido a falcização. A hipertensão pulmonar pode ser de origem arterial, venosa ou mista. Até 20% dos pacientes terão hipertensão pulmonar leve ou llimítrofe. Algum tipo de comprometimento neurológico acomete cerca de 25% dos pacientes com doenças falciformes. As complicações clínicas no SNC incluem AVC, hemorragia cerebral e ataques isquêmicos transitórios. Infartos cerebrais são mais frequentes em crianças, com pico de incidência até o 6 anos de idade, e em adultos após os 30 anos de idade, ao passo que hemorragia intracerebral é mais frequente em adultos entre a segunda e terceira décadas de vida. Rhyan Coelho A excreção contínua e elevada de bilirrubinas leva à formação de cálculos biliares. Embora tenham sido relatados cálculos em crianças de 3 ou 4 anos de idade, essa complicação é comum em pacientes adultos. As alterações na função hepática podem ser relacionadas à falcização intra-hepática, infecções adquiridas na transfusão ou hemosiderose transfusional. A denominação síndrome do quadrante superior direito designa episódio agudo caracterizado por hiperbilirrubinemia extrema, aumento rápido do fígado, febre e dor acentuada. Os níveis de enzimas hepáticas são anormais e os níveis de bilirrubina podem chegar até a 100 mg/dL. O rim é extremamente suscetível a complicações em pacientes com doenças falciformes devido às características peculiares de seu microambiente, que incluem reduzidas tensões de oxigênio, pH ácido e alta tensão osmótica. Esse tipo de ambiente facilita a ocorrência de falcização e infarto na medula renal, com consequente hematúria e inabilidade de concentrar urina (hipostenúria). A excreção de potássio também está reduzida, e episódios de hipercalemia foram descritos. Ocasionalmente, podem ser observados níveis elevados de ácido úrico devido à hiperplasia de medula óssea e consequente aumento na produção de urato em razão do metabolismo das purinas, além da redução na depuração de urato pelos túbulos renais. As complicações oftalmológicas são frequentes nas doenças falciformes e incluem anormalidades na conjuntiva, infartos orbitários, hemorragia retiniana e retinopatia proliferativa. A retinopatia resulta de lesões oclusivas arteriolares que levam a microaneurismas e proliferação neovascular colateral. A complicação osteoarticular mais comum é a necrose asséptica da cabeça do fêmur. A osteoporose precoce é uma complicação que vem sendo progressivamente mais diagnosticada na doença falciforme, e recomenda-se rastreamento anual com densitometria mineral óssea a partir dos 18 anos de idade. ➔ Diagnóstico O diagnóstico das síndromes falciformes depende fundamentalmente da comprovação da hemoglobina S pela eletroforese de hemoglobinas, utilizando conjuntos complementares de suportes e tampões que permitam a distinção das diferentes hemoglobinas anormais. Todos os RN de grupos populacionais onde a frequência da mutação par HbS é elevada devem ser submetidos à triagem neonatal para detecção de doença falciforme. Atualmente, são bem conhecidos os benefícios do diagnóstico precoce, introdução de antibioticoterapia profilática e programa adequado de vacinação. Os procedimentos laboratoriais para o diagnóstico em amostras de RN devem separar com segurança a HbF das outras hemoglobinas. O teste pode ser realizado em sangue de cordão umbilical ou amostras de sangue venoso coletado em papel de filtro. Os níveis de hemoglobina em pacientes na fase estável da AF variam entre 6 a 10 g/dL. Em geral, a anemia é normocrômica e normocítica, embora os níveis de reticulócitos sejam elevados (entre 5 e 20%). Ocasionalmente podem ser observados eritroblastos circulantes. As clássicas hemácias em forma de foice são caracteristicamente observadas nas doenças falciformes, embora outras formas aberrantes possam também ser visualizadas. Em RN, poucas células falcizadas podem ser observadas, devido à elevada % de HbF. Após o primeiro ano de vida, as células falcizadas tornam-se mais evidentes. Os clássicos dados laboratoriais de hemólise estão presentes: elevação de bilirrubina indireta, redução de haptoglobina sérica, elevação de urobilinogênio urinário e hiperplasia eritroide na medula óssea. Frequentemente, há leucocitose, às vezes com desvio à esquerda, alteração que nem sempre está relacionada a processo infeccioso, podendo ser observada mesmo na fase estável. A contagem de plaquetas está em geral elevada, podendo atingir até 1.000.000/uL. Provavelmente, tanto a leucocitose quanto a trombocitose estão associadas à hiperplasia de medula óssea em pacientes com hipofunção esplênica, além do estado inflamatório crônico. Rhyan Coelho As provas de coagulação são normais durante a fase estável, mas, durante os episódios vaso-oclusivos,alguns testes podem apresentar alterações características de hipercoagulabildade. ➔ Tratamento Pacientes com doenças falciformes devem, sempre que possível ser acompanhados regularmente em serviços especializados (Centro de Atenção a Doenças Falciformes) com a presença de equipes multidisciplinares. Desse modo, os objetivos básicos da terapêutica consistem no tratamento das complicações específicas e em cuidados gerais da saúde. O tratamento a longo prazo apoia-se em: a) Suplementação com ácido fólico (5mg/dia), deve ser sempre realizada devido à hiperplasia eritropoética; b) Uso de medicamentos que promovem o aumento da hemoglobina fetal (como a hidroxiureia) em pacientes selecionados; c) Profilaxia de infecções d) Tratamento das crises dolorosa vaso-oclusivas; e) Tratamento das demais crises agudas e infecções Vários agentes farmacológicos são capazes de aumentar a produção de hemoglobina fetal ou atua na seleção de precursores eritrocitários que mantêm a habilidade de produzir HbF. Entre essas drogas, podem ser incluídas a 5-azacitidina, a hidroxiureia (HU) e os derivados de butirato. As regras básicas no tratamento das complicações de crises vaso-olcusivas são: a) Procurar e tratar agressivamente o fator desencadeante, principalmente infecções b) Hidratação adequada por via oral ou endovenosa; c) Utilização adequada de analgésico para aliviar a dor. O tipo de analgésico utilizado depende da gravidade do episódio doloroso: para crises leves, podem ser utilizados paracetamol, AAS, dipirona e ibuprofeno; nos casos moderados, sem resposta à medicação inicial, pode então ser associado codeína ou tramadol; nas crises dolorosas graves, deve ser administrada morfina. Nos casos de crises de sequestroe crise aplástica, transfusões simples são necessárias para restaurar a massa sanguínea circulante e garantir uma oferta adequada de oxigênio aos tecidos OBJETIVO 03 O aconselhamento genético de casais sob risco de ter um filho comum defeito sério da hemoglobina é indispensável em medicina pré-natal. Se uma mulher grávida tiver uma anomalia de hemoglobina, seu parceiro deve ser imediatamente testado para determinar se também é portador de um defeito. Se ambos tiverem anomalia, e houve risco de defeito grave na prole, sobretudo B-talassemia maior, é importante oferecer-lhes a tecnologia de diagnóstico pré-natal. Várias técnicas estão disponíveis; a escolha depende do estágio da gestação e da natureza potencial O encaminhamento a um conselheiro genético é útil para discutir o tipo e o risco de doença hereditária na prole e a variabilidade do fenótipo. Este também é um bom momento para discutir a variedade de opções de gravidez, conforme apropriado, incluindo: ●Uso de esperma de um doador de um homem sem hemoglobinopatia. Isso garantirá que a prole seja heterozigótica (ou seja, com traço falciforme), que é essencialmente um estado de portador benigno. ●Diagnóstico genético pré-implantação para seleção de embriões sem DF. O diagnóstico genético pré-implantação (PGD) da SCD é uma opção para casais cujo objetivo é apenas estabelecer uma gravidez em que a criança não seja afetada pela SCD. Para PGD, o casal deve conceber via fertilização in vitro (FIV). Embriões pré-implantação são biopsiados e apenas aqueles não afetados por SCD são selecionados para transferência para o útero. Se a tipagem HLA também for realizada, embriões não afetados que Rhyan Coelho também são HLA idênticos a um irmão afetado podem ser selecionados para permitir o transplante futuro de células-tronco desse irmão. O PGD é caro e pode diminuir a chance de gravidez e parto ao vivo em comparação com a concepção natural, mas não parece haver nenhum dano a longo prazo para a prole. ●Diagnóstico pré-natal, com a opção de interrupção de uma gravidez afetada ●Uma gravidez portadora de gestação permite que a paciente evite os riscos maternos e fetais associados à gravidez complicada por DF. Uma portadora gestacional é uma mulher que concorda em carregar uma gravidez para outra mulher (futura mãe). A mãe pretendida fornece o óvulo e o pai pretendido fornece o esperma; doadores de óvulos ou doadores de esperma sem hemoglobinopatia também podem ser usados. A concepção é obtida por fertilização in vitro, e o embrião resultante é transferido para o útero da portadora gestacional. O portador gestacional não tem conexão genética com o embrião. ●Em uma gravidez de aluguel tradicional, a mãe de aluguel, que não tem hemoglobinopatia, é submetida à inseminação intrauterina (IUI) do esperma do pai pretendido (ou de um doador de esperma). Portanto, o substituto tem uma conexão genética, bem como gestacional, com o embrião. ●A adoção é outra opção.
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