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1 Tutorial 4 – Vitor Benincá Em indivíduos normais, apenas os eritrócitos envelhecidos (Senescentes) são removidos pelo sistema reticuloendotelial do fígado e do baço, e eles tem como vida média 120 dias. No baço, o sangue irá penetrar no parênquima esplênico pelas arteríolas centrais → entra na polpa branca (contém linfócitos B e T) → polpa vermelha → retorna à circulação através das fendas endoteliais nos sinusoides esplênicos → sistema venular do órgão. Essas fendas endoteliais possuem diâmetro de apenas 2-3 micra, enquanto as hemácias possuem diâmetro de 8 micra. Sendo assim, é impossível que as hemácias passem por essas fendas quando a sua capacidade de deformação estiver deficiente. E para que isso ocorra, as hemácias devem manter suas propriedades viscoelásticas e seu formato bicôncavo. Após essa passagem esplênica, as hemácias entram em meio marcado pela hipóxia, acidez e grande quantidade de macrófagos, que tem como função reconhecer anormalidades nas membranas das hemácias. Os macrófagos podem fagocitar pedaços das hemácias com o objetivo de retirada de resíduos nucleares, hemoglobinas desnaturadas e pigmentos férricos. Ou até mesmo fagocitar a hemácia inteira. São removidas apenas as hemácias mais velhas (após 120 dias) ou hemácias patológicas. Essa função de remoção seletiva é feita principalmente pelo baço e é chamada de Hemocaterese. HEMÓLISE É a destruição prematura das hemácias na periferia, ou seja, nos espaços intravasculares (interstício de órgãos do sistema reticuloendotelial). Isso provoca queda importante de sua meia-vida. Quando a meia vida do eritrócito chega a um valor inferior a 20 dias, instala-se uma anemia hemolítica. Quando a meia vida está diminuída, mas não a ponto de causar uma anemia (porque a medula aumenta a capacidade de produção de hemácias em até 8 vezes), há a “Hemólise Compensada”. Porém, esse estado de hemólise compensada pode rapidamente evoluir para uma anemia hemolítica se houver deficiência na eritropoiese (redução de ferro, ácido fólico, B12, infecções dos eritroblastos etc.). Hemólise Extravascular: É o tipo mais comum. Ocorre quando as hemácias são destruídas no tecido reticuloendotelial (principalmente no baço) pelos macrófagos do cordão esplênico (Billroth). Pode ocorrer por alterações hereditárias ou adquiridas, que irão afetar a membrana ou a forma do eritrócito e dificultando a sua passagem pelas fendas sinusoidais. O revestimento da membrana eritrocitária por anticorpos IgG ou Complemento (C3b) – permite o pronto reconhecimento pelos receptores macrofágicos – determinando destruição precoce. Hemólise Intravascular: hemácias destruídas dentro da própria circulação e o seu conteúdo é liberado no plasma. Geralmente é por anormalidades adquiridas – trauma mecânico, destruição imunológica pelo sistema complemento ou exposição a fatores tóxicos. CONSEQUÊNCIAS DA HEMÓLISE 1 – Resposta Medular: A destruição de hemácias, ao provocar uma tendência a anemia, estimula liberação de eritropoietina que irá atuar na medula óssea e estimular a maturação de eritroblastos na corrente sanguínea (hemácias jovens). Essa maior produção medular de reticulócitos representa a anemia Hiperproliferativa. O reticulócito apresenta VCM maior (em torno de 108 fL) e contém RNA ribossomal, que dá o aspecto característico da célula quando corada em metileno. Os reticulócitos após serem lançadas na circulação irão se tornar hemácias maduras após 1 dia. Sob forte estímulo de maturação, a MO lança as Shift Cells – que são ainda maiores e tem um tempo de maturação de 1,5 a 2 dias. Essa resposta medular também pode ser observada no mielograma, onde há intensa hiperplasia eritroide, sendo essa uma característica de toda anemia hemolítica. Porém, apesar dessa hiperplasia, a eritropoese é ineficaz, porque forma muitos eritroblastos e reticulócitos anômalos. 2 – Produção de Bilirrubina Indireta: Quando a hemácia é destruída, a hemácia libera o seu conteúdo, que é rico em hemoglobina. Os macrófagos irão metabolizar essa hemoglobina e separar seus componentes do heme: ferro e protoporfirina. A protoporfirina será transformada em biliverdina que será convertida em bilirrubina indireta. Essa bilirrubina vai para o plasma e depois para o fígado (ligada a albumina). 3 – Formação de Cálculos Biliares: Toda hemólise crônica predispõe à formação de cálculos biliares (ex: anemias hereditárias de curso crônico – espefocitose hereditária, anemia falciforme, talassemias). Isso ocorre pois o aumento de bilirrubina pela hemólise é fator predisponente, podendo gerar o bilirrubinato de cálcio na vesícula biliar (visível no RX). Isso irá promover uma litíase biliar que pode gerar complicações como: colecistite aguda e colangite, promovendo icterícia acentuada devido bilirrubina direta. 4 – Contagem de Reticulócitos (índices corrigidos): Em pessoas normais, os reticulócitos constituem menos de 2,5% do total de eritrócitos, o que em valores absolutos corresponde a menos do que 100.000 células/mm³. O termo reticulose refere-se a um aumento medular na produção de reticulócitos. Para que a contagem reticulócita (em %) possa refletir fielmente a produção medular de reticulócitos, deve-se corrigi-la para 2 fatores: grau de anemia e tempo de maturação reticulocitária. Tutorial 4 2 Tutorial 4 – Vitor Benincá - Primeira correção (Índice de Reticulócitos Corrigidos): Pelo Hematócrito: IRC= % de reticulócitos x hematócrito/ 40 Pela Hemoglobina: IRC= % de reticulócitos x hemoglobina/15 Os números 40 e 15 são os valores considerados normais para Ht e Hb. - Segunda correção (Índice de Produção Reticulocitária): Pelo Hematócrito: IPR= (% de reticulócitos x Ht/40) /2 Pela Hemoglobina: IPR= (% de reticulócitos x Hb/15) /2 Essa segunda correção é feita pois em casos de anemia hemolítica, a eritropoietina estimula a medula a lançar no sangue reticulócitos que possuem o tempo de maturação de mais ou menos 2 dias, ou seja, o dobro da normal. Sendo assim, os reticulócitos produzidos durante 1 dia, correspondem a apenas metade do número absoluto de reticulócitos presentes no sangue. Por isso, divide-se por 2. Diz que há reticulose propriamente dita quando o IPR está acima de 2. CRISES ANÊMICAS São exacerbações agudas da anemia hemolítica crônica. As anemias hemolíticas hereditárias (ex: esferocitose hereditária, anemia falciforme) são as principais condições a essas complicações: Crises Aplásica: crise mais comum. Ocorre principalmente por infecções pelo parvovírus B19. Esse vírus tem tropismo pelo pró- eritroblasto, que ao ser infectado perde a capacidade de se tornar um reticulócito. Deve ser tratado com hemotransfusão. Em imunocompetentes, a infecção é autolimitada (3-7 dias) Crise Megaloblástica: a exigência de uma produção aumentada de hemácias faz com que sejam mais consumidos ferro, ácido fólico, B12. O ácido fólico é o mais propenso a faltar. Crise Hemolítica: Infecções virais que ativam o sistema reticuloendotelial podem aumentar a atividade dos macrófagos dos cordões esplênicos, promovendo uma exacerbação da hemólise. Paciente evolui com piora súbita da hemólise, aumento da reticulocitose e esplenomegalia. É a crise anêmica menos comum. Crise de Sequestro Esplênico: crise exclusiva da anemia falciforme em crianças menores de 5 anos. ETIOLOGIA Divididas em: Anemias hemolíticas hereditárias e Anemias hemolíticas adquiridas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Leve icterícia (associado a palidez) Esplenomegalia História familiar presente de anemia (sugere anemias hereditárias) Uso de medicamentos (alfa-metildopa) Urina avermelhada ou marrom (hemoglobinúria). A icterícia costuma ser leve, pois a hiperbilirrubinemia indireta nunca ultrapassaa faixa dos 5 mg/dL, a não ser em recém natos. A hiperbilirrubinemia indireta é comum, mas não é obrigatória na hemolítica. talassemia é a anemia que mais aumenta o tamanho do baço. DIAGNÓSTICO Desidrogenase Lática (LDH): quase sempre elevado na hemólise, devido a liberação dessa enzima do interior das hemácias. Porém, seus valores não ficam tão grandes quanto os da anemia megalobásltica, ficando em torno de 580 U/mL. Heptoglobina: é uma alfa globulina sintetizada pelo fígado que se liga a fração globina da hemoglobina. Na presença de hemólise as cadeias de globina liberadas se unem a haptoglobina e indo direto para o fígado. Por isso, os níveis séricos de haptoglobina diminuem nas hemólises. Indicadores de Hemólise Intravascular: Hemoglobinemia: Plasma avermelhado pela Hb Hemossiderinúria: Às vezes a capacidade de ligação com a haptoglobina é excedida, fazendo com que a hemoglobina seja filtrada pelos rins e reabsorvida no TCP. Nas células tubulares, é catabolizada e o Fe do Heme é armazenado nas proteínas de depósito – Hemossiderina e Ferritina – aí as células epiteliais se descamam e a hemossiderina é identificada na urina. Hemoglobinúria: Quando a destruição das hemácias no interior dos vasos é ainda mais intensa – ocorrendo saturação de hemossiderina presente nos túbulos. Aí a hemoglobina filtrada não vai ser absorvida nos túbulos e surge hemoglobinútia. Urina vermelho-acastanhada. Hemopexina e Metemalbumina: Hemoglobina no plasma que não pode se ligar à haptoglobina sofre logo oxidação, transformando-se em metemoglobina. Heme é prontamente desligado desse composto, ligando-se a uma proteína que se chama Hemopexia e na albumina – formando a metamalbumina. → redução dos níveis de hemopexina, aumento do complexo hemopexina-heme, aumento dos níveis de metamalbumina. Indices Hematimétricos e Hematoscopia: Anemia normocítica e normocrômica Em casos graves: macrocítica (devido à grande liberação de reticulose) Hematoscopia do Sangue Periférico: Anisocitose e poiquilocitose são achados comuns. 3 Tutorial 4 – Vitor Benincá 1. Anemias Hemolíticas Hereditárias: Alterações no Citoesqueleto e Membrana dos Eritrócitos A membrana do eritrócito é composta de uma rede de proteínas que formam o citoesqueleto. A Espectrina é uma proteína fibrilar em forma de hélice que é o principal constituinte do sistema. Forças horizontais – interação espectrina-actina – fundamental para manutenção da rede. Forças verticais – fibras de espectrina + anquirina. Essa anquirina serve como ponte para unir a espectrina a proteína banda 3 (Glicoforina). A interação entre anquirina-espectrna é reforçada pela proteína 4.2 (palidina). Sendo assim, defeitos genéticos nas forças verticais- espectrina, anquirina, banda 3 e proteína 4.2- levam a esferocitose. Já defeitos genéticos de força horizontal – espectrina, actina, proteína 4.1 – levam a eliptocitose. ESFEROCITOSE HEREDITÁRIA É uma desordem autossômica dominante em 80% dos casos e recessiva nos 20% restantes. Ocorre por deficiência em graus variados de algumas proteínas do citoesqueleto: espectrina, anquirina, banda 3, proteína 4.2. A deficiência mais comum é a de anquirina, que consequentemente leva a uma deficiência de ancoramento da espectrina, porque a primeira é necessária para incorporação da última à membrana do eritrócito. Essa deficiência de ancoramento da espectrina no citoesqueleto do eritrócito leva à perda de fragmentos da camada lipídica da membrana, sendo que a célula perde superfície em relação ao volume, perdendo seu formato bicôncavo e o transformando em esferócito. Esses esferócitos, ao passarem pelos cordões esplênicos, não conseguem se deformar o suficiente para passar nas fendas sinusoidais, ficando mais tempo em contato com os macrógafos e consequentemente perdendo pequenos pedaços de sua membrana e gerando microesferócitos. (São esses microesferócitos que estão no sangue periférico do paciente). O esferócito e o microesferócito são células com pouca superfície de membrana em relação ao seu volume. Manifestações Clínicas Anemia geralmente moderada, mas pode ser leve, grave ou não haver anemia. Em crianças geralmente há esplenomegalia. Icterícia discreta Presença de litíase biliar – por cálculo de bilirrubinato de cálcio. O quadro mais preocupante é o da crise aplásica (pelo parvovírus B19) A icterícia pode ser bem intensa em neonatos, nos 2 primeiros dias de nascimentos, podendo ser tão grave a ponto de causar kenicterus. Diagnóstico É dado pelo encontro de anemia hemolítica crônica (confirmada laboratorialmente), na presença de reticulócitos e microesferócitos no sangue periférico. Anemia leve a moderada normocítica e hipercrômica (devido aumento no CHCM) Presença de múltiplos microesferócitos no sangue periférico. Teste de Coombs: deve ser negativo, para afastar anemia imuno-hemolítica. Teste de Fragilidade Osmótica: É indicado quando dúvida de presença de microesferócitos – positividade indica microesferocitose em grande número de hemácias. Microesferócitos tem pouca membrana e muito volume, sendo sensíveis à osmose – por isso se faz o teste., pode apresentar uma série de falsos negativos se associados a outros tipos de anemia. Tratamento Esplenectomia (exceto para pacientes com anemia leve ou com hemólise compensada). A esplenectomia cura a anemia e todas as complicações da doença, mas não elimina os esferócitos do sangue periférico. Em crianças, a cirurgia deve ser evitada até os 4 anos devido a risco de sepse por germes encapsulados. Além disso, a vacina antipneumocócica polivalente deve ser administrada em todos os pacientes antes da cirurgia. Terapia com ácido fólico (evitar anemia megaloblástica). Crise Aplásica – Tratada com hemotransfusão. ELIPTOCITOSE HEREDITÁRIA Desordem autossômica dominante. Ocorre por déficit de espectrina ou de proteína 4.1 (Forças Horizontais). A maioria dos indivíduos é assintomática, com uma hemólise de leve intensidade, sem anemia ou esplenomegalia. Sangue periférico: presença de ovalócitos e eliptócitos. Sendo que eles não possuem relação com o grau de hemólise. Fragilidade osmótica: normal. Tratamento: esplenectomia (quando evolui para episódios hemolíticos frequentes e graves). PIROPOIQUILOCITOSE HEREDITÁRIA Distúrbios autossômico recessivo muito raro Anemia hemolítica grave (precisa de esplenectomia) e presença de poiquilócitos bizarros, além de hemácias fragmentadas no sangue periférico Microcítica. Anormalidade é na síntese de espectrina. ESTOMACITOSE HEREDITÁRIA Doença de caráter autossômico dominante. Defeito da membrana permite que haja grande influxo de sódio e água para o interior da hemácia. Hemácia fica edemaciada com uma redução de sua HCM – Fica pálida – com a área central parecendo uma boca – por isso o termo estomatócito. Maioria dos pacientes tem esplenomegalia e anemia hemolítica Esplenectomia deve ser evitada – porque pode induzir eventos tromboembólicos graves. 4 Tutorial 4 – Vitor Benincá Estomatócito pode estar presente em afecções adquiridas e não relacionada à hemólise – como alcoolismo e doença hepática 2. Anemia Hemolítica: Defeitos Enzimáticos: A hemácia é uma célula com padrão de metabolismo muito simples, sendo que a energia requerida pelo eritrócito serve exclusivamente para manter a NA/K/ATPase funcionante e para regenerar seus lipídios de membrana. Há 2 vias importantes para manter esse processo- Via Glicolítica e Via Metabólica. Sendo assim, qualquer defeito nas enzimas dessas vias, podem causar danos celulares e estresse oxidativo. DEFICIÊNCIA DE G6PD (Shunt da Hexose Monofosfato- Via Metabólica) A deficiência mais comum dessa via é a de Glicose-6-fosfato desidrogenado(G6PD). É uma desordem muito comum no mundo e afeta cerca de 200 milhões de pessoas. Tem uma herança ligada ao X, sendo mais comum (mas não exclusiva) no sexo masculino. Essa via, tem como objetivo regenerar o glutation, que é um elemento que protege a Hb e a membrana da hemácia de estresse oxidativo por liberação de derivados do oxigênio que são formados em processos infecciosos, drogas e toxinas. Essa deficiência da enzima é definida pela presença de mutantes enzimáticos com atividade reduzida ou meio-vida curta. Os principais mutantes enzimáticos são: Gd^- (mais comum em negros) e Gdmed (mais comum em descendentes italianos, gregos, árabes e judeus). O primeiro mutante está associado a um quadro mais brando da deficiência. A enzima G6PD tem meia vida de 60 dias. O mutante Gd apresenta meia vida de 13 dias, sendo que nesse casos, devido ao curto tempo de meia vida do mutante, as hemácias jovens estão protegidas do estresse oxidativo. Já o mutante Gdmed tem atividade desde o início da vida eritrocitária, gerando hemólise. Quando ocorre a hemólise, ela sempre vem precedida de algum estresse oxidativo – infecções, uso de drogas. Drogas que causam estresse oxidativo: sulfas, dapsona, primaquina, nitrofurantoína, ácido nalidíxico, azul de metileno, Piridium, naftaleno. Quando há desnaturação oxidativa da cadeia de globina, há produção de precipitados intracelulares de hemoglobina desnaturada – Córpusculos de Heinz. Esses corpúsculos irão se ligar a banda 3 da membrana eritrocitária e formar agregados. Esses agregados são reconhecidos como antígenos e promovem ligação de IgG. Quando passa pelo baço, os macrófagos reconhecem essa estrutura e retiram o pedaço, gerando “células mordidas” e “células bolhosas” Manifestações Clínicas Hemólise intravascular aguda, associada a febre, lombalgia, palidez e icterícia SEMPRE precedidas de infecções ou administração de drogas. Nos negros, devido ao gene mutante mais leve, o processo é mais brando e sempre autolimitado: Pico de reticulócitos entre 7-10 dias após início da anemia, hematócrito sobe após 1 semana. Já em pacientes do mediterrâneo, a crise hemolítica é mais grave e pode ser autolimitada. Diagnóstico Hemoglobinemia Hemoglobinúria Metalbuminemia Sangue periférico com células mordiscadas e células bolhosas e presença de Corpúsculos de Heinz. Dosar atividade da G6PD. Tratamento Não há tratamento específico, apenas hemotransfusão e suporte clínico. Evitar substâncias oxidativas e tratar precocemente as infecções. DEFICIÊNCIA DE PIRUVATO QUINASE (VIA DE EMBDEN-MEYERHOF) Um defeito aqui ocasionará uma queda na produção de ATP – hemácias sem energia – o que resultará em disfunção da membrana – pois seus lipídios não serão renovados. Ocorre rigidez da célula e destruição precoce no baço. Grau de hemólise é variável. Indivíduos afetados geralmente apresentam a desordem desde a infância, acompanhada de icterícia e esplenomegalia. Gravidez e infecções podem precipitar uma crise hemolítica. Sangue periférico – Eritrócitos bizarros e múltiplos equinócitos (hemácias crenadas) – porém, não se observa esferocitose. Teste da fragilidade osmótica das hemácias é negativo. Tratamento – Geralmente não precisa, só prescrição de ácido fólico mesmo, para os pacientes em casos moderados a graves. Esplenectomia é recomendada em casos graves. ANEMIA HEMOLÍTICA AUTOIMUNE (AHAI) É a anemia hemolítica adquirida mais importante, tanto pela sua frequência quanto pela sua potencial gravidade. Nesse caso, a hemólise é induzida pela ligação de anticorpos e/ou componentes do complemento à membrana da hemácia. Geralmente ocorre por autoanticorpos que reagem a determinados antígenos da membrana que fazem parte do sistema de grupos sanguíneos (ex: sistema Rh). O mecanismo de hemólise na AHAI depende, basicamente, da opsonização. Ou seja, inicialmente os anticorpos IgG se ligam a membrana eritrocitária, e depois irão se ligar a receptores específicos dos macrófagos esplênicos, promovendo fagocitose das hemácias e consequentemente hemólise. Apenas os anticorpos da classe IgG possuem receptores nos macrófagos. O componente C3b do sistema complemente, também é capaz de promover essa opsonização das hemácias. Macrófagos hepáticos (células de kupffer) são os responsáveis pela destruição das hemácias revestidas por C3b. A AHAI é composta de duas síndromes distintas: (1) AHAI por anticorpos quentes (IgG): se ligam à superfície do eritrócito na temperatura corpórea em torno de 37 graus. Esse tipo de anticorpo possui fraca ativação do sistema complemento. Vão ativar o complemento só se 5 Tutorial 4 – Vitor Benincá estiverem em grande número ao redor da hemácia, aí ativa o complemento e a gravidade da opsonização é pior. – Mais hemólise (2) AHAI por anticorpos frios (IgM): se ligam à superfície do eritrócito na temperatura de 10 graus. Também são chamados de crioaglutininas. São potentes ativadores do sistema complemento, sendo que um único IgM já pode desencadear a formação de C3b. Quando um grande número de IgM se liga à membrana das hemácias (evento raro) pode ocorrer um intenso complexo de ataque à membrana, sendo muito grave. AHAI POR IgG (ANTICORPOS QUENTES) Variante mais encontrada na prática clínica. Esses autoanticorpos geralmente se dirigem contra antígenos do sistema Rh (D, C, E, c, e). Principal local de hemólise: baço. Pois os macrófagos esplênicos são ricos em receptores para IgG. Cerca de 50% dos casos de AHAI por IgG são idiopáticos, e o restante está associado com: drogas (alfa-metildopa)*, LES*, colagenoses, artrite reumatoide, retocolite ulcerativa, leucemia linfocitica crônica*, linfoma não Hodgkin*, infecções do tipo tuberculose etc. Faixa etária entre 50-60 anos. Manifestações Clínicas: variam desde assintomáticas e sem anemia (hemólise compensada) até episódios hemolíticos agudos com anemia profunda, ICC e colapso vascular. Icterícia leve, esplenomegalia discreta. Em crianças os episódios geralmente são seguidos de quadros virais respiratórios, com início repentino e severo da doença. A reação autoimune pode não ser restrita às hemácias, sendo que plaquetas, granulócitos podem ser atacados por autoanticorpos → petéquias, hemorragia de mucosas. Normo ou macrocítica Pode haver associação com a AHAI por IgG + PTI (púrpura trombocitopênica autoimune) que ganhou a denominação de Síndrome de Evans. Achados Laboratoriais: anemia com variações de intensidade, reticulose e um VCM que pode ser normal ou aumentado (normocítica ou macrocítica). A macrocítica é justificada devido a reticulose acentuada. O esfregaço de sangue periférico apresenta microesferócitos, devido a fagocitose parcial no baço. Diagnóstico: Teste de Coombs Direto (ou Teste da Antiglobulina Direta). Esse teste irá identificar a presença de anticorpos ou complementos ligados à superfície das hemácias do paciente. É adicionado “soro de Coombs” a uma gota de sangue do paciente e incubado a 37 graus, se houver aglutinação no tubo de ensaio, o teste é positivo. Esse teste também pode reagir com C3b Tratamento específico: Glicocorticoides (prednisona) por 3 a 4 meses com retirada gradual. Os corticoides reduzem a afinidade dos receptores dos macrófagos esplênicos, reduzem afinidade dos anticorpos IgG com a membrana eritrocitária e diminuem produção de IgG. Em pacientes que não melhoram ou não toleram corticoides: Esplenectomia. Em pacientes não responsivos a esplenectomia: imunossupressores (ciclofosfamida, azatioprina). Tratamento de Suporte: Ácido fólico (para pacientes com hemólise crônica) e Hemotransfusão (fazer teste de Coombs, pois geralmente nessa AHAI sempre há aglutinação por parte de qualquer sangue doado). AHAI POR IgM (ANTICORPOS FRIOS)Esse anticorpo geralmente se dirige contra o antígeno I(i) da membrana eritrocitária Principal local de destruição de hemácias: fígado. Geralmente a AHAI por IgM é de causa idiopática – Doença de Crioaglutinina – ou seja, trata-se de uma expansão clonal de linfócitos B que gera uma produção excessiva de IgM monoclonal. Faixa etária: 50-70 anos. Causas não idiopáticas: linfomas não-hodgkin, macroglobulinemia de Waldenstrom, LES. Mas na prática clínica a causa mais comum de AHAI por anticorpos frios é a infecção por Mycoplasma Pneumoniae. Mas há outros agentes infecciosos: caxumba, vírus Epstein Barr, CMV. Manifestações Clínicas: quadro clínico geralmente brando e indolente quando comparado a IgG. Os casos por infecção são autolimitados. Laboratório: Coleta do sangue e colocar ele na geladeira em uma temperatura de 4 graus, se houver presença de crioaglutininas o exame é positivo. Além disso, esses grumos logo de desfazem após o aquecimento com a temperatura corpórea (na mão). Diagnóstico: Teste de Coombs Direto e Pesquisa de Títulos Séricos de Crioglutinina. Sangue periférico pobre em microesferócitos. Tratamento: Imunossupressores. NÃO há respostas a corticosteroides nem a esplenectomia (pois a doença ocorre no fígado). Evitar exposição ao frio. ANTICORPOS DE DONATH-LANDSTEINER É um anticorpo de classe IgG, mas suas características são de um anticorpo frio e apresenta sua atividade máxima em temperatura de 0-10 graus. Atua contra o antígeno P da membrana eritrocitária. Inicialmente foi descrito associado a sífilis terciária. É um anticorpo de potente hemolisina – Criomolisina – e possui alta ativação do sistema complemento e permite formação de complexo de ataque à membrana, provocando hemólise no intravascular. Mais comum em crianças após infecções virais associado a quadro hemolítico leve a moderado e associado a hemoglobinúria gerando a Síndrome Crioemoglobinúria Paroxística. Curso autolimitado. ANEMIA IMUNO-HEMOLÍTICA FARMACOINDUZIDA Mais importantes fármacos: alfa-metildopa, levopoda, penicilina e quinidina. TIPO AUTOIMUNE – Pela alfametildopa e levodopa – altera estrutura do complexo antigênico RH, tornando-o um autoantígeno. Autoanticorpos da classe IgG se ligam na superfície das hemácias. TIPO HAPTENO – Quando uma molécula não proteica, ao se combinar com uma proteína do organismo, forma um complexo antigênico, passando a se denominar hapteno. Penicilina G Cristalina pode causar. 6 Tutorial 4 – Vitor Benincá ANEMIA FALCIFORME (OU DREPANOCITOSE) Também chamada de Drepanocitose Doença genética da hemoglobina pertencente ao grupo das hemoglobinopatias estruturais. É a doença hematológica mais comum da humanidade. As síndromes falcêmicas integram um grupo de condições em que há herança do gene beta-globina S. (Sickle= afoiçamento). A Hb S é insolúvel e forma cristais quando exposta a baixa tensão de oxigênio. Os eritrócitos sofrem deformação falciforme e podem ocluir diversas regiões de microcirculação ou de grandes vasos, cursando com infarto de vários órgãos. Essa anomalia é causada pela substituição de ácido glutâmico por valina na posição 6 da cadeia beta: EPIDEMIOLOGIA Acredita-se que o gene ßs tenha se fixado e expandido na região conhecida como “CINTURÃO DA MALÁRIA” – Com o desenvolvimento das cidades na idade do ferro – aumentou proliferação do mosquito Anopheles, gerando hiperendemias da infecção. Aí o ßs se espalhou para o resto do mundo devido migrações e tráfico de escravos. 8-10% dos negros norte-americanos possuem pelo menos uma cópia do gene ßs 1 a cada 600 nascimentos nesse população negra apresenta anemia falciforme 1 a cada 400 possui traço falciforme. No Brasil depende da região – 1 a cada 500 na Bahia, 1 a cada 1200 no RJ, 1 a cada 8000 no RS. FISIOPATOLOGIA É um tipo de anemia hemolítica grave, pontuada por crises. A hemoglobina formada a partir dessas células mutantes possui tendência a se polimerizar quando está dessaturada (desligada do oxigênio) e se polimerizando de volta quando em contato com o oxigênio. Esse polímeros de hemoglobina transformam a hemácia em um gel alongado e deformado, semelhante a uma foice. Devido a mudança em sua morfologia, ela irá causar algumas complicações: destruição precoce das hemácias e oclusão aguda ou crônica das microvasculaturas. Sendo assim, ela pode ser considerada uma doença multissitêmica. BAIXA SOLUBILIDADE Ocorre troca de ácido glutâmico pela valina, resultando em perda de ELETRONEGATIVIDADE e ganho de HIDROFOBICIDADE A menor carga elétrica negativa da cadeia ßs aliada à sua repulsa pela água, gera uma tendência à autoagregação, que pode culminar na súbita formação de polímeros de Hemoglobina S no interior do citoplasma (perda de solubilidade), polímeros esses que possuem fibras alongadas e rígidas, que alteram forma da célula, prejudicando sua deformidade. Polímeros de HbS não carreiam oxigênio. No portador de anemia falciforme, o afoiçamento de hemácias ocorre de forma espontânea em graus variáveis, mas se torna exacerbados na vigência de – Hipóxia, Acidose E Desidratação Celular Hipóxia – Transforma a oxi-Hbs em desoxi-HbS. O limiar de solubilidade da desoxi-HbS está muito abaixo da CHCM – desencadeando a polimerização. Acidose – Desloca curva de saturação de hemoglobina para a direita – reduzindo afinidade da Hb pelo O2. Logo, na vigência de acidose, há mais desoxi-HbS para um menor nível de pO2, aumentando polimerização também. Desidratação Celular – Favorece a polimerização por aumentar a CHCM – com isso a concentração de desoxi- HbS também aumenta, ultrapassando seu limiar de solubilidade. Importante destacar que uma vez resolvidos esses fatores, os polímeros de HbS se desfazem e as hemácias podem retornar ao seu formato original – mas isso também pode não acontecer e gera as Irreversibly Sickled Cells, ou ISC A mistura intracelular com outras hemoglobinas também interfere na polimerização da HbS. A redução na proporção de HbS dificulta formação de polímeros, diminuindo afoiçamento. Por isso que a forma da doença mais grave é a homozigose HbSS (anemia falciforme), onde mais de 90% da hemoglobina é HbS. INSTABILIDADE MOLECULAR HbS é uma molécula instável – sendo que ela sofre oxidação com mais facilidade que a hemoglobina normal. Taxa de auto-oxidação é de até 40%. Quando em contato com fosfolipídios da membrana celular, oxidação aumenta absurdamente, chegando a taxas de 340% - levando à formação de macromoléculas desnaturadas. Na hemácia do portador de anemia falciforme, tais produtos (macromoléculas desnaturadas – com fragmentos de globina, ferro e fosfolipídeos) são gerados incessantemente, e permanecem ancorados na face interna da membrana – que acarreta uma série de prejuízos PREJUÍZOS PARA A HEMÁCIA A tendência a polimerização a instabilidade molecular, respondem pela cascata de eventos fisiopatológicos no interior da hemácia. Além da alteração morfológica patognomônica, ocorre também aumento no estresse oxidativo intracelular. Uma vez que o mero contato com os fosfolipídeos da membrana plasmática exacerba a instabilidade da HbS, pode-se deduzir que um excesso de reações oxidativas acontece o tempo todo dentro das hemácias do falcêmico – independentemente da polimerização da HbS – acometendo até as hemácias bem oxigenadas e não afoiçadas. As macromoléculas desnaturadas criadas durante esse processo possuem um ferro NÃO HEME em sua composição – isso catalisa síntese de espécies reativas de oxigênio (radicais livres) Todas as células vermelhas no sangue de um falcêmico apresentam níveis aumentados de estresse oxidativo ESTRESSE OXIDATIVO MEMBRANA PLASMÁTICA SOFRE DANO CUMULATIVO – ocorrendo peroxidação de lipídios e oxidação de muitas proteínas estruturais – fazendo microvesículasna superfície, que se destacam para a corrente circulatória. Fluidez da membrana também é comprometida – que faz com que hemácias não saiam do estado afoiçado mesmo quando os polímeros de HbS se desfazem, 7 Tutorial 4 – Vitor Benincá gerando as Irrversibly Sickeld Cells (ISC). Num espaço de tempo entre 7-30 dias, a célula se torna tão frágil que ocorre lise osmótica ou mecânica no próprio compartimento intravascular. TRANSPORTE IÔNICO É AFETADO – Perioxidação de lipídeos aumenta a permeabilidade da membrana aos cátions, em particular na vigência de afoiçamento. Resultado final é a desidratação celular. (Hemácias desidratadas se afoiçam com mais facilidade) MODIFICAÇÕES ANTIGÊNICAS NA MEMBRANA – Há agregação de proteína BANDA 3 – que opsoniza a hemácia e aí ela é fagocitada no sistema reticuloendotelial. Também há a Exposição da Fosfatildilserina – uma molécula com propriedades diretamente adesiogênicas e pró-inflamatórias. Ela pode ficar pro lado de dentro ou de fora da membrana – de acordo com a enzima Translocase – o estresse oxidativo desregula a translocase, fazendo que seja mais externalizada – fazendo lesão endotelial difusa e estímulo à resposta inflamatória. PREJUÍZOS PARA O ORGANISMO As hemácias ricas em HbS são o agente do caos dentro do corpo do paciente. Primeira repercussão orgânica é a anemia hemolítica – Com hemólise intravascular associada à disfunção do endotélio Quando hemácias falcêmicas são destruídas no interior da corrente circulatória, ocorre liberação de seu conteúdo para o sangue – hemoglobina S e moléculas desnaturadas nessas células são ricas em ferro não heme – catalítico – que exerce série de efeitos – como depleção do óxido nítrico (vasodilatador, antitrombótico e anti- inflamatório) Também antes da destruição definitiva da hemácia, as microvesículas ricas em fosfatidilserina que se desprendem da membrana já deram início ao processo de lesão endotelial. Além de tantos efeitos tóxicos diretos, ocorre ainda um indireto – os conteúdos de hemácias e as microvesículas ricas em FS estimulam células da imunidade inata (macrófagos e monócitos) a produzir citocinas pró-inflamatórias → paciente falcêmico está sempre inflamado – corroborando para disfunção endotelial. Resultado final da disfunção endotelial é exposição de fatores adesinogênicos dele na superfície – tendo um processo de hiperplasia e fibrose na parede dos vasos de maior calibre, como obstrução progressiva do lúmem, além da inflamação sistêmica crônica produzir ainda hipercoagulabilidade, facilitando surgimento de tromboses. Também ocorre vaso oclusão capilar – que caracteriza as crises falcêmicas. Já a lesão crônica da parede vascular associada à hipercoagulabilidade – explica vasculopatia mascroscópica – com complicações como AVE isquêmico e Hipertensão Pulmonar. VASO-OCLUSÃO CAPILAR O evento mais clássico da anemia falciforme. Também justifica as crises álgicas (de dor), mas também ocorre de forma crônica, em baixa escala, levando a disfunção orgânica progressiva (pequenos infartos teciduais cumulativos) Adesão de hemácias ao endotélio das vênulas pós capilares – lentificando o fluxo sanguíneo local. Impactação e empilhamento de hemácias a montante – Inicialmente as ISC e posteriormente as hemácias não afoiçadas. A estase sanguínea subsequente produz hipóxia e acidose, o que faz o afoiçamento se generalizar, criando obstrução microvascular propriamente dita – ocasionando isquemia tecidual. Adesão de hemácias pode ocorrer espontaneamente, mas também pode ser precipitada por fatores endógenos – qualquer tipo de estresse – frio, desidratação, infecção – fatores que aumentam a chance de polimerização da HbS, mas também estimulam diretamente a resposta inflamatória – ativando ainda mais as células endoteliais, aumentando a exposição de moléculas adesiogênicas – estopim para que um grande número de hemácias fique presas na microcirculação. CONSEQUÊNCIAS DA VASO-OCLUSÃO Isquemia tecidual, com focos de necrose em MO, medula renal, baço, pulmões, intestino. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os sintomas da anemia costumam ser mais leves do que o esperado para a severidade da anemia, porque a Hb S libera oxigênio nos tecidos com mais facilidade do que a Hb A, pois a sua curva de dissociação é desviada para a direita. A clínica da doença é muito variada da Hb SS é muito variável, com alguns pacientes sem crise e outros sofrendo crises desde os primeiros meses de vida, podendo morrer no início da infância ou quando adultos jovens. Essas crises podem ser: vasoclusivas, viscerais, aplásticas ou hemolíticas: (1) Crises Vasoclusivas: são as crises mais frequentes. São precipitadas por fatores como a infecção, acidose, desidratação e desoxigenação (altitude, cirurgia, parto, estase circulatória, exposição ao frio, exercício violento). Infartos dolorosos nos ossos (quadril, ombros e vértebras são comumente afetados). Síndrome mão-pé (dactilite doloroda causada por infarto dos pequenos ossos): pode ser a primeira apresentação da doença e pode causar variação de tamanho dos dedos. Pode atingir também pulmões, baço. Porém a crise mais fatal é a cerebral (AVC) e de medula espinal. (2) Crises de Sequestro Visceral: são causadas por deformação falciformes de eritrócitos e retenção de sangue em órgãos, quase sempre associado a anemia grave exacerbada. Síndrome falcêmica torácica: paciente apresenta-se com dispneia, queda de PO2, dor torácica e infiltrado pulmonar no RX. Deve ser tratado com analgesia, oxigênio, exsanguiotransfusão e suporte ventilatório. Quadro bastante grave. Sequestro esplênico: ocorre esplenomegalia, queda da hemoglobina e dor abdominal. O tratamento é feito com transfusão. Essas crises tendem a ser recidivantes e com necessidade de esplenectomia. (3) Crises aplásticas: Podem ocorrer devido infecções por parvovírus ou por deficiência de folato. É caracterizada por queda subida da hemoglobina e em geral exige transfusão. Além da queda da Hb, há também queda da contagem de reticulócitos. (4) Crises Hemolíticas: caracterizadas por aumento do ritmo de hemólise com queda na Hb e aumento na reticulose. Geralmente é acompanhada de crises dolorosas. Outros aspectos clínicos: úlceras nas extremidades das pernas (causadas por estase vascular e isquemia local), baço aumentado em lactentes e no início da infância, mas depois acaba diminuindo de tamanho por causa de infartos, HAS pulmonar, aumento da velocidade de regurgitação tricúspide, retinopatia proliferativa, priapismo, lesão crônica do fígado, cálculos vesiculares de pigmento (bilirrubina). DIAGNÓSTICO Hemoglobina baixa (entre 6-9 g/dL). Eritrócitos falciformes e células em alvo no sangue. Corpúsculos de Howell-Jolly também podem estar presentes, mostrando aspecto de atrofia esplênica. 8 Tutorial 4 – Vitor Benincá Exames de triagem: deformidade falciforme. Eletroforese de Hb: na Hb SS a Hb A não é detectada. RASTREIO PRÉ-NATAL Nas gestações onde existe risco de HbSS (homozigota) no concepto – seria os dois pais com traço ou anemia falcêmica. Diagnóstico por meio da biópsia de vilo coriônico – análise genética Aborto é proibido se descoberto. NEONATAL No Brasil, todos os recém-nascidos, por lei, devem realizar o teste do pezinho (2-30 dias de vida) – para detectar uma série de doenças genéticas, como a anemia falciforme. Se descobrir usa medidas preventivas. TRATAMENTO 1. Profilaxia das crises: evitar fatores conhecidos que precipitam as crises (desidratação, anoxia, infecções, estase de circulação e resfriamento da pele). 2. Ácido Fólico (5 mg 1x por semana) 3. Boas condições de nutrição e higiene. 4. Vacinação contra pneumococo, haemophilus e meningococo. Penicilina oral deve ser administrada na ocasião do diagnóstico até pelo menos a puberdade. Transfusõessão eventualmente necessárias. 5. Nas crises: tratar com repouso, aquecimento, hidratação via oral ou intravenosa, antibióticos (se houver infecção), analgesia (paracetamol, AINEs e opiáceos), transfusão de sangue é feito somente se houver sintomas sérios de anemia, exsanguinotransfusão (quando houver sequestro visceral e crises dolorosas repetidas- objetivo de diminuir a Hb S para 30% ou menos). 6. Em grávidas, deve-se fazer transfusões de glóbulos para diminuir níveis de Hb S durante a gravidez, antes do parto e em cirurgias de pequeno porte. 7. Transfusões: algumas vezes são feitas repetidamente como profilaxia em pacientes com crises frequentes ou com lesões de órgãos importante (ex: lesão cerebral). 8. Hidroxicarbamida (não deve ser usado durante a gravidez). 9. Transplante de células tronco. COMPLICAÇÕES CRISE ÁLGICA – dor aguda é o sintoma inicial da AF em >25% dos casos. Por isso pacientes procuram o auxílio médio. A forma mais comum é a crise esquelética – vaso oclusão na MO. Região dorso- lombar, tórax, extremidades e abdome são os locais mais frequentes de dor. 4 a 10 dias de dor. Analgésicos, hidratação DOR CRÔNICA – Possuem fraturas vertebrais, úlceras cutâneas persistentes – analgésicos CRISES ANÊMICAS – Devido à meia-vida curta das hemácias. Crise aplásica, megaloblástica, sequestro pulmonar/esplênico/hepático pode ocorrer, crises hiper-hemolíticas INFECÇÕES – Com febre... inicia antibioticoterapia empírica AVE – Uma das complicações mais devastadoras. Transfusão de troca parcial crônica (profilaxia primária e secundária). O maior fator de risco para desenvolver AVE é a história de AVE prévio. No AVE Agudo – transfusão de troca parcial també. Faz TC de crânio, arteriografia cerebral... COMPLICAÇÕES PULMONARES – Síndrome torácica aguda (infiltrados pulmonares novos, com febre, tosse, dor torácica, secreção purulenta, dispneia e hipoxemia) Hipertensão Pulmonar (acredita-se que pela depleção de NO endotelial) COMPLICAÇÕES HEPATOBILIARES – Colelitíase por cálculos de bilirrubinato de Ca (comprometimento usual de doenças hemolíticas). Pancreatitie aguda biliar também pode ocorrer COMPLICAÇÕES GENITURINÁRIAS – Insuficiência renal terminal é uma das principais disfunções orgânicas crônicas da AF. Necrose de papila, hipostenúria (perda da capacidade de concentração urinária máxima), GEFS, PRIAPISMO!!! COMPLICAÇÕES OCULARES – Retina é um outro órgão alvo da anemia falciforme COMPLICAÇÕES ESQUELÉTICAS – Expansão da MO Vermelha produz deformidades como turricefalia e proeminência exagerada da fronte, OSTEONECROSE, Crise mão-pé (vaso-oclusão dos ossos das extremidades), osteomielite por Salmonella. COMPLICAÇÕES DERMATOLÓGICAS – Úlceras cutâneas crônicas COMPLICAÇÕES CARDÍACAS – Aumento do DC resulta em dilatação das câmaras cardíacas – cardiomegalia e sopros de regurgitação mitral e tricúspide. Geralmente em crianças COMPLICAÇÕES OBSTÉTRICAS – Gestação falcêmica tem maior frequência de crises álgicas, além de demandar mais ferro e ácido fólico, risco de ITU, pneumonia também aumentam. DIU é o método contraceptivo indicado (sem estrogênio) TRAÇO DE CÉLULAS FALCIFORMES Ocorre por condição heterozigótica para Hb S, sendo uma condição benigna, sem anemia e com aspecto normal dos eritrócitos nas distensões do sangue. Hematúria é o sintoma mais comum, e geralmente é causado por pequenos infartos de papila renal. Na eletroforese de hemoglobina vamos ter 40% da hemoglobina S e 60% da A normal Portadores do traço falcêmico são assintomáticos, não apresentam anemia ou crise vaso-oclusivas. Expectativa de vida é igual a da população em geral e não se esperam disfunções orgânicas progressivas Não há necessidade de qualquer tipo de tratamento. Somente lembrar que pode ocorrer algumas complicações em ambientes com baixa tensão atmosférica de O2, existindo o sequestro esplênico. Em escaladas os voos despressurizados. Também é válido lembrar que mesmo ao nível do mar, portadores de traço, assim como os falcêmicos – desenvolvem lesão isquêmica de Medula Renal – hipostenúria (densidade <1,008) no EAS. Outra complicação associada ao traço é o carcinoma de medula renal.
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