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A investigação laboratorial complementar é fundamental para a confirmação do diagnóstico etiológico das anemias. Índices Hematimétricos: são “peças” fundamentais na avaliação inicial do diagnóstico etiológico das anemias e, quando associados ao quadro clínico, podem trazer forte suspeita diagnóstica, algumas vezes suficiente para o início da terapia. São eles: (1) VCM ou VGM: Volume Corpuscular (ou Globular) Médio, isto é, o volume médio das hemácias, medido em fentolitros; (2) HCM ou HGM: Hemoglobina Corpuscular (ou Globular) Média, isto é, a massa de hemoglobina média das hemácias, medida em picogramas; e (3) CHCM ou CHGM: Concentração de Hemoglobina Corpuscular (ou Globular) Média, medida em g/dl. Índice de Anisocitose (RDW): indica a variação de tamanho entre as hemácias, sendo normal até 14%. Vários tipos de anemia podem elevar o RDW, porém uma causa comum de anemia cursa com este parâmetro caracteristicamente normal: beta-talassemia minor. A anemia ferropriva possui RDW aumentado, portanto, este parâmetro pode ser útil (mas nunca definitivo) para diferenciar, diante de uma anemia microcítica, entre ferropriva e talassemia minor. Na anemia ferropriva, o RDW encontra-se em torno de 16%, enquanto na talassemia minor, está próximo a 13%. Leucócitos e Plaquetas: a presença de pancitopenia (anemia + leucopenia + plaquetopenia) sugere anemia aplásica ou leucemia aguda. Uma pancitopenia leve a moderada pode ocorrer na anemia megaloblástica, mielodisplasias, neoplasias hematológicas ou não hematológicas metastáticas. A anemia autoimune pode cursar com plaquetopenia (também autoimune), levando a uma bicitopenia (síndrome de Evans). O achado de anemia microcítica hipocrômica com trombocitose (aumento da contagem plaquetária) é muito sugestivo de anemia ferropriva. A associação de anemia com leucocitose e trombocitose está presente no sangramento agudo e nas síndromes mieloproliferativas. Contagem de Reticulócitos: os reticulócitos são as células imediatamente precursoras das hemácias representando normalmente 0,5- 2% do total de células vermelhas circulantes. São reconhecidos pela análise do esfregaço do sangue periférico (corado pelo azul de metileno novo ou azul brilhante de cresil), aparecendo com um reticulado azul em seu interior, material correspondente ao RNA ribossômico. Alguns aparelhos são capazes de contar os reticulócitos de forma automática. A presença de reticulocitose indica dois grandes grupos de anemias: (1) anemias hemolíticas; (2) anemia por hemorragia aguda. Essas são as duas únicas formas de anemia que se originam por “perda” periférica de hemácias, sem nenhum comprometimento da medula óssea (direto ou indireto). Como a capacidade de produção dessas células está intacta, há, na tentativa de corrigir a anemia, intensa proliferação medular da linhagem vermelha, com consequente aumento de hemácias jovens (reticulócitos) na corrente sanguínea. Ou seja, a presença de reticulocitose indica que a medula está hiperproliferativa: um mielograma mostraria intensa hiperplasia eritroide. Esfregaço do Sangue Periférico (Hematoscopia): esse é um dos mais importantes exames para avaliação etiológica da anemia e deve ser feito de forma rotineira pelo hematologista. É um exame bastante simples: utilizando-se uma gota de sangue (obtida após lancetar a ponta do dedo do paciente, ou mesmo do sangue colhido para o hemograma), faz-se um esfregaço ou distensão sanguínea em uma lâmina com a ajuda de outra lâmina. Podem-se observar: (1) o tamanho dos eritrócitos, comparando-os ao núcleo de um linfócito normal; (2) acromia dos eritrócitos – hemácias hipocrômicas possuem apenas um pequeno halo róseo envolvendo um grande centro claro; (3) o grau de anisocitose – se houver anisocitose acentuada, são vistas hemácias pequenas, normais e grandes em vários campos da lâmina; (4) poiquilocitose ou pecilocitose: hemácias de várias formas, com formato bizarro – alguns tipos de pecilócitos são típicos de determinadas etiologias; (5) presença de inclusões hemáticas, sugestivas de algumas patologias; e (6) alterações dos leucócitos ou plaquetas típicas de certas desordens – ex.: neutrófilo hipersegmentado na anemia megaloblástica, megatrombócitos e fragmentos de megacariócitos na mielofibrose, neutrófilos hipo ou agranulares e com anomalia do tipo pseudo-Pelger-Huet na mielodisplasia. Bioquímica Sérica: A anemia geralmente está presente quando a creatinina está acima de 2,5 mg/dl. As anemias hemolíticas cursam com hiperbilirrubinemia indireta, aumento do LDH e redução da haptoglobina. A destruição celular na anemia megaloblástica ocorre dentro da medula óssea (eritropoiese ineficaz), levando a um quadro bioquímico semelhante ao das anemias hemolíticas. O ferro sérico está reduzido na anemia ferropriva e na anemia de doença crônica. A saturação de transferrina < 15%, calculada dividindo- se o ferro pelo TIBC (capacidade de ligação total da transferrina), e uma ferritina sérica < 10 ng/ml confirmam o diagnóstico de anemia ferropriva. As dosagens da vitamina B12 e ácido fólico são de grande valia na avaliação etiológica da anemia megaloblástica, assim como o ácido metilmalônico. Aspirado de Medula Óssea: este exame é restrito aos casos de anemia em que o diagnóstico não pôde ser feito pelos exames propostos acima, ou quando a suspeita principal é de uma neoplasia hematológica do tipo leucemia ou mieloma múltiplo. É realizado com uma agulha própria, na crista ilíaca, sendo feita a distensão do aspirado em várias lâminas, que são devidamente coradas por corantes específicos. O número absoluto e relativo dos precursores hematopoiéticos pode ser avaliado, bem como suas alterações qualitativas, destacando-se a megaloblastose e a diseritropoiese, esta última caracterizando as mielodisplasias. Utilizando corantes especiais para ferro (azul da Prússia), podemos detectar os sideroblastos em anel das anemias sideroblásticas e avaliar os depósitos de ferro nos eritroblastos e macrófagos medulares, confirmando alguns casos de anemia ferropriva de difícil diagnóstico. Os diagnósticos de anemia aplásica, leucemia, mielodisplasia, mieloma múltiplo e anemia sideroblástica só são possíveis com o exame da medula óssea. Bibliografia Hall, John E. Tratado de fisiologia médica.13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. HOFFBRAND, A. V. Fundamentos em Hematologia. 7ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2018. SOUZA, M. H. L.; ELIAS, D. O. Manual de Instrução Programada Interativa. Princípios de Hematologia e Hemoterapia. Rio de Janeiro, RJ: Centro de Estudos Alfa Rio, 2005. Tratado de hematologia. São Paulo: Editora Atheneu, 2013.
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