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Morte e desenvolvimento humano - MJ Kovács, cap.9

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Morte, separação, perdas e o processo de luto
Morte e desenvolvimento humano, cap.9 – Kovács
Eros e Morte
- A morte do outro configura-se como a vivência da morte em vida, é como se uma parte nossa morresse, uma parte ligada a outros pelos vínculos estabelecidos e esse tipo de morte é vivenciada desde a mais tenra infância (separação da figura materna ou mortes parentais e de conhecidos)
- A perda e a sua elaboração são elementos contínuos no processo de desenvolvimento ® morte consciente, morte vivida
- A morte como perda nos fala em primeiro lugar de um vínculo que se rompe, de forma irreversível
- No luto elaborado o outro é em parte internalizado nas memórias e lembranças
- A morte como perda evoca sentimentos fortes, pode ser então chamada de "morte sentimento" e por ser vivenciada conscientemente, muitas vezes, é mais temida do que a própria morte
- A morte como perda supõe um sentimento, uma pessoa e um tempo: se ocorre de maneira brusca e inesperada tem uma potencialidade de desorganização, paralisação e impotência
- Embora saibamos racionalmente que a morte é inevitável, este saber nem sempre está presente, fazendo surgir o paradoxo da morte (in)esperada.
- Ver a perda como uma fatalidade, ocultar os sentimentos, eliminar a dor, podem ser formas de negar os sentimentos que a morte provoca, para não sofrer.
- Cada cultura apresenta algumas prescrições de como a morte deve ser enfrentada e quais os comportamentos e rituais que devem ser cumpridos pelos enlutados
- No século XX houve uma supressão da manifestação do luto, a sociedade condena a expressão e a vivência da dor, atribuindo-lhes uma qualidade de fraqueza. Os rituais clamam pelo ocultamento e disfarce da morte, como se esta não existisse ® do ponto de vista psicopatológico isso é ruim
- Raimbault e o processo de luto:
1. Uma desidentificação e um desligamento dos sentimentos em relação ao morto.
2. A aceitação da inevitabilidade da morte.
3. Quando for possível encontrar um substituto para a libido desinvestida
- Bowlby e as fases do luto:
1. Fase de choque que tem a duração de algumas horas ou semanas e pode vir acompanhada de manifestações de desespero ou de raiva (expressões emocionais intensas)
2. Fase de desejo e busca da figura perdida, que pode durar também meses ou anos. Há um conflito entre a realidade da perda e a esperança do reencontro
3. Fase de desorganização e desespero.
4. Fase de alguma organização, se processa uma aceitação da perda definitiva e a constatação de que uma nova vida precisa ser começada. Estes momentos podem trazer saudades e a necessidade da presença do outro novamente. Portanto, embora numa fase de aceitação e de novas buscas, a saudade, a tristeza podem retornar, tornando o processo de luto gradual, e nunca totalmente concluído.
- A raiva torna-se instrumental, quando se trata de uma perda temporária, porque pode promover um reencontro e tornar uma nova separação mais difícil. Esta raiva é, muitas vezes, transferida para os amigos que estão no papel de consolar o enlutado, mas que indiretamente confirmam a realidade da perda
- A esperança intermitente, os desapontamentos repetidos, o choro, a raiva, as acusações, a ingratidão com as pessoas próximas, a sensação de que nada mais tem valor, são manifestações da segunda fase do luto.
- Na 4ª fase do luto podem ocorrer conflito e mal-estar quando a pessoa, de repente, se percebe fazendo coisas que nunca fazia, nem gostava, que eram as atividades do cônjuge
- A identificação pode ocorrer também quando o enlutado passa a manifestar os mesmos sintomas do morto, acredita que o morto está presente em certos objetos ou pessoas
“O tempo de luto é variável e em alguns casos pode durar anos. Pode-se dizer que em alguns casos o processo de luto nunca termina, com o passar do tempo, uma profunda tristeza, um desespero e um desânimo tomam conta, quando se recorda o morto, embora estes sentimentos ocorram com menos frequência. O traço mais permanente do luto é a solidão”
- Para Bowlby existem alguns fatores que atrapalham o processo de luto:
1. Identidade e papel da pessoa que foi perdida.
2. Idade e sexo do enlutado.
3. As causas e circunstâncias da perda.
4. As circunstâncias sociais e psicológicas que afetam o enlutado, na época e após a perda.
5. A personalidade do enlutado, com especial referência a sua capacidade de amar e responder a situações estressantes
- A perda é considerada como uma crise e que será enfrentada com as caraterísticas que a pessoa já possuía.
- As causas e circunstâncias da perda também têm uma importância no processo de elaboração desta
- Mortes inesperadas são bastante complicadas, pela sua característica de ruptura brusca, sem que pudesse haver nenhum preparo
- A mutilação do corpo, costuma ser um fator agravante, gera revolta e desespero
- Podem se manifestar sentimento de culpa muito fortes, caso a morte tenha ocorrido num acidente, em que o enlutado também estava presente e sobreviveu
- No caso de doenças graves, em que houve um período longo de cuidados com o morto, pode ocorrer o que se chama de "luto antecipatório". O processo de luto ocorre com a pessoa ainda viva, e é sentida a sua perda como companheiro para uma série de atividades ® A pessoa ainda não morreu, mas estas perdas já têm de ser elaboradas, com ela ainda viva e de ambos os lados
- Ver a dor e sentir-se impotente para promover seu o alívio e o bem-estar da pessoa amada é causa de muito sofrimento. Portanto, a morte do doente pode trazer um certo alívio, mas, também, incitar sentimentos de culpa, pois a pessoa acredita que não tratou o outro da melhor forma possível e com isso não evitou a sua morte
- Em alguns casos, foram tantos anos de dedicação com o paciente, que quando este morre, fica a sensação de vazio
- Relacionamentos carregados de hostilidade, ressentimento e mágoa são mais difíceis de serem elaborados. É muito desesperante se um pouco antes da morte houve desentendimento, mágoa, ofensa, com muito ressentimento.
- O suicídio é uma das mortes mais difíceis de elaborar, pela forte culpa que desperta. Ativa a sensação de abandono e impotência em quem fica
- Outros fatores psicológicos e sociais também afetam o luto, como por exemplo as condições de vida do sobrevivente, se vive sozinho, se tem de cuidar de outras pessoas, além das condições econômicas e da idade
- Bowlby fez um estudo sobre o luto infantil e percebeu que este sofre influência do processo de luto dos adultos, e do nível de informação que a criança recebeu. A criança tal como o adulto começa negando que houve uma perda e age como se a pessoa não tivesse morrido, ela também pode achar que tem culpa com o ocorrido e pode desenvolver os mesmos sintomas do morto pelo processo de identificação
- Os pais escondem os seus sentimentos para não entristecer a criança, e este procedimento acaba por causar mais problemas, pois esta sente que também não deve manifestar os seus sentimentos 
- a continência e o apoio são extremamente importantes para a criança
- Uma das principais razoes para a manifestação de sintomas patológicos na criança é esconder fatos que são evidentes achando que a está protegendo
- Mesmo em bebês, quando se quebra o vínculo com a mãe (por morte ou ausência), o luto é sentido e as vezes isso pode acarretar problemas de desenvolvimento, apatia, desespero e até uma depressão anaclítica conduzindo à morte
- Luto patológico: para Bowlby, a exacerbação dos processos presentes no luto normal, com uma duração muito longa e com características de obsessividade, configuram um processo patológico
- Luto saudável: é a aceitação da modificação do mundo externo, ligada à perda definitiva do outro, e a consequente modificação do mundo interno e representacional, com a reorganização dos vínculos que permaneceram
Freud
- O luto é a reação à perda de um ente querido, em que ocorre um profundo desânimo, cessação de interesse pelo mundo externo, perda da capacidade de amar e inibição de atividades externas. É um verdadeiro teste de realidade. O desligamento envolve lembranças, expectativas vinculadasao objeto e a realização do desinvestimento de cada uma delas, o que pode ser lento e doloroso, mas quando termina o ego permanece desinibido e livre para a formação de novos vínculos
- A melancolia (depressão) ocorre em pessoas que têm uma disposição patológica e há um rebaixamento da autoestima, havendo uma autorrecriminação e uma expectativa de punição ® é como se uma parte do ego ficasse contra a outra
- Outros processos patogênicos que se apresentam e que tornam o luto patológico são a ambivalência e a culpa.
“E patente a ligação da melancolia com o suicídio. Os impulsos assassinos contra o objeto perdido são voltados contra si próprio. A pessoa tende a se ver também como um objeto, e daí dirige para si a hostilidade relacionada com o outro. Muitas vezes, a melancolia se transforma em mania, há uma procura voraz de novas ligações.”
Melanie Klein (1940) 
- Estabelece a relação do processo de luto com os estágios iniciais do desenvolvimento infantil: Experiências desagradáveis, ou a falta de experiências amorosas e prazerosas, podem diminuir a confiança, aumentar a ambivalência e confirmam a ansiedade em relação à aniquilação interna e perseguições externas
- No início do desenvolvimento, o ego não tem armas eficazes para lidar com a culpa e com a ansiedade. Este ego infantil busca então lidar com os medos da desintegração através de tentativas de reparação, que, quando maníacas e obsessivas, não permitem a recriação da paz interna e da harmonia.
- O enlutado passa por um estado maníaco-depressivo transitório e modificado, superando os processos infantis através da sua repetição em diversas circunstâncias e com diferentes manifestações
- A sublimação e a busca de novas atividades são também formas de lidar com a dor.
- No processo normal de luto o indivíduo reintrojeta e reinstala a pessoa perdida, bem como seus pais amados que são os objetos internos "bons”
- Muitas tentativas de suicídio podem ser a forma de destruir os pais internos "maus", que frustram, abandonam e perseguem
- Tanto nos processos de luto normal, como no patológico, a posição infantil depressiva é reativada, pois aqueles indivíduos que não conseguem elaborar o luto, durante a infância, não conseguiram estabelecer os seus objetos internos "bons", e não se sentiram seguros no mundo
Igor Caruso (1982)
- Segundo Caruso, estudar a separação amorosa é estudar a presença da morte em nossa vida. É uma morte psíquica na vida dos seres humanos. Separar ou partir é morrer um pouco.
- A separação é a vivência da morte numa situação de vida e desenvolve-se:
1. A catástrofe do ego: com a separação produz-se uma morte na consciência, daí o desespero. Ocorre uma mutilação egbicà, a identidade sucumbe, o que aciona os mecanismos de defesa para que esta morte não aniquile a consciência e não leve ao suicídio, uma atuação psicótica
2. A agressividade: esta pode surgir como mecanismo defesa, atacando aquele que abandonou. A desvalorização do ausente é uma forma de tentar reconciliar o ego ferido com o ideal abalado. O amor pode se transformar em ódio, favorecendo o desligamento do objeto
3. A indiferença: há uma experiência de "pouco importa". Força-se diminuição da idealização egóica. Esta indiferença pode ocorrer em meio ao desespero. E um embotamento afetivo, uma repressão das uma repressão das fantasias sexuais. Pode-se traçar uma analogia com a rigidez da morte, uma renúncia ao prazer
4. A fuga para diante: é uma busca de novas atividades ou de novas formas de prazer. Procuram-se intensamente novas relações, como substituição ao parceiro perdido. O ego sofredor necessita de consolo.
5. A idealização: é uma forma de depuração, uma filosofia estoica, heroica. É uma rebelião contra o processo de "morte" que procura se instalar
- O suicídio pode ser um e preventivo contra uma separação; quando o indivíduo sente a relação ameaçada e o perigo de abandono, mata-se antes de viver a separação
- Melancolia pode ser considerada como uma vitória da pulsão da morte
“As várias fases do desenvolvimento são também experiências de morte em vida. O desenvolvimento futuro representa perda, morte e sacrifício de formas anteriores. Como nos dizem Aberastury e Knobel (1973), o adolescente tem de realizar o luto do corpo, da identidade e dos pais infantis. Há a perda de algo conhecido e a angústia diante do novo”
- A velhice é também um momento de profundas separações: despedir-se do trabalho, dos familiares, do corpo....
- A expressão de sentimentos numa situação de perda, como o abandono e a solidão, que evocam a raiva, a tristeza e a culpa, facilita a sua elaboração
- O processo psicoterápico pode, em muitos momentos, configurar-se como um elemento preventivo para que não se desenvolva um processo de luto patológico

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