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Efeito Hall em Semicondutores Enrique Cavalcante, Geiza Barros e Henrique Rocha Deparatamento de Engenharia Elétrica e de Computação (DEEC) Universidade Federal da Bahia (UFBA) Salvador, Bahia Resumo—São explorados a distinção dentre os tipos de se- micondutores, a descoberta do Efeito Hall, a Fundamentação Fı́sica em que se baseia, a descrição de seu funcionamento e as principais aplicações. Index Terms—Efeito Hall, Semicondutores, Ciência dos Mate- riais I. INTRODUÇÃO O Efeito Hall é um fenômeno que ocorre tanto em metais quanto em semicondutores, sendo a sua descoberta muito importante para o desenvolvimento de tecnologias com esses materiais. A descoberta de materiais semicondutores, posterior à descoberta do efeito em si [11], trouxe uma releitura acerca das aplicações do Fenômeno, uma vez que, agora, havia a diferenciação da mobilidade em função de elétrons e buracos. Essa nova perspectiva possibilitou uma grande revolução na indústria eletrônica. A ênfase deste trabalho, portanto, se dá na discussão que envolve o Efeito Hall em materiais semicondutores. O fenômeno se baseia na criação uma tensão perpendicular a um condutor que é atravessado por uma corrente elétrica, de- vido à existência de um campo magnético externo, baseando- se na força de Lorentz. A partir desse conceito, é possı́vel fazer medidas em pontos estratégicos em semicondutores, de modo a encontrar valores como resistência da folha, resistividade ou mobilidade. II. SEMICONDUTORES O inı́cio do desenvolvimento na área dos semicondutores começa basicamente a partir do estudo relacionado à condução de eletricidade, estudo este que, primordialmente, possibilitou identificar os materiais que conduzem ou não eletricidade e, à posteriori, tornou possı́vel a descoberta de materiais de caracterı́stica intermediária. Nesta linha de pesquisa, a respeito da condutividade elétrica dos materiais, temos vários cientistas como percursores, podemos destacar como importantı́ssimos nesse ramo Willougby Smith, Alexandre Volta e Michael Faraday. Basicamente um material semicondutor, como já eviden- ciado, é um tipo de material de caracterı́sticas intermediárias, isto é, possui caracterı́sticas tanto isolantes, quanto condutoras e sua existência impulsionou a tecnologia de modo que tornou possı́vel o avanço tecnológico atual, principalmente no que se refere à eletrônica. No estudo desse material, em 1873, Willougby Smith, notou que o mesmo tornava-se mais condu- tivo ao ser iluminado, ou seja, sua resistência diminuı́a com sua exposição a luz, o que caracteriza mais uma caracterı́stica importante desse material, chamada fotocondutividade. Entretanto, somente extrair um material semicondutor da natureza e aplicar suas capacidades semicondutoras não era tão fácil devido ao mesmo, ainda que semicondutor, não ser tão condutor quanto necessário. Logo, ao longo dos anos, estudos se moldaram de modo a transformar o mesmo em mais condutor. Cria-se então um processo chamado “Processo de Dopagem”. O que de fato torna possı́vel essa capacidade intermediária do semicondutor é sua estrutura cristalina (arranjos equidistan- tes regulares de átomos) e a relação entre impureza doadora e impureza aceitadora, que é acentuada no processo de dopagem. Como pode-se notar na figura 1, temos de modo ilustrado que um semicondutor possui uma camada de valência, uma zona proibida e uma camada de condução, proporcionais entre si de modo que seja possı́vel suas capacidades semicondutoras. Figura 1: Nı́vel de energia e bandas [10] A. Semicondutores Intrı́nsecos e Extrı́nsecos Como evidenciado anteriormente, determinados semicondu- tores possuem uma condutividade muito baixa, necessitando- se de métodos aditivos para aumentar este valor. Estes semicondutores de baixa condutividade damos o nome de intrı́nsecos. O semicondutor intrı́nseco (elementar) tem comportamento elétrico baseado na estrutura eletrônica baseada com o material puro, como por exemplo o Silı́cio puro. Esta classificação do material é aquela largamente encontrada na natureza, isto é, a concentração, em termos quantitativos, de carga positiva, é igual à concentração de portadores de carga negativa. Por outro lado, o semicondutor extrı́nseco, também cha- mado de semicondutor dopado, é formado com a introdução de determinada impureza para controle de suas caracterı́sticas elétricas, isto é, tem suas caracterı́sticas elétricas baseadas pe- los átomos de impurezas, podendo ser de dois tipos: n, quando os portadores de cargas são majoritariamente os elétrons e p, quando os portadores de carga são majoritariamente os buracos. Exemplos desses semicondutres são: Silı́cio com fósforo (extrı́nseco do tipo N), Silı́cio com Boro (extrı́nseco do tipo P). B. Semicondutores dos Tipos N e P Semicondutores do tipo N ou P são materiais da famı́lia dos semicondutores extrı́nsecos e recebem essa nomenclatura devido à determinada dopagem estabelecidade. A depender da escolha da impureza cria-se cada determinado tipo. Quando tipo N, temos uma substância dopada com impure- zas doadores (átomos pentavalentes), chama-se doadora devido ao excesso de elétrons na dada nova estrutura. Tratando do silı́cio, por exemplo, essa dopagem é feita com átomos como o fósforo e o arsênio. Quando tipo P, temos a dopagem com impurezas aceitadoras (átomos trivalentes), aceitadoras devido à falta de um elétron na dada nova estrutura. Novamente tratando do silı́cio essa dopagem poderia ser feita com alumı́nio ou boro. III. EFEITO HALL A. Experimento e Descoberta Em 1879 o fı́sico estadunidense Edwin Hall, em seus experimentos de doutoramento, descobriu o que seria, em um futuro próximo, peça chave na industria eletrônica, baseada em dispositivos dependentes da semicondutância. Esta foi batizada posteriormente como efeito Hall. De forma direta o efeito Hall possibilitou a obtenção de dois resultados importantı́ssimos. O primeiro o de que é possı́vel a determinação do sinal de carga dos portadores, sendo ne- cessário somente a medição da diferença de potencial (ddp) entre as superfı́cies, e, por fim, a de que, com manipulações matemáticas, torna-se possı́vel a definição da densidade de portadores. B. Força de Lorentz O mecanismo que age para que ocorra o Efeito Hall é chamado Força de Lorentz [1], exercida sobre uma partı́cula microscópica carregada que se move na presença de um campo magnético em uma direção z, ~Bz . Segundo esse mecanismo, a força gerada quando o movimento dos elétrons acontece em uma direção x é perpendicular a essa direção, y, e é dada por: ~F = −q~v × ~B, sendo q a carga do portador, ~v sua velocidade, e B o campo magnético ao qual a carga está submetido. C. Descrição e Funcionamento Como ilustrado na Figura 2, o Efeito Hall descreve o fenômeno que ocorre quando um objeto que conduz uma cor- rente I é submetido a um campo magnético ~Bz , perpendicular à corrente. A força magnética atuará sobre os elétrons do condutor, concentrando as cargas de valor negativo em um dos lados, deixando o outro com menos elétrons e, portanto, positivo. Figura 2: Esquema do Efeito Hall [4] O acúmulo de elétrons em um dos lados do objeto produz um campo elétrico, criando uma força ~Fe oposta à magnética, que tende a desviar os elétrons para o lado onde há menor concentração de cargas negativas. Quando as duas forças em questão se igualam em módulo, os elétrons passam a se mover em linha reta com velocidade de deriva ~v e em sentido oposto ao da corrente, assim [3]: |~Fm| = |~Fe| q~v × ~B = q ~E A tensão de Hall, VH , é resultado da diferença de potencial causada pela separação de cargas, como segue [1]: VH =WEH , sendo EH o campo de Hall, na direção y, e W, a largura indicada na Figura 2. Pode-se expressar a tensão de Hall evidenciando o coeficiente Hall, RH : VH = IBz RHt , em que a corrente é como a indicada na Figura 2 et é a espessura do semicondutor. Para os semicondutores o RH é dada por [11]: RH = −nµ2e + pµ2b e(nµe + pµb) , onde n é a densidade para os elétrons como portadores de carga e p é a densidade para os buracos como portadores de cargas. Esta formulação se dá devido ao coeficiente de Hall depender, nos semicondutores, das mobilidades para os elétrons e buracos, respectivamente, µe e µb. Caso o campo magnético seja alto, diz-se que o coeficiente Hall é análogo ao caso de um único portador [11]. RH = −(p− nb2) e(p+ nb)2 , onde b é a razão das mobilidades Com o uso desses conceitos, aplica-se o Efeito Hall para en- contrar as caracterı́sticas acima listadas em diversos materiais, sejam eles magnéticos, ferrimagnéticos ou semicondutores, aos quais será dada a ênfase. Isso é possı́vel porque o valor de carga é conhecido, os valores de espessura do semicondutor, da intensidade da corrente e do campo são controláveis, e a tensão Hall pode ser medida. Portanto, a concentração de portadores de carga pode ser determinada por: n = InxBz qVHt . Ou, em buracos, por: p = IpxBz qVHt . Sabendo que a velocidade de deriva é dada por: vx = −µEx, em que Ex é o campo elétrico, pode-se reescrever a expressão para corrente como: Ix = qnµExWt, ou Ix = qnµ Vx L Wt. Portanto, a mobilidade dos elétrons pode ser determinada por [1]: µn = InxL qnVxWt . Ou, para buracos: µp = IpxL qnVxWt . Partindo dos conceitos descritos, há uma vasta aplicação no sentido de identificar diversos aspectos em semicondutores. IV. APLICAÇÕES DO EFEITO HALL A. Técnica de Van der Pauw A Técnica de Van de Pauw é uma das formas de aplicação do Efeito hall mais populares atualmente [1], e pode ser usada para medir a resistividade de uma folha fina, homogênea e com um formato arbitrário [8]. O método consiste em eleger quatro extremidades de determinada folha semicondutora submetida ao Efeito Hall. A Figura 3 exemplifica o correto posiciona- mento de terminais de contato conforme o formato da folha. Figura 3: Tipos de contato aplicados na Técnica de Van der Pauw [6]. Em todos os casos, há um campo na direção perpendicular à página, em direção ao leitor. O objetivo das medições com base nos princı́pios do Efeito Hall aplicado à Técnica de Van der Pauw é determinar a densidade de cargas da folha semicondutora [8]. Para isso, são feitas diversas aferições com corrente constante e um campo magnético aplicado perpendicularmente à superficie da folha, encontrando-se a tensão Hall. É selecionada uma folha de formato retangular, como a indicada na Figura 4 a) para descrever a Técnica. Inicialmente, são calculados dois valores de resistência, seguindo a Lei de Ohm: RA = V43 I12 , como na Figura 4 b) e RB = V14 I23 , como na Figura 4 c). Mede-se a voltagem V43 entre os terminais 4 e 3, e a voltagem V14 entre os terminais 1 e 4; além disso, I21 é a corrente através dos terminais 1 e 2, e I23 é a corrente através dos terminais 2 e 3; os amperı́metros são indicados por A, e os voltı́metros, por V. Conhecendo-se RA e RB , a resistência da folha, RS , é obtida a partir da seguinte relação [1]: e −πRARS + e −πRBRS = 1. Esse valor de RS é usado para encontrar a resistividade, sabendo que d é a espessura da folha: σ = RSd. Em seguida, como ilustra a Figura 4 d), é medida a voltagem Hall em uma das diagonais da folha, VH = V24, enquanto é aplicada uma corrente na outra diagonal, entre 1 e 3, Figura 4: Esquema da Técnica de Van der Pauw [7] perpendicular à aferição da tensão, na presença de um campo magnético na direção z. A concentração de cargas da folha é calculada como segue: ns = IB q|VH | Finalmente, a concentração de cargas do portador pode ser calculada, dividindo o valor de concentração de cargas da folha por sua espessura: n = ns d . Também é calculada a mobilidade do portador: µn = 1 qnSRS , alcançando os objetivos propostos pela Técnica. É importante ressaltar que o sucesso da técnica implica diminuir possibilidades de erros associados a medidas ou mau contato, sendo necessário observar aspectos como tamanho, espessura e homogeneidade da folha, além de buscar evitar efeitos fotovoltaicos e de fotocondutividade, sendo necessário fazer as medidas em um ambiente com reduzida iluminação [8]. O correto posicionamento dos terminais e a correta medição de voltagem, temperatura, corrente e intensidade de campo magnético também são essenciais. B. Sensor Hall Uma aplicação muito comum para o sensor de efeito Hall é na medição de velocidade de rotação de eixos. Para essa utilização, é inserido um imã em uma posição de uma roda ou engrenagem, que realiza movimento circular, e o sensor de efeito Hall é posicionado, de forma que toda vez que ocorra a passagem do imã pelo material sensor o campo magnético que ele gera provoque o apareceimento de uma tensão Hall, que é pequena e deve ser amplificada por meio de um circuito comparador. Nessa aplicação, esse sensor funciona como uma chave magnética e são gerados pulsos de tensão constante com a passagem do imã, apresentando nı́vel alto quando o imã passa pelo sensor e nivel baixo quando esse está distante, assim pela frequência desses pulsos pode ser determinada a velocidade do sistema. Figura 5: Ilustração do funcionamento de um sensor Hall [9]. C. Metais x semicondutores O efeito Hall ocorre em condutores de diferentes tipos como metais e semicondutores sendo importante na determinação da concentração de portadores de carga e da mobilidade eletrônica deles. Para os metais é possı́vel fazer experimentos que determinem as suas condutividades a diferentes temperaturas por meio desse efeito, sendo a condutividade menor com o aumento da temperatura. Sendo a condutividade dada por: σ = n|e|µe Para os semicondutores há uma tendência diferente, já que com o aumento da temperatura há um aumento na concentração de portadores de carga e a condutividade aumenta. Para esses, o experimento pode trazer resultados ainda mais completemos, já que é possı́vel avaliar o comportamento da concentração de portadores de carga para diferentes concetrações de impurezas do tipo n ou p e a variação com a temperatura, tendo grande importância para o desenvolvimento de tecnologias com semicondutores. Figura 6: Dependência da mobilidade dos elétrons e buracos para o Silı́cio dopado com várias concentrações de doadores e receptores [2]. V. CONSIDERAÇÕES FINAIS Observando a aplicabilidade do efeito Hall em dispositivos como o sensor hall, bem como sua contribuição em toda industria eletrônica é possı́vel induzir que esse fenômeno tem uma grande importância nas descobertas relacionadas a semicondutores e na ampliação das possibilades de utilização desses materiais. REFERÊNCIAS [1] ”Hall Effect”, in: Curso online: Semiconductor Phy- sics. University of Colorado Boulder. Disponı́vel em: https://www.coursera.org/lecture/semiconductor-physics/hall-effect- nLDzU. Acesso em 06 de dezembro de 2020. [2] W. Callister and Jr. D. Rethwish, “Ciência e Engenharia de Materiais: Uma Introdução”, oitava edição, GEN, pp. 637–638. [3] Halliday and Resnick, “Fundamentos de Fı́sica: Eletromagnetismo”, vol. 3, nona edição, GEN, pp. 195–196. [4] Blog: Eletrônica e Games. Disponı́vel em: http://eletronicaegames.blogspot.com/2011/08/sensores-de-efeito- hall.html. Acesso em 06 de dezembro de 2020. [5] P. Stroski “Efeito Hall: Funcionamento e sensor”, novembro de 2019, disponı́vel em: https://www.electricalelibrary.com/2019/11/10/efeito- hall-funcionamento-e-sensor/, acesso em 21 de novembro de 2020. [6] https://xiaoshanxu.unl.edu/system/files/sites/unl.edu.cas.physics.xiaoshan- xu/files/private/2016 05 20 Xiaozhe%20Hall%20Effect.pdf. Acesso em 09 de dezembro de 2020. [7] Narang, Deepa S. (2008). THERMOELECTRIC POWER OF TUNGS- TEN DISELENIDE GROWN BY A DIRECT VAPOUR TRANSPORT TECHNIQUE. ’Prajna’ - Journal of Pure & AppliedSciences. [8] Semiconductor Materials: The Hall Effect. Disponı́vel em: http://britneyspears.ac/physics/halleffect/hall.htm. Acesso em 09 de dezembro de 2020. [9] Hall Effect or Reluctor?. Disponı́vel em: https://www.haltech.com/hall- effect-or-reluctor/. Acesso em 11 de dezembro de 2020. [10] Disponı́vel em: https://voupassar.club/semicondutores-caracteristicas-e- aplicacoes/. Acesso em 11 de dezembro de 2020. [11] Efeito Hall. Disponı́vel em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Efeito Hall. Acesso em 11 de dezembro de 2020.
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