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1 ECO 1406 ECONOMIA BRASILEIRA II – 2011.1 NOTAS DE AULA – Período 1979-1984 Prof. Luiz Roberto A. Cunha RECESSÃO E ACELERAÇÃO INFLACIONÁRIA PÓS 2º. CHOQUE DO PETRÓLEO (ou o DECLÍNIO DO MODÊLO DE CRESCIMENTO EXTERNO COM ENDIVIDAMENTO) texto básico: “Ajuste Externo e Desequilíbrio Interno”, Dionísio Dias Carneiro e Eduardo Modiano (DDC/EM), cap. 11 do “A Ordem do Progresso”. I. CONTEXTO HISTÓRICO A) QUADRO POLÍTICO: 1980– ao longo do ano, greves de trabalhadores (50) e escalada atentados terroristas contra abertura política (46 atos contra juristas/OAB, sindicalistas, religiosos...); janeiro, morte min. Justiça Petrônio Portela; março, novo quadro partidário: governo ARENA = PDS (maioria absoluta 36 senadores e 212 deputados), oposição MBD= PMDB (20 senadores e 113 deputados), além de: PP (oposição de centro - Tancredo Neves e moderados MDB e dissidentes liberais ARENA, 10 senadores e 66 deputados), PDT (10 deputados), PTB (5 deputados) e PT (6 deputados); setembro, Emenda Constitucional (E.C.) no. 14, prorrogando mandato de prefeitos e vereadores até 01/1983; novembro, E.C. no. 15, restabelece eleições diretas para governadores e todo o Senado (preservados os mandatos dos então ‘biônicos’). 1981- ao longo do ano, negociações políticas pela liberalização do regime, pressões contrárias área de ‘segurança’ = novos atentados terroristas contra ‘abertura’, culminando 30/04 bombas no Riocentro (morte sargento e ferimentos oficial Exército, ligados ao DOI-CODI); agosto, gen. Golbery pede demissão da Casa Civil, discordância resultados inquérito militar Riocentro; setembro, pres. Figueiredo sofre enfarto, substituído pelo vice civil Aureliano Chaves; novembro, Figueiredo reassume, após tratamento EUA; novembro, “pacote eleitoral” para garantir vitória PDS eleições gerais 82 (proibição coligações, voto vinculado...); 1982– fevereiro, PP incorpora-se ao PMDB; maio, novo “pacote” eleitoral = diversos casuísmos para favorecer aliados governo (reabre filiações, amplia numero deputados, 2/3 quorum mudanças constitucionais, amplia Colégio Eleitoral delegados escolhidos Assembléias Estaduais, proíbe voto legenda...); junho/novembro, campanha eleições gerais (maiores história do país: Congresso Nacional, Governos Estaduais – de novo, desde 1965, eleitos voto direto – Assemb. Estaduais, Prefeitos – exceto áreas de segurança nacional – e Câmaras Municipais), com muitas restrições propaganda política (Lei Falcão); 15/11, eleições: governo (PDS) vence maior número estados (mantém maioria absoluta Col. Eleitoral), maioria Congresso (apenas Senado, parte biônico), oposição maioria dos votos, elege governadores: PMDB = SP (Franco Montoro), MG (Tancredo Neves), ES, MGS, PR, GO, PA, AM e AC, e PDT = RJ (Brizola), reação militares, frustrada pela ação min. Exército (gen. Walter Pires). 1983– ao longo ano diversas mudanças política salarial; abril, proposta E.C. eleições diretas presidente (dep. Dante Oliveira), campanha ‘Diretas Já’; julho, Figueiredo cirurgia cardíaca EUA, vice, A. Chaves volta assumir; julho, decreto governo federal ampliando controle sobre policiais militares estaduais; julho, diversas greves contra política econômica (especialmente política salarial), 21/07 “dia nacional protesto”; agosto, criação CUT; setembro/outubro, intensa discussão Congresso sobre política salarial. 1984 – janeiro, comício SP “Diretas Já” mais de 200 mil pessoas, ao longo do ano manifestações foram sendo ampliadas, Rio/SP comícios de 1 milhão pessoas; abril, derrota E.C. “Diretas Já” (não alcançou os 2/3 votos); agosto, vitória Paulo Maluf convenção PDS (derrota Disponibilizado por Otávio Merçon e todos os colaboradores do Blog Economia PUC-RIo 2 preferido governo, min. cel. Andreazza); agosto, início dissidências PDS (Frente Liberal/A. Chaves); setembro, após reuniões Alto Comando Exército, Marinha e Aeronáutica, surgem rumores ‘golpe militar’, desmentidos através nota min. Exercito; setembro/outubro/novembro, intensas negociações políticas formação Aliança Democrática = PMDB apoiando Tancredo Neves para presidência e dissidentes PDS apoiando José Sarney para vice (eleitos Col. Eleitoral 15/01/1985). B) ECONOMIA MUNDIAL: Início anos 80 caracterizado pelas transformações economia mundial em função 2º choque petróleo, desencadeando pressão de custos que elevou taxas inflação maioria países industrializados a níveis acima de 10%. Em busca de ajuste, implementadas políticas monetárias restritivas, especialmente EUA (Paul Volcker/FED). Conseqüências tais políticas, embora positivas no longo prazo, curto prazo causaram longo período recessivo que se estendeu até 1983. Anos 80 também assistiram a uma revolução na política fiscal EUA, com nova administração republicana (Reagan, 01/1981) promovendo reforma fiscal com significativa redução impostos e, simultaneamente, aumento gastos militares. Esta combinação tornou-se uma bem sucedida política expansionista keynesiana, a despeito da postura neoliberal do governo. Mas efeitos alta petróleo e política econômica dos EUA sobre os países em desenvolvimento tiveram alto custo, conseqüência principal ‘Moratória Mexicana’ (08/1982). Nos EUA, porém, crescimento com estabilidade de preços também não ocorreu sem custos, déficit fiscal elevou-se substancialmente, alcançando equivalente a 5% do PNB em 1985/1986, pressionando fortemente mercados financeiros internacionais ao longo da década. Com isto, diferencial de juros entre EUA e demais países industrializados, mesmo após queda taxa de inflação, manteve-se altamente favorável às aplicações em dólar, fator determinante para excepcional valorização dólar (cerca 60%) observada entre 81 e 85. Em decorrência, EUA tiveram déficits comerciais elevados, alcançando em meados da década cerca US 150 bilhões, transformando tradicionalmente superavitária conta corrente em deficitária. Dada manutenção déficits fiscais elevados e elevadas taxas de juros reais, financiamento conta corrente EUA drenou recursos das demais economias industrializadas. Contrapartida de tais déficits = acúmulo superávits demais países, especialmente, Japão e Alemanha. Em meados década desequilíbrio macroeconômico EUA – déficits gêmeos, fiscal e comercial – tornou-se elemento forte tensão mercados financeiros internacionais, criando sérios problemas países superavitários com superaquecimento suas economias e tensões inflacionárias, além de canalizar praticamente totalidade dos fluxos financeiros internacionais para EUA. Receio generalizado de desvalorização abrupta e caótica dólar impunha necessidade coordenação do processo. No acordo Hotel Plaza (NY) em 09/85 países industrializados concordaram com necessidade de coordenar desvalorização dólar, através de intervenções bancos centrais nos mercados cambiais. Processo desvalorização dólar favorecido pelo “contra-choque” do petróleo, com queda nominal preços quase 1/3 entre fins de 85 e início 86, acomodando eventuais pressões inflacionárias EUA, levando 86 a registrar mais baixas taxas de inflação em muitos anos nas econ. industrializadas. Com isso foram criadas condições para novo surto vigoroso de crescimento que se estendeu até 89, quando novamente tensões se acumularam e a econ. mundial começou a mostrar claros sinais de arrefecimento ritmo de expansão e evidentes pressões inflacionárias (resumo do texto “O Ambiente Econômico Internacional e suas Perspectivas”, F.Castelo Branco e outros, Perspectivas da Economia Brasileira, IPEA, 1992). Disponibilizado por Otávio Merçon e todos os colaboradores do Blog Economia PUC-RIo 3 C) QUADRO ECONÔMICO: PIB IND INFL. % BAL.COM. C/C DÍV.EXT DIV.INT.FED. % % IGP/DI US$ mil. US$mil US$bil % PIB 1980 9,1 9,1 110,24 (2.822,8) (12.807,0) 53,8 6,7 1981 (3,1) (10,4) 95,18 1.202,4(11.734,3) 61,4 12,6 1982 1,1 (0,4) 99,71 780,1 (16.310,5) 70,2 16,1 1983 (2,8) (6,1) 211,02 6.470,4 (6.837,4) 81,3 21,4 1984 5,7 6,1 223,90 13.089,5 44,8 91,1 25,3 II. QUESTÃO BÁSICA NO PERÍODO Do final de 80 a meados de 84, as linhas gerais da política econômica passaram a ser ditadas pela disponibilidade de financiamento externo: a) ‘tautologia’ do BP: T + K = 0, onde K é f(T) - dado um déficit em Conta Corrente, quanto será necessário captar de recursos externos para financiá-lo?; b) a partir de 82 temos T como f(K) – ou seja, dado o crédito externo disponível (que no auge da crise era nulo), em quanto terá que se “ajustar” o saldo em Conta Corrente?; c) (DDC/EM) “O espaço de manobra gerado pela disponibilidade financiamento externo em 79/80 foi parcialmente desperdiçado pela política econômica de 1980. Entretanto, o tempo era um fator importante, para o ajuste estrutural, uma vez que os elementos mais importantes da estratégia de longo prazo do final da década de 70 não estavam ainda consolidados. Apesar dos repetidos anúncios de cortes no orçamento público, investimentos relacionados ao II PND não só prosseguiram, como foram incluídos nas prioridades do III PND” (que não existiu – para Delfim “planejamento” era sucessão de orçamentos anuais....). III. CONDICIONANTES DA POLÍTICA ECONÔMICA (DDC/EM) A. PERDA DE CONFIANÇA NO GERENCIAMENTO DE CURTO PRAZO DA ECONOMIA (não era mais o mesmo Delfim….) B. DISCURSO OFICIAL NOS ANOS SEGUINTES MARCADOS PELA DEMONSTRAÇÃO CONTÍNUA NA FÉ ORTODOXA NOS CONTROLES DE DEMANDA PARA LIDAR COM A INFLAÇÃO; C. RESISTÊNCIA CADA VEZ MAIOR DA ECONOMIA INDEXADA (vide salários....); D. AUMENTO DA VENDA DE TÍTULOS PÚBLICOS PARA FINANCIAR NFSP + TAXA DE JUROS ELEVADA PARA INCENTIVAR CAPTAÇÃO EXTERNA. IV. EVOLUÇÃO NO PERÍODO: 1. 1980 – (LRAC) PRIMEIRA HETERODOXIA - MAXI em 11/79 (30%) com PRÉFIXAÇÃO DA CORREÇÃO MONETÁRIA (45%) E DO CÂMBIO (40%). Em 80, elevação juros reais e forte controle de preços, para tentar sustentar a “heterodoxia”. Mas em 06/80, fracassa tentativa “heterodoxa”, com revisão metas prefixadas, depois que retiradas aplicações financeiras indexadas mostravam superiores aos depósitos. 2. 1981 – (DDC/EM) RECESSÃO SEM FUNDO (literalmente) – “política macro que prevaleceu em 81/82 foi basicamente direcionada para redução das necessidades de divisas, através do controle da absorção interna - queda da demanda interna para tornar a atividade exportadora mais atraente - ao mesmo tempo reduzindo importações. Grau de sucesso dessa estratégia na redução do hiato de recurso reais depende da intensidade recessão resultante...” a) medidas adotadas: i. contenção salarial, ii. controle de gastos governo, iii. aumento Disponibilizado por Otávio Merçon e todos os colaboradores do Blog Economia PUC-RIo 4 arrecadação, iv. aumento taxa de juros, v. contração liquidez real, sem abrir mão do tratamento especial (subsídios) às exportações, energia, agricultura e pequenas empresas. b) efeito políticas restritivas de demanda na taxa de inflação praticamente nulo….., início discussão sobre INÉRCIA INFLACIONÁRIA, contrapondo ao “otimismo deflacionista” de Lemgruber e Contador, posições de Lara Resende, Chico Lopes e Modiano entre outros (CONTROLE MONETÁRIO x INÉRCIA). c) 11/81, redução controle de preços, para diminuir críticas setores empresariais. d) QUESTÃO IMPORTANTE – Por que governo não recorreu logo ao FMI. Demora custou, segundo Bacha, cerca de US$ 400 mil. na conta de juros? RESPOSTA: Parecia temer que FMI demandasse drásticas mudanças estratégia de ajustamento estrutural de longo prazo e restringisse liberdade em relação à política econômica…. (ou seja, poderia ser considerada uma demonstração de fraqueza - dada à fragilidade apoio político e dificuldades no processo de abertura.....) 3. 1982 – (DDC/EM) DA RECESSÃO AO FUNDO (de fato ao FMI) – “A recessão mundial, acentuada pelo comportamento defensivo dos dirigentes das economias centrais frustrava tentativa de produzir um significativo superávit comercial.... Novas restrições ao crescimento econômico tornaram-se inevitáveis depois do anúncio MORATÓRIA MEXICANA (08/82), ficando claro que não seria possível convencer banqueiros privados continuarem dobrando apostas na estratégia brasileira de longo prazo”. a) 09/82, reunião anual do FMI não aumentou recursos para “endividados” - Brasil começa negociações “secretas” com FMI….. b) ECONOMIA X POLÍTICA (eleições 82 - novo avanço importante MDB – definição do Col. Eleitoral para escolha primeiro presidente civil em 20 anos)… Afrouxamento política monetária, sem controle de preços, e discurso oficial de não buscar apoio FMI; c) três dias depois das eleições, Delfim admite que “Brasil vinha adotando uma política econômica dentro dos padrões reconhecidos pelo FMI” (20/11: anúncio oficial do acordo - 1a Carta de Intenção em janeiro de 1983) - anúncio formal de um programa com o FMI definiu novo modelo para as negociações da dívida externa brasileira. 4. 1983 – (DDC/EM) O FUNDO DA RECESSÃO…. Nos 24 meses subsequentes ao acordo com FMI - 7 Cartas de Intenções (acordadas e não cumpridas). a) Combinação de fatores (recessão interna, queda salário real, desvalorização cambial, queda preço do petróleo e da taxa juros internacional) e recuperação economia norte- americana (fortalecida durante segunda metade ano) contribuíram para cumprimento de praticamente todas metas relacionadas com contas externas em 83. MAS..... enorme dificuldade cumprimento metas internas, levaram a mudança na metodologia do FMI para calculo Déficit Público (Nominal, Operacional, Primário): impossibilidade aplicar metodologia tradicional calculo (nominal) numa economia em desenvolvimento altamente indexada, com setor público responsável por 30/50% investimento global e intermediando grande parte investimento privado através administração importantes fundos compulsórios de poupança. b) Período fértil de “pacotes econômicos” – NOVA MAXI em 02/83 (30%), gerando choque cambial, que se adicionou a choque agrícola (MAXI em ambiente de indexação defasada e choque agrícola, junto com expansão monetária na fase anterior às eleições - 11/82 - explica novo patamar inflacionário – aumento de 100% 80/82 para 200% 83/85). Disponibilizado por Otávio Merçon e todos os colaboradores do Blog Economia PUC-RIo 5 c) Aceleração inflação e maior presença movimento sindical geraram grande discussão sobre política salarial: ao longo do ano, 5 diferentes sistemáticas de ajuste salarial foram estabelecidas (janeiro – eliminação do adicional de 10% que incidia sobre variação semestral do INPC, diferencial por faixas salariais, com reajuste integral apenas para faixa até 3 s.m.; junho – 100% correção INPC até 7 salários mínimo; julho – “expurgo” da redução dos subsídios e ‘choque’ agrícola do calculo do INPC; julho – redutor, 80% do INPC, proposta rejeitada pelo Congresso; outubro – revogação dos 110% INPC para faixa até 3 s.m.)...... 5. 1984 – (DDC/EM) COM O FUNDO (FMI), SEM RECESSÃO - PELA PRIMEIRA VEZ DESDE 1979, RESTRIÇÃO EXTERNA MOSTRA SINAIS DE RELAXAMENTO…. MAS..... estabilidade taxas mensais de inflação até agosto, em torno de 10%, reforçava caráter inercial processo inflacionário brasileiro e sua relativa invariância ao nível de atividade - diversas sugestões para eliminar a indexação, entre elas as de Pérsio Arida e Lara Resende (“moeda-indexada”) e de Chico Lopes (“choque heterodoxo”). 6. ALGUMAS CONCLUSÕES (DDC/EM): Os resultados do balanço de pagamentos em 1984 comprovaram determinadas teses acerca do ajustamento externo: a) importância do comportamento da demanda por exportações para um ajustamento externo não recessivo; b) permitiram identificarcustos envolvidos na reversão endividamento externo explosivo em condições normais do comércio internacional: encolhimento capacidade produtiva existente, simultaneamente com transferência ao exterior de 4% do PIB; c) mostraram que estratégia de longo prazo seguida depois do 1º. choque petróleo estava gerando dividendos - crescimento substancial do PIB foi finalmente alcançado, juntamente com queda do coeficiente de importação (6.3% do PIB) e um aumento coeficiente de exportação (12.3% PIB), na medida em que maioria dos projetos associados ao ajuste estrutural de longo prazo começou operar. Disponibilizado por Otávio Merçon e todos os colaboradores do Blog Economia PUC-RIo
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