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1 CÂNCER DE BEXIGA (TUMORES UROTELIAIS) Gizelle Felinto INTRODUÇÃO ➢ TUMORES UROTELIAIS: • O câncer de bexiga faz parte desses tumores uroteliais • Esses tumores são neoplasias que acometem o urotélio, que é o tecido epitelial do trato urológico do sistema coletor até a uretra prostática • Tumores Uroteliais do trato urinário superior: ▪ Tumores de Ureter ▪ Tumores de Pelve Renal ▪ Tumores de Cálices Renais • Tumores Uroteliais do trato urinário inferior ▪ Tumor de Bexiga ▪ Tumor urotelial de próstata → é raro • O estadiamento e o grau tumoral são importantes fatores prognósticos ▪ Estadiamento → é o grau de invasividade do tumor ✓ Esses tumores surgem no epitélio, na camada interna de tecido celular à nível de luz ureteral, e podem ir se aprofundando ▪ Grau tumoral: ✓ Tumor de baixo grau → com atipias leves (alterações citoarquiteturais leves) ✓ Tumor de alto grau → com grande número de mitoses e atipias celulares CARCINOMA UROTELIAL DE BEXIGA EPIDEMIOLOGIA ➢ O tumor de bexiga corresponde a 90% dos tumores uroteliais: • Sendo seguida pelos tumores de pelve renal, cálices renais e primários de ureter ➢ Cerca de 90% dos tumores de bexiga são uroteliais: • Os tumores uroteliais de bexiga são a grande maioria, mas não são os únicos, pois também existem: ▪ Adenocarcinoma de Bexiga ▪ Carcinoma Espinocelular (CEC) de Bexiga ▪ Esses tumores são mais agressivos que os uroteliais, mas são bem menos comuns ➢ Exceção → Região do Vale do Nilo (Nordeste da África) • Nessa região, o Carcinoma Espinocelular de bexiga é bastante presente (corresponde a cerca de 40% dos cânceres de bexiga), devido a uma espécie de schistosoma que infecta a população e aumenta o risco de CEC de bexiga • Devido a isso, essa é a região do mundo em que se tem os piores índices de mortalidade por câncer de bexiga ➢ No mundo, o câncer de bexiga é: • A 9ª neoplasia mais comum • A 2ª neoplasia urológica mais comum → fica atrás apenas do tumor de próstata • A 13ª causa de morte ➢ É mais comum em homens do que em mulheres: • O câncer de bexiga corresponde a 3,2% dos casos de cânceres no geral em homens e a 1,4% em mulheres ➢ Tem maior incidência em caucasianos ➢ A doença é mais agressiva na população negra (menor sobrevida) ➢ As chances de um homem branco desenvolver um câncer de bexiga é: • 3 vezes maior que uma mulher branca • 3 vezes maior que um homem negro • 4,5 vezes maior que uma mulher negra ➢ Ao momento do diagnóstico: • 75% dos cânceres de bexiga são restritor à bexiga • 25% dos cânceres de bexiga já são metastáticos ➢ O risco de invasividade e agressividade tumoral é proporcional à idade → quanto mais velho o paciente, mais agressivo é o tumor ➢ A mortalidade por idade é semelhante entre os estágios → assim, a relação entre a mortalidade por estadiamento é semelhante, independentemente da idade do paciente ➢ Pico de incidência → a partir dos 80 anos • Porém, pode-se descobrir tumor de bexiga em diversas idades, inclusive em pacientes jovens FATORES DE RISCO ➢ Envelhecimento → o risco de desenvolver a doença e a sua agressividade tem relação direta com a idade ➢ Tabagismo → é o principal fator ambiental • Aumenta em até 4 vezes o risco de câncer de bexiga • Esse risco se dá pela excreção de alfa e betanaftilamina, como produto do metabolismo da nicotina à nível urinário → a irritação por essas substâncias irá provocar mutações, atipias e o surgimento do tumor de bexiga ➢ Atividades Ocupacionais → indústria de tintas, borracha e petróleo • Isso se deve ao contato com substâncias químicas que predispõem ao surgimento do tumor ➢ Quimioterapia com Ciclofosfamida ➢ Trauma físico ao urotélio →podem causar inicialmente tumores benignos e posteriormente podem evoluir para tumores malignos de bexiga. Exemplos: • Uso crônico de sondas vesicais • Cálculos Vesicais • Infecções urinárias de repetição CLASSIFICAÇÃO ➢ TUMORES BENIGNOS → existem, mas na proporção com os tumores malignos esses tumores benignos sã relativamente raros • Metaplasia Epitelial → é o mais comum ▪ Pode ser glandular ou escamosa ▪ Pode simular um tumor maligno de bexiga ▪ Essa metaplasia é diretamente relacionada à presença de sonda vesical → a sonda é um corpo estranho que vai lesar a mucosa, podendo causar uma metaplasia • Leucoplasia → corresponde a 1 caso para cada 10.000 tumores de bexiga ▪ Relaciona-se à presença de inflamação crônica e infecção do local (por Pseudomonas, Proteus, E. coli...) ▪ Pode até mesmo necessitar de um tratamento como uma cauterização se essa massa for muito grande e estiver provocando sangramento 2 CÂNCER DE BEXIGA (TUMORES UROTELIAIS) Gizelle Felinto • Papiloma Invertido: ▪ Está relacionada à inflamação crônica local ▪ Pode cursar com hematúria e sintomas irritativos ▪ O diagnóstico diferencial com tumor maligno de bexiga (Carcinoma Urotelial) só é dado após uma Ressecção Transuretral (RTU) de bexiga • Papiloma Urotelial: ▪ É um tumor que surge na bexiga, mas não progride e não recidiva ▪ O diagnóstico só é dado após a RTU de bexiga ▪ Antigamente era classificada como uma lesão maligna, mas hoje em dia é tida como um tumor benigno, pois não progride e não recidiva • Adenoma Nefrogênico: ▪ É altamente vascularizado ▪ Necessita da realização da RTU para o diagnóstico • Cistite Cística e Glandular: ▪ Cistites crônicas em que se pode ter o crescimento de uma lesão vegetante ▪ O diagnóstico só é dado com a ressecção da lesão • Leiomioma de Bexiga: ▪ É uma lesão vegetante da parede da bexiga, mas, diferentemente do tumor urotelial, o leiomioma não surge do epitélio (camada interna da bexiga), ele surge da camada muscular da bexiga ▪ O aspecto que se tem é o de uma mucosa íntegra com um abaulamento proveniente da camada muscular ▪ Se for muito grande: ✓ Pode provocar sintomas → sintomas urinários obstrutivos ou sintomas irritativos ✓ Pode necessitar de ressecção ➢ LESÕES PRÉ-MALIGNAS: • O surgimento da neoplasia maligna é decorrente de uma hiperplasia que cursa com alterações de DNA, com atipias e com displasia, e, consequentemente, tem-se o desenvolvimento da neoplasia ➢ LESÕES MALIGNAS: • 90% são carcinomas uroteliais • 5% são Carcinomas Espinocelulares (CEC) • 2% são Adenocarcinomas • São classificadas como: ▪ Tumores Invasivos: ✓ Quando o tumor que surgiu da camada interna da bexiga, além de crescer papilarmente para dentro da luz vesical, vai se aprofundando nas camadas da bexiga e acaba atingindo a camada muscular ✓ No estadiamento, esse tumor invasivo já se classifica como um T2 ▪ Tumores não Invasivos: ✓ São tumores superficiais, que crescem no epitélio e podem até mesmo chegar à lâmina própria, mas não atingem a camada muscular ✓ Na maioria das vezes, esses tumores não invasivos podem ser tratados apenas com RTU e tratamento adjuvante • Padrão de crescimento → não determina o poder de invasividade do tumor ▪ Lesão Plana → Ex: Carcinoma in situ ▪ Lesão Papilar → surge como um pequeno tumor ▪ Lesão Séssil → de base larga, que pode sugerir uma doença mais avançada • Grau de alteração genética → determina o potencial de invasão e de metástase do tumor ▪ Células mais diferenciadas ▪ Células mais indiferenciadas → são mais agressivas • São classificados como: ▪ Neoplasia urotelial de baixo potencial maligno → é o Papiloma Invertido, que hoje é classificado como uma lesão benigna ▪ Carcinoma urotelial de baixo grau ▪ Carcinoma urotelial de alto grau → é o principal responsável por invasividade tumoral • Recorrência do tumor → a recorrência após o tratamento está diretamente relacionada ao (a): ▪ Grau* ▪ Multicentricidade* ▪ Tamanho* → tumores > 5cm ▪ Recidiva em < 3 meses ou qualquer recidiva prévia* *Geralmente,são características relacionadas aos tumores uroteliais de alto grau QUADRO CLÍNICO ➢ Mesmo pequenos, os tumores de bexiga podem causar sintomas. Isso difere dos tumores renais, que para causarem sintomas é necessária uma massa com um tamanho maior ➢ SINAIS E SINTOMAS: • Hematúria indolor (80% dos casos) → é a principal sintomatologia ▪ Cerca de 80% dos tumores de bexiga abrem o quadro com hematúria • Irritabilidade vesical e Polaciúria • Dor em flanco → simula uma dor decorrente de cálculos renais • Massa pélvica palpável → sugere lesão avançada, com tamanho maior • Sugerem doença avançada: ▪ Edema de membros inferiores ▪ Caquexia ▪ Astenia ▪ Dor óssea → pode ser sugestivo de doença metastática DIAGNÓSTICO ➢ Os tumores de bexiga podem ser diagnosticados como: • Incidentalomas → quando o paciente faz algum exame por alguma outra causa ou como exame de rotina e incidentalmente descobre um tumor de bexiga • Sintomáticos → paciente que apresenta sintomas, vai ao médico para avaliar a causa e acaba-se descobrindo um tumor de bexiga 3 CÂNCER DE BEXIGA (TUMORES UROTELIAIS) Gizelle Felinto ➢ ULTRASSONOGRAFIA (USG): • É o primeiro exame solicitado na vigência de hematúria macroscópica: ▪ Paciente chegar no consultório afirmando que urinou sangue. Assim, o médico deve solicitar primeiramente uma ultrassonografia • É o exame mais utilizado para estudo dos tumores vesicais → pois, na maioria das vezes, a USG consegue dar o diagnóstico e indicar o tratamento de tumor de bexiga • Tem boa acurácia para tumores > 5mm (0,5cm): ▪ Com a bexiga cheia, consegue-se ver a irregularidade da parede da bexiga, quando se vê uma área papilar ou uma superfície vesical espessada focalmente • Pode identificar uma Hidronefrose (por algum tumor que seja obstrutivo) • Limitação → não consegue definir a profundidade de invasão (não indica se é ou não um tumor profundo) • Não deve ser usada para seguimento pós-tratamento (RTU) → esse seguimento deve ser feito com Cistoscopia ➢ CISTOSCOPIA → é o padrão-ouro de diagnóstico definitivo • Não é o exame mais utilizado para dar o diagnóstico de câncer de bexiga • Como é o exame → entra- se com uma câmera dentro da bexiga, pela luz uretral, conseguindo-se visualizar diretamente o tumor ▪ Pode ser feito com anestesia local, mas o padrão-ouro é feito com o paciente sob sedação ▪ Pode-se obter as seguintes imagens, por exemplo: ✓ Parecem uma “alga marinha” ✓ Surgiram do epitélio e começaram a apresentar um aspecto vegetante para dentro da luz da bexiga ✓ São passíveis de ressecção • Indicações: ▪ Dúvida diagnóstica → é solicitado quando a imagem da USG deixa dúvidas em relação ao diagnóstico (a Cistoscopia fornece o diagnóstico definitivo) ▪ Seguimento pós-tratamento (RTU) → pois permite a visualização direta da mucosa vesical. Assim, com isso identifica-se a lesão e consegue-se biopsiá-la • Limitações: ▪ Hematúria grosseira → não se consegue visualizar bem ▪ Tumores em divertículo → tem-se dificuldade de acesso • Contraindicações: ▪ Em casos de infecção, como: ✓ Bacteriúria ✓ Cistites ✓ Uretrites ✓ Prostatites ▪ Pacientes com estenose ou lesão uretral ▪ Hiperplasia Prostática Benigna (HPB) Obstrutiva → é uma contraindicação relativa, pois tem-se uma limitação do movimento para entrar na bexiga com o aparelho do exame • Técnicas que aumentam a sensibilidade para o tumor de bexiga (porém, não são de amplo acesso): ▪ Cistoscopia de Luz Azul ▪ Cistoscopia com Faixa Estreita de Luz ➢ UROGRAFIA EXCRETORA: • Vê-se uma falha de enchimento da bexiga e uma bexiga de pequena capacidade, pela presença da lesão vegetante • Foi substituída pela tomografia ➢ TOMOGRAFIA: • Pode ser solicitada como um método complementar da Ultrassonografia, embora o mais indicado seja realizar a Cistoscopia • Indicação → é o exame de imagem inicial para a investigação de Hematúria Microscópica (Micro-hematúria) ▪ Se a hematúria for microscópica, não adianta solicitar uma ultrassonografia, deve-se realizar logo de início uma tomografia • Tem boa acurácia (98,3%) na detecção de causas de hematúria • Pode identificar tumores de bexiga na fase nefrográfica (a bexiga capta contraste) e na fase excretora ➢ CITOLOGIA URINÁRIA: • Indicação → é principalmente utilizada na suspeita de Carcinoma in situ ▪ Pois essa é uma lesão plana, sendo identificada não pela cistoscopia, mas sim pela Citologia urinária • Como é o exame → deve ser uma urina de lavado vesical (coloca-se uma sonda na bexiga, introduz-se soro e depois aspira) ▪ Evita-se a primeira urina da manhã • Tem maior sensibilidade em tumores de alto grau (por definição, o carcinoma in situ é uma lesão de alto grau): ▪ Se o tumor for de baixo grau a sensibilidade é reduzida • Citologia Positiva + Ausência de lesões identificáveis por imagem (Tomografia, USG ou Cistoscopia) → indica-se a realização de Biópsia aleatória de bexiga (retira-se 20 fragmentos da bexiga para analisar se há carcinoma in situ) Tomografia na fase excretora - Bexiga cheia de contraste - Lesão tumoral (seta azul) 4 CÂNCER DE BEXIGA (TUMORES UROTELIAIS) Gizelle Felinto ESTADIAMENTO ➢ ESTADIAMENTO TNM: • T → Tumor: ▪ Ta → tumor Papilar (cresce apenas do epitélio para fora) ▪ T1 → tumor superficial (começa a invadir um pouco, mas não invade a camada muscular) ▪ T2 → tumor invasivo (invade a camada muscular) ▪ T3 → tumor invasivo (invade a gordura perivesical ou o peritônio) ▪ T4 → tumor invasivo (invade outros órgãos, como próstata, estroma uterino, vagina, parede pélvica, parede abdominal...) • N → Linfonodos acometidos: ▪ N0 → sem acometimento de linfonodo ▪ N1 → acometimento de um pequeno linfonodo ▪ N2 → acometimento de múltiplos linfonodos ▪ N3 → acometimento dos linfonodos ilíacos comuns • M → Metástases: ▪ M0 → ausência de metástase à distância ▪ M1 → metástase à distância ➢ Importante → Principais fatores prognósticos • Presença ou ausência de metástase linfonodal: ▪ É o principal fator prognóstico para esses pacientes ▪ Assim, quem determina o prognóstico é o grau da lesão e, mais significativamente, a presença ou não de lesão linfonodal • Tamanho da metástase linfonodal • Grau de atipia (de baixo grau ou de alto grau) ➢ RESSECÇÃO TRANSURETRAL (RTU) → é com essa RTU que se define o estadiamento (se é ou não uma lesão profunda) • É necessário ressecar o tumor para que se tenha o diagnóstico histológico • Classificação: ▪ CIS → Carcinoma in situ: ✓ É plano e, muitas vezes, não se consegue identificar uma lesão vegetante ✓ Tem-se alterações e, normalmente, é preditor de doença invasiva ▪ Ta → Tumor Papilar: ✓ Surge do epitélio, mas não aprofunda, crescendo apenas do epitélio para dentro da luz vesical ▪ T1 → o tumor começa a aprofundar, mas fica restrito apenas à lâmina própria ▪ T2 → invade também a camada muscular ▪ T3 → invade o tecido perivesical • A realização da RTU serve para identificar o grau de invasão tumoral • Tumores T1 → devem ser submetidos a outra RTU em 60 dias (2 meses), na área de cicatriz de onde foi retirado o tumor, pois: ▪ Quando se tira a área de cicatriz, em 40% dos casos tem-se tumor músculo-invasivo ▪ Mesmo que se retire até a camada muscular, 15% dos casos terão uma lesão invasiva após uma segunda RTU ▪ Assim, tumores T1 são preditores de tumores T2, necessitando ser reavaliados para que se veja se não há mais nenhuma célula restante que possa aprofundar e tornar um tumor invasivo • T3 e T4 → só se consegue estadiar depois que se retira toda a bexiga (após a Cistectomia) TRATAMENTO - TUMORES NÃO INVASIVOS ➢ CARACTERÍSTICAS: • São um grupo heterogêneo, pois existem tanto lesões de baixo grau quanto lesões de alto grau •Porcentagem dos tumores não invasivos: ▪ 70% dos casos → Ta (Tumores Papilares) ▪ 20% → T1 ▪ 10% → Carcinomas in situ (Cis) • Tentou-se fazer uma estratificação de risco, porém, devido à pouca padronização feita nos estudos, não é bem estabelecida • Tumor de baixo risco → Ta de baixo grau • Tumor de risco intermediário → Ta de baixo grau, mas >3cm • Tumor de alto risco → todo tumor de alto grau é de alto risco ➢ RESSECÇÃO TRANSURETRAL (RTU): • Serve para: ▪ Diagnóstico histológico (padrão-ouro) ▪ Estadiamento superficial ▪ Tratamento de tumores não invasivos • RTU completa → para ser completa, é preciso que no procedimento consiga-se chegar à camada muscular ▪ Se relaciona a uma menor recorrência de tumores nas cistoscopias de controle • A ressecção do tumor pode ser: ▪ Ressecção em Bloco → vai na base do tumor e o retira por completo ▪ Ressecção Gradual → vai-se “fatiando” o tumor para que depois ele seja aspirado • Colocação de Cateter Ureteral de Duplo J → é opcional ▪ Se o tumor estiver muito perto de um óstio ureteral, tem-se a opção de, para proteger o rim, colocar esse duplo J ▪ Porém, alguns médicos que não fazem uso desse cateter afirmam que a colocação do duplo J pode levar a célula tumoral para o trato urinário alto • Biópsia: ▪ Biópsias Aleatórias da Bexiga → são indicadas quando se tem uma citologia positiva sem tumor visível 5 CÂNCER DE BEXIGA (TUMORES UROTELIAIS) Gizelle Felinto ▪ Biópsia Prostática → realiza-se em tumores dentro do colo vesical ➢ QUIMIOTERAPIA PERIOPERATÓRIA: • Realiza-se no mesmo dia da RTU • Está associada a uma ótima taxa de diminuição de recorrência → recorrência 39% menor em Ta (Papilar) de baixo grau único • Tem impacto na sobrevida a longo prazo • Contraindicação → se houver suspeita de perfuração • Medicações: MITOMICINA C → não tem no Brasil ➢ IMUNOTERAPIA (BCG): • No Brasil → geralmente, faz-se o tratamento adjuvante com BCG (Bacillus Calmette-Guerin) • Esse BCG é o BCG da vacina • Diminui a taxa de recorrência e a mortalidade a longo prazo, por exemplo, nos tumores superficiais de alto grau • Como é feita → no período pós-operatório é injetado o BCG no paciente. Assim, o paciente segura a urina e depois elimina ▪ Faz-se alguns ciclos (indução e manutenção) para diminuir a recorrência já a partir dos tumores de baixo grau, se eles forem múltiplos ou maiores que 3cm • Também é indicada para casos recorrentes ➢ MANEJO ESPECÍFICO: • Ta (Tumor Papilar) de Baixo Grau: ▪ De acordo com as características do tumor: ✓ Tumor único e < 3cm: o Tem baixa taxa de recidiva e de recorrência o Tratamento → RTU + Quimioterapia Intravesical Perioperatória (Mitomicina) o Casos recorrentes → RTU + Imunoterapia (BCG) ❖ Ex: após o tratamento, fez-se o acompanhamento e depois de um tempo o paciente apresentou outro tumor ✓ Tumor múltiplo e/ou > 3cm: o Tem alto risco de recorrência o Tratamento → RTU + Imunoterapia (BCG) ▪ Cistoscopias com Biópsia → pode substituir a RTU, podendo ser feita em lesões pequenas e de baixo grau ✓ “Arranca-se” o tumor a partir da sua raiz ✓ É apenas uma exceção, pois a RTU é simples de ser feita e é bem aceita ▪ Seguimento pós-tratamento: ✓ Segundo o protocolo americano → faz-se uma cistoscopia controle após 3 meses e outra após 1 ano ✓ Segundo o protocolo Europeu → indica cistoscopia de controle de 3 em 3 meses ▪ Para esse tipo de tumor, não é necessária a realização de exames de imagem (Tomografia ou Ultrassom) para investigação do trato urinário superior • Ta (Tumor Papilar) de Alto Grau: ▪ Já é considerado uma neoplasia de alto risco e tem alta taxa de tumores residuais (70%) → é isso o que justifica o tipo de tratamento escolhido ▪ Tratamento: ✓ RTU + re-RTU (nova RTU) em 6 semanas ✓ Imunoterapia de indução e manutenção → é feita após a realização das RTUs, quando se deixa o doente sem tumor o É recomendada, pois diminui a recorrência ▪ Seguimento: ✓ Cistoscopia → é o indicado a ser feito ✓ Citologia oncótica → pode ser feita, pois tem-se uma alta sensibilidade o Citologia positiva sem evidência de lesões → realizar: ❖ Biópsia aleatória de bexiga ❖ Biópsia prostática ❖ Investigação de trato urinário superior ✓ Como é feito o seguimento: o Trimestral por 2 anos → Semestral até 5 anos (por mais 3 anos) → anual • Carcinoma in situ: ▪ É uma lesão plana e de difícil diagnóstico ▪ Por definição, é uma lesão de alto grau, sendo por isso que normalmente ela acaba progredindo para tumores invasivos ▪ Quando se realiza a biópsia, pode-se ter um tumor concomitante: ✓ Associado a T1 em 50% dos casos ✓ Associado a T2, T3 ou T4 em 60% dos casos ✓ A concomitância do carcinoma in situ com outros tumores (T1, T2, T3 ou T4) sugere pior prognóstico ▪ O Carcinoma in situ é um precursor de tumores invasivos → assim, essas células tem características histológicas para ser um tumor invasivo e talvez, nesse carcinoma in situ, o tumor apenas esteja em uma fase muito inicial ▪ Como não se sabe a extensão de todo o tumor, o tratamento do carcinoma in situ não é com a RTU ▪ Tratamento: ✓ Imunoterapia: o Em até 70% dos casos tem resposta completa na indução o 40 a 60% respondem no segundo ciclo ▪ Refratariedade: ✓ Quando nas biópsias de bexiga posteriores continuar havendo a presença de carcinoma in situ, mesmo após a Imunoterapia ✓ Tratamento → Cistectomia precoce o Pode ser indicada, mesmo antes de a lesão ser invasiva • T1: ▪ São tumores de alto grau, configurando-se de alto risco ▪ Prognóstico → depende dos seguintes: ✓ Tamanho da lesão 6 CÂNCER DE BEXIGA (TUMORES UROTELIAIS) Gizelle Felinto ✓ Multicentricidade (presença de mais de um tumor) ✓ Invasão de lâmina própria ✓ Carcinoma in situ concomitante ✓ Resposta ao tratamento prévio ▪ Variante Micropapilar → é uma variante de pior prognóstico ✓ Quando se está diante de um tumor micropapilar de bexiga de alto grau já se indicada a realização da Cistectomia precoce ▪ Tratamento: ✓ RTU + re-RTU (nova RTU) em 6 semanas ✓ Imunoterapia com BCG → faz-se no pós- operatório, após realizar as duas RTUs o Pois os tumores T1 tem alta recorrência, e o uso do BCG é para tentar reduzir essa recorrência ▪ Cistectomia Precoce → pode ser indicada em paciente com tumores T1 com uma ou mais das seguintes características: ✓ Pacientes jovens ✓ Tumores múltiplos → em que não se consegue ressecar todos os tumores mesmo após as duas RTUs ✓ Presença de Carcinoma in situ (Cis) ✓ Envolvimento prostático ✓ Lesões de difícil acesso ✓ re-RTU com lesão residual → lesões nas quais se faz mais de duas RTUs e ainda não se consegue eliminar toda a lesão ✓ Variante Micropapilar ▪ Seguimento → é feito com a Cistoscopia: ✓ Trimestral por 2 anos → Semestral até 5 anos (por mais 3 anos) → anualmente ➢ FALHA DE TRATAMENTO: • Recorrências: ▪ Os tumores de bexiga estão altamente relacionados à recorrências e falhas do tratamento ▪ A recorrência pode ocorrer em até 50% em um ano e em até 90% em cinco anos • Tumores recorrentes após o ciclo de 6 semanas de BCG → podem ser considerados uma falha ao BCG ▪ A falha ao BGC pode ser uma: ✓ Refratariedade → com o ciclo de BCG consegue- se um certo grau de mudança no tumor, mas não chega a ser curado ✓ Resistência → tumor não muda de aparência com o ciclo de BCG ✓ Recidiva → tumor foi todo retirado e fez-se o ciclo de BCG, mas mesmo assim o tumor volta a crescer ✓ Intolerância → paciente não consegue realizar todos os ciclos de BCG. Assim, fica uma lesão residual • Os tumores refratários ao BCG são heterogêneos e o tratamento deve ser individualizado, pois diferentes tipos de falhas necessitam de diferentes tratamentos • Possíveis novos tratamentos nos casos defalha do BCG no tratamento das lesões superficiais: ▪ Novo ciclo de BCG ▪ Cistectomia ▪ BCG + Interferon alfa-2-beta ▪ Quimioterapia ▪ Complexo de parede celular micobacterial ▪ Terapia assistida por dispositivo ▪ Radioterapia TRATAMENTO – TUMORES INVASIVOS ➢ T2 (Tumor Músculo-invasivo): • 25% dos tumores são músculo-invasivos • Tratamento definitivo: ▪ Cistoprostatectomia Radical → no homem ✓ Retirada da bexiga e da próstata, associada a uma reconstrução do trato urinário ▪ Exenteração Pélvica Anterior → na mulher ✓ Retirada da bexiga e do útero, associada a uma reconstrução do trato urinário ▪ Reconstrução do trato urinário: ✓ Pode-se fazer um dos seguintes: o Neobexiga com o tecido intestinal: ❖ Pacientes com neobexiga necessitam realizar cateterismo intermitente, pois eles não conseguem urinar por conta própria devido à perda da capacidade de contração do músculo detrusor, pois o intestino não tem o Bricker → conduto de intestino para que a urina saia pela barriga (faz-se um reimplante do ureter na alça intestinal) ❖ A urina fica saindo por uma bolsa parecida com uma bolsa de ostomia • Sobre o tratamento definitivo → está relacionado a: ▪ Melhor sobrevida e menor taxa de recorrência local ▪ Baixa morbimortalidade perioperatória ▪ Tem melhores resultados do que outras terapias ▪ Boa qualidade de vida ➢ CISTECTOMIA: • Estadiamento de T2, T3 e T4 → só se consegue fazer precisamente após a realização de uma cistectomia • Eficiência da cistectomia e extensão da linfadenectomia → são fatores determinantes da evolução tumoral ▪ A cistectomia só será eficaz se for feita uma linfadenectomia adequada, pois: ✓ As chances de recidiva aumentam em 11 vezes se forem deixadas margens positivas ✓ A retirada de menos de 10 linfonodos aumenta as chances de recorrência ▪ Retirada de 10 linfonodos → diminui a chance de recorrência pélvica e duplica a sobrevida em 5 anos ▪ Uma vez diagnosticado um tumor de bexiga músculo- invasivo, o atraso da indicação da cistectomia por mais de 120 dias (4 meses) pode gerar uma piora da sobrevida 7 CÂNCER DE BEXIGA (TUMORES UROTELIAIS) Gizelle Felinto • A cistectomia pode ser: ▪ Paliativa → Cistectomia Higiênica ✓ Para melhorar um pouco a qualidade de vida do paciente ✓ É feita nos casos em que a doença não tem cura, por isso que é paliativa ✓ Exemplo → paciente em que não se consegue ressecar todas as lesões, que tem doença metastática e que tem hematúria muito frequente, que está obstruindo a sonda e que está fazendo com que o paciente precise de transfusão sanguínea ▪ Curativa → retira-se a bexiga e consegue-se curar o paciente • Avaliação pré-operatória: ▪ A cistectomia é uma cirurgia de grande porte, que dura cerca de 5 a 6 horas e que tem risco de sangramentos ▪ Assim, a avaliação pré-operatória deve ser realizada de maneira adequada, para se evitar que os pacientes venham a óbito em decorrência do procedimento cirúrgico, por não aguentarem a cirurgia ➢ PRESERVAÇÃO VESICAL: • Protocolos de preservação vesical são cada vez mais frequentes, envolvendo novos ciclos de quimioterapia que vem se desenvolvendo ao longo dos anos, ou associado à radioterapia • Indicação → essa preservação vesical é possível quando se tem um diagnóstico de tumor músculo-invasivo que após duas RTUs não tem lesão vegetante dentro da bexiga (sem lesão residual) ▪ Lesão residual → a presença de lesão residual impede essa preservação vesical ➢ QUIMIOTERAPIA: • Pode ser usada como: ▪ Tratamento neoadjuvante → para diminuir o tamanho de uma lesão residual ✓ Exemplo → quando se faz uma RTU prévia, mas não foi possível retirar todo o tumor, e se deseja indicar uma cistectomia. Assim, pode-se fazer uma neoadjuvância nesse paciente para diminuir a quantidade de tumor e para realizar uma cistectomia mais segura ▪ Tratamento Adjuvante → pode ser: ✓ Complementar após a RTU ✓ Complementar após a Cistectomia • O controle da doença com linfonodos positivos é baixo, mesmo com a quimioterapia TUMORES METASTÁTICOS DE BEXIGA ➢ Tratamento Padrão → envolve Quimioterapia com o uso de Cisplatina • Tem alta toxicidade • Os pacientes tem dificuldade de manejar esse tratamento ➢ Presença de Metástases Viscerais ou Karnofsky < 80 → são associados a um pior prognóstico • Karnofsky → é uma classificação que avalia vários parâmetros do paciente, para ver o status geral • Nesses casos, o paciente não tolera o tratamento ➢ Cistectomia Higiênica (Paliativa) → pode ser indicada na doença metastática • Se for uma doença restrita a linfonodos e bexiga → essa cistectomia pode até mesmo ter um componente curativo ➢ Hoje em dia, espera-se novas perspectivas de novos quimioterápicos que sejam menos tóxicos e que permitam um melhor tratamento desses pacientes com tumores metastáticos
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