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1 LITÍASE URINÁRIA Gizelle Felinto INTRODUÇÃO ➢ Existem relatos de litíase urinária desde a antiguidade → relatos de múmias com litíase há mais de 6 mil anos ➢ Assim, trata-se de uma doença muito antiga e muito prevalente EPIDEMIOLOGIA ➢ Nos Estados Unidos: • Cerca de 2 milhões de pessoas por ano procuram o médico urologista em decorrência de litíase urinária nos EUA • A litíase é responsável por cerca de 1% dos atendimentos e hospitalizações ➢ A litíase é mais comum em: • Homens: ▪ Inicialmente, cerca de 75% dos casos eram em homens, mas com as mudanças de estilo e hábitos de vida essa houve uma diminuição nessa proporção. Assim, hoje em dia tem-se a seguinte proporção: ✓ 35% dos casos em mulheres ✓ 65% em homens • Caucasianos ➢ Pico de incidência → entre 20 e 40 anos • Esse pico é em relação ao primeiro episódio de litíase, pois é uma doença bastante recorrente e, com isso, a prevalência de litíase vai aumentando com a idade ➢ Prevalência → aumenta com a idade • Essa prevalência aumenta com a idade devido à recorrência dessa doença, que tende a aumentar com o envelhecimento do paciente ➢ Recorrência: • 15% dos casos recorrem em 1 anos • 35% em 5 anos • 50% em 10 anos ➢ Outros dados: • Cerca de 12% dos homens e 5% das mulheres terão alguma apresentação clínica de litíase (dor, hematúria...) até os 70 anos de idade • Em pacientes assintomáticos portadores de litíase: ▪ 50% desse paciente continuam assintomáticos ▪ 25% eliminam cálculos espontaneamente ▪ 25% precisarão de alguma intervenção para o tratamento do cálculo (litotripsia ou cirurgia) ➢ Cálculos menores e mais distais são mais propensos à eliminação FISIOPATOLOGIA ➢ Principal teoria → o surgimento do cálculo decorre da supersaturação das substâncias solúveis na urina (Ex: Oxalato, Citrato, Cálcio...) que, em uma concentração aumentada, irão precipitar, provocando a formação de cristais, que se agrupam e formam o cálculo ➢ O que mais favorece a formação de cálculos → uma maior quantidade de solutos e uma menor quantidade de fatores inibitórios • Ou seja, quanto maior a quantidade de solutos e menor a quantidade de solventes presentes na urina, maior será a tendência à formação de cálculos ▪ É devido a isso que os cálculos são mais comuns nas zonas tropicais do mundo → à nível de Brasil, a litíase é mais comum na região Nordeste do que no Sul do país, pois o Nordeste é um ambiente mais quente no qual as pessoas geralmente são mais desidratadas • Pró-cálculos: ▪ Hipercalciúria ▪ Hiperoxalúria ▪ Hiperuricosúria ▪ Hipercistinúria • Inibidores: ▪ Citrato ▪ Magnésio ▪ Pirofosfato ▪ Água ➢ Em relação à composição dos cálculos: • A grande maioria dos cálculos (80% dos casos) contém Cálcio: ▪ Estão relacionados ao metabolismo do cálcio → hipercalciúria e/ou hiperoxalúria que provocam a precipitação desses cristais de cálcio • Também existem cálculos de: ▪ Ácido úrico ▪ Cistina ▪ Estruvita → relacionados à infecção pro Proteus e Klebsiella FATORES DE RISCO ➢ Fatores dietéticos → são os principais fatores ambientais • A prevalência de cálculo aumentou consideravelmente nas últimas décadas devido às alterações de hábitos de vida da população • Fatores de risco: ▪ Dietas mais ricas em gorduras, sódio e hiperproteicas ▪ Menores consumos de água e sucos naturais ▪ Dietas mais industrializadas ➢ Vitamina C → altas doses de vitamina C estão relacionadas à formação de cálculos ➢ Fontes de calor → indivíduos que trabalham sob uma fonte de calor também estão mais propensos, pois um ambiente muito quente faz com que esses indivíduos sofram uma maior desidratação, fazendo com que eles tenham a urina mais concentrada e, consequentemente, tem-se o favorecimento da precipitação dos sais da urina • Exemplos: ▪ Siderúrgicas e fornos de padarias ▪ Construção civil e agricultura → pois estão mais expostos ao sol ➢ Baixa ingesta hídrica → isso decorre principalmente da desidratação, pois esses indivíduos terão a urina mais concentrada, o que favorece a formação de cálculos ➢ Fatores diretamente relacionados → mostram que a formação do cálculo também tem um componente sistêmico e metabólico: • Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) • Diabetes Mellitus (DM) 2 LITÍASE URINÁRIA Gizelle Felinto • Obesidade ➢ Alterações anatômicas renais: • Devido a uma estase urinária, normalmente presente nessas alterações anatômicas dos rins, ocorre a predisposição à formação de cálculos renais • Exemplos: ▪ Alterações de rotação dos rins ▪ Estenose de Jup (junção do rim com o ureter) ▪ Má formação renal ▪ Rim em ferradura ➢ Cirurgias bariátricas → tem relação com a absorção de oxalato • Assim, nessas cirurgias, o desvio de trânsito intestinal que é feito para a disabsorção nesses pacientes altera a absorção de oxalato, aumentando essa absorção e provocando uma hiperoxalúria. Esse oxalato se liga ao cálcio para a formação dos sais e, nesse caso, esse excesso provoca sua precipitação ➢ Medicações: • Indanavir, Aciclovir, Sulfadiazina e Triantereno → essas medicações podem precipitar na urina e formar cálculos ➢ História familiar: • Fatores genéticos → são multifatoriais, existindo vários genes que podem estar relacionados à formação de cálculos • Fatores ambientais → pois uma mesma família, muitas vezes, partilha da mesma dieta e dos mesmos hábitos de vida • Risco relativo = 2,6 → o risco de litíase urinária em indivíduos da mesma família é de 2,6 vezes maior ➢ Urina ácida → é um fator de risco direto para a formação dos cálculos de ácido úrico • Os indivíduos com diarreia crônica (Ex: Retocolite, Doença de Crohn...), que tem alterações na absorção de bicarbonato, tendem a ter uma urina ácida e, com isso, tendem a ter cálculos de ácido úrico ➢ Infecções por Proteus e Klebsiella → aumentam o risco de cálculos de estruvita (sais de pirofosfato magnesiano) • Essas infecções provocam a precipitação desses sais de pirofosfato magnesiano, aumentando o risco de se formar cálculos de estruvita DIAGNÓSTICO ➢ Hoje em dia, descobre-se cada vez mais a litíase urinária como um incidentaloma, em exames de rotina e ao acaso ➢ Diagnóstico → Quadro Clínico + Exame de Imagem ➢ APRESENTAÇÃO CLÍNICA → para suspeição diagnóstica • Normalmente, suspeita-se de litíase urinária quando o paciente apresenta o quadro clínico típico de dor • Quadro clínico típico: ▪ Dor (cólica nefrética): ✓ Características da dor: o Aguda o De forte intensidade o Dor lombar o Pode ou não irradiar para a raiz da coxa ✓ Pode estar associada a: o Náuseas e Vômitos o Febre → nos casos em que se tem infecção associada o Hematúria ✓ Quando se tem uma obstrução, ocorre o acúmulo de urina em toda a região acima dessa obstrução, sendo impedida de se encaminhar para a bexiga. Assim, ocorre um aumento da pressão na região acima dessa obstrução, causando a distensão da cápsula renal. E é essa distensão quem causa a dor • Essa cólica nefrética não é específica da litíase urinária, devendo-se solicitar exames para que se tenha o diagnóstico preciso ➢ EXAMES DE IMAGEM: • ULTRASSONOGRAFIA (USG) → primeiro a ser solicitado ▪ É o exame inicial quando se está diante de uma cólica nefrética ▪ Vantagens: ✓ Não tem radiação ✓ É barato e de fácil acesso, estando disponível em vários hospitais ✓ Tem boa acurácia pra detectar cálculos renais: o Sensibilidade de 61% o Especificidade de 97% → assim, quando o exame acusa a presença de um cálculo, há 97% de chances de realmente se tratar de um cálculo ▪ O USG é um bom método para visualizar: ✓ Cálculos renais ✓ Cálculos no ureter distal (que já estão à nível de parede vesical) ✓ Cálculos acima de 5mm ▪ Características da imagem obtida: ✓ Hiperrefringência(área branca) com uma sombra acústica posterior → a onda do ultrassom não ultrapassa o cálculo. Assim, o cálculo absorve a onda do USG e fica um vácuo posteriormente ▪ Ureterolitíase (cálculos no ureter) proximal, média e distal (antes de chegar na bexiga) → não se vê diretamente o cálculo com o ultrassom, mas consegue- se ver sinais indiretos ✓ Sinais indiretos no ultrassom: o Hidronefrose → dilatação no rim o Sinais inflamatórios perirrenais o Ausência de fluxo ureteral à nível vesical Ultrassonografia (USG) - Imagem hiperrefringente → região em vermelho na imagem da direita - Dilatação dos cálices renais (hidronefrose) → região em azul na imagem da direita - Sombra acústica posterior → região preta na imagem da direita 3 LITÍASE URINÁRIA Gizelle Felinto • RAIO-X DE ABDÔMEN → mais usado para o seguimento pós- tratamento ▪ Limitações: ✓ Os cálculos podem ser confundidos com outras estruturas intra-abdominais ✓ Existem cálculos radiotransparentes (não se consegue visualizar no raio-x) ▪ Descobre-se o cálculo pela cólica nefrética e pelo USG, realiza-se o tratamento e depois faz-se um raio-x de abdômen para saber se ainda há alguma litíase residual • UROGRAFIA EXCRETORA → tem apenas papel histórico ▪ No passado era um exame bastante usado, mas hoje em dia vem sendo cada vez menos utilizado ▪ O que é → faz-se um raio-x do abdômen no início e depois administra-se contraste iodado endovenoso no paciente e espera-se que o rim desse paciente filtre esse contraste. Assim, vai-se moldando, com raios-x seriados, o sistema coletor. Ou seja, o contraste é eliminado pela urina, permitindo-se observar todo o trato urinário, desde os rins até a uretra do paciente ▪ Consegue-se visualizar: ✓ Calcificação do cálculo ✓ Stop do contraste à nível de hidronefrose → com isso, pode-se até mesmo ver a função do rim e o ponto de stop, onde estaria o cálculo ▪ Porém, é um exame que tem papel histórico, pois foi substituído pela Tomografia Computadorizada • TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA (TC) HELICOIDAL (padrão- ouro para o diagnóstico de cálculos): ▪ Características: ✓ Hoje em dia, tem relativamente um fácil acesso ✓ Permite cortes de 3 a 5mm, que têm uma sensibilidade de 98% e uma especificidade de 97% para cálculos ▪ Vantagens → é o método padrão-ouro, pois visualiza bem: ✓ Densidade, tamanho, posição e relações anatômicas dos rins ✓ O formato do cálculo em 3 dimensões → mostrando se esse cálculo tem uma maior ou uma menor propensão a sair espontaneamente ✓ Cálculos radiotransparentes → não são vistos ao raio-x, mas são identificados pela TC ▪ Limitação: ✓ Cálculos de Indinavir → pois são extremamente radiotransparentes ▪ O método padrão-ouro para o diagnóstico é a TC sem contraste, mas realiza-se a TC com contraste para avaliar a função renal: ✓ A fase excretora da Tomografia substitui a urografia excretora → pois, normalmente, já se faz a tomografia com contraste para avaliar a função do rim TRATAMENTO ➢ TRATAMENTO SINTOMÁTICO: • Anti-inflamatórios não hormonais: ▪ Ação → alívio da dor e diminuição do edema ureteral ✓ A diminuição do edema na região do ureter onde se tem a obstrução pelo cálculo favorece que essa pedra passe com menor dificuldade ▪ Exemplos de medicações: DICLOFENACO NIMESULIDA TENOXICAM CETOROLACO • Opioides: ▪ Quando usar → nos quadros em que o paciente sente muita dor ✓ Pode ser utilizado como método de resgate naqueles pacientes que não melhoram da dor apenas com o uso de anti-inflamatórios ✓ Pode ser usado em associação com os anti- inflamatórios ▪ Medicações: TRAMADOL CODEÍNA MORFINA • Antiespasmódicos: ▪ É muito comum o seu uso, pois alivia a dor, mas não há evidências de sua ação na taxa de eliminação do cálculo → assim, antes de se utilizar um antiespasmódico, normalmente utiliza-se um anti-inflamatório ▪ Exemplo de medicação: BUSCOPAN Raio-X simples de Abdômen - Vê-se uma calcificação à nível renal (seta branca) - Esse cálculo da imagem tem caráter não-obstrutivo e provavelmente o paciente é assintomático ou oligossintomático Tomografia Computadorizada - Cálculo à nível intrarrenal (seta branca) → imagem cálcica à nível de sistema coletor Tomografia Computadorizada - Cálculo de ureter proximal → normalmente, quando o cálculo está nessa posição, o paciente se encontra em crise, apresentando sintomas 4 LITÍASE URINÁRIA Gizelle Felinto • Alfa-bloqueadores: ▪ Ação → podem ser utilizados nos cálculos migrantes (como terapia expulsiva), para abrir o ureter. Assim, essas medicações tem ação à nível de ureter médio e distal, provocando um relaxamento, assim como fazem à nível da próstata. Dessa forma, com esse relaxamento do ureter, permite-se uma passagem mais livre do cálculo ▪ Medicações → são as medicações da Hiperplasia Prostática Benigna (HPB) DOXAZOSINA TANSULOSINA • Hiper-hidratação: ▪ NÃO DEVE SER REALIZADA QUANDO O PACIENTE ESTÁ EM CRISE (COM CÓLICA RENAL): ✓ Não se pode administrar soro fisiológico e furosemida, por exemplo, em pacientes com cálculo renal que estão em crise → pois isso faz com que a rim produza cada vez mais urina, sofrendo uma maior distensão, já que a obstrução no ureter ainda persiste, e, consequentemente, aumentando a dor do paciente ✓ Nesses casos, deve-se realizar a Analgesia, para alívio da dor ▪ Quando se deve realizar a hidratação → quando o trato urinário estiver desobstruído e sem cálculos. Assim, deve haver a hiper-hidratação para evitar a formação de novos cálculos ➢ TRATAMENTO CONSERVADOR: • Indicação → cálculos de até 5mm, independentemente da localização ▪ Na maioria dos casos, realiza-se o tratamento conservador nesses cálculos, pois estudos mostram que cálculos menores que 5mm, com ou sem a terapia expulsiva, conseguirão ser expelidos ▪ Exceção → quando o paciente está em crise deve-se realizar a analgesia e, se não houver melhora com essas medicações, deve-se indicar a cirurgia de urgência • Como é feito: ▪ Com ou sem analgesia, a depender do quadro do paciente ➢ TERAPIA EXPULSIVA MEDICAMENTOSA: • O que é → baseia-se no uso de drogas relaxantes da musculatura ureteral, com a finalidade de reduzir a peristalse e aumentar o calibre funcional do ureter, facilitando a eliminação dos cálculos ureterais • Indicação → para cálculos que estão migrando, dependendo do tamanho e da localização do cálculo ▪ É indicada para cálculos ureterais de até 10mm (= 1cm), caso o paciente não tenha fatores de complicação ✓ Exemplos de fatores de complicação: o Paciente com apenas com rim único o Alteração de função renal o Dor intratável o Infecção associada • Como é feita: ▪ Anti-inflamatório não hormonal + Alfa-bloqueador ▪ Observação por 4 a 6 semanas → para ver se o paciente vai expulsar ou não a pedra ✓ Nessas semanas, é mandatório que se façam exames semanalmente para avaliar o quadro do paciente diante da terapia expulsiva ✓ Se o paciente evoluir com aumento da hidronefrose, piora da função real, dor intratável ou iniciar uma infecção associada, por exemplo → deve-se interromper a terapia expulsiva e indicar a intervenção ✓ Se após essas 4 a 6 semanas observou-se que o paciente não apresenta mais o cálculo → indica que a terapia expulsiva foi satisfatória e conseguiu-se não intervir sobre o paciente ➢ DISSOLUÇÃO QUÍMICA DO CÁLCULO: • Indicação → para cálculos de ácido úrico • Como é feita: ▪ Por meio da Alcalinização da Urina → pois os cálculos de ácido úrico surgem a partir da acidez da urina CITRATO DE POTÁSSIO (Litocit®) → dissolve o cálculo de ácido úrico, fazendo com que algum tempo depois o paciente não apresente mais esse cálculo PREVENÇÃO À FORMAÇÃO DECÁLCULOS ➢ Após o diagnóstico e o tratamento do cálculo, o paciente deve ser orientado quanto a essas medidas preventivas para que ele não desenvolva mais cálculos ou para diminuir a recorrência desses cálculos ➢ ORIENTAÇÕES QUE DEVEM SER FEITAS: • Ingesta Hídrica: ▪ Uma ingesta hídrica adequada faz com que haja a dissolução dos cristais na urina ▪ Deve-se ter uma urina menos concentrada ▪ O ideal é que se produza cerca de 2 litros ou mais de urina por dia → isso não significa dizer que a ingesta de água deve ser de 2 litros ✓ Na prática, o que se diz ao paciente é que ele beba água até chegar no ponto em que sua urina tenha uma coloração amarelo-clara, quase transparente ▪ Cálculo da ingesta hídrica → 30ml por cada 1Kg ao longo do dia • Sucos Cítricos: ▪ Exemplos → abacaxi, acerola, laranja, limão... ▪ Esses sucos aumentam a excreção urinária de citrato, o que determina uma redução da saturação de oxalato e fosfato de cálcio, prevenindo a nefrolitíase • Outros Líquidos: ▪ Chá de “Quebra-Pedra” → não existem evidências de que ele diminui a formação de cálculo, mas como ele é um líquido o paciente pode fazer uso ▪ Vinho e cerveja → previnem a formação de cálculos 5 LITÍASE URINÁRIA Gizelle Felinto ▪ Café, refrigerantes e bebidas alcoólicas destiladas → auxiliam na formação de cálculos renais, devendo-se evitar • Consumo moderado de proteínas: ▪ Assim, dietas hiperproteicas ou hipoproteicas não são indicadas → o excesso de proteínas é fator de risco para formação de cálculos ▪ O ideal é justamente o consumo moderado de proteínas • Restrição de Sal → Dieta Hipossódica ▪ Pois o aumento da ingesta de sal aumenta a excreção de oxalato de cálcio e de sódio • Maior aporte de cálcio: ▪ Existe um mito de que pacientes com cálculos renais não devem consumir leite e seus derivados, o que é errado, pois uma dieta hipocálcica predispõe à formação de cálculos ▪ Paciente deve ingerir leite e seus derivados • Ingesta adequada de frutas e vegetais: ▪ Pois normalmente são alimentos ricos em líquidos, tendo papel na hidratação • Controle de peso e realização de exercícios físicos: ▪ Pois obesidade, hipertensão e sedentarismo são fatores de risco par a formação de cálculos TRATAMENTO CIRÚRGICO – TÉCNICAS MENOS INVASIVAS ➢ CARACTERÍSTICAS: • Todo tratamento de litíase depende de alguns fatores, como do(a): ▪ Paciente → jovem ou idoso, obeso ou magro, se tem ou não comorbidades... ▪ Tamanho do cálculo ▪ Localização do cálculo ▪ Meio disponível (tratamento disponível no hospital) → hoje em dia, os tratamentos padrão-ouro para a maioria dos cálculos são métodos minimamente invasivos, mas que nem sempre estão disponíveis em todos os centros • O tratamento cirúrgico da litíase é um dos melhores exemplos de aplicação da evolução tecnológica na medicina • As técnicas endoscópicas são cada vez mais frequentes ➢ NEFROLITOTRIPSIA PERCUTÂNEA (NPL): • Definição: ▪ Nefro = rim ▪ Lito = cálculo ▪ Tripsia = quebrara ▪ Percutânea = através da pele • A posição e o tamanho do cálculo determinam qual o acesso (qual o cálice renal que se irá acessar) • Indicações → para o tratamento de cálculos renais volumosos ▪ Cálculos coraliformes ▪ Cálculo > 2cm ▪ Cálculo em cálice inferior > 1,5cm ▪ Falha de outros métodos → a NPL serve como método de resgate ▪ Obesos → são pacientes desfavoráveis para a Litotripsia Extracorpórea para Ondas de Choque (LECO), que é um tratamento não cirúrgico que está cada vez mais caindo em desuso ▪ Anormalidades anatômicas ▪ Cálculos duros • Como é feita: ▪ Faz-se a partir das costas do paciente, fazendo- se uma pequena abertura no rim (de cerca de 1,5cm) para penetrar no sistema coletor do paciente, quebrar o cálculo e retirar os seus pedaços ▪ Técnica → faz-se a punção do cálice renal e a sua dilatação, entra-se com o nefroscópio, quebra-se o cálculo (litotripsia) e, por último, passa-se um duplo J, deixando-se uma nefrostomia (drenagem) ✓ Coloca-se contraste pelo ureter e quando os cálices coram consegue-se identificar onde será realizada a punção para posterior dilatação e acesso ao rim ✓ Sempre se deve realizar o acesso por cálices posteriores com um infundíbulo mais largo e com angulação favorável para o acesso aos demais, onde se possa acessar a maior quantidade de cálices no rim, para que se consiga retirar o maior número de cálculos e, se possível, “limpar” o rim • Devem ser realizadas: ▪ Tomografia Computadorizada → é mandatória pra o planejamento terapêutico ✓ Deve ser solicitada mesmo que já se tenha o diagnóstico ultrassonográfico ✓ Identifica, por exemplo: o Relações anatômicas com outros órgãos adjacentes (Ex: hepatoesplenomegalia) o Alterações anatômicas renais (Ex: rim em ferradura, vícios de rotação...) o Em pacientes com passado de cirurgia retroperitoneal → pode identificar algum órgão aderido ao rim e outras implicações ▪ Urocultura → é obrigatória a sua realização ✓ Cálculos coraliformes e maiores que 2cm → deve-se prescrever antibiótico até mesmo quando a urocultura é negativa • Complicações → a cirurgia causa um trauma renal, devido à necessidade de se realizar a abertura no rim para acessar os cálculos, podendo estar associada a: ▪ Sangramento ▪ Fístulas urinárias → vaza urina pela pele, por exemplo ▪ Sepse → em pacientes com infecção, que tem a urocultura positiva ▪ Lesão de órgãos adjacentes → pois faz-se a punção guiada apenas por radioscopia 6 LITÍASE URINÁRIA Gizelle Felinto ➢ URETERORRENOLITOTRIPSIA FLEXÍVEL: • Definição: ▪ Uretero = ureter ▪ Reno = rim ▪ Lito = cálculo ▪ Tripsia = quebrar ▪ Flexível = pois o aparelho faz curvas • Indicações → quando os cálculos são renais e não são indicados para a cirurgia percutânea, pois são cálculos menores ▪ Cálculos renais até 20mm (= 2cm) ▪ Cálculos no cálice renal inferior com até 15mm (= 1,5cm) ▪ Cálculos refratários à LECO ▪ Paciente com Coagulopatias: ✓ Nesses casos, até mesmo pacientes coagulopatas com cálculos grandes devem ser submetidos à flexível, pois a percutânea causa um trauma renal → assim, às vezes, faz-se até mesmo duas Ureterorrenolitotripsias Flexíveis ▪ Cálculos renais concomitantes com cálculos ureterais: ✓ Pode-se combinar os dois métodos (flexível + percutânea) ou realizar apenas a flexível • Grande vantagem → identificação direta de todos os cálculos e cálices, pois o aparelho é flexível e consegue-se subir diretamente para a visualização dessas estruturas. Assim, consegue-se identificar e tratar todos os cálculos do paciente quando se faz uma fragmentação do cálculo com laser • Substitui a LECO → a Ureterorrenolitotripsia Flexível é a cirurgia que está substituindo a Litotripsia Extracorpórea (LECO), pois tem melhores taxas de sucesso (a taxa de eficácia é > 95%): ▪ LECO (taxa de eficácia de 70%) → é um aparelho que se acopla na região lombar, ao nível do rim, que libera ondas de choque que quebram os cálculos renais ✓ A LECO ainda é muito utilizada nos países emergentes, pois tem um menor custo e resolve cerca de 70% dos casos • Como é feita → faz-se por meio de um aparelho transuretral, direcionando-o até o interior do rim e, como o aparelho é flexível, consegue-se identificar todos os cálices e cálculos renais ▪ Utiliza-se um laser para quebrar o cálculo e depois retirar esses pedaços menores com uma “cestinha”, limpando-se o cálice renal do paciente ➢ URETERORRENOLITOTRIPSIA RÍGIDA: • Foi inventada antes da Ureterorrenolitotripsia flexível e ainda é utilizada • É um aparelho reto • Taxa de sucesso de tratamento → 93 – 97% • Indicações → para cálculos migratórios (que estão à nível ureteral) quando se tem: ▪ Dor recidivante → Ex: quando se indica ou não a terapiaexpulsiva e o paciente retorna constantemente para o hospital com dor ▪ Baixa probabilidade de passagem espontânea do cálculo → são cálculos grandes, maiores que 1cm (10mm) ▪ Falha da terapia expulsiva → para aqueles pacientes que fizeram 4 a 6 semanas de terapia expulsiva, por exemplo, e o cálculo continua à nível ureteral. Assim, deve-se retirar cirurgicamente esse cálculo, caso contrário o rim entrará em sofrimento ▪ Opção do paciente → Ex: paciente que é indicada a terapia expulsiva, mas ele pede ao médico que retire logo o cálculo cirurgicamente, por não desejar mais sentir a dor novamente ▪ Piora da função renal e/ou Piora da hidronefrose durante o seguimento da Terapia Expulsiva • Atenção → deve-se afastar as situações de urgência que necessitam de drenagem imediata ▪ A principal dessas situações é a infecção → essa cirurgia é feita com soro sob pressão. Assim, se o paciente estiver com uma infecção presente à nível proximal do cálculo, esse soro sob pressão pode causar uma translocação bacteriana, podendo fazer com que o paciente entre em um quadro séptico ▪ Assim, não se deve realizar uma ureterorrenolitotripsia (rígida ou flexível) nesses casos • Sobre o procedimento: ▪ A “profundidade” do procedimento depende de fatores anatômicos → o aparelho é rígido e entra pela uretra do paciente, subindo até a região do ureter ou até mesmo do rim. Assim, a depender das questões anatômicas do paciente (Ex: homem, mulher, magro, obeso...), pode-se conseguir chegar até o rim do paciente ou pode-se conseguir chegar apenas até o nível de ureter médio, por exemplo ▪ Quando se consegue chegar até os cálices renais, acessa-se apenas o superior, mas não se consegue chegar até os cálices médio e inferior, pois o aparelho não é flexível ▪ Quando se identifica o cálculo, realiza-se sua fragmentação (com laser ou com energia mecânica) ou, se for um cálculo pequeno, pode-se trácioná-lo com o Basket (“cestinha”) 7 LITÍASE URINÁRIA Gizelle Felinto • Complicações: ▪ Perfuração ureteral ▪ Avulsão ureteral ▪ Estenose cicatricial ureteral ▪ Febre ou sepse → pela translocação bacteriana, caso o paciente tenha uma infecção ▪ Hematúria → é comum de ocorrer e normalmente cessa espontaneamente ▪ Cólica renal → às vezes, quando se retira o cálculo do paciente e o duplo J pode se formar um edema, simulando uma cólica e o paciente acaba ficando com medo de ser outro cálculo. Porém, tratando-se apenas com analgesia consegue-se resolver o quadro ➢ COLOCAÇÃO DE DUPLO-J: • É um método complementar para os tratamentos cirúrgicos citados anteriormente, mas também pode ser um método terapêutico • Porque é chamado assim → ele recebe esse nome porque o cateter se enrola, ficando semelhante a um “J”, à nível proximal (no rim), se localiza ao longo do ureter e à nível vesical ele enrola novamente, fazendo com que o paciente permaneça com a via urinária pérvia • A colocação do duplo-J serve para: ▪ Drenagem renal ▪ Eliminação de fragmentos dos cálculos ▪ Cicatrização ureteral ▪ Cicatrização renal → no caso da cirurgia percutânea • Normalmente, os procedimentos urológicos mantêm o duplo-j para drenagem e eliminação de fragmentos → coloca-se o duplo-j no momento da cirurgia • O duplo-J pode ser indicado como procedimentos de urgência nos seguintes casos: ▪ Quadro de cólica renal, cálculo e febre ▪ Dor refratária → em pacientes que não podem fazer de imediato a Ureterorrenolitotripsia ▪ Vômitos recidivantes nos pacientes que não podem fazer de imediato a Ureterorrenolitotripsia ▪ Cálculo obstrutivo em rim único com a alteração da função renal → deve-se passar o duplo-j para melhorar um pouco o quadro e depois é que se indica a retirada do cálculo ▪ Litíase ureteral bilateral com a alteração da função renal → deve-se passar o duplo-j para melhorar um pouco o quadro e depois é que se indica a retirada do cálculo ▪ Insuficiência Renal Aguda (IRA) ▪ Rins transplantados → pois o rim transplantado é o único rim do paciente. Assim, coloca-se o duplo-j para melhorar o quadro do paciente e depois se realizar o procedimento definitivo • Pielonefrite obstrutiva → primeiramente faz-se uma drenagem (colocação do duplo-j) para posteriormente realizar-se a resolução do fator obstrutivo ▪ Realiza-se a drenagem para que a urina com bactérias, que se encontra represada no rim, comece a escoar e o antibiótico comece a penetrar à nível intrarrenal ▪ Assim, às vezes, quando o antibiótico chega a nível intrarrenal, tratando a infecção, conseguindo-se tratar o fator obstrutivo. Dessa forma, muitas vezes, o fator inicial é somente a colocação do duplo-j ▪ Ou seja, quando se tem uma infecção associada ao quadro de litíase, deve-se intervir, colocando-se o duplo J e, após a colocação desse duplo J, inicia-se a antibioticoterapia (não se faz exclusivamente uma terapia expulsiva medicamentosa) • Lesões ureterais parciais → coloca-se o duplo-j para a cicatrização dessas lesões ▪ Ex: lesão intraoperatória, quando a fibra laser lesiona um pouco o ureter nos cálculos que estão muito aderidos ▪ Ex: em outras cirurgias, quando se tem uma fístula ureteral TRATAMENTO CIRÚRGICO – TÉCNICAS MAIS INVASIVAS ➢ É uma situação de exceção, correspondendo a cerca de 1% de todos os procedimentos atualmente ➢ As indicações são cada vez mais reduzidas, devido ao desenvolvimento de técnicas endoscópicas (minimamente invasivas) com ótimos resultados ➢ As cirurgias são: • Nefrolitotomia → abre-se o rim, retira-se a pedra e depois sutura-se o rim • Pielolitotomia → abre-se a pelve renal e retira-se o cálculo • Cistolitotomia → abre-se a bexiga e retira-se o cálculo ▪ É mais comum e é feita quando o paciente desenvolve pedras dentro da bexiga, não tendo relação com o mecanismo de formação de cálculos renais, pois tem mais relação com Hiperplasia Prostática Benigna ou Bexiga Neurogênica, por exemplo
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