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Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina 1º Período APG 23 - “O dilema do beijo: na saúde e na doença” 1) COMPREENDER O SISTEMA IMUNOLÓGICO DA CAVIDADE ORAL (SALIVA E MICROBIOTA); GLÂNDULAS SALIVARES - ANATOMIA São glândulas exócrinas compostas que mantêm umedecida a cavidade oral devido à saliva produzida e lançadas pelas mesmas, além de iniciar a digestão do amido. Também fornece o solvente aquoso necessário para a gustação e é um selante líquido para sucção e amamentação. Elas também secretam enzimas digestivas, como a amilase salivar, e agentes antimicrobianos, como a imunoglobulina A (IgA), lactoferrina e lisozima. As glândulas salivares são divididas, segundo o seu tamanho, em glândulas salivares menores e maiores. As glândulas salivares menores apresentam ductos excretores pequenos e segundo a sua localização topográfica são denominadas de: labiais, bucais, palatinas e linguais. O grupo das glândulas salivares maiores é formado por glândulas bilaterais de maior tamanho, volume, e que apresentam ductos excretores grandes e geralmente longos. Compreendem as glândulas parótidas, submandibulares e sublinguais. As glândulas salivares possuem inervação simpática e parassimpática. A estimulação parassimpática resulta em aumento de saliva aquosa, menos viscosa; a estimulação simpática resulta em secreção de saliva mucosa, mais viscosa. Mesmo sem estimulação, existe uma secreção de saliva basal para a boca que representa uma secreção salivar NÃO ESTIMULADA. Entretanto, a quantidade de saliva secretada está sob influência de centros mais altos no cérebro. Como resultado do controle central, a salivação não-estimulada é normalmente inibida durante o sono e situações de medo, assim como a depressão mental também pode diminuir o fluxo salivar. A cavidade bucal é a principal porta de entrada de agentes infecciosos para o organismo. Existem cerca de 600 espécies de bactérias colonizando a cavidade bucal, além de vírus e fungos. Alguns desses microrganismos podem causar infecções locais e sistêmicas. Porém, quando penetram na cavidade bucal, enfrentam a PRIMEIRA BARREIRA: A SALIVA que apresenta células e moléculas na sua composição, pertencentes às IMUNIDADES INATA E ADAPTATIVA, que atuam sobre microrganismos. COMPONENTES CELULARES DA IMUNIDADES INATA E ADAPTATIVA NA SALIVA Há relatos que demonstram a existência de leucócitos, derivadas das glândulas salivares, do fluido crevicular, das tonsilas, da mucosa bucal, das secreções bronco-pulmonares e da orofaringe. Dos leucócitos salivares, os neutrófilos são os representante do SII. Na saliva, em condições normais, não são encontrados os linfócitos T-citotóxicos da imunidade adaptativa, no entanto, são encontrados NK (SII) e linfócitos T CD4 e B do SIA. As células presentes na saliva podem atuar como marcadores biológicos para doenças. Como exemplo, os leucócitos salivares estão diretamente relacionados com a gengivite. SISTEMA IMUNE INATO (SII) Constitui a principal defesa do organismo contra agentes infecciosos, pois reconhece rapidamente o patógeno, seus produtos tóxicos ou o tecido danificado e sinaliza a presença “do perigo” direcionando as células do sistema imune adaptativo para uma resposta específica contra o invasor. Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina 1º Período As células do SII não se dividem, não formam clones e não produzem células de memória COMPONENTES MOLECULARES DO SII: Fosfato, bicarbonato e proteínas (sialina): esses componentes fazem parte do sistema-tampão da saliva, que protege a cavidade bucal, por manter neutro o pH salivar, pois alguns patógenos necessitam de pH específico para o seu crescimento e colonização. Lactoferrina: Trata-se de uma glicoproteína encontrada na superfície da mucosa. Considerada uma proteína multifuncional, apresenta atividades bactericida, fungicida, antiviral, antiparasítica, antinflamatória e imunomoduladora. A lactoferrina também age agregando bactérias, ativando células fagocíticas e inibindo diretamente a replicação de ampla variedade de vírus. Outro ponto importante sobre a lactoferrina é que ao ligar-se à aglutinina salivar, atua ainda mais eficazmente na eliminação de microrganismos. Lisozima: Trata-se de enzima encontrada em vários fluidos do corpo além da saliva, como nas lágrimas, o muco brônquico e o suor. Tem atividade antimicrobiana e quando presente em altas concentrações tem a capacidade de desmontar as paredes das células bacterianas. A lisozima exibe atividade bactericida mesmo após inativação pelo calor, e assim como a lactoferrina, a lisozima atua inibindo o crescimento da população de espécies fúngica, como a Cândida, por exemplo. A lisozima também impede a ingestão de glicose pelas bactérias. Peroxidase: Trata-se de substância sintetizada e secretada pelas glândulas salivares de ação antimicrobiana. A peroxidase salivar também contribui para a diminuição do crescimento bacteriano, pois previne o acúmulo de lisina e ácido glutâmico, componentes essenciais ao crescimento de bactérias. Portanto tem ação bactericida extremamente eficaz. Mucina: forma um manto pegajoso e lubrificante que age como uma barreira físico-química do sistema imune inato, auxiliando no aprisionamento de patógenos, na inibição do crescimento e na lise desses microrganismos. Aglutinina: se liga a ampla variedade de microrganismos, fagocitando e causando mortes dos mesmos por neutrófilos e macrófagos. Participa da agregação bacteriana, auxilia a fagocitose e contribui, dessa forma, para a retirada de bactérias da cavidade oral. Quintinase: protege as células epiteliais da cavidade bucal contra a colonização de patógenos, que possuem quintina, principalmente leveduras e fungos, como Candida albicans. SISTEMA IMUNE ADAPTATIVO (SIA) A resposta do SIA, contrária à do SII, torna-se mais eficiente a cada encontro sucessivo com o mesmo patógeno, devido à formação de células de memória. COMPONENTES DO SIA: As imunoglobulinas salivares são capazes de se ligar à maioria dos microrganismos presentes na saliva, apresentando, assim, amplo espectro de defesa, o que as difere das imunoglobulinas séricas, que possuem afinidade restrita. IgA: é considerada a classe de Ig mais importante da imunidade passiva e abundante, já que está presente em todos os tecidos mucosos. É o principal componente do SIA presente na saliva, encontrada na forma dimérica. Funções: - formação de barreira contra microrganismos (principalmente vírus, toxinas e outro antígenos); - aglutinação de microrganismos; - bloqueio das adesinas bacterianas que se ligam ao receptor da célula epitelial; - ação sinérgica pela junção com outros componentes antimicrobianos do sistema imune inato; - neutralização de vírus dentro de células epiteliais, através da transcitose; - excreção de antígenos da camada subepitelial; - promoção da fagocitose e da citotoxidade celular dependente de anticorpo; - ativação da via alternativa do sistema complemento. IgG: - durante o estágio de deficiência de IgA, a IgG desempenha papel importante na proteção da cavidade bucal, principalmente de neonatos. IgM: é secretada na forma pentamérica. - é produzida localmente por uma minoria de plasmócitos provenientes do soro. Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina 1º Período 2) ENTENDER A COMPOSIÇÃO E A FUNÇÃO DA SALIVA E MICROBIOTA DA CAVIDADE ORAL. SALIVA As glândulas salivares maiores (parótidas, submandibular e sublingual) são responsáveis pela produção e secreção de 70 a 80% da saliva. As glândulas salivares menores ou glândulas acessórias são inúmeras distribuídas pela cavidade bucal, secretam de 10 a 20% da saliva. Cerca de 99% da composição da saliva é água. O remanescente 1% consiste na maior parte, de macromoléculas,moléculas orgânicas pequenas e componentes inorgânicos. A saliva forma uma barreira que atua na manutenção da integridade, da hidratação e da lubrificação dos tecidos da cavidade bucal. Além disso, a saliva tem ação remineralizante e é, também, essencial para a alimentação. A função de defesa da saliva é desempenhada pelos componentes do SII e SIA. MICROBIOTA DA CAVIDADE ORAL A microbiota oral é formada por diversos microrganismos comensais (se beneficia do hospedeiro, nós, mas sem causar prejuízos = RELAÇÃO ECOLÓGICA +,0) e patógenos oportunistas. Estes microrganismos podem ser classificados como residentes (sempre presentes na microbiota) e transitórios ou alóctones (espécies ocasionais). A composição da microbiota bucal vai se alterando de acordo com as mudanças no ambiente bucal. A saliva é a maior responsável pela regulação da microbiota oral. Ela oferece excelentes condições para as bactérias, como pH e umidade, e contém todos os nutrientes derivados da dieta do hospedeiro que nela se encontram. Sob determinadas condições de disbiose - desequilíbrio da microbiota devido à proliferação de bactérias - ou imunossupressão, eles podem se tornar agentes etiológicos de doenças orais e sistêmicas. A cavidade oral possui grande susceptibilidade a doenças, como a cárie, que é a principal doença que a acomete. O principal agente etiológico dessa doença é o Streptococcus mutans. A cárie dental é uma doença que tem início antes do desenvolvimento da lesão clinicamente detectável. Sua manifestação provém de uma etiologia multifatorial na qual interagem superfície dentária, carboidratos da dieta – principalmente a sacarose – saliva e os microrganismos da placa bacteriana. Quando este microrganismo entra em contato com a cavidade oral, o sistema imune inato entra em ação. Este é o primeiro sistema que age na tentativa de eliminar o microrganismo. As células de defesa (macrófagos, NK, neutrófilos, etc) saem dos capilares sanguíneos e chegam até o local onde está ocorrendo a manifestação do microrganismo para tentar fazer a fagocitose do mesmo. O sistema complemento também é ativado, e faz a opsonização (processo que consiste em fixar opsoninas, e.g. imunoglobulinas, em epítopes do antígeno, facilitando a fagocitose) desse microrganismo, que ajuda na fagocitose. Acontece também o processo de quimiotaxia, que ajuda na diapedese (passagem dos leucócitos do sangue para o tecido conjuntivo) e, também, na fagocitose do microrganismo. REFERÊNCIAS MIZOBE-ONO, Lia; ARAÚJO, João Luiz Pereira de; SANTOS, MC dos. Componentes das imunidades inata e adaptativa presentes na saliva humana. Revista de Odontologia da UNESP, v. 35, n. 4, p. 253-261, 2013. GERMANO, Victória Escóssia et al. Microrganismos habitantes da cavidade oral e sua relação com patologias orais e sistêmicas: Revisão de literatura. Revista de Ciências da Saúde Nova Esperança, v. 16, n. 2, p. 91-99, 2018. DE MOURA, Sérgio Adriane Bezerra et al. Valor diagnóstico da saliva em doenças orais e sistêmicas: uma revisão da literatura. Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada, v. 7, n. 2, pág. 187- 194, 2007. DE MATOS CASTILHO, Maria Cristina et al. Relação entre estresse percebido e fatores salivares, em mulheres, sob condições basais de estresse. Arquivos em Odontologia, v. 47, n. 1, 2011.
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