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Saliva Camyla Oliveira – Odontologia 2020.2 UFPE A saliva é uma secreção aquosa transparente secretada pelas glândulas salivares diretamente na cavidade bucal. A saliva presente na cavidade oral (saliva total), é composta pela secreção das diferentes glândulas, juntamente com restos alimentares, microrganismos e células descamadas do epitélio oral. A saliva é um dos sistemas de defesa mais potentes do organismo, sendo essencial para a preservação da saúde oral, regulando os tecidos moles e duros da cavidade oral. Alterações na saliva podem levar ao comprometimento do dente, fala e deglutição, aumento do risco de infecções bucais e aumento do risco de cárie. A saliva é produzida na sua maior parte (90%) pelas glândulas salivares maiores (parótidas, submandibulares e sublingual) e uma pequena parte pelas glândulas salivares menores dispersas pela mucosa bucal (borda lateral da língua, parte posterior do palato e mucosa labial e bucal). As glândulas salivares menores funcionam continuamente durante o dia e durante a noite, enquanto que as glândulas salivares maiores têm função, sobretudo quando estimuladas. A média de produção salivar de um indivíduo sadio é de 0,5 à 1,5L/dia. Glândulas salivares menores As glândulas salivares menores são estimadas entre 600 a 1000 pequenas glândulas independentes, encontrando- se em toda a cavidade oral, tonsilas palatinas, faringe e laringe. Essas glândulas adquirem o nome correspondente à sua localização, por isso, definem-se: as labiais, as linguais, palatinas, jugais, glossopalatinas e as glândulas de Von Ebner. Tipos de Saliva O tipo de secreção salivar varia de acordo com a glândula. As secreções podem ser serosas, mucosas ou mistas. Serosa - Atua preponderantemente na mastigação dos alimentos. Parótidas são constituídas quase exclusivamente por células serosas e produzem uma secreção aquosa, diluída e rica em enzimas e anticorpos. Mucosa - É a saliva rica em mucinas. Atua na gustação e deglutição, está envolvida com a lubrificação e proteção da cavidade bucal. As glândulas sublinguais constituem principalmente de células acinares mucosas. Mista - Tem ação importante tanto na mastigação dos alimentos como na gustação e deglutição. As gl submandibulares são mistas. As glândulas menores são mistas, exceto pelas glândulas palatinas, que são mucosas, e as glândulas linguais de von Ebner, que são serosas. Quais as Glândulas salivares menores? Acessórias labiais: estão na mucosa labial e secretam saliva mucosserosa. Acessórias jugais: estão na mucosa jugal (mucosa das bochechas) e secretam saliva mucosserosa. Acessórias sublinguais ou glândulas de Rivinus: secretam saliva mucosserosa pelos ductos de Rivinus; localizam-se no assoalho bucal na região sublingual e são chamados também de acessórias bucais. Acessórias palatinas: secretam saliva apenas mucosa e se localizam na metade posterior do palato duro. Acessórias do palato mole e úvula: secretam saliva mucosa. Acessórias glossopalatinas: secretam saliva mucosa. Acessórias do coxim retromolar: secretam saliva mucosa e estão na mucosa retromolar. Acessórias linguais: - Glândulas de Blandim e Nuhn: secretam saliva seromucosa e estão na porção anterior da língua. - Glândulas de Ebner: secretam saliva apenas serosa e estão associadas às papilas calciformes. - Glândulas da raiz da língua: secretam saliva apenas mucosa. Formação de Saliva O processo secretor inicia-se nas células acinares e sofre posterior modificação nos ductos. Os ácinos constituem a parte inicial da glândula, e distribuem-se formando cachos. Ácinos – secreção primária semelhante ao plasma; Ductos – ocorre modificação da saliva à medida que flui através dos ductos para a cavidade oral (reabsorção de Na+ eCl- e secreção de K+ e HCO3-, deixando a saliva hipotônica e menos ácida.). Cerca de 10 a 20% da produção da saliva se caracteriza por uma secreção basal contínua (ou de repouso), que serve para umedecer e proteger a mucosa oral, o restante da produção diária (80-90%) é induzida por estímulos. Sua produção varia durante o dia, segue o ritmo circadiano. O fluxo de saliva é maior durante a tarde do que de manhã ou à noite, sendo que o atinge o seu pico máximo às seis horas da tarde e o seu pico mínimo pelas seis horas da manhã. O fluxo de saliva não estimulada é superior no Inverno comparativamente ao Verão, confirmando assim que existe também um ritmo circanual. Além de que a temperatura é também um fator que influencia o fluxo salivar. Estímulos para a secreção salivar As excitações salivares ocorrem através de dois mecanismos reflexos básicos que podem ser divididos em: Reflexos salivares não condicionados (incondicionados): São aqueles que estimulam a salivação sem que haja o aprendizado (estímulos térmicos, mecânicos, químicos e biológicos. Reflexos salivares condicionados: as repostas salivares precisam de treino repetitivo, sendo que a origem do estímulo não está na boca, mas em outro órgão sensorial, sobretudo na olfação e na visão. Por exemplo, “ficar de água na boca” ao se ver ou se pensar num alimento apetitoso. Tipos de estímulo para a secreção salivar - Psíquicos: Odor, sabor, cor dos alimentos, e estado nutricional do indivíduo; - Estímulos mecânicos: Pressões, mastigação, intervenção odontológica; - Estímulos químicos: Substâncias ácidas, básicas, doces, amargas, salgadas, medicamentos e “variações do pH do meio bucal”; - Biológicos: Inflamações. Controle da secreção salivar A secreção salivar é controlada pelo sistema nervoso autônomo. REFLEXO NÃO CONDICIONADO - Quando os quimiorreceptores das papilas gustativas e mecanorreceptores dos ligamentos periodontais respondem a presença de alimento eles iniciam impulsos nas fibras aferentes que transportam a informação ao centro salivar. REFLEXO CONDICIONADO - a salivação ocorre sem estímulo oral. Sinais externos associados com o prazer do alimento atuam no córtex cerebral para estimular o centro salivar. As terminações nervosas simpática e parassimpática liberam neurotransmissores acetilcolina, norepinefrina, substância P e polipeptídeo intestinal vasoativo (VIP) que ligam-se a receptores específicos na membrana basolateral da célula acinar e por meio da geração de um 2º mensageiro ativam os processos da secreção salivar. Esse estímulo causa contração das células mioepiteliais que circunda os ácinos. Essa contração ajuda a lançar o conteúdo acinar nos canais e, dessa forma, aumentar o fluxo salivar. Na prática clínica a medição do fluxo salivar é chamada sialometria. Fatores que afetam fluxo e composição da saliva O fluxo salivar e consequentemente a composição da saliva pode ser influenciada pelo tipo de glândula da qual a saliva é secretada, grau de hidratação (Quando o conteúdo de água do organismo é reduzido para 8% o fluxo salivar se reduz quase que totalmente), estado nutricional, hora da coleta, natureza e duração do estímulo, estado emocional e sexo. O fluxo salivar não estimulado pode se alterar de acordo com a posição corpórea - Em pé > sentado > deitado. Composição da saliva A saliva é formada por 99,5% de água, 0,3% de proteínas variadas e 0,2% de substâncias inorgânicas e substâncias vestigiais. - Componentes orgânicos: proteínas salivares, carboidratos, hormônios esteróides, uréia, aminoácidos, amônia, entre outros • Proteínas enzimáticas: - Amilase; - Lactoperoxidase; - Lisozima. • Proteínas ricas em prolina: - Mucinas • Proteínas aromáticas: - Gustina; - Estaterina; - Histatina; - Lactoferrina; - Albumina. • Imunoglobulinas; - Componentes inorgânicos: Cálcio, Flúor, Sódio, Potássio, Bicarbonato, Fosfato, Cloro, Magnésio, entre outros. Mucinas As mucinas são glicoproteínas. Consistem de um esquelético protéico principalde onde partem cadeias laterais de carboidratos. As mucinas contribuem para a viscosidade da saliva devido a seu alto teor de carboidrato (70-80% do peso da molécula) que retêm muita água, resistindo à desidratação, sendo efetivas na lubrificação, manutenção da superfície mucosa úmida, controlam a permeabilidade da superfície mucosa, limita a penetração de agentes irritantes e tóxicos, bem como protege as membranas das células mucosas da ação de proteases produzidas por bactérias da placa bacteriana e ainda controla a colonização da cavidade oral por bactérias e vírus. Os Streptococcus e outras espécies orais podem empregar as mucinas como fonte de carbono e energia. Isto é possível graças à glicosidases que degradam os oligossacarídeos das mucinas em unidades menores que podem ser transportadas para dentro das células bacterianas. α- Amilases A α-amilase é uma das enzimas salivares mais importantes, contribuindo com 40-50% do total de proteína salivar produzida pelas glândulas. A amilase salivar: Participa na função digestiva (hidrolisa as ligações α(1-4) do amido e glicogênio). Atua na limpeza dos restos alimentares (carboidratos). Modula a adesão de bactérias (papel importante na colonização e metabolismo de estreptococos) levando a formação de placa dental e cáries. O conteúdo da α-amilase na saliva secretada pela glândula parótida sofre influência tanto do processo mastigatório quanto gustativo. O ato mastigatório aumenta a secreção da amilase. Estaterina É uma pequena fosfoproteína ácida encontrada na saliva, secretada pelas glândulas sublingual e submandibular. A função da estaterina é a inibição da precipitação dos sais de fosfato de cálcio, da solução supersaturada da saliva bucal e de glândulas salivares. Após sua adsorção na hidroxiapatita, a estaterina pode promover a aderência de algumas bactérias orais, como P. gingivalis e Actinomyces viscous. Proteínas ricas em prolina (PRPs) As PRPs têm diversas funções biológicas. Em solução essas proteínas mantêm a saliva em estado supersaturado com relação ao fosfato de cálcio. Elas são componentes da película adquirida e podem ser importantes na adesão dos microrganismos ao dente. Apesar de estarem presentes na saliva integral, as PRPs também são susceptíveis de degradação proteolítica pelos microrganismos orais. Lactoferrina (LF) A lactoferrina é uma glicoproteína ligadora de ferro, sintetizada pelas células epiteliais glandulares e presente em secreções como leite, lágrima e saliva. Considerada uma proteína multifuncional com atividade bacteriostática (inibe o crec.), bactericida, fungicida, antiviral, antiparasítica, antinflamatória e imunomoduladora. Lisozima É uma proteína catiônica pequena presente em todos os principais fluidos biológicos. Esta enzima age nas paredes celulares bacterianas causando lise e morte celular. Entretanto, muitos microorganismos orais podem resistir à lisozima pela formação de cápsulas protetoras ou outras variantes de paredes celulares. Imunoglobulinas As imunoglobulinas pertencem a classe das proteínas plasmáticas que exibem propriedades imunológicas. As imunoglobulinas diferem em peso molecular, conteúdo em carboidratos, mobilidade eletroforética e antigenicidade, sendo designadas pelas siglas: IgG, IgM, IgA, IgD e IgE. Histatinas Histatinas são uma família de peptídeos básicos pequenos (3 a 5kDa), com um alto conteúdo de histidina. Da mesma forma que outras proteínas da saliva, as histatinas são multifuncionais. Elas estão implicadas na formação da película adquirida; apresentam propriedades fungistáticas e fungicidas e também bactericidas e inibem a precipitação de Ca3(PO4)2. Cistatinas Cistatinas são uma família de fosfoproteínas contendo cisteína. Cistatinas atuam principalmente como inibidores de cisteíno-proteases. Considerada como tendo ação protetora contra proteólise indesejada por proteases bacterianas e leucócitos lisados. Pode inibir proteases em tecidos periodontais. Peroxidase salivar O sistema de peroxidases salivar humano compreende 2 enzimas: a peroxidase salivar (SP) e a mieloperoxidase (MP), além dos íons tiocianato (SCN-) e peróxido de hidrogênio (H2O2). A peroxidase salivar catalisa a redução do H2O2 a H2O com a oxidação concomitante do tiocianato, através da seguinte reação: H2O2 + SCN- → H2O + OSCN- (hipotiocianato = OSCN-) O hipotiocianato (OSCN-), o qual é bastante tóxico à célula bacteriana, principalmente das espécies Streptococcus, pois inibe a enzima gliceraldeído-3- fosfato desidrogenase, levando a um bloqueio na glicólise bacteriana e prevenindo o acúmulo de lisina e ácido glutâmico essenciais ao seu crescimento. O sistema peroxidase salivar têm duas funções biológicas principais: 1- Atividade antimicrobiana - O hipotiocianato (OSCN-) é capaz de oxidar tióis, o que confere atividade bactericida ao sistema salivar peroxidase-H2O2-SCN-. Adicionalmente, o OSCN- potencializa o efeito antimicrobiano da lisozima e lactoferrina. 2- Proteção de proteínas e células hospedeiras contra a toxicidade do peróxido de hidrogênio. Diversos organismos orais produzem H2O2 que indiretamente pode ser tóxico ao tecido do hospedeiro e pode levar a ulceração da mucosa. Anidrase carbônica A anidrase carbônica é uma metaloenzima que contém um Zn ligado ao sítio catalítico. Esta enzima catalisa a seguinte reação: CO2 + H2O → H2CO3 ↔ H+ + HCO3- Esta enzima é importante para o poder de neutralização, pelo bicarbonato do fluido onde está presente. Defensinas As defensinas são peptídeos, relativamente ricos em arginina, não glicosilados, com seis resíduos de cisteína, o que as torna capazes de formar três pontes dissulfeto, intramoleculares. As glândulas contribuem pouco para a produção de defensinas salivares, que derivam das células epiteliais, dos neutrófilos, macrófagos, monócitos e células dendríticas. Componentes inorgânicos - Sódio (Na+) e Potássio (K+): Suas concentrações variam com o fluxo salivar. As concentrações de Na e K na saliva sofrem alterações em algumas doenças. Por exemplo em portadores de paralisia cerebral há um ↑ K+ e ↓ Na+, na síndrome de Down a concentração de K+ é menor do que o controle e a de Na+ é maior. - Cloreto (Cl-): Varia em relação a taxa de fluxo e possui taxa inferior a plasmática. - Cálcio (Ca2+) e fosfato (PO43-): A saliva é uma solução supersaturada de cálcio e fosfato que à medida que o pH diminui alcançando o pH crítico(pH 5,5) ela se torna subsaturada e o esmalte perde mineral, quando o pH é reestabelecido a saliva volta a ser supersaturada propiciando o a formação de hidroxiapatita. - Bicarbonato (HCO3-): Baixa concentração na saliva não estimulada. Varia segundo o fluxo salivar e pode exceder a taxa plasmática. Defesa contra ácidos produzidos por bactérias. Eleva o pH da saliva até 8. - Flúor: na saliva o F se encontra principalmente na forma iônica, e muito pouco ligada a macromoléculas, e dependendo do pH da saliva pode precipitar-se com cálcio e fosfato. É importante nos tratamentos de prevenção às cáries. Possui concentrações baixas e sobre seu mecanismo de eliminação, acredita-se que seja igual ao do cloreto. - Magnésio: Presença nos ossos e dentes (esmalte e dentina), além de participar na respiração celular e na mobilização de cálcio do osso. Propriedades físico-químicas - Tem aspecto opalescente, as vezes límpido e incolor; - A secreção diária varia de 0,8 a 1,5L, com um valor médio de 1L; - O pH varia entre 6,2 – 7,2 (varia com o fluxo); - Tem viscosidade elevada pela presença das mucinas; - 80-90% da produção diária ocorre por estímulos durante a alimentação (paladar, olfação e forças mastigatórias), baixa secreção: sono; - Quanto mais viscosa a saliva, maior chance de formação de cárie, pois a mucina facilitaa formação de placa bacteriana. Características macromoleculares Multifuncionalidade – A maioria dos componentes salivares apresentam um caráter multifuncional, podendo um componente desempenhar várias funções (ex.: mucinas desempenham papel na lubrificação e interagem com as bactérias; estaterinas podem funcionar na lubrificação, na mineralização e em interações com bactérias). Redundância com relação a ação protetora – diferentes componentes desempenhar a mesma função. Ex. estaterinas, PRPs e histatinas inibem a precipitação de sais de fosfato de cálcio, embora em graus diferentes. Anfifuncionalidade – a molécula pode agir de forma favorável ou contrária ao hospedeiro. Por exemplo, a α- amilase exerce importante papel na digestão de restos de alimentos aderidos aos espaços interdentais, colaborando assim em sua solubilização e limpeza, mas pode também garantir o fornecimento de alimento as bactérias criogênicas da placa e promover a cárie. Funções da Saliva A saliva é um dos fluidos mais complexos, versáteis e importantes do corpo. A saliva é responsável pela proteção da cavidade oral, epitélio gastrointestinal e orofaringe; umidifica os tecidos; participa da digestão dos alimentos e na sua transformação em bolo alimentar e controla a quantidade de água no organismo pelo mecanismo da sede. A saliva é um dos fluidos mais complexos, versáteis e importantes do corpo. A saliva é responsável pela proteção da cavidade oral, epitélio gastrointestinal e orofaringe; umidifica os tecidos; participa da digestão dos alimentos e controla a quantidade de água no organismo pelo mecanismo da sede. Principais fatores específicos e inespecíficos de defesa da saliva A cavidade bucal é a porta principal de entrada de patógenos para o corpo humano. No entanto, devido a um complexo mecanismo de defesa, os inúmeros agentes infecciosos que colonizam ou penetram a cavidade bucal não ocasionam patologias. A função de proteção é desempenhada por componentes celulares e moleculares. As proteínas constituem a primeira linha de defesa do organismo, e as imunoglobulinas potencializam esse mecanismo protetor. Ação tamponante da saliva As variações do pH desestabilizam as condições do meio bucal, e o ideal é que o pH seja mantido entre 6,8 e 7,0. Quando o pH é inferior a 5,5 (pH crítico) ocorre desmineralização do esmalte dentário e um pH alcalino favorece a precipitação de minerais (formação de cálculo). A saliva dispõe de mecanismos capazes de manter o seu pH constante, em torno de 6,9 sempre que houver adição de ácido ou de base. O principal componente da saliva responsável por esta capacidade tamponante é o bicarbonato ((HCO3/H2CO3) e contribuem secundariamente os fosfatos (HPO4 / H2PO4), e mucinato/mucina. Além disso, é um importante fator de resistência à cárie dental, e o reduzido fluxo salivar, que geralmente está associado a uma baixa capacidade tamponante, causa infecções da mucosa oral e periodontites. A neutralização dos ácidos pela saliva na realidade não é uma ação tamponante. Embora seja verdade que o bicarbonato possa atuar como tampão este não é o caso em um sistema aberto como a boca, o bicarbonato atua principalmente neutralizando o ácido. H+ + HCO3- ↔ H2CO3 ↔ H2O + ↑CO2 (anidrase carbônica) A saliva estimulada contém mais bicarbonato do que a saliva secretada sem estimulação, isto é conveniente porque é durante a alimentação, quando o fluxo de saliva é aumentado que os ácidos da placa são produzidos em maior quantidade. Isso assegura a presença de concentrações adequadas de bicarbonato para eliminar o ácido formado. Anfifuncionalidade da Saliva Uma determinada substância pode ter propriedade protetora ou nociva. Depende da localização da molécula e de seu local de ação. Amilases - Em solução, facilita a remoção de viridans streptococci. Absorvida na superfície dos dentes, pode promover a adesão de bactérias e promover a digestão do amido levando a produção de ácidos pelos microrganismos. Estaterina e proteínas ricas em prolina - Na superfície do esmalte, desempenham um papel chave na mineralização por inibir a formação de sais de fosfato de cálcio. Quando adsorvidas na superfície do esmalte, elas promovem a adesão de microrganismos cariogênicos. Ação protetora da saliva A saliva protege os dentes de diversas maneiras. - Atua diretamente na regulação da microbiota – a capacidade antimicrobiana é importante para controlar o crescimento bacteriano e consequentemente seu metabolismo acidogênico - Dilui e remove substâncias da cavidade oral - com a deglutição bactérias e substâncias nocivas são eliminadas da boca. - Capacidade tamponante - atua para equilibrar as mudanças de pH que podem favorecer a desmineralização da estrutura dentária. - O esmalte se encontra em um estado constante de mineralização e desmineralização em condições fisiológicas (conteúdo de fosfato de cálcio supersaturados, pH 6.8). A saliva tem grande importância na retenção das próteses totais e no conforto do paciente ao usá-las. Múltiplas funções da saliva no trato digestório • Cabe a saliva dissolver os alimentos de modo que as papilas linguais captem os sabores; • Limpeza mecânica de alimentos e bactérias; • Lubrificação das superfícies orais; • Proteção dos dentes e mucosa oro-esofageal; • Facilitação da fala, mastigação e deglutição (formação do bolo alimentar); • Digestão inicial de amido; • Limpeza esofagiana e tamponamento do ácido gástrico após refluxos normais; • Atividade antimicrobiana. Importância sistêmica da saliva A saliva atua na manutenção do pH do trato gastrintestinal superior. Além disso, possui fatores de defesa como anticorpos, citocinas e fatores de crescimento que estão associados aos mecanismos de defesa e cicatrização de processos inflamatórios e infecciosos não restritos à boca, mas também à orofaringe, ao esôfago e ao estômago. Principais problemas da saliva - Contaminação do preparo cavitário; - Alteração química dos materiais restauradores; - Alteração na composição da saliva; - Alteração da viscosidade da saliva; - Alteração no fluxo salivar; - Halitose; - Fonte de transmissão de doenças. Hipossalivação Existem diversas situações que afetam a produção salivar: - Desidratação pela pouca ingestão de água ou perda de líquidos; - Alterações emocionais; - Radioterapia; - Tipo de dieta alimentar e dificuldades na mastigação; - Uso de medicamentos; - Uso de drogas lícitas e ilícitas; - Algumas doenças; - Obstrução das vias aéreas superiores. Causas fisiológicas: Os lactantes têm uma descarga salivar maior até que se desenvolvam os reflexos musculares iniciais da deglutição e do selamento labial. Mais adiante a erupção da dentição, com incremento da atividade oral podem provocar salivação excessiva. Durante a gravidez também existe um amento da salivação, principalmente entre o segundo e o quinto mês de gestação. Causas patológicas: Origem bucal: dor oral, pulpites, periodontites e irritações locais (feridas produzidas por próteses mal adaptadas ou por dentes fraturados). O fluxo salivar aumenta por excitação das terminações sensitivas da região, desencadeando o mecanismo de defesa. Alterações inflamatórias faríngeas ou amidalites também podem originar ptialismo. Causas esofágicas: espasmos, câncer, introdução de corpos estranhos no esôfago. Causas gástricas: hérnia de hiato, úlcera duodenal que provoca pirose e hipercloridria e produz uma hipersalivacão para neutralização do ácido. Causas intestinais: helmintíases. Causas hepáticas: litíase e hepatite viral. Intoxicações exógenas por mercúrio, iodo ou chumbo e endógenas como uremia. Na fase crítica de determinadas enfermidades infecciosas. Causas neurológicas: neuralgias faciais, doença de Parkinsone epilepsia. Causas endócrinas: hipertireoidismo e pseudo- hiperparatireoidismo. Causas farmacológicas: determinadas drogas podem alterar a produção de saliva. Outras causas: Síndrome de Riley-Day (caracterizada pela transpiração excessiva, sialorréia, erupções cutâneas e flutuação na pressão arterial). Consequências da Hipossalivação Variam dependendo da intensidade da hipersecreção. - Frequentemente há descamação dos lábios, queilite angular e dermatite ao nível do mento. - Pode apresentar ocasionalmente fadiga muscular por uma constante deglutição. Também pode haver mudança no paladar (ácido, doce, metálico). - Em alguns casos, pode haver uma barreira social, pois os pacientes acabam possuindo um aspecto desagradável e incômodo, com uma face característica e odor desagradável pelo acúmulo constante de saliva.
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