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1 Raissa Novelli - ECG Eletrofisiologia e Potencial de Ação Aula 01 INTRODUÇÃO O coração é capaz de produzir energia elétrica, que pode ser captada na superfície do corpo (no tórax e MMSS) por eletrodos. A energia captada no exame (eletro) pode dar informações sobre a anatomia (aumento de câmaras cardíacas, alterações relacionadas a valvulopatias e miopatias, entre outros) e funcionamento do coração (se há presença de arritmias, bloqueios, alterações na condução). O eletrocardiograma é uma das formas de registro da atividade elétrica do coração. A energia elétrica gerada se transforma em energia mecânica (a contração miocárdica), ou seja, para que o coração faça a sua principal função, que é a função de bomba, que é fazer a ejeção de sangue através da contração miocárdica. A atividade elétrica da célula miocárdica compreende a sucessão cíclica de 2 eventos: • Potencial de repouso (a célula está em um repouso elétrico, pronta para ser ativada); • Potencial de ação (a célula é ativada → fenômenos eletrofisiológicos → energia elétrica → se transforma em energia mecânica). CÉLULA MIOCÁRDICA A célula miocárdica está em repouso quando ela está com uma polaridade positiva no seu exterior e negativa no seu interior, ou seja, a célula em repouso tem mais cargas positivas na sua parte externa e mais cargas negativas na interna. Se essa célula sofre um estímulo (S), essa célula passa a se despolarizar (processo de despolarização), ou seja, começa a acontecer uma inversão da polaridade. Esse processo vai se propagando dentro da mesma célula, e como as células estão todas interconectadas esse potencial de despolarização vai se propagando, célula por célula, até que todo coração se encontra despolarizado (despolarização completa), ou seja, com suas cargas invertidas em relação ao potencial de repouso. Essa é a sequência neces- sária para que o coração cumpra com sua função, ou seja, faça o papel de contração (papel mecânico). POTENCIAL DE REPOUSO A célula em repouso está pronta para despolarizar. Apresenta: • Meio intracelular com maior concen- tração de K+ (potássio), que tende a migrar para fora da célula (por meio de difusão simples). • Meio extracelular com maior concentração de Na+ (sódio), que tende a migrar para dentro da célula. Então por difusão simples teríamos: K+ tentando sair e Na+ querendo entrar. Só que o íon Na+ é bem maior que o íon K+ e com isso ele possui maior dificuldade para passar na membrana, ou seja, é mais difícil para o Na+ entrar do que para o K+ sair. Significa que a permeabilidade da membrana é maior para o K+, então por difusão sempre tem uma tendência de ter íons K+ saindo da célula. No meio intracelular predominam as cargas negativas (bicarbonato, fosfatos, proteínas), que tendem a puxar o K+ para dentro da célula, por meio de diferença elétrica. Então por difusão ele tende a sair e por diferença elétrica tende a entrar. Com isso se cria um equilíbrio dinâmico entre a força difusional e força elétrica. E isso quando a célula está em repouso vai gerar um potencial de ação de -90mV, isso significa que o interior vai estar mais negativo do que o exterior. Potencial de equilíbrio K+ Potencial de equilíbrio Na+ 2 Raissa Novelli - ECG Quem representa o átrio no ECG são as ondas P. Potencial de equilíbrio do K+: quando a célula está em repouso o meio intracelular tem a [150 mEq/L] de K+ e no extracelular a [5 mEq/L] de K+ (esse é o K+ plasmático que pode ser dosado no exame de sangue; VR: 3,5 a 5,5mEq/L, média de 5mEq/L). Poten- cial de equilíbrio do Na+: quando a célula está em repouso o meio intracelular tem a [10 mEq/L] de Na+ e no extracelular a [140 mEq/L] de Na+ (esse é o Na+ plasmático que pode ser dosado no exame de sangue; VR: 135 a 145mEq/L, média de 140mEq/L). Então quando a célula está em repouso existe uma concentração muito grande de Na+ fora da célula e uma concentração muito grande de K+ dentro. Porém, existe um equilíbrio dinâmico a onde o K+ está tendendo a sair, mantendo mais cargas negativas no interior da célula. Os ânions negativos no interior da célula, mostram que predomina no potencial de equilíbrio/de repouso cargas negativas no interior da célula (imagem ②). Se medir a diferença de potencial entre o meio extracelular e o intracelular encontra- ria uma carga negativa de -90mV. POTENCIAL DE AÇÃO Potencial de ação é quando a célula é capaz de gerar uma energia elétrica, é capaz de transformar essa energia elétrica em energia mecânica. Miocárdio recebe estímulo elétrico gerado por células auto excitáveis ou marcapasso, que são as células do nó sinusal (potencial de ação de resposta lenta), esse estímulo gerado no nó sinusal deflagra o potencial de ação em todos os tecidos excitáveis. E quando ele toca uma célula que está no potencial de repouso, ele vai desencadear o potencial de ação. Célula em repouso (④) preparada para receber um estímulo → estímulo elétrico → desencadeia uma série de mecanismos (⓪,①,② e ③) → responsáveis pela mudança da polaridade (interior mais positivo e o exterior mais negativo) → propagação do estímulo. Fase ⓪: Abertura dos canais rápidos de Na+ → influxo de Na+ para o interior da célula → ascensão do potencial de ação → Despolarização (inversão do potencial de repouso, de -96mV → +52mV). Fase ①: Inativação dos canais rápidos de Na+ (se fecham) → entrada de Cl- → pequeno descendo na curva do potencial (+52mV → +48mV). Fase ②: Abertura dos canais lentos de Ca2+-Na+ → entrada lenta de Na+ e Ca2+ para o interior da célula, porém continua sain- do K+ → platô (não há mudança da positividade, já teve entrada de todas as cargas positivas necessárias). Importância do cálcio entrar: É uma molécula fundamental para que haja interação da actina e miosina, que são responsáveis pela contração da fibra miocárdica. Fase ③: Fechamento dos canais de Ca2+-Na+ → saída do K+ da célula → retorno do potencial de ação ao repouso → Repolarização (ainda invertido, tem > K+ fora e > Na+ dentro). Fase ④: Potencial de repouso da membrana (amplitude de -80 a -100mV) → diástole cardíaca (recuperação/relaxamento). RESUMO DO POTENCIAL DE AÇÃO Fase ⓪ - Despolarização: entrada rápida de Na+. Fase ①, ② e ③ - Repolarização: saída contínua de K+ • ①: entrada de Cl-, cessa entrada de Na+; • ②: entrada de Na+ e Ca2+; •③: somente saída de K+. Fase ④ - Repouso: saída de Na+ e entrada de K+ através da bomba de Na+/ K+. ⓪,①,②: Fase de ativação ventricular; ⓪-③: Sístole; ④: Diástole. RECUPERAÇÃO DO POTENCIAL DE REPOUSO • Bomba sódio-potássio (Na+-K+): Joga 3 Na+ para fora e 2 K+ para dentro contra os gradientes de concentração; • Permeabilidade da membrana ao K+; • Ânions retidos no interior da célula . A bomba entra em ação e rapidamente vai recuperar o que aconteceu durante o potencial de ação. Célula se recupera (repolarizada): recuperação da bateria. Recuperando a grande [Na+] fora e a [K+] dentro. É um mecanismo ativo, é contra o gradiente de concentração (gasta energia). POTENCIAL DE AÇÃO ATRIAL x ECG Fase ⓪, ① e ②: onda P (despolarização atrial – ativação); Fase ③: repolarização atrial (não visível, encoberta pelo QRS); Fase ④: linha de base (repouso). 3 Raissa Novelli - ECG O único caminho (ponte elétrica) entre átrios e ventrículos é o Nó AV. POTENCIAL DE AÇÃO VENTRICULAR x ECG Fase ⓪ e ①: complexo QRS (despolarização ventri- cular); Fase ②: segmento ST (platô); Fase ③: onda T (repolarização ventricular); Fase ④: linha de base. POTENCIAL DE AÇÃO DE RESPOSTA LENTA É o marcapasso do coração, encontrada no Nó sinusal e Nó AV. • Não chega estímulo elétrico para ativar (despolarizar) essas células, ele vai se autoestimular. Ela que gera o estímulo para todas as outras célulasdo coração; • Essas células possuem uma configuração elétrica diferente → Possui um potencial de repouso (-60mV) menor do que as outras células cardíacas (-90mV); • Então elas têm uma velocidade de despolarização e condução menor; • Porém possuem capacidade de despola- rização espontânea, porque os canais rápidos de Na+ (que são responsáveis pela fase ⓪) são inativos nessas células, por outro lado os canais de Na+/Ca2+ estão ativos o tempo todo. PERÍODO REFRATÁRIO Período em que a célula não responde adequadamente a estímulos próximos. Pode ser: • Absoluto: do início da despolarização até antes da porção final da fase ③ (-60mV) → não aceita estímulo – a célula ainda não está pronta para responder; • Relativo: após o período refratário absoluto até o final da fase ③ → responde mal a estímulo – está quase pronta → recebe o estímulo → vai ter alguma resposta, mas vai ser inferior ao que ela poderia responder se estivesse em repouso absoluto. MIOCÁRIO Fibras musculares cardíacas: são formadas por muitas células individuais, interligadas em série (por isso que o mecanismo elétrico consegue passar). Miocárdio como sincício (massa única): • Discos intercalares: são estruturas das membranas celu- lares que separam fibras musculares cardíacas. Sincício atrial e ventricular: • Sincício atrial (verde); • Sincício ventricular (marrom); • Separados pelo esqueleto fibroso do coração. Sistema de condução: O NSA (nó sinusal ou sinoatrial) se localiza no teto do AD (átrio direito) próximo da VCS (veia cava superior) → se comunica por feixes especializados, ou seja, células capazes de propagar rapidamente o impulso elétrico, pelos Feixes Intermodais → se comunicam com o Nó AV → capaz de passar o estímulo dos átrios para os ventrículos através do Feixes de Hiss, ramo esquerdo, ramo direito e fibras de purkinje. Representação do estímulo x Imagem de ECG: •Origem do estímulo: NSA → Estímulo elétrico ( ) para começar o processo de ativação atrial (despolarização atrial). 4 Raissa Novelli - ECG •Despolarização dos átrios→ Formação da Onda P. •Ativação do NAV e feixe de Hiss: Tempo de passa- gem do impulso pelo NAV → medida do intervalo PR (representa a condução do estímulo pelo NAV). •Despolarização septo (His-Purking)→ Complexo QRS. •Despolarização dos ventrículos → Complexo QRS. •Repolarização ventricular → Onda T. Ao falar que teve despolarização ventricular ou que teve ativação ventricular (são sinônimos) significa que teve sístole ventricular. ATIVAÇÃO ELÉTRICA DO CORAÇÃO ❶ Despolarização atrial: Nó sinusal é a primeira região que se despolariza em um coração normal. • Despolariza-se, na sequência: Junção sinoatrial → AD → Septo interatrial → AE. Onda P: Registro da despolarização dos átrios. É a primeira deflexão (onda) formada no ECG. Possui 3 etapas: • Ativação do AD → 0,03 segundos; • Continua a ativação do AD e ativa o septo interatrial e AE → 0,04 segundos; • Ativação total do AE → 0,02 segundos. Obs.: Se houver um aumento do AD significa que tem mais massa de átrio a ser despolarizada, com isso há uma tendência em ter um aumento da amplitude da onda P, porque vai haver um aumento da duração da fase de despolarização do AD. Mas, se houver um aumento do AE, como por exemplo na estenose mitral, há uma tendência de aumento da duração da onda P, porque essa fase de despolarização do AE vai durar mais, com isso a onda P vai ficar mais alongada. ❷ Despolarização do AD: Acontece de cima para baixo, porque o NS está no AD alto. O sentido é da direita para esquerda, porque primeiro ativa o AD para depois ativar o AE (NS está mais à direita no átrio), e para frente, porque o NS é posterior no AD. Então se traçarmos um plano tridimensional do AD seria de cima para baixo, da direita para esquerda e para frente. ❸ Despolarização do AE: Também acontece da direita para esquerda, porque a origem do impulso é no AD e ele está caminhando progres- sivamente. Porém para trás, porque o AE anatomicamente é câmara cardíaca mais posterior no tórax, ele é posterior ao AD. Então o sentido da despolarização é da direita para esquerda e para trás. → E com isso a gente começa a ter a ideia de que a formação/o sentido da despolarização dos átrios vais acompanhar vetores (as ondas de despolarização podem ser representadas como vetores). Temos que 5 Raissa Novelli - ECG lembrar o conceito básico da matemática de Soma vetorial: O vetor AB é a resultante da soma de A+B. Resultante da despolarização dos átrios: De cima para baixo, da direita para esquerda e para frente. ❹Despolarização ventricular: A sequência até agora: Surge no NS → os átrios são despolarizados → estímulo elétrico passa pelo NAV → depolarização dos ventrículos. Complexo QRS: O registro eletrocardiográfico da despolarização dos ventrículos. Possui 3 etapas: • Ativação septal → 0,01s; • Ativação das paredes livres do VD e VE → 0,06s; • Ativação das bases dos ventrículos → 0,02s (próximo as valvas atrioventriculares -mitral e tricúspide-). 1º vetor: vetor septal Orientação: para direita, para frente e para baixo; Duração: 0,01 segundos. 2º vetor: vetor parede livre Orientação: para esquer- da, para baixo e para trás; Duração: 0,06 segundos. Obs.: O vetor do VD é menor porque a massa do VD é pequena, a quantidade de célula para ser despolarizada é muito menor. Então a resultante dos dois vetores vai dar a orientação, e como de VE é maior ele que comanda muito mais, e puxa o vetor para trás. 3º vetor: vetor basal Orientação: para direita, para cima e para trás; Duração: 0,05 segundos. EM RESUMO: Resultante da despolarização ventricular: para esquerda, para baixo e para trás. RESUMO DA AULA Q R S
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