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1 ISSN 2176-3062 Revista Científica ESAMAZ V. 1 n. 1 julho/dezembro 2009 2 ESCOLA SUPERIOR DA AMAZÔNIA Diretor Geral: Luzimar Reinaldo Barros Gonçalves Vice Diretora Geral: Ivonilda Maria de Araújo Barbosa Diretor de Planejamento Educacional: Reinaldo Williams Gonçalves Diretoria DAF: Maria Nazaré Gonçalves e José Carlos Araújo Barbosa Diretor do DIESP: Francisco Nilton Gomes de Oliveira Diretor Adj. DIESP: José Ricardo Vieira Diretora de Patrimônio: Rita Nazaré de Almeida Gonçalves Editora ESAMAZ Editor: Aureliano da Silva Guedes Vice-Editora: Rosana do Socorro Maciel Quaresma COMISSÃO EDITORIAL Aureliano da Silva Guedes (Editor); Rosana do Socorro Maciel Quaresma (vice-Editora); Adalto Herculano Gesser; Antonio José Nogueira; Eduardo Lamas (Secretario Geral). CONSELHO EDITORIAL Dr. Armando Manuel Barreiro Malheiro da Silva (Universidade do Porto-Portugal); Dr. Mauro Giudice (Faculdade de Medicina do ABC Paulista, Faculdades Osvaldo Cruz); Dr. Francisco de Assis Matos (UFPA); Dr. Carlos Alberto Batista Maciel (UFPA); Dr. Gilberto Souza Marques (UFPA); Dr. Antonio José Nogueira (UFPA/ ESAMAZ). Drd Aureliano da S. Guedes (UFPA/ESAMAZ). 3 ISSN 2176-3062 Revista Científica ESAMAZ V. 1 n. 1 julho/dezembro 2009 R.Cientifica ESAMAZ Belém v.1 n.1 jul/dez. 2009 4 S U M Á R I O EDITORIAL 6 Noções de Biossegurança para Assistentes Sociais que atuam em instituições psiquiátricas, hospitais e similares Principles of Biosafety for Social Workers of psychiatric institutions, hospitals and similar 7 Aureliano da S. GUEDES Perfil do dentista sob o olhar infantil The dentist's profile under an childish sight Leila Maués Oliveira HANNA; Rodolfo José Gomes de ARAÚJO; Débora Paes GABRIEL; Antônio José da Silva NOGUEIRA 24 Abordagem do conceito Mulligan na epicondilalgia lateral: uma nova visão em terapia manual Approach the Mulligan concept epicondilalgia lateral: a new vision in manual therapy Eduardo André Louzeiro LAMA 40 Estudo da Síndrome do Desconforto Respiratório através da abordagem clínica e fisioterapêutica Study of the Respiratory Distress Syndrome through the clinical approach and physiotherapeutic Flávia Maria Lessa MÉLO; Eduardo André Louzeiro LAMA 60 A Intervenção da Terapia Ocupacional na Equoterapia. The Intervention of Occupational Therapy in Equoterapia Rebecca Marques CARVALHO; Francisco Nilton G. de OLIVEIRA 83 Algumas reflexões sobre saúde mental Some reflections on mental health Rosana do S. Maciel QUARESMA 115 5 Título e texto amparados pela Lei n. 5.988, de 14 de dezembro de 1973. Copyright c dos autores - 2009 A Revista Científica ESAMAZ tem periodicidade semestral editada pela Escola Superior da Amazônia - ESAMAZ. PAGINAÇÃO: GRAFICA MONTAGEM: AURELIANO REVISÃO DE TEXTO: CLÉO CORRESPONDÊNCIA Escola Superior da Amazônia – Editora ESAMAZ - Tv. Municipalidade, 530 – Bairro: Reduto, CEP 66053 -000 - Belém – PA- Brasil Fone: (91) 32247777 E-mail: revistaesamaz@gmail.com Revista Científica ESAMAZ, v.1, n.1 (2009). Belém : ESAMAZ, 2009. Semestral ISSN 2176-3062 1.CIÊNCIAS DA SAÚDE - -Periódicos. 2. CIÊNCIAS SOCIAIS - Periódicos. I. Escola Superior da Amazônia CDD - 050 CDU - 051 6 Editorial A Revista Científica ESAMAZ é o resultado da inquietação de nossa instituição em levar ao público amazônico nossa produção científica. Diante disto estamos apresentando aos nossos leitores uma edição seleta, fruto dos resultados das pesquisas recentes desenvolvidas por nossos docentes. Nesta edição para estimular os colegas escrevi um artigo sobre as noções básicas de biossegurança para assistentes sociais que atuam em hospitais psiquiátricos e similares; Leila Hanna, Rodolfo Araújo, Debora Gabriel e Antonio Nogueira nos brindam com um excelente trabalho sobre a representação infantil da figura do dentista; o fisioterapeuta Eduardo Lamas nos oferece uma analise do conceito Mulligan aplicado a terapia manual, trata-se de uma abrangente pesquisa bibliográfica; Flavia Melo apresenta uma revisão bibliográfica sobre a Síndrome do Desconforto Respiratório sob a ótica da fisioterapia; Rebecca Carvalho e Nilton Oliveira fazem um estudo da aplicabilidade da Terapia Ocupacional na Equoterapia. A pesquisadora Rosana Quaresma faz uma reflexão sobre saúde mental, abrangendo um breve histórico dos tratamentos manicomiais aos espaços substitutivos. Queremos com estes artigos incentivar nossos discentes para iniciação científica e nossos docentes a publicarem suas pesquisas recentes. Prof. Aureliano da Silva Guedes Editor Rev. Científica ESAMAZ, Belém, v.1n.1 jul./dez., 2009 NOÇÕES DE BIOSSEGURANÇA PARA ASSISTENTES SOCIAIS DE INSTITUIÇÕES PSIQUIÁTRICAS, HOSPITAIS E SIMILARES. PRINCIPLES OF BIOSAFETY FOR SOCIAL WORKERS OF PSYCHIATRIC INSTITUTIONS, HOSPITALS AND SIMILAR Aureliano da S. GUEDES Epidemiologista Drd. C.I Universidade do Porto. MSC. POLÍTICAS SOCIAIS/S. SOCIAL-UFPA Prof. Adj UFPA 1 Coordenador da Esp. em GTI/ESAMAZ RESUMO: Mostra os princípios da biossegurança aos Assistentes Sociais que trabalham em instituições psiquiátricas, hospitais e correlatos. Aborda as noções iniciais para o assistente social quanto a identificação, prevenção e conseqüências dos riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos, psicológicos e mecânicos em instituições de saúde. Faz recomendações ao profissional. Palavra-Chave: Biossegurança, Instituições de Saúde, Assistente Social ABSTRACT: Show the biosafety principles applied to social workers in psychiatric institutions, hospitals and related. Addresses the initial concepts for the social worker about the identification, prevention and consequences of risks: physical, chemical, biological, ergonomic, psychological and mechanical in health institutions. Makes recommendations to the professional. Key Works: Biosafety, Heath Institution, Social Work 1 Ministrou aulas e orientou monografias em diversos cursos de Pós- graduações em Engenharia de Segurança do Trabalho, Biossegurança, dentre outros. E-Mail aurelian@ufpa.br. 8 1 INTRODUÇÃO Desde o início da humanidade que os trabalhos têm riscos de acidentes, doenças, dentre outros. Contudo, isso era visto como uma fatalidade, acaso, castigo dos deuses, dentre outros. Somente no século XVI é que se observou que algumas doenças estavam associadas às atividades profissionais. Antes os acidentes, obviamente, já eram notórios, mas não relacionavam às atividades exercidas com algumas doenças. Em 1556 George Bauer publicou um livro sobre doenças e tipos de acidentes que ocorriam com trabalhadores em minas de prata, dando ênfase a pneumoconiose 2 , iniciando assim a discussão sobre doenças ocupacionais. Em 1567, Paracelso relacionou várias doenças que ocorriam com freqüência em determinados tipos de atividades. Em 1700 Bernadino Ramazzini 3 publicou a obra “De Morbis Artificum Diatriba”4, relacionando com precisão, para a época, determinadas doenças com as atividades profissionais. 2 Patologia causada pelo acúmulo de poeira nas paredes do pulmão, comum em trabalhadores de fábricas de cimento, carvoarias, minas, etc. que não utilizam EPIs (Equipamentos de Proteção Individuais) e EPCs (Equipamentos de Proteções Coletivas) adequados às atividades específicas. Vale ressaltar que essa pneumopatia pode se apresentar de diversas formas conforme o tipo de poeira inalada. 3 Considerado o pai da Medicinado Trabalho. 4 MARSOLA, Anne C., GUEDES, Aureliano da S., BEZERRA, Patrícia da S (2009) 9 Com o surgimento dos sindicatos durante a Revolução Industrial, esses passam a reivindicar dos patronais e dos governos medidas para conter acidentes e doenças do trabalho nas fábricas, surgindo nesse processo o médico de fábrica, primeiramente na Inglaterra e posteriormente em outros países, originando, mais tarde, a Medicina do Trabalho. Com a criação da ONU 5 e a Carta dos Direitos Fundamentais do Homem, da OIT 6 e OMS 7 muitos países, como o Brasil, tiveram que buscar melhores condições de trabalho em seus territórios, principalmente à segurança, saúde e higiene do trabalho. Mas o que é saúde? O que é higiene? O que é Segurança? Logicamente que essas respostas podem ser diferentes em cada país, para cada governo, para cada autor, em cada época. A saúde, para existir depende de vários fatores: políticos, econômicos, sociais e, logicamente, ausência de epidemias. Dizer que programas e projetos de governos quanto a vacinação, campanhas de orientação e prevenção, cuidados com o meio ambiente, dentre outros, diminuem o risco de doenças significativamente, isso nem se discute. Contudo, os governos têm que compreender que saúde está relacionada, principalmente a qualidade de vida do cidadão, o que implica em educação, bem estar, boas condições de 5 Organização das Nações Unidas. 6 Organização Internacional do Trabalho. 7 Organização Mundial de Saúde. 10 trabalho; remuneração digna para ter boa alimentação, moradia e lazer; higiene no trabalho, condições sanitárias; medicina preventiva, dentre outros. Contudo, o ser humano também está sujeito as doenças que surgem independentes destes fatores. Jekel (2005, p. 14) diz que: “O desenvolvimento de uma doença que ocorre ao longo do tempo podem ser divididos em três etapas: período de pré- doença, período de latência e período sintomático”, essas etapas podem ocorrer por infestação, infecção, ou pelo desgaste da profissional com as atividades exercidas. 2 RISCOS AOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE Os riscos ocupacionais dos profissionais da área de saúde, incluindo-se aí o assistente social que atua em meio hospitalar, ambulatório ou casas de atendimento aos portadores de transtornos mentais, dentre outros, são causados por agentes físicos, químicos, biológicos, ergonômicos, mecânicos, psicológicos e de acidentes propriamente ditos. Os riscos físicos são aqueles causados por: ruídos, vibrações, radiações ionizantes (Ex. Raios-X 8 , Raio Gama, manipulação de Césio 137, etc.), radiações não ionizantes 9 , 8 Depende do tipo de aparelho, o que deve ser observado no controle da exposição a radiações ionizantes em trabalho de clínica radiológica. 9 Originárias das micro-ondas, raio lazer, luz ultravioleta, luz infravermelha, dentre outros, o que deve seguir as recomendações de riscos e precauções na utilização. 11 frio, calor, pressões anormais, umidade. Cada tipo de radiação tem seu grau de tolerabilidade pelo ser humano, que dependem da distância do profissional da fonte emissora, idade, tempo de exposição, tolerabilidade que estão estabelecidos nas tabelas de exposição. O uso de EPI e EPC apropriados amenizam ou exterminam estes riscos. O ruído, por exemplo, dependendo dos decibéis e tempo de exposição pode causar perdas auditivas ou mesmo efeitos extra-auditivos, tais como: alterações hormonais, alterações do humor, alterações do sono, carga mental, hipertensão arterial, stress, baixo desempenho no trabalho, dentre outros. Outro exemplo seriam as radiações ionizantes que conforme o tempo de exposição, quantidade de radiação, sensibilidade imunológica, stress, dentre outros, podem, em caso agudo, causar a síndrome da irradiação aguda, edema cerebral, leucemia aguda, radiodermatite, catarata, dentre outros; Em casos crônicos, vão desde as dermatites, aplasia da medula, leucemia megaloblástica, mutagênese, carcinogênese, oncogênese, indo até mesmo à esterilidade e envelhecimento precoce, dentre outros efeitos colaterais ao profissional que não segue as recomendações apropriadas as atividades. Para amenizar os riscos físicos são necessários: exames periódicos no profissional; os que trabalham com raios-X devem realizar exame citogenético antes da concepção; instruções para utilização dos EPI’s e EPC, treinamentos sob riscos e profilaxias, avaliação dos níveis de 12 ruídos com decibelímetro, medidas das vibrações e medição da radiação por dosímetro, e até mesmo analise da intensidade de lux no ambiente, além da manutenção periódica dos equipamentos radioativos conforme normas estabelecidas pelo o CNEN 10 , dentre outros. Os riscos químicos são causados por poeiras, fumos, gazes, neblinas, névoa, vapor, substâncias compostas por produtos químicos em geral, cada um com seus riscos e precauções. A penetração no corpo humano pode ser através das vias aéreas, gástrica e dérmica. No caso do trabalhador em ambientes hospitalares e assemelhados, há os riscos químicos causados por gases anestésicos 11 , materiais antissépticos e esterilizantes 12 , gazes e vapores esterilizantes, metais pesados como o mercúrio, hexaclorófeno, óxido de etileno, látex das luvas, manuseio de grande quantidade de substâncias químicas utilizadas em um hospital, administração de medicamentos aos pacientes, 10 Conselho Nacional de Energia Nuclear 11 Em caso agudo pode causar sonolência, letargia, náuseas, cefaléia, irritabilidade, problemas de coordenação motora, etc. Em caso crônico os riscos são aumentados e podem, nas grávidas, causar aborto e/ou malformação congênita, para as mulheres há o risco de contrair câncer, e ambos os sexos correm riscos de terem distúrbios neurocomportamentais, suicídio, hepatopatias, dentre outros. 12 No caso de anticépticos e esterilizantes iodatos, formaldeídos, etc., podem causar irritação da pele e mucosas, câncer das fossas nasais e pulmão, dentre outros. Deve-se observar também o uso de óxido de etileno, os tipos de sabões, detergentes, soluções cloradas, álcoois e ácidos que conforme sua quantidade, tempo de exposição, dentre outros fatores, podem causar doenças crônicas ou agudas que podem ir de uma simples irritação das mucosas a dependência química. 13 quimioterápicos 13 , durante a utilização e lavagem de materiais que contém mercúrio, abertura de câmaras, carga e descarga de materiais, processo de esterilização, dentre outros. Dentre as patologias incapacitantes causadas por riscos químicos podemos citar: a leucemia, a intoxicação crônica com alteração no SNC 14 , dermatites, neoplasias, dentre outras. Todavia, medidas como substituir o manômetro de mercúrio por outro menos agressivo, substituição da amálgama por resinas fotopolimerizantes ou porcelanadas, monitoramento químico dos ambientes para detectar gases ou vapores tóxicos, arejamento dos ambientes, layout planejado, EPI’s e EPC’s adequados a cada atividade15, dentre outros, podem diminuir ou mesmo eliminar esses riscos. Os riscos por agentes biológicos são os que estão mais presentes em ambientes hospitalares e semelhados, podem atacar o profissional pelas vias respiratórias, digestivas e dérmicas, tendo como transmissores vírus, fungos, bactérias, parasitas, etc., que transmitem inúmeras doenças, dentre elas a tuberculose, hepatite em suas diversas manifestações, rubéola, herpes, pneumonia, varíola, doenças meningocócicas, escabioses, pediculose, ftiríase, etc. Hinrichsen & Pires (2009, p.24) dizem que: 13 Seus efeitos agudos são: irritação da pele e mucosas, tosse,cefaléia, náuseas, vômitos, dor abdominal, etc. Nos casos crônicos pode apresentar mutagênese, carcinogênese e teratogênese. 14 Sistema Nervoso Central. 15 Ver Portaria nº 4 de 31 de julho de 1991. 14 “Os agentes biológicos dividem-se em quatro grupos I, II, III, IV, sendo considerados critérios: a patogenicidade para o homem, a virulência, o modo de transmissão, a endemicidade e a existência ou não de profilaxia e de terapêutica eficazes”. Todo trabalhador em ambientes hospitalares e assemelhados está sujeito a acidentes ou riscos no exercício profissional por agentes biológicos, por vários motivos, dentre eles: por estar em contato permanente com paciente e seus fluidos corpóreos, uso de banheiro, uso de celular em áreas de isolamento, etc. Contudo, o grande problema é o desconhecimento das regras básicas de higiene e profilaxia. Além destes riscos há os causados por ferimentos não cuidados, acidentes com perfurocortantes (agulhas, pinças, bisturis, dentre outros), nesses casos ocorrem riscos, de contrair HIV, HBV 16 , HCV 17 , dentre outros. Há riscos, também, durante aspiração endotraqueal, baciloscopia, passagem intertoráxica, em exames laboratoriais diversos, paciente com doença infectocontagiosa como a tuberculose multiresistente, influenza, conjutivite, impetigo, escabiose, sarampo, Clostridium difficile, dentre outras. Devemos lembrar que esses riscos voltam-se não só ao profissional, mas ao próprio paciente. 16 É recomendada a vacinação a todos profissionais do hospital ou semelhado, por reduz o risco de infecção após exposição ocupacional. 17 Hepatite C 15 Há diversas medidas para diminuir ou exterminar os riscos por agentes biológicos, que são observados na NR32 do Ministério do Trabalho, CCIH dos hospitais, Guidelines do CDC, todavia, o profissional deve se preocupar em conhecer os riscos de cada atividade profissional; manter a boa higiene pessoal e ambiental; descartar de modo adequado os materiais perfurocortantes; não recapear agulhas; nas atividades utilizar as regras dos 5S e 1 W; solicitar filtros HEPA – high efficiency particulate para áreas de riscos por partículas infectantes; atender aos programas de imunização, participar dos treinamentos promovidos pelo hospital; exigir um programa de combate a animais sinantrópicos (insetos e roedores); usar EPI’s e EPC’s adequados às atividades; realizar o PPD 18 periodicamente; higienizar as mãos corretamente, tanto antes quanto após o uso das luvas; relatar acidentes que ocorram e, se necessário, aceitar a prevenção quimioprofilaxia estabelecida pelos médicos do trabalho, infectologistas, dentre outros; restringir o uso de jalecos ao ambiente de trabalho, ter cuidado com lesões na pele; observar as regras referentes ao uso de cosméticos; uso de cabelos presos e bem apresentados; unhas cortadaas; dentre outros. Quanto a isso Takanagui et alii (1993, p. 26) diz que: “Barreiras imunológicas e físicas são necessárias para reduzir a transmissão de agentes infecciosos, quebrando assim a cadeia de transmissão de doenças (...) Com medidas preventivas básicas e fundamentais 18 Derivado Protéico Purificado. 16 temos a vacinação, a utilização adequada de técnicas de esterilização, a observância de processos apropriados de isolamento e de gerenciamento de resíduos, o manuseio correto de sangue, fezes, urina e outros tipos de secreção, o uso de equipamento de proteção individual (EPI) e a constante higiene das mãos, a fim de evitar o contato direto com os agentes biológicos.” Você já imaginou um assistente social trabalhando de luva e máscara? Estranho, correto? Todavia, ele está tão sujeito aos agentes biológicos no ambiente hospitalar como qualquer outro trabalhador seja ele da área de saúde ou não, pois trabalha com o acolhimento de pessoas doentes e, por exemplo, um paciente que utilizou o banheiro e não higienizou as mãos corretamente, por um simples aperto de mão pode veicular a transmissão de determinadas doenças infecciosas, ou parasitárias, se o profissional não tomar as medidas corretas de higiene. Portanto, estes profissionais devem ser treinados como os outros, quanto aos riscos profissionais em ambientes hospitalares ou correlatos. Todavia, muitas vezes são esquecidos por não atuarem diretamente com o “tratamento”, apesar de trabalharem com o paciente. Os riscos ergonômicos, regulados na NR17 do Ministério do Trabalho, podem ocorrer por diversos fatores, dentre eles: layout inadequado à ergonomia do trabalhador, iluminação insuficiente, esforço repetitivo, monotonia, postura inadequada, ritmo excessivo de trabalho, trabalhos por turnos, trabalho noturno, esforço físico intenso, 17 levantamento de objetos e transporte de modo manual com peso acima da capacidade tolerada pelo biótipo, situações causadoras de stress físico ou psíquico, etc. Esses riscos estão presentes em todas as atividades dos hospitais e assemelhados, indo desde uma atividade simples como digitar uma receita, preparar pacote cirúrgico, realizar diagnósticos por imagem, cirurgias convencionais, a má postura, dente outras. As conseqüências dos riscos ergonômicos são muitas, por exemplo: insônia, mialgia, síndrome do desfiladeiro torácico, tendinite do supra espinhoso stress, tenosinovite de extensores dos carpos, dentre outros. Alguns desses problemas podem ser exterminados com medidas profiláticas simples, tais como: educação postural; redução da jornada de trabalho 19 ; adequação dos equipamentos às necessidades dos trabalhadores; layout do ambiente de trabalho; seguir as regras básicas de ergonomia; exercícios físicos regulares; dentre outros. Outros casos podem ser necessários acompanhamento de medicina especializada e fisioterapia com RPG, cinesioterapia, aquaterapia, e até procedimentos cirúrgicos. Riscos psicológicos em ambiente hospitalar e assemelhados são muitos, contudo o stress é o mais freqüentemente identificado, causado por vários fatores, dentre eles contato com pacientes: pulsilames, verborréicos, agressivos, que sofrem recaídas ou estão em estado terminal, 19 Este é um dos mais sérios problemas, pois no Brasil muitos profissionais possuem vários empregos para ter um salário digno. 18 familiares apreensivos, falecimento, dentre outros; Além destes, soma-se atividades em turnos, trabalho em diversas instituição, chefes controladores, problemas familiares, alcoolismo, dentre outros. O assistente social que trabalha em instituições psiquiátricas está sujeito a Riscos Psicológicos, pelos motivos acima citados e outros tantos motivos, dentre eles: a) Formação profissional sem preparo adequado para esse tipo de atividade e, em sua grande maioria, sem especialização em serviços de instituições de saúde, psiquiátricas, etc.; b) Porque o convívio com o paciente em instituição de serviço substitutivo é necessário, levando o profissional a uma maior aproximação com este, muitas vezes sentindo-se frustrado quando não vê a intervenção surtindo efeito e o paciente tendo surtos constantes; c) Excesso de cobrança do paciente e sua família, de outros profissionais da instituição e da chefia; d) Geralmente não faz análise com um psicólogo ou psiquiatra para poder suportar as pressões dessa atividade. Riscos mecânicos de acidentes - esses possuem inúmeras causas que vão desde a infra-estrutura do ambiente, passando pela falta de manutenção de máquinas e equipamentos, indo até a falta de EPI’s adequados e de instrução sobre cuidados necessários à atividade exercida. Seus principais agentes são: arranjo físico inadequado, máquinas e equipamentos sem proteção, ferramentas19 inadequadas e/ou defeituosas, problemas relativos à eletricidade, mau condicionamento de equipamentos, riscos de incêndio e explosões, iluminação inadequada, manuseio de material perfurocortante, dentre outros. No caso do assistente social de instituições psiquiátricas e assemelhadas, está sujeito, como qualquer um trabalhador, a alguns dos riscos acima citados. Todavia, um está mais presente, que é a possibilidade de ser agredido por um portador de transtorno mental em crise, pois nem sempre possui cursos e treinamentos para agir nessas situações e, porque uma simples cadeira ou uma ferramenta deixada pelo pessoal de manutenção física do prédio pode se tornar uma arma fatal, além de que nem sempre o paciente dá escuta nesses momentos. 3 CONCLUSÃO Acidentes não são fatalidades ou acaso, tem suas causas bastante claras, geralmente por: Falta de esclarecimento, uso inadequado ou não uso de EPI’s e EPC’s, ferramentas improvisadas, dentre outros. Todo profissional deve receber orientação adequada a sua atividade tanto pelos técnicos de segurança quanto de engenheiros de segurança e médicos do trabalho 20 . Todavia, o profissional deve buscar: cartilhas de orientação; conhecer o mapa de riscos, participar 20 Se o número de empregados não requer esses dois últimos profissionais, deve-se durante a SIPAT – Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho, convidar palestrantes para abordarem os riscos mais eminentes na instituição de saúde. 20 de palestras abordando riscos gerais e de cada atividade, avaliação periódica dos riscos de exposição, riscos ergonômicos, dentre outros. Contudo, mudança de turnos de trabalho, o que é muito comum em hospitais; baixo salário que leva o profissional a ter mais de um emprego para poder viver com dignidade, aumentando os riscos de trabalho, tanto pelo cansaço quanto ao aumento do tempo de exposição aos riscos. O Hospital deve oferecer aos empregados: EPCs e EPIs adequados as atividades e dentro do seu prazo de validade; programas de vacinações; exames admissionais, periódicos e demissionais, controle de tuberculose, programas de prevenção de doenças, programas de prevenção do acidente perfurocortante, quimioprofilaxia aos que sofrerem acidentes ocupacionais, materiais de higiene e limpeza adequados às atividades, avaliações com infectologistas, treinamentos para cada atividade, SIPAT – Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho, registro dos acidentes de trabalho, trabalhar com medicina preventiva para todos empregados, mapas de riscos bem definidos, PCMSO 21 , PPRA 22 , dentre outros. Aos profissionais médicos e enfermeiros as medidas básicas universais como o uso de luvas, avental, capote, botas, máscara, gorro e óculos (em alguns casos), dentre outros somados as regras básicas de higiene e profilaxia 21 Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional. 22 Programa de Prevenção de Risco Ambiental. 21 diminuem significativamente os riscos. Além de que, como afirma Takayanagui et alii (1993, p. 26): “... todo trabalhador de saúde, deve também seguir normas indicadas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), pela Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), pela Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), pelo Centro de Vigilância Sanitária (CVS), principalmente em relação a AIDS, começando pela simples técnica de higiene das mãos, quase sempre relegada por todos.” Completando-se a isso as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e as Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Trabalho do Ministério o Trabalho. Nos hospitais e assemelhados, há profissionais que atendem o paciente e não são da área de saúde propriamente dita, e que às vezes são esquecidos quanto a treinamentos de higiene e profilaxia, onde um simples lavar de mãos após o atendimento poderia evitar diversas doenças tal como a HBV. Porém, muitas outras doenças ocupacionais espreitam esses profissionais, onde o stress é o grande destaque, principalmente para assistentes sociais que atuam em instituições de atendimento psiquiátrico. Vale ressaltar que quanto a riscos no Brasil se reconhece os físicos, químicos, mecânicos, biológicos e ergonômicos, nos Estados Unidos da América, a estes são incluídos os riscos de ordem psicossocial, o que faz falta no nosso país, principalmente para os profissionais que atuam 22 com portadores de distúrbios mentais, mas já há tendências a discussões. O assistente social, não está imune a maioria dos riscos físicos, químicos, ergonômicos, biológicos, ergonômicos, dentre outros. Contudo, volto a dizer, o stress é uma doença presente na vida do profissional de instituições hospitalares e assemelhados e, esse risco ocupacional aumenta significativamente quando este trabalha em instituições de atendimento aos portadores de transtorno mental, onde não se pode menosprezar os riscos que partem de pacientes e familiares durante a visita familiar, pacientes com distúrbios mentais que durante a crise podem agredir o profissional com palavras, gestos etc., não dando escuta naquele momento, pacientes ou familiares alcoolizados ou drogados, insatisfeitos pelo tempo de espera por atendimento, além do assédio sexual não deve ser descartado. Contudo, cursos e treinamentos quanto aos procedimentos de segurança no trabalho podem diminuir esses riscos. Mesmo com as medidas de segurança necessárias o profissional ainda poderá apresentar alguns efeitos das condições de trabalho, onde se pode destacar: a) De natureza comportamental: a fadiga física, síndrome da fadiga crônica, absenteísmo 23 freqüente, stress, dentre outros; b) De natureza física a LER/DORT, lombalgia não só colunar, mas por excesso de carga física e/ou emocional, dentre outras. 23 Falta ao trabalho. 23 Conclui-se é que toda profissão possui seus riscos e, o assistente social não está imune a eles, sendo necessário que sejam abordados nas universidades, durante o exercício da profissão, dentre outros, e sejam estabelecidas medidas que possam amenizá-los, que dependerão do comprometimento das chefias, do SESMT, da CIPA da instituição, do governo, da legislação e fiscalização específicas e, acima de tudo, do próprio trabalhador. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério do Trabalho. NR 32 In: ATLAS. Manuais de legislação: segurança e medicina do trabalho. 54 ed. São Paulo: Atlas, 2004. HINRICHSEN, Sylvia Lemos, PIRES, Andrezza. Níveis de Biossegurança Física em Serviços de Saúde. In: HINRICHSEN, Sylvia Lemos. Biossegurança e Controle de Infecções: risco sanitário hospitalar. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2009. JAKEL, James F., KATZ, David L., ELMORE, Joann G. Epidemiologia, bioestatística e medicina preventiva. 2 ed. Porto Alegre : Artemed, 2005. MARSOLA, Anne C., GUEDES, Aureliano da S., BEZERRA, Patrícia da S. Estudo Comparativo das Recomendações de Prevenção de Riscos Biológicos da Nr32 e CCIH Do HUJBB. Belém : UFPA/HUJBB, 2009. (mimeo). TAKANAYANAGUI, Ângela Maria Magosso, et alli. Biossegurança, enfermagem e os resíduos de serviço de saúde. In: Revista Brasileira de Saúde Ocupacional. São Paulo : Fundacentro. V. 21, n. 80, out./dez., 1993, p. 23-27. Rev. Científica ESAMAZ, Belém, v.1n.1 jul./dez., 2009 O PERFIL DO DENTISTA SOB O OLHAR INFANTIL THE DENTIST'S PROFILE UNDER AN CHILDISH SIGHT Leila Maués Oliveira HANNA Mestranda em Odontologia (UFPA) Professora de Farmacologia da ESAMAZ Rodolfo José Gomes de ARAÚJO Mestre em Odontologia (UFPA) Professor de Periodontia da ESAMAZ Débora Paes GABRIEL Especialista em Periodontia (CESUPA) Antônio José da SilvaNOGUEIRA Doutor em Odontopediatria Coordenador do Curso de Odontologia da ESAMAZ RESUMO: O presente trabalho analisa a visão que o paciente infantil tem do dentista e do ambiente odontológico. Através de interpretações de desenhos associados a um questionário específico. Este método foi aplicado em trinta e duas crianças na faixa etária de sete a oito anos, matriculadas em uma escola particular do município de Belém. Concluiu- se que a maioria das crianças apresentou-se receptivas tanto ao cirurgião- dentista quanto ao tratamento. Palavras- Chave: Psicologia Infantil; Desenho; Odontopediatria ABSTRACT: This article analyses the view of childish patients about the dentist and the odontological environment, through the draws interpretations, associated to the special questionnaire. This methodology was applied in thirty two children between 7 and 8 years old, from a private school of Belém city. The study shows that the most of the children are receptive even to the treatment and the dentist. Key Words: Children Psychology, Drawing, Pediatric dentistry 25 1 INTRODUÇÃO O comportamento da criança é uma questão importante em odontopediatria. A abordagem ideal do paciente infantil envolve a compreensão de alguns fatores que interferem no atendimento odontológico. Tais fatores relacionam-se não só com o paciente, mas também com o profissional e seu ambiente de trabalho, e com a estrutura familiar na qual a criança está inserida. Neste sentido, a psicologia tem sido de grande auxílio para um melhor entendimento dos fenômenos que cercam o atendimento odontológico. Tal conhecimento é essencial àqueles que se propõem a atender crianças, pois, o clínico menos informado poderá, inadvertidamente, causar danos nos mecanismos da criança (8). Assim, o grafismo constitui-se numa técnica psicológica de grande valia para a percepção dos aspectos afetivos da personalidade da criança já que podem projetar características como ansiedade, medo e traumas (6). Com base nessas afirmações, o presente trabalho se justifica em odontopediatria e terá como objetivo buscar a visão que o paciente tem do dentista e do ambiente 26 odontológico, através da interpretação de desenhos livres de escolares da rede privada do município de Belém. 2 REVISÃO DE LITERATURA O sucesso do tratamento odontopediátrico está intimamente associado ao nível de conhecimento que o Cirurgião-dentista possui em relação ao seu paciente infantil e vice-versa. Vários pesquisadores (17, 16, 5, 14) associam comportamento da criança com a ansiedade infantil, com a educação em casa, com as experiências médicas e odontológicas anteriores, com a conduta do dentista durante os procedimentos, e ainda com a experiência da dor de dente já vivenciada pelo paciente. Em odontologia, o estudo da ansiedade envolve quase sempre o emprego de técnicas projetivas, e questionários como instrumentos de medida da ansiedade. A maioria dos métodos utilizados para avaliação da ansiedade odontológica é aplicada em crianças com idade acima de seis anos ou em adultos, pois são formas de avaliação que exigem certa maturidade de pensamento e capacidade de escrever que, em 27 geral, não se não se encontram em crianças com idade abaixo desta faixa etária (13). Por ser a ansiedade infantil um importante fator preditor do comportamento da criança no ambiente odontológico, (1, 5, 14), é de grande relevância que o odontopediatra possua instrumentos para avaliá-la, tanto no consultório quanto em trabalhos de pesquisa. Dentre esses instrumentos, estão as técnicas projetivas, onde o desenho é uma delas, e são suficientes para a obtenção de respostas de crianças, as quais seriam difíceis de se obter de outra forma (9). Assim, esses autores afirmaram que os desenhos da figura humana “constituem a fonte mais rica de informação”, pois a criança transfere para o desenho seus sentimentos a respeito de uma pessoa específica. Porém, para se medir a atitude, não se deve utilizar apenas os desenhos, mas também a observação ou entrevista. Questionar a criança sobre o desenho pode nos dar informações adicionais. Estes autores ainda afirmam que, profissionais que trabalham com crianças deveriam se preparar mais amplamente para se interarem do que os desenhos têm a comunicar. Enfim, o uso do desenho, como 28 forma de comunicação não-verbal, pode ser utilizado de maneira proveitosa para aqueles profissionais da área da saúde que lidam com as crianças. Ao desenhar, a criança usa um meio fácil para ela de nos dizer sua história pelo seu nível de compreensão. O desenho é uma forma através da qual, a criança pode expressar seus medos, desejos e fantasias. Através dos desenhos, a criança comunica o que é importante para ela, suas preocupações (7). Os profissionais que trabalham com crianças deveriam se preparar para se inteirarem do que os desenhos têm a comunicar (9). O uso do desenho como forma de comunicação não-verbal, pode ser utilizado de maneira proveitosa por aqueles profissionais da área de saúde que lidam com crianças. A linguagem não se realiza apenas por palavras, é preciso abordá-la de forma mais ampla. Um desenho pode nos trazer mais informações que um longo questionário. Além de ser uma tarefa que desperta o interesse da criança em executá-lo. O desenho é uma expressão da afetividade e do intelecto da criança, que está além da "liberdade de expressão verbal" (6). Devendo, assim, 29 funcionar como um auxiliar no conhecimento da criança como um todo. 3 MATERIAIS E MÉTODOS Nesse estudo participaram 32 crianças na faixa etária de 7 a 8 anos, sendo 20 crianças do sexo feminino e 12 do masculino, regularmente matriculadas em uma instituição de ensino privado do município de Belém. Essas crianças foram abordadas individualmente, para realizar um desenho livre (Figura 1) a respeito do seu dentista e do ambiente odontológico, e em seguida, responderam a um questionário de perguntas subjetivas sobre os mesmos aspectos. FIG. 1 – Criança desenhando individualmente sob supervisão da pesquisadora. 30 A pesquisa foi feita através de quatro examinadores devidamente calibrados, para que fizesem as perguntas da mesma maneira e que no momento do desenho não respondesem a nenhuma pergunta feita pela criança. Os examinadores entregavam uma folha de papel para cada criança, que estavam separadas, para minimizar a cópia, já que foram chamadas em grupos de quatro, para executar o desenho. Para se obter o desenho as crianças foram instruídas da seguinte maneira: “nesse papel, eu gostaria que você fizesse um desenho do (a) seu (sua) dentista e da sala onde ele (a) lhe atende”. O desenho foi feito à mão livre e para tal, cada criança utilizou lápis número 1 ou giz de cera colorido, de acordo com a preferência, papel A4 e borracha. Após a execução do desenho, cada criança foi questionada para fazer comentários sobre aquilo que desenhou. Esses foram anotados pelo examinador e serviram, juntamente com as respostas do questionário, feito posteriormente, como dados para análise do desenho e parecer psicológico. Depois de acabar o desenho, cada criança respondeu individualmente a um questionário, que continha as seguintes 31 perguntas: 1) O que é um dentista? ; 2) Como o dentista trata você? ; 3) Do que você mais gosta: no dentista, no tratamento e no consultório? ; 4) Do que você menos gosta: no dentista, no tratamento e no consultório? As respostas foram fielmente transcritas pelos examinadores de modo a serem posteriormente avaliadas pelo psicólogo. 4 RESULTADOS Através da análise dos desenhos (Tabela I) observou-se que 28% das crianças apresentaram-se hostis ao dentista e 72% receptivas. Quanto ao quesito tratamento, 11 crianças apresentaram-se hostis e19 receptivos. No questionário, observou-se que 72% das crianças caracterizam o cirurgião-dentista como “Pessoa que cuida dos dentes”, 25% “Pessoa que tira os dentes” e 3% não sabiam o que era o dentista. Com relação à maneira de tratar a criança, 87,5% afirmaram que o dentista trata bem e 6,25% com bondade, não havendo qualquer tipo de reação negativa. 32 Percentagem de crianças Hostil ao Dentista 28% Receptivo ao Dentista 72% Hostil ao Tratamento 34% Receptivo ao Tratamento 66% Fonte: Dados da Pesquisa Tabela 1- Análise do Perfil do Dentista sob o Olhar das Crianças de 7 e 8 anos do Centro de Ensino Montessorio do Pará , no Município de Belém, em 2004. As respostas mais encontradas, nos questionários, estão demonstradas nos gráficos 1, 2, 3, 4, 5 e 6. 44% 22% 9% 9% 16% Gosta de Tudo Atitudes de Dar Brindes Cabelo Não Sabe Outros Fonte: Dados da Pesquisa Gráfico 1- O que a Criança Mais Gosta no Dentista 9% 50% 9% 6% 6% 20% Jato de ar e Água Prof ilaxia Exodontia Colocar Aparelho Não Sabe Outros Fonte: Dados da Pesquisa Gráfico 2- O que a Criança Mais Gosta no Tratamento 33 22% 6% 23%15% 34% Cadeira Jato de ar e água Outros Refletor de Luz Brinquedos Fonte: Dados da Pesquisa Gráfico 3- O que a Criança Mais Gosta no Consultório 82% 6% 6% 6% Gosta de Tudo Jeito Roupa Sapato Fonte: Dados da Pesquisa Gráfico 4- O que a Criança Menos Gosta no Dentista 9% 12% 23% 31% 19% 6% Abridor de boca Gosta de Tudo Outros Exodontia Flúor Prof ilaxia Fonte: Dados da Pesquisa Gráfico 5- O que a Criança Menos Gosta no Tratamento 34 16% 38% 34% 6% 6% Refletor de Luz Gosta de Tudo Outros Ar Condicionado Cadeira Fonte: Dados da Pesquisa Gráfico 6- O que a Criança Menos Gosta no Consultório 5 DISCUSSÃO Neste trabalho foi utilizado uma forma de comunicação verbal (questionário), associada a uma não- verbal (desenho), que além de retratar muito bem o que a criança pensa e sente, é uma forma agradável e fácil de despertar a atenção e colaboração da criança para a pesquisa, o que seria muito difícil caso fosse apenas aplicado um questionário. A análise dos desenhos foi feita após a avaliação psicológica através de indicativos ou sinais específicos, que demonstram conotação positiva (de receptividade) ou 35 negativa (de hostilidade), como por exemplo, o uso da cor preta como um indicativo de hostilidade. As respostas obtidas no questionário foram primeiramente analisadas de forma isolada, e depois comparadas com os desenhos para se chegar uma melhor compreensão das respostas das crianças. Os desenhos analisados como hostis ao dentistas foram os que se caracterizaram pela ausência da figura humana, e/ou presença, mas com traçados básico e sem formas. Neste foram mais freqüente desenhos do espaço físico, visualizado nos mesmos a presença de cadeiras odontológicas, armários com ausência de detalhes dos objetos. No critério hostil ao tratamento, consideraram-se os desenhos que apesar de apresentarem os objetos e móveis de consultório odontológico, tais desenhos tem ausência de detalhes, como também se constatou eram soltos e isolados entre si. O desenho 1 é considerado hostil pela ausência de figuras humanas, sendo o espaço caracterizado por instrumentos com aparência de monstro e ilustrado com 36 cores contrastantes, onde a presença da cor preto e de sombreamento dão a percepção de hostilidade. Desenho 1 E quanto ao critério receptividade ao dentista, verificou-se a presença de desenhos de duas ou mais figuras humanas, onde as mesmas mostram-se com detalhes de face e membros, bem como com tamanhos diferenciados, demonstrando a distinção das figuras, de onde se conclui serem a mesma pessoa, o odontopediatra e a criança paciente. Tais desenhos têm correspondência nos questionários de receptividade, onde os mesmos expressam conceitos positivos em relação a este profissional. E no aspecto receptividade ao tratamento, constatou-se nos desenhos onde o espaço do consultório mostrou-se rico em detalhes, que vão desde a presença de 37 instrumentais até a presença de luzes com formato de sol, como também presença de sala de espera com brinquedos e objetos de decoração com temas infantis presente nos dois espaços referido (consultório e sala de espera). O desenho 2 é considerado receptivo ao dentista e ao tratamento por conter presença de figuras humanas, com face alegre e espaço físico bem caracterizado com riqueza de detalhes. Este desenho desperta a atenção pelo colorido alegre. Desenho 2 Os itens dentista e tratamento foram correspondentes tanto nas receptividades quanto nas hostilidades, havendo apenas dois desenhos que se mostraram discrepantes, onde estes deram destaque ou para as figuras humanas ou o contrário, destacando o espaço físico do consultório com desenhos e cores vivas. 38 6 CONCLUSÃO 1- A utilização do desenho associado ao questionário foi uma técnica eficaz para se chegar à visão que a criança tem do dentista, do ambiente odontológico e do momento da consulta. 2- A maioria das crianças apresentou-se receptivas ao cirurgião-dentista e ao tratamento. REFERÊNCIAS 1- ALWIN N.P, MURRAY J.J, NIVEM N. The effect of children`s dental anxiety on the behaviour of a dentist. Int J Paed Dent1991; 4 (1): 19-24. 2- AMORIM, V.C.S.A., SANTOS, M.F.S; Visão que a criança tem do dentista através da interpretação de desenhos. Revista ABO Nacional. V. 7 , n. 6. P 359-363. dez. 1999/ jan. 2000. 3- ARFOUILLOUX, J.C. A entrevista com a ciança. 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Norte no Conceito Mulligan de Terapia Manual Anatomista Membro da Sociedade Bras. de Anatomia Membro da Soc. Bras. para o Estudo da Dor RESUMO: O conceito Mulligan traz uma nova visão diferenciada para a epicondilalgia lateral, sendo atualmente uma técnica egressa em terapia manual, o objetivo deste trabalho é mostrar a contribuição deste conceito na abordagem da epicondilalgia lateral. Os resultados encontrados revelaram fundamentações neurofisiológicas e artrocinemáticas para interpretar a lesão. Conclui-se que o conceito Mulligan contribuir com epicondilalgia lateral diminuindo a dor, aumentando a amplitude de movimento e recuperando a força de preensão da mão. Palavras-chave: Mulligan, artrocinemática, epicondilalgia lateral. ABSTRACT: The Mulligan brings a new different vision for lateral epicondylalgia, being a progressive technique in manual therapy, the objective of this study is to show the contribution of the concept straight to lateral epicondylalgia. The results revealed neurophysiological and kinesiological embasement to understand the injury. It´s conclued that Mulligan mobilizations help patients with lateral epicondylalgia reducing pain, getting a higher motion of movement and taking a better grip-strength. Key-words: Mulligan, joint kinematics, lateral epicondylalgia. 41 1 INTRODUÇÃO A fisioterapia manual contemporânea vem passando por uma série de mudanças, seja pela incorporação de novos conceitos e filosofias, seja pelo desenvolvimento e aperfeiçoamento de técnicas que eficazmente aceleram o processo de recuperação do paciente, restaurando na grande maioria das vezes a função mioarticular e oferecendo melhor qualidade de vida. O termo terapia manual surge concomitantemente com o aparecimento da Osteopatia em 1874 pelo médico americano Andrew Taylor Still e subsequentemente a Quiropraxia por Daniel David Palmer em 1895, os quais tiveram seus princípios bastante questionados na época, mas nos dias atuais tem sido bastante respeitados pela comunidade fisioterapêutica mundial devido aos excelentes resultados clínicos no pacientes. A terapia manual como ramificação direta da fisioterapia manual neuro-ortopédica ao longo dos últimos anos deu um salto considerável no que diz respeito ao 42 aperfeiçoamento de seus conceitos e alavancou ótima aceitação de uso pelos terapeutas mundiais, sendo uma ferramenta indispensável no tratamento de distúrbios miofaciais, musculares, articulares e neurais, englobando todas as articulações periféricas e coluna vertebral. A articulação periférica do cotovelo é uma das regiões bastante acometidas por esses distúrbios, principalmente por processos inflamatórios crônicos como a epicondilalgia lateral ou também conhecida como “cotovelo de tenista” ou Tennis elbow, sendo na atualidade uma nomenclatura discutida entre os pesquisadores. Os aspectos de manifestação desta lesão foram estudados por Vicenzino (2003), verificando que no processo lesional não ocorre simplesmente uma inflamação, a partir disto a terminologia passa ser muito mais ampla que a conceituada tradicionalmente. A terapia manual ortopédica dispõe de diversos conceitos, princípios e técnicas para avaliação e tratamento da Epicondilalgia Lateral ou (E.L.), incrementando o tratamento da ortopedia tradicional e servindo de coadjuvante importante na melhora clínica destes pacientes. 43 Atualmente um conceito em terapia manual vem ganhando espaço e respeito pela comunidade internacional de fisioterapia neuro-ortopédica, o Conceito mulligan, descrito por Mulligan (1995) ao afirmar que nas articulações podem ocorrer “falhas posicionais” levando as lesões. Esta reforça a idéia de artrocinemática e reequilíbrio funcional, as quais são importantes para a recuperação da epicondilalgia lateral. Apesar de existirem várias técnicas que auxiliam na melhora da epicondilalgia lateral, pouco é esclarecido para comunidade terapêutica em geral sobre a visão do conceito Mulligan e sua abordagem em relação a epicondilalgia lateral, como o método é utilizado e como atua intrinsicamente na articulação, logo o objetivo deste trabalho foi mostrar a contribuição do conceito Mulligan na diminuição da dor e ganho de amplitude articular de movimento na epicondilalgia lateral. 2 METODOLOGIA O delineamento da pesquisa foi observacional do tipo revisão de literatura em jornais, revistas e livros 44 especializados, buscando informações pertinentes sobre os aspectos neurofisiológicos, etiopatogênicos e terapêuticos da Epicondilalgia Lateral, assim como resultados de sua intervenção através do conceito Mulligan. 3 REVISÃO DE LITERATURA Para Mackin (2002) a epicondilite lateral ou Tennis elbow, é uma das lesões de maior incidência no membro superior distal e aparece principalmente quando há solicitação em segurar algo com punho cerrado, carregar sacolas de compras ou abrir maçanetas de portas. Os sintomas normalmente interferem na realização das atividades da vida diária e ocupacional, ocorrendo mais em homens que mulheres e clinicamente apresentando um dado interessante, apesar da nomenclatura usual ser cotovelo de tenista, os maiores afetados são não-atletas do que atletas, inferindo nos dias atuais o emprego de certa maneira equivocado do termo. Gould (1999) define epicondilite lateral como uma síndrome identificada pela ”dor” na região lateral do 45 cotovelo, principalmente durante solicitação de contração isométrica dos extensores do punho, porém nesta conceituação literária percebe-se que já há uma inferência da “dor na região lateral do cotovelo” e não especificamente uma inflamação. Segundo Vicenzino (2003) a epicondilalgia lateral é caracterizada como dor na face lateral do úmero distal durante atividades que requeiram segurar uma xícara, balançar as mãos, vestir-se, tomar banho e na maioria das atividades da vida diária, sendo esta nomenclatura mais aceita em detrimento de epicondilite lateral, como era intitulada há 7 anos atrás. Vicenzino (2003) afirma que a etiopatogenia da epicondilalgia lateral é bastante diversificada tendo como condições patológicas a presença de artrite da articulação úmero-radial, bursite, estiramento do ligamento anular do rádio, fibrilação da cabeça do rádio, calcificação ectópica dos tecidos moles circunjascentes, uso excessivo e compressão do nervo interósseo posterior. Vicenzino (2003) destaca que dentre o conjunto de músculos extensores do punho, aquele com maior índice 46 lesional é o Extensor Radial Curto do Carpo, sua inflamação confere o quadro de dor localizada, limitação dos movimentos do cotovelo, especialmente o de extensão e diminuição da função de preensão da mão. Riek (2000) avaliou através de eletromiografia profunda em cadáveres, as diferentes ações dos músculos Extensor Radial Longo e Radial Curto do Carpo em relação aos movimentos do punho e cotovelo e identificou que determinadas porções de cada músculo influenciam em um movimento específico de cada articulação. Isto remete ao fato de que durante a epicondilalgia lateral a dor é conclusiva durante os movimentos de punho e cotovelo caracterizando sua intensidade de acordo com a porção e extensão da lesão. De acordo com Mulligan (2004) a visão que a terapia manual tem sobre a epicondilalgia lateral é de um distúrbio miofacial, porém reflete sobre osdesarranjos ou desalinhamentos na sua artrocinemática, que interferem decisivamente no restabelecimento da função ou que retarda o ganho desta funcionalidade, por isto suas técnicas na maioria dos casos se somam com a abordagem ortopédica 47 clássica, mas em outras representam o recurso chave para realinhamento articular e recuperação da dinâmica funcional. Mulligan (2004) descreve o conceito Mulligan como movimento passivo por deslizamento (Glide) das facetas articulares (micromovimento articular) associado ao movimento ativo, além de uma pressão em final de arco, chamada Overpressure, sendo realizada repetidas vezes. A técnica é versátil e pode ser aplicada com carga, sem carga, na posição de dor específica ou em posição funcional. De acordo com Mulligan (1995), no caso do cotovelo, devido ser uma articulação periférica, o modo terapêutico é a mobilização com movimento (Mobilization with movement - MWM), no qual é imprescindível que haja movimento ativo de grande amplitude. Atribui o cotovelo de tenista como uma condição de desalinhamento articular, um distúrbio da artrocinemática que denominou de Positional fault que condiz a uma falha posicional da articulação radio-umeral ou rádio-ulnar, explicando, então, o sintoma de dor e bloqueio durante a execução dos movimentos. 48 Fig 1. Técnica de MWM sem cinto para o Cotovelo de Tenista. Fonte Manual Therapy Figura 2. Técnica de MWM com Cinto para o cotovelo de Tenista. Fonte Manual Therapy Para Mulligan (1995) o posicionamento articular associado ao movimento ativo pode restaurar a “memória de posicionamento no trilho articular”, reforçando assim a teoria 49 da falha posicional e atribuindo a instalação da epicondilalgia lateral a uma alteração da mecânica articular. Jensen (2001) afirma que em sua pesquisa houve melhora significativa de 95% dos pacientes com epicondilalgia lateral na transição dos grupos pré-intervenção e pós-intervenção, concluindo boa aceitação clínica da técnica em um programa de exercícios utilizando o conceito Mulligan, alcançando redução de dor dinâmica e aumentando a amplitude de movimento. Paungmali (2002) confirmou que a aplicação da técnica do conceito Mulligan em pacientes com epicondilalgia lateral reduziu a dor e aumentou em 58% da força de preensão das mãos. Conforme Exelby (1996) o mal-alinhamento e o bloqueio articular podem levar as origens do processo de desencadeamento da epicondilalgia lateral. Wright (2002) identificou que ao realizar um Glide lateral em pacientes com epicondilalgia lateral houve redução do processo doloroso e perceptível aumento na força muscular e amplitude de movimento. 50 Abbott (2001) pesquisou pacientes com epicondilalgia unilateral e verificou limitação da amplitude articular do ombro para rotação externa, após submetidos as técnicas do conceito Mulligan mostraram redução da dor local e aumento da mobilidade do ombro homolateral, fazendo uma relação neurofisiológica afirmando que restrições de mobilidade distais podem alterar o padrão motor proximal. Slater (2003) identificou, a partir de um modelo experimental in vivo de epicondilalgia lateral, que as interações sensitivas e motoras são semelhantes entre a lesão em curso natural e a reproduzida em laboratório, aproximando sua pesquisa de características clínicas mais reais. Slater (2006) concluiu que ao simular experimentalmente inflamação com injeção de solução salina no músculo Extensor Radial Curto do Carpo de humanos e submetendo a exercícios pelo conceito Mulligan, não houve melhora clínica. Sugere com este resultado que por ser uma inflamação em curto prazo, não houve sensibilização central da dor, ou seja, não houve tempo suficiente para se criar a 51 memorização central da dor e por isto o Conceito Mulligan conferir bons resultados em inflamações crônicas. Wyke (1976); Woolf (1983); Johansson (1991); Zuzman (1992); Wright (1994) afirmavam que neurofisiologicamente durante a injúria aguda do tecido periférico há incremento na atividade dos neurônios da medula espinhal. Isto sugere que uma importante causa da permanência da dor crônica pode ser oriunda de uma plasticidade mal-adaptada dos neurônios da medula espinhal e que injúrias periféricas na fase inicial mudam o padrão excitatório dos neurônios. Segundo Byl (1997) o princípio da dor crônica da epicondilalgia lateral é sitiada centralmente ao nível do córtex motor e possivelmente o quadro clínico se mantenha em um circuito mal-adaptado da medula espinhal ou em uma representação cortical anormal, mais que, apenas percepção atual do sítio doloroso. Byl (1997), desta maneira conclui que os efeitos que a mobilização com movimentos produzem na clínica do paciente podem ser puramente neurofisiológicos, o fato de que se provoca uma reação compressiva nos tecidos pode 52 desencadear um estímulo sobre a atividade nervosa aferente dos neurônios da medula espinhal. Este processo inibe a nocicepção e os Pools de neurônios motores, além de recrutar o circuito de neurônios da medula espinhal conseguindo desta forma a realização de movimentos livre de dor. 4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS: Vicenzino (1996), já estudava a relação que existia entre alterações clínicas da epicondilalgia lateral com a mobilidade da coluna cervical. Neste caso submeteu pacientes com epicondilalgia lateral aos testes de estiramento nervoso ou testes neurodinâmicos cervicais, observando a melhora da sintomatologia dolorosa, além de melhorar a força de preensão da mão homolateral à lesão. Segundo Vliet (2006) a repetição e especificidade da tarefa para a plasticidade cortical e a relação especificidade- tarefa são de extrema importância, pois através da análise por estimulação magnética transcranial, verificou-se que a recuperação do déficit motor pode ser atribuída ao “o que” e “quanto” é praticado desta tarefa específica. Recomenda que 53 a tarefa específica diária e as variações de posicionamento, melhora a atividade cortical e podem trazer bons resultados em relação à reeducação neuromotora. Percebe-se desta maneira que os conceitos apresentados possuem atualizações consideradas importantes no estudo da epicondilalgia lateral, havendo uma inter- ligação dos achados científicos entre os autores, como mostra Vicenzino (2003) ao avaliar clinicamente pacientes com epicondilalgia lateral, caracterizou-a como dor na região do epicôndilo lateral, ambos originários do epicôndilo lateral, durante atividades que requeiram segurar uma xícara vestir-se e na maioria das atividades da vida diária, atribuindo a uma inflamação dos músculos extensor radial longo e curto do carpo. Sua pesquisa reafirma o trabalho de Riek (2000), que avaliou através de eletromiografia profunda, as diferentes ações dos músculos extensor radial longo e radial curto do carpo, em relação aos movimentos do punho e cotovelo. Percebe-se então a necessidade de se investigar este dois grupos musculares em situações de suspeita e/ou confirmação da epicondilalgia lateral. 54 Como proposta de intervenção em terapia manual para a epicondilalgia tem-se o conceito Mulligan, descrito por Mulligan (1995) ao afirmar que uma das causas para a epicondilalgia lateral seja a falha posicional culminando para uma alteração na mecânica articular. Esta idéia foi reforçada por Mulligan (2004) ao inferir que para intervenção pelo conceito Mulligan na epicondilalgia lateral poderia se utilizar a mobilização com movimento (MWM), como forma de restabelecer o alinhamento e a memória articular. Uma idéia passa a somar a outra demonstrando coerência e coesão no foco de pesquisa ao longo dos anos. Em trabalhos experimentais Jensen (2001) obteve como resultado 95% de melhora do quadro doloroso e de limitação funcional de pacientescom epicondilalgia lateral, verificando boa aceitação da técnica pelo grupo. Já Paungmali (2002) conferiu um outro enfoque, averiguando a eficácia do conceito Mulligan através de uma melhora de 58% da força de preensão de pacientes com epicondilalgia lateral. Os dois resultados se complementam inter- 55 relacionando mal-alinhamento articular e sobrecarga muscular. Tal fato havia sido estudado por Exelby (1996) ao verificar que o mal-alinhamento e o bloqueio articular poderiam levar à epicondilalgia lateral. Os autores contribuem com pesquisas que se completam e firmam decisivamente o conceito Mulligan como uma técnica positiva na abordagem terapêutica da epicondilalgia lateral, porém ainda não embasam com sustentabilidade os princípios fisipatológicos que ocorrem. A partir disto Slater (2003) leva sua pesquisa ao laboratório e simula uma epicondilalgia lateral em humanos com uma injeção salina nos músculos da região do epicondilo lateral e constatou que as interações sensitivas e motoras são semelhantes a lesão de base. Para aperfeiçoamento desta pesquisa Slater (2006) partiu do trabalho anterior e associou a reprodução da lesão ao tratamento pelo conceito Mulligan, porém constatou que por ter sido uma lesão em curto prazo não houve tempo para sensibilização central da dor, resultando em insucesso da aplicação da técnica. Interpreta-se, assim, que em lesões 56 músculo-esqueléticas agudas a aplicação imediata da técnica em curto tempo de início dos sintomas, não responde com sucesso. Em suas pesquisas Wyke (1976); Woolf (1983); Johansson (1991); Zuzman (1992); Wright (1994), sustentam diferenças no processamento neurofisiológico entre dor aguda e a crônica, afirmam que existe uma plasticidade mal adaptada dos neurônios da medula espinal enquanto que nas injúrias periféricas iniciais ocorre mudança no padrão excitatório dos neurônios. Estas fundamentações remetem a reflexões sobre o padrão do transito neural nas duas manifestações neurofisiológicas e como o conceito Mulligan passa a ter abordagens diferentes em cada uma delas. Informações mais recentes descritas no trabalho de Vliet (2006) revelam a importância da repetição e da especificidade da tarefa realizada, como fatores contribuidores para a melhora da atividade cortical e reeducação neuro-motora O conceito Mulligan, desta maneira, sustenta através de pesquisas científicas que a abordagem da epicondilalgia lateral ultrapassa o espectro simplesmente músculo- 57 esquelético e avança para análise artrocinemática elucidando novas formas de avaliação e conduta, assim merecendo atenção da comunidade da terapia manual nacional. 5 CONCLUSÃO O conceito Mulligan confere uma visão diferenciada para a epicondilalgia lateral, seus princípios artrocinemáticos revelam a necessidade de uma avaliação específica e mostram sua importância ao contribuírem evolutivamente na redução da dor, aumento de amplitude de movimento e recuperação da força de preensão da mão, porém são necessárias mais pesquisas neste campo para validar ainda mais suas aplicações. 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Científica ESAMAZ, Belém, v.1n.1 jul./dez., 2009 ESTUDO DA SÍNDROME DO DESCONFORTO RESPIRATÓRIO ATRAVÉS DA ABORDAGEM CLÍNICA E FISIOTERAPÊUTICA STUDY OF THE RESPIRATORY DISTRESS SYNDROME THROUGH THE CLINICAL APPROACH AND PHYSIOTHERAPEUTIC Flávia Maria Lessa MÉLO Fisioterapeuta do Hospital Ophir Loyola Esp. em Fis. em Traumatologia e Ortopedia Eduardo André Louzeiro LAMA Esp. em Fisioterapia Traumato-ortopédica. Prof. do Curso de Fisioterapia da ESAMAZ. Monitor da Reg. Norte no Conceito Mulligan de Terapia Manual Membro da Sociedade Bras. de Anatomia RESUMO: A síndrome do desconforto respiratório (SDR) é uma das patologias com maior índice de mortalidade em recém-nascidos por insuficiência respiratória devido a carência de surfactante no organismo, com isto será observado no paciente quadros de atelectasias progressiva, perda da capacidade funcional e residual, alterações na proporção ventilação- perfusão e distribuição desigual de ventilação, além de uma maior retenção de CO2 que clinicamente se traduzirá em hipoxemia, hipercapnia, acidose metabólica e respiratória, que contribuem para o estabelecimento de vasoconstrição pulmonar e shunt direito-esquerdo pelo canal arterial. Neste contexto a fisioterapia apresentará papel importante no sentido de intervir para favorecer a redução de pressões e melhorar as concentrações inspiradas de O2, no mínimo necessário, para diminuir os danos no parênquima pulmonar; prevenir complicações e reduzir o tempo de internação hospitalar. Palavras-chave: Síndrome do Desconforto respiratório, surfactante, fisioterapia. ABSTRACT: The Respiratory Distress Syndrom (RDS) is one of the pathologies of most cases of deads in new-borned childrem, caused by respiratory failure and surfactant deficit. Patient´s clinicalsituation is observed progressive atelectasis and lost of organic functional capacity, alteration on pulmonary ventilation, no-regular ventilation, including higher keeping of CO2, resulting in Hipoxemy, metabolic and respiratory acidosis, and the apearence of pulmonary vasoconstriction, right-left shunt. The Physiotherapy has an important matter reducing the pulmonary high pressure, the pressure of oxygen and the damages in pulmonary parenchyma, previning complication and reducing hospital stay. Key words: Respiratory Distress Syndrome, surfactant, Physiotherapy. 61 1 INTRODUÇÃO A síndrome do desconforto respiratório (SDR) também chamada de doença da membrana hialina (DMH) é considerada uma das causas mais freqüentes de insuficiência respiratória em recém-nascido, sendo uma das patologias que apresentam maior índice de mortalidade nesses pacientes, acometendo normalmente prematuros com menos de 35 semanas pesando entre 1.000g e 1.500g que passaram por algum sofrimento pré, peri ou pós-natal. Segundo FIGUEIRA (1996), a principal causa é a prematuridade, tendo ainda fatores predisponentes como o parto cesárea eletiva em gestantes que apresentam acompanhamento pré-natal inadequado, surgimento de hipóxia perinatal aguda, parto de segundo gemelar, além do descolamento prematuro da placenta. Segundo MARCONDES (1999), nesta patologia há uma carência de surfactante que leva à várias conseqüências como aumento da tensão superficial alveolar, fazendo com que os níveis pressóricos intra-alveolares utilizados para 62 mantê-los abertos sejam maiores. De acordo com FIGUEIRA (1996), as paredes torácicas passam a sofrer deformidades e retrações devido ao prematuro arcabouço ósseo receber as forças de tração muscular no momento da negatividade do tórax. AVERY (1999) relata que devido à falta de surfactante pulmonar, além de ser observado a atelectasia progressiva, estará presente também a perda da capacidade funcional e residual, alterações na proporção ventilação-perfusão e distribuição desigual de ventilação. Além disso, ocorre uma maior retenção de CO2 que clinicamente se traduzirá ao RN como hipoxemia, hipercapnia, acidose metabólica e respiratória, que contribuem para o estabelecimento de vasoconstrição pulmonar e shunt direito-esquerdo pelo canal arterial. Para PHILIP (1979), o diagnóstico da SDR está relacionado com os sinais de dificuldade respiratória cada vez mais intensos, nas primeiras 3 à 6 horas, exteriorização por incursões respiratórias rápidas, gemido expiratório, retração de musculatura intercostal, batimentos de asa do nariz, cianose central, palidez, edema, má perfusão capilar, crises de apnéia e oligúria. 63 Desta forma, buscou-se validar a importância da aplicação de recursos fisioterapêuticos do tipo TEMP e vibração manual em lactentes que apresentam síndrome do desconforto respiratória, uma vez que poucas pesquisas foram desenvolvidas nesta área de conhecimento. Esta pesquisa tem como objetivos, investigar os aspectos clínicos e terapêuticos em relação à angústia do recém-nascido durante o ato respiratório associado ao uso de recursos da fisioterapia respiratória manual, além de verificar a aplicabilidade de recursos da fisioterapia respiratória manual na condição clínica da SDR e desta forma fomentar pesquisas sobre o uso de recursos manuais na abordagem fisioterapêutica da SDR. 2 REFERENCIAL TEÓRICO Segundo FIGUEIRA (1996), esta patologia é considerada como uma das causas mais freqüentes de insuficiência respiratória em recém-nascidos, sendo uma das patologias que apresentam maior índice de mortalidade nesses pacientes, sendo acometidos normalmente prematuros 64 com menos de 35 semanas e com peso entre 1.000g e 1.500g, que passaram por algum sofrimento pré, peri ou pós-natal. A característica anatômica fundamental é o colapso alveolar responsável por shunt direito-esquerdo intrapulmonar. Para ROZOV (1999) a Síndrome do desconforto respiratório ou doença da membrana hialina está relacionada à deficiência primária de surfactante que afeta principalmente o recém-nascido pré-termo, sendo sua incidência inversamente proporcional à idade gestacional. A principal causa é a prematuridade, mas existem outros fatores como: hemorragia antes do parto, hipóxia perinatal aguda, parto cesárea eletiva em gestantes que apresentaram acompanhamento pré-natal inadequado, mãe portadora de diabetes, segundo gemelar, parto traumático, descolamento prematuro da placenta, sexo masculino, asfixia ao nascimento, isoimunização Rh grave, hipotermia, alterações metabólicas (hipoglicemia), hipovolemia, rotura prematura e prolongada das membranas (mais de 24 horas), retardo de crescimento intra-uterino, mães viciadas em heroína, administração de glicocorticóides à mãe entre outros. 65 Segundo MARCONDES (1999) nesta patologia há uma carência de surfactante que leva ao aparecimento de várias conseqüências como elevação da tensão superficial alveolar, que faz com que os níveis pressóricos intra- alveolares utilizados para mantê-los abertos sejam maiores. Isso provocará atelectasias progressivas e difusas que levará a dificuldade de oxigenação e ventilação pulmonar através do shunt intrapulmonar que estará presente. Para ele no início do processo há um grande comprometimento de O2 e com o decorrer da evolução do problema, ocorre uma maior retenção de CO2 que fará com que seja observado no recém-nascido hipoxemia, hipercapnia, acidose metabólica e respiratória, que contribuem para o estabelecimento de vasoconstrição pulmonar e shunt direito-esquerdo pelo canal arterial. AVERY (1999) cita que devido à falta de surfactante pulmonar, além de ser observado a atelectasia progressiva, estará presente também perda da capacidade funcional e residual, alterações na proporção ventilação- perfusão e distribuição desigual de ventilação. Outro fator que contribui com o problema é o fato dos músculos 66 respiratórios encontrarem-se relativamente fracos, além da parede torácica complacente do recém nascido prematuro diminuir a ventilação alveolar. ROZOV (1999) acredita que a síndrome não é uma doença, mas uma conseqüência do desenvolvimento, já que esta resulta primariamente da imaturidade pulmonar por deficiência de surfactante endógeno. De acordo com DAVID (2001) o recém-nascido pré- termo apresenta alterações na produção de surfactante que levará ao colapso pulmonar, seguindo os parâmetros fisiopatológicos a seguir: diminuição da complacência (25 à 35% do normal); aumento do espaço morto e da relação espaço morto e volume corrente; aumento do trabalho respiratório; presença de shunt pulmonar e hipoxemia; diminuição da capacidade residual funcional e capacidade vital; além de acidose respiratória e hipoventilação; Segundo FIGUEIRA (1996), anatomicamente devem ser observados fatores macroscópicos e microscópicos. O aspecto macroscópico revela pulmão vermelho, retilante, apresentando consistência endurecida, semelhante ao fígado, que fica submerso na água. Já à 67 microscopia, podem ser observadas, extensas áreas de atelectasia com raros alvéolos individualizados. Além disso, se o recém-nascido falecer após algumas horas de evolução nota-se a presença de membranas eosinófilas nos bronquíolos terminais e ductos alveolares. Há dilatação dos linfáticos e é comum congestão vascular ou franca hemorragia. Se o óbito ocorrer logo após o nascimento, não se encontrarão membranas hialinas, e se ocorrer após o 3º dia, estas se acham fragmentadas e digeridas parcialmente por macrófagos. ROZOV (1999) afirma que as manifestações clínicas da patologia são variáveis, tendo relação com a idade gestacional, ou seja, maturidade do recém-nascido, porém a atuação da equipe profissional deve ser rápida, uma vez que
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