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FACULDADE ESTÁCIO DE MACAPÁ BACHARELADO EM ENFERMAGEM MARIA DE DEUS PEREIRA DA COSTA SÍNDROME HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO MACAPÁ 2021 2 MARIA DE DEUS PERREIRA DA COSTA SÍNDROME HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO Seminário apresentado ao curso de enfermagem da faculdade Estácio de Macapá como atividade avaliativa para conclusão da disciplina de Estágio Supervisionado em Saúde da Mulher. Professora: Glenda Priscila do Couto Barroso MACAPÁ 2021 3 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 4 2. ETIOLOGIA ........................................................................................................................ 6 3. CLASSIFICAÇÃO .............................................................................................................. 8 4. DIAGNÓSTICO MÉDICO ............................................................................................... 10 5. TRATAMENTO ................................................................................................................ 11 6. SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM (SAE) ...................... 14 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 19 8. REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 20 4 1. INTRODUÇÃO A doença hipertensiva específica da gravidez (DHEG) é a complicação mais frequente na gestação que acarreta num aumento dos níveis pressóricos da gestante, previamente normotensa, e constitui a primeira causa de mortalidade materna no ciclo gravídico puerperal, e dependendo da forma como se apresenta pode causar alterações renais, cardiovasculares, hepáticas, cerebrais, sanguíneas, hidroeletrolíticas, no sistema renina-angiotensina-aldosterona e uteroplacentária. Esta condição parece ser preditiva do desenvolvimento posterior de hipertensão essencial e tende a recorrer em gestações subsequentes (BRINGMANN, 2004). Segundo Sousa e colaboradores (2013), por vezes as grávidas não apresentam qualquer sintomatologia de hipertensão arterial (HTA) associado, porém, deve-se ter em atenção que a ausência de sintomas pode levar a grávida a uma complicação no momento do parto, evoluindo para uma pré-eclâmpsia ou eclampsia. Contudo, a DHEG traz consigo várias manifestações clínicas que são primordiais para diagnosticá-la, entre elas podemos citar: • Aumento da pressão arterial: É o sinal mais frequente (100%) e o mais marcante. Consideram-se como limite da normalidade os valores de 140 a 90 mmHg, respectivamente, para as pressões sistólica e diastólica, entretanto para casos limítrofes, é necessário conhecer a pressão arterial anterior. • Edema: O edema afeta aproximadamente 85% das mulheres com pré-eclâmpsia. Pode surgir subitamente, e pode estar associado a uma rápida velocidade de ganho ponderal. Todas as mulheres sem edema, e com edema de início precoce ou tardio, possuem uma incidência semelhante de hipertensão. Vários fatores têm sido invocados para explicar o edema no decurso de gestações aparentemente normais: fatores hormonais, queda de pressão osmótica do plasma, aumento da pressão capilar e venosa e da permeabilidade dos capilares. 5 Sob a influência isolada ou concomitante desses elementos, anota-se a retenção hídrica no espaço intersticial • Proteinúria: A proteinúria é indicada como a perda de proteínas pela urina, sendo um sinal laboratorial muito importante principalmente se aparece associada à hipertensão, podendo denotar casos de pré-eclâmpsia. Declara-se, geralmente, após o aparecimento da hipertensão. É achado comum na DHEG, mas, além das variações individuais, deve-se considerar a que ocorre na mesma grávida, nas diversas fases do dia (na dependência do vasoespasmo dos capilares glomerulares), tratando-se de proteinúria, e não de albuminúria, pois na urina aparecem outras proteínas além da albumina. A excreção renal de proteínas aumenta na gravidez normal, e a proteinúria só é considera anormal quando ultrapassa 300 mg em 24 h. A proteinúria geralmente é um sinal tardio nos distúrbios hipertensivos induzidos pela gravidez, e está associada a um aumento de risco de má evolução fetal. A grávida pode também apresentar cefaleia frontal, perturbação visual, náuseas, vómitos, hiperatividade reflexa, oliguria (eliminação urinaria diminuída), um nível elevado do hematocrito (devido á hemoconcentração e a hipovolemia), e dor epigástrica (Burroughs, 1995: 328). Os dados do Ministério da Saúde mostram a hipertensão na gestação como a maior causa de morte materna no país, sendo responsável por cerca de 35% dos óbitos com uma taxa de 140 - 160 mortes maternas/100.000 nascidos vivos. Em relação à mortalidade perinatal, a taxa nacional é de 150/1000 partos, se forem considerados os diagnósticos de prematuridade, sofrimento fetal, crescimento fetal restrito, a hipertensão está assinalada como a maior causa dos óbitos fetais ou do recém-nascido. A hipertensão gestacional/pré-eclâmpsia grave é potencialmente a que apresenta pior prognóstico materno-fetal. Conceptos de mães com PE ou PE sobreposta têm maiores riscos de prematuridade, ocorrência de partos de fetos pequenos para a idade gestacional (PIG), necessidade de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) neonatal, necessidade de suporte 6 ventilatório e maior incidência de mortalidade perinatal, quando comparados aos conceptos de mães normotensas (CUNNINGHAM et al., 2001). 2. ETIOLOGIA Ainda são desconhecidas as causas específicas para o aparecimento da hipertensão na gravidez, assim sendo, é necessário identificar os fatores de risco que contribuem para o aparecimento da hipertensão arterial. ➢ Idade materna: a incidência dessa condição é particularmente alta nas grávidas com menos de 17 e mais de 40 anos. As mulheres com mais de 40 anos têm incidência três vezes maior de hipertensão induzida pela gravidez, comparativamente com as grávidas de 20 a 30 anos. Sousa, et al (2009:51) ressaltam que, a idade avançada materna têm sido objeto de numerosos estudos, pois a idade materna avançada aumenta os riscos de morbilidade e mortalidade maternas ou fetais. As adolescentes correm maior risco de pré-eclâmpsia/eclampsia, restrição ao crescimento intra-uterino (RCIU) e desnutrição materna. As mulheres com 35 anos ou mais por ocasião do parto correm maior risco de hipertensão, diabetes e obesidade induzidos pela gravidez. O aumento do risco de parto cesáreo, pré-eclâmpsia e placenta prévia tem sido demonstrado entre as mulheres com idade materna avançada. ➢ Primigesta: A maioria das mulheres que desenvolve hipertensão induzida pela gravidez encontra-se grávida pela primeira vez. A maior incidência da toxemia acontece nas primigestas, cuja parede abdominal é mais resistente que a das multíparas, quando o intervalo entre primeira e segunda gravidez é superior a 10 anos, o risco é similar outra vez ao de uma primigesta (Rezende, 2000:687). ➢ Gravidez múltipla: A incidência da hipertensão induzida pela gravidez aumenta com o número de fetos, pois é pacífica a observação de que a DHEG é mais frequente nas gestações múltiplas (Branden, 2000:138). Segundo Melson, et al (2002:49), “as complicações maternas da gestação múltipla são acentuação do desconforto da 7 gravidez, anemia, hidrâmio, hipertensão induzida ou agravada pela gravidez, placenta prévia, pois a assistência a mulheres com gravidez múltipla que desenvolvem hipertensão, pode ser particularmente importante, e deve seguiras recomendações de tratamento”. ➢ Patologias Associadas: Qualquer situação ou doença que predisponha ao mau funcionamento do endotélio vascular (diabetes, obesidade, hipertensão crónica, dislipidemia, vasculopatias) ou sistema de coagulação (síndrome antifosfolípido, doenças autoimunes e trombofilias) são fatores de risco para pré-eclâmpsia, a evolução é favorável na maioria dos casos de hipertensão essencial leve a moderada, mas há riscos de pré-eclâmpsia superajuntada e outras complicações, se doença renal, diabetes ou colagenose estiverem associadas (Roura, 2003:620). ➢ Doença Trofoblástica Gestacional (DTG): Pode ser dividida em dois grupos: mola hidatiforme e neoplasia trofoblastica gestacional. A Síndrome Hipertensiva Especifica da Gravidez (SHEG) costuma aparecer antes da 20ª semana de gestação, caso esteja associada á DTG, pois numerosas publicações referem a ocorrência maior e mais precoce da DHEG, na vigência da mola hidatiforme primeira metade da gestão observações pessoais, nos casos de mola hidatiforme, a incidência da DHEG, em primigesta, atinge a cifra de 30%” (Branden, 2000:135). ➢ Hereditariedade: quanto à hereditariedade, há uma tendência familiar de incidência de pré-eclâmpsia, cerca de quatro vezes maior em filhas de mães que apresentaram essa síndrome do que na população geral. Quando uma mulher sofre de pré-eclâmpsia, suas parentas próximas terão eclampsia durante uma primeira gravidez, diminuindo o risco na gravidez posterior, mas desde que as crianças sejam do mesmo pai (entra em ação um mecanismo de acomodação do organismo materno aos antígenos de origem paterna) (Sousa, et al; 2009:52). ➢ Raça e Nível Socioeconómico: Essa predisposição pode ser devida a um único gene recessivo. O segundo grande fator parece ser a raça. As pacientes negras têm um risco superior de desenvolver pré-eclâmpsia. Bem como o nível socioeconômico e a influência genética, pelo que no momento não existe hipótese claras. Em relação ao 8 nível socioeconómico, de realçar que quanto mais baixo, maiores as deficiências nutricionais e mais precária a assistência durante o período pré-natal e quanto á raça, a incidência é mais elevada nas grávidas negras. Possuir bons hábitos alimentares deve fazer parte de estilos de vida saudáveis e é fundamental para qualquer mulher que pense engravidar. Mulheres com excesso de peso devem ser incentivadas antes da gravidez a perder peso, não só para facilitar a concepção, mas também devido ao aumento de complicações na gravidez (HTA, diabetes) entre outras Lavinha (2006:30). ➢ Deficiência Dietética de Cálcio: a incidência da hipertensão induzida pela gravidez é menor quando a grávida recebe suplementos de cálcio. Nos países subdesenvolvidos, a população carece de importantes fatores nutricionais, pela existência de déficit crónicos de elementos essenciais no funcionamento normal endotelial, como o cálcio, ou numerosas enzimas que regulam a função endotelial e a coagulação. Esses défices nas mulheres, parecem ser fatores que poderão explicar as elevadas incidências de pré- eclâmpsia. 3. CLASSIFICAÇÃO Para Oliveira e colaboradores (2006) as síndromes hipertensivas que acometem a mulher grávida são habitualmente classificadas em: • Pré-eclâmpsia: é o termo dado ao desenvolvimento de hipertensão, com proteinúria (principalmente albumina) e/ou edema de mãos ou face (não fisiológico da gravidez), ocorrendo entre a 20ª semana de gestação e o final da 1ª semana pós-parto, sendo uma patologia predominantemente da primigesta. É uma doença inconstante em seu início, variável na sua manifestação, imprevisível na sua progressão e incurável, exceto pela interrupção terapêutica ou espontânea da gestação. Incide em aproximadamente 10% das gestantes, acarretando repercussões importantes na morbimortalidade materna e perinatal . A pré-eclâmpsia pode ser classificada em leve e grave: 9 – Pré-eclâmpsia leve: inicialmente caracterizado pelo aumento exagerado e subitâneo do peso (> ou = a 500 gramas por semana), seguido de edema generalizado, depois hipertensão e por fim proteinúria, sendo a hipertensão o sinal mais frequente e importante. O Consenso Brasileiro de Cardiopatia e Gravidez (2004), acrescenta que na pré-eclâmpsia leve a PA< 160x110mmHg e uma proteinúria < 2g/24h, com ou sem edema. – pré-eclâmpsia grave: é caracterizada quando um ou mais sintomas são encontrados: PA> ou = 160x110mmHg, confirmado em pelo menos duas tomadas, com intervalo de quatro horas; proteinúria de 5g ou mais em urina de 24h; oligúria ou diurese menor que 400ml por dia; cefaleia; dor epigástrica e transtornos visuais; cianose e edema pulmonar; dor no hipocôndrio direito; trombocitopenia ou plaquetas abaixo de 100.000/mm cúbicos; anemia hemolítica microangiopática decorrente da hemólise; icterícia e/ou elevação das enzimas hepáticas e crescimento intra-uterino retardado (KAHHALE; ZUGAIB, 2000). • Síndrome HELLP: são as iniciais usadas para descrever a condição de pacientes com pré-eclâmpsia grave que apresenta H – hemólise (fragmentação das células vermelhas do sangue na circulação), EL – níveis elevados de enzimas hepáticas, e LP – diminuição do número de plaquetas. Essa variação da pré-eclâmpsia, foi denominada por Louis Weinstein, em 1982. É uma doença identificada como um processo de anemia hemolítica microangiopática que pode acelerar e progredir para suas formas mais graves, caracterizadas por graus variados de coagulação intravascular disseminada (RUDGE; PERAÇOLI; CUNHA, 2000). A Síndrome HELLP, em 70% dos casos, ocorre anteriormente ao parto, sendo 15% entre 17-26 semanas e a quase totalidade antes de 36 semanas. Os 30% restantes aparecem no pós-parto, e os sintomas típicos dessa síndrome são a cefaléia, dor epigástrica ou no quadrante superior direito do abdome, náuseas e vômitos, podendo a hipertensão estar ausente em 20% dos casos, ou ser leve em 30%. 10 • Pré-eclâmpsia superajuntada: é quando a pré-eclâmpsia se associa a hipertensão pré-existente à gestação, ocorrendo em 15 a 30% dos casos, aumentando o risco quando a gestante apresenta comprometimento renal. É um fato de fundamental importância, pois a pré-eclâmpsia se associa à hipertensão crônica em sua forma mais grave e em época mais precoce da gestação, quando o concepto ainda é imaturo, acarretando um desfecho mais sombrio para a mãe e seu feto. Faz-se o diagnóstico quando ocorre acréscimo na PAS de 30mmHg e na PAD de 15mmHg, juntamente com o aparecimento de proteinúria e edema generalizado. • Eclâmpsia: é a causa mais comum de convulsões associada com a hipertensão arterial e proteinúria na gravidez, sendo definida como a manifestação de convulsões e/ou coma não relacionados a outras condições cerebrais, durante o ciclo gravídico-puerperal, em pacientes com sinais e sintomas de pré- eclâmpsia. Sua incidência varia de 1/100 a 1/3.500 gestações, onde as convulsões podem apresentar sinais premonitórios como cefaleia occipital forte e persistente, mudança de comportamento tanto para o lado da agitação como da obnubilação e torpor, distúrbios visuais como borramento da visão, escotomas, fotofobia, dor epigástrica ou no quadrante superior direito do abdome, náuseas e vômitos. A crise convulsiva pode desencadear-se durante a gestação (50% dos casos), no decorrer do parto (25%) ou do puerpério (25%). No pós-parto, após 72h, a crise convulsiva caracteriza a eclampsia tardia, onde pode haver o aparecimento de alterações respiratórias, taquicardia e hipertermia, além de lesões hepáticas, icterícia, anuria, hematúria e a hemoglobinúria. A eclâmpsia comatosa ou sem convulsão, é uma forma rara e gravíssima, na qual a paciente entra diretamente em coma, não sendo precedido de convulsão, ocorrendo extensas lesões hepáticas. 4. DIAGNÓSTICO MÉDICO O diagnóstico é clínico e laboratorial. Deve-se avaliar a pressãoarterial, presença de edema generalizado (parede abdominal, pernas, face, região lombo-sacra e mãos), aumento de peso acima de 1000g por semana, proteinúria com valores iguais 11 ou maiores a 300mg de proteína na urina coletada durante 24h (CORLETA; KALIL, 2004). Em pacientes examinadas desde a primeira metade da gestação, o diagnóstico é sugerido ao aparecer hipertensão após 24 semanas da prenhez. Existem alguns exames complementares valiosos (REZENDE; MONTENEGRO, 2000). ✓ Teste de hipertensão supina: permite, entre 28-32 semanas da prenhez, prever o aparecimento, mais tarde, da DHEG. Considera-se o exame positivo quando mudando-se a paciente do decúbito lateral para o dorsal a tensão diastólica eleva-se de no mínimo 20mmHg. ✓ Exame do fundo-dos-olhos: traduz apenas o espasmo arteriolar. Nos casos mais graves há edema de pupila, exsudatos em “flocos de algodão”, hemorragias e edema sub-retiniano que pode levar ao deslocamento da retina. ✓ Biopsia renal: autentica o diagnóstico ao documentar a lesão glomerular . ✓ Doppler: a presença de incisura bilateral no início da diástole, após 20-24 semanas de gravidez, associada à relação A/B média das artérias uterinas > 2,6 é sinal indicativo de DHEG. O diagnóstico diferencial, em especial nas convulsões antes de 20 semanas ou após 48h de pós-parto, deve ser feito com AVCs (hemorrágico etc.), lesão expansiva do SNC (tumores etc.), doença hipertensiva, epilepsia, doenças metabólicas (hipoglicemia etc.), doenças infecciosas (meningite etc.) e púrpura trombocitopenica trombótica (RUDGE; PERAÇOLI; CUNHA, 2000). 5. TRATAMENTO No tratamento deve-se levar em consideração a idade gestacional e a gravidade da DHEG, para que se escolha a conduta mais adequada. O tratamento definitivo da pré- eclâmpsia consiste em interrupção da gravidez e prevenção das complicações maternas. Se não 12 tratada, a pré-eclâmpsia se associa a maior risco de morte fetal e neonatal. Em pacientes que progridem para pré-eclâmpsia grave ou eclampsia (convulsões), morte materna pode ocorrer, devido, principalmente, à hemorragia intracerebral (REZENDE; MONTENEGRO, 2000). O tratamento de hipertensão arterial na gestação tem objetivos terapêuticos específicos. Os desfechos clínicos relevantes incluem sobrevida e bem-estar materno e fetal, desenvolvimento normal do processo do parto e prevenção de eclampsia, dentre outros (BRINGMANN, 2004). A terapêutica anti-hipertensiva tem como finalidade evitar complicações da hipertensão arterial como a hemorragia cerebral e retardar a retirada de concepto que ainda não se apresentou com peso e vitalidade satisfatória. O importante é reduzir os níveis tensionais com o cuidado para não permitir queda acentuada de PA, evitando que a pressão diastólica atinja valores abaixo de 90 mmHg, pois a redução de fluxo útero-placentário poderá levar ao sofrimento fetal (CORDOVIL, 2003). ➢ METILDOPA É o medicamento mais usado para o tratamento da hipertensão na gravidez. Seu efeito hipotensor é devido à estimulação dos receptores alfa adrenérgicos inibidores de ação central. Doses iniciais 750 mg/dia usados em 3 vezes nas 24 horas, sendo a dose máxima 2g/dia. Não interfere com o débito cardíaco e reduz a resistência vascular. Os efeitos colaterais maternos mais comuns são hipotensão postural, sedação, boca seca, depressão. Devido a pouco efeito colateral e boa eficácia deve ser a droga de escolha no tratamento da hipertensão na gravidez. ➢ CLONIDINA Também de ação central alfa-agonista é eficaz no tratamento de elevados níveis pressóricos na gravidez. A dose usual é de 100 a 300 mg/dia em duas tomadas diárias até 1000 mg/dia. Os resultados são semelhantes aos encontrados para a metildopa. ➢ VERAPAMIL Antagonista de cálcio com pouca atuação na condução átrio-ventricular mostrou-se eficaz e de poucos efeitos colaterais. Tem ótima atuação principalmente quando associado à hidralazina evitando, portanto, os efeitos colaterais indesejáveis tais como taquicardia e palpitação. 13 ➢ HIDRALAZINA É um vasodilatador arterial de ação eficaz na perfusão útero- placentária. Efeito máximo em crises hipertensivas das gestantes, funcionando como droga de primeira escolha por via intravenosa nos casos de pré-eclâmpsia /eclampsia. Há efeitos colaterais como taquicardia, tremores, cefaleia, náuseas e vômitos, rubor facial. Deve ser evitada para uso em longo prazo por estimular o sistema reninaangiotensina – aldosterona levando a redução da perfusão renal. Doses: 5 mg IV em bolo e doses de 5 a 10 mg de 20/ 20 min até atingir níveis pressóricos satisfatórios. Quando for via oral, doses de 50 mg até 4 vezes ao dia. Pode ser associada a beta bloqueador, à metildopa ou Verapamil. ➢ NIFEDÍPINA Antagonista dos canais de cálcio tem efeito vasodilatador importante tanto para tratamento de crise hipertensiva (sub-lingual) ou na hipertensão crônica, via oral, associada a beta bloqueador ou a Verapamil. Não existe relato de efeitos colaterais para o feto, seja com curto ou longo prazo de tratamento. Na mãe, os efeitos de cefaléia, rubor, taquicardia e fadiga podem ser encontrados. O uso concomitante de nifedipina com sulfato de magnésio pode potencializar o bloqueio neuromuscular e o efeito anti- hipertensivo. ➢ BETA-BLOQUEADORES Os estudos iniciais com o uso de propranolol mostraram efeitos colaterais indesejáveis e alguns até com certa gravidade: sofrimento fetal, redução de frequência cardíaca fetal, depressão respiratória, crescimento intrauterino retardado e hipoglicemia neonatal. Os estudos mais recentes com uso de bloqueadores seletivos como o Pindolol mostraram eficácia sem efeitos colaterais indesejáveis, nas doses preconizadas: Pindolol 5 mg de 12/12h até 20 mg/dia. O Atenolol 100 mg/dia e o Labetolol/agonista alfa1 seletivo e Beta não seletivo /300mg ao dia. ➢ AMLODIPINA Estudos mais recentes mostram resultados satisfatórios, porém o efeito colateral do edema de membros inferiores que pode surgir em 30% dos casos, pode interferir no diagnóstico precoce de pré-eclâmpsia. ➢ INIBIDORES DAS ENZIMAS DE CONVERSÃO DA ANGIOTENSINA Este grupo de drogas como também os antagonistas dos receptores AT1 da Angiotensina estão 14 formalmente contraindicados para uso na gravidez face a redução de fluxo uteroplacentário e de ocorrências fetais como a insuficiência renal e óbito intra-uterino. ➢ NITROPRUSSIATO DE SÓDIO Tem ação potente e fugaz. É usado por via venosa com controle gota a gota de acordo com a regulação dos viveis tensionais. Provoca alteração do fluxo placentário e intoxicação por cianeto no feto. Deve ser evitado em gestante com feto vivo. ➢ DIAZÓXIDO Tem ação direta sobre o músculo liso arteriolar. Em doses mais elevadas pode levar ao sofrimento fetal e até ao óbito. Doses: 30 mg IV em bolo, repetir a cada 20 minutos em doses de 30 a 60 mg até atingir níveis satisfatórios e manter. ➢ SULFATO DE MAGNÉSIO Tem ação hipotensora e anticonvulsivante usado como primeira droga nos casos de eclampsia. Tem excreção exclusivamente renal. Alguns benefícios que a droga fornece tais como: - Aumento da produção de prostaciclinas pelas células endoteliais. - Redução da agregação plaquetária - Aumento do fluxo sanguíneo uterino e renal. E alguns efeitos indesejáveis tais como: Diminuição da variabilidade dos batimentos cardíacos fetais. Aumento da perda sanguínea no pós-parto. Diminuição da atividade uterina. Este mesmo autor sugere esquema de aplicação na eclampsia: Sulfato de magnésio a 50%, 6 g IV lento seguido de 2 g/h em bomba infusora. Se houver depressão respiratória ou redução dos reflexos tendinosos, a aplicação de gluconato de cálcio a 10% (10ml IV lentamente) deve ser utilizado. 6. SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM (SAE) Os enfermeiros desempenham um papel de extrema importância no cuidado à grávida hipertensa quer a nível primário (noscentros de saúde ou no domicílio), quer a nível secundário ou terciário (no meio hospitalar). Logo é imprescindível a atuação do enfermeiro e de 15 preferência a sua integração nas equipas multidisciplinares, constituídas para a prestação dos cuidados ou tratamentos à doença hipertensiva específica da gravidez. Os cuidados de enfermagem devem ser prescritos pela enfermeira responsável pela grávida, após avaliar e traçar suas metas e prioridades, e devem ser executados por sua equipe de auxiliares. É importante que a enfermeira esteja atenta a todos os acontecimentos com a grávida (Santos, 2004:154). Os distúrbios hipertensivos da gravidez podem ocorrer sem aviso ou com um desenvolvimento insidioso dos sintomas, assim o objetivo dos cuidados de enfermagem passa pela detecção precoce da doença de modo a prevenir as sequelas catastróficas para a mãe e para o feto. Portanto, na primeira consulta vigilância pré-natal, é efetuada a cada mulher uma avaliação inicial para detecção de eventuais fatores de risco. Em cada consulta subsequente a mulher é avaliada quanto a sinais e sintomas que sugiram o aparecimento ou a presença de pré- eclâmpsia. Os cuidados de enfermagem começam com a prestação de cuidados às grávidas hipertensas primeiramente orientando e estimulando para mudanças, por exemplo o estilo de vidas (hábitos alimentares, sedentários, consumo de substâncias tóxicas como o álcool e tabaco, entre outros aspectos) e depois determinar os fatores predisponentes para o desenvolvimento da hipertensão. São medidas simples, mas necessárias para o controlo da hipertensão na gravidez, da mesma forma que, o reforço dessas orientações para o autocuidado e plano de cuidados, deverá ser feito com base no processo de enfermagem (entrevista, diagnóstico, planeamento, implementação e avaliação). Para a garantia de um adequado cuidado de enfermagem á grávida hipertensa, a realização de uma avaliação física e uma anamnese cuidadosa, bem como exames laboratoriais e imagiologia devem ser sempre solicitados, além de uma monitorização contínua e rigorosa do feto, para que o enfermeiro esteja ciente das verdadeiras condições de todos os sistemas orgânicos da grávida e do desenvolvimento do feto e reunir assim informações necessárias, ficando a saber quando e como cuidar da grávida hipertensa. ANAMNESE: 16 Segundo Santos (2004:81) a avaliação pré-natal nada mais é do que o exame clínico, a anamnese, um dos métodos de coleta de dados mais comum na enfermagem. O enfermeiro tem um papel importante na anamnese. Realiza a visita de enfermagem, ou a primeira de enfermagem, coletando dados subjetivos e objetivos relativos ao estado geral da grávida e á gravidez. A enfermeira dá início ao processo de avaliação completando e/ou revisando o registo médico da mulher tanto na internação quanto no ambulatório. Revisa-se a história clínica pessoal, especialmente a presença de diabete melito, de doença renal e de hipertensão. A história familiar é explorada em virtude da ocorrência de condições pré-eclâmpsia ou hipertensivas, de diabete melito e de outras condições crónicas. A história social e de experiências prévias proporcionam informações sobre o estado conjugal, o estado nutricional, as crenças culturais, o nível de atividades e os hábitos pouco sadios, como o fumo, o álcool e o consumo de drogas ilícitas. Deve-se fazer uma recolha de informações muito precisa, a fim de obter dados concretos, caso houver modificações na linha basal da pressão sanguínea, o ganho anormal de peso, o padrão do ganho de peso, os sinais de aumento do edema e a presença de proteinúria. Também é importante observar a mulher em relação á presença de cefaleias frequentemente, intensas, incomuns, aos distúrbios visuais, ou á dor epigástrica (Lowdermilk, Perry e Bobak. 2002:654). EXAME FÍSICO: Além da anamnese, o exame físico e os exames laboratoriais fazem parte da rotina do pré-natal. É importante associar as consultas aos exames para garantir á grávida segurança, confiança e bem-estar durante toda a gravidez, quanto á sua saúde e á saúde do seu bebé. A realização de uma avaliação física cuidadosa é importante para saber as verdadeiras condições de todos os sistemas orgânicos da grávida, além de uma monitorização contínua e rigorosa do feto. A monitorização do batimento cardíaco fetal deve ser avaliada para saber se tem alterações da perfusão uteroplacentária e prevenir complicações materno-fetais como por exemplo, o descolamento da placenta. Para além da observação da hipertensão, a avaliação do edema justifica outras investigações quanto á distribuição, grau e depressão. Se não se observa edema periorbital e 17 facial, questiona-se a grávida quanto á sua presença. O edema pode ser descrito como de declive ou depressível. O edema de declive é o observado nas extremidades ou zonas mais “ inferiores” do corpo, onde é maior a pressão hidrostática. O edema depressível é o que mostra uma pequena depressão ou “cova” após a depressão de um dedo sobre uma área edemaciada. A depressão, que é causada pela deslocação dos líquidos para os tecidos adjacentes da zona pressionada, desaparece em cerca de 10 a 30 segundos (Lowdermilk e Perry, 2002:761). Ainda de acordo com os mesmos autores, os sintomas que refletem o envolvimento do sistema nervoso central e visual geralmente acompanham o edema facial. Embora não seja uma avaliação de rotina durante o período pré-natal, a avaliação do fundo do olho fornece dados valiosos. O seu achado inicial basal normal auxilia a diferenciação entre a doença preexistente e o novo processo de doença. Os reflexos tendinosos profundos (RTPs) são avaliados em virtude da suspeita de pré- eclâmpsia. Avaliam-se o reflexo do bíceps, o patelar e o clono do tornozelo, e os achados são registados. A avaliação dos reflexos tendinosos profundos é especialmente importante se a mulher estiver sendo tratada com sulfato de magnésio, a sua ausência indica uma toxicidade precoce iminente de magnésio. Uma avaliação importante consiste em determinar o estado fetal. A perfusão uteroplacentária está diminuta nas mulheres com pré-eclâmpsia, colocando o feto em perigo. A frequência cardíaca fetal (FCF) é verificada quando á frequência basal, à variabilidade e às acelerações indicadores de um SNC fetal íntegro e oxigenado (Lowdermilk, Perry, e Bobak 2002:655). Deve-se ter em conta também sinais e sintomas (hipertensão, diminuição dos sons pulmonares e do débito urinário, cefaleia, dor epigástrica, convulsões etc.) que demostram agravamento do estado, e que pode ser um indicador de pré-eclâmpsia ou eclampsia, para além de fazer uma avaliação precisa e efetuar os registos, de comprometimento de algum sistema orgânico mais precisamente a nível hepático, pulmonar, renal, cardíaco, placentário e cerebral. Fazer uma avaliação precisa e rigorosa trará mais vantagem materno-fetais. Contudo, é de competência da enfermagem traçar meios de auxiliar na recuperação desta gestante e do bebê, isto é possível através da realização da SAE que irá compreender diagnóstico de enfermagem, prescrição de enfermagem e resultados. Na tabela 1, pode-se 18 observar como funciona a SAE na prática clínica para assistência á gestante com síndrome hipertensiva específica da gestação. PROBLEMA DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM PRESCRIÇÃO DE ENFERMAGEM RESULTADO Hipertensão arterial Risco de função cardiovascular prejudicada, relacionada a hipertensão arterial verificar PA 2X ao dia; orientar quanto ao uso da medicação anti-hipertensiva prescrita, orientar o consumo de dieta hipossódica. Cliente apresentará melhora da hipertensão arterial em 24h. Edema em MMII Volume de líquido excessivo relacionado a insuficiência renal, evidenciado por edema em MMII. Manter repouso no leito e decúbito elevado, garantir posição confortável eambiente favorável ao repouso, manter controle do balanço hídrico. Cliente apresentará melhora do edema em MMII em 24h. Oligúria Eliminação urinaria prejudicada relacionada a proteinúria evidenciado por diminuição do débito urinário. Mensurar débito urinário através de SVD, monitorar ingesta de líquidos, monitorar frequência urinaria incluindo cliente apresentará melhora da micção. 19 cor, odor e consistência. Edema abdominal Risco de função hepática prejudicada relacionada a complicações da DHEG. Monitorar resultados de exames laboratoriais (TGO, TGP e bilirrubina), identificar sinais de complicações hepáticas (dor no hipocôndrio direito, palidez e icterícia). Cliente apresentará redução do edema abdominal. Cefaleia Dor aguda relacionada a DHEG, evidenciado por relato verbal de dor. Controlar fatores ambientais, realizar avaliação da dor, local, início e intensidade, administrar analgésicos conforme prescrição, avaliar a resposta do paciente. Cliente apresentara ausência da dor de cabeça nas próximas horas. Tabela 1: aplicação da SAE em gestante com hipertensão gestacional. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS A realização deste seminário, proporcionou-me momentos de reflexão e conhecimento sobre o tema a Hipertensão Arterial na Gravidez, constituindo assim uma experiência bastante enriquecedora. A gravidez, bem como o parto, são eventos fisiológicos. No entanto promovem modificações físicas e psicológicas nas mulheres, requerendo cuidados por parte da família e dos profissionais de saúde, justificando a atenção para além de um útero gravídico. A 20 hipertensão arterial na gravidez é uma das patologias obstétricas mais comuns, por esse motivo merece uma atenção especial por parte dos profissionais da saúde ligados à área materno- infantil. Considero importante realçar que, ao realizar este seminário, consegui alcançar os objetivos preconizados, agregando mais conhecimentos com base em fontes diversas, destacando a minha clara percepção sobre o desconhecimento da etiologia da hipertensão arterial na gravidez, o que nos consciencializa que ao atuar futuramente como profissional de saúde, na área de obstetrícia, devo procurar ter uma forte atuação no sentido de fornecer informações pertinentes sobre os fatores de risco predisponentes da hipertensão arterial na gravidez, para a gravida, família e comunidade, de modo a que, estes se tornem aliados na promoção e manutenção da saúde materno-fetal. Concluo assim que o enfermeiro é imprescindível na prestação de um cuidado mais particularizado, com o intuito de individualizar a assistência, visando a prevenção, a promoção e a recuperação da saúde das gravidas. Os cuidados de enfermagem são essenciais na medida em que são os enfermeiros que: tem o primeiro contacto com a gravida, fazem a anamnese detalhada, educação para saúde, o exame físico, para além de, requisitar exame que são considerados pertinentes para o diagnósticos precoce das patologias que podem surgir na gravidez, consequentemente acarretar risco materno-fetal. 8. REFERÊNCIAS - BRANDEN, Pennie Sessler (2000). Enfermagem Materno- Infantil. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Reichman e Affonso Editores. Acesso em: 08/09/21. -BRINGMANN, N.V. Hipertensão na gravidez. Disponível em: https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/4620.pdf. Acesso em: 08/09/21 - CORDOVIL, Ivan. Hipertensão na gravidez. Editorial das Laranjeiras, 2003. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/rev_incl2.pdf#page=42. Acesso em: 08/09/21. -KAHHALE, S.; ZUGAIB, M. Síndromes Hipertensivas na Gravidez: Pré- eclâmpsia. In: BENZECRY, R.; OLIVEIRA, H. O.; LEMGRUBER, I. Tratado de Obstetrícia. 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