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Tópico : Escolha sob Incerteza Prof. Hélio Henkin Tópico de Análise Microeconômica II As escolhas são feitas em condições de conhecimento sobre todas as variáveis relevantes para a tomada de decisão? Em muitos casos, as tomadas de decisão dos agentes econômicos (consumidores, empresas) ocorrem na presença de uma dose de incerteza significativa, com diferenças importantes em relação à situação de conhecimento pleno das informações relevantes. 2 Incerteza e Risco na Teoria Econômica • O economista Frank Knight (no livro Risk, Uncertainty, and Profit, 1921) fez uma distinção entre incerteza e risco. Incerteza, na sua definição, refere-se a situações em que os resultados possíveis não possuem forma de quantificação (pois não há informação disponível para avaliação de probabilidades). • Em contraste, risco seria referente a situações em que se pode estipular quantitativamente as possibilidades, gerando uma decisão baseada em probabilidades. 3 Incerteza e Risco na Teoria Econômica • No presente curso, não será feita esta distinção entre incerteza e risco, para efeitos de simplificação. 4 Situações de escolha sob incerteza Algumas situações de escolha sob incerteza relacionam- se ao futuro: • Qual a renda futura do consumidor que quer contratar um empréstimo? • Qual a receita esperada de um investimento em ampliação da capacidade instalada de uma empresa? Os preços do meu produto tendem a cair no futuro? 5 Situações de escolha sob incerteza Outras situações podem se referir à informação incompleta sobre as transações: • A máquina que estou comprando é adequada ao que preciso, ou o vendedor está ocultando alguma informação (ou ele mesmo não possui a informação)? 6 Comportamento diante do risco Estas situações conduzem ao tema do risco: a) Como medir o risco? b) Que atitudes as pessoas têm diante do risco? c) Como gerenciar ou atenuar o risco? d) A seleção de tipo transações/ativos quanto ao risco 7 Descrição do Risco: conceitos básicos Probabilidade: dentre as alternativas possíveis consideradas para o resultado de uma determinada situação, probabilidade é a possibilidade de que um dado resultado venha a ocorrer. • A probabilidade objetiva é aquela baseada em experiências passadas, que levam a um cálculo do percentual de possibilidades de ocorrência de um fenômeno; • A probabilidade subjetiva é aquela baseada em percepções, que podem variar de acordo com o sujeito que está analisando a situação. Neste caso, não há uma sucessão de ocorrências em situações similares no passado, de tal modo que a probabilidade deixa de ser objetivamente determinada. 8 Valor Esperado Suponhamos que uma empresa farmacêutica está desenvolvendo uma pesquisa de uma nova droga para combater uma doença viral. Caso a pesquisa seja bem sucedida, as ações da empresa terão um aumento significativo, saindo de US$ 10 por ação para US$ 20 por ação. Caso a pesquisa seja mal sucedida, a ação cairá para US$ 5 por ação. 9 Valor esperado Se há uma probabilidade PrX de a pesquisa der resultado positivo e ação chegar a R$ 20 e uma probabilidade PrY de resultado negativo e a ação cair a R$ 5, então o valor esperado será dado pela seguinte expressão: Valor esperado do preço da ação= PrX.20 + PrY.5 Se X for 0,6 (60%) e Y for 0,4 (40%), então o valor esperado da ação será R$ 14. 10 Valor esperado Conceito de Valor Esperado: é a média ponderada pelas probabilidades associadas à ocorrência dos resultados possíveis de uma situação. Observação: os resultados, assim como na Teoria dos Jogos, podem ser chamados de payoffs. 11 Valor esperado Em termos genéricos, quando os resultados possíveis são X1 e X2 e as probabilidades a eles associadas forem designadas por Pr1 e Pr2, respectivamente, então E(X)= Pr1.X1 + Pr2.X2 Num caso geral, com n resultados possíveis: E(X) = Pr1.X1 + Pr2.X2 +.....+ Prn.Xn 12 Variabilidade Um atributo importante da distribuição dos valores de resultados esperados é a sua variabilidade. Se houver uma grande dispersão dos resultados, há um maior risco de ocorrer algo significativamente diferente (para melhor ou para pior) do que o valor esperado. Mas como medir esta dispersão? 13 Variabilidade Seja a seguinte situação de decisões quanto a investimentos em ativos com riscos diferentes quanto ao valor no momento futuro de resgate: Resultados (payoffs) de decisões de investimento em ativos Resultados 1 (payoffs) Resultados 2 (payoffs) Valor EsperadoProbabilidade Valor do Ativo 1 Probabilidade Valor do Ativo 2 Investimento em Ativo 1 0,8 40 0,2 2,5 32,5 Investimento em Ativo 2 0,5 35 0,5 30 32,5 14 Variabilidade Embora os valores esperados dos dois ativos sejam iguais, o ativo 1 embute mais variabilidade, tendo um risco maior de perda de valor significativa. Neste sentido, é uma decisão que envolve mais risco. Resultados (payoffs) de decisões de investimento em ativos Resultados 1 (payoffs) Resultados 2 (payoffs) Valor EsperadoProbabilidade Valor do Ativo 1 Probabilidade Valor do Ativo 2 Investimento em Ativo 1 0,8 40 0,2 2,5 32,5 Investimento em Ativo 2 0,5 35 0,5 30 32,5 15 Conceitos Variabilidade é o grau de diferença entre os resultados de uma situação com incerteza. Desvio é a diferença entre os valores do resultado (payoff) efetivo e esperado. Desvio-padrão é uma medida de variabilidade: é a raiz quadrada da média dos quadrados dos desvios entre os payoffs efetivos e esperados. 16 Conceitos Como os desvios podem se anular numa soma (por exemplo, no caso do Ativo 2 os desvios somam zero, pois são respectivamente 2,5 e -2,5), para se obter uma medida que represente o grau de variabilidade é necessário elevar ao quadrado (e ter sempre números positivos). 17 Variabilidade Desvio-padrão do Ativo 1: Raiz Quadrada de 0,8(56,25)+0,2(900)=15 Desvio-padrão do Ativo 2: Raiz Quadrada de 0,5(6,25)+0,5(6,25)=2,5 O risco da escolha no Ativo 1 é maior, pois a variabilidade, medida pelo desvio- padrão, é significativamente maior do que na escolha pelo Ativo 2. Resultados (payoffs) de decisões de investimento em ativos Resultados 1 (payoffs) Resultados 2 (payoffs) Desvio padrão Resultado 1 Quadrado do desvio Resultado 2 Quadrado do desvio Investimento em Ativo 1 40 (40-32,5)2=56,25 2,5 (2,5-32,5)2 =900 15 Investimento em Ativo 2 35 (35-32,5)2=6,25 30 (30-32,5)2=6,25 2,5 18 Comportamento diante do risco: preferências individuais Se utilizarmos o critério de remeter ao conceito de utilidade os resultados ou payoffs das situações de incerteza e risco enfrentados pelos agentes econômicos, então poderíamos utilizar o conceito de utilidade esperada para analisar as preferências ao risco. 19 Utilizando o conceito de utilidade esperada para analisar preferência em relação ao risco Exemplo e hipóteses: • Consideremos que o agente econômico associa um nível de utilidade ao nível de renda que obtém do trabalho/emprego. Ou seja, o payoff é em termos de utilidade. • Vamos supor que a utilidade não cresce na mesma proporção da renda, conforme a seguinte tabela: 20 Utilizando o conceito de utilidade esperada para analisar preferência em relação ao risco Utilidade Renda Utilidade Marginal 0 0 10 R$ 10.000 10 (para variação de 10.000) 13 R$ 15.000 14 R$ 16.000 16 R$ 20.000 6 (para variação de 10.000) 18 R$ 30.000 2 (para variação de 10.000) 21 Comportamento diante do risco: preferências individuais • Suponhamos que o indivíduo possui uma renda de R$ 15.000. Esta renda realizada gera uma utilidade de 13 (conforme a tabela). • O indivíduo obtém uma oportunidade de outro trabalho, que pode gerar renda de R$ 30.000, com probabilidade de 0,5 (50%), mas também pode gerar renda de apenas R$ 10.000, com probabilidade de 0,5 (50%). O valor esperado da renda é de R$ 20.000 (média das rendas ponderada pelas probabilidades). • Neste caso, há uma utilidade esperada, que corresponde à média das utilidades associadasa cada renda esperada, ponderada pelas probabilidades de cada renda. A utilidade esperada pode ser expressa por: • E(u) = (1/2) u($10.000) + (1/2) u($30.000) = 0,5(10) + 0,5(18) = 14 22 Comportamento diante do risco: preferências individuais • E(u) = (1/2) u($10.000) + (1/2) u($30.000) = 0,5(10) + 0,5(18) = 14 • Concluímos que a utilidade esperada do emprego novo, com seu risco e probabilidades associadas, é de 14. Esta utilidade é maior do que a utilidade do emprego atual, que é de 13 (correspondente aos 15.000 reais recebido, conforme a tabela). • Portanto, o novo trabalho, com maior risco, seria preferível ao trabalho atual, porque a utilidade esperada de 14 é maior do que a utilidade atual de 13. Se o indivíduo se guia pela utilidade, ele preferirá o novo trabalho. Neste novo trabalho, há maior risco, mas há uma possibilidade de renda esperada de 20 mil reais (que é a média das remunerações possíveis, ponderadas pelas respectivas probabilidades). 23 Comportamento diante do risco: preferências individuais • O indivíduo que tem aversão ao risco prefere uma renda certa a uma renda incerta de mesmo valor esperado. No caso da renda do trabalho, suponhamos que a uma renda de R$ 20.000 a utilidade atribuída pelo indivíduo é 16 (conforme a tabela anterior). Se ele possui uma perspectiva de ter em um novo trabalho um valor esperado de R$ 20 mil, com probabilidades de 50% de ganhar R$ 10 mil e R$ 30 mil, nesta situação a utilidade é 14, conforme visto anteriormente. • Neste caso, trata-se de aversão ao risco. As perdas que podem ocorrer tem mais peso na avaliação de utilidade do que os ganhos que podem ocorrer. O indivíduo, em conseqüência disto, prefere a situação de maior certeza. 24 Comportamento diante do risco: preferências individuais • Vamos analisar um exemplo do comportamento oposto: o indivíduo tem amor ao risco. Utilidade Renda Utilidade Marginal 0 0 0 3 R$ 10.000 3 8 R$ 20.000 5 18 R$ 30.000 10 25 Comportamento diante do risco: preferências individuais • No caso do amor ao risco, trata-se daquela situação onde o agente tem a preferência por um renda ou payoff incerto a uma renda ou payoff certo, com o mesmo valor esperado. • Se, em um trabalho futuro, houver 50% de probabilidade de auferir R$ 10.000 e 50% de probabilidade de auferir R$ 30.000; então, com base na tabela anterior, pode-se escrever a utilidade esperada como segue: E(u)= 0,5.u($10.000) + 0,5.u($30.000) = 0,5.(3) + 0,5.(18) = 10,5 • A utilidade esperada do futuro trabalho, mesmo com o risco de perda, é maior do que a utilidade do trabalho presente, que gera a mesma renda esperada ($20.000), mas que gera, por hipótese, uma utilidade de 8. Trata- se da situação de amor ao risco. 26 Comportamento diante do risco: preferências individuais • Um terceiro tipo de comportamento e preferência individual é o da neutralidade do risco. Neste caso, as utilidades esperadas que geram a mesma renda esperada incerta equivalem às utilidades de renda certa. Ou seja, é indiferente ao indivíduo ter uma renda certa no presente ou ter uma renda incerta no futuro cujas probabilidades geram o mesmo valor esperado da renda presente. Utilidade Renda Utilidade Marginal 0 0 0 6 R$ 10.000 6 12 R$ 20.000 6 18 R$ 30.000 6 27 Comportamento diante do risco: preferências individuais • No caso da situação da tabela abaixo, a renda de 20.000, por exemplo, gera uma utilidade de 12; optar uma renda incerta de probabilidades de 50% para $10.000 e $30.000 gera uma renda esperada também igual a $20.000 e uma utilidade esperada também igual a 12. O indivíduo, neste caso, é neutro ao risco. Utilidade Renda Utilidade Marginal 0 0 0 6 R$ 10.000 6 12 R$ 20.000 6 18 R$ 30.000 6 28 Prêmio de Risco • É a soma máxima em dinheiro que um indivíduo que tem aversão ao risco gastaria para evitar o risco. • No exemplo de aversão ao risco, o indivíduo teria a mesma utilidade que a renda esperada de R$20.000 se obtivesse uma renda certa de R$16.000. Logo, ele está renunciando (ou “sacrificando”) R$4.000 para evitar o risco. 29