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Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB Reanimação neonatal Reanimação neonatal Introdução A asfixia perinatal é um problema de saúde pública no brasil; 1 a cada 10 RN necessitam de VPP para iniciar e/ou manter movimentos respiratórios efetivos; 1 a cada 100 RN precisam de intubação e/ou massagem cardíaca; 1 a cada 1000 RN precisam de intubação, massagem cardíaca e medicação, desde que a VPP seja aplicada de maneira correta; Obs: Quanto menor a idade gestacional e/ou o peso ao nascer, maior a necessidade de procedimentos de reanimação. O parto cesáreo, entre 37 – 39 semanas de gestação, mesmo sem fatores de risco antenatais para asfixia, eleva o risco de que a VPP ao nascer seja necessária; O risco de morte ou morbidade aumenta em 16% a cada 30 segundos de demora para iniciar a VPP até o 6º minuto após o nascimento, de modo independente do peso ao nascer, da idade gestacional ou de complicações na gravidez ou no parto Preparo para a assistência As práticas da reanimação em sala de parto baseiam‐se nas recomendações publicadas pelo International Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR); O preparo para atender o RN na sala de parto consiste em: anamnse materna, condições clínicas maternas, material necessário para assistência e equipe treinada, intercorrências na gravidez, trabalho de parto, problemas com a vitalidade fetal e atenção para possibilidade de reanimação ser necessária. Deve-se buscar sempre: manter a temperatura do RN, aspiração de vias aéreas para mantê-las livres, ventilação e administração de medicações quando necessárias. • Recepção do RN Precauções‐padrão que compreendem a lavagem/higienização correta das mãos e o uso de luvas, aventais, máscaras ou proteção facial para evitar o contato do profissional com material biológico do paciente Avaliação da vitalidade ao nascer A reanimação depende da AVALIAÇÃO SIMULTÂNEA da RESPIRAÇÃO e da FREQUÊNCIA CARDÍACA (Fc); Fc é a principal determinante da decisão de iniciar manobras de reanimação; Espera-se que, após o nascimento, o RN respire de maneira regular e suficiente para manter Fc > 100 bpm; Avaliação da Fc → ausculta do precordio com o estetoscópio; Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB Obs: Se houver necessidade de qualquer procedi mento de reanimação, a avaliação da FC é feita por meio do monitor cardíaco com 3 eletrodos. Obs: Quanto ao Apgar, este não é indicado para determinar o início da reanimação nem as manobras a serem instituídas no decorrer do procedimento. No entanto, sua aplicação permite avaliar a resposta do RN às manobras realizadas e a eficácia dessas manobras. Se o escore é inferior a 7 no quinto minuto, recomenda‐se realizá‐lo a cada 5 minutos, até́ 20 minutos de vida. Assistência do RN a termo com boa vitalidade ao nascer RN termo, respirando ou chorando, tônus muscular em flexão, independente do aspecto do líquido amniótico meconial → não são necessárias manobras de reanimação; A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o aleitamento materno seja iniciado na primeira hora de vida, pois se associa a um período maior de amamentação, melhor interação mãe‐bebê e menor risco de hemorragia materna Quando clampear o cordão umbilical? Recomenda‐se, portanto, que, no RN a termo, saudável e com boa vitalidade ao nascer, o clampeamento seja efetuado 1 a 3 minutos depois da extração do concepto do útero materno (geralmente é quando o cordão umbilical para de ter pulso”); Geralmente, há necessidade de fototerapia por hiperbilirrubinemia indireta na primeira semana de vida. Porém, o benefício hematológico a longo prazo em relação ao clampeamento tardio superam os riscos mínimos de hiperbilirrubinemia. Passos iniciais da estabilização e reanimação Paciente pré-termo (< 37 semanas); Paciente pós-termo (≥ 42 semanas); Pacientes que, independentemente da idade gestacional, não iniciam movimentos respiratórios regulares; Pacientes cujo tônus muscular está flácido. Condução à mesa de reanimação — Passos (devem ser feitos em, no máximo, 30 segundos): 1. Prover calor; 2. Posicionar a cabeça em leve extensão; 3. Aspirar boca e narinas; 4. Secar o paciente (se necessário). • Manutenção da temperatura corporal A temperatura do RN deve ser mantida entre 36,5° e 37,5°; A sala de parto deve ser pré-aquecida e a sala em que serão realizados os procedimentos de reanimação, mantendo a temperatura ambiente de 23° - 26°C; Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB RN < 34 semanas → recomenda-se uso de saco plástico transparente de polietileno de 30x50 cm que deve ser colocado no RN após posicioná-lo sob fonte de calor e antes mesmo de secá-lo. Recomenda-se o uso suplementar de uma touca dupla (plástico e lã/algodão) para evitar perda de calor pelas fontanelas; RN ≥ 34 semanas → após a colocação sob fonte de calor radiante e a realização das medidas para manter as vias aéreas permeáveis, secar o corpo e a região da fontanela e desprezar os campos úmidos. Obs: cuidado com hipertermia porque pode agravar lesão cerebral em pacientes asfixiados. • Manutenção da permeabilidade de vias aéreas Posicionar a cabeça do RN levemente em extensão, podendo-se utilizar um coxim sob os ombros para facilitar; Se houver excesso de secreções nas vias aéreas → a boca e depois as narinas são aspiradas delicadamente com sonda traqueal conectada ao aspirador a vácuo, sob pressão máxima aproximada de 100 mmHg; Obs: aspiração da hipofaringe deve ser evitada, pois pode causar atelectasia, trauma e prejudicar o estabelecimento de uma respiração efetiva. • Reavaliação da respiração e da Fc Paciente com vitalidade adequada (respiração rítmica e Fc > 100 bpm) após esses procedimentos básicos iniciais → cuidados normais na sala de parto; Se o paciente, após os passos iniciais, não apresenta melhora, indica‐se a ventilação com pressão positiva (VPP), a colocação dos eletrodos do monitor cardíaco e do sensor neonatal do oxímetro de pulso. Ventilação com pressão positiva (VPP) A ventilação pulmonar adequada é o ponto crítico da reanimação neonatal e deve ser iniciada, quando necessária, já nos primeiros 60 segundos de vida (“minuto de ouro”); Após os cuidados para manter a temperatura e a permeabilidade das vias aéreas, a presença de apneia, respiração irregular e/ou FC < 100 bpm indica a VPP. • Oxigênio suplementar RN ≥ 34 semanas apresenta apneia, respiração irregular e/ou FC < 100 bpm → iniciar VPP com ar ambiente → monitorar a oximetria de pulso por meio do sensor neonatal colocado no pulso radial direito que demora 1 – 2 minutos para uma leitura confiável desde que haja DC suficiente e com perfusão periférica; Obs: Quando o RN ≥ 34 semanas não melhora e/ou não atinge os valores desejáveis de SatO2 com a VPP em ar ambiente, recomenda‐se, em PRIMEIRO LUGAR rever a TÉCNICA DE VENTILAÇÃO. A necessidade de oxigênio su‐ plementar em RN ≥ 34 semanas é excepcional se a VPP é feita com a técnica adequada. RN < 34 semanas → utilizar a con‐centração inicial de 30%, aumentando‐a ou reduzindo‐a por meio de um blender, de modo a manter a FC > 100 bpm nos minutos iniciais de vida e a SatO2. Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB Obs: só se deve aumentar a oferta de oxigênio depois de se certificar de que a técnica da ventilação está adequada. • Equipamentos para ventilação Balão autoinflável e Ventilador mecânico manual em T + máscara facial ou cânula traqueal — Balão autoinflável Não necessita de fonte de gás para funcionar; A quantidade de escape de ar entre face e máscara e a complacência pulmonar são pontos críticos na efetividade da ventilação com balão autoinflável e máscara facial; A pressão inspiratória máxima a ser administrada é limitada pela válvula de escape, ativada em 30 – 40 cmH2O para evitar barotrauma;Desvantagens → não ser possível fornecer um pico de pressão inspiratória constante, a ativação variável da válvula de segurança e a falta de pressão expiratória final positiva (PEEP) confiável, fornece apenas 21% de concentração de oxigênio ou 90 – 100% quando conectado ao reservatório; Obs: A oferta de concentrações intermediárias de oxigênio varia de acordo com o fluxo de oxigênio, a pressão exercida no balão, o tempo de compressão, a frequência aplicada e o fabricante do balão. — Ventilador mecânico manual em T Permite administrar pressão inspiratória e PEEP constantes, ajustáveis de acordo com a resposta clínica do paciente; — Máscara facial Material maleável transparente ou semitransparente, borda acolchoada e planejada para possuir um espaço morto < 5 mL; Três tamanhos: para o RN a termo, prematuro e prematuro extremo; A máscara deve cobrir a ponta do queixo, a boca e o nariz. — Cânula traqueal Devem ser de diâmetro uniforme, sem balão, com linha radiopaca e marcador de corda vocal; RN < 28 semanas ou peso < 1.000g → cânula de 2,5 mm; RN entre 28 – 34 semanas ou peso entre 1.000 – 2000g → cânula de 3 mm de diâmetro; RN entre 34 – 38 semanas e peso de 2.000 – 3.000g → cânula de 3,5 mm de diâmetro; RN > 38 semanas ou acima de 3.000g → cânula de 3,5 – 4 mm de diâmetro. • VPP com balão autoinflável e máscara Frequência de 40 – 60 movimentos/minuto (aperta/solta/solta/aperta...); Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB Iniciar com pressão inspiratória de 20 cmH2O naqueles com pulmões muito imaturos ou muito doentes → essa pressão deve ser obrigatoriamente monitorada por um manômetro; Durante a VPP, deve‐se observar a adaptação da máscara à face do RN, a permeabilidade das vias aéreas e a expansibilidade pulmonar; A ventilação efetiva produz a elevação da FC e, depois, o estabelecimento da respiração espontânea; Resposta positiva → após 30 segundos de VPP o paciente apresentar Fc > 100 bpm e respiração espontânea e regular → suspender o procedimento; Falha de procedimento → após 30 segundos de VPP o paciente continua com Fc < 100 bpm ou não retorna à respiração espontânea rítmica e regular → REVER TÉCNICA → se mesmo após correção de técnica o paciente continuar nesse estado → recomenda-se uso de cânula traqueal como interface para VPP. • VPP com balão autoinflável e cânula traqueal Indicada quando → ventilação com máscara facial não efetiva, ou seja, se após a correção de possíveis problemas técnicos relacionados ao seu uso, não há melhora clínica do RN; ventilação com máscara facial prolongada, ou seja, se o paciente não retoma a respiração espontânea; necessidade de massagem cardíaca; e pacientes com hérnia diafragmática. Complicações (geralmente advém dos erros de intubação) → hipoxemia, apneia, bradicardia, pneumotórax, laceração de tecidos moles, perfuração de traqueia ou esôfago, além de maior risco de infecção; Cada tentativa de intubação deve durar no máximo 30 segundos → se der errado, continua VPP com máscara e depois tenta intubar de novo após estabilização do paciente; Após intubação → inicia-se ventilação com balão autoinflável na mesma frequência e pressão descritas para a ventilação com balão e máscara; Resposta positiva → RN apresentar FC > 100 bpm e movimentos respiratórios espontâneos e regulares; Resposta negativa → após 30 segundos de VPP o paciente continua com Fc < 100 bpm ou não retorna à respiração espontânea rítmica e regular → REVER TÉCNICA → se mesmo após correção de técnica o paciente continuar nesse estado → levar o paciente para UTI neonatal em incubadora própria para o transporte → se mesmo assim o RN mantiver Fc < 60 bpm → oxigênio suplementar e massagem cardíaca. • Ventilador mecânico manual em T com máscara facial ou cânula traqueal Fixar o fluxo gasoso em 5 – 15L/ minuto; Limitar pressão máxima do circuito em 30 – 40 cmH2O; Selecionar pressão inspiratória a ser aplicada em cada inspiração → ao redor de 20 cmH2O; Ajustar pressão expiratória final positiva (PEEP) → ao redor de 5 cmH2O; [O2 inicial] → depende da idade gestacional → RN < 34 semanas (30%) e RN ≥ 34 semanas (começar com ar ambiente); Ventilar com frequência de 40 – 60 movimentos por minuto (ocluuui-solta-solta-ocluuui). Obs: esse oclui tem a ver com a peça T (a que a gente controla a PEEP). Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB Massagem cardíaca Asfixia pode causar vasoconstrição periférica, hipoxemia tecidual, diminuição da contratilidade miocárdica, bradicardia e, eventualmente, parada cardíaca; A massagem cardíaca só é iniciada se, após 30 segundos de VPP com técnica adequada e uso de oxigênio 60 a 100%, o RN persistir com FC < 60 bpm; Como realizar a compressão? Deve ser feita no terço inferior do esterno por meio da técnica dos dois polegares, com os polegares sobrepostos posicionados logo abaixo da linha intermamilar, poupando‐se o apêndice xifoide. As palmas das mãos e os outros dedos devem circundar o tórax do RN; Deve-se comprimir 1/3 do diâmetro anteroposterior do tórax, de maneira a produzir pulso palpável; Obs: É importante permitir a expansão plena do tórax após a compressão para que ocorra o enchimento das câmaras ventriculares e das coronárias; no entanto, os dedos não devem ser retirados do terço inferior do tórax. Obs: no RN devem ser feitas 3 massagens cardíacas para 1 reanimação de maneira síncrona → frequência de 120 eventos/minuto (90 compressões e 30 ventilações). A massagem deve continuar enquanto Fc < 60 bpm; Deve-se manter essa coordenação por 60 segundos antes de reavaliar a Fc, pois este é o tempo mínimo para que a massagem efetiva possa restabelecer a pressão de perfusão coronariana; Resposta positiva → após a VPP acompanhada de massagem cardíaca, o RN apresenta FC > 60 bpm → interrompe-se massagem cardíaca → se o paciente apresentar Fc > 100 bpm e respirações espontâneas → suspender, também, VPP. Resposta negativa → após 60 segundos de VPP com cânula traqueal e oxigênio a 100% acompanhada de massagem cardíaca, o RN mantém FC < 60 bpm → verificar a posição da cânula traqueal, a permeabilidade das vias aéreas e a pressão de ventilação, além da técnica da massagem cardíaca propriamente dita, corrigindo o que for necessário → se isso tudo não ajudar → caterismo venoso umbilical de urgência e aplicação de adrenalina. Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB Medicações Bicarbonato de sódio, naloxone, atropina, albumina e vasopressores não são recomendados na reanimação do RN em sala de parto; Via preferencial para medicação é a endovenosa → O cateter venoso umbilical deve ser inserido apenas 1 ou 2 cm após o ânulo, mantendo‐o periférico, de modo a evitar sua localização em nível hepático; A administração de medicações por via traqueal só pode ser usada para a adrenalina, uma única vez, enquanto o cateter venoso está sendo inserido, sabendo‐se que a absorção por via pulmonar é lenta e imprevisível e a resposta, em geral, é insatisfatória; • Quando adrenalina está indicada? VPP + massagem cardíaca adequadas não elevam Fc acima de 60 bpm. — Dosagens: 0,01 – 0,03 mg/kg; Não deve ultrapassar 0,1 mg/Kg porque levam à hipertensão arterial grave, reduzindo função miocárdica e piora do quadro neurológico; Quando não há reversão da bradicardia mesmo com o uso de adrenalina, deve-se repeti-la a cada 3 – 5 minutos (sempre EV) e considerar o uso de expansor de volume quando se suspeitar de choque hipovolêmico. • Quando suspeitar de choque? Paciente pálido, mal perfundido e sem resposta adequada da Fc às outras medidas de reanimação; Usar soro fisiológico 0,9% na dose de 10 mL/kg. Deve ser administrado lentamente, em especial nos prematuros, para evitar sobrecarga volêmica e hemorragia intracraniana.Vale lembrar que apenas um em cada 1.000 neonatos requer procedimentos avançados de reanimação (entubação traqueal, massagem cardíaca e/ou medicações), quando a VPP é aplicada de maneira rápida e efetiva. Aspectos éticos da assistência ao RN na sala de parto As questões relativas às orientações para não iniciar a reanimação neonatal e/ou interromper as manobras são controversas e dependem do contexto nacional, social, cultural e religioso, no qual os conceitos de moral e ética são discutidos; • Decisão de não reanimação na sala de parto Para o RN ≥ 34 semanas, essa questão só se coloca diante de malformações congênitas letais ou potencialmente letais. Nesses casos, é necessário ter a comprovação diagnóstica antenatal e considerar a vontade dos pais e os avanços terapêuticos existentes para decidir quanto à conduta em sala de parto; Pedro Macedo – Turma IX – Medicina UFOB Se não houver certeza quanto à decisão de não reanimar o RN, todos os procedimentos necessários devem ser feitos de acordo com o fluxograma da reanimação neonatal. • Prematuridade extrema RN < 23 semanas de gestação são muito imaturos para sobreviver com a tecnologia atual, e a oferta de cuidados, que não sejam os de conforto, não parece ser razoável na maioria dos países desenvolvidos; RN com 25 semanas ou mais de idade gestacional apresentam taxas significativas de sobrevida e, em grande proporção, sem sequelas graves, sendo justificada a máxima intervenção na sala de parto; O problema maior concentra‐se naqueles que nascem entre 23 e 24 semanas de idade gestacional, pois há dúvidas éticas a respeito de como proceder. Nesse período, a incerteza do resultado é a regra, pois a sobrevivência e o prognóstico são incertos e há dúvida sobre qual a melhor conduta a ser adotada e sobre o grau de investimento e intervenção a ser feito. Os desejos da família precisam ser ouvidos, de preferência e quando possível antes do nascimento.
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