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CCllíínniiccaa MMééddiiccaa 11 CCaaddeerrnnoo ddee aattiivviiddaaddeess ppaarraa EEssttuuddaarr eemm CCaassaa 22002211 Organizador: Flávio Chaimowicz Autores, co-autores e colaboradores: Claudia Alves Couto, Flavio Chaimowicz, Gustavo Cancela e Penna, Henrique Oswaldo da Gama Torres, Juliana Beaudette Drummond, Maria Monica Freitas Ribeiro, Paulo Henrique Costa Diniz, Rosa Weis Telles, Rosália Morais Torres, Silvana Spindola. Departamento de Clínica Médica Faculdade de Medicina UFMG ÍNDICE APRESENTAÇÃO 5 COMO UTILIZAR ESTE MATERIAL ? 7 HABILIDADES DE COMUNICAÇÃO 9 RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE 21 HISTÓRIA CLÍNICA 39 RACIOCÍNIO CLÍNICO 53 EXAME FÍSICO GERAL: SINAIS VITAIS E ECTOSCOPIA 63 SINAIS VITAIS E DADOS ANTROPOMÉTRICOS 65 ECTOSCOPIA 69 SEMIOLOGIA DA DOR E FEBRE 81 DOR 84 FEBRE 94 5 Apresentação Caros alunos, Sejam bem-vindos à Clínica Médica I. Estamos continuando nossas atividades em meio a um dos períodos mais difíceis da nossa história. Milhões de brasileiros infectados por um vírus, centenas de milhares mortos. Minha geração não teve outro momento em que os profissionais de saúde tenham sido tão exigidos. "Curar quando possível; aliviar quando necessário; consolar sempre". A frase proferida por Hipócrates, que viveu entre os anos 470 e 360 a.C. e é considerado o pai da Medicina, e que retrata a essência da profissão, nunca foi tão atual. Mas curar, aliviar e consolar pressupõem conhecer o paciente e fazer o diagnóstico. Fazer o diagnóstico da realidade que o trouxe até nós. O objeto da clínica médica são as pessoas que adoecem além daquelas que talvez possamos evitar que adoeçam. Este é o foco da CLM1: a pessoa. Aqui vamos desenvolver nossa habilidade de construir uma conversa especial: a anamnese. E durante a anamnese, fortalecer o relacionamento, responder a emoções, colher e oferecer informações. Em certo aspecto a anamnese é uma entrevista estruturada. Há perguntas que podemos fazer, roteiros que podemos seguir, estratégias que podemos utilizar. Devemos aperfeiçoar nossa capacidade de fazer boas perguntas, que estimulem respostas acuradas. Estes aspectos serão discutidos nos GDs sobre Habilidades de Comunicação e Entrevista Clínica. Vamos também começar a conhecer as estratégias de Raciocínio Clínico, o fio condutor de uma investigação. Vamos treinar essas habilidades abordando um tema específico em um GD sobre Dor. Simultaneamente ao desenvolvimento de nossa entrevista estruturada começamos a construir a Relação Médico-Paciente, outro tema essencial, abordado na CLM1, pois faz parte da excelência técnica o relacionamento adequado com o qual o médico estabelecerá a relação de ajuda. Por fim, na CLM1 começaremos a explorar o Exame Físico Geral. Se por um lado o exame por contribui para o diagnóstico, assim como a anamnese, por outro ele é um modo de estreitar a relação médico-paciente. Como dizia o médico norte-americano Lewis Thomas, "o tato é meio de conseguir significativas visões íntimas". Em tempos normais, estes temas são discutidos durante as aulas presenciais da CLM1 no Ambulatório Bias Fortes, antes ou depois do atendimento aos pacientes. Em tempo de pandemia vocês deverão estudar estes tópicos nos livros e responder às perguntas dos estudos dirigidos. Este caderno de atividades foi desenvolvido pelos professores da CLM1, que não pouparam esforços para selecionar os aspectos essenciais de cada tema e elaborar perguntas adequadas para facilitar o seu aprendizado. Temos muitos desafios pela frente! Estudem muito em casa, nos livros e referências enviadas. Os professores da CLM1 estarão disponíveis e ao lado, para ajudar no que for preciso, com o apoio de todo o Departamento de Clínica Médica. Mensagem da Profa. Valéria Maria Augusto Departamento de Clínica Médica 7 Como utilizar este material ? Este caderno contém seis estudos dirigidos. São os temas principais do conteúdo programático da CLM1 selecionados para o Ensino Remoto Emergencial (ERE). São os mesmos temas que a maioria dos professores discutia no Ambulatório Bias Fortes nos primeiros meses do curso, no período pré-pandemia. Por recomendação do Núcleo Docente Estruturante (NDE) da Faculdade de Medicina, no período de 1705 a 13/09 de 2021 (ainda sem ensino presencial), a carga horária da CLM1 (4 horas por semana) será organizada da seguinte forma: - Uma hora por semana de atividades SÍNCRONAS, na tela do celular ou computador: são as consultas simuladas, feedback das consultas, discussões dos GDs e outras atividades virtuais com o professor; - Três horas por semana de atividades ASSÍNCRONAS na tela (ex. no Moodle), e sem tela (leitura de bibliografia, estudos dirigidos, exercícios). Na CLM1 seu tempo de atividade assíncrona + tempo de atividade sem tela deverá ser dedicado a ler a bibliografia obrigatória de cada tema da disciplina e fazer as atividades recomendadas pelo seu professor. Alguns professores utilizarão este material, e outros utilizarão outras metodologias. Se o seu professor recomendar este material, sugerimos imprimir (frente e verso!!!) e responder as questões por escrito. Seu tempo de atividade síncrona será uma oportunidade de discutir estes seis temas (e eventualmente outros assuntos) com sua turma e seu professor. O cronograma abaixo é uma sugestão, que será adaptada pelo seu professor. Semana 1 Habilidades de comunicação Semana 2 Habilidades de comunicação Semana 3 Relação médico-paciente* Semana 4 Relação médico-paciente Semana 5 Anamnese e história clínica Semana 6 Raciocínio clínico* Semana 7 Exame físico geral Semana 8 Dor e febre * Atenção: há material para ler alguns dias antes de começar a fazer estes GDs. Bons estudos! Flávio Chaimowicz Professor Convidado do Departamento de Clínica Médica Habilidades de Comunicação Flávio Chaimowicz http://tropicalia.com.br/ruidos-pulsativos/geleia-geral/chacrinha http://tropicalia.com.br/ruidos-pulsativos/geleia-geral/chacrinha Caderno de Atividades da CLM1 - 2021 10 Apresentação: Habilidades de Comunicação Neste estudo dirigido vamos trabalhar as habilidades de comunicação necessárias para realizar uma consulta médica de um adulto. Uma consulta tem três objetivos principais, que dependem destas habilidades: construir um relacionamento com o paciente, colher e oferecer informações. O paciente precisa se sentir ouvido e compreendido pelo médico, e é importante que confie nele. Da sua parte, o médico deve tentar acolher o paciente sem julgamento de valores, captar e responder às suas emoções, tentar formar uma parceria e aproveitar a experiência para aprender. Durante a entrevista, precisamos colher informações confiáveis, de maneira objetiva e completa, dentro do limite de tempo estabelecido. Devemos oferecer informações que tornem o paciente um sujeito ativo da consulta e tratamento, atentos aos seus desejos e pistas emocionais. Ao final deste estudo dirigido você deverá ser capaz de: ● Conhecer os objetivos e a importância da anamnese; ● Listar os preparativos do médico que antecedem à consulta; ● Descrever técnicas para esclarecer a história e gerar e testar hipóteses. ● Citar técnicas para criar uma compreensão compartilhada do problema, explorar a perspectiva do paciente e responder às suas pistas emocionais ● Reconhecer a sequência geral de uma entrevista médica; ● Utilizar perguntas habilidosas que aumentam a qualidade das respostas. ● Abordar pacientes com comportamentos mais difíceis (ex. calados). ● Abordar tópicos melindrosos (ex. uso de drogas). Recomendamos que você imprima este estudo dirigido e tenha em mãos o capítulo Entrevista e Anamnese do Bates1 (10a edição ou mais recente). Abra o capítulo e observe rapidamente seu conteúdo e estrutura. Em seguida, responda as perguntas do estudo dirigido enquantolê o capítulo. Quando terminar, assinale as suas dúvidas. Você pode discuti-las com colegas. Se possível, um dia antes da atividade síncrona, reveja suas repostas e dúvidas. Na reunião o professor vai ressaltar alguns aspectos deste tema e discutir dúvidas. 1: Bickley LS, Bates Propedêutica Médica, 10ª Ed. 2010. (Cap. 3: Entrevista e Anamnese, pgs 55-86), ou 12ª Ed. 2018. (Cap. 3: Entrevista e Anamnese, pgs 61-95). Habilidades de Comunicação 11 A Prof. Maria Mônica Freitas Ribeiro e o Prof. Henrique Oswaldo da Gama Torres colaboraram para este estudo dirigido Texto da Profa. Maria Mônica Freitas Ribeiro A disciplina de Clínica Médica 1 tem como objetivo a introdução à clínica e é baseada na prática com o paciente. Nenhuma atividade poderá substituir essa prática, mas em tempos de pandemia de Coronavírus começaremos a trabalhar algumas habilidades necessárias para, quando possível, iniciarmos a prática com conhecimento prévio. Trabalharemos com a consulta médica de pacientes adultos e toda consulta começa com uma história - a história do paciente (insistimos na palavra paciente levando em conta a etimologia latina de patiens que é "aquele que sofre ou padece"). A função do médico é ajudar o paciente na construção de sua história com a finalidade de fazer um diagnóstico abrangente do que lhe aflige, que pode ou não ser uma doença. O início de toda consulta tem como base a comunicação e esta é uma habilidade que vocês já possuem desde a mais tenra idade, quando aprenderam os primeiros gestos e as primeiras palavras. Mas nem sempre nossas habilidades de comunicação foram adequadamente desenvolvidas e sempre há como melhorá-las. Principalmente nossa habilidade de escuta precisa ser melhorada pois o protagonista da consulta, quem conhece toda a história, é o paciente que precisa ser ouvido. Desenvolver uma escuta atenta que inclua a observação de manifestações verbais e não verbais é essencial. Conhecer a técnica para a construção de uma anamnese adequada, alicerçada em uma relação médico- paciente ética e que considere a autonomia do paciente é o que trabalharemos no primeiro bloco do caderno de atividades, que incluirá as habilidades de comunicação, a construção de uma anamnese e a relação médico-paciente. Para iniciar gostaríamos que você pensasse em três perguntas que precisamos responder ao final da história: - Quem é esta pessoa? - O que motivou sua busca pela consulta médica hoje? - Na sua história, o que ela considera mais importante e o que o médico considera mais importante? Caderno de Atividades da CLM1 - 2021 12 Conceito de Anamnese 1 – Anamnese vem do grego e significa trazer à memória, recordar. Procure no dicionário o significado da palavra anamnese em medicina. A História Clínica A anamnese é uma técnica utilizada para a obtenção da história clínica e para a construção de uma boa história clínica é importante que a comunicação com o paciente seja adequada. Para que isto aconteça alguns cuidados precisam ser tomados. Hoje vamos falar de habilidades de comunicação. O mais fundamental é sua disponibilidade para estabelecer um bom contato com o paciente, procurando vencer as barreiras de comunicação e lembrando que o paciente não faz curso para se consultar. Entender as diferenças culturais, dentro de nossa própria cultura nos diferentes grupos e em pessoas de minorias étnicas;entender as diferenças linguísticas e as próprias limitações individuais, tais como deficiências, analfabetismo, são desafios que se colocam para o médico. Na literatura sobre o tema encontramos uma distinção entre duas formas de obtenção da história clinica: tomar (do inglês “history taking”) ou construir a história clínica. Pense sobre isso e, ao término do estudo dirigido, veja se consegue explicar essa distinção. Pode ajudar saber que essa diferenciação é correlata de outra que encontramos com freqüência na literatura, que é aquela entre moléstia e enfermidade (a discussão sobre esse tema pode ser encontrada em: Mario Lopez. Introdução ao diagnóstico Clinico. In: Semiologia Médica: as bases do diagnóstico clínico. 3ª edição, p. 3). Estar atento às manifestações verbais e não verbais do paciente é um aspecto muito importante. Para aprofundar nas manifestações não verbais você pode ler o livro “O corpo fala” de Pierre Weil e Roland Tompakow, disponível na internet. Um pouco de técnica pode ajudar e dela vamos tratar no estudo dirigido, mas nada substitui sua disponibilidade para o outro. Recebendo o paciente Primeiro e mais importante: Não interrompa o paciente na sua fala inicial. Dê tempo a ele para dizer o motivo que o trouxe ao consultório. Se ele chegar já falando, ouça. Se ele chega calado, você deve iniciar a entrevista e para isto as habilidades de comunicação discutidas no estudo dirigido que se segue são importantes e podem ajudar. Fim do texto Habilidades de Comunicação 13 Para começar, o que a frase e a charge te fazem pensar? escute o paciente; ele lhe dirá o diagnóstico. Responda aqui: Agora abra o seu texto do Bates e responda na medida em que lê o texto: 1) A anamnese é uma “conversa com objetivo”. Explique. 2) Quais são os seus três objetivos básicos? 3) Qual a sua importância? 4) Por que não pode ser colhida através de um formulário impresso, respondido pelo próprio paciente? Nem pela secretária, na sala de espera? Na sua resposta, inclua as palavras "hipóteses" e "processo de entrevista". 5) Cite dois exemplos de como as intenções ou problemas do paciente, os objetivos do clínico ou o contexto onde é realizada a anamnese podem modificar o alcance e o enfoque da anamnese. Caderno de Atividades da CLM1 - 2021 14 PREPARATIVOS: A ABORDAGEM DA ENTREVISTA 6) Você tem tempo para momentos de auto-reflexão sobre sua vida, desejos, e frustrações? Qual a relação desta prática com a qualidade do seu atendimento como médico? 7) Antes de atender seus pacientes no Bias Fortes, você SEMPRE deverá fazer uma revisão do prontuário. Qual o objetivo disto? Quais os riscos e limitações? 8) Cite três exemplos de situações que você presenciou como aluno, paciente ou familiar de paciente, em que você percebeu problemas relacionados à postura e aparência do clínico e à adequação do ambiente. Estes problemas poderiam ter sido resolvidos? Como? 9) Como administrar as tarefas de ao mesmo tempo ouvir o paciente, memorizar informações, raciocinar, olhar nos olhos do paciente e fazer anotações? Habilidades de Comunicação 15 CONHECENDO O PACIENTE: A SEQUÊNCIA DA ENTREVISTA 10) Cumprimentar o paciente e estabelecer contato são habilidades que exigem alguma atenção. Cite três exemplos de situações que você presenciou como aluno, paciente ou familiar de paciente, em que você percebeu problemas relacionados a esta 1ª etapa da entrevista. Também pode ser o contrário: você observou um médico que “brilhou” neste quesito. 11) O primeiro passo para estabelecer uma agenda é investigar o motivo pelo qual o paciente procurou o Bias Fortes. Veja a pergunta que utilizo para iniciar a anamnese: "Qual o motivo do senhor ter vindo aqui ao ambulatório se consultar?". Quais os pontos positivos de perguntar assim? Você vê pontos negativos? 12) Descreva estratégias para convidar o paciente a contar sua história e facilitar o relato. 13) Para identificar e responder às pistas emocionais do paciente, nós devemos estar atentos ao comportamento do paciente e ao seu relato. Cite alguns exemplos de pistas: Caderno de Atividades da CLM1 - 2021 16 14) Para expandir e esclarecer a história do paciente, frequentemente investigamos os "sete atributos de um sintoma". Se você for uma estudante, imagine um paciente que se queixou de cefaléia.Se você for um estudante, imagine um paciente que se queixou de dor abdominal. Invente uma história descrevendo “os sete atributos do sintoma”. ATENÇÃO: capriche nesta resposta; ela será utilizada na próxima pergunta, e várias vezes na próxima seção. 15) Como gerar e testar hipóteses diagnósticas? Exemplifique considerando o caso que você descreveu na pergunta anterior. 16) Para criar uma compreensão compartilhada do problema, qual a importância de ter em mente o modelo de distinção doença/enfermidade? 17) Cite uma ou duas perguntas com as quais você poderá explorar a perspectiva do paciente sobre seu problema. 18) De que modo devemos planejar a continuidade do acompanhamento e encerrar a consulta? Habilidades de Comunicação 17 CONSTRUINDO A RELAÇÃO TERAPÊUTICA: TÉCNICAS DA ENTREVISTA HABILIDOSA 19) O que é escuta ativa e qual a sua importância? 20) Volte ao paciente que se queixou de cefaléia ou dor abdominal. Faça algumas perguntas para investigar os sintomas, passando de perguntas abertas para perguntas focalizadas. Cometa alguns erros fazendo também perguntas direcionadoras, inadequadas. 21) Para o mesmo paciente, faça uma pergunta que gera uma resposta que informa os graus de intensidade. 22) Para o mesmo paciente, faça uma série de perguntas, uma de cada vez. Faça também o contrário: pergunte de modo inadequado, tudo de uma vez. 23) Para o mesmo paciente, faça uma pergunta oferecendo várias opções a título de resposta. 24) Para o mesmo paciente, peça um esclarecimento sobre algo que ele disse e você não compreendeu. 25) Para o mesmo paciente, invente algo que ele disse e use um conectivo discursivo. 26) Para o mesmo paciente, utilize a técnica do "eco". Caderno de Atividades da CLM1 - 2021 18 27) Para o mesmo paciente, dê um exemplo de comunicação não verbal e descreva o resultado que ela teve. 28) Para o mesmo paciente, dê um exemplo de resposta empática e descreva o resultado que ela teve. 29) Para o mesmo paciente, dê um exemplo de validação. 30) Para o mesmo paciente, dê um exemplo de tranquilização. 31) Estamos terminando a entrevista. Como você pode começar a formar uma parceria com o paciente? 32) Para o mesmo paciente, dê um exemplo de sumarização. 33) Para o mesmo paciente, dê um exemplo de como indicar uma transição entre etapas da anamnese. 34) Cite três modos de conferir poder ao paciente que você acha que poderá utilizar na sua primeira consulta. Habilidades de Comunicação 19 ADAPTANDO SUA ENTREVISTA A SITUAÇÕES ESPECÍFICAS 35) O "Bates" discute as peculiaridades da abordagem de pacientes com comportamentos que exigem repostas específicas da nossa conduta. No quadro abaixo, descreva três informações que você julga importantes e para a abordagem de cada caso.. Paciente... Informações importantes que você escolheu ...calado ...confuso ...incapacitado ...tagarela ...choroso ...irritado ...analfabeto ...quase surdo Caderno de Atividades da CLM1 - 2021 20 TÓPICOS MELINDROSOS QUE EXIGEM ABORDAGENS ESPECÍFICAS 36) O "Bates" discute as peculiaridades da abordagem de tópicos que podem suscitar preconceitos e comprometer a entrevista com o paciente. No quadro descreva três informações que você julga importantes para abordar cada caso. Não deixe de preencher o quadro. Ele será muito útil. Tópicos... Informações importantes que você escolheu História sexual Saúde mental Álcool e drogas Violência familiar Fim do GD Relação Médico-Paciente Flávio Chaimowicz, Henrique Oswaldo G Torres e Maria Mônica F Ribeiro (...) Mas Tolstoi é muito mais do que um ancião do século passado. Os seus livros são continentes. E não me refiro apenas aos romances grandes como Guerra e Paz ou Anna Karenina. Refiro-me a romances tão curtos como A Morte de Ivan Ilitch ou Sonata a Kreutzer. Tolstoi é um gigante da Literatura mundial e mesmo cem anos depois continua a ser lido um pouco por toda a parte, porque os grandes livros são os que caminham implacavelmente pelos séculos fora. É muito fácil ficar apaixonado pelos romances de Tolstoi. E é muito fácil ficar estupefato com cada um deles, com a mestria da escrita... cada um deles é como um espelho. Tolstoi tinha toda a razão quando disse que todas as famílias felizes se parecem. Nos seus livros são as famílias infelizes que surgem diante de nós e é essa infelicidade que de certa forma nos esmaga. Não é fácil escrever um romance tão curto, mas tão genial como A Morte de Ivan Ilitch. Afinal não é preciso muitas palavras para dizer o indizível. Tolstoi é o indizível. (...). Texto de Gonçalo Figueiredo Augusto, 20102. 2 http://conhecimentodoinferno.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html http://conhecimentodoinferno.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html Caderno de Atividades da CLM1 - 2021 22 Apresentação: Relação Médico Paciente Neste estudo dirigido vamos trabalhar com textos que abordam os aspectos mais importantes da Relação Médico Paciente (RMP). Uma consulta médica só será efetiva se, além das habilidades de comunicação, o médico construir uma boa RMP; sem ela o paciente abandonará o médico e tratamento. Há inúmeras atitudes que podem fortalecer a RMP, mas, hoje em dia, as tendências da prática médica atuam justamente na direção contrária. Ao final deste estudo dirigido você deverá ser capaz de: ● Conceituar RMP e discutir sua importância nos dias de hoje; ● Diferenciar os quatro princípios fundamentais da moderna Bioética ● Citar cuidados e atitudes do médico que podem fortalecer a RMP. ● Listar princípios do Método Clínico Centrado na Pessoa ● Diferenciar "doença x experiência do adoecimento". ● Definir: entender a pessoa como um todo e projeto de manejo comum. ● Reconhecer e começar a lidar com emoções (suas e do paciente). ● Descrever o papel psicoterapêutico do médico que atua como clínico. ● Conceituar e discutir a importância da transferência e da contra- transferência; reconhecê-la em casos clínicos. Veja qual é a sequência das suas tarefas para este estudo dirigido: Uma semana antes de começar, obtenha o livro “A Morte de Ivan Ilitch”, de Leon Tolstoi3. Ele tem só 52 páginas pequenas. Leia com gosto, calma e atenção. Leia o comentário de Inã Cândido (reproduzido aqui) sobre o livro de Tolstoi. Estude o texto de Martins e Kira (reproduzido aqui), e responda as perguntas. Leia "O método clínico centrado na pessoa" de Alberto Fuzikawa"4, e responda as perguntas elaboradas pela Prof.a Mônica. Leia trechos do livro "O relacionamento médico-paciente", de Tähkä Veikko5, (reproduzido aqui), analise casos clínicos do Prof. Henrique e responda perguntas . Quando terminar cada etapa, assinale as suas dúvidas. Você pode discuti-las com seus colegas. Talvez seu professor opte por fazer esta atividade em duas semanas, e dividir a discussão em duas atividades síncronas. Se possível, um dia antes da atividade síncrona, reveja suas repostas e dúvidas. Na reunião o professor vai ressaltar alguns aspectos deste tema e discutir dúvidas. 3 Basta digitar no Google: portal a morte de Ivan pdf 4 Basta digitar no Google: Nescon 1684 5 Tähkä Veikko. O relacionamento médico-paciente. Artes Médica: Porto Alegre, 1988. 227p. Relação Médico-Paciente 23 Caderno de Atividades da CLM1 - 2021 24 Relação Médico-Paciente Milton Arruda Martins e Célia Maria Kira - in. Semiologia - Isabela Benseñor A relação médico-paciente é o vínculo que se estabelece entre o médico e a pessoa que o procura, estando doente ou não. Inicia-se no primeiro contato enão é restrita apenas ao ambiente do consultório, mas existe em todas as oportunidades de contato entre essas duas pessoas, em serviços de emergência, unidades de terapia intensiva, de internação e de diagnóstico. A relação entre o médico e o paciente faz parte da essência da profissão médica. Desde o momento do primeiro encontro entre o médico e o paciente, existem expectativas de ambas as partes. Adotaremos, aqui, a divisão de Loyd Smith Jr., que agrupou as expectativas do paciente em cinco itens fundamentais: 1 . O paciente deseja ser ouvido - quem procura o médico tem uma história a contar. Muitas vezes não são apenas sintomas físicos, mas medos, apreensões, preocupações, tristeza. É muito importante ouvir com sincera atenção. Saber ouvir fortalece, e muito, a relação médico-paciente, além de oferecer oportunidade para que surjam certas informações e detalhes fundamentais para um correto diagnóstico. Algumas vezes, hipóteses diagnósticas são formuladas a partir da maneira como o paciente fala, e não apenas do que ele diz. O médico deve procurar usar da "empatia", entendida como a atitude de se colocar no lugar da outra pessoa, de procurar imaginar como se sentiria se estivesse na situação que está sendo vivida pelo paciente. O uso da empatia é importante não apenas ao ouvir o paciente, mas também quando o médico tem que tomar decisões complexas. Diante de uma decisão difícil, é importante imaginar quais seriam seus sentimentos se estivesse na situação do paciente. Para que tudo o que foi dito seja possível, é necessário que haja tempo adequado para a consulta, e isso tem sido uma grande expectativa do paciente, a qual, muitas vezes, tem sido frustrada por imposições de responsáveis por estruturas de atendimento à saúde pública e privada, ao determinar um tempo insuficiente para a consulta médica. 2. O paciente tem a expectativa de que o médico se interesse por ele como um ser humano, e não como uma doença ou uma parte de corpo humano - pode parecer óbvio, mas com freqüência isso é esquecido, principalmente em grandes instituições de saúde: cada paciente tem um nome e também uma história única. É comum ouvir em enfermarias e ambulatórios de hospitais expressões como: "o paciente do leito 35", "o caso da hemocromatose”, "o leito onde está a esplenomegalia". As pessoas perdem seu nome, sua identidade e passam a ser uma doença. Com relação ao tratamento, também a expectativa do paciente é de que o tratamento seja programado tendo em vista não só o sintoma ou a doença, mas também considerando-o como uma pessoa, com todas as dificuldades e facilidades que terá para seguir o tratamento proposto. 3. O paciente espera que o médico seja competente. O bom relacionamento entre o médico e o paciente é importante, mas não o suficiente para o paciente ter o melhor cuidado. O paciente espera um médico com conhecimento e experiência naquela área ou procedimento que será efetuado. Espera, também, um médico que seja sincero, conheça suas limitações e quando não tiver condições para fazer o diagnóstico ou tratamento saiba encaminhá-lo a quem tenha. 4. O paciente deseja ser informado - o paciente deve ser informado sobre seus diagnósticos, sobre os procedimentos diagnósticos que devem ser feitos, sobre as alternativas terapêuticas que poderão ser adotadas. O Código de Ética Médica brasileiro estabelece claramente esse direito do paciente e dever do médico, ao determinar que é vedado ao médico "deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta ao mesmo possa provocar-lhe dano, devendo, nesse caso, a comunicação ser feita ao seu responsável legal" (Artigo 59) e "efetuar qualquer procedimento médico sem o esclarecimento e o consentimento prévios do paciente ou de seu responsável legal, salvo em iminente perigo de vida" (Artigo 46) . Além de ser informado, o paciente deve ser consultado previamente sobre procedimentos diagnósticos e terapêuticos que se pretende adotar. Relação Médico-Paciente 25 Existe uma tradição maior em informar os pacientes sobre todas as suas condições de saúde em países de culturas não-latinas como por exemplo os Estados Unidos e a Inglaterra. Alguns médicos consideram que possam existir diferenças culturais que tenham grande influência sobre o desejo das pessoas de ter informações sobre suas condições de saúde, em especial em caso de doenças que resultarão em morte. Os estudos realizados no Brasil não confirmam essa hipótese. Pelo contrário, tem sido cada vez mais demonstrado que o brasileiro deseja ser informado claramente sobre sua situação de saúde e sobre as alternativas terapêuticas. Recentemente, foi realizado um estudo no Serviço de Clínica Geral do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, com a aplicação de um questionário a cerca de 500 pacientes, com perguntas ligadas ao desejo de ser informado. Noventa por cento das pessoas manifestaram desejo de receber informações claras em caso de diagnósticos de câncer e síndrome da imunodeficiência adquirida, e esse resultado é similar ao de estudos semelhantes realizados nos Estados Unidos. 5. O paciente deseja não ser abandonado - trata-se de uma expectativa que se torna ainda mais intensa quando o paciente é portador de uma doença crônica ou está em fase terminal de uma doença como câncer ou enfisema pulmonar. O paciente espera que a preocupação do médico não seja apenas com o diagnóstico e com os tratamentos que possam curá-lo da doença, mas sim com todos os cuidados que ajudem a melhorar sua qualidade de vida, diminuam seu sofrimento e, em situação extrema, auxiliem em uma morte com o máximo de dignidade. Todas as ações de saúde devem visar, hoje, não só a prolongar a vida dos pacientes, mas também a melhorar sua qualidade da vida. O médico, na relação com o paciente, deve sempre estar pensando nestes dois objetivos: viver mais, mas principalmente viver com melhor qualidade. Dar atenção especial à diminuição do sofrimento, aos sintomas que realmente afligem o paciente. Fazer o diagnóstico correto, mas sem esquecer de prestar especial atenção a o que o paciente realmente sente. Esses cuidados e apoio, muitas vezes, devem ser estendidos também aos familiares do paciente. O médico, em todo relacionamento com seus pacientes, deve ter sempre presente em sua mente aqueles que são considerados os quatro princípios fundamentais da moderna Bioética: beneficência, não-maleficência, justiça e autonomia. Beneficência e não-maleficência - o médico, em todas as suas atitudes, deve sempre procurar fazer apenas aquilo que visa a beneficiar o paciente (beneficência) e evitar sempre qualquer atitude que possa prejudicá-lo, causar dano ou piorar suas condições de saúde (não-maleficência). Justiça - o médico deve fazer o possível para que todos os pacientes possam ter acesso aos cuidados de saúde de qualidade equivalente. Todos os cidadãos têm direito a cuidados de saúde de qualidade. É óbvio que a aplicação desse princípio implica muitas vezes mudanças políticas, sociais, culturais, da estrutura dos serviços de saúde. Mas é importante que o médico tenha sempre clara consciência da importância de ele, como cidadão, ser também um agente de mudanças. Autonomia - o médico deve respeitar os desejos do paciente, informá-lo e consultá-lo sobre tudo o que diz respeito a sua saúde, diagnósticos, prognóstico, procedimentos diagnósticos e terapêuticos. Respeitar a autonomia do paciente não implica, em nossa opinião, uma atitude passiva do médico deixando a cargo do paciente a escolha entre todas as opções possíveis de procedimentos diagnósticos e de tratamento, como tem sido, com freqüência, a prática de muitos médicos em alguns países do hemisfério norte. O médico, ao assumir o cuidado de um paciente, deve exercer o papel de seu "advogado", desejar sempre aplicar a solução que considera a melhor possível e tentar convencer· o pacientee seus familiares, caso acredite que realmente escolheu a melhor opção. Deve, nesse sentido, adotar uma postura mais ativa, dialogando, explicando, ouvindo. Entretanto, caso o paciente prefira outra alternativa, apesar de não ser a preferida pelo médico, este deve respeitar a opção do paciente. A visão tradicional da relação médico-paciente, que perdurou por muitos séculos, era o médico entrevistando seu paciente, examinando-o, apresentando o resultado de Caderno de Atividades da CLM1 - 2021 26 suas observações e dando suas orientações ao paciente e à sua família. Foi um comportamento socialmente aceito em muitas culturas e tinha um lado bastante paternalista. Na segunda metade do século XX, alguns estudiosos da relação médico-paciente como Szasz, Hollander e Balint chamaram a atenção para outros papéis importantes dessa relação. Balint enfatizou três aspectos importantes da relação médico-paciente, nem sempre levados em conta. O primeiro aspecto é o reconhecimento de que o médico é um "remédio" ou "medicamento". Uma relação adequada do médico com seu paciente tem um efeito terapêutico importante e, muitas vezes, é a parte mais importante do tratamento. Esse conceito de o médico fazer parte do tratamento enfatiza a natureza bastante dinâmica da relação médico-paciente e de o paciente poder ser beneficiado ou prejudicado pela forma com que o médico se relaciona com ele. O segundo aspecto é a possibilidade de o médico fazer um diagnóstico mais profundo do paciente, que inclui uma compreensão não apenas da doença, mas sim da personalidade do paciente, de como a doença afeta sua personalidade em especial, das interações do paciente com sua família, seu ambiente social e de trabalho, e da possibilidade de o médico influenciar em todas essas relações. Por outro lado, é importante, também, o reconhecimento de que o paciente e o todo que o cerca influenciam, às vezes de forma importante, o médico. O terceiro aspecto da relação médico-paciente enfatizado por Balint é o papel do médico como professor, orientador do paciente e de sua família, o que tem, muitas vezes, um efeito também importante no tratamento do paciente. Szasz et al. reconheceram três níveis de relacionamento entre médicos e pacientes: o primeiro, paternalista, em que o médico toma todas as decisões, da mesma forma que os pais fazem com um filho pequeno; o segundo, ainda paternalista, mas já procurando a cooperação do paciente, como os pais muitas vezes agem com seus filhos adolescentes; o terceiro, baseado em respeito e parceria, no qual o médico ajuda o paciente a ajudar a si mesmo. A relação médico-paciente, em muitas situações, deve tornar-se médico-paciente-família, envolvendo a família nas decisões e nos cuidados com o paciente. Essa postura do médico é especialmente importante no caso de pessoas com doenças crônicas que resultam em limitações ou incapacidades. A presença ativa do "cuidador", geralmente um familiar que convive com o paciente, é fundamental para o melhor cuidado possível com o paciente. Segundo Balint e Shelton, nas últimas décadas, quatro fatores principais influenciaram no aparecimento da necessidade de se repensar, em parte, a relação médico-paciente, mas mantendo sua essência fundamental: a) o crescimento do conceito de liberdade individual, que teve como um dos resultados a idéia da autonomia do paciente para quaisquer decisões diagnósticas e terapêuticas. Em países como o Brasil, o crescimento da consciência dos direitos de cidadania vem tornando cada vez maior o número de pacientes que deseja ser informado, saber o risco dos exames e dos tratamentos e participar das decisões; b) o enorme desenvolvimento científico da Medicina nos últimos 1 00 anos, em especial nos últimos 50 anos, que resultou em grande aumento da possibilidade de o médico curar e não apenas cuidar; c) as conquistas sociais, que têm feito o atendimento médico de qualidade deixar de ser um atendimento realizado a uma pequena elite e passar a ser considerado um direito de todos os cidadãos. O acesso universal aos serviços de saúde foi conquistado em vários países, e está previsto na Constituição do Brasil; d) mais recentemente, o reconhecimento de que os recursos para a saúde, mesmo nos países mais ricos do mundo, são limitados e o médico deve preocupar-se seriamente com os custos de suas decisões. Em países como o Brasil, onde a verba para a saúde é insuficiente e está abaixo do que deveria ser, esse problema tem dois aspectos: o médico deve ter um papel ativo ao defender que suas condições de trabalho sejam adequadas, o tempo que passa com o paciente seja o necessário a uma boa medicina e os recursos diagnósticos e terapêuticos estejam disponíveis para todos os pacientes. Entretanto, deve sempre levar em conta seriamente o custo financeiro de suas decisões; dentre as melhores opções diagnósticas e terapêuticas disponíveis, deve escolher a mais barata; deve solicitar os exames que realmente sejam necessários para o diagnóstico e o seguimento do paciente. A responsabilidade social do médico implica esta dupla atitude: defender para que haja recursos adequados ao atendimento de todos os pacientes, mas saber que, em qualquer sociedade, há limite de recursos e uma atitude responsável é não desperdiçá-los. Relação Médico-Paciente 27 Apesar de todas essas mudanças relativamente recentes na prática da Medicina, a atuação do médico deve manter-se como tem sido recomendada há vários anos: aliando a "ciência" à "arte" da medicina; unindo conhecimento científico sólido e preparo técnico constantemente atualizado a um compromisso com seus pacientes, com responsabilidade, dedicação e compaixão. Conhecer bem a si mesmo é, também, importante para o médico. Em uma relação entre duas pessoas, cada uma acaba por influenciar a outra, e a relação médico-paciente não escapa à essa constatação. O médico deve compreender que é influenciado de forma diferente por diferentes pessoas e isso é absolutamente natural. O importante é sempre ser sensível para perceber o que está influenciando a relação e por que isso está ocorrendo. Um paciente pode causar raiva, outro paciente pode ser sedutor, outro pode ter um comportamento de barganha. Ou, ainda, um paciente pode fazer o médico sentir-se enganado, manipulado. De modo diferente do que alguns livros-texto dão a entender, não acreditamos que existam comportamentos padrão que todos os médicos devam adotar em situações específicas, mas há necessidade de treinamento e, muitas vezes, de supervisão no início da carreira, para que o médico consiga ter, diante de todos os sentimentos de seu paciente, uma atitude profissional, sincero interesse e proximidade, sem envolvimento emocional excessivo. No momento da consulta, o médico deve estar preparado a lançar mão de técnicas adequadas à sua relação com o paciente, para despertar confiança e obter as informações necessárias. Muitos dos assuntos abordados podem causar constrangimentos (por exemplo, atividade sexual, uso de álcool ou drogas) e o médico deve ser, ao mesmo tempo, respeitoso, cuidadoso e objetivo para obter as informações realmente necessárias para um cuidado adequado ao paciente. Nesse sentido, existem alguns cuidados e atitudes que o médico deve tomar ou adotar: a) garantir sempre ao paciente que será mantido sigilo sobre tudo o que for dito durante a consulta; b) evitar juízo de valor sobre atitudes e comportamentos do paciente, como por exemplo sobre opção e comportamento sexual ou convicções políticas. O respeito às diferenças culturais, políticas e religiosas é um dos comportamentos mais importantes esperados do médico; c) dar espaço para que o paciente fale sem interrupções, e ouvi-lo atentamente; d) por outro lado, muitas vezes é fundamental ter paciência e respeitar o silêncio, as pausas, o choro; e) comunicar-se por meio de uma linguagem que o paciente possa entender. Existe, com freqüência, em nossa sociedade, a idéia de que uma pessoa que não teveacesso à instrução formal não tem condições de compreender sua doença, a investigação necessária e os efeitos do tratamento. Trata-se de um preconceito cultural; as pessoas são capazes de compreender em profundidade o que o médico tem a dizer, desde que ele use uma linguagem compreensível e não termos técnicos; f) ter paciência e usar de abordagem adequada a pacientes com limitações, deficientes auditivos, deficientes visuais, com dificuldades de expressão ou de compreensão, prolixos, com dificuldade de memória. Muitas vezes, será necessário o auxílio de um familiar ou cuidador, mas é importante, inicialmente, estabelecer uma conversa com o paciente e, depois, complementar as informações ao acompanhante; g) reconhecer que a neutralidade total do médico não existe. O médico, durante o encontro com os pacientes, pode sentir raiva, dó, compaixão, atração física, achar o paciente chato, desinteressante, repulsivo. Reconhecer que esses sentimentos existem e são normais é importante para que haja uma relação médico-paciente saudável. O fundamental é que o médico seja treinado para conseguir evitar que esses sentimentos prejudiquem a relação com o paciente. Tem sido dada muita ênfase, nos últimos anos, ao fato de ser vedado ao médico ou à médica qualquer tipo de envolvimento sexual com seus pacientes, e, se isso ocorrer, é considerado falta ética grave. Muitos pacientes são inseguros e dependentes, estão fragilizados pelos seus problemas de saúde, e, às vezes, são sedutores ou suscetíveis a manipulações. O paciente confia ao médico seus problemas mais íntimos, despe-se e deixa ser examinado; essa confiança não pode ser quebrada. Entretanto, essa preocupação não pode implicar o distanciamento do médico de seus pacientes, tornando a relação fria e distante, como tem, com freqüência, ocorrido em alguns países, onde o contato físico acaba por significar intenção de envolvimento sexual. Diferentemente, tocar o paciente, apertar sua mão calorosamente, abraçá-lo pode significar uma atitude de profundo respeito e compromisso, pode significar que o médico tem sentimentos positivos por ele, que não é um ser distante que se interessa, apenas, pela sua doença. Caderno de Atividades da CLM1 - 2021 28 Quase todas as considerações feitas sobre a relação médico-paciente podem dar a impressão de uma relação isolada do que acontece fora do consultório ou do ambulatório. Entretanto, no mundo todo, inclusive no Brasil, existem diversos e sérios problemas no atendimento à saúde da população, que interferem, de forma importante, na relação médico-paciente. Apesar de não ser objetivo deste capítulo analisar esses complexos problemas, é óbvio que, em um serviço de atendimento médico em que o médico só dispõe de 10 a 15 minutos para atender cada paciente ou quando os recursos necessários para o diagnóstico e o tratamento não estiverem disponíveis, será muito mais difícil o estabelecimento de uma boa relação médico-paciente. Entretanto, o médico não deve aceitar passivamente essas limitações à sua atuação. Acreditamos que o médico tem grande responsabilidade social, não se contentando, em um país como o Brasil, com todas as dificuldades impostas à sua atuação por restrição de recursos indispensáveis a um atendimento digno a seus pacientes. Como cidadão e como médico, deve ser também agente de transformações. BIBLIOGRAFIA BALINT M - The Doctor, His Patient and The Illness. 2nd ed., London, Pitman Books Ltd., 1964. BALINT J, SHELTON W - Regaining the initiative. Forging a new model of the patient-physician relationship. fAMA, 275 :887, 1 996. BATES B - Propedêutica Médica. 2' ed., Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1998. BENNETT JC, PLUM F - Cecil Textbook of Medicine. 1 8th ed., Philadelfia, Saunders, 1988 . SEIDEL HM, BALL ]W, DAINS JE, BENEDICT GW - Mosby's Cuide to Physical Examination. 3td ed., St. Louis, Modby, 1 995. SIEGLER M - Searching for moral certainty to medicine: a proposai for a new model of the doctor-patient encounter. Buli NY Acad Med, 57:56, 1 98 1 . SIEGLER M - The physician-patient accommodation: a central event in clinical medicine. Arch Intern Med, 142:1899, 1982 . SZASZ TS, HOLLANDER MH - A contribution to the philosophy of medicine: the basic models of the doctor-patient relationship. Arch Intern Med, 97:585, 1 956. SZASZ TS, KNOFF WF, HOLLANDER MH - The doctor-patient relationship and its historical contexto Am Psychol, 1 15 :522, 1 958. Para reforçar algumas ideias, identifique no texto e responda: 1) O que é RMP? Liste exemplos de sua importância em diversas esferas; 2) Explique “as 5 expectativas do paciente”, segundo Lloyd Smith Jr.: 3) Especifique 4 princípios fundamentais da moderna bioética: Relação Médico-Paciente 29 4) Descreva aspectos importantes da RMP segundo Balint: 5) Cite 3 níveis de relacionamento entre médicos e pacientes segundo Szasz: 6) Que fatores segundo Balint e Shelton, nos levam a repensar a RMP? 7) Como o paciente é influenciado pelas posturas do médico, e vice-versa? 8) Que aspectos da RMP discutidos por Martins e Kira estão presentes na história de Ivan Ilitch? 9) O livro de Tolstoi é atual? Justifique e exemplifique. Caderno de Atividades da CLM1 - 2021 30 O Método Clínico Centrado na Pessoa Leia o texto "O Método Clínico Centrado na Pessoa", de Alberto Fuzikawa e responda as perguntas elaboradas pela Prof.a Maria Mônica Freitas Ribeiro. 1) Procure saber quem foi William Osler e relate o que você entende da frase usada como epígrafe no texto. 2) Na última edição do seu livro em 2015, Moira Stewart e colaboradores propõem a redução dos princípios do Método Clínico Centrado na Pessoa para 4 componentes, com a incorporação do componente 4 “incorporando a promoção e prevenção de saúde” em todos os outros e com o componente 6 “sendo realista” sendo considerado inerente a toda consulta. Além disto, propõem que o componente 1 seja “Explorando a saúde, a doença e a experiência do adoecimento”. Considerando os 4 novos componentes abaixo, explique, em poucas palavras, o que você entende por eles. a- “Explorando a saúde, a doença e a experiência do adoecimento” b- “Entendendo a pessoa como um todo” c- “Elaborando um projeto de manejo comum” d- “Fortalecendo a relação médico-paciente” 3) Na abordagem do adoecimento é proposto o método mnemônico SIFE. O que é proposto em cada uma das letras? 4) Quais as principais queixas que você escuta sobre as consultas médicas atualmente? Você acredita que a utilização do Método Clínico Centrado na Pessoa pode tornar o atendimento médico mais satisfatório para médicos e pacientes? Relação Médico-Paciente 31 Trechos de "O relacionamento médico-paciente" (Tähkä Veikko) Caderno de Atividades da CLM1 - 2021 32 Relação Médico-Paciente 33 Caderno de Atividades da CLM1 - 2021 34 Relação Médico-Paciente 35 Caderno de Atividades da CLM1 - 2021 36 Casos clínicos sobre transferência e contra-transferência Após ler o texto de Veikko Tahka, analise os casos clínicos adaptados pelo Prof. Henrique Oswaldo G Torres e responda as perguntas que ele preparou. Caso 1 A Sra. A é uma paciente idosa, diabética, que foi abandonada pelo marido e criou sozinha seus 4 filhos. No início do acompanhamento, o médico tentou controlar seu diabetes e gerenciar seus sintomas somáticos, incluindo uma neuropatia dolorosa leve. Com o tempo, suas queixas somáticas diminuíram e ela tornou-se profundamente apegada ao seu médico e aos funcionários da clínica. Passou a chegar cedo para socializar com os recepcionistas e trazia regularmente biscoitos caseiros. Falava sobre seu médico incessantemente com amigos e inventava histórias sobre visitas domiciliares que nunca existiram. Os recepcionistas, sentindo seu apego, de bom humor brincavamcom ela sobre ela sobre o "namorado", e ela rejeitou a oferta de carona do médico para não dar o que falar. Mais adiante no acompanhamento, adotou um papel mais de avó, enviando presentes para seus filhos, solicitando fotos deles e expressou sua dor quando o médico deixou de enviar a ela um cartão de Natal. O médico lidou com esse relacionamento aderindo a alguns dos desejos da paciente, revelando alguns dos detalhes de sua vida pessoal e agendando consultas freqüente e regularmente. Caso 2 A Sra. B. é uma mulher de 39 anos com história de dor nas costas que a impediu de trabalhar como doméstica para complementar sua renda. Tem histórico de hipertensão, dores de cabeça, consumo excessivo de álcool e obesidade. Apesar de vários tratamentos clínicos e fisioterápicos, sua dor nas costas nunca melhorou. Ela estava constantemente oprimida pelo fardo de sua doença e pela necessidade de sustentar sua família. Ela costumava vir ao médico angustiada dizendo: "Doutor, você tem que fazer algo por mim ". O médico respondia:" Não, Sra. B., não consigo resolver sozinho. Você precisa se esforçar para melhorar". Ela foi encaminhada mais uma vez para a fisioterapia sem obter alívio para as dores. O quadro doloroso foi piorando e ela se apresentava progressivamente mais passiva, cobrando uma solução do médico. Após algum tempo ela deixou de comparecer às consultas. O médico ficou sabendo por colegas que a paciente fora operada da coluna e, após melhora inicial, voltou a sentir as dores, acabando por ser afastada do trabalho. Segundo lhe disseram, ela persistia com queixa de dor intensa, incapacitante e tentava ser aposentada. Caso 3 A Sra. M. 60 anos, viúva, hipertensa, obesa, diabética, foi encaminhada para acompanhamento médico ambulatorial pelo residente que havia acompanhado sua internação realizada para tentar controlar a glicemia e a pressão arterial, em que obtivera controle parcial das duas condições. Durante as consultas, apresentava-se bem arrumada, maquiada, mas sempre com o rosto triste, manifestando tristeza pela solidão em que vivia e reclamando do filho que não a visitava. A primeira preocupação do médico residente era com os resultados de glicemia e com as medidas de pressão arterial, que nunca se encontravam satisfatórias. Ele a admoestava pelo que considerava esforço insuficiente na adesão ao tratamento, que julgava correto e enquadrado nas diretrizes sobre ambas as condições. Entretanto não disponibilizava tempo para escutar as aflições e tristezas da paciente acerca de seu relacionamento com o filho e sua solidão. Ela costumava sair da consulta com uma postura de desânimo e a mesma tristeza no semblante. Com o tempo deixou de ir às consultas. As últimas medidas de PA foram 220/130 e de glicemia 290 mg/dl. Casos 1 e 2: adaptados, com modificações, de Zinn WM. Transference Phenomena in Medical Practice: Being Whom the Patient Needs. Annals of Internal Medicine. 1990;113:293-298. O caso 3 é real. Relação Médico-Paciente 37 1- Em relação ao caso 1, qual a natureza do relacionamento entre médico e paciente? 2- Você acha que a forma como o médico lidou com a situação foi adequada? Ela contribuiu para a condução do tratamento? Justifique. 3- Em relação ao caso 2, qual foi a natureza do relacionamento entre médico e paciente? Embora se trate de situação difícil, você sugeriria alguma alternativa que pudesse levar a um desfecho diferente? 4- Em relação ao caso 3, qual a natureza do relacionamento entre médico e paciente? Nesse caso você acredita ter havido contratransferência? Justifique. 5- Você acha que a condução adequada da relação transferencial poderia levar esse caso a um desfecho diferente? Justifique Fim do GD História Clínica Flávio Chaimowicz O Pulso O pulso ainda pulsa O pulso ainda pulsa... Peste bubônica Câncer, pneumonia Raiva, rubéola Tuberculose e anemia Rancor, cisticercose Caxumba, difteria Encefalite, faringite Gripe e leucemia... E o pulso ainda pulsa E o pulso ainda pulsa Hepatite, escarlatina Estupidez, paralisia Toxoplasmose, sarampo Esquizofrenia Úlcera, trombose Coqueluche, hipocondria Sífilis, ciúmes Asma, cleptomania... Composição: Arnaldo Antunes E o corpo ainda é pouco E o corpo ainda é pouco Assim... Reumatismo, raquitismo Cistite, disritmia Hérnia, pediculose Tétano, hipocrisia Brucelose, febre tifóide Arteriosclerose, miopia Catapora, culpa, cárie Cãibra, lepra, afasia... O pulso ainda pulsa E o corpo ainda é pouco Ainda pulsa Ainda é pouco Pulso Pulso Pulso Pulso Assim Titãs é uma banda de rock brasileira formada em São Paulo, em 1982. Ativa há trinta anos, tornou-se uma das quatro maiores bandas do Rock Brasil, ao lado de Legião Urbana, Os Paralamas do Sucesso e Barão Vermelho. Algumas de suas músicas de maior sucesso são Sonífera Ilha, Flores, Polícia, Família, Comida, O Pulso, Homem Primata, Bichos Escrotos, Cabeça Dinossauro, Pra Dizer Adeus e Marvin. Caderno de Atividades da CLM1 - 2021 40 Apresentação: História Clínica Neste estudo dirigido vamos aprender a colher e registrar a História Clínica. Já discutimos a importância das habilidades de comunicação e da relação médico pacientes para colher uma boa anamnese e aumentar as chances da efetividade do tratamento. Aqui o assunto será mais objetivo: que perguntas fazer? Como fazer? Em que sequência? Como registrar as respostas? Ao final deste estudo dirigido você deverá ser capaz de: ● Empregar corretamente a abordagem abrangente e a focalizada; ● Definir a função de cada seção da anamnese ● Indagar sobre o motivo que trouxe o paciente à consulta (Queixa Principal) e investigá-lo (História da Moléstia Atual). ● Listar as perguntas que compõe cada seção (Revisão dos Sistemas e História Pregressa, Familiar e Social) e registrar as respostas de modo sucinto. Recomendamos que você imprima este estudo dirigido e tenha em mãos o capítulo correspondente do Bates6. Ex. Cap. 1: Fundamentos da proficiência clínica (12ª Ed. 2018) ou Cap. 1: Visão geral: Exame físico e Anamnese (10ª Ed. de 2010). Abra o capítulo e observe rapidamente seu conteúdo e estrutura. Em seguida, responda as perguntas do estudo dirigido enquanto lê o capítulo. Quando terminar, assinale as suas dúvidas. Você pode discuti-las com colegas. Depois da pergunta 16 apresentamos um roteiro de anamnese que você poderá utilizar durante as suas consultas no ambulatório. Leia com atenção e tente correlacionar com o que você aprendeu sobre cada seção da anamnese. Depois do roteiro, apresentamos o registro da anamnese da Sra. Zélia. Leia com atenção, sempre retornando ao roteiro que você acabou de ler. Em seguida escolha pessoas para simular uma consulta. Faça a anamnese completa e registre-a. Só assim você realmente vai assimilar adquirir fluência para fazer as perguntas, e descobrir suas dúvidas. Quanto mais treinar, mais facilidade para fazer as consultas de verdade no ambulatório. Não deixe de conferir um outro modelo de anamnese, apresentado no final. Se possível, um dia antes da atividade síncrona, reveja suas repostas e dúvidas. Na reunião o professor vai ressaltar alguns aspectos deste tema e discutir dúvidas. Se de tempo, ele pedira para você ler o registro de uma das anamneses que você redigiu. 6: Bickley LS, Bates Propedêutica Médica, 10ª Ed. 2010. (Cap. 3: Entrevista e Anamnese, pgs 55-86), ou 12ª Ed. 2018. (Cap. 3: Entrevista e Anamnese, pgs 61-95). História Clínica 41 A Prof. Maria Mônica Freitas Ribeiro e o Prof. Henrique Oswaldo da Gama Torres colaboraram para este estudo dirigido "Bom dia, Sra. Rosa. Meu nome é Ana, sou estudante do 4º período. Estes são meus colegas e meu professor, que vão acompanhar a consulta". Chegou a hora. E agora, o que fazer? As primeiras anamneses atemorizama gente. E se o paciente achar ruim o fato de eu ser um aluno? E se me der um branco? E se não der tempo de fazer todas as perguntas? A anamnese pode ter muitos objetivos e, portanto, muitos formatos: uma consulta de rotina, ou de urgência, ou com o especialista, o paciente que quer operar a unha encravada, o outro que vem andando sem energia... O que há de comum em todas estas as situações? Uma pessoa que conta uma história e pede ajuda; outra que colhe a história e oferece ajuda. Este é o principal cenário da famosa "relação médico-paciente". E, na maioria das consultas em clínica médica, a melhor oportunidade para começar a chegar a um diagnóstico, ou uma visão ampla da situação do paciente. Muitos dizem que a clínica está acabando, que as consultas são rápidas, que os médicos estão cada vez piores, e que não se importam mais com os pacientes. Não é sempre assim; ainda existem boas consultas que abordam vários aspectos da saúde, incluem uma conversa agradável, um exame detalhado e orientações cuidadosas. O objetivo deste capítulo é apoiar seu estudo sobre a estrutura da anamnese de adultos em uma consulta ambulatorial. Discutiremos a função e composição de cada uma de suas partes e, ao final, vamos elaborar um roteiro de anamnese para você utilizar. Antes de começar, leia com atenção o texto "Entrevista Médica" da Profa. Mônica Ribeiro e do Prof. Sebastião Leal (Cap. 2 do Tratado de Semiologia Médica da Profa. Rose Lisboa). Em seguida, responda as perguntas do estudo dirigido a seguir, baseado no Bates. Caderno de Atividades da CLM1 - 2021 42 AVALIAÇÃO DO PACIENTE: ABRANGENTE OU FOCALIZADA Analise o quadro do Bates (pg. 5 da 12ª Ed.) que diferencia a abordagem abrangente e a focalizada e responda as próximas três perguntas: 1) Qual é a abordagem adequada para realizaremos nos pacientes de 1ª consulta na CLM 1, 2 e 3? Justifique. 2) A abordagem focalizada é pior que a abrangente? Explique? 3) Já lhe ocorreu de consultar com um médico pela primeira vez, e ele fazer a abordagem focalizada? Isto foi adequado? ANAMNESE ABRANGENTE DO ADULTO (Bates pg. 7 da 12ª Ed.) 4) Resuma em uma linha a função de cada seção da anamnese: Identificação: Queixa principal: Doença atual, ou História da Moléstia Atual (HMA); Revisão de sistemas (RS) ou Anamnese Especial; História patológica pregressa (HP); História familiar (HF); História Social (HS). História Clínica 43 5) Que dados de identificação lhe parecem importantes? Por quê? 6) Como indagar sobre a queixa principal? 7) O que fazer se forem duas queixas? 8) E se forem oito queixas? 9) Que características (atributos) da QP nós devemos descrever na HMA? Sugestão para a HMA Incluir todas as informações que se relacionam à QP, mesmo se forem dados da HP ou da HF. Por outro lado, ao contrario do sugerido pelo Bates, os itens “Medicamentos, alergias, tabagismo, álcool” serão mencionados na HMA somente se realmente tiverem alguma correlação com a QP. Caso contrário, serão descritos da maneira abaixo: - Medicamentos: item “Medicamentos” da revisão de sistemas. - Alergias: Item “Geral”, da revisão de sistemas. - Tabagismo: Aparelho respiratório ou cardiovascular (revisão dos sistemas). - Álcool: Item “Psiquiátrico” da revisão dos sistemas 10) Um paciente de 60 anos veio se consultar com queixa de emagrecimento e surgimento de constipação. Percebeu uma massa na região da fossa ilíaca direita. Trouxe um exame recente de pesquisa de sangue oculto nas fezes positivo. Já removeu um pólipo em uma colonoscopia há 12 anos (era um adenoma viloso - maligno!). Na família, o pai e dois irmãos morreram com adenocarcinoma do cólon. Em que seção da anamnese você registrará: - o emagrecimento e constipação? - o procedimento pregresso de remoção do adenoma viloso? - a HF de adenocarcinoma do cólon? Caderno de Atividades da CLM1 - 2021 44 Sugestões para a Revisão dos sistemas/Anamnese Especial Ao contrário do recomendado no Bates, as perguntas sobre a revisão dos sistemas podem ser indagadas logo depois da HMA. Há problemas de saúde muito comuns, que devem ser investigados na anamnese de todos os pacientes em uma consulta eletiva (ou seja, que não é urgência). Um exemplo é indagar sobre ganho ou perda de peso, ou sobre a presença de cefaléia, ou desmaios. Outros problemas não são tão comuns, mas são potencialmente graves; sua identificação precoce em uma consulta de rotina pode trazer benefícios ao paciente. Um exemplo é identificar um episódio de perda súbita da visão, ocorrido há dois meses, em um paciente que veio se consultar por outro motivo: tratar onicomicose. Pode ter sido “um ataque isquêmico transitório”, e sua identificação é muito importante. Por outro lado, não devemos investigar todos os sinais e sintomas de uma lista “rígida”. Por exemplo, se um paciente relata que o apetite está bom, e está ganhando peso, não há porque indagar sobre a presença de vômitos. Se ele menciona que não tem tosse, não perguntaremos sobre expectoração. Em outras palavras, enquanto seguimos um roteiro estruturado de anamnese, as respostas dos pacientes devem redirecionar as próximas perguntas. Na presença de um sintoma revelado após uma pergunta de rotina (o desmaio discutido acima), você deve aprofundar a investigação. É como fazer uma mini “História da Moléstia Atual” sobre as queixas importantes identificadas na Revisão dos Sistemas. No caso mencionado, você pode indagar se o desmaio ocorreu outras vezes, se foi associado à mudança de posição, à perda de controle dos esfíncteres, etc. Em que parte da anamnese está o médico acima? Por uma questão de tempo, nem sempre será possível fazer esta “mini- HMA” de todos os sintomas identificados na Revisão dos Sistemas. A prática e o conhecimento das doenças aos poucos facilitarão a tarefa de definir o que é prioridade para hoje, e o que pode ser investigado nas consultas subsequentes. Analise agora as perguntas listadas no texto "Revisão dos Sistemas" do Bates (começa em "Geral: Peso habitual, mudanças recentes do peso", etc.) e Rose Lisboa (começa em "Como está seu peso ultimamente"). Identifique perguntas que você acha que deveriam fazer para todos os pacientes. Identifique também perguntas que você fará apenas na presença de outros sintomas. Ex.: pergunta sobre expectoração só para pacientes com tosse. Além dos itens mencionados no livro, a revisão dos sistemas conterá “Manutenção da Saúde” e “Medicamentos” História Clínica 45 11) Que perguntas nós devemos fazer para adultos sobre a HP? 12) Você acha correto incluir estado vacinal na HP e consumo atual de álcool, drogas e tabaco na HMA, como sugere o Bates? Explique. Sugestões para a História Pregressa A HP pode incluir somente os problemas que já aconteceram E já acabaram. Exemplos: apendicectomia ou histerectomia; traumatismos que não deixaram sequelas; internações por doenças que foram curadas, como pneumonia; tratamentos relevantes que já terminaram como quimioterapia para uma neoplasia. A anamnese pode ser um pouco diferente da proposta pelo Bates. Os itens seguintes podem não ser incluídos na HP: Ginecologia/obstetrícia: Informações sobre gravidez, parto, ciclos menstruais e vida sexual: reunir em “Genital”, da revisão dos sistemas. História psiquiátrica: Se houver dados relevantes, deverão ser descritos no item “Psiquiátrico”, da revisão dos sistemas. Imunizações: Na revisão dos sistemas (“Manutenção da Saúde”). “Exames de triagem”: Descrever na revisão dos sistemas: - Pesquisa de sangue oculto nas fezes ou colonoscopia: AGI. - Papanicolaou, mamografia, US endovaginal: Genital. - PSA: Genital. Exercícios e dieta: Descrever na revisão dos sistemas, no item “Manutenção da Saúde”. NÃO PRECISA fazer o inventário alimentar (detalhar todos os itens da alimentação). Converse sobre a dieta e conclua seé hipercalórica, hipossódica, etc., e registre sua conclusão. Dieta no caso de diabéticos, hipertensos, obesos: registrar os dados da dieta junto com as informações sobre a doença. 13) Um acidente de carro ocorrido há dois anos deixou uma seqüela ortopédica que ainda hoje prejudica o paciente, mas não foi o motivo da consulta e não tem vínculo com a QP. Deverá ser incluído na HP ou AE? 14) E se o motivo da consulta foi lombalgia e o acidente deixou diferença de altura entre membros inferiores? O acidente iria para a HMA, AE ou HP? 15) Que perguntas devemos sempre investigar na história familiar? Justifique. Caderno de Atividades da CLM1 - 2021 46 Sugestão para a História Familiar A HF sempre terá esta sequência: 1) Seu pai está vivo? - Se faleceu, perguntar: faleceu de quê? Com que idade? O mesmo para a mãe e irmãos adultos. 2) Pensando apenas nos seus pais, irmãos e filhos adultos (tio não vale): - algum tem ou teve hipertensão, diabetes? Problemas de colesterol ou tireóide? - sofreu infarto ou teve problemas de coronárias ou derrame? - doença mental tipo esquizofrenia ou depressão? - câncer de intestino ou de tireóide? - Mulheres: câncer de mama, colo do útero? Homens: próstata? 16) Que perguntas devemos sempre investigar na história social? Justifique. Diabéticos e hipertensos: uma história à parte. Diabetes mellitus (DM) e hipertensão arterial sistêmica (HAS) são doenças crônicas muito prevalentes, que elevam o risco cardiovascular. Você atenderá pacientes que vieram se consultar para controlar DM e HAS, ou que têm estas doenças, mas vieram se consultar por outros motivos, como lombalgia. No primeiro caso, o registro dos dados sobre DM e HAS deverá ser feito na HMA. No segundo caso, na Revisão dos Sistemas, no item ACV. Em ambas as situações, você deverá analisar três grupos de informações: 1) História da HAS/DM: quando e como foi diagnosticada, onde fez e faz o acompanhamento, se utiliza dieta e medicamentos, se já foi internado ou atendido em urgências por alguma causa relacionada. 2) Fatores de risco para doenças do ACV: informações sobre tabagismo, colesterol e glicose, exercícios/sedentarismo e obesidade. 3) Lesão de órgãos alvo: informações sobre angina, infarto, angioplastia, cirurgia de revascularização do miocárdio, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral, nefropatia, retinopatia, neuropatia e pé diabético. → Veja na próxima página um exemplo de anamnese. E lembre-se: Tudo relacionado com Queixa Principal → HMA. Qualquer outro problema que aconteceu e acabou→ HP. Problema que aconteceu, não acabou, e não está na HMA→ RS. História Clínica 47 Roteiro de anamnese Identificação Nome Sexo Data de nascimento Naturalidade Estado civil Escolaridade Profissão Procedência (não anote o endereço). (Pode perguntar com quem mora, se tem filhos...) Queixa principal (QP): Qual o motivo do(a) senhor(a) ter vindo para consulta? História da Moléstia Atual (HMA) Para cada queixa, descreva, se for o caso: Localização, qualidade, quantidade ou gravidade, cronologia (início, duração, frequência), fatores desencadeantes ou situações em que ocorrem, fatores agravantes, fatores de alívio, manifestações associadas, consequências, acompanhamentos, diagnósticos e tratamentos prévios ou atuais para este problema e seus resultados. "Agora que já conversamos sobre (a queixa principal), vou fazer algumas perguntas para conferir outras questões relacionadas à sua saúde, pode ser?" Revisão dos sistemas (RS) = Anamnese especial (AE) Geral O(a) senhor(a) vem apresentando alterações do peso ou apetite? Febre, fraqueza? Tem alguma alergia? Tem algum problema da tireóide? Cabeça Tem dor de cabeça, tonteiras, desmaios? Olhos Como está a sua visão? Algum problema com os olhos? Dor, vermelhidão? (> 50 anos) Tem problema de catarata ou glaucoma? Quando foi a ultima consulta com o oftalmologista? Usa óculos? Está adequado? Orelhas Como está a audição? Algum problema com os ouvidos? Dor, secreção, zumbido? Nariz Algum problema com o nariz? Entupimento, sangramento? Boca Garganta (> 60 anos) Usa dentadura ou prótese? (Está bem adaptada? Quando a ultima revisão?) Como está para mastigar e engolir, algum problema? E a gengiva, tudo ok? Costuma ter dor de garganta, rouquidão ou engasgos? Quando foi a sua ultima consulta com o dentista? AGI Como está a digestão? Tem azia, queimação, empachamento? E dor abdominal? O intestino funciona bem? Todo dia? As fezes estão com o aspecto normal? Costuma ter sangue nas fezes? E hemorróidas? (> 50 anos) O Sr. já fez pesquisa de sangue oculto nas fezes ou colonoscopia? ACV Dá conta de subir uns dois lances de escadas? Tem cansaço, dor no peito? Tem problemas de pressão alta, colesterol ou diabetes? (faça a mini-HMA se precisar) (Confira de uma vez a dieta: calorias, sal, gordura saturada, fibras, cálcio) Tem problemas de coração? Costuma ter palpitações (batedeira), algum inchaço? Pratica atividade física regularmente? (descreva tipo, regularidade, duração...) AR Você fuma cigarros? (Descrever a história tabágica: quando começou, quantos por dia, etc.) Tem problemas de asma, bronquite ou chieira? Tem pigarro ou tosse? Urinário Algum problema para urinar? A urina está com o aspecto normal? (♀ e > 60 anos) Costuma perder um pouco de urina de vez em quando sem querer? Caderno de Atividades da CLM1 - 2021 48 Genital (♀) Quando foi a ultima consulta com o ginecologista? Fez preventivo? Mamografia? (♀ exceto idosas) Algum problema com as menstruações? Quando foi a última? (♀) Tem algum problema de corrimento na vagina, coceira, sangramento, ferida? (♂) Tem algum problema no pênis? Secreção, ferida? (♂ > 50 anos) Já teve algum problema de próstata? Costuma fazer exame? (Dependendo do caso) Como está com o marido/esposa/namorado(a)? (Dependendo do caso) Algum problema com as relações sexuais? (Dependendo do caso, aproveite para conversar sobre relacionamento com cônjuge) Músculo- esquelético Tem algum problema de dor na coluna, nos braços, nas pernas? Tem algum problema de dor nas juntas (articulações), reumatismo? Psiquiátrico Largue a caneta, assuma uma posição confortável e pergunte em tom de bate-papo: - E a vida, como está? Tem andado mais alegra ou triste? tranquilo ou preocupado? - Costuma beber alguma bebida alcoólica? (descreva o tipo, frequência, etc.) (Se for o caso) Tem costume de usar alguma droga? Medicamentos Está usando algum (outro) medicamento atualmente? (além dos descritos acima). Manutenção da saúde Quando foi a ultima dose de vacina contra tétano? Já tomou vacina contra febre amarela e hepatite B? (> 60 anos) Toma a vacina de gripe todo ano? Já tomou contra pneumonia? "Agora algumas perguntas sobre problemas de saúde que o Sr./a já teve no passado" História pregressa (HP) Já sofreu alguma doença mais grave ou prolongada? Algum acidente? Já foi internado ou sofreu alguma cirurgia? (datas, causas, resultados) "Vou conferir agora algumas questões de saúde dos seus familiares mais próximos" História familiar (HF) Seu pai está vivo? (Se faleceu, perguntar: faleceu de quê? Com que idade?) (Perguntar o mesmo sobre a mãe e irmão adultos) Pensando nos seus pais, irmãos e filhos adultos (tio não vale), algum deles tem ou teve: - hipertensão? diabetes? problemas de colesterol ou tireóide? - sofreu infarto, teve problemas de coronárias ou derrame? - doença mental tipo esquizofrenia ou depressão? - câncer de intestino? tireóide? - ♀: câncer de mama, colo do útero? - ♂: câncer de próstata? "Para terminar, vou fazer algumas perguntas mais gerais" História pessoal e social (HPS) (pode perguntar ao longo da anamnese) (Se for o caso) Sua casa tem luz? Água tratada? Rede de esgoto? Situação financeira. História Clínica 49 Exemplo de registro de anamnese Nome: Zélia Antunes Frota Data de nascimento: 12/01/1945 Data: 23/04/2018 Sexo:F Naturalidade: Pouso Alegre, MG Procedência: Contagem Escolaridade: 2o grau Profissão: costureira Estado civil: viúva QP: "dor nas pernas". HMA: Paciente relata que há cerca de 3 anos vem apresentando diariamente dor nas panturrilhas, período em que o sintoma vem se tornando cada vez mais intenso. A dor é do tipo "peso" e "queimação", simétrica, e incomoda principalmente nas primeiras horas após se deitar na cama para dormir à noite; incomoda também durante o trabalho na máquina de costura de dia. Obtém algum alívio ao elevar os MMII. Ao acordar e durante a manhã não tem dor. Nega edema e eritema nas pernas, mas tem bastante varizes. Em 9/2017 um clínico solicitou duplex scan venoso de MMII e dx insuficiência venosa; prescreveu Venocur (rutina 300 mg + castanha da Índia 100 mg) BID, 2 meses, sem melhora significativa. Em 1/2018 ela percebeu alívio durante a sua viagem de uma semana para Guarapari, onde fazia caminhadas diariamente na praia. A Sra. Zélia é sedentária e trabalha em média 10 horas por dia na máquina de costura, pois precisa da renda para pagar a universidade da neta, que mora com ela. Revisão dos sistemas: Geral: Nega perda de peso/apetite, febre, astenia, alergias, tireoidopatias. COONG: Nega cefaleia, tonteira, desmaios. Consultou com oftalmologista em 2016; aguarda chamada para a cirurgia de catarata. Sem queixas relacionadas ao nariz e ouvidos. Hipoacusia discreta. Usa prótese superior. Nega disfagia. AGI: Nega dispepsia e dor abdominal. Evacua diariamente; fezes endurecidas, sem sangue. Dieta pobre em fibras. Ultima pesquisa de sangue oculto: 2012. Nunca fez colonoscopia. AR: Nega dispneia ou tosse. Fumou dos 25 aos 55 anos, aproximadamente 1/2 maço/dia. ACV: HAS diagnosticada por volta dos 55 anos, em controle no centro de saúde; utiliza dieta hipossódica e losartana 50 mg de manhã. Exames recentes do colesterol e glicemia dentro dos VR (sic). Fazia caminhadas (60 min., 3x/semana) mas parou em 2015 "por falta de tempo". Ganhou 20 kg na gravidez dos 3 filhos e desde então mantém o peso aproximado de 75 kg. Genital: Ultima consulta com o ginecologista/mamografia/Papanicolaou: > 10 anos. Nega sangramento vaginal, prurido ou lesões. Sem atividade sexual desde a viuvez (20 anos), mas "não sente falta". Incontinência urinária de pequenos volumes ao tossir em episódios de gripe. SME: Lombalgia leve, esporádica, principalmente nos dias em que trabalha mais de 10 horas, remite com nimesulida 100 mg BID alguns dias; nas ultimas 3 semanas está mais frequente. Nega outras artralgias. Dieta pobre em cálcio. Caderno de Atividades da CLM1 - 2021 50 Psiquiátrico: Um pouco ansiosa com a responsabilidade de pagar todas as contas de casa e a universidade da neta, mas dorme bem, convive com amigas e participa de atividades na Igreja. Com a formatura da neta, em 2 anos, pensa em entrar para uma hidroginástica e viajar mais. Gostaria de ter um namorado, mas não faz muita questão. Não ingere bebida alcoólica. Manutenção da saúde: Dieta pobre em fibras e cálcio. Vacina contra Influenza: anual; Febre Amarela: 2012. DT: 2012. Nunca tomou as vacinas contra pneumonia e Herpes zoster. HP: 3 episódios de cistite em 2017. Eliminou cálculo renal (+- 5 anos). Internada por 4 dias (+- 2014) por pneumonia. Perineoplastia (há 20 anos). Colecistectomia (aos 50 anos). Apendicetomia quando jovem. Caiu da escada em 2013 e fraturou o punho D, mas recuperou totalmente. HF: Pai: † aos 60 anos (AVC); era fumante. Mãe: † no parto da irmã mais nova; Irmão † aos 40 anos por neoplasia colorretal. Duas irmãs e uma filha com diabetes. HS: Casa própria com luz, água tratada, rede de esgoto. Com a pensão do marido e renda da costura não tem dificuldade financeira significativa. Sua vez de fazer a anamnese Faça uma anamnese completa de um homem e de uma mulher, sendo que um deles deve ser adulto, e o outro deve ter mais de 75 anos. Registre como se fosse no prontuário do Ambulatório Bias Fortes. Mostre aos seus colegas. Seus colegas deverão fazer críticas e sugestões sobre: - alocação das informações; - lógica do sequenciamento das ideias e informações; - extensão e clareza das frases; - redundância; - itens não investigados ou indevidamente explorados. História Clínica 51 Um outro modelo de registro de anamnese Prof. Maria Mônica Freitas Ribeiro Nome:JJS Data de nascimento: 20/06/1950 (70 anos) Data: 06/06/2020 Sexo: F Naturalidade: Ribeirão das Neves, MG Procedência: Ribeirão das Neves Escolaridade: ensino fundamental incompleto Cor autodeclarada: preta Profissão: auxiliar de serviços gerais, aposentada Estado civil:separada Endereço: Rua 2, nº 205, Bairro Novo, Ribeirão das Neves Profissional responsável pela consulta: Prof ......... Estudante: ....... Motivo da consulta -Emagrecimento HMA - J relata ser diabética há 10 anos, em uso de dieta com restrição de açúcar e Metformina 500mg, 1 comprimido no almoço e 1 no jantar, regularmente. Disse que há 1 ano não faz controle pois sua equipe de saúde da família está sem médico e ela brigou com a enfermeira. Há 3 meses começou a sentir-se desanimada e perdeu mais de 5 kg. Seu peso anterior era de 68 Kg e disse que ontem pesou 61 Kg na farmácia. Está achando muito estranho porque seu apetite está normal, tem tido até mais fome. Acredita que seu desânimo pode estar relacionado com o fato de acordar muitas vezes, à noite, para urinar. Questionada, negou febre, tosse ou taquicardia. Está muito preocupada pois perdeu a mãe há 6 anos com câncer de estômago cujo primeiro sintoma foi emagrecimento. Antecedentes pessoais:Apesar do Diabetes mellitus, disse se sentir uma pessoa saudável e sempre fez a dieta e o controle adequado. Não faz uso rotineiro de nenhum outro medicamento. Seu último controle ginecológico foi há um ano, G4P5A0, todos partos normais, 1 deles gemelar . Sua vacinação está em dia, inclusive a última de influenza (trouxe o cartão). Nunca fumou e não bebe. Não tem alergia a medicamentos. Fazia caminhadas diárias que foram interrompidas no último mês, devido aos sintomas relatados na HMA. Tem feito o isolamento social e usado máscara de pano quando precisa sair. Em sua história pregressa relatou cirurgia para retirada da vesícula há 8 anos, perineoplastia aos 50 anos e cirurgia de catarata há 3 anos, sem intercorrências. Sofreu um atropelamento há 30 anos mas apresentou apenas escoriações leves. História social: Viúva há 10 anos, marido faleceu com câncer de esôfago após longo sofrimento. Mora sozinha, em casa própria. Consegue cuidar da casa e fazer o autocuidado sem ajuda. É aposentada e recebe pensão do marido falecido. Uma filha mora no mesmo lote com o marido e 2 filhos adultos. Relata boa convivência com eles. Os outros filhos moram em bairros próximos e sempre estão presentes nos finais de semana. Frequenta a Igreja, participando de algumas atividades junto à comunidade. Estudou até a segunda série e frequentou o EJA, consegue ler Caderno de Atividades da CLM1 - 2021 52 com facilidade. Tinha um bom relacionamento na Unidade Básica de Saúde até se desentender com a enfermeira da equipe. O bairro onde mora é bastante violento e muito acidentado, mas pela manhã consegue caminhar em segurança na praça que é plana. História Familiar: Pais falecidos, mãe por câncer gástrico e pai por alcoolismo. Cinco filhos vivos, o mais velho apresenta diabetes mellitus e os demais são sadios. Dois irmãos falecidos, um deles assassinado e outro por acidente vascular cerebral. A irmã apresenta hipertensão arterial. (Pode ser escrita na forma de genograma) alcoolismo ca gástrico assassinado AVE HAS ca esôfago DM Revisão de sistemas: Sintomas gerais- ver HMA COONG - Fez exame oftalmológico, com fundo de olho há 8 meses.
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