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Medicina VETERINÁRIA REVISÃO DE SISTEMA CARDIOVASCULAR JÚLIA LIMA O coração possui quatro câmaras - átrios direito e esquerdo (AD e AE) e ventrículos direito e esquerdo (VD e VE). O sangue venoso que vem das veias cavas entra no AD do coração, é bombeado para o VD, que leva o sangue até os pulmões pela artéria pulmonar para ser oxigenado. Depois, o sangue volta ao coração, entra pelas veias pulmonares para AE, passa para o VE e sai pela artéria aorta. VD Anatomia cardíaca básica Artéria ulmonar Veia cava Sup Veia pulmonar Valva mitral Veia cava inf Valva aórtica VE AD AE Nos animais o VD está cranial e o VE caudal, o coração localizando-se anatomicamente entre a 4º e 5º costela do lado esquerdo do peito do animal. Nas câmaras direitas, o óstio atrioventricular é tricúspide, e nas esquerdas, bicúspide (mitral). A valva semilunar aórtica também é tricúspide, e para impedir o retorno sanguíneo existem as cordas tendíneas. O coração recebe um impulso nervoso para bombear o sangue vindo do nó sinoatrial, que localiza-se cranialmente no AD. Como todo impulso nervoso, ele irá se despolarizar a partir da entrada de sódio e potássio no neurônio rico em cloro. O músculo estriado cardíaco é conectado entre si por finas membranas (discos intercalares) e o impulso nervoso percorre facilmente os miócitos, que para que façam contração precisam ter cálcio Cordas tendíneasMúsculos papilares Miócitos cardíacos (UFJF) As ondas características em um ECG normal são P, Q, R, S e T. P - Significa o impulso no nó sinoatrial, despolarizando os neurônios ramificados que estão nos dois átrios Pequeno bloqueio - repolarização para o segundo impulso no nó atrioventricular O Eletrocardiograma normal (ECG) registra sinais elétricos rítmicos, e pelos seus diferentes potenciais elétricos pode-se analisar diversos parâmetros. Propriedades elétricas Complexo Q, R, S - Impulso no nó atrioventricular e seus ramos, que estão em ambos ventrículos T - Momento de despolarização para que haja a repolarização posterior. A onda T pode apresentar-se para cima ou para baixo. No momento do eletrocardiograma são possíveis de serem notadas alterações elétricas do coração, que permitem o profissional diagnosticar o paciente (taquicardia, bradicardia, bloqueios cardíacos…) Todas estas denominações provenientes das propriedades elétricas do coração. A taquicardia e a bradicardia devem levar em conta a idade, o peso, a higidez, o decúbito do animal… Animais de grande porte geralmente têm a frequência normalmente mais baixa e animais pequenos normalmente frequência mais elevada. Por isso não é correto dizer (exemplo) que um hamster com 300 bpm está taquicárdico, assim como não é correto dizer que um cavalo com 40 bpm está bradicárdico. Nota-se alteração quando alguma onda não aparece, quando as ondas R estão muito próximas ou distantes, quando há bloqueio de ondas, dentre várias outras alterações. Derivações periféricas Tendo em mente que os impulsos elétricos do coração possuem uma direção e um sentido, existem métodos de calcular os diferentes potenciais de ação. O complexo QRS representa a despolarização dos ventrículos no ECG, e o eixo cardíaco é a média dos potenciais de ação que atravessam os ventrículos. Dessa forma, usa-se o complexo QRS nas derivações frontais para determinar o eixo cardíaco. Eletrocardiograma normal Eletrocardiogramas anormais Como possuem uma direção e sentido, podem ser representados por vetores. Existe um eixo de normalidade que determina se o coração está saudável, ou seja, uma direção normal para qual o impulso elétrico deve seguir. Os vetores ajudam a determinar se esse impulso está fora do eixo de normalidade, de indicaria uma anormalidade cardíaca. O eixo está indicado (em humanos) para baixo, para a esquerda e para a frente do corpo. Em animais, ventralmente ao corpo. Bipolares DI - Eletrodos nos membros anteriores (MA), sendo o MAE positivo, e MAD negativo, medindo o diferença de potencial DII - Mede a diferença de potencial de eletrodos posicionados no MAD e no membro posterior (MP) esquerdo (polo positivo) DIII - Diferença de potencial com eletrodos no MPE e MAE. Polo positivo no MPE Unipolares Pressão sistólica, diastólica e média Derivações pré-cordiais aVR - potencial absoluto do eletrodo localizado no MAD aVL - potencial absoluto do eletrodo localizado no MAE aVF - potencial absoluto do eletrodo localizado no MPE Estão localizadas dentro do coração, e para monitoração utilizam 6 eletrodos. V1: localizada no 4º espaço intercostal direito na linha paraesternal; V2: localizada no 4º espaço intercostal esquerdo na linha paraesternal; V3: localizada entre as derivações V2 e V4; V4: localizada no 5º espaço intercostal esquerdo na linha hemiclavicular; V5: localizada no 5º espaço intercostal esquerdo na linha axilar anterior; V6: localizada no 5º espaço intercostal esquerdo na linha axilar média. Sístole: Fase de contração cardíaca, sangue bombeado para o vasos sanguíneos, fechamento das cúspides. A pressão nessa fase é mais alta (medida em mmHg) Sístole: Fase de contração cardíaca, sangue bombeado para o vasos sanguíneos, fechamento das cúspides. A pressão nessa fase é mais alta (medida em mmHg) Diástole: Fase de relaxamento cardíaco, sangue entra no coração e sangue dos átrios passa para ventrículos. A pressão nessa fase é mais baixa. A pressão sistólica é medida no início do ciclo e a diastólica no final. Com o uso de um medidor manual ou aparelho doppler, a pressão sistólica é a primeira e a diastólica a última. Ex: 12/8 = 120mmHg de sístole, 80mmHg de diástole PSx1 + PDx2 3 Fecha-se a artéria com o manguito adequado na altura do coração e com o uso de um estetoscópio ou ouvindo pelo aparelho doppler o primeiro som da pulsação arterial é a sístole. A pressão arterial média (PAM) é a diferença entre a pressão sistólica e diastólica. É a pressão necessária para se levar o sangue para os tecidos e vencer a resistência periférica total. Existem métodos de calcular a pressão média. Indireto - não invasivo, menos confiável. Método auscultatório de Korotkof Doppler veterinário comum Método de avaliação da pressão média - geralmente medida pelo método invasivo. É puncionada uma artéria periférica (auricular, radial, podal ou caudal) e conectada a um manômetro com sistema fechado (dois extensores e uma torneira de três vias), estando na altura do coração. É um método bastante confiável. A pressão média geralmente deve estar acima de 60 ou 70. Abaixo disso é considerado o animal hipotenso. Método de avaliação da pressão sistolica - doppler ou através de monitor especializado Direto - invasivo, puncão de artérias periféricas. Mais confiável PAM acessada em cão sistema PAM invasiva Impulso irregular no nó sinoatrial, que envia muitos impulsos elétricos (despolariza descompassadamente) muito rapidamente aos átrios, formando uma tremulação atrio/ventricular. A fibrilação atrial pode ocorrer por motivos congênitos ou de doenças adquiridas, como má circulação sanguínea, pressão arterial muito alta, infarto em parte do miocárdio, uso de drogas estimulantes, uso prolongado de remédios estimulantes… Os principais sintomas são a fraqueza, cansaço, sensação de mal estar, desmaios, sensação de taquicardia, dor no peito, tonturas prolongadas. Tudo isso deve ser cuidado pois o coração pode vir a parar. O débito cardíaco é a multiplicação da pressão sistólica e dos batimentos cardíacos, marcando em mm/minuto quanto sangue o coração bombeia. Esse valor tende a aumentar quando a pressão arterial sobe (vasoconstrição e maior batimentos cardíacos), e vice- versa. É importante pensar no débito cardíaco como uma relação de compensação - quanto mais o corpo bombeia sangue, maior o débito. Mas é interessante o profissional pensar nas causas ou nos fatores que fazem esse valor aumentar. Ex: um animal com hematócrito baixo, anêmico e com pouco sangue circulante (precisando por exemplo de transfusão), está com seu débito muitoalterado, fazendo com que os vasos se contraiam e o coração precise de uma frequência maior para bombear sangue. Assim, para esse animal em primeiro momento, seria interessante fazer fluidoterapia e posteriormente, dependendo do valor do hematócrito, realizar a transfusão. Débito cardíaco Fibrilação Referências bibliográficas Imagens eletrocardiográficas - exame eletrocardiográfico de paciente anônimo cedido por médico veterinário para fins de estudo Imagens acesso invasivo PAM - bloco cirúrgico 2 da Universidade Federal de Santa Maria Demais imagens - referência desconhecida CUNNINGHAM, James G. Fisiología veterinaria. Elsevier, 2003. FELDMAN, José; GOLDWASSER, Gerson P. Eletrocardiograma: recomendações para a sua interpretação. Revista da SOCERJ, v. 17, n. 4, p. 251-256, 2004.