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CURSO DE PEDAGOGIA A DISTÂNCIA Si m bo lo gi a B ra ill e UDESC/UAB/CEAD Simbologia BRAILLE Universidade do Estado de Santa Catarina Universidade Aberta do Brasil Centro de Educação a Distância FLORIANÓPOLIS UDESC/UAB/CEAD Simbologia BRAILLE 1ª edição - Caderno Pedagógico Simbologia Braille Governo Federal Governo do Estado de Santa Catarina UDESC Centro de Educação a Distância (CEAD/UAB) Presidente da República | Dilma Rousseff Ministro de Educação | Aloizio Mercadante Oliva Secretário de Regulação e Supervisão da Educação Superior | Jorge Rodrigo Araújo Messias Diretor de Regulação e Supervisão em Educação a Distância | Hélio Chaves Filho Presidente da CAPES | Jorge Almeida Guimarães Diretor de Educação a Distância da CAPES/MEC | João Carlos Teatini de Souza Clímaco Governador | João Raimundo Colombo Secretário da Educação | Eduardo Deschamps Reitor | Antonio Heronaldo de Sousa Vice-Reitor | Marcus Tomasi Pró-Reitor de Ensino de Graduação | Luciano Hack Pró-Reitor de Extensão, Cultura e Comunidade | Mayco Morais Nunes Pró-Reitor de Administração | Vinícius A. Perucci Pró-Reitor de Planejamento | Gerson Volney Lagemann Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação | Alexandre Amorim dos Reis Diretor Geral | Marcus Tomasi Diretora de Ensino de Graduação | Fabíola Sucupira Ferreira Sell Diretora de Pesquisa e Pós-Graduação | Lucilene Lisboa de Liz Diretora de Extensão | Vera Márcia Marques Santos Diretor de Administração | Ivair de Lucca Chefe de Departamento de Pedagogia a Distância CEAD/UDESC | Isabel Cristina da Cunha Subchefe de Departamento de Pedagogia a Distância CEAD/UDESC | Vera Márcia Marques Santos Secretária de Ensino de Graduação | Rosane Maria Mota Coordenador de Estágio de Curso Pedagogia/UAB | Lidnei Ventura Coordenador UDESC Virtual | Luiz Fabiano da Silva Coordenadora Geral UAB | Carmen Maria Cipriani Pandini Coordenadora Adjunta UAB | Gabriela Maria Dutra de Carvalho Coordenadora do Curso de Pedagogia UAB | Geisa Letícia Kempfer Böck Coordenadora de Tutoria UAB | Ana Paula Carneiro Secretaria de Curso UAB | Aline de Lauro Bertolini Copyright © UDESC/UAB/CEAD <2013> Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Geisa Letícia Kempfer Bock Solange Cristina da Silva Caderno Pedagógico 1ª edição Florianópolis Diretoria da Imprensa Oficial e Editora de Santa Catarina 2013 Simbologia BRAILLE Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da UDESC B665s Bock, Geisa Letícia Kempfer Simbologia braille / Geisa Letícia Kempfer Bock, Solange Cristina da Silva ; [design instrucional: Carla Peres Souza] – 1ª ed.– Florianópolis : DIOESC : UDESC/CEAD/UAB, 2013. 124 p. : il. ; 28 cm – (Cadernos pedagógicos). Inclui Bibliografia ISBN: 978-85-64210-88-2 1.Cegos – educação. 2.Braille. 3. Cegos - Sistemas de impressão e escrita. I. Silva, Solange Cristina da. II. Título CDD: 371.912– 20.ed. Professoras autoras Geisa Letícia Kempfer Bock Solange Cristina da Silva Colaboradoras Raquel Schappo Adriana Carmen Argenta Marcilene Aparecida Alberton Ghisi Chaves Design instrucional Carla Peres Souza Professora parecerista Elizabet Dias de Sá Diagramação Aline Bertolini de Lauro Elisa Conceição da Silva Rosa Sabrina Bleicher Revisão de texto Nilza Goes Coordenação Carmen Maria Cipriani Pandini Vicecoordenação Lidnei Ventura Projeto instrucional Ana Cláudia Taú Carla Peres Souza Carmen Maria Cipriani Pandini Daniela Viviani Melina de la Barrera Ayres Roberta de Fátima Martins Projeto gráfico e capa Elisa Conceição da Silva Rosa Sabrina Bleicher Caderno Pedagógico Material Didático Multi.Lab.EaD Laboratório Multidisciplinar de Desenho e Produção de Material Didático para a EaD Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 Programando os estudos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 CAPÍTULO 1 Caracterização geral da deficiência visual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Seção 1 - O funcionamento da visão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 Seção 2 - A deficiência visual e as causas que a originam . . . . . . . . . . . . . . . 24 Seção 3 - Os sentidos remanescentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 CAPÍTULO 2 A pessoa com deficiência visual no contexto escolar . . . . . . . . . . . . . . . 49 Seção 1 - A inclusão escolar da pessoa com deficiência visual . . . . . . . . . . 50 Seção 2 - Meios de acesso ao currículo: recursos pedagógicos de apoio . 59 Seção 3 - Orientação, mobilidade e atividades de vida autônoma . . . . . . . 73 CAPÍTULO 3 O sistema Braille . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 Seção 1 - Sistema Braille: história e importância na educação de pessoas com cegueira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 Seção 2 - O código Braille . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 Seção 3 - Alfabetização de pessoas com cegueira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109 Conhecendo as professoras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 Comentários das atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 Referências das figuras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 Sumário Apresentação Prezado(a) estudante, Você está recebendo o Caderno Pedagógico da disciplina de Simbologia Braille . Ele foi organizado didaticamente, a partir da ementa e objetivos que constam no Projeto Pedagógico do seu Curso de Pedagogia a Distância da UDESC . Esse material foi elaborado com base na característica da modalidade de ensino que você optou para realizar o seu percurso formativo – a Educação a Distância . É um recurso didático fundamental na realização de seus estudos, pois organiza os saberes e conteúdos de modo a que você possa estabelecer relações e construir conceitos e competências necessárias e fundamentais a sua formação . Esse Caderno, ao primar por uma linguagem dialogada, busca problematizar a realidade, aproximando teoria e prática, ciência e conteúdos escolares, por meio do que se chama de elaboração didática, que é o mecanismo de transformar o conhecimento científico em saber escolar a ser ensinado e aprendido . Receba-o como mais um recurso para a sua aprendizagem, realize seus estudos de modo orientado e sistemático, dedicando um tempo diário à leitura . Anote e problematize o conteúdo comsua prática e as demais disciplinas que irá cursar . Faça leituras complementares, conforme as sugestões, e realize as atividades propostas . Lembre-se de que, na Educação a Distância, muitos são os recursos e estratégias de ensino e aprendizagem; por isso use sua autonomia para avançar na construção de conhecimento, dedicando-se a cada disciplina com todo o empenho necessário . Bons estudos! Equipe UDESC\UAB\CEAD Introdução Prezados/as alunos/as, Vocês estão sendo convidados a estudar a deficiência visual fundamentada no Caderno Pedagógico da disciplina de Simbologia Braille . Esse material foi organizado tendo como base a premissa principal do Curso de Pedagogia a Distância: a teoria vigotskiana . Aqui você iniciará sua caminhada, compreendendo o que é deficiência visual, o histórico da inclusão do grupo de pessoas com essa deficiência e seus direitos, além de conhecer algumas possibilidades para o trabalho pedagógico . Para tanto, entrará em contato com alguns recursos e instrumentos que contribuem para o desenvolvimento de um conjunto de habilidades fundamentais a essas pessoas, bem como com o conhecimento da simbologia Braille . Acreditamos que trabalhar com a educação de cegos é possibilitar uma experiência significativa e transformadora . Por isso, desafiamos você a caminhar conosco e, numa relação dialógica, trazer reflexões e trocar experiências rumo à superação da exclusão das pessoas com deficiência visual . Bons estudos! Programando os estudos Estudar a distância requer organização e disciplina, bem como estudos diários e programados para que você possa obter sucesso na sua caminhada acadêmica . Procure então estar atento aos cronogramas do seu curso e disciplina, para não perder nenhum prazo ou atividade dos quais depende seu desempenho . As características mais evidenciadas na EAD são o estudo autônomo, a flexibilidade de horário e a organização pessoal . Faça sua própria organização e agende as atividades de estudo semanais . Para o desenvolvimento desta Disciplina, você possui a sua disposição um conjunto de elementos metodológicos que constituem o sistema de ensino: » Recursos didáticos, entre eles o Caderno Pedagógico . » O Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) . » O Sistema de Avaliação: avaliações a distância, presenciais e de autoavaliação . » O Sistema Tutorial: coordenadores, professores e tutores . Ementa A Educação de cegos . Sistema Braille: histórico e sua importância . Escrita e Leitura no Sistema Braille: alfabeto, sinais de pontuação e simbologia matemática básica . 12 Objetivos de aprendizagem Geral » Reconhecer e valorizar as diferenças individuais das pessoas com deficiência visual, nos termos de suas características, experiências, habilidades e relações nas quais se constituem e se desenvolvem . Específicos » Identificar as barreiras do contexto que dificultam o acesso e a participação dos estudantes com deficiência visual no processo escolar . » Propor estratégias pedagógicas e meios de apoio pertinentes, com vistas à eliminação das barreiras detectadas no acesso ao conhecimento escolar . » Conhecer o código Braille e compreender a importância da educação de pessoas cegas . Carga horária 36 horas/aula 13 Anote as datas importantes das atividades na disciplina, conforme sua agenda de estudos: DATA ATIVIDADE Conteúdo da disciplina Veja, a seguir, a organização didática da disciplina, distribuída em capítulos os quais são subdivididos em seções, com seus respectivos objetivos de aprendizagem . Leia-os com atenção, pois correspondem ao conteúdo que deve ser apropriado por você e faz parte do seu processo formativo . Capítulo 1 – Neste capítulo inicial, você conseguirá distinguir as necessidades educativas comuns e individuais, e as relacionadas à deficiência visual . Além disso, conhecerá os aspectos e particularidades da deficiência visual, as diferentes características, origens e suas implicações no contexto educacional e social, bem como as barreiras específicas para a aprendizagem e participação desses estudantes no contexto educativo, considerando o espectro de tipos e graus da deficiência visual e seus sentidos remanescentes . 14 Capítulo 2 – No segundo capítulo, conhecerá o processo de construção de conhecimento, por meio da experiência não-visual, e empregará recursos pedagógicos auxiliares que favoreçam a compreensão e acesso aos conteúdos escolares . Conhecerá, também, técnicas de atividades de vida autônoma e de orientação e mobilidade, além de diferentes recursos de Tecnologia Assistiva possíveis de utilização no contexto educacional de pessoas com deficiência visual . Capítulo 3 – No capítulo final, será apresentado o sistema Braille, e você conseguirá diferenciar e identificar os recursos utilizados pelas pessoas cegas para registro dessa modalidade de escrita, conhecendo os processos de aprendizagem das pessoas cegas no que se refere à alfabetização em Braille . Passemos, agora, ao estudo dos capítulos! Caracterização geral da deficiência visual Objetivo geral de aprendizagem » Compreender os aspectos e particularidades da deficiência visual, as diferentes características, origens e suas implicações no contexto educacional e social. Seções de estudo Seção 1 – O funcionamento da visão Seção 2 – A deficiência visual e as causas que a originam Seção 3 – Os sentidos remanescentes Você já imaginou como é viver a vida explorando o mundo com dificuldades visuais? Ou ainda, sem o sentido da visão? Neste capítulo, você será apresentado às diversas manifestações da deficiência visual e como as pessoas enxergam em cada uma delas. Poderá descobrir e explorar os sentidos remanescentes, compreender a diferença entre cegueira e baixa visão e alguns sinais apresentados por pessoas que possuem alguma deficiência visual. 1 16 CA PÍ TU LO 1 Compreender as diferentes maneiras de ver é de essencial importância para a prática pedagógica em salas de aula em que estudam alunos com deficiência visual . Para tanto, aqui você realizará um estudo referente às deficiências visuais e como elas se distinguem entre si . Além disso, neste capítulo você encontrará um diálogo acerca dos sentidos remanescentes, compreendendo sua importância para aprendizagem e formação de conceitos por parte de pessoas com deficiência visual . Seção 1 O funcionamento da visão Objetivos de aprendizagem » Conhecer os aspectos e particularidades da deficiência visual . » Identificar as barreiras específicas para aprendizagem e participação de estudantes com deficiência visual no contexto educativo . Quando se fala em cegueira, baixa visão ou ainda generalizando, deficiência visual, a referência está sendo feita a condições caracterizadas por uma limitação total ou muito grave da função visual . Nesse caso, se está falando de pessoas que pouco ou nada veem . Nesse sentido, primeiramente é preciso entender a visão e sua função . No mundo, os estímulos visuais são constantes: outdoors, televisão, internet, etc . Como podem os olhos filtrar tanta informação visual? 17 CA PÍTU LO 1 Quando se olha para um objeto, a imagem entra na córnea em direção à íris, que, por sua vez, regula a quantidade de luz recebida por meio da pupila . Repare que no escuro a pupila dilata (abre), e em lugar muito iluminado ela diminui (fecha) . Dessa forma, ela regula a quantidade de luz que deve entrar . Isso acontece porque é necessário mais luz para formar a imagem . Depois que a imagem passa pela pupila, chega ao cristalino e é focada sobre a retina . Na retina, as células transformam as ondas luminosas em impulsos eletroquímicos, que vão ser decodificados pelo cérebro . A retina produz uma imagem invertida, e é o cérebro que vai convertê-la à posição correta . (CBO, 2013) . O olho humano e a máquina fotográfica Você sabia que a máquina fotográfica foi criada inspirada no funcionamento do olho humano? Nos olhos, acórnea funciona como a lente da câmera, que vai permitir a entrada de luz e a formação da imagem na retina. A retina, que fica dentro do olho, seria o filme fotográfico ou sistema digital, onde a imagem se reproduz. A pupila seria o diafragma da máquina, pois controla a quantidade de luz que entra no olho abrindo ou fechando. Verifique a seguir a composição interna do olho . Córnea Cílios Músculos Ciliares Íris Cristalino Humor Vítreo Retina Fóvea Central Nervo Óptico Mácula Lútea Corióide Esclera Morfologia do Olho Humano São pelos localizados na borda da pálpebra e servem para proteger o olho de materiais em suspensão no ar, como a poeira Pálpebras são consideradas anexos oculares, tem como função proteger o olho na sua parte mais anterior. Através da sua movimentação (piscar), espalha a lágrima produzida pelas glândulas lacrimais, umedecendo e nutrindo a córnea e retirando substâncias estranhas que tenham alcançado o olho. Conjuntiva é a membrana transparente que reveste a parte anterior do olho e a superfície interior das pálpebras. É o tecido transparente que cobre a pupila, a abertura da íris. Junto com o cristalino, a córnea ajusta o foco da imagem no olho. Controla a entrada de luz: dilata-se em ambiente com pouca claridade e estreita-se quando a iluminação é maior. Esses ajustes permitem que a pessoa enxergue bem à noite e evitam danos à retina quando a luz é mais forte. É um fino tecido muscular que tem, no centro, uma abertura circular ajustável chamada de pupila. Ajustam a forma do cristalino. Com o envelhecimento eles perdem sua elasticidade, dificultando a focagem dos objetos próximos e provocando presbiopia. Líquido transparente que preenche o espaço entre a córnea e o cristalino, sua principal função é nutrir estas partes do olho e regular a pressão interna. Lente transparente e flexível, localizada atrás da pupila. Funciona como uma lente, cujo formato pode ser ajustado para focar objetos em diferentes distâncias, num mecanismo chamado acomodação Camada média do globo ocular. Constituída por uma rede de vasos sanguíneos, ela supre a retina de oxigênio e outros nutrientes. Camada externa do globo ocular - parte branca do olho. Semirrígida, ela dá ao globo ocular seu formato e protege as camadas internas mais delicadas. É a estrutura formada pelos prolongamentos das células nervosas que formam a retina. Transmite a imagem capturada pela retina para o cérebro. Porção de cada um dos olhos que permite perceber detalhes dos objetos observados. Localizada no centro da retina, é muito bem irrigada de sangue e possibilita, através das células cônicas, a percepção das cores. Ponto central da retina. É a região que distingue detalhes no meio do campo visual. Sua função é receber ondas de luz e convertê-las em impulsos nervosos, que são transformados em percepções visuais. Líquido que ocupa o espaço entre o cristalino e a retina. Pupila Pálpebra e Conjuntiva Humor Aquoso Córnea Cílios Músculos Ciliares Íris Cristalino Humor Vítreo Retina Fóvea Central Nervo Óptico Mácula Lútea Corióide Esclera Morfologia do Olho Humano São pelos localizados na borda da pálpebra e servem para proteger o olho de materiais em suspensão no ar, como a poeira Pálpebras são consideradas anexos oculares, tem como função proteger o olho na sua parte mais anterior. Através da sua movimentação (piscar), espalha a lágrima produzida pelas glândulas lacrimais, umedecendo e nutrindo a córnea e retirando substâncias estranhas que tenham alcançado o olho. Conjuntiva é a membrana transparente que reveste a parte anterior do olho e a superfície interior das pálpebras. É o tecido transparente que cobre a pupila, a abertura da íris. Junto com o cristalino, a córnea ajusta o foco da imagem no olho. Controla a entrada de luz: dilata-se em ambiente com pouca claridade e estreita-se quando a iluminação é maior. Esses ajustes permitem que a pessoa enxergue bem à noite e evitam danos à retina quando a luz é mais forte. É um fino tecido muscular que tem, no centro, uma abertura circular ajustável chamada de pupila. Ajustam a forma do cristalino. Com o envelhecimento eles perdem sua elasticidade, dificultando a focagem dos objetos próximos e provocando presbiopia. Líquido transparente que preenche o espaço entre a córnea e o cristalino, sua principal função é nutrir estas partes do olho e regular a pressão interna. Lente transparente e flexível, localizada atrás da pupila. Funciona como uma lente, cujo formato pode ser ajustado para focar objetos em diferentes distâncias, num mecanismo chamado acomodação Camada média do globo ocular. Constituída por uma rede de vasos sanguíneos, ela supre a retina de oxigênio e outros nutrientes. Camada externa do globo ocular - parte branca do olho. Semirrígida, ela dá ao globo ocular seu formato e protege as camadas internas mais delicadas. É a estrutura formada pelos prolongamentos das células nervosas que formam a retina. Transmite a imagem capturada pela retina para o cérebro. Porção de cada um dos olhos que permite perceber detalhes dos objetos observados. Localizada no centro da retina, é muito bem irrigada de sangue e possibilita, através das células cônicas, a percepção das cores. Ponto central da retina. É a região que distingue detalhes no meio do campo visual. Sua função é receber ondas de luz e convertê-las em impulsos nervosos, que são transformados em percepções visuais. Líquido que ocupa o espaço entre o cristalino e a retina. Pupila Pálpebra e Conjuntiva Humor Aquoso 20 CA PÍ TU LO 1 Você estudou até agora sobre a visão e o funcionamento do olho . O próximo passo é compreender o que é deficiência visual e suas particularidades, conhecendo algumas de suas implicações no contexto educacional e social . Em alguma situação do seu cotidiano, você ouviu falar sobre deficiência visual? E já parou para pensar como ela se manifesta? A deficiência visual é classificada em dois grupos: cegueira e baixa visão ou visão subnormal . Acompanhe a seguir as principais características de cada uma delas . Cegueira De acordo com o Decreto 5296/2004, considera-se deficiência visual: [ . . .] cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60º; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores . (BRASIL, 2004, Art . 70) . Sá, Silva e Simão (2010, p . 11) define campo visual como “área de abrangência na qual um objeto pode ser visto enquanto o olho está fixado em um determinado ponto” . A pessoa com cegueira é a que não possui nenhuma espécie de visão ou tem apenas percepção de luz sem projeção . Essa condição coloca a pessoa em situação de desvantagem no desenvolvimento das diferentes ações do dia-a-dia, tais como se locomover com independência e autonomia, ou, ainda, realizar atividades corriqueiras como cozinhar, vestir-se, entre outras . Pessoas com cegueira geralmente utilizam-se do sistema Braille para sua aprendizagem, além de outros recursos que possibilitam o acesso à informação . Entretanto, apenas a oferta do Braille não basta para suprir as necessidades apresentadas por cada pessoa; é preciso perceber quais as características de aprendizagem de cada um e como utiliza seus sentidos remanescentes, pois eles influenciam na participação das atividades escolares, no exercício de sua autonomia e independência . Somente com 21 CA PÍTU LO 1base nessa observação é possível compreender como as pessoas com cegueira estabelecem o processo de construção de seu conhecimento . Baixa visão De acordo com a Classificação Internacional de Doenças/CID-10, define-se baixa visão ou visão subnormalquando o indivíduo apresenta acuidade visual corrigida no melhor olho menor que 0,3 e maior ou igual a 0,05 ou, ainda, campo visual menor que 20 graus no melhor olho com a melhor correção óptica (graus 1 e 2 de comprometimento visual) . A pessoa com baixa visão é a que têm um grau de visão que pode variar desde a percepção luminosa e a percepção de objetos, até a acuidade visual correspondente a 30% . O percentual de visão por si só não determina o que uma pessoa com baixa visão é capaz de discriminar ou de reconhecer, o desempenho visual tem mais a ver com o uso funcional da visão . Quem apresenta baixa visão muitas vezes necessita de condições de iluminação especiais e cuidados, devido à forte sensibilidade à luminosidade e no uso de contrastes . Essas pessoas, muitas vezes, utilizam instrumentos como lupas e lunetas para ambientes externos . O Braille é usado por essas pessoas quando o resíduo visual é extremamente baixo; já a bengala é usada quando não há visão de profundidade . A pessoa com baixa visão, ainda dentro do parâmetro de até 30% de visão, tem um grau de visão que lhes permite executar todas as tarefas visuais, incluindo as escolares, mas possivelmente necessitará de lentes para correção de erros de refração . Dessta forma, exigem cuidados na escolha e na orientação da iluminação, no local em que são colocadas na sala de aula, bem como na clareza e nitidez dos materiais escritos que lhes são apresentados . Mesmo parecendo mínimo e sendo considerado algumas vezes (erroneamente) sem importância, esse resíduo visual deve ser aproveitado, devendo a pessoa ser incentivada a utilizar a visão que lhe resta com a maior eficiência possível . Geralmente, são realizados para tais pessoas programas de estimulação e treinamento visual em vários contextos, inclusive no Atendimento Educacional Especializado (AEE) . De acordo com Sá, Campos e Silva (2007, p . 16): “Acuidade visual é a avaliação quantitativa que revela dados percentuais sobre a capacidade de discriminação de estímulos visuais em uma escala linear e gradual, tendo como referência o tamanho, a nitidez dos objetos e a distância em que são percebidos de um ponto ao outro a partir de um padrão de normalidade”. (SÁ; SILVA; SIMÃO, 2010, p. 09). 22 CA PÍ TU LO 1 Uma pessoa com baixa visão apresenta grande oscilação de sua condição visual de acordo com o seu estado emocional, as circunstâncias e a posição em que se encontra, dependendo das condições de iluminação natural ou artificial . Trata-se de uma situação angustiante para o indivíduo e para quem lida com ele tal é a complexidade dos fatores e contingências que influenciam nessa condição sensorial . Cada pessoa com deficiência visual encontra as suas próprias estratégias para superar as barreiras que lhes são impostas . Veja alguns recursos que a pessoa com baixa visão pode contar em seu dia-a-dia: » Suas próprias características pessoais (físicas e psicológicas) » O apoio familiar » Um trabalho pedagógico adequado e oportuno » Sua própria capacidade de adaptar-se e orientar-se com apoio nos sentidos remanescentes » Um método de leitura e escrita que possa lhe ajudar a se desenvolver » Instituições de apoio tais como: escolas com AEE, centros de reabilitação, centros de AEE etc . » As ajudas técnicas ou Tecnologia Assistiva e as demais TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) Você pode, nesta seção, conhecer o funcionamento do olho e o que é deficiência visual . Na próxima seção, você conhecerá as principais causas da deficiência visual e as necessidades educativas relacionadas a essa deficiência . Antes de dar continuidade aos estudos nesta temática, observe o quadro em destaque a seguir, com informações sobre a surdocegueira, que, apesar de não ser uma deficiência visual, tem em sua composição o déficit visual . Esse é um conhecimento importante para você, futuro professor . Acompanhe! 23 CA PÍTU LO 1 Surdocegueira A surdocegueira é uma deficiência específica caracterizada pela perda concomitante visual e auditiva. Embora a terminologia se pareça com a somatória de duas deficiências (visual e auditiva), não é considerada dessa forma, ou seja, não se trata de uma pessoa cega que não pode ouvir ou de uma pessoa surda que não pode ver. |Por isso, não é considerada múltipla deficiência. A expressão surdocegueira é expressa sem hífen, para dar o entendimento de uma condição única, uma deficiência com necessidades específicas para o desenvolvimento da comunicação, orientação, mobilidade e acesso a informação. O Grupo Brasil (2003) apresenta algumas implicações da surdocegueira, defendendo que [...] é uma deficiência singular que apresenta perdas auditivas e visuais concomitantemente em diferentes graus. Levando a pessoa com surdocegueira a desenvolver diferentes formas de comunicação para entender, interagir com as pessoas e ao meio ambiente, ter acesso às informações, ter uma vida social com qualidade, orientação, mobilidade, educação e trabalho. (apud MAIA; ARAÓZ; IKONOMIDIS, 2010, p. 5-6). A surdocegueira pode ser classificada de duas formas: Pré-linguísticas Quando a pessoa nasce com a surdocegueira ou adquire muito cedo, ainda bebê, fases nas quais ainda não houve a aquisição de uma língua. Pós-linguísticas Refere-se a pessoa que tem uma de�ciência sensorial (visual ou auditiva) e adquire a outra após a aquisição de uma língua, seja ela oral ou gestual, ou ainda, adquire a surdocegueira após já ter constituído uma comunicação linguística sem apresentar a de�ciência anteriormente. A pessoa com surdocegueira utiliza muito o sentido do tato para estabelecer a comunicação. Assim, é necessário incentivar a criança com surdocegueira a usar os sentidos remanescentes, bem como sua visão e audição residuais. Para tanto, os ambientes deve ser planejados e organizados, de modo que ela possa ser incluída, favorecendo sua interação com as pessoas e os objetos. Segundo Bosco, Mesquita e Maia (2010, p. 10), Durante o processo de comunicação, o professor ou outro interlocutor tem a função de: antecipar o que vai acontecer ou o local em que vai acontecer a atividade, estimular a pessoa para se comunicar e explorar o ambiente; confirmar se ela está 24 CA PÍ TU LO 1 interpretando as informações e a todo momento comunicar o que ocorre no ambiente. A comunicação com as pessoas surdocegas é bastante específica, e normalmente a coleta e processamento da informação se dá por meio do tato. Um dos mecanismos de comunicação utilizados por essas pessoas é o TADOMA, ou seja, “uma comunicação eminentemente tátil que permite entender a fala de uma pessoa, ao perceber as vibrações e os movimentos articulatórios dos lábios e maxilares com a mão sobre a face do interlocutor”. (SÁ; CAMPO; SILVA, 2007, p. 16). Outra forma de comunicação é por meio de um sistema não-alfabético, denominado Linguagem de Símbolos ou Sinais. Nesse sistema, há a formação de sinais a partir de diferentes tipos de movimentos das mãos, especialmente os que representem palavras, números e outros códigos. Um exemplo é o alfabeto manual utilizado pelos surdos, mostrado na palma da mão e percebido pelos surdocegos através do toque. Dando continuidade ao estudo acerca da deficiência visual, nas próximas seções, você conhecerá suas principais causas e as necessidades educativas a ela relacionadas . Seção 2 A deficiência visual e as causas que a originam Objetivos de aprendizagem » Conhecer as principais causas das deficiências visuais . » Identificar as necessidades educacionais apresentadas por estudantes com cegueira e baixa visão . A visão representa um papel central no desenvolvimento e na autonomia de qualquer pessoa . Aproximadamente 80% da informação obtida a partir do ambiente e necessários para a vida diária envolvem o órgão da visão . 25 CA PÍTU LO 1Com isso, a maioria das características, estilos e preferências das pessoas foram adquiridos com base eminformações visuais, como ler, vestir, brincar, etc . De modo especial, o canal da visão desempenha um papel primordial no desenvolvimento durante a infância . As diferentes patologias e distúrbios que afetam o sistema visual humano podem reduzir vários graus de visão, ou mesmo impedir a entrada de informação . Por esse motivo, é extremamente importante determinarem-se o nível de perda de visão e suas eventuais consequências . Dessa maneira, conhecer as causas e consequências das deficiências visuais torna-se importante, para que se atendam de forma adequada estudantes que as apresentem, oferecendo as condições e estímulos para seu desenvolvimento acadêmico e pessoal . No ambiente escolar, o docente deverá estar atento às especificidades de cada estudante, valorizando o potencial de cada um e oportunizando instrumentos, recursos, metodologias, estratégias e conteúdos condizentes com as necessidades de cada aprendiz . As causas das deficiências visuais são variadas, podendo ser: » Pré-natal – antes do nascimento » Perinatal – durante o parto » Pós-natal – ao longo da vida Ou, ainda, serem classificadas como adquiridas ou hereditárias . Dentre as adquiridas, as causas mais comuns são os acidentes, tais como: estilhaços, perfurações, queimaduras, entre tantos outros que poderiam ser evitados . Nas hereditárias, a grande maioria ocorre por descuido familiar, ausência do pré-natal, de vacinas e de cuidados médicos, além das fatalidades de erros genéticos . A Organização Mundial da Saúde (OMS), agência especializada em saúde subordinada à ONU, cujo objetivo é desenvolver ao máximo possível o nível de saúde de todos os povos, estima que existam 180 milhões de pessoas com deficiência visual em todo o mundo . Destas, 45 milhões são cegas e 135 milhões apresentam algum tipo de baixa visão . A grande maioria dos casos de cegueira está presente nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento (SILVA, 2010) . A previsão é que esse número dobre até 2020 . Isso se deve ao aumento populacional e a uma maior expectativa de vida, faixa etária em que há aumento de pessoas com problemas visuais . Com isso, de maneira a 26 CA PÍ TU LO 1 prevenir a cegueira no mundo, elaborou-se um programa chamado Visão 2020: o direito à visão . As principais causas de cegueira no mundo são: CATARATA 47,80% GLAUCOMA 12,30% DEGENERAÇÃO MACULAR 8,70% OPACIDADES DE CÓRNEA 5,10% RETINOPATIA DIABÉTICA 4,80% CEGUEIRA INFANTIL 3,90% OUTRAS 17,40% Fonte: Adaptado de Silva (2010) Estima-se que 80% dos casos de deficiência visual poderiam ser evitados com informações, prevenção e tratamentos adequados . Segundo os dados do IBGE (2010), no Brasil, mais de 6,5 milhões de pessoas têm alguma deficiência visual, sendo 528 .624 pessoas incapazes de enxergar (cegos) e 6 .056 .654 pessoas que possuem grande dificuldade permanente de enxergar (baixa visão ou visão subnormal) . Acompanhe a seguir deficiências visuais mais comuns de se encontrar na escola . Visão 2020 É uma iniciativa global para eliminar a cegueira evitável, um programa conjunto da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira (IAPB, por sua sigla em Inglês), com uma adesão de ONGs internacionais, associações profissionais, atendimento oftalmológico e corporações . VISÃO 2020: O Direito da Visão tra balhando juntos pra eliminar a cegueira evitável 27 CA PÍTU LO 1 CATARATA CONGÊNITA Características A catarata é uma das principais causas da cegueira infantil, para cada 250 neonatos, um caso é comprovado. A catarata ocorre por um processo de opaci�cação do cristalino, que é a lente natural do olho, normalmente incolor e transparente, que tem como objetivo focalizar os. Qualquer opaci�cação do cristalino presente no nascimento é uma catarata congênita. Dependendo do grau, pode ocorrer interferência na passagem de luz, por distorção ou redução de raios luminosos que atingem as retinas. Anomalia de desenvolvimento, fator hereditário, embrionária infecciosa, parasitária, tóxica ou por irradiação. Entre as enfermidades que a causam estão a rubéola, toxoplasmose e sí�lis materna. Causas possíveis Cristalino Catarata 28 CA PÍ TU LO 1 GLAUCOMA Glaucoma é uma doença progressiva e irreversível do nervo óptico que causa perda progressiva da visão periférica, sendo um de seus fatores a pressão intraocular elevada. É uma doença assintomática no início, onde a perda visual só ocorre em fases mais avançadas e compromete primeiro a visão periférica. Depois, o campo visual vai estreitando progressivamente até transformar-se em visão tubular. Sem tratamento, a pessoa �ca cega. O uso de colírios que diminuem a pressão intraocular são utilizados no tratamento, quando estes não surtem o efeito esperado, a cirurgia e os tratamentos à laser são indicados. É considerado crônico quando os sintomas aparecem em fase avançada, onde se vivencia a “visão tubular”. Se a doença não for tratada, pode levar a cegueira. Ele é causado por uma alteração anatômica na região do ângulo da câmara anterior, que impede a saída do humor aquoso e com isso causa o aumento da pressão intraocular. Suas causas podem ser: Congênita: A criança nasce com a doença que leva à de�ciência e deve ser tratada de forma cirúrgica. Secundária: Ocorre após cirurgia ocular, catarata avançada, diabetes, traumas, uso de corticoides e uveítes (in�amação na úvea, formada pela íris, corpo ciliar e corpo coroide). Causas possíveis 29 CA PÍTU LO 1 RETINOSE PIGMENTAR Devido ao processo de degeneração dos cones (células dos olhos que tem a capacidade de reconhecer as cores) e dos bastonetes (tem a capacidade de reconhecer a luminosidade) da retina, a pessoa apresenta di�culdades de enxergar quando há pouca luminosidade ou com claridade excessiva e, ainda, ocorre a perda de visão noturna. Neste caso, progressivamente há a diminuição da visão periférica, e o estreitamento do seu campo visual, que pode levar à visão tubular. Por isso, alguns sinais de alerta são importantes serem observados como: tropeçar em objetos no caminho ou esbarrar em pessoas e em objetos fora de seu campo visual. Pode ser causada por inúmeros tipos de mutações genéticas, cuja característica comum seja a degeneração gradativa das células da retina sensíveis à luz. Estima-se que existam mais de cem tipos de Retinose Pigmentar. Causas possíveis 30 CA PÍ TU LO 1 CERATOCONE Doença degenerativa da córnea, que causa uma baixa progressiva na qualidade de visão. O centro da córnea se a�na e assume o aspecto de um cone, afetando seriamente a visão. Doença de origem hereditária.Causas possíveis 31 CA PÍTU LO 1 DESLOCAMENTO DE RETINA É uma importante causa de de�ciência visual, as pessoas que possuem maior pré-disposição são as com histórico da de�ciência na família. A pessoa pode perceber surgimento de corpos �utuantes, �ashes de luzes ou pontos negros conhecidos por moscas volantes na visão. Em casos de deslocamento da retina a pessoa poderá perceber uma imagem ondulada ou uma sombra ou cortina escura que fecha o campo de visão. Se o deslocamento atingir a região central da retina ocorrerá uma distorção ou redução da visão central. As causas podem ser traumáticas ou mesmo provocadas pelo deslocamento do vítreo. Os rasgos na retina devem ser tratados a laser ou por crioterapia, o mais rápido possível, a �m de evitar que dêem origem a um deslocamento. Causas possíveis 32 CA PÍ TU LO 1 DEGENERAÇÃO MACULAR A visão periférica ainda permanece boa, possibilitando a pessoa a reconhecer objetos lateralmente. Por esta razão, a degeneração macular por si só não resulta em cegueira total, mas pode causar uma perda acentuada da visão central impossibilitando a leitura. A visão de cores �ca comprometida e outros sintomas visuais também podem se desenvolver tais como diminuição da visão, capacidade de captar os detalhes. Muitas pessoas não tomam consciênciado problema da degeneração macular até que a visão central �que “borrada” ou mais comumente “ondulada” ou “distorcida”. Degeneração macular é uma das doenças da retina que causa atro�a dos fotorreceptores retinianos localizados na área macular, responsável pela visão central. Causas possíveis 33 CA PÍTU LO 1 TOXOPLASMOSE OCULAR A toxoplasmose ocular pode causar lesões em diferentes regiões do olho. Quando a lesão se localiza na parte anterior do olho é chamado de uveite anterior. A manifestação mais grave da toxoplasmose ocular são as lesões da retina e da coróide. Essa forma é chamada de coriorretinite ou uveite posterior. A retina é a estrutura do olho que capta as imagens e leva para o cérebro através do nervo óptico, o local que estiver lesionado não funciona mais. Se a cicatriz for grande e em uma parte importante da retina, a pessoa poderá ter a visão comprometida, caso contrário, pode não haver repercussão visual. A região mais importante da retina é a mácula. A mácula é responsável pela visão central e infelizmente é uma região muito afetada pela toxoplasmose ocular. É uma doença infecciosa causada pelo protozoário Toxoplasma gonddi. Causas possíveis Toxoplasma gondii Hospedeiro intermediário Oocistos no solo Mãe contaminada por alimentos, água ou diretamente pelo solo Recém-nascido contaminado Gato infectado 34 CA PÍ TU LO 1 CEGUEIRA CORTICAL É a perda bilateral da visão apresentando resposta pupilar normal e exame ocular sem anormalidades. Refere-se a uma condição do cérebro e não do olho, podendo manifestar-se de maneira temporária ou permanente no que se refere ao processo de integração da informação visual. Esta designação implica não existir resposta sensorial aos estímulos luminosos; porém, muitas crianças com alterações no córtex visual mostram alguma visão residual. Assim, pode ser preferível a denominação "De�ciência Visual Cortical" (DVC). A causa mais comum da De�ciência Visual Cortical é a hipóxia (falta de oxigênio) peri e pós-natal, mas também pode ocorrer por trauma cranioencefálico, epilepsia, infecção, sequela de meningite, hidrocefalia, alterações metabólicas, drogas, envenenamentos e doenças neurológicas. Causas possíveis Campo visual direitoCampo visual esquerdo Olho esquerdo Quiasma óptico Nervo óptico Olho direito Cérebro 35 CA PÍTU LO 1Muitas vezes, a própria pessoa com perda visual não percebe a sua condição, pois ao não experienciar a visão normal, torna-se difícil estabelecer um padrão comparativo . Sendo assim, é muito importante que as demais pessoas atentem aos sinais da deficiência visual, e a escola é o local onde muitas delas são reveladas . Dessa maneira, um olhar atento do docente é fundamental na vida escolar de cada estudante . E você, conseguiria identificar esses sinais? Veja agora alguns sinais e sintomas que podem ser observados em pessoas com baixa visão . ! Sinais de alerta Sintomas observáveis Tonturas, náuseas e dor de cabeça; Visão dupla e embaçada; Excessiva sensibilidade à luz; Postura inadequada para leitura; Movimento constante dos olhos (nistagmo); Dor de cabeça e/ou lacrimejamento, olhos vermelhos durante ou após esforço visual; Aproximar-se muito da televisão; Aproximar demais os olhos para ver �guras ou ler e escrever textos; Semicerrar ou arregalar os olhos ao observar um objeto/�gura, franzir a testa ou piscar continuamente para �xar objetos; Mostra di�culdade para seguir objetos; Evitar brincadeira ao ar livre – jogos com bola, pega-pega; Tropeçar ou esbarrar em pessoas; Ter cautela excessiva ao andar, segurando o braço do acompanhante; Não gostar de leitura; Dispersar a atenção com facilidade e perder o interesse visual pelas atividades. O aluno tenta remover manchas, esfrega os olhos, franze a testa; Fecha ou cobre um dos olhos, balança a cabeça ou se move para frente quando olha para objetos próximos ou distantes; Levanta para ver o que está escrito no quadro-negro, em cartazes ou mapas; Cópia do quadro saltando letras, tem tendência de trocar palavras e misturar sílabas; Tem di�culdade para ler ou realizar tarefas que exijam o uso concentrado dos olhos; Pisca mais que o habitual, chora com frequência ou se torna irritado na execução de atividades; Tropeça ou cambaleia diante de objetos; Mantém o livro ou os objetos pequenos bem perto dos olhos; É muito sensível à luz; Tem di�culdade em participar de jogos que exijam visão de distância; Perde a linha da página enquanto lê ou muda constantemente a posição do livro; Confunde letras impressas parecidas. Fonte: Adaptado de Siaulys (2006 apud SÁ; SILVA; SIMÃO, 2010, p. 22) Você conheceu aqui as principais causas e um pouco das necessidades educativas relacionadas à deficiência visual . Conheça agora um pouco sobre os sentidos remanescentes, tão importantes no processo de aprendizagem desse grupo . 36 CA PÍ TU LO 1 Seção 3 Os sentidos remanescentes Objetivos de aprendizagem » Identificar quais são as barreiras específicas para a aprendizagem e participação de estudantes no contexto escolar . » Verificar os tipos e graus da deficiência visual e algumas possibilidades de utilização dos sentidos remanescentes . Toda criança é um ser humano único, com diferenças explícitas ou implícitas, físicas, psicológicas, intelectuais, socioculturais, possuindo assim identidade única . A criança ou jovem com deficiência visual, além de suas características próprias que a tornam diferente de todos os outros, também possui diferenças em relação à deficiência que possui, sendo cega ou com baixa visão . No desenvolvimento pessoal de cada indivíduo com deficiência visual, sem dúvida, uma série de fatores ambientais influencia, de maneira negativa ou positiva, e isso contribui para o fortalecimento de suas características . Essa relação ambiental interfere também na maneira como se relacionam, como constroem a imagem do mundo ao seu redor e, ainda, a sua autoimagem . Enfim, de maneira geral, em todos os aspectos que compõem o seu desenvolvimento pessoal e social . Nesse sentido, o meio no qual a criança com deficiência cresce (casa, escola, comunidade, etc .), desempenha um papel fundamental na sua formação . Não é possível deixar de considerar que o estímulo e apoio são importantes ao longo de toda a vida . Com isso, existe uma relação direta de como cada pessoa irá viver a sua condição de deficiência e como será capaz de usar seus outros sentidos (chamados sentidos remanescentes) e, ainda, na forma como utiliza, caso possua, o resíduo visual . Um dos principais problemas enfrentados pelas pessoas com cegueira é o conhecimento do espaço ao seu entorno . Para compreender o contexto de uma pessoa com cegueira, é preciso verificar como é seu dia-a-dia e como ela se relaciona com o ambiente . Reflita! 37 CA PÍTU LO 1 Como a pessoa com cegueira acessa as informações que as outras pessoas captam pela visão? De que maneira tem a dimensão do todo de um objeto ou de um ambiente? Como é a sua locomoção? Quando não é possível utilizar-se o recurso da visão, torna-se mais difícil e trabalhoso as pessoas poderem coletar, processar, armazenar e recuperar precisamente as informações do ambiente . Suporte Sensorial As características sensoriais necessárias a uma pessoa com cegueira, para substituir a visão na tarefa de caracterizar esse ambiente e recolher as informações, são de maior desprendimento psicológico, esforço cognitivo, e de maior dificuldade para totalizar as informações, ou seja, de formar uma imagem mental da totalidade . Assim, durante a primeira infância, os aspectos relacionados com o reconhecimento dos objetos, dos espaços e de alguns conceitos tais como, dentro e fora, perto e longe, liso e áspero, entre outros, devem ser trabalhados, para que não sejam gerados alguns dos problemas no desenvolvimento e aquisição de conhecimentos no futuro . No desenvolvimento posterior, até a adolescência, as pessoas com cegueira podem apresentar um atrasoimportante em relação àquelas com visão normal nos aspectos do seu desenvolvimento cognitivo, mais relacionados aos problemas figurativos e espaciais. Problemas figurativos se relacionam a representação com realismo da natureza, da forma humana e dos objetos criados pelo ser humano. Problemas espaciais dizem respeito a estabelecer-se uma distinção entre imagens bidimensionais e imagens tridimensionais. 38 CA PÍ TU LO 1 Os seres humanos possuem cinco sentidos bem importantes: visão, audição, gustação, olfato e tato . Quando uma pessoa possui deficiência visual, é possível inferir que acabará por utilizar outros sentidos para perceber o mundo a sua volta . Assim, o tato acaba constituindo um dos principais sistemas sensoriais usado pelas crianças com cegueira para entender o mundo ao seu redor, permitindo recolher informações bastante precisas sobre os objetos próximos . No entanto, a identificação dos objetos torna-se mais lenta do que ocorre com o sentido da visão, pois elas precisam explorar a textura, o tamanho e a espessura entre outras características . Isso torna fragmentada e sequencial a exploração dos objetos grandes, o que evidencia a importância de um trabalho para o aprimoramento da percepção tátil, e será imprescindível para a leitura do Braille e distinção das diferentes texturas e relevos nos materiais pedagógicos, tais como: mapas, tabelas, etc . O sentido da audição também exercerá grande importância no desenvolvimento e construção individual da aprendizagem da pessoa com cegueira ou baixa visão, pois além de ser utilizado para a comunicação verbal, é empregado para a localização e identificação de pessoas e objetos no espaço . Quanto mais desenvolvida a habilidade de ouvir e identificar fontes sonoras, mais facilidade o estudante terá com os audiolivros, ou para diferenciar, por exemplo, o som de um ônibus com o de um caminhão . A identificação de fontes sonoras deve ser estimulada e desenvolvida em uma criança cega, que deve ser estimulada pelas famílias e apoiada por atividades de estimulação precoce, podendo ser no Atendimento Educacional Especializado, ou em Centros de Reabilitação . O tato pode ser subdivido em: sistema somatosensorial (identificação de texturas), propriocepção ou cinestesia (reconhecimento da localização espacial do corpo), termocepção (percepção da temperatura) e nocicepção (percepção da dor) . 39 CA PÍTU LO 1 Faça este exercício! Sente-se próximo a uma rua, feche os olhos e tente perceber os diferentes sons ao seu entorno . Você conseguiria diferenciar a direção do som? Perceberia como ele é produzido? Diferenciaria os tipos de sons? O olfato também serve para que as pessoas com cegueira possam reconhecer alguns objetos e ambientes, apoiando os demais sistemas sensoriais na complexa tarefa de conhecer os objetos, os espaços, entre outros . Você poderia dar pistas de endereços e localizações utilizando o olfato . Sabe como? Ao passar a padaria, dobre a esquerda . Como o aroma exalado por uma padaria é inconfundível, então esse poderia ser um bom ponto de referência para um cego . Ainda, não se pode esquecer da importância para o sistema proprioceptivo, o qual fornece informações imprescindíveis para a orientação espacial e mobilidade na ausência da visão . Ao contrário da crença popular, as pessoas cegas não têm supersentidos, ou os outros sentidos mais desenvolvidos do que a maioria das pessoas, como por exemplo, ouvir melhor, ou ter maior tato ou olfato . No entanto, aprendem a utilizar melhor esses sentidos e os aplicam para finalidades distintas, construindo um sistema de compensação da sua deficiência . Essa compensação se refere à plasticidade do sistema psicológico humano para utilizar em seu desenvolvimento e aprendizado vias alternativas as empregadas por quem possui visão normal . O funcionamento do sistema psicológico humano é muito plástico, e podem ser construídos caminhos alternativos na ausência de um sistema sensorial tão importante como a visão . (OCHAÍTA; ROSA, 1993) . De acordo com Vygotski (1997) [ . . .] o processo de compensação é de natureza social, sendo produzido pela mediação semiótica . Assim, embora sejam processos básicos para o desempenho de várias funções e competências como a orientação, a mobilidade e a aprendizagem da simbologia Braille, Propriocepção, também conhecido como cinestesia, é a estrutura orgânica que entre outras funções, informa o cérebro sobre o estado de cada segmento do corpo humano, sobre a relação entre cada segmento e o todo corporal. Informa também sobre a relação do corpo com o espaço que o rodeia. 40 CA PÍ TU LO 1 não são apenas esses sentidos remanescentes as alternativas de desenvolvimento na cegueira congênita . A articulação de linguagem e o pensamento, em sua função de conferir à realidade uma existência simbólica, por meio de suas propriedades de representação e generalização, também permite àqueles que possuem deficiência visual o acesso mediado ao universo visual de nossa cultura . Assim, como dizia Vigotski, é a palavra que vence a cegueira e não apenas a audição ou o tato . (apud NUERNBERG, 2010, p . 134) . O Desenvolvimento dos sentidos remanescentes nas pessoas com deficiência visual é fundamental para que o aprendizado seja completo e significativo . Por isso mesmo, o docente tem um importante papel nessa construção, proporcionando aos alunos a exploração do ambiente e de seu próprio corpo, a estimulação dos sentidos, a iniciativa e a participação . A maioria das pesquisas realizadas nos últimos anos sobre o desenvolvimento cognitivo de crianças com deficiência visual mostra que, ao atingir a adolescência e/ou idade adulta, elas podem chegar a um nível de desenvolvimento funcional equivalente ao das pessoas que enxergam . Nesse ponto, é de fundamental importância as variáveis apresentadas pelos sujeitos e o tipo de deficiência visual . Isso porque o resíduo visual dos quais se dispõem ou não, decide, em certo modo, o nível da implicação funcional dos outros sentidos no ato de perceber . Por outro lado, a experiência visual prévia também influencia de maneira notável o modo pela qual são organizadas as funções perceptivas . Em resumo, pode-se afirmar que os sentidos desempenham um papel fundamental, pois, por meio deles, a pessoa cega explora, conhece e se orienta espacialmente, e de certa forma tem o acesso a informações, independência e aprendizagem . É importante que você compreenda que sentidos e capacidades uma pessoa cega possui ou é capaz de desenvolver . Dessa forma, você poderá interagir com os seus alunos e alcançar significativos avanços na sua aprendizagem e desenvolvimento . Acompanhe as descrições a seguir: 41 CA PÍTU LO 1 Percepção Auditiva Permite distinguir as vozes, os sons e, assim relacionar-se com o ambiente. Desempenha um papel fundamental, uma vez que é utilizada na orientação espacial. Permite reconhecer as vozes de seus pais, irmãos, docentes e colegas, e, ainda, distinguir o quão longe é o som e a sua direção. Linguagem A língua desempenha um papel fundamental na vida e no aprendizado do aluno com de�ciência visual, porque por meio dela ele desenvolve habilidades de pensamento e aprende a conhecer e compreender o mundo. Assim, o processo de comunicação ajuda na construção de signi�cado e na interpretação dos sinais expressos no ambiente em que opera. Estes indivíduos gradualmente irão adquirindo a capacidade de expressar-se através da comunicação verbal e não-verbal. Por meio da descrição feita das pessoas, objetos e lugares do seu entorno e que lhe interessam, é que se constrói a imagem mental. Memória Essa capacidade ajuda em diferentes atividades, contribuindo, por exemplo, para lembrar a disposição dos quartos dentro de sua casa ou as classes dentro da escola; a localização espacial e as características dos objetos que têm interagido ou que alguém descreveu. Assim, quando se locomover de formaindependente, essa capacidade permitirá lembrar dos nomes das ruas em que transita, os pontos de ônibus e endereços residenciais. A memória colaborará com as habilidades de percepção para que possa desenvolver-se adequadamente e resolver as diversas situações do dia a dia. A memória auxilia, também, no que se chama permanência do objeto, que é a compreensão da existência dos objetos ou pessoas mesmo quando não estão �sicamente presentes. Isso quer dizer que quando alguém fala cadeira, mesmo que não exista nenhuma cadeira no local, a imagem da cadeira vem à mente. Percepção Tátil Permite distinguir temperaturas, texturas, tamanhos e formas. Esse sentido ajuda, desde pequeno, por exemplo, a reconhecer suas roupas (textura dos tecidos, formas e outros acessórios), vestir-se com ela, distinguir seus brinquedos (textura e forma), seus materiais escolares, identi�car as moedas (forma, tamanho, relevo) e orientar-se espacialmente apoiado por outros sentidos. Além disso, através dele é possível aprender a ler e escrever em Braille e usar um computador, um telefone, leitor de MP3 e outros equipamentos eletrônicos, sem necessidade de que suas teclas ou botões estejam rotulados de maneira especial (a exemplo do Braille), percebendo onde estão localizados os botões, da esquerda para a direita ou de cima para baixo. 42 CA PÍ TU LO 1 Compreender os aspectos e particularidades da deficiência visual, as diferentes características, origens e suas implicações no contexto educacional e social, bem como os sentidos remanescentes, auxiliará você, docente, no trabalho com estudantes que apresentem tais especificidades . É importante perceber que esses estudantes têm as mesmas potencialidades que outros, pois não é a deficiência que limita a capacidade de aprender, mas sim a falta de estimulação e acesso ao conhecimento . Por isso, torna-se fundamental adequar as estratégias de ensino, objetivando a aprendizagem e o desenvolvimento integral de todos os estudantes . Acompanhe a seguir uma história que pode melhorar seu entendimento sobre o que foi apresentado neste capítulo . O homem morcego Daniel Kish, californiano, é cego desde que era um bebê, mas isso não foi empecilho para viver uma vida ativa e cheia de aventuras, tais como realizar trilhas e praticar mountain bike. Para ter autonomia nessas atividades, ele desenvolveu uma forma de ecolocalização humana, utilizando ondas sonoras para construir uma imagem mental do que o cerca. Seu método envolve estalar a língua contra o céu de sua boca. Quando Kish estala a sua língua, o mundo responde; tudo que o rodeia é mapeado e identificado em seu cérebro usando informações obtidas a partir do som que ecoa de uma série de estaladas de língua que ele faz duas ou três vezes por segundo, desenvolvendo uma espécie de sonar. Essa técnica fez com que ele ficasse conhecido como ‘’homem-morcego’’. - “É o mesmo processo usado por morcegos” - afirma. - “Você envia um som ou uma chamada, e ondas sonoras são ondas físicas, elas rebatem em superfícies físicas. Assim, se uma pessoa está estalando a língua e está ouvindo as superfícies ao seu redor, ela é capaz de ter um senso instantâneo da posição dessas superfícies.” Segundo Kish, além de servir para que se guie e pratique esportes, sua técnica permite que ele aprecie a beleza das coisas ao seu redor. Kish dedica boa parte de seu tempo a treinar outras pessoas nessa técnica, que ele chama de Flash Sonar, por meio de uma organização sem fins lucrativos, chamada World Access for the Blind (Acesso Mundial para os Cegos). Fonte: Adaptada de reportagem da Revista Superinteressante (2012) – Mutantes Reais 43 CA PÍTU LO 1Ao final deste capítulo, é possível concluir que a pessoa com cegueira busca compensar a ausência ou diminuição da visão, usando os recursos e capacidades de que dispõe, sejam eles físicos, intelectuais ou psicológicos . Tais capacidades são as mesmas de que todos nós, seres humanos, dispomos, porém, a criança, o jovem e o adulto com deficiência visual atribuem a elas outras funções, explorando-as melhor, com base em suas necessidades específicas . Nesse capítulo, você foi convidado a conhecer vários aspectos da deficiência visual e da surdocegueira . Eis alguns pontos importantes do que foi estudado: » A deficiência visual é classificada como adquirida ou hereditária e suas causas podem ser pré-natal, perinatal ou pós-natal . » A deficiência visual é caracterizada por uma limitação total, ou muito grave da função visual, podendo ser a cegueira ou a baixa visão (ou visão subnormal) . » A pessoa com cegueira é a que não têm nenhuma espécie de visão ou têm apenas percepção de luz sem projeção . » A pessoa com baixa visão é a que tem um grau de visão que pode variar desde a percepção luminosa e a percepção de objetos, até a acuidade visual correspondente a 30% . » A pessoa com surdocegueira é a que tem perda auditiva e visual concomitantemente, porém não é a soma de duas deficiências e, sim, uma deficiência específica com abordagens e metodologias próprias . Um dos mecanismos de comunicação utilizado por essas pessoas é o TADOMA . » As ajudas técnicas e os recursos de Tecnologia Assistiva auxiliam as pessoas com deficiência visual a superar as barreiras de acesso ao conhecimento . » Para enxergar algo, primeiro a imagem entra na córnea em direção à iris, passa pela pupila, chega ao cristalino e é focada sobre a retina . A retina, por meio das células, transformam as ondas luminosas Síntese do capítulo 44 CA PÍ TU LO 1 em impulsos eletroquímicos transmitidos ao cérebro, o qual faz a decodificação da imagem e a direção do movimento dentro do campo perceptivo . » Os sentidos remanescentes desempenham um papel fundamental no desenvolvimento da criança cega . Por meio deles, a criança explora, orienta-se espacialmente, tem acesso ao conhecimento, torna-se independente e aprende . Você pode anotar a síntese do seu processo de estudo nas linhas a seguir: 45 CA PÍTU LO 1 1) Considerando o que foi apresentado neste capítulo, discuta com sua turma o funcionamento do olho e as diferentes maneiras de ver . Sugere- se uma pesquisa na internet para aprimorar essa reflexão . Atividades de aprendizagem 46 CA PÍ TU LO 1 2) Em grupo, realize uma atividade de vivência . Usando uma venda em seus olhos, sinta com os seus sentidos remanescentes alguns objetos diferentes que lhe serão oferecidos por outro colega do grupo . Sugere-se que o objeto não seja muito usual e comum aos sentidos, não sendo fácil de perceber . Depois de retirada a venda e visualizado os objetos, discuta sobre a experiência e a importância do desenvolvimento dos sentidos remanescentes . Registre aqui uma síntese do foi discutido . 47 CA PÍTU LO 1 Para ampliar seus conhecimentos sobre o que foi apresentado neste capítulo, sugerimos a leitura complementar do livro: MOSQUERA, Carlos Fernando França . Deficiência Visual na Escola Inclusiva. Curitiba: Editora IBPEX, 2010 . Assista também aos seguintes filmes: » A primeira Vista Adaptação do texto de Oliver Sacks do livro Um antropólogo em Marte . Nesse filme existe um casal apaixonado; ele é cego e ela não, porém um novo tratamento experimental pode fazer com que ele enxergue, e isso muda completamente suas vidas . Procure perceber na trama o uso dos sentidos remanescentes, e como o cérebro pode processar as imagens mentais por diferentes sentidos . É possível compreender como elaboramos os conceitos com as diferentes maneiras de ver . » Janela da Alma 19 pessoas com diferentes graus de deficiência visual, desde discreta miopia à cegueira total, dão seus depoimentos de como se veem e como enxergam o mundo . O significado de ver ou não ver em um mundo saturado de imagens e também a importância das emoções como elemento transformador da realidade ¬ se é que ela é a mesma para todos . » O Milagre de Anne Sullivan A incansável tarefa de Anne Sullivan, uma professora,ao tentar fazer com que Helen Keller, sua aluna cega, surda e muda, se adapte e entenda (pelo menos em parte) as coisas que a cercam . Para isso, entra em confronto com os pais da menina, que sempre sentiram pena da filha e a mimaram, sem nunca terem lhe ensinado algo nem lhe tratado como qualquer criança . » Vermelho da Cor do Céu A luta de um garoto cego, durante os anos 70, contra tudo e todos para alcançar seus sonhos e sua liberdade . Mirco é um jovem toscano de dez anos, apaixonado por cinema, que perde a visão após um acidente . Uma vez que a escola pública não o aceita, é enviado para um instituto de deficientes visuais em Gênova . Lá, Aprenda mais... 48 CA PÍ TU LO 1 descobre um velho gravador e passa a criar histórias sonoras . O filme é baseado na história real de Mirco Mencacci, um renomado editor de som da indústria cinematográfica italiana . » Curta-metragem: Cego e amigo Gedeão à beira da estrada O filme de ficção de Ronald Palatnik, de 2002, está disponível na internet . Ele serve para ilustrar o mito da superestimação da audição de uma pessoa cega, como prova de que reconhece os carros pelo som do motor, um cego conta uma história pra lá de inusitada . Além deles, alguns filmes infantis que abordam a diversidade, como: » Sherek » O corcunda de Notre Dame » Procurando Nemo » A Bela e a Fera Para complementar, indicamos algumas obras de Literatura Infantil, que abordam temas como preconceito e diferença que poderiam ser trabalhados com os alunos: GALASSO, Lô . Mãos de Ventos e Olhos de Dentro . São Paulo: Editora Scipione, 2008 . CANNON, Jamell . Estellaluna . São Paulo: Rocco, 1997 . LEDO, Ivo . O canário azul. Série Diálogo . São Paulo: Scipione, 1997 . MELLO, Cléo Buarque . A turma do agito diferente: com outras formas de pensar, ver, ouvir, falar, andar . . . Niterói: Lachâtre, 1999 . ROSS, Tony . Esta é Sílvia . Florianópolis: Moderna, 2001 . A pessoa com deficiência visual no contexto escolar Objetivo geral de aprendizagem » Compreender o processo de inclusão das pessoas com deficiência visual, bem como os recursos e técnicas de apoio que auxiliam a compreensão e o acesso aos conteúdos escolares e as aprendizagens cotidianas desse grupo. Seções de estudo Seção 1 – A inclusão escolar da pessoa com deficiência visual Seção 2 – Meios de acesso ao currículo: recursos pedagógicos de apoio Seção 3 – Orientação, mobilidade e atividades de vida autônoma Reglete, punção, sorobã, que recursos são esses? Como eles podem fazer parte do cotidiano da sala de aula? Como ensinar um estudante que não vê? Quais são as possibilidades de adequação e adaptação das práticas pedagógicas? Essas e outras questões serão apresentadas no capítulo que segue; venha conhecer um pouco desse universo onde o “ver” tem outra dimensão. 2 50 CA PÍ TU LO 2 Você estudará, ao longo deste capítulo, como aconteceu o processo de inclusão das pessoas com deficiência visual, além da contribuição de Vigotsky para a educação dessas pessoas . Quando se fala de inclusão ou em Educação Inclusiva, é fundamental conhecer os recursos pedagógicos e de Tecnologia Assistiva auxiliares na compreensão e acesso aos conteúdos escolares, além das técnicas de atividades de vida autônoma e de orientação e mobilidade que possibilitam o exercício da autonomia e independência de pessoas com deficiência visual . Todos esses aspectos visam à inclusão dessas pessoas nos espaços educacionais, e, consequentemente, possibilitam melhor qualidade de vida . Seção 1 A inclusão escolar da pessoa com deficiência visual Objetivos de aprendizagem » Compreender como ocorreu o processo de inclusão das pessoas com deficiência visual no contexto escolar . » Conhecer a contribuição de Vigotsky para a educação das pessoas com deficiência visual . A história de pessoas com deficiência visual no Brasil não fica distante da trajetória das demais pessoas com deficiência em outros países; foram muitos anos de exclusão, preconceitos, abandono e falta de acesso aos espaços públicos como, por exemplo, as escolas . Anos de luta foram necessários para que elas conquistassem seu espaço . O contexto escolar, mais uma vez, serviu como referência, passando de escola especial, a exemplo da primeira escola para meninos cegos - Imperial Instituto dos Meninos Cegos, criada pelo Imperador D . Pedro II (1840-1889), chegando à escola inclusiva . A inclusão das pessoas com deficiência, até o final da década de 70, não era questionada, pois se defendia a integração . No processo de integração, as pessoas com deficiência visual, bem como as com outras deficiências, deviam se adequar às normas da escola, respondendo, assim, ao mesmo processo pedagógico, ao mesmo ritmo e à mesma avaliação que os outros estudantes . As diferenças eram percebidas, mas não consideradas . O instituto foi criado através do Decreto Imperial nº 1.428, de 12 de setembro de 1854 e atualmente chama- se Instituto Benjamin Constant. O Instituto continua seus trabalhos voltados a pessoas com deficiência visual. 51 CA PÍTU LO 2Os estudantes que não se enquadravam ao processo eram colocados em instituições especiais, como por exemplo, a APAE . No caso da impossibilidade de inserção numa dessas instituições, restava à criança ficar em casa, sem atendimento educacional algum . Entretanto, a partir dos anos 80, num processo de discussão da exclusão e segregação vivida por esse grupo, que já vinha sendo iniciado timidamente no final da década de 70, lançou-se uma nova proposta – a Inclusão . Na proposta da Educação Inclusiva, desloca-se o olhar das chamadas limitações dos estudantes para as adequações nas escolas, pois elas precisam estar aptas para atender às necessidades de todos os alunos . Com o propósito de substituir essa educação discriminatória, a qual não buscava desenvolver as potencialidades dos estudantes com deficiência, acolhe-se a proposta de Inclusão Escolar . Essa proposta, surgida no Brasil em 1990, já vinha sendo discutida e formalizada em diversos países, com a premissa de “Educação para Todos” . Algumas legislações já consideravam essa premissa em sua redação como, por exemplo, a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e a Constituição Federal de 1988 . Duas conferências foram fundamentais na constituição do processo de inclusão: a Conferência Mundial sobre Educação para Todos, em Jomtien, na Tailândia (1990), e a Conferência Mundial sobre Educação Especial (1994), que serviu de base para a criação da “Declaração de Salamanca”, documento também importante que possibilitou um movimento a favor da inclusão, fazendo com que órgãos federais e estaduais estabelecessem diretrizes para a Educação Inclusiva e oficializassem legalmente a matrícula de crianças com deficiência nas escolas regulares . Na proposta de inclusão, é estabelecido que a sociedade deva se preparar para receber as pessoas com deficiência, atendendo as suas necessidades específicas . Nesse modelo, as pessoas com deficiência devem participar dos mesmos espaços e conviver com outras pessoas, com e sem deficiência . Perceba que a inclusão se constitui num processo contínuo de movimento dialético e dinâmico na luta pelos direitos dos excluídos . 52 CA PÍ TU LO 2 Segundo Ross (1999, p . 03), incluir “é oferecer mudanças para manifestação do humano e não a simples readequação físico-espacial dos sujeitos” . Dessa forma, incluir é romper com posturas preconceituosas, é exercitar um profundo respeito pelas diferenças . Para construir uma postura inclusiva, é fundamental que se rompam os binômios normal/anormal, superior/inferior, entre outros, rejeitando a construção de padrões únicos . Desse modo, o processo de inclusão remete a um processo constante de conhecimento e reciprocidade . De acordo com Santos (2002, p . 09), “a inclusão se origina da mesma fonte que a integração, no sentido em que ambas têm a preocupação com a democratização ea humanização da vida social” . Entretanto, o movimento de inclusão rompe com o movimento de integração, porque abrange aspectos como a reformulação do sistema e a questão da reciprocidade, antes não consideradas . Para Nassif, o conceito de integração apoia-se em um modelo médico de deficiência; já o conceito de inclusão apóia-se num modelo social de deficiência . Ao explicar esses conceitos, a autora declara: No modelo médico, a deficiência é considerada um dano ou prejuízo em um órgão ou função, portanto, um conceito que se propõe “curar” a deficiência, ou seja, tornar a pessoa mais próxima possível de uma pessoa “normal”, em transformá-la para que ela possa ser aceita numa determinada comunidade, em torná-la o máximo possível igual àqueles que não possuem deficiência . A preocupação é de preparar a criança para estar na escola, ajudando-a a adquirir as habilidades de que ela precisa, sem a pressuposição de mudança na escola . O modelo social de deficiência, por outro lado, considera que essa é uma condição do sujeito, que deve ser respeitada levando- se em conta suas capacidades e possibilidades e que a comunidade deve recebê-lo como ele é, enriquecendo-se pela convivência com a diversidade . Chama a atenção para as barreiras sociais, muitas vezes mais prejudiciais do que a própria deficiência . (NASSIF, 2007, p . 237- 238) . O processo de integração não propõe nenhuma mudança na estrutura social, ficando a cargo do indivíduo a responsabilidade de se “adequar” ao sistema (MANTOAN, 1998) . Já o processo de inclusão exige uma mudança na estrutura social, na organização da sociedade para atender aos interesses e necessidades das pessoas, não se reduzindo ao atendimento das pessoas com deficiência, mas ao atendimento de todos . Assim, a inclusão é compreendida como um direito de todos, construído historicamente num processo dinâmico de luta dos excluídos, tendo por alicerce os princípios humanistas e de direitos humanos . 53 CA PÍTU LO 2 O processo de integração não propõe nenhuma mudança na estrutura social, ficando a cargo do indivíduo a responsabilidade de se “adequar” ao sistema (MANTOAN, 1998) . Já o processo de inclusão exige uma mudança na estrutura social, na organização da sociedade para atender aos interesses e necessidades das pessoas, não se reduzindo ao atendimento das pessoas com deficiência, mas ao atendimento de todos . Assim, a inclusão é compreendida como um direito de todos, construído historicamente num processo dinâmico de luta dos excluídos, tendo por alicerce os princípios humanistas e de direitos humanos . Nessa perspectiva, ao se pensar em uma escola inclusiva, é preciso visualizar uma escola para todos, onde se acolhem todas as crianças, independentemente de suas condições físicas, sensoriais, sociais, emocionais, linguísticas e culturais . Para tanto, devem-se garantir algumas ações como: permitir a convivência respeitosa de todo o corpo escolar com as diferenças; desenvolver a capacidade das pessoas de enfrentar o inesperado e o novo; desenvolver as potencialidades dos alunos e não reforçar os limites, desafiando, instigando e estimulando; levar o aluno a ter uma autorreflexão crítica sobre si e sobre o mundo em que vive; possibilitar uma educação que dê sentido e significado à vida do aluno; possibilitar interações sociais de respeito e troca entre os alunos, entre outras possibilidades . Portanto, para que a inclusão aconteça no espaço escolar, é necessário: que a escola se torne um ambiente de cooperação, em que os alunos sejam estimulados a cooperar ao invés de competir, que se estabeleçam relações sociais de trocas; que os professores se tornem mais próximos dos alunos, assumindo a responsabilidade individual e coletiva de construir uma escola inclusiva; que a escola tenha parceria com os pais e a comunidade; que forme uma rede de apoio que auxilie professores, alunos e a escola como um todo na orientação e no atendimento aos alunos com deficiência; que possibilite um ambiente educacional organizado para atender às diferentes formas de aprender e às necessidades educacionais dos alunos e que flexibilize o currículo e as avaliações, visando a atender a especificidades dos alunos, considerando os limites e as potencialidades desses mesmos alunos . Para que isso aconteça, é importante que mudanças significativas ocorram dentro e fora da escola . Transformar uma escola em uma escola inclusiva não é uma tarefa simples, pois exige mudanças profundas . Tais mudanças não são de responsabilidade unicamente do professor, e sim de todo o conjunto de profissionais da escola, das famílias, da comunidade e do governo . A constituição de uma rede de apoio, considerando esses agentes, é fundamental . Destacamos, aqui, a importância da família como uma grande parceira nesse processo . Geralmente, a relação com a família centra- se em situações de conflitos surgidas na relação família-aluno-escola, mas é importante que a família seja resgatada a estabelecer diálogo com a escola como um parceiro no processo de inclusão . Quando essa estrutura inclusiva adentrar o espaço escolar com naturalização, com responsabilidade e participação de todos, o estudante com deficiência visual terá maior autonomia no seu processo de aprender . Além disso, de acordo com Mosquera (2010, p . 09), [ . . .] para que a escola regular se consolide nas propostas mais democráticas, não basta apenas a implantação das dimensões dos saberes, é preciso muito mais . Ainda necessitamos de novos 54 CA PÍ TU LO 2 referenciais teóricos para a consolidação da valorização das diferenças dos alunos e o incentivo dos potenciais individuais, ou seja, da estrutura inclusiva . A educação das pessoas com deficiência visual aparece como uma das preocupações de Vigotsky . Esse autor se dedica a entender mais especificamente o desenvolvimento psicológico na presença da cegueira . De acordo com Nuernberg, Ao revisar as perspectivas teóricas de seu tempo sobre o desenvolvimento e educação de cegos, Vigotsky nega a noção de compensação biológica do tato e da audição em função da cegueira e coloca o processo de compensação social centrado na capacidade da linguagem de superar as limitações produzidas pela impossibilidade de acesso direto à experiência visual . (2008, p . 311) . Vigotsky supera a visão quantitativa da deficiência, baseada na mensuração e classificação de graus e níveis de incapacidade, defendendo a análise qualitativa da deficiência, enfatizando a importância da valorização das dimensões sociais do sujeito . Masini (2007) mostra com clareza a compreensão do significado da deficiência trazida por Vigotsky e sua crença no potencial humano, ao relatar: A cegueira, ao criar uma formação peculiar de personalidade, reanima novas fontes, muda as direções normais do funcionamento e, de uma forma criativa e orgânica, refaz e forma o psiquismo da pessoa . Portanto, a cegueira não é somente um defeito, uma debilidade, senão também em certo sentido uma fonte de manifestação das capacidades, uma força . (Por estranho que seja, semelhante a um paradoxo) (VIGOTSKY, 1997 apud MASINI, 2007, p . 03) . Para esse autor, o conhecimento é produto constituído num processo de apropriação estabelecido pela mediação do social, onde o sujeito constitui e é constituído nas relações sociais . Assim, não é possível reduzir a aquisição do conhecimento ao aspecto sensorial, como a audição e o tato . Na teoria de Vigotsky, as crianças com deficiência apresentam um tipo de desenvolvimento qualitativamente diferente . Assim, a criança cega pode ter o mesmo desenvolvimento do que a criança sem deficiência, mas se desenvolvem de modo distinto, por intermédio de diferentes meios . (VIGOTSKY, 1997, p . 12) . Nesse sentido, é importante que o professor conheça seu aluno e o caminho para sua aprendizagem . Nas palavras de Nuernberg, Vigotsky elaborou uma crítica veemente às formas de segregação social e educacional impostas
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