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0 APOSTILA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Profa. Évelyn Cintra Araújo PUC/GOIÁS 2018 2 1 INTRODUÇÃO Se pudéssemos conceituar Direito diríamos que é “o conjunto das normas gerais e positivas que regulam a vida social”. Portanto, o principal objetivo do Direito é harmonizar as relações sociais intersubjetivas; é tornar possível a vida em sociedade, conferindo-lhe ordem (ubi jus ibi societas – não há direito sem sociedade) através de regras de conduta dotadas de coercibilidade. Estabelecido o direito objetivo, faz nascer, por outro lado, a prerrogativa ou a faculdade individual de exigir o cumprimento dos preceitos que lhe diga respeito. Portanto, se a norma diz que “todos são iguais”, surge para cada um o direito de ser tratado sem discriminação. Fala-se, então, em direito subjetivo. A facultas e a norma são os dois lados de um mesmo fenômeno: um é o aspecto individual, o outro o aspecto social. Qualquer direito pode ser apreciado pelo lado do indivíduo, que dele extrai uma segurança jurídica ou uma função, como pelo lado do agrupamento social, que institui uma regra de conduta. O direito subjetivo manifesta-se através de uma relação jurídica, a qual pressupõe um sujeito, que é o ser a quem a ordem jurídica assegura um poder ou um dever de agir; um objeto, que é o bem ou a vantagem sobre a qual o sujeito exerce tal poder ou dever; e um vínculo, que é o liame que une ambos os sujeitos ou partes entre si e estes com o objeto, formando a relação jurídica. A vida em sociedade produz uma série de relações, que, quando protegidas pela ordem jurídica, transformam-se em relações jurídicas, como o casamento, o emprego, o aluguel de um imóvel etc. Todas elas são motivadas pelo desejo de satisfazer um direito subjetivo (para Ihering, direito subjetivo é “o interesse juridicamente protegido”), ou seja, uma necessidade, um interesse (formar uma família, ganhar dinheiro, ter um lugar para morar etc). Quando isso ocorre fala-se em relação jurídica material. Mas pode acontecer que, numa relação jurídica material entre A e B, os interesses sejam opostos; por exemplo, A quer manter o casamento, mas B não. Surge, então, um conflito de interesses, ou seja, um “choque de duas ou mais vontades sobre o mesmo objeto”. Nesse momento, se A insiste em manter a sua posição, exigindo que B subordine ao seu interesse, surge o que chamamos de pretensão. Pretensão, portanto, é “a exigência de subordinação de um interesse alheio ao próprio.” Se B ceder, o conflito é resolvido pela satisfação da pretensão de A. Porém, se B resiste, nasce uma lide, que, no conceito brilhante de Carnellutti, nada mais é que “um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida”. 3 Nesse momento ENCERRA O PLANO DE DIREITO MATERIAL1... -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Acontece que, quando o Estado se estruturou e passou a dotar-se de maior poder, trouxe para si a responsabilidade de ditar a solução para os conflitos de interesses, proibindo qualquer espécie de justiça privada (atualmente, excepcionalmente, admite-se a autotutela, como o desforço imediato, a legítima defesa e a greve). O Estado assume, assim, o monopólio da JURISDIÇÃO (que significa dizer o direito no caso concreto), exercido precipuamente por um de seus poderes – o Poder Judiciário. Como consequência da previsão desse direito objetivo à jurisdição (aliás, consagrado a nível constitucional – art. 5º, inciso XXXV – “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”), ofertou-se ao indivíduo, que não podia mais realizar o seu interesse através da própria força, o poder, a prerrogativa, a faculdade, o direito subjetivo de bater às portas do Judiciário para exigir a solução do litígio que porventura pudesse estar envolvido. Tal direito subjetivo de provocar a jurisdição denominou-se direito de AÇÃO. Mas, como ele é exercido? O direito de ação é exercido através de um ato processual chamado demanda. Portanto, demanda é o ato processual pelo qual o autor exercita o direito de ação. Este ato materializa-se através de um instrumento denominado petição inicial. Mas, assim como se assegura ao autor o direito à tutela jurisdicional, o qual é exercido por meio do direito de ação, ao réu é garantido direito correlato, dando-lhe a chance de receber a prestação jurisdicional (direito à análise do mérito; de preferência, no sentido de improcedência do pedido do autor – tutela jurisdicional negativa). A este direito dá-se o nome de direito à defesa, previsto constitucionalmente no art. 5º, LV. O direito de defesa é exercido através de alguns atos, quais sejam, a contestação e a reconvenção, os quais se materializam também através de uma petição, que, por não mais ser inicial, é chamada genericamente de petição interlocutória. Oportunizado ao réu o direito de defesa, independentemente se ele o tenha exercido ou não através de quaisquer daqueles atos, tem-se por formado o PROCESSO completamente. Assim, o processo poder ser entendido como sendo a relação jurídica de direito público (processual) que une autor, juiz e réu, e que se exterioriza e se desenvolve pela sequência ordenada de atos com vistas a um fim, qual seja, a sentença. 1 As leis classificam-se, quanto à sua natureza, em materiais ou substanciais (as que regulam o direito em si) e formais ou processuais (modo de realização da lei material - atos processuais). 4 O processo será civil (ou de natureza cível, como queira) se a lide posta em juízo se instaurou em virtude de qualquer ramo do direito que não seja trabalhista ou penal (que possuem processos próprios correlatos, a saber, processo do trabalho e processo penal), ou seja, em virtude de um direito pertencente ao Direito Civil, Empresarial, do Consumidor, Tributário etc. Para regular o processo, o Estado criou um conjunto de normas jurídicas que formam o chamado Direito Processual, também denominado de formal ou instrumental, por servir de forma ou instrumento de atuação da vontade concreta das leis de direito material ou substancial, que solucionarão as lides colocadas pelas partes em juízo. 1.1 Conceito de Direito Processual Civil A bem da verdade, Direito Processual é um só. A divisão em sub-ramos (Processo Civil, Processo Penal, Processo do Trabalho etc) e suas respectivas legislações são de ordem prática e didática, conforme a natureza da lide posta em juízo. Todavia, se pudéssemos individuar e conceituar, diríamos, com auxílio da doutrina mais robusta nessa matéria, que Direito Processual Civil é “o complexo de normas e princípios que regem o exercício conjunto da jurisdição pelo Estado, da ação pelo demandante e da defesa pelo demandado” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO). Ou, ainda: “é o ramo da ciência jurídica que trata do complexo das normas reguladoras do exercício da jurisdição civil”. (AMARAL SANTOS; THEODORO JÚNIOR). Por fim, uma das melhores conceituações é a trazida pelo processualista italiano Chiovenda, para quem o Direito Processual Civil é “o ramo da ciência jurídica que trata do complexo das normas reguladoras do exercício da jurisdição civil” (CHIOVENDA). É, portanto, ramo do direito público, não se confundindo com o direito material que instrumentaliza (este normalmente pertencente ao direito privado, p. ex., D. Civil), devendo, portanto, sempre ser afastada a denominação direito adjetivo, por aludir a uma relação de dependência do direito processual para com o direito material, o que, na verdade, não existe. Enquanto o direito material cuida de estabelecer as normas que regulam as relações jurídicas entre os particulares, o direito processual visa regular uma das funções soberanas do Estado (função jurisdicional).Dessa forma, ainda que a lide seja eminentemente de interesse privado, há no processo sempre um interesse público, qual seja, a pacificação social e a manutenção da ordem jurídica. 5 1.2 Evolução Histórica do Direito Processual Civil A história do Direito Processual Civil processo se desenvolveu em 3 fases: imanentista, científica e instrumentalista. 1.2.1 IMANENTISTA (do Direito Romano até 1868) Também conhecida por fase civilista ou privatista, a fase imanentista surgiu no Direito Romano, tendo como principais expoentes Celso, Ulpiano e Savigny, e durou até meados de 1868. Durante toda a sua longa existência, o imanentismo foi “evoluindo”, razão pela qual pode ser melhor compreendido em sub-fases, quais sejam: a) primitiva ou das legis actiones (das ações da lei) => havia 5 ações da lei, as quais deviam ser manejadas pelas partes com muito rigor e formalismo, sob pena de perder a demanda caso se equivocasse em uma palavra ou gesto (não havia advogados). b) período formulário => com a expansão do Império Romano, o manejo das 5 ações da lei ficou limitado. O magistrado, agora, examinava a pretensão do autor e a defesa do réu, e concedia uma fórmula de ação capaz de compor especificamente o conflito (ele fixava o objeto do conflito, cabendo ao árbitro, escolhido entre os cidadãos, o julgamento da causa – semelhante ao instituto do Júri Popular). Já havia advogados e princípios do livre convencimento do juiz e do contraditório. c) fase da cognitio extraordinária => desaparecem os árbitros, surgindo a figura do juiz como o único investido do poder jurisdicional. O procedimento passa a ser eminentemente ESCRITO, compreendendo desde o pedido do autor até a sentença e sua execução. Porém, com a queda do Império, o processo civil sofreu um retrocesso ao ser influenciado pelo direito do povo bárbaro-germânico, caracterizado pelo formalismo exacerbado, fanatismo religioso e misticismos. Foi nesse contexto que surgiram os chamados “juízos de Deus”, “duelos judiciais” e “ordálias”. O processo era FORMAL, e as provas produzidas deviam ser interpretadas segundo regras legais, não possibilitando qualquer participação do juiz. Este só reconhecia o cumprimento/realização da “prova” e fixava a sentença segundo as regras do direito positivo. Não se buscava a verdade real, mas a formal, pois se acreditava na INTERFERENCIA DIVINA nos julgamentos (autênticos jogos de azar ou rituais de bruxaria). Entretanto, com o fim de preservar o direito romano, surge o Direito Canônico e o direito desenvolvido pelos glosadores nas Universidades, que, em conjunto com o direito germânico, formaram o chamado PROCESSO COMUM, que vigorou desde os séculos XI até XVI. 6 O processo comum era escrito, lento e extremamente complicado. Mas, dele se extraíram as características que, aperfeiçoadas, inspiraram o processo moderno. Foram abolidas as ordálias e juízo de deus, mas a tortura continuou até o século passado, como meio de obtenção da verdade. Somente após a Revolução Francesa retomou-se o conceito de livre convencimento do juiz, relativamente às provas, eliminando a tarifa legal, primeiramente no processo penal, depois no civil. Conclui-se que, na fase imanentista, o direito processual era totalmente confundido com o direito civil (privado e material). Portanto, havia uma grande confusão metodológica entre ambos, negando-se a existência autônoma do processo, o qual se encontrava imanente, ou seja, dependente do direito material. Para os imanentistas, só havia ação se houvesse direito material e vice-versa. Obviamente que tal teoria não prosperou, pois não conseguiram explicar, por exemplo, a possibilidade de o autor lançar mão da ação e do processo para buscar justamente a declaração de inexistência de um direito (ação declaratória negativa). Esqueceram-se também de que, ainda que ação fosse declaratória positiva, o juiz poderia julgar improcedente o pedido, negando a existência do direito; ou, por fim, poderia o magistrado simplesmente decretar a prescrição (perda da pretensão) mesmo tendo havido o exercício da ação e a instauração do processo. 1.2.2 CIENTÍFICA (de 1868 a 1950) Com o fracasso do imanentismo, as doutrinas alemã (expoentes: Oskar Von Bulow, Windscheid) e italiana (Calamandrei, Chiovenda, Carnelutti, Liebman), desenvolveram a teoria do processo como ciência autônoma, uma vez que fora finalmente reconhecida a sua total independência em relação ao direito material. Enquanto este sempre teve uma configuração linear (sujeitos ativo/passivo; objeto – bem da vida; e vínculo de direito material), o processo revela-se como uma relação jurídica triangular, com elementos próprios e distintos (sujeitos ativo/passivo e o Estado-juiz; objeto – pedido; e vínculo de direito processual). Assim, haveria duas relações jurídicas autônomas: a material e a processual, as quais não se confundiam. Consequentemente, o direito processual passou a ser compreendido como ramo autônomo e público, com institutos e princípios próprios. As provas deixaram de ser tarifadas e passaram a ser valoradas pelo juiz segundo critérios próprios (deixando de atuar como expectador da vitória do mais hábil), tendo amplos poderes, inclusive, na sua produção; etc. 7 Todavia, o processo passou a ser intensamente estudado como objeto autônomo, deixando de servir ao direito material, o que criou excessos formalistas. Dessa forma, tal processo era permeado por ideais iluministas e liberalistas, onde a propriedade individual, a autonomia da vontade e a titularidade do direito de agir exclusiva ao titular do direito privado eram “a pedra de toque”. 1.2.3 INSTRUMENTISTA (de 1950 aos dias atuais) Por forte influência das doutrinas de Garth (EUA) e Cappelletti (ITA), os intrumentistas ou instrumentalistas vão além dos autonomistas e veem o processo como instrumento não só de realização dos interesses particulares, como também de pacificação social e realização da lei, portanto, mais efetivo, realizador da justiça, em tempo hábil e com o menor dispêndio possível. O processo deixa, então, de ser um fim em si mesmo, e passa ser considerado um meio, um veículo para se atingir um fim, qual seja, a solução do litígio por meio de uma tutela jurisdicional efetiva. Dessa forma, reaproxima-se o direito material do processual, sem, contudo, perder a autonomia do processo. 1.3 História do Direito Processual Civil Brasileiro Até a independência, vigorou no Brasil a legislação portuguesa, consistente nas chamadas Ordenações do Reino (Ordenações Afonsinas, de D. Afonso V, de 1446; as Ordenações Manuelinas, de D. Manuel, de 1521; e as Ordenações Filipinas, de Filipe II, de 1603). Tinham por principais características: a) forma escrita, o juiz só podia apreciar o que estava nos autos (verdade formal); b) as partes não participavam da inquirição de testemunhas; c) princípio do dispositivo: autor e réu eram os donos do processo, cuja movimentação era privilégio das partes. Em 1850, o Brasil editou o Regulamento n. 737, o primeiro Código Processual nacional, que visava regular apenas as causas comerciais. Já no período republicano, o referido regulamento alcançou também as causas cíveis, por força da alteração dada pelo Regulamento n. 763, de 1890. Logo após, em 1891, a Constituição estabeleceu a divisão da Justiça Federal e Estadual, e, consequentemente, o poder de legislar sobre processo para cada esfera da federação, dando surgimento a um Código Federal e a vários Códigos estaduais, que acabaram por ser repetições do primeiro. 8 Todavia, a Constituição de 1934 pôs fim aos códigos estaduais, atribuindo exclusivamente à União a competência para legislar sobre processo. Desta feita, uma comissão foi formada para a elaboração de um código unitário, o que redundou no surgimento de nosso primeiro CPC (Código de Processo Civil) em 1939. Como bemnos ensina Sérgio Bermudes (apud THEODORO JR, 2007, p. 17), havia no CPC de 39 “uma parte geral moderna, fortemente inspirada nas legislações alemã, austríaca, portuguesa e nos trabalhos de revisão legislativa da Itália, e uma parte especial anacrônica, ora demasiadamente fiel ao velho processo lusitano, ora totalmente assistemática”. Após 33 anos em vigor, o CPC foi totalmente reformado, com base no Anteprojeto do Ministro Alfredo Buzaid, discípulo direto do processualista italiano Enrico Tullio Liebman (radicado no Brasil no período da 2ª Guerra Mundial, vindo aqui falecer). Daí surgiu o CPC de 1973, o qual sofreu, ao longo de sua vigência, várias alterações e reformas, todas na tentativa de se alcançar, conforme pregam os instrumentalistas, um processo mais efetivo possível. O propósito era abandonar a preocupação exclusiva com conceitos e formas, tão nos bem ensinado pela tradição romana e lusitana, para dedicar-se à busca de um processo de resultados. Todavia, mesmo tendo sofrido diversas alterações, tal código já não atendia os clamores sociais da celeridade processual, bem como ignorava o amadurecimento do sistema de precedentes jurisprudenciais, uma vez que os tribunais passaram a desenvolver cada vez mais mecanismos e procedimentos com vistas a entrega de uma tutela jurisdicional efetiva. Dentro desse contexto, surgiu no Senado Federal o PL n. 166/10, com o fim de elaborar um novo CPC. De autoria de uma comissão de juristas presidida pelo então Min. do STF, Luiz Fux, e subscritado pelo então presidente do Senado, José Sarney, teve por principal objetivo combater a morosidade da Justiça, incorporando ao Direito brasileiro mecanismos consagrados em outros países, como o incidente de resolução de demandas repetitivas, existente no Direito alemão. Outro objetivo foi simplificar o processo civil, eliminando os recursos, como o agravo retido e os embargos infringentes, bem como muitos procedimentos especiais, que muitas vezes retardavam a aplicação da Justiça. Também teve por alvo fortalecer a conciliação extrajudicial, além de processar o réu que deixar de comparecer injustificadamente à fase de conciliação à condenação a ato atentatório à dignidade da Justiça, etc. Assim, depois de mais de 4 anos de tramitação no Senado e na Câmara de Deputados, com intensos debates no Parlamento, em audiências públicas e na comunidade jurídica, finalmente o NCPC foi sancionado, com alguns vetos, em 16 de março de 2015 e publicado no dia seguinte, entrando em vigor no dia 18 de março de 2016. O NCPC é dividido em 2 partes: uma Parte Geral, 9 composta de 6 Livros; e uma Parte Especial, com 3 Livros, totalizando 1.072 artigos, incluindo aí as Disposições Finais e Transitórias. 1.4 Fontes O termo "fontes" provêm de fontos, expressão latina que significa "lugar de onde perenemente nasceu", "nascente de água". Em sentido figurado, fonte é a origem de algo, causa, motivação. Fonte do Direito seria, portanto, a origem do Direito, o seu nascedouro. Trata-se dos fatores reais que condicionaram o aparecimento da norma jurídica, seja elas quais forem (princípios morais, políticos, pareceres, teorias etc), desde que influenciem na criação e aplicação do direito. Fontes do Direito Processual são os lugares de onde provém este ramo do Direito, dentre os quais podemos destacar: a) Constituição Federal => nela se encontram as normas fundamentais aplicáveis ao processo, especialmente no rol do art. 5º, como, por exemplo, os princípios do devido processo legal (inc. LIV), do contraditório e da ampla defesa (LV), da acessibilidade ao Judiciário (XXXV), da proibição de obtenção de provas ilícitas (LVI), da celeridade ou da duração razoável do processo (LXXVIII), além de regras acerca da organização e competência de julgar processos, em única ou última instância, pelos juízes e tribunais (arts. 102 e ss). Vale lembrar, nesse contexto, das emendas constitucionais. À guisa de exemplo, podemos citar a EC 62/2009, que trata do novo regime dos precatórios, e a EC 66/2010, que instituiu o divórcio direto, independentemente do prazo de separação. Em virtude de vários preceitos processuais estarem consagrados constitucionalmente é que se tem falado numa ‘constitucionalização do Direito Processual’, dando origem a uma subdivisão do estudo deste ramo do direito em: Direito Constitucional Processual (consistente num conjunto de normas de índole constitucional que visam garantir o processo, assegurando que este seja mais justo) e Direito Processual Constitucional (consistente num conjunto de normas de índole processual que se encontram na Lei Maior, objetivando garantir a sua aplicação e a sua supremacia. Ex: previsão do mandado de segurança, mandado de injunção, recurso extraordinário). b) Leis Federais => de acordo com o art. 22, I, CF, compete privativamente à União legislar sobre direito processual. Sendo assim, a maioria das leis processuais são federais, sendo a mais importante a Lei n. 13.105/15, ou seja, o CPC. Mas há outras também relevantes como a Lei 10 6.515/77 (lei do divórcio), Lei n. 6.830/80 (execução fiscal); Lei n. 8.245/91 (lei da locação/despejo); Lei 12.016/09 (mandado de segurança) etc. c) Leis Estaduais => as leis estaduais relativas ao processo são suplementares às federais, que são gerais, pois a competência para legislar sobre Direito Processual é de exclusividade da União. Sendo assim, cabem aos Estados legislar apenas sobre procedimentos administrativos de apoio ao processo, como, por exemplo, regras acerca da publicação dos atos processuais na imprensa oficial local. Todavia, calha lembrar que, no que se refere aos Juizados Especiais (art. 24, X, CF), têm os Estados e o DF competência concorrente com a União para legislar sobre processo, desde que não sejam contrárias às normas gerais (instituídas na Lei 9.099), e, nessa hipótese, não há como se negar à lei estadual o caráter de fonte do Direito Processual. d) Regimentos Internos dos tribunais => são conjuntos de normas que regem o funcionamento interno dos tribunais. Tais atos normativos podem conter normas atinentes ao procedimento. Ex:. incidentes de competência dos tribunais, como os incidentes de assunção de competência e de resolução de demandas repetitivas, cujo procedimento é o estabelecido nos RI’s dos tribunais. e) Princípios Gerais do Direito => são regras não escritas que se encontram presentes em todo o sistema, informando-o. Exs:. ‘O Direito não socorre os que dormem’ – primado geral presente em institutos como os da prescrição, decadência, preclusão; ‘O que não está nos autos não existe no mundo jurídico’ ou ‘Alegado e não provado é como não alegado’ – deles derivando regras como a do ônus da prova (art. 373), a do livre convencimento motivado (art. 371) etc. f) Costumes => conduta socialmente aceita e que é realizada para criar uma sensação de obrigatoriedade. Ex:. por força do disposto nos arts. 319, inc. VI e art. 336, do NCPC, autor e demandado devem anunciar, de maneira específica, na petição inicial e na contestação, respectivamente, as provas que pretendem produzir. Há, porém, um hábito de muitos advogados de descumprir esse comando, anunciando apenas que pretendem produzir ‘todos os meios de prova admissíveis no direito’. Por conta dessa práxis (costume), os magistrados, após o encerramento da fase postulatória, tem determinado às partes que especifiquem as provas que pretendem produzir. g) Doutrina => conjunto de lições ou obras dos jurisconsultos acerca do Direito Processual Civil. Ex:. Theodoro Jr.; Nelson Nery Jr; Alexandre Câmara; Amaral Santos; Fidélis dos Santos; 11 Dinamarco; Ada Pelegrini Grinover; Arruda Alvim; Sérgio Scarpinella Bueno; Athos Gusmão Carneiro; Frederico Marques; Ovídio Baptista; Marinoni, Talamini; Elpídio Donizete; Wambier; Didier Júnior; Luiz Guilherme Marinoni; Eduardo Talamini; Elpídio Donizetti;Daniel Amorim Assumpção Neves etc. h) Jurisprudência => decisões reiteradas dos pretórios nacionais sobre idêntica matéria. É inegável a força das súmulas e da jurisprudência dominante dos tribunais (força dos precendentes), principalmente dos superiores, que, no nosso atual sistema, são capazes de fazer recursos fracassarem precocemente ou terem seus méritos julgados procedentes (providos) monocraticamente pelo relator (art. 932, NCPC); ou, ainda, de considerar uma causa com repercussão geral, para fins de conhecimento de recurso extraordinário (art. 1.035, §3º) etc. 1.5 Normas fundamentais e aplicação das normas processuais 1.5.1 Normas fundamentais Os artigos 1º a 12 do CPC consagram princípios e regras aplicável ao processo cível, senão vejamos: - art. 1º => de acordo com este artigo, hoje não é possível compreender o processo civil sem examinar a CF. Isso é reflexo da força normativa da constituição, devendo as normas do CPC estar em conformidade com a CF. - art. 2º => consagra os princípios do dispositivo (da ação ou da demanda) e inquisitivo (ou impulso oficial). Para assegurar a imparcialidade do juiz, a iniciativa do processo e da maioria da prática dos atos processuais cumpre às partes, à sua disposição, sob pena de contumácia. Do princípio do dispositivo derivam-se outros como o princípio da congruência ou da adstrição da sentença ao pedido (arts. 141 e 492). As exceções estão consagradas nos arts. 139, IV, e 297 (poder geral de efetivação e de cautela); art. 370 (produção de provas de ofício = interesse público/busca da verdade real/juiz de mero expectador à posição ativa), do que se conclui que o princípio do dispositivo restringe-se à propositura da ação e aos limites objetivos da lide, mas não à efetivação e à instrução do processo. Obs: a abertura de processo de inventário de ofício não se afigura mais uma exceção no NCPC ao princípio do dispositivo. 12 Convive o princípio do dispositivo harmonicamente com o do inquisitivo, principalmente porque cabe ao juiz, provocada a jurisdição, promover o andamento do feito (art. 2º, 2ª parte), pois é interesse do Estado a rápida solução das causas, não podendo ficar à mercê das partes. - art. 3º => princípio da inafastabilidade da jurisdição, o qual decorre do art. 5º, XXXV, CF. Garante a todos o acesso ao Poder Judiciário, que não pode deixar de atender a quem venha a juízo deduzir uma pretensão, pois a jurisdição é monopólio do Estado. A partir do momento que o Estado trouxe para si a responsabilidade, o poder de tão-somente ele dizer o direito ao caso concreto, na mesma medida atraiu para si o dever de assim o faze-lo, não podendo se eximir de julgar em qualquer situação. Essa é a inteligência dos arts. 4º, LINDB, e art. 140, NCPC, os quais consagram um princípio derivado, denominado de princípio do non liquet. A consequência da garantia da inafastabilidade é outra garantia: a do acesso à jurisdição a todos quantos a invoquem, sem restrição. Havendo lesão ou ameaça de lesão a direito, nasce para o seu titular a pretensão de vê-lo tutelado pelo Judiciário. EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO (§§1º, 2º e 3º): os meios alternativos de solução de conflitos, como a mediação, a conciliação e arbitragem. A mediação e a conciliação, que podem ocorrer dentro ou fora do processo judicial, é uma forma de solução de conflitos dada pelas próprias partes (autocomposição), embora seja auxiliada e estimulada por um terceiro, o mediador ou o conciliador. A diferença entre elas está na existência ou não de vínculo anterior entre as partes (art. 165, §§ 2º e 3º). De acordo com o novo CPC, a conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por todos os operadores do direito (juízes, advogados, defensores públicos e membros do MP), inclusive no curso do processo judicial (art. 3º, § 3º). Já, na arbitragem, a solução é dada por um terceiro escolhido pelas partes, conhecido como árbitro, proferindo uma decisão a que as partes deverão se sujeitar. A arbitragem foi adotada no Brasil pela Lei n. 9.307/96, e é constituída pela chamada convenção de arbitragem, onde as partes pactuam, por força da previsão em contrato da cláusula compromissória (pré- lide), a arbitragem como meio de solução de conflitos que porventura sobrevierem sobre o negócio jurídico ali avençado, abrindo mão da jurisdição estatal (há quem defenda a inconstitucionalidade desta lei por ferir os princípios do acesso ao Judiciário e do juiz natural – art. 5º, incisos XXXIV e LIII, CF/88). Caso o conflito de fato ocorra, tais partes firmarão o compromisso arbitral (pós-lide), o que na prática ocorre normalmente ao final da audiência de conciliação na Corte. 13 Segundo a Lei 9.307/96, a decisão do árbitro é uma sentença (título executivo judicial), contra a qual não cabe qualquer recurso (salvo ação anulatória, num prazo de até 90 dias após sua publicação, caso tenha sido dada com vício), e nem pode ser rediscutida no Judiciário, a quem cabe tão somente executá-la, já que ao árbitro carece apenas o poder jurisdicional de execução de suas próprias decisões. Por fim, convém lembrar também que o árbitro deverá ser pessoa física, capaz e de confiança das partes; e que a arbitragem só se dá entre pessoas capazes que estejam litigando direitos patrimoniais disponíveis. - art. 4º => este artigo contempla 3 princípios diferentes: o princípio da duração razoável do processo; o da primazia da decisão de mérito; e o da efetividade. O princípio da duração razoável do processo (antes conhecido como princípio da celeridade) é o mais recente princípio processual constitucional, inserido no art. 5º, inciso LXXVIII por meio da EC 45/04. Com este princípio visa-se assegurar um processo, cuja duração seja o estritamente necessário para que se possa alcançar os resultados justos visados. Duração esta que não significa que será mínima, pois nem sempre conduzirá a um resultado justo, mas uma duração razoável para se alcançar o melhor, o mais adequado, o mais efetivo, enfim, o mais justo resultado possível ao processo. Já o princípio da primazia da decisão de mérito remete a ideia de que a solução de mérito é prioritária em relação à solução que não o enfrenta, devendo o juiz evitar, sempre que possível, de extinguir o feito em razão de nulidades processuais, deixando de analisar as questões principais. Um exemplo disso é a previsão do art. 139, IX, do CPC, que diz ser dever do juiz determinar o suprimento de pressupostos e o saneamento de outros vícios processuais. Outra disposição aplicável é a do art. 321, que diz que, quando a petição inicial contiver defeitos corrigíveis, não deverá o juiz indeferí-la sem antes dar oportunidade ao autor de corrigí-la em 15 dias. Por fim, de acordo com o princípio da efetividade do processo, as partes têm o direito à satisfação da decisão. Garante-se o direito fundamental à tutela executiva, ou seja, à satisfação de um direito já reconhecido. Afinal, não basta “ganhar”; para o processo ser devido, é preciso também “levar”. Dessa forma, este princípio está muito relacionado à fase executória do processo de conhecimento e ao processo de execução. - art. 5º => princípio da boa fé processual, que está previsto no art. 5º, NCPC. Tal princípio impõe a todo aquele, que de qualquer forma participa do processo, o dever de comportar-se de acordo com a boa-fé. Portanto, trata-se, na verdade, de uma regra de conduta que se aplica não apenas às 14 partes, mas aos seus advogados, e até ao juiz e aos auxiliares da justiça. Apesar de não ter previsão constitucional, a maioria dos autores, com apoio do STF, vê no princípio do devido processo legal o seu fundamento constitucional, vez que esta cláusula geral exige um processo leal, ético e pautado na boa-fé (criou-se, inclusive, a expressão: devido processo leal). O desrespeito ao princípiotraduz-se em ilícito processual, combatido severamente pelo legislador com sanções do tipo condenação em litigância de má-fé (arts. 79 a 81); responsabilidade civil do juiz (art. 143, I), do escrivão e do oficial de justiça (art. 155), do intérprete (art. 164); do advogado (art. 32 do Estatuto da OAB); a condenação em ato atentatório à dignidade da justiça (ao devedor que pratica quaisquer atos previstos no art. 774; e às partes que não comparecem injustificadamente na audiência de conciliação ou mediação, cf. §4º do art. 334); a tutela de evidência quando o réu abusar do direito de defesa (art. 311, I); etc. - art. 6º => princípio da cooperação. Embora já tenhamos visto os princípios do dispositivo e do inquisitivo separadamente, certo é que estes estão diretamente relacionados com o que o Novo Código de Processo Civil chama de princípio da cooperação. Isso porque sempre convivemos, no mundo ocidental, com dois tipos de modelos de processo: o modelo dispositivo, intimamente ligado à atribuição de poderes às partes; e o modelo inquisitivo, o qual confere poderes ao juiz. Todavia, tem sido cada vez mais difícil identificar, principalmente no Brasil, qual dos dois modelos é adotado, uma vez que ora a lei confere poderes às partes, como, por exemplo, de instaurar o processo e fixar o seu objeto, ora ao juiz, ao investi-lo de poderes instrutórios. Em razão disso, tem-se falado que o direito processual brasileiro adota o modelo cooperativo, segundo o qual se espera que todos os sujeitos do processo, tanto as partes quanto o juiz, devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. Estas são as palavras descritas no art. 6º, do NCPC. Percebe-se que não há uma condução do processo só a cargo das partes, tampouco só do juiz, que, tendo o contraditório, a boa fé e o devido processo legal como bases, comparticipam de todos os atos praticados do processo. Vê-se que o Estado-juiz adota dupla posição no processo: paritária, com diálogo e equilíbrio na condução e cognição do processo (modelo dispositivo); e assimétrico e imparcial no momento da decisão do processo (modelo inquisitivo). O princípio aplica-se às partes no que se refere aos seus deveres de esclarecimento (os demandantes devem redigir suas demandas com clareza e coerência, sob pena de inépcia), de 15 lealdade e de proteção (não pode a parte causar danos à outra). Já quanto ao juiz o princípio se revela, por exemplo, no dever também de ser claro e preciso ao fundamentar suas decisões, ou, antes de indeferir um ato, tirar dúvidas ou buscar esclarecimentos junto à parte; agir com lealdade e boa- fé; e até o dever de consulta, de informar as partes antes de decidir (art. 10); e de prevenção, apontando deficiências nas postulações às partes, para que possam ser supridas (ex: arts. 76; 321; 932, par. único; 1.017, §3º; 1.029, §3º). - art. 7º => princípio da igualdade processual, também conhecido como paridade de armas, compreende dois aspectos: - Formal – todos devem ser tratados com igualdade, dando-se as mesmas oportunidades às partes. Ex:. art. 5º, CF, e art. 139, I, NCPC. - Substancial – respeita-se as diversidades entre as partes para que a garantia da igualdade seja mais do que formal, mas seja real ou substancial. Para isso, lança-se mão de uma igualdade proporcional. Ex: prerrogativas da Fazenda Pública (art. 183 – prazo dobrado; art. 58, §3º - honorários proporcionais; art. 496 – remessa necessária) e do Ministério Público (art. 180); prioridade às causas de pessoas maiores de 60 anos (Lei 10.173). O NCPC trouxe duas novidades importantes que visam garantir maior efetividade ao princípio da isonomia: a ordem cronológica de conclusão para que os juízes e tribunais profiram sentenças ou acórdãos (art. 12); e a observância aos precedentes judiciais, impedindo que pessoas que estejam em situações iguais tenham soluções diferentes. - art. 8º => de acordo com este artigo, o juiz deve atender aos fins sociais e às exigências do bem comum (art. 5º LINDB); deve resguardar e promover a dignidade da pessoa humana e observar a proporcionalidade, a razoabilidade (atualidades da CF), a legalidade, a publicidade e a eficiência (art. 37 CF). - art. 9º => consagra o princípio do contraditório (art. 5º, LV, CF). O contraditório também deve ser estudado sob dois enfoques ou aspectos: • Jurídico – garantir o contraditório implica em dar à parte oportunidade de participar do processo em igualdade de condições. Dessa forma, por exemplo, se a uma parte foi dado o direito de juntar um documento no processo, à outra deve ser garantido o direito de sobre ele manifestar-se. Ou, então, se à autora deu-se o direito de acionar o Estado-juiz formulando suas pretensões, ao respectivo requerido deve ser dada oportunidade de responder aos termos da ação. • Político – assim como se garante o direito de participação no exercício das outras funções estatais (p. ex., no Legislativo, por meio do plebiscito e do referendo; no Executivo, por meio do orçamento parcipativo etc), garante-se pelo contraditório o direito do jurisdicionado de participar 16 no processo com o fim de legitimar o provimento jurisdicional (isso decorre do Estado Democrático de Direito). A exceção é a liminar (in limine – no início do processo, antes da citação do réu), onde o requerido só tem a chance de participar depois que o provimento judicial é proferido. Nesse caso, fala-se, na verdade, da existência de um contraditório postergado ou diferido, já que ele só será estabelecido num momento posterior do procedimento. É o que está estabelecido no parágrafo único do art. 9º, cujo rol não é exaustivo (ex.: liminar possessória, liminar em despejo, etc.) Já a Ampla Defesa consagra, junto com o contraditório, o binômio ‘ciência+participação’, na medida em que a participação oportunizada se materializará pela prática de atos de defesas. Portanto, não basta à parte ser ouvida, é preciso que se lhe garanta o direito de provar a sua tese (antítese, na verdade) por todos os meios e recursos de defesa. Por isso é que é ampla! - art. 10 => Regra da proibição de decisão surpresa, que é, na verdade, verdadeiro desdobramento ou concretizado do princípio do contraditório, já que deve o juiz, sempre antes de decidir, ainda que relativamente à questões conhecíveis de ofício (inconstitucionalidade de lei, decadência, incompetência absoluta, etc), consultar às partes para evitar decisões surpresas. Tal regra se aplica em todas as instâncias, sob pena de nulidade da decisão. - art. 11 => princípios da publicidade e da motivação/fundamentação (art. 93, IX, CF). Previsto também no art. 189 do CPC, o princípio da publicidade consiste na garantia fundamental de tornar públicos todos os atos judiciais. É, portanto, um instrumento de proteção das partes contra juízos arbitrários e secretos, bem como de fiscalização popular aos atos judiciais, tendo, assim, 2 dimensões: uma interna – publicidade para as partes; e outra externa – publicidade para terceiros, salvo quando a defesa da intimidade ou o interesse social exigir a restrição da publicidade apenas à interna. Tais exceções estão mais bem descritas nos incisos I a IV do art. 189 do NCPC, exigindo, portanto, que o processo corra em segredo de justiça nas seguintes situações: - processos que exigir interesse público ou social; - processos que dizem respeito a casamento, separação de corpos, divórcio, separação (acabou com a EC66/10), união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes; - processos em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade; - processos que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo. Em tais casos, restringe-se às partes e seus procuradores o direito deconsultar os autos e de pedir certidões (§1º), podendo o terceiro juridicamente interessado obter certidão do dispositivo da sentença mediante requerimento (§2º). 17 Já o princípio da motivação ou da fundamentação das decisões judiciais exige que o juiz ou tribunal, ao decidir, exponha os motivos, as razões que formaram o seu convencimento, sob pena de nulidade. O art. 489, §1º trouxe um elenco de situações nas quais não se considera a decisão judicial fundamentada, passível, portanto, de decretação de nulidade, que, nesse caso, se faz por meio da oposição do recurso de embargos de declaração (art. 1.022, parágrafo único, II, CPC). - art. 12 => Regra do respeito à ordem cronológica de conclusão. Os juízes e os tribunais atenderão, preferencialmente, à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão (redação dada pela Lei n. 13.256/16, que alterou o CPC/15). Tal regra prestigia a igualdade e a duração razoável do processo; e somente se aplica às decisões finais (sentenças e acórdãos). Exceções (§ 2º). 1.5.2 Aplicação da norma processual no tempo e no espaço. Quanto à aplicação da norma processual no espaço, aplica-se o princípio da territorialidade (lex fori), ou seja, o exercício da jurisdição em território nacional rege-se pelas normas processuais brasileiras, ressalvados os tratados internacionais (art. 13). Já quanto ao tempo, a norma processual nova não retroage, aplicando-se imediatamente aos processos em curso, com a preservação apenas dos atos processuais já praticados (tempus regit actum). Aplica-se, portanto, o princípio do isolamento dos atos processuais. Por fim, registra-se o caráter subsidiário (há norma, mas é incompleta) e supletivo (quando há lacuna total de norma) do CPC em relação os demais processos, como o eleitoral e trabalhista, administrativo. 18 2 JURISDIÇÃO 2.1 Conceito e características Sabe-se que o Estado, com o fim da monarquia absolutista, em pleno Iluminismo, se estruturou e se modernizou, consagrando a já aristotélica tripartição dos poderes, por meio dos quais o Estado exerce as funções legislativa (responsável pela estruturação da ordem jurídica pela elaboração das leis), administrativa (cujo papel é o de aplicar a lei na busca do bem comum/coletivo) e jurisdicional (a qual faz atuar a vontade da lei no caso concreto, solucionando as lides). A função jurisdicional difere da legislativa, na medida em que esta é anterior ao caso concreto, sendo exercida para prever casos ou situações gerais e abstratas; também difere da função administrativa em que pese esta última não ser substitutiva à vontade das partes, mas sim de iniciativa do próprio Estado na tutela do bem estar social mediante a aplicação de programas e ações de governo. Jurisdição, etimologicamente, significa dizer o direito. É, portanto, “a função pela qual o direito é aplicável ao caso concreto”. Não obstante tal conceituação, há quem também a identifique à atividade ou ao próprio poder estatal de decidir os litígios (Poder Judiciário). Neste último aspecto, a jurisdição, por ser um monopólio estatal, equivale também a um dever, já que o Estado não pode se eximir de solucionar ou de compor as lides que porventura os indivíduos da sociedade, os quais estão proibidos de exercer a autotutela ou a justiça privada, possam estar envolvidos. A jurisdição caracteriza-se pela: a) substitutividade => o Estado substitui as partes e soluciona o conflito, por conta do monopólio da atividade jurisdicional. Ou seja, o Estado cumpre a lei no lugar das partes, que não a observaram espontaneamente. b) definitividade ou imutabilidade => em nome da segurança jurídica, as decisões judiciais tendem, em regra, a se tornarem imutáveis, passíveis apenas de ação rescisória. Já as decisões administrativas, em regra, são modificáveis, podendo ser revistas pelo Judiciário, exceto aquelas fundadas em juízo de conveniência e oportunidade (mérito administrativo). c) inércia => a atividade jurisdicional deve ser provocada pela parte, pois se trata de uma atividade desinteressada, imparcial e equidistante dos interesses das partes. d) instrumentalidade => através da atividade jurisdicional é possível impor os comandos legais violados, ou seja, é um instrumento da sanção. e) presença da lide => a existência de uma lide pressupõe a existência da jurisdição, pois que seu 19 objetivo é justamente por fim aos conflitos de interesses surgidos entre as partes. Hélio Tornaghi e Alexandre Câmara entendem que a lide não é elemento essencial à jurisdição, mas sim a pretensão, a pois que há casos em que o Estado é chamado a atuar sem que tenha havido litígio. Exemplo clássico é a ação de divórcio consensual, feito no Judiciário, quando há filhos menores. 2.2 Princípios da jurisdição A jurisdição é também informada por alguns princípios, dentre os quais se destacam: a) investidura => a jurisdição só pode ser exercida por quem o Estado investiu de poder para tanto (os juízes concursados). b) aderência ao território ou territorialidade => o juiz deve exercer a função jurisdicional dentro de certo território definido pela lei (tem a ver com competência, ou seja, com limites da jurisdição, que estudaremos mais adiante). c) indelegabilidade => as atribuições jurisdicionais só podem ser exercidas pelos órgãos judiciais, não podendo ser delegadas a outrem. IMPORTANTE: a carta de ordem (ato de comunicação de uma parte, que esteja fora dos limites da jurisdição onde se processa o feito, dirigida a um juiz ou tribunal subordinado àquele de que ela emanar) ou a carta precatória (endereçada a outro órgão judiciário do país, entre os quais não há relação hierárquica) não contraria este princípio, pois que não se trata de delegação de jurisdição, mas, sim, de competência. Grande parte da doutrina entende que a arbitragem configura delegação da jurisdição estatal a particulares (árbitros). No entanto, há entendimento no sentido de que, como veremos, a arbitragem se enquadra no que Carnelutti chamou de equivalentes jurisdicionais (expressão utilizada na doutrina pátria por Câmara, Dinamarco etc), pois, apesar de ser proferida uma sentença, compondo o litígio entre as partes, o árbitro não tem o poder de executá-la , tarefa esta exclusiva do Estado. d) inevitabilidade => independentemente da vontade das partes, a jurisdição deve alcançar o seu fim, qual seja, o de compor o litígio, sujeitando-as à decisão. A autoridade das decisões se impõe, independentemente da aceitação dos seus destinatários, pois se trata de um ato emitido por um poder soberano do Estado. e) indeclinabilidade => com o monopólio estatal da jurisdição, os órgãos judiciais têm a obrigação de prestar a tutela jurisdicional quando invocada, não lhe sendo mera faculdade. O juiz não pode deixar de julgar alegando omissão na lei (art. 5º, XXXV, CF e art. 3º do NCPC – princípio da inafastabilidade da jurisdição; e art. 140, NCPC - princípio do non liquet). Para tanto, ele dispõe 20 dos meios integrativos (costumes, analogia e princípios gerais do direito – art. 4º, LINDB). f) improrrogabilidade => a função jurisdicional, delimitada segundo a organização judiciária brasileira, não pode ser alterada pelo legislador ordinário. 2.3 Poderes da jurisdição São poderes da jurisdição: a) conhecimento (notio, cognitio) => implica no poder de conhecer, investigar, instruir. Ou seja compreende o poder atribuído aos órgãos jurisdicionais de conhecer dos litígios, de prover a regularidade do processo, de investigar a presença de pressupostos de existência e de validade da relação processual, das condições da ação e de recolher o material probatório. b) chamamento (vocatio) => consiste no poder de convocar, de fazer comparecer em juízo todos aqueles cuja presença seja necessária ao regular desenvolvimento do processo. Faz-se mediante os atos de comunicação(citação, intimação etc). c) coerção (coertio, coercitio) => também conhecido como poder de polícia, abrange o poder de utilização de medidas coercitivas a fim de que se observe o regular desenvolvimento do processo. Ex: aplicação de multas (astreintes) por atraso no cumprimento da decisão; retirar alguém da sala de audiência etc. d) julgamento (juditio) => engloba o poder de julgar, o poder de concretizar a vontade da lei diante de um conflito de interesse ou de definir o direito a partir de uma situação de controvérsia. Ao decidir, o juiz deve observar as seguintes regras: d.1) o juiz é obrigado a decidir – arts. 3º e 140 (princípios da inafastabilidade da jurisdição e do non liquet); d.2) excepcionalmente, o juiz julgará com equidade – art. 140; d.3) o juiz decidirá o mérito nos limites do propostos pelas partes (a sentença tem que ser congruente, adstrita ao pedido) – arts. 142 e 492; d.4) o juiz pode decidir prejudicando as partes quando estas agem com fraude – art. 142; d.5) o juiz decide de acordo com o seu livre convencimento, mas deve motivá-lo - art. 371. e) execução2 (executio) => consiste no poder de cumprir o definido em decisão judicial e realizar/concretizar no mundo dos fatos o comando judicial. f) poder geral de cautela (nem sempre lembrado pela doutrina) => poder de adotar medidas de cautela sobre o bem, objeto da demanda, quando houver fundado receio de dano irreparável ou de 2 A melhor e mais moderna doutrina tem lembrado também do chamado poder geral de efetivação do juiz, que poderá, de ofício, determinar medidas coercitivas (astreintes, por exemplo) em nome do princípio da efetividade processual. 21 difícil reparação pela demora do processo (art. 297). 2.4 Classificação Por fim, calha lembrar que a jurisdição pode ser voluntária, cujo procedimento está previsto nos arts. 719 a 770, NCPC; ou contenciosa, que pode ser de rito comum (art. 318 a 512, NCPC) ou especial (arts. 539 a 718, NCPC). A jurisdição voluntária, também conhecida como jurisdição graciosa ou administrativa, é aquela exercida inter volentes, isto é, entre pessoas que não estão litigando, mas que têm interesses comuns. Segundo a doutrina minoritária, que se filia à teoria clássica ou administrativista, a jurisdição voluntária não é jurisdição, mas apenas uma administração judicial de interesses privados, já que a autoridade judicial intervém não para compor um litígio, pois que este nem sequer existe, mas, sim, para dar validade, chancelar, homologar um ato ou negócio jurídico firmado pelas partes. Já a jurisdição contenciosa, ou jurisdição propriamente dita, pressupõe um litígio (contenda) a ser resolvido pelo Estado. Todavia, convém notar que, atualmente, grande parcela da doutrina filia-se a teoria revisionista, segundo a qual será considerada jurisdição sempre que o juiz aprecia um caso concreto, decidindo-o (aplicando a lei) ou simplesmente homologando-o. Apesar das divergências, pode-se resumir as diferenças entre jurisdição contenciosa e jurisdição voluntária através do seguinte paralelo: CONTENCIOSA VOLUNTÁRIA Lide Interesses comuns Ação Requerimento Partes Interessados Contraditório Sem contraditório Processo Procedimento Sentença Decisão homologatória Coisa julgada Sem Coisa julgada 22 3 COMPETÊNCIA 3.1 Conceito Vimos que jurisdição é o poder do Estado de dizer o direito no caso concreto, solucionando o litigo. Vimos também que, dentre outros, a jurisdição é regida pelo princípio da investidura, segundo o qual só pode ser exercida por quem foi investido de tal poder, a saber, os juízes. Portanto, todo juiz é dotado de JURISDIÇÃO, ou seja, é dotado do poder jurisdicional. Entretanto, pela impossibilidade de os juízes exercerem tal poder em todo território nacional ao mesmo tempo (não obstante a previsão do art. 16, NCPC3), é que o ordenamento jurídico previu uma distribuição, uma repartição desse poder, em partes iguais ( na mesma proporção), entre todos os juízes que compõe o Poder Judiciário. A essa distribuição ou repartição do Poder Jurisdicional é que se denomina COMPETÊNCIA. Não há diferença substancial entre jurisdição e competência; comparando seria falar do bolo e da fatia: a competência é a fatia, é uma fração da jurisdição. ASSIM, competência é a quantidade de poder atribuído a determinado órgão judicial; é a medida, a delimitação da jurisdição. 3.2 Limites da Jurisdição Nacional O NCPC estabeleceu os limites da jurisdição nacional em seus arts. 21 ao 25, definindo a competência internacional e a competência interna da autoridade brasileira. 3.2.1 Competência internacional É a competência da autoridade judiciária brasileira para demandas que tenham algum ponto de conexão com o Brasil. Pode ser concorrente (ou cumulativa) com as demais autoridades judiciárias do mundo; ou exclusiva, com exclusão de qualquer outra. 3 Na verdade, quando o art. 16 do NCPC diz que “a jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o território nacional....”, não quer dizer que os mesmos exercerão atividade jurisdicional em toda a extensão de nosso país posto que é, por óbvio, fisicamente e humanamente impossível; mas está a se referir ao poder conferido a tais órgãos de dizer o direito no caso concreto com eficácia em todo o país: não é concebível que um juiz profira uma decisão que só produza efeitos na localidade onde a proferiu, mas sim em todo o território nacional. 23 a) competência concorrente ou cumulativa (arts. 21 e 22) - causas que podem ser julgadas por tribunais brasileiros ou estrangeiros (previstas nos incisos do arts. 21 e 22 – em geral, são causas relacionadas a direitos pessoais); - se a causa for julgada por um tribunal estrangeiro, para que a sentença tenha efeitos e seja executada no Brasil, ela deverá ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (art. 105, I, i, CF); - litispendência entre ação no Brasil e no exterior: é solucionada conforme o art. 24, NCPC. b) competência exclusiva (art. 23) - causas que somente podem ser julgadas por tribunais brasileiros (previstas nos incisos do art. 23, normalmente ligadas a direitos reais sobre bens imóveis situados no Brasil, ou que impliquem em partilha dos mesmos, como inventário, divórcio etc). - caso o judiciário de outro país julgue uma das causas relacionadas no art. 23, NCPC, a sentença estrangeira NÃO será homologada pelo STJ (art. 964, NCPC). Obs: exclusão da justiça brasileira por convenção entre as partes: art. 25, NCPC. 3.2.2 Competência interna a) Fixação da competência interna (artigo 43, NCPC) “Art. 43 - Determina-se a competência NO MOMENTO do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente salvo quando suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta.” Significa dizer que se fixa a competência do juízo no momento em que a petição inicial é protocolizada ou distribuída (onde houver mais de um), ainda que posteriormente houver modificações, como, por exemplo, alteração /correção do valor causa ou adiantamento de pedido pelo autor, tais modificações não tem o condão de alterar a competência. Consagra-se regra da perpetuação da jurisdição (perpetuatio jurisdicionis), que é ressalvada apenas quando houver supressão do órgão judiciário ou alteração de sua competência absoluta (Ex: fim da Justiça do Trabalho, deslocando os processos para a Justiça comum; ou alteração da competência das Varas de Família para abranger causas que versam sobre sucessões). 24 b) Critérios de distribuição/determinação da competência interna A Constituição Federal de 1988 faz a grande 1º distribuição da competência interna ao dividiro Judiciário em 5 “Justiças”: Justiça Estadual, Justiça Federal, Justiça do Trabalho, Justiça Militar, Justiça Eleitoral, a depender da causa, ou seja, da natureza do litígio. À Justiça do Trabalho incumbe, especialmente a solução dos litígios trabalhistas. À Justiça Militar, aos litígios Militares. À Justiça Eleitoral, cumpre solucionar apenas os litígios eleitorais. Por darem solução à litígios específicos é que as chamamos de Justiça Especial. Por exclusão, à Justiça Estadual e à Justiça Federal caberá a solução de litígios comuns, ou seja, que não sejam trabalhista, eleitoral ou militar. Em virtude disso, são conhecidas por Justiça Comum. Dentro da chamada Justiça Comum, também por critério de exclusão e levando em consideração a presença da pessoa da União Federal, o que não for competência da Justiça Comum Federal (artigo 109, CF) será da Justiça Comum Estadual. Mas ambas possuem vários órgãos jurisdicionais, cuja competência é distribuída, por sua vez, através de 5 critérios legais (previstos no NCPC e nos Códigos de Organização Judiciária dos Estados): 1º) Material (competência em razão da matéria) => leva em conta a natureza da causa, ou seja, a qualidade da relação jurídica material. Exemplo: questões de família, falência, registro público, criminais, precatórios, ambiental etc. 2º) Pessoal (competência em razão da pessoa envolvida no litígio): este é o critério utilizado pelo legislador constituinte para definir a competência da Justiça Federal4, separando-a da Justiça Estadual. Mas, ainda no âmbito desta, o critério também é utilizado quando nas causas estiverem envolvidas a pessoa da Fazenda Pública do Estado ou do Município, prevendo, assim, em lei, a criação de Varas Especializadas em Fazenda Pública Estadual ou Municipal. Tal critério também é utilizado pelas Leis n. 10.259/01 e 12.153/09, que previram, respectivamente, os Juizados Federais e da Fazenda Pública. 4 De acordo com o art. 45 do NCPC, em caso de intervenção de ente federal, o processo deverá ser remetido à justiça federal, salvo nos casos de ações de recuperação judicial, falência, insolvência civil, acidente do trabalho e ações sujeitas à justiça eleitoral e do trabalho. Súmulas 150, 224 e 254, STJ. 25 3º) Valor da causa => a competência é definida de acordo com o valor que se atribui à causa no momento da propositura da ação (alterações posteriores não interferirão na competência). Assim, a depender do valor, a causa será de competência de um ou outro órgão jurisdicional. Vale lembrar os Juizados Especiais Cíveis Estaduais são competentes nas causas de até 40 salários mínimos (Lei n. 9.099/95) e os Juizados Especiais Federais (Lei n. 10.259/01) e os da Fazenda Pública (Lei n. 12.153/09) nas causas de até 60 salários mínimos em que estejam envolvidas a Fazenda Pública da União, dos Estados ou dos Municípios, respectivamente. Acima destes valores, a causa deverá ser processada necessariamente na Justiça Comum, estadual ou federal. Para se evitar que a causa tramite na Justiça Comum, deverá então o autor renunciar na petição inicial do valor excedente, seja de forma tácita (se JEC) ou expressamente (se JEF ou JEFP). 4º) Funcional (competência em razão da função ou da hierarquia) => define-se de acordo com as funções desempenhadas ou pela posição do órgão jurisdicional no processo, repartindo a competência em competência de 1º grau, recursal; para ação principal e incidental (ex: art. 61, NCPC); etc. 5º) Territorial (ou de foro) => causas distribuídas segundo a comodidade das partes ou pela facilidade do processo (artigos 46 ao 53, NCPC). Leva em consideração o local onde a causa dever ser ajuizada. Há 2 (duas) regras gerais: - domicílio do réu (art. 46) => para as ações fundadas em direito pessoal (obrigações) e em direito real (propriedade etc) sobre bens MÓVEIS. Claro que se o réu tiver mais de um domicílio, será competente o foro de qualquer deles(§1º); se incerto ou desconhecido seu domicílio, poderá ser demandado onde for encontrado ou no domicílio do autor (§2º); se tiver domicílio fora do Brasil, também poderá ser demandado no domicílio do autor (§3º); ou, havendo 2 ou mais réus com diferentes domicílios, será competente o foro de qualquer deles (§4º). - situação da coisa (art. 47) => para as ações fundadas em direito real sobre bens IMÓVEIS, inclusive as ações possessórias imobiliárias (§2º), embora sejam consideradas ações de direito pessoal. ATENÇÃO: de acordo com o §1º do art. 47, se o litígio NÃO recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova, será opcional ao autor ajuizar a ação real imobiliária no foro da situação da coisa, ou no do 26 domicílio do réu ou no foro de eleição. Porém, raramente veremos um litígio assim, pois quase todas as ações reais imobiliárias versam sobre tais assuntos (Exemplo possível: ação real imobiliária que discuta direito real de garantia sobre bem imóvel, ou seja, hipoteca). - Foros Especiais: ✓ Ações relacionadas ao Direito das Sucessões ou em que o espólio for réu => foro do domicílio do autor da herança (art. 48); ✓ Ações em desfavor de ausente => foro de seu último domicílio (art. 49); ✓ Ação em desfavor de incapazes => foro de seu representante ou assistente (art. 50); ✓ Ações em que os entes públicos são parte => foro do domicílio do réu (se o ente for autor), ou foro do domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato, no da situação da coisa, ou no DF ou na capital do ente federado (se o ente for réu) (arts. 51 e 52); ✓ Ações de família => foro do último domicílio do casal ou do réu, no caso de nenhuma das partes nele mais residir (se não tiver filhos incapazes); ou do domicílio do guarda (se tiver filhos incapazes) (art. 53, I); ✓ Ação em que se pedem alimentos => foro do domicílio do alimentando (art. 53, II); ✓ Ação para cumprimento de obrigação => foro onde a obrigação deve ser satisfeita (art. 53, III, d); ✓ Ação fundada no Estatuto do Idoso => foro da residência do idoso (art. 53, III, e); ✓ Ação de indenização (geral) => foro do lugar do ato ou fato ilícito (art. 53, IV, a); ✓ Ação de indenização em razão de delito ou de acidente de veículos => foro do lugar do fato ilícito OU do domicílio do autor (art. 53, V). c) Competência relativa e absoluta Os 3 primeiros critérios (material, pessoal e funcional) são considerados critérios de competência absoluta, ou seja, não pode a competência ser modificada pelas partes, pois é determinada para atender o interesse público (art. 62, NCPC). Já os 2 últimos critérios (valor da causa e territorial), via de regra, se referem à competência relativa, ou seja, aquela que pode ser alterada pela vontade das partes, as quais podem alterar o regime legal caso disponham em contrário através da chamada cláusula de eleição de foro (art. 63, NCPC). CUIDADO: 27 1) Nem sempre o critério territorial terá natureza relativa. Quando o artigo 47, caput e seu §2º (ações possessórias imobiliárias) estabelecem a competência apenas no foro da situação da coisa, não deixa opção para o autor, revelando-se, excepcionalmente, em um critério absoluto. 2) O mesmo deve ser dito em relação ao critério valor da causa no tocante à competência dos JF’s e JFP’s, uma vez que suas respectivas leis (Lei n. 10.259/01 e Lei n. 12.153/09) estabelecem que se a causa em que as Fazendas Públicas estão envolvidas não excederem a 60 salários mínimos e no lugar estiver instalado o respectivo juizado, não terá o autor opção em ajuizar a ação na Justiça Comum (Federal ou Estadual, perante a Vara da Fazenda Pública), sob pena de incorrer em incompetência absoluta deste juízo. COMPETÊNCIA ABSOLUTA (arts. 62, 64, §1º) COMPETÊNCIA RELATIVA (art. 63) 1 . Determinada no interesse público; 1. Determinadapara atender interesse particular; 2. Inderrogável pela vontade das partes; 2. Derrogável pela vontade das partes; 3. A respectiva incompetência deve ser alegada pelo réu, preferencialmente, em preliminar da contestação. Mas, por ela ser determinada pelo interesse público, pode ser alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição (não está sujeita a preclusão); 3. A respectiva incompetência só pode ser alegada pelo réu em preliminar da contestação, sob pena de preclusão e prorrogação da competência; 4. Pode ser conhecida de ofício. 4. Não pode ser conhecida de ofício (Súmula 33, STJ) – salvo cláusula de eleição de foro abusiva - §3º, art. 63. Se a alegação de incompetência, absoluta ou relativa, for acolhida, a consequência é a remessa dos autos ao juízo competente, conservando-se os efeitos das decisões proferidas pelo juízo incompetente até que outra seja proferida pelo competente (art. 64, §§3º e 4º, NCPC). OBS: Nos Juizados a consequência pode ser a extinção do processo. 28 d) Modificação (ou prorrogação) da competência (arts. 54 a 63) Ocorre quando se amplia a esfera da competência de um órgão judiciário para conhecer de certas causas que, ordinariamente, não estariam enquadradas em sua esfera de atribuição. Só é possível a modificação de competência RELATIVA (art. 54) e ela pode ser: - voluntária: quando as partes estabelecem foro de eleição para determinado negócio jurídico (art. 78, CC); ou quando o réu não alega a incompetência relativa no prazo da defesa (contestação). - legal ou necessária: decorre da lei, que prevê a reunião de ações que tramitam em juízos diferentes para o julgamento em conjunto perante o juízo prevento (ou seja, no juízo onde houve o protocolo ou a distribuição da petição inicial – art. 59), evitando, com isso, decisões contraditórias. Isso se dá em razão da conexão ou da continência. d.1) Conexão (art. 55): reputam-se conexas duas ou mais ações, quando lhes for comum o PEDIDO ou a CAUSA de pedir. O §3º do art. 55 entendeu se tratar de conexas também duas ou mais causas que guardam entre si um vínculo de semelhança de tal ordem que justifique a reunião delas num mesmo juízo para evitar decisões contraditórias e racionalizar o trabalho do judiciário. EXEMPLO: Alimentos e investigação de paternidade não são, a rigor, conexas, pois não possuem o mesmo pedido ou causa de pedir. [1ª) dever alimentar decorrente da relação de parentesco e do binômio necessário-possibilidade; 2ª) vinculo de filiação]. Há aqui, na verdade, uma relação de prejudicialidade (o julgamento de 1 prejudica a da outra). As ações somente são reunidas se ainda não tiver sido proferida sentença d.2) Continência (art. 56): dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre que há identidade quanto às partes e a causa de pedir, mas o PEDIDO de uma, por ser mais amplo, ABRANGE (contém) o das outras. Exemplo: ação em que se pede anulação de uma cláusula contratual; e outra ação em se pede a anulação de todo o contrato (este último é mais amplo). Se a ação continente (mais ampla) foi proposta anteriormente, a ação contida (menos ampla) é extinta sem resolução do mérito. Por outro lado, se a ação contida foi proposta primeiramente, as ações devem ser reunidas (art. 57). 29 e) Conflito de competência (art. 66) Ocorre o conflito quando mais de 1 órgão judicial se considera competente ou incompetente para julgar a mesma causa. Será: - positivo => quando 2 ( dois) ou mais juízes só declaram competentes para a mesma causa. - negativo => quando 2 ( dois) ou mais juízes de declaram incompetentes para a mesma causa, atribuindo um ao outro a competência. É um incidente suscitado pelas partes, pelos juízes conflitantes ou pelo Ministério Público, para apurar a competência, cujo julgamento será sempre do tribunal, hierarquicamente superior ao dos juízes onde se deu o conflito. Decorre, portanto, do princípio do direito alemão kompetenz-kompetenz, pois é da competência do juiz (tribunal) declarar a sua própria competência ou incompetência, e não de outro poder estatal. Se o conflito envolve: - Tribunais superiores => compete ao STF; - Tribunais inferiores (TRF x TJ); ou Tribunal e juízes a ele não vinculados; ou juízes de Tribunais diferentes => STJ; - Juízes do TRF => TRF; - Juízes do TJ => TJ. 30 4 AÇÃO 4.1 Conceito e Natureza jurídica A AÇÃO é o direito pelo qual a jurisdição é provocada, pois que ela é inerte. Mas qual é a natureza jurídica da ação? É um direito: - subjetivo, pois quando o direito objetivo previu o Judiciário como sendo o único dotado de poder para solucionar os conflitos, em contrapartida, deu ao indivíduo a prerrogativa de chamar o Estado para tal responsabilidade toda vez em que estivesse envolvido em algum litígio. - público, exatamente porque provoca um dos poderes do Estado – o Judiciário. - autônomo e abstrato, pois o direito de ação existe independentemente da efetiva ou concreta existência do direito alegado, ou seja, ele é exercido em abstração do direito material litigioso, aludindo o autor a ele hipoteticamente. Como desdobramento desta teoria, surgiu a teoria eclética, de Enrico Tullio Liebman, para quem o direito de ação existe em abstração do direito material, mas não é absoluto e incondicionado, devendo o autor atender algumas condições, as chamadas de condições da ação, quais sejam, o interesse de agir e a legitimidade das partes. Ou seja, seria necessário ao autor aludir a um interesse previsto no ordenamento jurídico em face de alguém que hipoteticamente fosse o sujeito passivo da relação material para que o Estado prestasse a tutela jurisdicional. Nesta lógica, a análise inicial do juiz a respeito se dá continuidade ou não ao processo (é uma espécie de juízo de admissibilidade) seria meramente superficial, sem incorrer no erro de adentrar na situação fática posta em juízo, ou seja, no mérito da causa (vertente da teoria eclética, conhecida como teoria da asserção, adotada pelo STJ). Sendo assim, a possibilidade jurídica do pedido deixou de ser considerada pelo próprio Liebman como condição da ação, uma vez que a sua análise implicaria necessariamente numa análise meritória. E esta é a posição do atual CPC já que no seu art. 17 exige a observância apenas do interesse e da legitimidade para se postular em juízo; e no art. 485, VI, estabelece que tal inobservância fará com que o juiz não resolva o mérito. Em todos os casos, não se menciona mais o pedido juridicamente possível, o que denota a ideia segundo o qual o mesmo passou a ser tratado realmente como uma questão de mérito. 31 4.2 Condições da ação (legitimidade e interesse) a) Legitimidade para a causa (ad causam) ou das partes (ativa e passiva) – arts. 17 e 18, NCPC. Legitimidade é a capacidade específica para determinados atos da vida civil. O tutor, por exemplo, embora maior e capaz, não poderá adquirir bens móveis ou imóveis do tutelado, sendo ilegítimo para tanto. Dois irmãos, da mesma forma, maiores e capazes, não poderão se casar entre si. Falta-lhes legitimidade ou capacidade específica para o ato. A mesma avaliação pode ser feita com relação às partes de um processo. Só serão capazes especificamente para travarem uma relação jurídica processual aqueles que hipoteticamente figuraram também na relação jurídica material. É, nos dizeres de Carnelutti, “a pertinência subjetiva da ação”, ou seja, a pertinência entre as partes processuais e as da lide. Portanto, numa ação de despejo, serão autor e réu o locador e o locatário, respectivamente. Aquele que tiver fora da relação de locação, como, por exemplo, o sublocatário, será considerado terceiro interessado, e não parte legítima. Quando coincidirem as partes do processo com as da lide, diz-se que a legitimidade é ordinária. Entretanto,existem casos em que o ordenamento jurídico autoriza outrem, que não titular do direito ou interesse material, a pleiteá-lo em juízo em seu lugar. Assim, se não houver correspondência entre os sujeitos do processo e da lide, de modo que quem figura na relação processual não é o mesmo da relação material, ocorre o que denominamos de legitimidade extraordinária ou substituição processual, prevista indiretamente no art. 18, NCPC, que diz: “ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico” (para Arruda Alvim, Barbosa Moreira, Didier Jr, e a maioria esmagadora da doutrina, não há necessidade de expressa previsão na lei, basta que tal autorização decorra do sistema). Exemplos: 1) o Ministério Público na defesa os interesses sociais e individuais indisponíveis (ação civil pública, ação de improbidade administrativa etc) – art. 177, NCPC c/c art. 127, CF; 2) o sindicato, na defesa dos interesses da categoria – art. 8º, III, CF/88; 3) o condomínio, na defesa dos interesses comuns – art. 1.348, III, CC. A legitimidade extraordinária, portanto, só é admitida excepcionalmente, quando houver previsão legal, o que faz dela a exceção e não a regra. 32 b) Interesse de agir (ou processual, ou das partes) Consiste na utilidade de obter um proveito, um resultado mediante o provimento jurisdicional, bem como na necessidade de se recorrer ao Judiciário para obter este proveito. Está previsto no art. 17, NCPC. Ex: 1) ação de cobrança => expor o crédito, não documentado, e a impossibilidade de obtê- lo diante da recusa de cumprimento espontâneo do devedor. 2) ação monitória => expor o crédito, porém baseado em prova escrita sem eficácia de título executivo, e a impossibilidade de obtê-lo diante do inadimplemento do devedor. 3) ação de execução => expor o crédito, consubstanciado em um título executivo extrajudicial, e a impossibilidade de obtê-lo diante do inadimplemento do devedor. 4.3 Elementos (identificadores) da ação A ação se identifica e se difere de outra pela existência e configuração de três elementos: partes, causa de pedir e pedido. Quando duas ou mais ações tiverem os mesmos elementos (mesmas partes, mesma causa de pedir e mesmo pedido) diz-se que ocorreu litispendência (pendência de duas lides ou causas idênticas), o que autorizará o juiz a extinguir o segundo processo (art. 485, V), já que o sistema não admite a coexistência de duas ou mais ações idênticas (isso pode gerar a coexistência de decisões conflitantes sobre a mesma causa, conflitantes, e, por consequência, trazer insegurança jurídica). A litispendência está conceituada no art. 337, §§1º, 2º e 3º, NCPC. a) Partes Quando se fala em partes, fala-se nas pessoas que estão envolvidas no litígio. E só se envolvem em conflitos, em litígios, pessoas, ou seja, aqueles que são dotados de personalidade jurídica. Nesse sentido, fala-se em capacidade de ser parte, que corresponde exatamente à personalidade civil (arts. 1º e 2º do Código Civil). Portanto, podem ser partes autora e ré: ➢ a pessoa natural: seja criança, doente mental ou adulto normal etc; ➢ a pessoa jurídica: de direito privado (empresa, associações, fundações, sociedades de economia mista e empresas públicas) ou de direito público (União, Estados, DF, Municípios, Territórios, e suas respectivas autarquias e fundações públicas). Na prática, muitos profissionais incorrem no erro de figurar como parte órgãos 33 governamentais ou departamentos, como Secretarias da Saúde, da Educação, Polícia Militar etc, que, na verdade, não são dotados de personalidade jurídica. Nesse caso, a parte deverá ser a pessoa jurídica a qual o respectivo órgão se vincula, ou seja, o Município, o Estado etc. Por se tratar de uma ficção, ou seja, de uma abstração, deverá ser representada legalmente (art. 75). ➢ os entes derpersonalizados: como a massa falida, a herança jacente ou vacante, o espólio e o condomínio, que a própria lei (art. 75, V, VI, VII, XI, NCPC, respectivamente) excetuou, permitindo que figurem como partes. Mas, não basta a capacidade de ser parte. É necessário ter a capacidade de estar em juízo ou processual, o que não é privilégio para todos que se envolvem em litígios. A capacidade de estar em juízo corresponde à capacidade civil, prevista no art. 5º do CC/02. Portanto, apenas aqueles que são habilitados à prática de todos os atos da vida civil é que podem estar em juízo (art. 70, NCPC), Do contrário, é preciso que a parte esteja representada, quando se tratar de absolutamente incapaz; ou assistida, quando relativamente incapaz (art. 71, NCPC). É por isso que se lê, por exemplo, nas petições de ação de conhecimento com pedido de investigação de paternidade, ou de alimentos, o seguinte: “FULANINHO DE TAL, neste ato representado por sua genitora, FULANA DE TAL....”. Por outro lado, pessoas jurídicas NÃO dependem de representante legal para estarem em juízo pois já possuem tal capacidade desde a sua constituição ou registro. Ou seja, diferentemente das pessoas físicas que só adquirem capacidade anos após à aquisição da personalidade, as pessoas jurídicas adquirem capacidade concomitantemente à personalidade. No entanto, por serem ficções ou abstrações da lei, dependem de pessoas físicas para se fazerem presentes em seus atos. Tal representação, ou melhor, presentação, é feita na forma do art. 75 do CPC. b) Causa de Pedir Tratam-se das razões fáticas e jurídicas que justificam o pedido. Segundo a doutrina, a causa de pedir pode ser de duas espécies: remota ou próxima. A remota diz respeito aos fatos, que podem ser constitutivos (que dão vida à vontade da lei, ou seja, fazem nascer o direito a que se alega – ex: empréstimo, ato ilícito); extintivos (fazem cessar uma vontade da lei, extinguindo um direito – ex: pagamento, remissão de dívida); modificativos (tendem a alterar a constituição de um direito – ex: alegação de parcelamento de dívida); ou impeditivos (circunstância que impede a constituição de um direito – ex: incapacidade, simulação, erro etc.). É importante a diferenciação dos fatos, pois que, segundo o art. 373 do CPC, o autor tem o ônus de provar apenas os fatos constitutivos, e o réu os demais, mesmo porque, obviamente, só 34 a ele interessa alegar extinção, modificação ou impedimento à direito. Normalmente, o autor justifica a declaração, a constituição ou a condenação à prestação de um direito seu, através dos fatos que o constituem. Já a causa de pedir próxima diz respeito aos fundamentos jurídicos que embasam o pedido. Não se quer dizer aqui o fundamento legal, o dispositivo da lei, pois não há necessidade de indicar ao juiz a norma violada. Segundo a velha máxima romana, “juria novit cúria”, o juiz conhece o direito. Por conseguinte, os fundamentos jurídicos são as consequências jurídicas que extraem dos fatos. Por exemplo, se o locatário não paga o aluguel, a consequência jurídica é o seu despejo. No processo civil, adota-se a teoria da substanciação, que exige do autor, na petição inicial, a indicação dos fatos (causa remota) e dos fundamentos jurídicos (causa próxima), conforme o inciso III do art. 319. Opõe-se a esta a teoria da individuação, segundo a qual basta ao autor indicar apenas os fatos OU apenas os fundamentos jurídicos. c) Pedido O pedido pode ser dividido em duas espécies: o imediato e o mediato. O pedido imediato é o tipo de providência jurisdicional pretendida, que pode ser de conhecimento ou de execução. Especificamente considerando os efeitos produzidos pela sentença de conhecimento, o pedido pode consistir em um(a): => declaração de existência ou inexistência de uma relação jurídica (ação declaratória, positiva ou negativa – art. 19, I, NCPC); => constituição ou desconstituição de uma relação jurídica (ação constitutiva ou desconstitutiva); => condenação
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