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UNIVERSIDADE PAULISTA 
CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA DESING DE INTERIORES 
 
 
FERNANDO ADRIAN CRUZ SILVA / RA – 0428890 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PRODIGIALIDADE DE PORTINARI - ESTUDO DA OBRA “OS RETIRANTES” 
PROJETO INTEGRADO MULTIDISCIPLINAR IV – PIM III 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ARACAJU - SE 
2021 
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UNIVERSIDADE PAULISTA 
CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA DESING DE INTERIORES 
 
 
 
 
 
PRODIGIALIDADE DE PORTINARI - ESTUDO DA OBRA “OS RETIRANTES” 
PROJETO INTEGRADO MULTIDISCIPLINAR IV – PIM III 
 
 
 
 
 
ALUNO: FERNANDO ADRIAN CRUZ SILVA, RA – 0428890 
Trabalho Interdisciplinar do Projeto Integrado 
Multidisciplinar III (PIM III), apresentado como 
exigência parcial para conclusão do Semestre do 
Curso superior de tecnologia em Design de Interiores. 
 
 
 
 
 
 
 
 
ARACAJU - SE 
2021 
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RESUMO 
O presente trabalho busca analisar de forma uma forma global a obra “Retirantes” do 
pintor brasileiro Candido Portinari. Utilizando de prévios conhecimentos no tocante a 
História da arte, percepção visual, análise de formas e psicologia das cores o estudo 
considerou uma visão 360 da obra. Uma vez que, aspectos como contexto histórico da 
obra, visão de aspectos de impacto como paleta de cores e fisionomia dos personagens 
foram analisados a fundo. Buscando basearem-se me outros estudos já existentes da 
mesma obra o trabalho que aqui apresento busca garantir ou corroborar a visão acadêmica 
de grandeza dessa tela. Na primeira parte é explorada a carga histórica da obra, na segunda 
traçamos uma análise de percepção visual e por fim um estudo das formas. 
 
Palavras chaves: Arte, Obras, Quadro, Portinari, Retirantes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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SUMÁRIO 
 
RESUMO .............................................................................................................................. 3 
SUMÁRIO ............................................................................................................................ 4 
1. “RETIRANTES” – Cândido Portinari .............................................................................. 5 
2. HISTÓRIA DA ARTE – CONTEXTUALIZAÇÃO DE ARTISTA E OBRA ......... 6 
2.1 – Breve relato biográfico ............................................................................................. 6 
 2.1.1 Biografia do artista ............................................................................................. 6 
 2.1.2 Referencias artísticas de Portinari ...................................................................... 7 
2.2 – Arte moderna Brasileira ............................................................................................ 7 
2.3 – Contextualização da obra “Retirantes” ................................................................... 8 
2.3.1 Referencias de movimentos artísticos na obra ........................................................ 9 
3. PERCEPÇÃO VISUAL DA OBRA .................................................................................... 10 
3.1 As cores e o impacto da obra ............................................................................................ 11 
 3.1.1 Tons terrosos ....................................................................................................... 11 
 3.1.2 Variação .............................................................................................................. 11 
 3.1.3 Textura ............................................................................................................... 12 
4. ESTUDO DAS FORMAS ...................................................................................................... 12 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 13 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
1. “RETIRANTES” – Cândido Portinari 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Quando fosse homem, caminharia assim, pesado, cambaio, importante, as rosetas das 
esporas tilintando. Saltaria no lombo de um cavalo brabo e voaria na catinga como pé de 
vento, levantando poeira. Ao regressar, apear-se-ia num pulo e andaria no pátio assim 
torto, de perneiras, gibão, guarda-peito e chapéu de couro com barbicacho. O menino 
mais velho e Baleia ficariam admirados” 
Gracilliano Ramos – livro Vidas Secas 
 
 
 
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2. HISTÓRIA DA ARTE – CONTEXTUALIZAÇÃO DE ARTISTA E OBRA 
Durante o século XX o país viu nascer e desenvolver-se um dos maiores artista de seu 
berço. Candidato Portinari, nascido em 30 de setembro de 1903 foi um dos maiores nomes 
do cenário artístico nacional. A produção artística de Candido trabalhava centralmente o 
ser humano no seu aspecto mais claro e real, mais especificamente os homens e mulheres 
simples, o indivíduo comum detalhado em suas núncias mais sofridas. Estudos apontam 
sua influência em estilos europeus, tais quais, expressionismo, favoismo e o cubismo, 
porém, notaremos que o trabalho de Portinari traduz uma realidade artística de forma ainda 
mais brilhante, uma identidade completa. Todos os aspectos da vida de Portinari, em seus 
dados políticos, sociais e familiares conduzem para a personalidade da sua trabalho. 
Parceiro dos mais diversos tipos de artistas, tais como de poetas, escritores, músicos e 
artistas plásticos, bem como conhecedor de pessoas de outros setores da sociedade como 
jornalistas, diplomatas e políticos, Candido Portinari participa presencialmente da 
considerada elite intelectual brasileira. Num contexto histórico em que se verifica uma 
notável mudança, não só na atitude estética, mais também na atitude cultural do País. Este 
seleto grupo reflete, ainda, sobre os problemas do mundo e da realidade nacional. Segundo 
o Site Guia das Artes, a influência desse grupo específico, bem como o cenário histórico 
em torno do artista leiravam o mesmo, inclusive, a posição de político em determinado 
momento da vida. 
2.1 Breve relato biográfico 
2.1.1 Biografia do artista 
Candido Portinari nasceu em 1903, no dia 30 de dezembro, em uma fazenda de café no 
interior de São Paulo, mais precisamente na cidade de Santa Rosa. O mesmo veio de uma 
família simples e humilde de italianos, Candido teve 11 irmãos, filhos de Dominga 
Torquato e Baptista Portinari, seus pais. Teve pouco estudo, cerca de cinco anos, não 
concluindo o ensino primário. Candido demonstrou muito talento artístico desde novo, 
produzindo aos 10 anos de idade o primeiro desenho reconhecidamente de sua autoria, um 
retrato de Carlos Gomes, que era um importante músico brasileiro. Aos 15 anos, em 1918, 
Portinari começa a trabalhar em Brodowski como ajudante de um grupo de pintores e 
restauradores de igrejas. Era sempre prestativo e atencioso no trabalho que executava, 
dessa forma aprendeu tudo sobre o ofício das artes plásticas. 
Em meados de 1919, muda-se para o Rio de Janeiro e lá inicia seus estudos na Escola 
Nacional de Belas Artes. 10 anos depois, Portinari vai para a Paris, local de intensa 
movimentação cultural. Lá, o pintor se dá conta da preciosidade presente em seu país, 
tomando a decisão de retratar o Brasil e sua gente. Aos 32 anos o artista ingressa no cargo 
de docente, como professor do instituto de artes da Faculdade do Distrito Federal. Aos 42 o 
mesmo ingressa na vida política lançando sua candidatura a deputado federal e dois anis 
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mais tarde volta a concorrer para senador pelo partido comunista Brasileiro (PCB), do qual 
era filiado. 
Em 1955 participa da III Bienal de Arte de São Paulo e nos anos seguinte continua 
trabalhando e integrando as mais importantes exposições do país. Em 1952, aos 58 anos, 
Portinari Morre por complicações de saúde. Este problema estava relacionado diretamente 
a todo motivo de sua glória. A complicação e a saúde estável se devem ao fato do largo uso 
detintas tóxicas. 
2.1.2 Referencias artísticas de Portinari 
As principais obras de Portinari revelam detalhadamente os conceitos artísticos do mesmo. 
Cândido pintou inúmeros painéis e telas. A grandeza do artista o tornou um dos principais 
nomes do Modernismo não só brasileiro, mas no cenário mundial. Uma vez que, sua obra 
alcançou contextos internacionais, como o painel Guerra e Paz, exposto na sede a ONU 
em Nova York. A partir de 1932 notamos uma volta da arte de Portinari para a cena social 
como uma busca de exprimir as terras brasileiras. Após a sua grandiosa exposição de Arte 
Moderna, promovida nos Estados Unidos pela Fundação Carnegie, Portinari se tornou o 
primeiro artista brasileiro premiado no exterior, de acordo com a Professora de 
biblioteconomia Diva Frasão, autora de uma das biografias do artista. 
A professora Diva, em sua obra, denota a transformação da temática trabalhada por 
Candido em sua construção artística. Na biografia ela afirma: 
"O realismo de Portinari começou a tender para o monumental, os 
motivos da exaltação do trabalho braçal e da exaltação homem-terra 
ganharam primazia em suas obras." 
 
Começam a entender Portinari, então, como uma figura importante no processo de 
construção no "neo-realismo". A estética do artista passa a revelar a sociedade de forma a 
causar impacto e reflexão. Conhecendo que Portinari bebê de fontes tais como o Cubismo, 
realismo, abstracionismo entre outras vanguardas, notou em sua produção uma forma de 
recriar conceitos de arte. Em seu estudo, a professora Aracy Amaral aponta como a arte de 
Portinari se aproxima do chamado Socialismo realista. Ela entende que a produção artística 
do mesmo reflete as aspirações desse dito movimento, pois tem como motivação a 
realidade social e a desnaturalização dos problemas sociais brasileiros. 
2.2 Arte Moderna Brasileira 
O modernismo brasileiro possuiu como start e marco simbólico a Semana de Arte 
Moderna, realizada na cidade de São Paulo em 1922. Ela é considerada como o divisor na 
história da cultura brasileira. A semana de arte moderna foi organizada por um grupo de 
intelectuais e artistas por ocasião do Centenário da Independência - ela representa, 
portanto, o rompimento com o tradicionalismo cultural associado às correntes literárias e 
artísticas anteriores: o parnasianismo, o simbolismo e a arte acadêmica. 
8 
 
Criar um novo ponto de vista e levantar a bandeira da independência cultural fazem do 
modernismo sinônimo de "estilo novo". Heitor Villa-Lobos na música; Mário de Andrade 
e Oswald de Andrade, na literatura; Victor Brecheret, na escultura; Anita Malfatti e Di 
Cavalcanti, na pintura, são alguns dos célebres participantes da Semana, mostrando assim 
como o evento foi abrangente com campo artístico, e como o cenário da arte lá apresentada 
era heterogêneo e diverso. 
Toda essa gama de artistas que buscava construir uma arte genuinamente brasileira, 
trazendo todos os traços nacionalistas dentro de duas obras de arte, coincide diretamente 
com o período e produção artística do Candido Portinari. Portinari pode ser tomado como 
expressão típica do modernismo de 1930. À pesquisa de temas nacionais e ao forte acento 
social e político dos trabalhos associam-se o cubismo de Picasso, o muralismo mexicano e 
a Escola de Paris. E com esse mix de referência as obras do artista são símbolo do 
movimento nacional. 
Portinari se localiza em sua produção artística no período entre a primeira e a segunda 
geração do movimento da arte moderna. Neste período notamos que o principal objetivo da 
produção era chocar. As temáticas de ordem política, social, econômica, humana e 
espiritual passaram a ser incluída nas obras, Candido passa a tratar de tal tema logo após os 
anos 1929. Temas ligados ao regionalismo também se fizeram presentes, no qual houve 
uma representação do homem brasileiro em diversas regiões. Foi o momento em que 
muitos dos artistas do movimento transmitiram a consciência crítica através de suas obras. 
É muito comum perceber nas obras do período abordagem de temas de interesse social 
como: a desigualdade social, os resquícios de escravidão, o coronelismo e a vida difícil dos 
retirantes. 
2.3 Contextualizações da Obra “Retirantes” 
A obra escolhida para análise faz parte de uma série pintada por Candido, retratada em 
1944 como título “Os Retirantes”. A série se compõe por três obras: "Retirantes” (1944), 
“Criança Morta” (1944) e “Enterro na rede” (1944). 
O quadro “Os Retirantes”, primeiro da série e quadro aqui analisado, é um óleo sobre tela e 
mede 190 X 180 cm, atualmente faz parte do acervo do Museu de Arte de São Paulo 
(MASP) e retrata uma família de retirantes, pessoas que se retiram de uma região para 
outra em busca de condições melhores de vida. A obra representa êxodo sertanejo, a fuga 
do povo nordestino da fome e da miséria. Mostra de maneira impactante a necessidade que 
o esse povo têm de abandonar sua terra natal em busca de uma vida melhor em outra parte 
do país. Portinari retrata com exatidão todo o sofrimento do povo brasileiro, pois "ele 
sofria com o sofrimento do seu povo". O cenário de miserabilidade do povo é bem 
explorado ano quadro e o impacto visual bem trabalhado. 
A forma como as pessoas estão representadas no quadro carregam todo seu sofrimento e 
suas vivências, advindos de uma condição humana precária. O quadro retrata como estes 
perdem a dignidade, esquecendo-se de sua importância e integridade humana. O diálogo 
9 
 
entre a produção de Portinari e a obra "Vidas secas", de Graciliano Ramos, garantiram uma 
série de estudos que provocavam a interpretação alinhada das duas produções artísticas. 
Veja o que diz Lessing em sua obra, Laocoonte-Ou Sobre as Fronteiras da Pintura e da 
Poesia: 
"[...] Essas duas artes possuem uma conformidade tão grande entre elas 
que, para que tenhamos tratado das duas ao mesmo tempo, basta trocar os 
nomes e pôr pintura, desenho, colorido no lugar de poesia, de fábula, de 
versificação. É o mesmo gênio que cria em uma e na outra [...] 
(LESSING, 2011, p. 34)." 
 
É notável, portanto, esta cumplicidade entre as obras de Graciliano o Portinari, tanto na 
maneira de se expressar em relação ao tema em questão bem como nos laços artísticos. A 
série de Portinari, Os Retirantes, não ilustra o romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos, 
pois os elementos utilizados nas telas escapam ao discurso: é a soma da compreensão da 
imagem acústica e da emoção. Porém, em muitos pontos, elas conversam entre si, como na 
descrição física e geográfica, na exaltação do sofrimento do sertanejo e na representação da 
miséria de toda natureza, já todos esses elementos são expressos tanto no romance de 
Graciliano Ramos quanto nas telas de Portinari, aponta Kristini Kelly Furtado, em seu 
estudo “A representação dos espaços e as tonalidades da miséria em vidas secas de 
Graciliano Ramos e a serie Os Retirantes, de Cândido Portinari”. 
2.3.1 Referencias de movimentos artísticos na obra 
A obra aqui analisada possuiu como principal referência artística o expressionismo e 
favoismo. Sabemos que no expressionismo a técnica de pintura é livre e violência 
dramática, ressaltando e garantindo sempre a emoção dramática na obra. Por outro lado, as 
cores, assim como as formas e as pinceladas, são bastante exageradas e distorcidas para 
enfatizar mais ainda as emoções pretendidas pelo artista autor, deixando de serem 
naturalistas para se tornarem expressão de sentimentos em si. O Museu de Arte de São 
Paulo (MASP) possui em seu acervo obras expressionistas com a temática dos retirantes, 
importantes na carreira do artista. 
Por se basearem na exaltação da cor, alguns artistas fovistas foram aclamados como 
mestres coloristas, tamanho o domínio que possuíam sobre cores e tonalidades. São artistas 
que produziram obras fauvistas, entre outros: André Derain, Raul Dufy, Kess van Dongen 
e Henri Matisse (artista por quem Portinaripossuía especial apreço). Embora Portinari não 
se prendesse a um único estilo de pintura, influências do fovismo também podem ser vistas 
em algumas de suas obras. O fovismo é uma manifestação de arte moderna que surgiu na 
França nas primeiras décadas do século 20. 
3. PERCEPÇÃO VISUAL DA OBRA 
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Analisando detalhadamente a obra "Retirantes” (1944), percebemos a presença de uma 
paleta de cores neutras, todas caracterizadas pelos tons de ocre. São neutras em tons 
terrosos, expostos tanto no chão da tela quanto nas vestimentas dos personagens da cena. 
No total, apresentam-se nove figuras na composição na composição, dos quais seis delas 
são crianças e três são adultos. A tristeza está impressa na face de oito personagens, uma 
vez que há um bebê que está de costas, e não se pode perceber sua feição. 
O título da obra diz respeito direto às figuras representadas. São pessoas maltrapilhas e 
pobres, que trazem consigo sua bagagem: uma trouxa que está apoiada na cabeça da 
mulher no meio da composição, e o homem à direita carrega uma trouxa amarrada em um 
pedaço de pau, em seu ombro. A imagem dos personagens com sua bagagem sugere que 
estão se transportando para algum lugar. 
 
 
1 2 3 
Observando o cenário como fundo dessas figuras, o cenário sugere que elas estão em um 
local deserto, árido, e não há sinais de construções ou urbanização por perto. O que 
podemos notar vendo o céu da obra é a presença de urubus - não se sabe se está à espera da 
morte de algum integrante da família, ou em busca de algum animal morto, para saciar a 
sua fome. As figuras encontram-se centralizadas na tela, de frente para o observador. Elas 
tentam captar a emoção de quem observa essa cena tão tocante do retirante nordestino. 
A professora Annateresa Fabris, historiadora da Escola de comunicação de artes da USP 
indica o relação evidente das pinturas do Portinari a expressão da pintura realista e 
impactante como a revelada no quadro Guernica, de Picasso. Veja o que ela diz: 
“Foi sob o impacto de Guernica que Portinari desarticula, escava suas 
figuras até reduzi-las à essencialidade expressiva. Os retirantes que 
provocam medo no menino de Brodósqui com seus enterros em redes ou 
lençóis viram para o adulto símbolo de uma sociedade injusta e de uma 
humanidade dilacerada pela guerra” 
A obra, portanto, reflete engajamento social em suas dimensões impactantes que convidam 
o expectador a realização de uma reflexão a serva da realidade miserável ou degradante 
que se encontra exprimida na arte. Dessa forma, o impacto visual dos Retirantes de 
11 
 
Cândido ultrapassa a expectativa de mero impacto para prender a atenção do expectador, 
mas torna-se ferramenta de reflexão social. É preciso entender que o tema abordado na 
pintura não está distante da realidade ou vivência do expectador, ele pinta o Brasil para os 
brasileiros. Se tornando então figura que trabalha em explorar o drama real e trazê-lo à 
tona em forma de arte. 
3.1 As cores e o impacto da obra 
O uso da cor e do claro/escuro na obra Retirantes são recursos para reforçar o caráter 
dramático da cena. A Psicologia das Cores é um estudo que visa compreender e mostrar 
como o cérebro identifica as cores e reage a elas. Através de pesquisas, esta área da 
psicologia analisa como nosso cérebro transforma as cores em sensações e quais efeitos 
cada tonalidade gera nas pessoas, como alterações nas emoções, criação de desejos, 
mudanças de sentimentos, etc. Segundo Birren, cada cor tem ação individual em ações 
humanas e nosso cérebro associa cada uma a diferentes emoções. Essa citação reforça a 
tese da importância da psicologia das cores no comportamento das pessoas. O uso da cor e 
do claro/escuro na obra Retirantes são recursos para reforçar o caráter dramático da cena. E 
este foi o desejo de Portinari na escolha da cartela de cores, no comportamento das 
pinceladas e das expressões de cenas e personagens. É evidente a potencialidade dramática 
dos traços trazidos pelo artista na obra. 
Vejamos os aspectos e relação das cores com o impacto da obra no expectador: 
 
3.1.1 Tons terrosos 
 
 
A paleta de cores tons terrosos possui cores associadas à terra que podem ir desde o 
marrom mais escuro e até mesmo algumas tonalidades de verde. Na Obra em questão 
veremos a variação de tons do marrom, cinza azul e preto como expressão dessa relação. O 
uso dos tons na obra facilita a leitura ocular do objetivo dela. O cenário é apresentado de 
forma degradada, da mesma forma os personagens. A expressão, cores e traços se 
confundem e se repetem entre as figuras e o espaço. Logo, o ambiente destruído é também 
a vida da população nordestina destruída, supões o espectador na sua vista da obra. 
3.1.2 Variações 
 
As variações de azul e branco reflete a imagem do céu e horizonte sem perder a 
experiência do impacto da obra; 
 
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Os tons de marrom e preto, representados tanto no chão como na roupa dos personagens 
refletem os ditos tons terrosos que trazem a dramaticidade da cena. 
3.1.3 As texturas 
As texturas representadas não escapam ao desenvolvimento da experiência visual e do 
drama da obra. Por sua vez eles entram com papel de construção de sentido. A visível 
degradação humana é escancaradamente evidenciada nos aspectos da pele dos personagens 
retratados, em suas vestimentas e adereços. Note a textura e coloração da pele da figura 
mais idosa, na lateral esquerda do quadro, evidenciada como a pele sofredora e com as 
mais diversas marcas do tempo e do trabalho. As colorações da pele das demais figuras 
convidam a essa noção de distanciamento da beleza do ser humano. As personagens, 
portanto, passam a ser encaradas como seres não humanos, pois seus aspectos em nenhum 
momento configuram a pessoa em sua natureza. A apreciação é incômoda, e esse é o 
objetivo do artista, do incomodo gerar reflexão. 
 
 
4 ESTUDO DAS FORMAS 
As formas das obras de Portinari são compostas por traços exagerados e formas 
arredondadas. Nesta obra podemos notar a influencia da vanguarda cubismo. As roupas 
trazem formas geométricas fixas representadas por quadrados e retângulos. pés e mãos dos 
retirantes trazem uma das características marcantes de Portinari, o exagero, característica 
essa devido ao fato do pintor ter imenso fascínio pelas mãos e pés dos operários, pés e 
mãos que ele desejava ter quando criança, os rostos não trazem claramente a expressão de 
tristeza, mais a dor ainda é presente. 
Os círculos representam então todo esse exagero nas formas de Portinari, causando a 
dramaticidade na obra. 
 
13 
 
 
Estudos a cerca da psicologia das formas apontam que cada forma geométrica influencia e 
provocar reações diferentes na mente do expectador. A escolha por uma forma específica 
pode funcionar até mesmo como um fator de avaliação de caráter. Os círculos da obra 
perfeitamente fechados em si mesmos, como se a própria forma se bastasse, por isso ela 
passa a sensação de união, consistência, e estabilidade. 
 
 
 
 
 
As formas na Obra, portanto, garante toda visão de espacialidade e intensidade. Além de 
caracterizar o exagero dramático da obra. Identificamos assim a necessária incidência 
desses traços na conquista do impacto primário que Candido Portinari sempre quis causar 
naqueles que de deparassem com as suas obras. 
Foram observadas relações entre essa geometria do exagero, não apenas no que diz 
respeito a cor trazida dentro desse aspecto geométrico, mas em detalhes na expressão facial 
dos figuras, na descrição das vestimentas, no modo de vida e de sobrevivência, no 
tratamento da sociedade com esse povo, no descaso social e até na forma como eles se 
viam diante dessas situações. A situação representada não está somente associada às 
mazelas e à falta de condiçõesbásicas de sobrevivência, mas em todo o contexto que ela 
pode atingir as misérias da alma, que acabam com a esperança e matam aos poucos por 
dentro, roubando o sonho de uma vida melhor, que, para o retirante, não estava relacionada 
à aquisição de bens, mas apenas às condições melhores de sobrevivência. 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Ao analisar o painel “Retirantes” (1944) é possível compreender o quanto o artista se 
empenhou em mostrar a realidade da seca do nordeste, que não era noticiada na imprensa e 
não era conhecida por muitos brasileiros. Portinari sentiu-se na obrigação de fazer uma arte 
voltada para a realidade vivida por muitos brasileiros, de um Brasil esquecido. Outro 
Brasil, da fome, da seca, dos enterros na rede, das crianças mortas de fome, das pessoas 
maltrapilhas, cambaleantes de tanta fome e sede. Sede por uma vida melhor, uma vida 
14 
 
mais digna. A grandiosidade dessa obra e a atmosfera que envolve esse cenário são 
admiráveis. A conhecida arte militante se apresenta, portanto, como um instrumento de 
conscientização sobre problemas vivenciados em nossa sociedade. É esse o seu papel, e 
por isso acredita-se que a proposta apresentada contribuirá efetivamente na formação 
critica, social e educacional dos espectadores da obra. 
Considerar ainda, deste estudo, todos os aspectos históricos e geográficos como vistos nas 
disciplinas de História da arte, permitiram uma inserção mais profunda no 
desenvolvimento de uma ideia a cerca da produção artística de Portinari em Retirantes. 
Analisando também os aspectos aprendidos na disciplina de Percepção visual e psicologia 
das cores, podemos traçar com certo embasamento teórico para um estudo mais 
aprofundado do quadro como visto no capítulo três. Além disso, atribuindo as ferramentas 
aprendidas no curso de informática aplicada foram possíveis elaborar um estudo das 
formas do quadro com maior atenção a relação ideia da totalidade da obra. Entendo, 
portanto, a riqueza que cada conhecimento proporcionou para construção e resultados aqui 
obtidos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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