Prévia do material em texto
- -1 O corpo e a construção do conhecimento Patrick da Silveira Gonçalves Introdução Você já refletiu sobre em quais atividades do dia a dia utiliza seu corpo? O corpo é utilizado para tudo, seja para ler este texto, para se expressar e para aprender coisas novas. No entanto, a compressão do corpo como um todo nem sempre foi assim. Em determinados períodos da história, o corpo foi banido e dissociado do pensamento. Nesta aula, você vai entender as relações do corpo com a sociedade ao longo da história, abordando suas potencialidades e a perspectiva da corporeidade, que busca superar a visão dicotomizada entre o corpo e a mente. Ao final desta aula, você será capaz de: • compreender as relações históricas entre o corpo e a sociedade; • identificar o conceito de corporeidade, reconhecendo o corpo na sua potencialidade; • entender a relação existente entre corpo e mente na construção do conhecimento. Histórico das relações de corpo e sociedade Conforme a humanidade se desenvolveu desde a sua origem, ao corpo foram atribuídos diferentes sentidos e significados. Na Pré-História, ao corpo era atribuído o sentido de externar os impulsos necessários à sobrevivência, através da adaptação ao meio. Os sentidos e significados sempre estiveram em constante construção, sendo atribuídos conforme a sociedade também se modificava. Em grande parte da história, eles foram bastante restritivos quanto às suas potencialidades. Na Antiguidade, o corpo era utilizado para expressar uma arte de aperfeiçoamento físico, moral e estético dos cidadãos. Já na Idade Média, com a ascensão do Império Romano e da Igreja, o corpo era tido como algo profano, alheio ao desenvolvimento do espírito. O corpo, segundo a moral cristã, era a via de acesso que poderia tornar a alma impura. Durante o Renascentismo, o corpo deixou de ser totalmente negado e passou a ser uma • • • SAIBA MAIS O pensamento acadêmico filosófico já produziu muitos estudos sobre o corpo. Para verificar as análises e autores que discutem as elaborações sobre o corpo que ocorreram durante o século XX, leia o artigo “As infinitas descobertas do corpo”, escrito por Denise Bernuzzi Sant’Anna. - -2 alma impura. Durante o Renascentismo, o corpo deixou de ser totalmente negado e passou a ser uma necessidade para a razão. A partir de Descartes, o corpo surge como uma dimensão humana, e não mais como um antagonismo ao espírito ou o pensamento, mas como elemento dissociável (BARBOSA, 1996). Avançando um pouco mais, na Idade Moderna, o emprego do corpo estava bastante vinculado aos trabalhadores. Às elites, pelo contrário, eram reservadas as atividades intelectuais. A utilização do corpo, neste período, era entendida como a inferioridade das classes que não detinham o poder econômico. Figura 1 - Em grande parte da história, o corpo era um aparato para a busca da razão Fonte: mypokcik, Shutterstock, 2019. Na atualidade, o que se vê são os constantes debates e estudos buscando superar o reducionismo e os dualismos sore o corpo, atribuídos pela sociedade ao longo das épocas. A concepção holística (BARBOSA, 1996), que busca atribuir ao corpo uma totalidade indivisível em suas partes, tem sido bastante discutida. Nesta concepção, o EXEMPLO Para a compreensão das ideias de Descartes, tem-se o exemplo da afirmação “Penso, logo, existo”, desconsiderando outros fatores formativos do ser humano. Ela foi dita pela primeira vez em 1637, em seu livro O Discurso do Método (DAMÁSIO, 1998). Nesta frase, torna nítida a compreensão de que a razão é a condição única para a existência e, o corpo, desprezado. - -3 atribuir ao corpo uma totalidade indivisível em suas partes, tem sido bastante discutida. Nesta concepção, o corpo não pode ser dividido do espírito (como acreditavam na Idade Média), do trabalho ou de qualquer outra experiência. Ou seja, não se trata apenas de um plano material, mas uma condição ao existir. As pessoas são o que aprendem, o que pensam, o que sentem e o que expressam em suas experiências. E em qualquer um destes fenômenos o corpo está presente, formando e sendo formado por estas relações. Conceito de corporeidade Várias áreas do conhecimento buscaram identificar e conceituar a corporeidade. Dentro de tantas perspectivas, a antropologia, a sociologia, a história, a teoria histórica- crítica, a fenomenologia, a filosofia, entre outras áreas, possui teóricos que buscaram descrevê-la e compreendê-la. A etimologia da palavra refere-se à um termo de origem latina que a define como "um derivado de corpo que, pôr sua vez, significa a parte material dos seres animados ou, também, o organismo humano, oposto ao espírito, à alma" (SANTIN, 1992, p. 52). Grande parte da história ocidental abordou o corpo como um oposto à alma. Esta ideia só foi quebrada com a filosofia de Descartes, que passou a abordar as duas dimensões como complementares, dando ênfase ao corpo como sustentáculo da razão. Portanto, mesmo na visão do filósofo, ainda assim há uma abordagem dissociada, já que a essência humana era considerada o “pensar”. FIQUE ATENTO Desde que a filosofia emergiu como conhecimento importante na sociedade, iniciaram-se acalorados debates sobre o corpo e a corporeidade. Embora fosse comum que uma das correntes de pensamento defendidas em cada época sobrepujasse a outra e ganhasse status de verdade, sempre coexistiram diferentes concepções de corporeidade. - -4 Figura 2 - Corporeidade Fonte: Sergey Nivens, Shutterstock, 2019. A corporeidade, em contraponto, deve ser abordada a partir de uma dimensão holística do corpo humano. Para Barbosa (1996, p. 3), a corporeidade é mais ampla e tem o significado de: Corpo concreto, vivo e pulsante, dentro de sua complexidade constituinte, com toda a historicidade que lhe é particular; toma também o sentido de corpo vívido, onde o homem está situado como um corpo-no-mundo, dentro da totalidade que o cerca. Dentro deste entendimento, a corporeidade busca a integridade do ser humano, no olhar sobre o próprio corpo, sobre o corpo do outro e sobre o mundo, refletindo as complexas integrações que emergem entre eles. As intenções, os sonhos, as ações e as sensações obtidas pelo corpo formam a integralidade humana em suas capacidades de coexistência e de manifestação com – e para – o meio social, produzindo e sendo produto de significados. A estes fenômenos que se refere a corporeidade. O corpo e sua potencialidade O corpo, quando em liberdade, permite a cada sujeito viver, agir e interagir concretamente com outros corpos, com os objetos, com o tempo e com o espaço. Em outras palavras, só é permitida a compreensão do mundo corporalmente. Para além das sensações e dos movimentos, pelo corpo, pode-se internalizar significados e criar outros diferentes. Assim, o corpo é elemento de construção cultural e da própria identidade de cada sujeito (DAOLIO, 2003). - -5 Figura 3 - Experiências sensoriais Fonte: Sychugina, Shutterstock, 2019. Através do corpo, não só é possível compreender como o próprio corpo foi construído ao longo da história, mas também interagir com o outro; interpretar significados e produzir símbolos; construir sentidos; produzir mensagens; demonstrar pensamentos, sentimentos, sensações, valores e crenças subjetivas; avaliar criticamente as manifestações culturais; significar o mundo num diálogo entre o pessoal e o coletivo, entre o novo e aquilo que já é conhecido; construir bens para o próprio indivíduo, para um grupo social ou para toda a sociedade; e desenvolver práticas de respeito e de valorização da diversidade cultural que compõe a sociedade (DAOLIO, 2003). O desenvolvimento corporal e os sentidos Certamente, todas as possibilidades corporais não surgem com o nascimento dos sujeitos. Elas se constituem a partir das experiências que ocorrem ao longo de todo o ciclo da vida. Quando bebês, a primeira forma de interagir com o mundo é através dos sentidos. Isto é, através da visão, do tato, do paladar, da audição e da gustação, o bebê recebe e produz informações, inserindo-os no contexto em que se encontra,produzindo significados acerca do que necessita ou lhe produz sensações. - -6 Figura 4 - O choro dos bebês é uma das primeiras formas de construção de significados Fonte: Aaron Amat, Shutterstock, 2019. Em crianças e adultos, os gestos e expressões corporais se refinam, sendo formadas de acordo com a cultura na qual está inserida. Na primeira fase, o corpo possibilita o descobrimento do mundo através dos primeiros passos, que proporcionam certa autonomia; através dos jogos, aprendem a se posicionar e formar os valores que carregarão ao longo da vida. Nas experiências cotidianas, as aprendizagens se solidificam e as mudanças corporais que marcam a passagem para a vida adulta ampliam as suas possibilidades de linguagem, afirmando a identidade dos sujeitos. Corpo e mente na construção do conhecimento Em muitas instituições sociais atuais, o corpo é reduzido em sua integralidade. Por exemplo, é bastante comum nas instituições de ensino as carteiras em colunas, distantes umas das outras. Esta organização de uma sala de aula sugere a pouca manifestação corporal e o pouco contato entre os diferentes corpos. Em outro exemplo sobre o reducionismo do corpo, pode-se citar também as aulas de Educação Física, que através de uma pedagogia voltada apenas à movimentação dos segmentos corporais, como uma forma de busca pela performance, minimiza suas potencialidades. - -7 Desde o útero, o conhecimento do mundo começa a ser formado através da integração que ocorre socialmente entre o feto e sua mãe. Ao nascer, os movimentos sensório-motores fazem com que os bebês adquiram os conhecimentos necessários à sua sobrevivência, agindo e reagindo conforme o ambiente sugere. Como exemplo da potencialidade da utilização da integração do corpo e da mente na construção do conhecimento tem-se os jogos simbólicos, que permitem a construção de significados sobre os diferentes papeis da sociedade. Outro exemplo são os jogos regrados que, por sua vez, são uma possibilidade de construção corporal, possibilitando a construção de valores e crenças (DAOLIO, 2003). Com isso, é através do corpo, e somente através dele, que aprendizagens e expressões motoras dão dimensão para outras aprendizagens, como a linguagem, a cinestésica-corporal, a espacial, a musical, lógico-matemática, interpessoal, intrapessoal e naturalista (GARDNER, 1993). Em outras palavras, é com o corpo, e somente através dele, que é possível ao sujeito conhecer e agir sobre o mundo. Fechamento Ao estudar este tema, você compreendeu que existem distintos modos de compreender as potencialidades do corpo. Mais atualmente, a corporeidade é um termo que passou a ser usado para expressar todas as potencialidades corporais, que extrapolam a compreensão biológica e material e busca o corpo em sua dimensão holística. Isto é, o corpo é indissociável à mente e indispensável à existência dos sujeitos no mundo. Referências BARBOSA, S. S. quais são as concepções de corpo presentes no discurso nos professores deCorporeidade: Educação Física da rede Municipal de Ensino de Uberlândia – MG. 119f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade Estadual de Campinas, 1996. DAOLIO, J. Educação Física e o conceito de cultura. Campina: Autores Associados, 2003. GARDNER, H. the theory of multiple intelligences. Frames of mind: New York, NY: Basic Books, 1993. SANT’ANNA, D. B. As infinitas descobertas do corpo. , Campinas, SP, n. 14, pp. 235-249, 2000.Cadernos Pagu SANTIN, S. Perspectivas na visão da corporeidade. In: GEBARA, A.; MOREIRA, W.W. (org). Educação física e perspectivas para o século XXI. São Paulo: Papirus, 1992.esportes: FIQUE ATENTO Na Educação Física, não basta apenas a reprodução de movimentos corporais. Para além disso, é preciso conceituar os conteúdos e abordá-los de maneira procedimental para que o sujeito explore todas as potencialidades do corpo. - -1 Expressão corporal como linguagem e as manifestações corporais na sociedade Georgia Maria Ferro Benetti e Patrick da Silveira Gonçalves Introdução O movimento é um modo de ser e estar no mundo. O potencial expressivo do corpo humano é fundamental na capacidade de comunicação. Será que, como inerente à condição humana, esse potencial se desenvolve instintivamente ou pode ser estimulado por ações e práticas específicas? As diferentes práticas corporais com as quais entramos em contato marcam nossas vidas, fazendo com que sejam incluídas ou não no nosso cotidiano. Os profissionais que trabalham com movimento humano devem questionar que ações de movimento estão a favor do desenvolvimento pessoal e social? Estão presentes práticas de movimento que proporcionam prazer de bem viver no dia a dia e potencializam o desenvolvimento crítico e autônomo? Ao final desta aula, você será capaz de: • reconhecer a expressão corporal como meio de desenvolvimento integral do sujeito; • identificar o processo histórico do lúdico e das manifestações corporais nas diferentes culturas. A expressão corporal como linguagem entre as diversas faixas etárias A expressão corporal é linguagem, conhecimento universal, criada pelos seres humanos, que conecta a interioridade de cada pessoa e o ambiente por meio de expressões, gestos e movimentos, configurados por contextos históricos e sociais específicos. Assim, entidades sociais como a escola têm o papel no desenvolvimento do potencial da expressão corporal. Segundo Haas e Garcia (2008), a expressão corporal manifesta a personalidade por meio de recursos comunicativos do corpo. Para isso, combina possibilidades físicas e cognitivas, afetivas e motoras. Isso pode ser ilustrado pela dança tradicional Haka, do povo Maori, da Nova Zelândia, criada para intimidar adversários antes de uma luta. • • - -2 Acompanhada de cantos intimidadores, esta dança tem movimentos corporais e faciais ameaçadores, que comunicam que o adversário será vencido, morto e devorado. Esse último recado é traduzido por um movimento de colocar a língua para fora da boca. Figura 1 - Dança Haka Fonte: Victor Maschek, Shutterstock, 2018. Os movimentos surgem do sentimento e da percepção e, independente de forma e resultado estético, se relacionam com aspectos socioculturais. Somente por meio do corpo em movimento é que podemos expressar alguma mensagem. SAIBA MAIS Conhecer formas de expressão de culturas bem diferentes e distantes da nossa é importante para perceber a vastidão da amplitude do potencial expressivo humano. Para conhecer a expressividade do Haka, assista ao minidocumentário “Haka documentary: We belong here” (2015). - -3 Figura 2 - Expressões faciais e corporais Fonte: pathdoc, Shutterstock, 2018. Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), o desenvolvimento da expressão corporal está alinhado com objetivos de ensino da Educação Física que envolvem utilizar as diferentes linguagens - verbal, matemática, gráfica, plástica e corporal - como meio para produzir, expressar e comunicar suas ideias, interpretar e usufruir das produções culturais, em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação (BRASIL, 1997, p. 6). O trabalho relacionado com a expressão corporal não se pauta apenas na reprodução, repetição e treino de movimentos. Deve ser enfatizado em torno de vivências e experiências que possibilitem as manifestações originais e individuais, estimulem a liberdade e a diversificação de movimentos. Há muitas possibilidades para desenvolver expressividade em diferentes contextos e para distintas faixas etárias como, por exemplo, a movimentação, as brincadeiras, os movimentos rítmicos, os jogos e as sequências coreográficas. As aulas de Educação Física são fundamentais para o desenvolvimento do potencial expressivo, mas a expressão corporal não pode ser tratada sob o monopólio de disciplinas específicas. Ela é transversal aos aprendizados escolares, compõe a personalidade das pessoas e se relaciona com aspectos afetivos e cognitivos, entre outras dimensões. - -4 A expressão corporal, em suma, é a via de acesso com a qualo sujeito se coloca no mundo, sendo sujeito ativo dele. Neste sentido, tudo o que comunicamos, interiorizamos e significamos passa pela expressão corporal. Com as ações, as interações sociais, os sentimentos, os sonhos e as buscas por eles não é diferente. O lúdico e as diversas manifestações corporais historicamente construídas Em latim, significa jogos, brinquedos e brincadeiras. ludus Inúmeros registros apresentam o jogo, o brinquedo e a brincadeira como formas de ocupação nas mais diversas culturas, elementos inseridos nos costumes dos diferentes povos e que apresentam características próprias e formas de expressão e exposição. Ludicidade, como a aprendizagem, se iniciam com a história da humanidade. No entanto, podemos qualificar a prática lúdica como ferramenta da aprendizagem, contribuindo de forma especial para o desenvolvimento somente a partir do século I d.C. com a utilização de jogos pedagógicos por Horácio e Quintiliano. Embasadas na ludicidade, muitas outras práticas corporais surgiram ao longo dos tempos. A dança é uma das práticas corporais mais antigas, que servia de expressão corporal em rituais religiosos de diversos povos da Antiguidade. Tanto a ginástica e as lutas sistematizadas, embora se tenha registro também em sociedades antigas, ganharam maior expressão com os gregos, que as utilizavam como forma de preparar combatentes e cultuar o corpo, elevando o espírito por meio da busca por padrões estéticos. Os esportes remontam à mesma época. Emergindo das outras práticas corporais descritas, os primeiros campeonatos datam do século XVIII a.C. Sem dúvidas, a espetacularização do esporte é bastante presente nos dias atuais. Este processo de esportivização se constitui bastante influenciado nos valores capitalistas, onde a superação pelos indivíduos por meio do esforço e a ideia de apenas alguns vencedores são evidentes. FIQUE ATENTO O trabalho docente que visa a expressão corporal pode ser orientado para o desenvolvimento da consciência corporal e educação somática, embasado em teorias, métodos e técnicas, como a Eutonia, ou as propostas por Ivaldo Bertazzo, Klaus Vianna, Feldenkrais, Alexander Rolfing, entre outros. EXEMPLO Existem várias críticas a respeito da maneira como o esporte tem sido utilizado em aulas de Educação Física, mas podemos usar elementos esportivos dentro de práticas lúdicas aplicadas nessa disciplina. Tudo depende do método que o professor emprega para conduzir sua aula. - -5 O Coletivo de Autores (2014) expõe a importância de uma mudança na forma que é observado o esporte dentro do espaço escolar. Os autores sugerem que devemos tratar as práticas esportivas como o esporte na escola, e não da escola, adaptado e transformado para a realidade dessa instituição de ensino formal. Figura 3 - O esporte na escola deve ser abordado a partir de princípios educativos Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2018. Nessa perspectiva, o esporte pode ser trabalhado a partir de práticas lúdicas que se baseiem em elementos esportivos que irão construir diferentes atividades prazerosas aos alunos e que podem influenciar seus hábitos de lazer, auxiliando na busca de uma sociedade justa e livre das desigualdades. Desafios a serem enfrentados para uma prática esportiva lúdica e de lazer Na medida em que a tecnologia avança, mudando as ferramentas e as atividades de lazer, surgem novos comportamentos, atitudes e valores. Os dispositivos digitais, muitas vezes, levam as crianças a abandonarem precocemente suas atividades físicas, atingindo diretamente seu desenvolvimento motor. As deficiências no acervo motor das crianças, comuns neste início de século, são consequências da ausência de FIQUE ATENTO O artigo 3º da Lei nº 9.615/1998, também conhecida como “Lei Pelé”, apresenta quatro tipos de esportes a serem desenvolvidos na sociedade: o educacional, de participação, de alto rendimento e de formação (BRASIL, 1998). - -6 As deficiências no acervo motor das crianças, comuns neste início de século, são consequências da ausência de uma educação para realizar práticas corporais, pela falta de conhecimento, acesso e diversidade de propostas. Também por conta do aumento do enclausuramento dos sujeitos em seus domicílios, gerado pela insegurança, violência e medo do meio social. Figura 4 - Enclausuramento urbano atual Fonte: EvgeniiAnd, Shutterstock, 2018. A partir de práticas esportivas lúdicas e de lazer, é possível integrar aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos e sociais. Oportunizar o aprendizado sobre o cuidado de si, do outro e do ambiente são algumas das questões que devem estar presentes na escola, para que o aluno construa seu conhecimento e possa escolher práticas, como as vivências lúdicas esportivas, para realizar em seu tempo livre. Fechamento Ao estudar esse tema, aprendemos que os seres humanos usam gestos e movimentos corporais para se comunicar e produzir a sua identidade, formando e senso formados pela cultura em que estão vividas. Ou seja, a expressão corporal não é apenas espontânea, ela é potencializada pelo desenvolvimento do repertório motor e influenciado social e culturalmente, inclusive por instituições sociais. Compreendemos também que oportunizar práticas lúdicas no ambiente escolar, sejam elas associadas a diversas práticas corporais, significa apresentar aos participantes uma forma prazerosa e descompromissada de tomar com os movimentos e até mesmo com os gestos técnicos. De modo que é possível construir e desenvolver atividades diferenciadas e enriquecedoras em nas aulas de Educação Física, inspirando práticas que podem ser resgatadas no tempo de lazer. - -7 Referências BARROSO, A. L. R.; DARIDO, S. C. Escola, Educação Física e esporte: possibilidades pedagógicas. Revista , v. 1, n. 4, p. 101-114, dez. 2006. Disponível em: <Brasileira de Educação Física, Esporte, Lazer e Dança http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/EDUCACAO_FISICA/artigos >. Acesso em: 18 ago. 2017./escola_ed_fisica.pdf BETTI, M.; ZULIANI, L. Educação Física escolar: uma proposta de diretrizes pedagógicas. Revista Mackenzie de , v. 1, n. 1, p. 73-81, 2002. Disponível em: <Educação Física e Esporte http://editorarevistas.mackenzie.br/index. php/remef/article/view/1363/1065>. Acesso em: 18 ago. 2017. BEATS BY DRE. Haka documentary: We belong here. YouTube Disponível em: <. https://www.youtube.com /watch?v=EgU-RWQ4J7o>. Acesso em: 24 jan. 2019. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. : Educação física / SecretariaParâmetros curriculares nacionais de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. BRASIL. Lei n. 9.615, de 24 de março de 1998. Institui normas gerais sobre o desporto e dá outras providências. Brasília. 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9615consol.htm>. Acesso em: 30 jan. 2019. BRASIL. Brasília: MEC/SEF, 2017.Base Nacional Comum Curricular. COLETIVO DE AUTORES. . 2 ed Livro eletrônico. São Paulo: Cortez,Metodologia do ensino de Educação Física 2014. DAOLIO, J. Educação Física e o conceito de cultura. Campina: Autores Associados, 2003. HAAS, A. N.; GARCIA, Â. : aspectos gerais. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.Expressão Corporal http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/EDUCACAO_FISICA/artigos/escola_ed_fisica.pdf http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/EDUCACAO_FISICA/artigos/escola_ed_fisica.pdf http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/remef/article/view/1363/1065 http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/remef/article/view/1363/1065 http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/remef/article/view/1363/1065 https://www.youtube.com/watch?v=EgU-RWQ4J7o https://www.youtube.com/watch?v=EgU-RWQ4J7o https://www.youtube.com/watch?v=EgU-RWQ4J7o http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9615consol.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9615consol.htm - -1 Expressão corporal e interação social Patrick Gonçalves Introdução Você já refletiu sobre a idade que você começou a falar? E, antes de desenvolvera sua fala, como os adultos conseguiam identificar o que você necessitava? Desde pequenos somos capazes de desenvolver a comunicação e a interação social por meio da expressão corporal. Este processo de transmitir mensagens, códigos, ideias e emoções usando o corpo ocorre pela vida toda. Nesta aula, vamos discutir o processo de comunicação e interação social por meio da expressão corporal e a sua importância na interdisciplinaridade escolar, a qual ainda se encontra bastante fragmentada e alheia aos saberes e conhecimentos que são produzidos e modificados usando o corpo. Ao final desta aula, você será capaz de: • reconhecer a expressão corporal como meio de comunicação, interação social e interdisciplinaridade no projeto pedagógico da escola. A expressão corporal no processo de comunicação e interação social A comunicação é um processo pelo qual transmitimos mensagens, ideias, emoções e sentimentos ao interagirmos com alguém. Ela surge em nosso primeiro contato com outras pessoas e ocorre, principalmente, por meio da expressão corporal. Imagine um bebê. Seus movimentos descoordenados e a ausência da fala podem ser um fator que dificulta a comunicação com os outros sujeitos, mas não a impede. Por conta da expressão corporal, é possível saber se um bebê está com frio ou com calor, confortável ou desconfortável em um ambiente e se um alimento lhe agrada ou não. Ou seja, a comunicação que ocorre com a expressão corporal surge assim que o corpo é formado e acompanha os sujeitos por toda a sua vida. • - -2 Figura 1 - Bebês transmitem mensagens pela expressão corporal Fonte: Aaron Amat, Shutterstock, 2019. Para além de uma forma de comunicação, a expressão corporal também é uma possibilidade de construção e reelaboração de sentidos e significados, o que podemos visualizar já na educação infantil. Sendo assim, ainda que a fala não esteja completamente formada, a primeira forma que uma criança possui de participar e construir uma cultura ocorre por meio das expressões corporais. É neste sentido que Moss aponta a criança, desde o seu nascimento, deve ser compreendida como: co-construtora, cidadã, agente, membro do grupo [...] a criança como forte, competente, inteligente, um pedagogo poderoso, capaz de produzir teorias interessantes e desafiadoras, compreensão, perguntas [...] uma criança com uma voz para ser ouvida, mas compreendendo que ouvir é um processo interpretativo e que a criança pode se fazer ouvir de muitas formas (2012, p. 242). Neste sentido, o trabalho em todas as fases da vida, especialmente com crianças, deve priorizar as possibilidades de interação que ocorrem pelo uso da expressão corporal (MATTOS; NEIRA, 2008). Quando uma criança executa um gesto motor, é bastante comum que ela logo seja corrigida, inscrevendo-as em FIQUE ATENTO O professor que atua com crianças deve estar atento que muitas são as formas com que elas se comunicam. Diferentemente dos adultos, cuja principal forma de interação ocorre por meio da língua, as crianças se expressam e transmitem informações principalmente por meio da expressão corporal. - -3 Quando uma criança executa um gesto motor, é bastante comum que ela logo seja corrigida, inscrevendo-as em padrões institucionalizados. Por exemplo, ao tentar desempenhar um rolamento, é comum que o professor corrija seu aluno, ensinando-os a forma correta, tal qual na ginástica, o movimento deve ser feito. Figura 2 - Movimento espontâneo comum à infância Fonte: Monkey Business Images, Shutterstock, 2019. No entanto, o professor deve compreender que o rolamento que está sendo desenvolvido é uma das formas que a criança encontra para se expressar e para construir a comunicação com os indivíduos e com o mundo cultural que a cerca. Se é verdade que a expressão corporal é uma das primeiras formas de estabelecer a comunicação e a interação social entre os sujeitos, também é verdade que ela se desenvolve ao longo do ciclo da vida (MATTOS; NEIRA, 2008). Ou seja, tanto as crianças quanto adultos transmitem continuamente mensagens com seus corpos. Neste sentido, professores também devem estar atentos ao fato de que sempre estão transmitindo mensagem em seus movimentos, gestos e expressões corporais. SAIBA MAIS A expressão corporal não deve partir de critérios tecnicistas, mas sim dos movimentos espontâneos dos seres humanos. Atualmente, ainda é possível evidenciarmos certa marginalidade à expressão corporal. O livro “Educação Física e culturas: ensaios sobre a prática”, problematiza, entre outros conteúdos, a área da expressão corporal na educação (NEIRA, 2012). - -4 Corpo, movimento e a interdisciplinaridade A interdisciplinaridade consiste em superar uma lógica fragmentada do ensino, tal qual era na perspectiva cartesiana, onde só era possível perceber a realidade por meio do pensamento e a visão newtoniana, que apresentava o mundo como dividido entre partes isoladas que garantem a funcionalidade da totalidade (PAVIANI, 2014). Podemos reconhecer esta lógica fragmentada em muitas das instituições de ensino atuais, onde as disciplinas são separadas por períodos e pouco dialogam entre si. Figura 3 - Cada indivíduo é a peça de uma engrenagem Fonte: ESB Professional, Shutterstock, 2019. Esta segregação discorre em atividades que muitas vezes não fazem sentido às crianças e adolescentes, já que cada área do conhecimento aparenta um modo diferente de ver o mundo (PAVIANI, 2014). A interdisciplinaridade é entendida não só como a integração de disciplinas, mas uma integração de todos os envolvidos no processo educativo, para que partilhem suas experiências e reconheçam no outro e no ambiente agentes que coparticipam de suas histórias. FIQUE ATENTO A fragmentação dos saberes e conteúdos pressupõe uma sociedade individual e composta por - -5 Tanto o corpo quanto o movimento constituem objetos de saber que são bastante negados em instituições de ensino. De maneira geral, eles são considerados apenas como corpos biodinâmicos, capazes de desenvolver deslocamentos com eficiência e atuando com um integrado de células e sistemas. Assim, ênfase no conhecimento discorre ainda em uma perspectiva cartesiana, ancorada no pensamento. Para além disso, Mattos e Neira (2008) afirmam que a escola deve se preocupar em desenvolver, além de um corpo biológico, que sente fome, frio e calor, um corpo orgânico, que é capaz de sentir, de expressar e de agir. Figura 4 - O corpo narra histórias de vida Fonte: Styve Reineck, Shutterstock, 2019. O corpo não deve ser exclusividade da Educação Física ou das atividades teatrais. Para além disso, é necessário reconhecer o corpo como principal via de acesso ao conhecimento, além de estabelecer relações entre ele e outras disciplinas. De acordo com Mattos e Neira (2008), o meio social em que um indivíduo convive modela o corpo em suas maneiras de falar, de andar, de se vestir, de praticar esportes, de viver e de morrer. Ou seja, o constante diálogo que um indivíduo estabelece com a sociedade ocorre por meio de seu corpo e dos seus movimentos. Estes não podem estar restritos a apenas uma disciplina. É necessário que todas áreas do conhecimento possam problematiza-los, dando a ênfase necessária para compreender toda a sua complexidade. A fragmentação dos saberes e conteúdos pressupõe uma sociedade individual e composta por indivíduos isolados. Superando esta lógica, a interdisciplinaridade busca a compressão da interdependência entre todos os conteúdos e indivíduos. EXEMPLO Em uma proposta interdisciplinar para uma turma de adolescentes, é possível que a Educação Física problematize as práticas corporais que fazem parte do contexto social, a Geografia estabeleça conexões entre as práticas corporais e os espaços geográficos destinados para elas, a História aborde os percursos que fizeram com que as práticas se tornassem o que são, a Sociologia analise a presença das práticas corporais na sociedade, entre outras possibilidades. - -6 O sentido que a escola deve produzir nos estudantes consiste em formar sujeitos capazes de exercera sua cidadania, pautados nos princípios de justiça social e de solidariedade. Compreender o próprio corpo e o corpo dos outros, assim como o movimento, são condições necessárias para a formação da identidade e do respeito às diversidades que compõem o mundo (PAVIANI, 2014). Assim, o corpo deve ser um conteúdo a ser abordado por cada área do conhecimento, com diferentes perspectivas para compreendê-lo e tornando-o também um aprendizado transversal e indispensável. Fechamento A expressão corporal é uma das primeiras formas com que um sujeito se coloca no mundo, estabelecendo a interação social capaz de formar a sua identidade e reconhecendo os outros. Todos os significados partilhados pelas diferentes culturas passam pelo corpo. Desta forma, compreender este fenômeno requer um olhar de diferentes perspectivas, sendo necessária uma abordagem interdisciplinar. Referências MATTOS, M. G. de; NEIRA, M. G. : construindo o movimento na escola . 7 ed. São Paulo:Educação física infantil Phorte Editora , 2008. MOSS, P. Reconceitualizando a infância: crianças, instituições e profissionais. In: MACHADO, M. L. de A. (Org.). 4. ed. São Paulo: Cortez, 2012. p. 235-248.Encontros e desencontros em educação infantil. NEIRA, M.G.; LIMA, M.E; NUNES, M.L.F (orgs). : ensaios sobre a prática. São Paulo:Educação física e culturas FEUSP, 2012. PAVIANI, J. conceitos e distinções. 3. ed. Caixas do Sul: Educs, 2014.Interdisciplinaridade: - -1 Expressão corporal como meio elemento de aprendizagem Patrick Gonçalves Introdução Você já deve saber que a expressão corporal está presente o tempo todo em cada um de nós. A cada movimento, a cada gesto e a cada expressão transmitimos mensagens sobre quem somos e o que sentimos. Com esta possibilidade de criar e recriar mensagens, seria possível transformar a expressão corporal em objeto de ação pedagógica? Quais atividades favoreceriam estas ações? A partir destas questões, você vai entender a expressão corporal como ferramenta para a intervenção pedagógica e conhecer algumas atividades em que a expressão corporal se mostra bastante evidente. Ao final desta aula, você será capaz de: • identificar atividades que contemplam a expressão corporal, reconhecendo-a como intervenção pedagógica. A expressão corporal como ferramenta para a intervenção pedagógica A expressão corporal é uma das formas pela qual é possível se comunicar com outros indivíduos e com o mundo a sua volta. Através da expressão corporal, é possível emitir mensagens, sentimentos, símbolos e emoções que podem ser compreendidas por outras pessoas. Por possibilitar a criação, a expressão, a significação e ressignificação, são muitos os benefícios e possibilidades • FIQUE ATENTO A expressão corporal ocorre o tempo todo, em todos os indivíduos. O corpo, ainda que imóvel, é capaz de transmitir mensagens e ideias que despertem no interlocutor compreensões diversas. No entanto, em algumas atividades é possível potencializar os efeitos da expressão corporal. - -2 Por possibilitar a criação, a expressão, a significação e ressignificação, são muitos os benefícios e possibilidades que a expressão corporal encontra em propostas pedagógicas. No entanto, é bastante comum que a expressão corporal esteja vinculada à Educação Física e à Educação Artística, já que nestes componentes curriculares são mais evidentes os movimentos corporais. Figura 1 - Os jogos teatrais são um exemplo de atividades de expressão corporal Fonte: H Dilon, Shutterstock, 2019. Cabe lembrar que, por ser uma das formas de se transmitir e construir conhecimento, ela pode ser desenvolvida por qualquer área do conhecimento. Ela pode, inclusive, ser desenvolvida em projetos interdisciplinares, em que cada componente curricular poderá ser capaz de utilizá-la, conforme suas especificidades, na construção de um conhecimento que seja transversal a todos eles. Embora a expressão corporal seja utilizada no dia a dia, é possível sistematizar ações pedagógicas com a perspectiva de desenvolver em estudantes alguns objetivos. Silva (2007) sustenta que as atividades de expressão corporal podem promover o conhecimento de si; o incentivo da corporeidade; a problematização das relações estéticas; encorajar a expressividade dos alunos; a comunicação através de diversas linguagens; estabelecer diálogos corporais; construir consciência corporal; e sensibilizar os alunos. Diversas são as formas de desenvolver as práticas de expressão corporal, objetivando atingir as possibilidades que elas oferecem. De modo geral, é possível afirmar que qualquer prática corporal compõe elementos de expressão corporal que podem ser explorados. No entanto, algumas práticas são mais evidentes. Dança A dança consiste em uma arte de expressar-se através do corpo, seguindo movimentos ritmados. A origem da dança é bastante desconhecida, mas sabe-se que diversos povos da Antiguidade a utilizavam em rituais religiosos, como forma de cultuar divindades. - -3 Frequentemente, a dança está associada à música, refletindo o contexto social e cultural de cada indivíduo. Por exemplo, os estilos de dança podem variar conforme o país, a classe econômica, a religião, entre outros elementos que formam as culturas. Figura 2 - A dança permite expressar corporalmente o contexto social em que se está inserido Fonte: 1000 Words, Shutterstock, 2019. Por esse motivo, a dança como forma de expressão corporal, pode ser abordada de maneira a tematizar as diferentes culturas, proporcionando vivências e o respeito aos diferentes grupos étnicos. Cabe destacar, portanto, que todas as danças são modos de expressão corporal legítimos e não há uma forma equivocada de dançar. Atividades circenses O circo data do Império Romano e se constitui, basicamente, em atividades artísticas nas quais os artistas se utilizam do próprio corpo para impressionar os espectadores, seja através de atividades difíceis de serem realizadas, seja através de atividades que deixem o público surpreso (BORTOLETO, 2016). Existem diferentes tipos de dança nos mais diversos espaços sociais. Ao analisar uma dança, deve-se levar em consideração que se trata de uma forma de um indivíduo ou de uma comunidade se expressar. Assim, não existe o jeito certo ou errado de dançar. Ou uma dança “culta” e uma dança “inculta”. Todas as formas de dançar, sejam quais forem os ritmos, os movimentos e elementos expressivos, são legítimos do ponto de vista da cultura da qual fazem parte. FIQUE ATENTO SAIBA MAIS Embora sejam marcadas pelo improviso e pela superação do corpo, as atividades circenses - -4 O circo, ao longo dos anos, foi marcado por resistência e cooperação. A resistência remete ao período cientificista da renascença, que buscava deslegitimar as atividades do circo por não seguirem os padrões universais da ciência. E a cooperação, pois desde quando surgiu até os dias atuais, o circo é composto por membros - muitas vezes familiares - que se dividem nas tarefas e nas apresentações que são formadas de forma itinerante em várias cidades. Figura 3 - Circo possibilita diversas formas de expressão corporal Fonte: Ververidis Vasilis, Shutterstock, 2019. A expressão corporal proposta pelas atividades circenses, como afirma Bortoleto (2016), desenvolvem desenvolve a autoconfiança, a superação dos medos e obstáculos que são gerados pelos equipamentos e tecnologias desenvolvidas no circo. Ginásticas Se por determinado período a ginástica esteve pautada pelos pressupostos dos movimentos rígidos e institucionalizados, afastando-a das práticas circenses, atualmente, o que se pode notar é um movimento oposto, em que cada vez mais os elementos artísticos fazem parte das ginásticas (SILVA, 2007). As modalidades como a ginástica rítmica, a ginástica aeróbica e a ginástica artística têm cada vez mais a música, a expressividade e a dança. De fato, há tempos a ginástica deixou de ser uma modalidade esportiva que presa apenas pelos movimentos padronizados. Embora sejam marcadas pelo improviso e pela superação do corpo, as atividades circenses tambémrequerem uma sequência pedagógica e didática para o seu desenvolvimento. No livro “Circo: horizontes educativos”, de autoria Marco Antonio Bortoleto, publicado na Revista Brasileira de Ciências do Esporte, publicado em 2016, você pode conhecer mais sobre o ensino das atividades circenses. - -5 Figura 4 - Ginásticas incorporam cada vez mais elementos artísticos Fonte: fizkes, Shutterstock, 2019. Com as novas abordagens com que ela se apresenta, é possível reconhecer nesta atividade uma importante ferramenta para o desenvolvimento corporal. Além de possibilitar a relação dialógica com a cultura corporal em suas expressões cênicas e teatrais, possibilita também a vivência de outras expressões, explorando materiais, técnicas e tecnologias, incomuns às demais práticas corporais (BORTOLETO, 2011). Jogos e brincadeiras Não seria possível deixar de mencionar também os jogos e as brincadeiras, que consistem nas atividades voluntárias exercidas dentro de determinados limites de tempo e espaço, caracterizadas pela criação e alteração de regras por indivíduos ou grupos. Eles são uma das primeiras formas de expressão corporal. As brincadeiras e os jogos são muitos, variando conforme o contexto social de cada indivíduo. Nestas atividades, é possibilitado aos indivíduos desenvolverem e dramatizarem papéis, imaginarem cenários, criarem expressões, aumentando a sua capacidade de criação e estabelecendo relações consigo mesmo e com os outros indivíduos que participam das atividades. Um dos jogos em que a expressão corporal é bastante nítida é a capoeira, no qual os capoeiristas, ao jogarem, possuem total liberdade na criação de movimentos e estabelecem um diálogo constante enquanto jogam. EXEMPLO Em bebês, a primeira forma de expressão corporal se dá através dos jogos sensório-motores, onde através de movimentos reflexos e do controle motor pouco eficiente, a criança expressa o que sente. Em seguida, os jogos pré-operatórios, quando o controle motor evolui, a expressão corporal começa a se desenvolver de forma voluntária. - -6 Fechamento Sem dúvidas, é possível elencar as mais variadas práticas corporais e estabelecer as suas relações com a expressão corporal. Até mesmo nos esportes, as fintas, as comemorações após uma meta e outros elementos constituem expressões corporais que podem trazer benefícios à ação pedagógica. No entanto, busca-se destacar aquelas que se mostram mais evidentes devido à sua lógica interna e sua capacidade de criação e utilização de elementos corporais. A expressão corporal está em todas as atividades humanas. Quando sistematizadas, podem trazer inúmeros benefícios à prática pedagógica. Referências BORTOLETO, M. A. horizontes educativos. Campinas: Autores Associados, 2016.Circo: BORTOLETO, M. A. Várzea Paulista, SP: Fontoura, 2011.Jogando com o circo. SILVA, E. Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil. São Paulo: Altana, 2007Circo-teatro: . - -1 A infância e o movimento Patrick Gonçalves Introdução A cada movimento que você realiza, ocorre uma transmissão de mensagens e comunicação com os indivíduos que estão ao seu redor, pois possibilita uma interação com os demais. Mas será que o movimento é apenas uma possibilidade de expressão? Quais seriam os outros benefícios que eles podem trazer ao desenvolvimento dos sujeitos? A partir destas questões, você vai entender quais os principais benefícios que o movimento e a expressão corporal podem fomentar em cada um dos indivíduos. Bons estudos! Ao final desta aula, você será capaz de: • compreender o movimento como meio de desenvolvimento integral do sujeito e sua relação com o processo de aprendizagem. Concepções sobre corpo e movimento Ao nascer, e em parte da primeira infância, o corpo e os gestos motores são as principais formas de interação entre a criança e o mundo que a cerca. Ou seja, a criança constrói os significados do seu mundo a partir das experimentações motoras e sensoriais que são possíveis com os movimentos (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2013). Neste sentido, o corpo que é gerado e que se torna parte do mundo não é apenas um corpo fisiológico, capaz de se desenvolver em suas dimensões físicas e morfofuncionais. Trata-se de um corpo que age e interage no mundo em suas variadas dimensões, construindo o arcabouço que compõe a sociedade. Este desenvolvimento ocorre predominantemente pelo movimento. Não se trata apenas dos deslocamentos espaço-temporais que os segmentos corporais ou sua totalidade podem realizar. Os movimentos, nesta abordagem, são capazes de transmitir mensagens, sentimentos, emoções e informações, produzindo a troca contínua destes elementos entre os sujeitos e formando novos conhecimentos. • FIQUE ATENTO O movimento e a expressão corporal são as principais formas de comunicação e interação entre qualquer indivíduo e outros sujeitos. Também, o movimento é uma das formas de se inserir no mundo e modificá-lo, atribuindo novos sentidos aos gestos e expressões que só ocorrem através dele. - -2 O direito de movimentar-se Os movimentos constituem-se como possibilidades das crianças se colocarem no mundo, tornando-se protagonistas do contexto social que fazem parte. Na mesma direção, o Referencial Curricular Nacional para educação Infantil (BRASIL, 1998, p.17) afirma que “é por meio do movimento que a criança se expressa e se comunica com o mundo através das expressões corporais e faciais, ao empregar o corpo como uma ferramenta para interagir com o mesmo”. Tal proposta é essencial para que a criança consiga desenvolver e participar de atividades esportivas, culturais e sociais que se ampliarão na segunda infância e sucederão a terceira infância, através de jogos as danças, por exemplo. Figura 1 - Legislação assegura a brincadeira como um direito de toda a criança Fonte: Gladskikh Tatiana, Shutterstock, 2019. O direito ao movimentar-se ocorre para que, além do desenvolvimento motor, outras dimensões também sejam SAIBA MAIS De acordo com a legislação brasileira, é direito das crianças e adolescentes brincarem, praticarem esportes e divertirem-se. O movimento, que é inerente a estas práticas, torna-se, portanto, também um direito da infância e da adolescência. Para saber mais sobre os direitos, leia o Estatuto da Criança e do Adolescente, sob a Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. - -3 O direito ao movimentar-se ocorre para que, além do desenvolvimento motor, outras dimensões também sejam estimuladas. Na dimensão cognitiva, várias são as possibilidades, já que o movimento, a expressão, os jogos e as brincadeiras permitem a construção de valores e conhecimentos (BEE; BOYD 2011). Nas dimensões, socioafetivas, há uma forte relação entre a expressão corporal e a construção dos vínculos socioafetivos, já que estes consistem na cooperação de diferentes sujeitos. Na infância, este convívio é fundamental para que as perspectivas acerca do mundo em que cada criança se encontra se ampliem. Deste modo, ao construírem suas aprendizagens, experiências e vivências junto às outras pessoas, pode ser mais fácil compreender e respeitar as diferenças, reconhecendo o valor de cada um na sociedade e encontrando a sua própria identidade no meio social em que se vivem. Manifestações e expressões corporais As manifestações e expressões corporais são diversas e a sua ênfase na sociedade depende da cultura na qual está inserida. A ideia de identificar estas diferentes possibilidades expressivas e culturais não é nova. Pode-se evidenciar desde o surgimento do movimento renovador da Educação Física. Logo, a ideia da Educação Física centra-se na abordagem de práticas corporais que são produtos culturais e sociais. Esta proposta é compartilhada na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o documento que determina as orientações para o currículo de todas as instituições de ensino da educação básica brasileira. Na BNCC, os objetos de conhecimento da Educação Física estão estruturados em seis unidades temáticas, que formam os conhecimentos e saberes que devem ser proporcionados a cada indivíduo inseridonas instituições de ensino brasileiras (BRASIL, 2017). Os jogos e brincadeiras são as atividades corporais que se exercem de maneira voluntária em determinado período e determinado tempo. Nestas atividades, o fim se encontra no jogo ou na brincadeira em si. As práticas corporais de aventura são as atividades que buscam expor o corpo ao máximo de performance, muitas vezes expondo-o a riscos. Nestas práticas, o objetivo é superar a si próprio, derrotando obstáculos cada vez mais difíceis de serem superados. FIQUE ATENTO A Base Nacional Comum Curricular é um documento elaborado por diversos setores da sociedade brasileira e tem por objetivo assegurar aprendizagens essenciais a todos os estudantes do país. Neste documento uma série de conteúdos estão previstos para cada etapa de escolarização. - -4 Figura 2 - Prática corporal de aventura Fonte: John-james Gerber, Shutterstock, 2019. Já as ginásticas contemplam atividades baseadas na realização de acrobacias e de movimentos expressivos. O objetivo desta prática corporal busca atingir padrões de performance e estéticos na realização de movimentos corporais. As danças se baseiam em atividades cujos movimentos expressivos se demonstram em determinado ritmo, podendo ou não acompanhar músicas e podendo ou não constituir coreografias. As lutas são as atividades corporais que se baseiam na demonstração de movimentos ou na superação de adversários através do uso de golpes, imobilizações ou exclusão de determinados espaços. Figura 3 - A luta também busca transmitir mensagens através do corpo Fonte: Iakov Filimonov, Shutterstock, 2019. Por fim, os esportes são atividades cujas regras são institucionalizadas e se baseiam na comparação da performance entre dois ou mais indivíduos. - -5 O movimento como recurso de prazer, competição, educação e saúde Como você percebeu até aqui, os movimentos são muito importantes ao desenvolvimento integral de indivíduos, principalmente em sua capacidade de expressar ideias, sentimentos e emoções. No entanto, os movimentos também podem atingir outros objetivos, como é o caso quando eles estão voltados à busca do prazer, da competição, da educação ou da saúde. As atividades hormonais que ocorrem com a prática regular dos movimentos agem como promotoras de bem- estar, inibindo a síntese de hormônios característicos destas patologias. Assim, as práticas corporais, como os esportes, as danças, as ginásticas, entre tantas outras possibilidades, geralmente ocorrem com a integração entre sujeitos diferentes e agrupam a busca por um momento prazeroso, que pode ser realizado em grupos ou individualmente à prática de movimentos. Em ambientes voltados à competição, qualquer prática pode ser desenvolvida como uma forma de disputa entre sujeitos diferentes, avaliando seu desempenho quanto aos padrões estéticos ou variáveis como o tempo e a distância. A competição só ocorre entre indivíduos diferentes e, por isso, o movimento nestas ocasiões se demonstram como uma das possibilidades de compreender e respeitar a presença de outro indivíduo. Voltados aos fins educativos, o movimento permite a construção do conhecimento na troca que ocorre na comunicação corporal. Bee e Boyd (2011) destacam que os movimentos, quando realizados periodicamente, promovem inúmeros benefícios neuronais, consolidando sinapses que permitem o aprimoramento das funções cognitivas. EXEMPLO A diferença entre as práticas corporais não significa que possuam fins diferentes. Uma mesma prática pode ser realizada desenvolvendo suas potencialidades de prazer, competição, educação e saúde. Exemplo disto é o futebol, que pode permitir o prazer na prática do jogo, o elemento competitivo entre dois times, a educação ao agregar valores e conhecimentos para quem os pratica, e a saúde, ao fortalecer o sistema cardiovascular, a força muscular, entre outras capacidades físicas e psicológicas. - -6 Figura 4 - Através do movimento, é possível obter inúmeros benefícios à saúde Fonte: Sirirat, Shutterstock, 2019. Por fim, é evidente que os movimentos proporcionam a saúde física e psicológica de quem os pratica. Os movimentos, quando organizados em seus propósitos, podem contribuir para a saúde física, envolvendo as capacidades de resistência cardiorrespiratória, força e resistência muscular e flexibilidade. Também são bastante evidentes a diminuição de patologias que comprometem o desenvolvimento social, tais como o transtorno de ansiedade e a depressão (GALLAHUE; OZMUN, 2013). Fechamento O movimento não é apenas uma forma de expressão. Sem dúvidas, como expressão corporal, suas possibilidades são diversas e se encontram em cada prática corporal. Para além disso, os movimentos podem ser utilizados para o pleno desenvolvimento dos indivíduos, atuando em caráter educativo, voltado ao lazer, competição ou voltado à saúde, explorando cada sujeito em suas diversas dimensões. Referências BEE, H; BOYD, D. . 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.A criança em desenvolvimento BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretária de Educação Fundamental. Referencial Curricular . Brasília: MEC/SEF, 1998.Nacional para a Educação Infantil BRASIL. Ministério da Educação. educação é a base. 3. ed. Brasília: MEC,Base Nacional Comum Curricular: 2017. GALLAHUE, D; OZMUN, J. bebês, crianças, adolescentes e adultos.Compreendendo o desenvolvimento motor: 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. PAPALIA, D.; OLDS, S.; FELDMAN, R. . 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.Desenvolvimento Humano - -1 O lúdico na formação integral do ser humano, em especial do educando Patrick Gonçalves Introdução Provavelmente, você já foi convidado a participar de alguma atividade através das perguntas “vamos brincar?” ou “vamos jogar?”. Estas duas expressões são muito comuns, principalmente no universo infantil, em que os jogos e brincadeiras tomam grande parte da vida das crianças. Embora sejam muito utilizadas para os mesmos contextos, principalmente em espaços formativos como a escola, será que se tratam de sinônimos? Ainda, será que ambas são indispensáveis à formação integral dos indivíduos? Nesta unidade temática, você conhecerá os conceitos de jogo e de brincadeira, relacionando-os com a aprendizagem e o desenvolvimento dos sujeitos. Ao final desta aula, você será capaz de: • compreender o brincar como instrumento de aprendizagem; • diferenciar jogo e brincadeira; • identificar a importância do jogo e da brincadeira para o desenvolvimento do sujeito. Conceito de jogo e brincadeira O jogo e a brincadeira são recorrentemente tidos como sinônimos no senso comum e para muitos autores. Tanto o jogo quanto a brincadeira fazem parte de um conceito maior, que se refere à ludicidade. A ludicidade tem sua etimologia a partir da variação de uma palavra de origem no latim. Assim, Huizinga (2008) define o conceito de como as atividades típicas da infância, a recreação, os jogos teatrais, as competições esportivas, asludus apresentações dramatúrgicas e, ainda, os jogos de azar. Importante ressaltar que o conceito desse autor traz uma abordagem que extrapola a fase da infância, sendo possível também entendê-lo a partir de atividades que são desenvolvidas por indivíduos adultos, apresentado pelo autor como o conceito de homo ludens. • • • - -2 Nesse mesmo sentido, Brougère (2003) aponta que o oposto a , em latim, era a palavra . Nesseludus serius conceito, o jogo e a brincadeira eram entendidos como aquelas atividades que são opostas ao trabalho, ou seja, uma forma de utilizar o tempo de descanso em momentos que o indivíduo possa se revigorar, antes de retomar as atividades laborais. Nessa perspectiva, o jogo e a brincadeira estão associados também à ocupação voluntária. Avançando mais na definição dos termos, os autores Freire e Scaglia (2011, p. 33) definem que “o jogo é uma categoria maior, uma metáfora da vida, uma simulação lúdica da realidade, que se manifesta, se concretiza quando as pessoas fazem esporte, quando lutam, quando fazem ginásticas ou quando as crianças brincam”. O jogo é, portanto,uma expressão que se define com a ideia de limites, de liberdade e de invenção, sendo possível de ocorrer em diferentes expressões humanas e causando sensações diversas. Imagine as sensações que são desencadeadas por um jogador de futebol, ao perder ou vencer uma partida. No senso comum, a brincadeira geralmente é definida como a ausência de conflitos e regra e total presença de prazer. No entanto, o que distingue a brincadeira das demais atividades que compõem o jogo é a situação imaginária criada por tal atividade. Neste sentido, Vygotsky (2010, p. 111) elabora que “no brincar há regras – não as regras previamente formuladas e que mudam durante o jogo, mas as que têm sua origem própria na situação imaginária”, podendo estas gerar ou não conflitos. SAIBA MAIS O brincar como objeto se ensino-aprendizagem surgiu há alguns milhares de anos, sendo atualmente muito estudado pelos pesquisadores que buscam compreender como as crianças aprendem. No livro “Jogo, brinquedo, brincadeira e educação”, organizado por Tizuko Morchida Kishimoto, você conhecerá como obrincar surge ao longo da história da humanidade relacionado à criança e à educação. FIQUE ATENTO A definição de encontra dificuldade nos aspectos linguísticos, uma vez que, em algumasjogar línguas, como no inglês ( ) e no espanhol ( ), podem significar diversas outrasto play jugar possibilidades do que aquelas que comumente se utilizam no português. Por exemplo: no caso do inglês, sua tradução para o português pode significar , , (teatral),tocar jogar, brincar peça entre outros. Dessa forma, as traduções de obras literárias e de estudos podem apresentar distorções acerca do que os autores realmente quiseram enunciar. - -3 Assim, é possível concluir que o jogo faz parte do conceito de ludicidade e engloba, como uma de suas atividades possíveis, o ato de brincar. Todos os elementos do brincar, como regras, conflito e a situação imaginária podem ser aplicados ao jogo. No entanto, nem todo o jogo contém situações imaginárias, criando, assim, uma situação de pertencimento. O brincar como instrumento de aprendizagem Em muitas situações, o brincar é visto como uma atividade despretensiosa, que não estabelece construções positivas às crianças. Contrariando isto, as brincadeiras são de grande importância, principalmente para o processo de aprendizagem. Com as brincadeiras, a criança aprende a criar com as situações imaginárias a sua autonomia, desenvolvendo a criatividade e regras cada vez mais complexas, contribuindo também ao seu desenvolvimento cognitivo. Segundo os Referenciais Curriculares para a Educação Infantil (BRASIL, 1998), o ato de brincar sugere que a criança parta de uma situação conhecida, imitando gestos, sons e outras ações que já fazem parte do seu contexto e indo em direção a situações desconhecidas, gerando, assim, um repertório maior e mais complexo de seus processos cognitivos. EXEMPLO Pense em uma criança que brinca com o galho de uma árvore, imaginando que este é uma espada. Nesta situação, a criança está brincando (e jogando, consequentemente), já que há uma situação imaginária e regra estabelecida (os movimentos são feitos tais quais uma espada). Mesmo que o galho quebre, gerando um conflito, a criança pode continuar brincando, tendo agora duas espadas. - -4 Figura 1 - A criança revive situações que já conhece, utilizando-se da criatividade Fonte: Shutterstock, 2019. Na situação imaginária criada pelo ato de brincar, a criança assume papéis que remetem à sua realidade, interpretando fatos vivenciados e estabelecendo relações entre estas diferentes elaborações. Situações vivenciadas anteriormente como o medo, a frustração, a alegria, entre tantas outras, são revividas e passíveis de serem analisadas por outra ótica, sendo ensaiados possíveis desfechos às reações experimentadas antes. Além disso, a brincadeira sempre pressupõe a interação consigo mesmo e com o mundo que o cerca. Neste sentido, é uma atividade que possibilita o autoconhecimento e a interação com o mundo ao redor, seja com os objetos ou seres. - -5 Figura 2 - A brincadeira desperta a imaginação e a socialização Fonte: Gladskikh Tatiana, Shutterstock, 2019. Desta forma, pode-se reconhecer que o brincar não apenas se trata de uma atividade em que as crianças se ocupam durante o seu dia a dia, mas como elementos essenciais à sua formação e desenvolvimento. Com isso, os profissionais que atuam com a educação, podem se utilizar de momentos que privilegiem o brincar, fornecendo situações e estruturas materiais que direcionem as crianças a situações imaginárias específicas e que busquem a estruturação de seu aprendizado. A importância do jogo e da brincadeira para o desenvolvimento do sujeito Como você aprendeu, o jogo e a brincadeira possuem elementos em comum. Ambos têm regras e geram conflitos que despertam nas crianças processos cognitivos que estabelecem relações entre o que já vivenciaram, organizando estas situações. Estas duas expressões, que ocorrem através do movimento, são essenciais ao desenvolvimento, especialmente quando se trata da infância. - -6 Acerca disso, Kishimoto (2017) elabora que o jogo, no qual a brincadeira está inclusa, desenvolve nas crianças importantes aspectos que serão essenciais à vida adulta. Além da própria corporeidade e da motricidade, que começa a se desenvolver nas primeiras brincadeiras que compõem os jogos de exercício, outros pontos também são evidentes. O jogo potencializa a interação entre a criança e outros sujeitos e objetos, possibilitando os desafios da curiosidade e da tomada de decisão, despertando a autonomia e o respeito ao próximo. Além disso, as atividades lúdicas permitem formar convicções, exercer lideranças e basear suas escolhas individuais por meio do bem comum, que resultam no exercício da cidadania. Figura 3 - O jogo é uma possibilidade de compreender como o mundo se apresenta Fonte: Monkey Business Images, Shutterstock, 2019. Ao possibilitar a participação em momentos agradáveis, e que exijam a confiança do próximo, os jogos e brincadeiras permitem conhecer uns aos outros, melhorando as compreensões de tratamento e fortalecendo as relações pessoais. Neste sentido, a afetividade também se desenvolve, uma vez que os ambientes descontraídos e prazerosos criam as possibilidades de fortalecer vínculos afetuosos e sentimento de amorosidade. Os jogos também criam situações imaginárias em que podem ser abordados valores, comportamentos e regras para que sejam refletidos e internalizados. Como é o caso da ética, que possui um conjunto de regras e comportamentos universalmente compartilhados para a realização social e individual, mas que tem valores abstratos, sendo difícil a sua abordagem. FIQUE ATENTO Embora o jogo e a brincadeira sejam recorrentemente tidos como sinônimos, eles são termos que podem se apresentar de forma divergente. O jogo é um conceito maior, que engloba diversas atividades, inclusive o brincar. Já a brincadeira se diferencia das demais atividades dos jogos por se tratar da elaboração de situação imaginária, com regras que não são estruturadas previamente. - -7 Figura 4 - Os jogos e brincadeiras possibilitam a integração e a cooperação Fonte: Poznyakov, Shutterstock, 2019. Por último, os jogos e brincadeiras apresentam grandes possibilidades de serem desenvolvidos em grupo, em que todos partilham de um objetivo comum e comungam de situações agradáveis e prazerosas. Nos dias atuais, as relações tendem a tomar rumos individualistas. Assim, os jogos lúdicos podem ser abordados a partir de uma proposta em que todos participam de um objetivo. Fechamento Com o que foi apresentado, você deve ter compreendido que o jogo e o brincar, embora sejam em muitos casos tratados como sinônimos, possuem características que os diferenciam. O jogo é o conjunto de atividades que se expressam pela participação voluntária e também é composto por regras, podendo serem estabelecidas previamente ou apresentadas a partir de situações imaginárias. O brincar, uma das atividades do jogo, sempreocorre a partir de situações imaginárias. Apesar de suas diferenciações, ambos produzem efeitos necessários ao desenvolvimento dos sujeitos. Compreender esta possibilidade é fundamental aos profissionais de Educação Física, haja vista que este, de forma recorrente, atua com o desenvolvimento de crianças. Referências BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular . v.1. Brasília: MEC\SEF, 1998.Nacional para a Educação Infantil BROUGÈRE, G. . Porto Alegre: Artmed, 2003.Jogo e educação FREIRE, J. B; SCAGLIA, A. . São Paulo: Scipione, 2003.Educação como prática corporal HUIZINGA, J. o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, Homo ludens: 2008. KISHIMOTO, T. M (Org.). . São Paulo: Cortez, 2017.Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação - -8 KISHIMOTO, T. M (Org.). . São Paulo: Cortez, 2017.Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação VYGOTSKY, L. São Paulo: Martins Fontes, 2010.A formação social da mente. - -1 Brinquedos: materiais pedagógicos em jogos e brincadeiras Patrick Gonçalves Introdução Durante a infância, muitos são os objetos que fazem parte do cotidiano das crianças e que são utilizados para a abordagem lúdica e pedagógica. Você já reparou que os brinquedos possuem formas, formatos e funcionalidades diferentes? Atualmente, há muitas opções de objetos que podem ser utilizados para o universo simbólico. Estas opções são cada vez mais exploradas pela indústria, fornecendo brinquedos prontos para serem utilizados. Mas, afinal, existem diferenças entre os brinquedos que são comprados e aqueles que são construídos a partir de objetos do dia a dia? Nesta unidade temática, você conhecerá um pouco mais sobre os brinquedos. Ao final desta aula, você será capaz de: • identificar brinquedos e materiais que possam ser utilizados como materiais alternativos. Definição de brinquedo Ao se analisar os brinquedos e as brincadeiras, é imprescindível avaliar também a cultura. Ou seja, cada grupo social possui em seus valores, crenças e costumes, modos, brincadeiras e brinquedos específicos ao seu contexto. Assim, muitas são as possibilidades de brinquedos na atualidade. Ao se referir ao brinquedo, não se pode apenas limitar aos objetos desenvolvidos e construídos pela indústria, que tem encontrado no universo das brincadeiras infantis um modo de comercializá-los. Como você já sabe, o brincar consiste em repetir e recriar situações vividas através da imaginação e • SAIBA MAIS Os brinquedos prontos limitam a capacidade criativa das crianças e auxiliam na ideia de que o consumo é necessário para que elas possam se divertir. Pensando nisso, Santos e colaboradoras (2007) trazem em seu livro “Brinquedoteca: sucata vira brinquedo”, um guia para pais e educadores sobre como reutilizar materiais que seriam descartados para construir brinquedos. - -2 Como você já sabe, o brincar consiste em repetir e recriar situações vividas através da imaginação e expressando, assim, a sua identidade e a exploração da comunicação com outras pessoas, seres e objetos (BRASIL, 2012). Neste cenário simbólico, por vezes a criança deve buscar, em materiais e objetos, funções que a suportem no seu universo imaginário. Figura 1 - Exemplo de brinquedos Fonte: pogonici, Shutterstock, 2019. Embora nem toda brincadeira exija a utilização de objetos, qualquer objeto pode ser utilizado para fortalecer uma situação imaginária criada pela criança. Neste sentido, Vygotsy (2010, p. 127) explica que “a criança vê um objeto, mas age de maneira diferente em relação ao que vê. Assim, é alcançada uma condição que começa a agir independentemente daquilo ao que vê”. Logo, ao se analisar o que é um brinquedo, pode-se elaborar que se trata dos objetos que são utilizados em brincadeiras, fazendo parte do universo simbólico das crianças. Qualquer objeto pode ser considerado um brinquedo, dependendo da maneira como a criança age frente a ele. Evidentemente, existem objetos que são criados intencionalmente para fazer parte do universo simbólico; e objetos que, mesmo não tendo sido criados para tal, também podem ser utilizados para o brincar. Na próxima seção, você conhecerá as principais diferenças entre os tipos de brinquedos existentes. EXEMPLO Suponha que uma criança encontre um cabo de vassoura. Embora este objeto tenha sido criado para realizar a tarefa doméstica de varrer a casa, a criança, ao vê-lo, age diferentemente, utilizando-o como uma espada, como uma lança ou como uma varinha mágica. Nesta situação, o objeto vassoura passou a integrar o universo simbólico da criança, tornando-se um brinquedo. - -3 Tipos de brinquedos Como você viu na seção anterior, existem muitos brinquedos diferentes. Basta entrar em um parque infantil, em uma escola ou em uma loja para notar a imensa variedade de brinquedos disponíveis para as crianças. Os diferentes brinquedos variam não somente em tipo, mas também conforme o tempo e o lugar vivido pelas crianças. Por exemplo: se você comparar os brinquedos de determinada região do país ou de algumas décadas atrás, é possível estabelecer diferenças significativas nos materiais utilizados para o brincar. Embora muitos sejam os brinquedos da atualidade, e mesmo que estes estejam em constantes modificações, é possível classificar todos eles seguindo algumas premissas básicas. A tipologia do brinquedo se dá em decorrência da forma como se apresenta às crianças, podendo ser não-estruturado ou estruturado. Os brinquedos não-estruturados são aqueles que não carregam em si o valor da brincadeira. Ou seja, são objetos que não se originam com o intuito de fornecer à criança um material pronto para o brincar (KISHIMOTO, 2017). Neste caso, são os mais diversos objetos, como: garrafas, pedrinhas, pedaços de madeiras, tecidos, água, terra, entre tantas outras possibilidades de materiais que se transformam em outros objetos no universo simbólico das crianças. Este tipo de brinquedos exige da criança a mobilização da sua capacidade criativa, reorganizando e recriando os cenários e objetos para que a sua brincadeira de fato ocorra (SANTOS e al. ,2007). FIQUE ATENTO O brinquedo tem sua classificação de acordo com a intencionalidade e os valores da brincadeira que carrega consigo. Quando os brinquedos determinam a forma como a criança deve utilizá-lo, são chamados de brinquedos estruturados; quando não carregam consigo estes valores, são chamados brinquedos não-estruturados. - -4 Figura 2 - Exemplo de brinquedo não-estruturado Fonte: Inara Prusakova, Shutterstock, 2019. Os brinquedos estruturados dizem respeito àqueles materiais que são já carregam consigo os valores e intencionalidades da brincadeira, podendo ser construídos de forma artesanal ou industrial. Por exemplo: carrinhos, bonecas, talheres de plástico, bolas, já tornam, já trazem em caráter explícito a forma como a criança deve utilizá-lo. Este tipo de brinquedo se apresenta em três categorias distintas: podem ser prontos, como no caso de bonecas, carros, bolas, entre outros; podem ser mecânicos, como no caso de bonecas que mastigam, carros que se movem por fricção ou outros que se utilizam da energia mecânica; ou podem ser eletrônicos, quando envolvem a energia elétrica, seja para mover objetos ou para fornecer estímulos audiovisuais, como no caso de carrinhos movidos à pilha ou videogames. - -5 Figura 3 - Exemplos de brinquedos estruturados Fonte: Veronica Louro, Shutterstock, 2019. Você deve ter compreendido que os brinquedos estruturados e os brinquedos não-estruturados oferecem e demandam das crianças capacidades distintas. Enquanto os brinquedos estruturados já se encontram prontos para serem utilizados, os brinquedos não-estruturados necessitam que a criança realize um esforço criativo para que, com sua imaginação, transforme o objeto em um elemento da brincadeira (BRASIL, 2012). Este segundo tipo de brinquedo é uma grande opção para trabalhar não apenas a reciclagem de materiais e despertar o consumo consciente, mas também oferecer à criança o uso com maior intensidadede suas capacidades criativas. O uso de materiais alternativos em jogos e brincadeiras Nos brinquedos não-estruturados, que oferecem maiores possibilidades de criatividade da criança, são possíveis a utilização de muitos tipos de objetos. A estes materiais, que não são produzidos intencionalmente para promover brincadeiras, dá-se o nome de materiais alternativos. - -6 Dentro de uma perspectiva pedagógica, os brinquedos não devem oferecer apenas diversão e entretenimento às crianças. Os jogos e brincadeiras, como elementos lúdicos, devem buscar resolver problemas e proporcionar aprendizagens significativas, provocando o estímulo da cooperação e da autonomia. Figura 4 - Uso de materiais alternativos para o brincar Fonte: pio3, Shutterstock, 2019. Os materiais alternativos podem ser diversos. Tampas de garrafas, copos plásticos, latas, cordões, e quaisquer outros objetos podem ser utilizados pelas crianças. Ao proporcionar a criação de brinquedos com estes materiais alternativos, várias aprendizagens estão implícitas, como a abordagem da importância da reciclagem e da reutilização de materiais em um mundo que cada vez tem explorado mais os seus recursos materiais. Logo, em tais processos criativos, é possível tematizar aspectos relacionados ao meio ambiente e ao consumo no momento em que se escolhem os materiais a serem utilizados. A escolha não deve ser realizada a esmo, já que há um objetivo concreto a ser realizado, como a produção de determinada brincadeira. Este processo envolve o planejamento estratégico, já que entre a escolha e o jogo ou brincadeira formada, há a etapa de elaboração dos brinquedos (BRASIL, 2012). Também, deve-se considerar a autonomia que a criação de jogos e brincadeiras sugere, a partir de materiais alternativos. Para construir tal atividade, sempre é necessária a tomada de decisão por parte das crianças. Estas tomadas de decisão, quando realizadas em grupo, fornecem também a sensibilidade aos problemas do outro, a confiança e o sentido de interdependência (KISHIMOTO, 2017). Tudo isso se alia à criatividade, processo sem o qual a elaboração e construção de brinquedos com materiais FIQUE ATENTO Embora todo o material possa ser utilizado no universo simbólico das crianças, nem todos eles devem ser utilizados. Antes de transformá-los em brinquedos, é necessário identificar possíveis riscos à integridade física da criança e os objetivos das brincadeiras as quais se pretende construir. - -7 Tudo isso se alia à criatividade, processo sem o qual a elaboração e construção de brinquedos com materiais alternativos não ocorre. A construção de brinquedos com estes materiais é um dos primeiros e importantes processos para fomentar a criatividade de crianças. Fechamento Ao longo desta unidade temática, você pode reconhecer que, em muitas brincadeiras, o uso de materiais se faz necessário. Atualmente, são diversas as possibilidades de brinquedos para a infância, sendo estes cada vez mais industrializados. Estes brinquedos, prontos para o uso, apresentam menores possibilidades de desenvolver a criatividade quando comparados aos brinquedos não-estruturados. Assim, é cada vez mais necessário o fomento ao uso de materiais alternativos para a criação de brinquedos, possibilitando o desenvolvimento da criatividade, da cooperação e da autonomia. Referências BRASIL. Ministério da Educação. manual de orientação pedagógica.Brinquedos e brincadeiras de creches: Brasília: MEC, 2012. KISHIMOTO, T. M (org.). . São Paulo: Cortez, 2017.Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação SANTOS, S. M. P. (org.) sucata vira brinquedo. Porto Alegre: Artmed, 2007.Brinquedoteca: VYGOTSKY, L. . São Paulo: Martins Fontes, 2010.A formação social da mente - -1 Formação de Repertório de Atividades Práticas- Parte 1 Patrick Gonçalves Introdução Você consegue identificar as diferentes características das atividades lúdicas que já participou? Quando em uma brincadeira, ou jogo, quais elementos faziam desta prática: uma manifestação única, diferente das demais manifestações lúdicas? Como você já sabe, as atividades lúdicas são construídas socialmente e modificadas culturalmente. Existe tantos jogos que seria impossível elencar cada uma destas manifestações, assim como suas variações. Você, sem dúvidas, já participou de várias delas. No entanto, ainda que não seja possível quantificar as diversas manifestações do lúdico, pode-se classificá-las quanto às suas características. Nesta unidade temática, você conhecerá algumas delas. Ao final desta aula, você será capaz de: • construir um repertório de atividades lúdicas e recreativas para suas aulas e vivências diversificadas; • constituir atividades para diferentes tipos de vivências e públicos; • identificar o potencial educativo de diferentes tipos de atividades recreativas e lúdicas. Pequenos e grandes jogos Os jogos são constituídos por regras que podem ser rígidas ou flexíveis, dependendo de como esta manifestação se apresenta. Dentro desta característica fundamental, os jogos podem variar de acordo com o propósito do jogador, a quantidade de participantes, a presença de elementos musicais e muitos outros fatores. Em uma perspectiva mais ampla, os jogos podem ser classificados em pequenos ou grandes jogos (SILVA; GONÇALVES, 2017). • • • - -2 Os pequenos jogos, como o nome já sugere, geralmente possuem pouca duração e são praticados por poucos jogadores, sendo mais adequados às crianças que se encontram na primeira, segunda e terceira infância. Estes tipos de jogos podem possuir regras flexíveis, que se adaptam ao contexto e características dos participantes. Por possuírem dimensões temporais e de participação menores, podem ser realizados em espaços restritos (SILVA; GONÇALVES, 2017). Jogos simbólicos, em que a criança simula um papel ou o atribui a um objeto são exemplos deste tipo de jogos. Figura 1 - Criança simula um papel nos jogos simbólicos Fonte: Monkey Business Images, Shutterstock, 2019. Já os grandes jogos se constituem inversamente aos pequenos jogos. Ou seja, geralmente possuem uma duração maior, são constituídos por regras fixas, ou que pouco se transformam, e comumente exigem um espaço mais amplo, que possibilite a participação de vários envolvidos (SILVA; GONÇALVES, 2017). Por suas características, é recorrentemente praticado por crianças que já conseguem integrar grandes grupos. Nesta categoria, pode-se elencar a dança das cadeiras, os jogos de futebol e jogos de mesa. SAIBA MAIS Dentro dos pequenos e grandes jogos, Betti e Silva (2019) elaboram que os jogos que resultam em situações de movimentos se expressam em treze diferentes possibilidades, são elas: os jogos sensoriais; ambientais; (des)construção; simbólicos; rítmicos; exercícios; de luta; integrativos; invasão; rebatida; raciocínio; marca e precisão. Para conhecer mais sobre estes tipos de jogos leia o livro dos autores, intitulado “Corporeidade, jogo, linguagem - a Educação Física nos anos iniciais do Ensino Fundamental”. - -3 Jogos competitivos x Jogos cooperativos Avançando um pouco mais na classificação dos tipos de jogos, pode-se caracterizá-los quanto aos elementos competitivos que os constituem. Existem jogos em que a disputa entre participantes se faz presente, resultando em vencedores e perdedores; e jogos em que os objetivos são comuns a todos, não havendo perdedores. O primeiro grupo é chamado de jogos competitivos e, o segundo, jogos cooperativos. Figura 2 - Nos jogos cooperativos, todos possuem o mesmo objetivo Fonte: niko25, Shutterstock, 2019. Os jogos competitivos estão bastantes presentes na sociedade ocidental, haja vista o modelo capitalista e competitivo que se encontram as relações atuais e que são impulsionados pela midiatização esportiva – a grande manifestação deste tipo de jogos. Embora a competição possa remeter a um processo excludente e produtor de desigualdades, ele pode ser abordado como um processo educativo e formador dos estudantes. Nesse aspecto, é importante que o professor faça dos jogos competitivos um