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APG 27- SOFRIMENTO Kamilla Galiza Identificar a epidemiologia, a etiologia e os fatores de risco do Câncer de pulmão (CP). Descrever a patogênese do CP relacionando com os sinais e sintomas e suas complicações. Discorrer como se dá o diagnostico e o estadiamento, destacando os exames e seus achados. Relatar as medidas preventivas e o tratamento do CP, apontando a dependência do tabaco. Conceito: é o crescimento celular anormal, incontrolável, que invade os tecidos vizinhos e à distancia. O câncer de pulmão é o mais comum dos tumores malignos, apresentando um aumento por ano de 2% na sua incidência mundial. A mortalidade por esse tumor é muito elevada e o prognostico da doença está relacionada à fase em que é diagnosticada. O tabagismo é o principal fator de risco para o desenvolvimento do câncer de pulmão. Ele é responsável por 90% dos casos desse tumor. Mais homens que mulheres desenvolvem o CP, mas o numero de casos em mulheres está aumentando. O risco de morte por CP é 22 vezes maior entre os fumantes do que entre o não fumantes. Essa neoplasia pulmonar pode também ser causada por produtos químicos – arsênico, asbesto, berílio, radônio, níquel, cromo, cádmio e cloreto de vinila, principalmente encontrados no ambiente ocupacional. Outros fatores relacionados a esse tumor são os dietéticos (baixo consumo de frutas e verduras), genéticos, a doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema pulmonar e bronquite crônica) e a historia familiar de CP. Às vezes, essa doença se desenvolve em indivíduos nunca fumaram e a causa é desconhecida. O câncer de pulmão é o câncer mais comum em todo o mundo. Em 2002, estimava-se 1,35 milhão de novos casos, sendo 12,4% do numero total de câncer. A metade dos casos ocorreu em países desenvolvidos. A incidência em homens ultrapassou 35/100 mil habitantes. A incidência nas mulheres negras chega a alcançar 12,1/100 mil habitantes. Contudo, em algumas regiões, a incidência em mulheres tem se aproximado da dos homens. A diferença entre a incidência dos homens e mulheres é explicada, principalmente, pelo tabagismo: cerca de 90% dos casos é em decorrência do uso crônico do tabaco. Há um aumento de quase 20 vezes no risco de desenvolvimento de câncer nos fumantes em comparação com os não fumantes de APG 27- SOFRIMENTO Kamilla Galiza cigarro, charutos ou cachimbos. O tabagismo passivo também está exposto a maiores riscos para desenvolver câncer de pulmão, segundo estudo da “International Agency for Research on Cancer”. O câncer de pulmão é uma doença principalmente de tabagistas. Mesmo havendo varias outras causas conhecidas, o numero de casos de CP totalmente devido a outros carcinógenos é baixo. Embora o asbesto possa causar carcinoma do trato aerodigestivo superior em não tabagistas, a combinação da fumaça do cigarro e das fibras do asbesto é particularmente carcinogênica, sendo os riscos multiplicados em vezes de somados. O fumo contem oxidantes que se acredita ser importante causador de dano ao DNA, proteínas e lipídios. A fumaça do cigarro contem pelo menos 40 carcinógenos. Acredita-se que o principal deles seja o 3,4- benzopireno. Esse pode induzir alterações como deleções no braço curto do cromossomo três encontrados em 50% dos casos de CP de não pequenas células e em 100% dos casos de CA de pequenas células. Observa-se antes do desenvolvimento do CP uma serie de mudanças morfológicas distintas (hiperplasia, metaplasia, displasia e carcinoma in situ). Os principais fatores de proteção contra o câncer de pulmão são: micronutrientes antioxidantes, carotenoides, vitaminas C e E e selênio. Os principais fatores de risco são: Tabagismo Exposições ocupacionais a asbestos, metais pesados, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos e sílica. Poluição atmosférica. Dieta rica em gordura e pobre em frutas, vegetais e legumes. DPOC Fatores do hospedeiro: polimorfismo de vários genes envolvidos no metabolismo de reparação de DNA (o P53, por exemplo) e controle do ciclo celular. O câncer desenvolve-se em múltiplas etapas, nas quais as células se tornam malignas por varias alterações genéticas afetam seu crescimento, sua diferenciação e sua sobrevida, incluindo a mutação dos genes supressores tumorais, a ativação dos oncogenes e a transformação dos genes apoptóticos. Isso parece ocorrer devido à inflamação crônica que acompanha a exposição continua e prolongada ao fumo. A OMS classifica o carcinoma broncogênico em dois grandes grupos histológicos: Carcinomas de não pequenas células: representam cerca de 80% de todos os casos. Esses incluem o Adenocarcinoma, o carcinoma de células escamosas (epidermoide) e o carcinoma de grandes células. Os não pequenas células geralmente se disseminam lentamente para outros órgãos no corpo e pode ser difícil detecta-los em estágios precoces. Esse grupo pode ser dividido nos seguintes subgrupos: - Carcinoma de células escamosas: variante papilar, variante de células claras, variante de pequenas células e variante basiloide. - Adenocarcinoma: origem proximal (brônquica) – acinar, papilar e sólido; origem distal: carcinoma bronquíolo alveolar. - Carcinoma de grandes células: carcinoma neuroendócrino de células grandes, basiloide, células claras, de células grandes com fenótipo rabdoide. - Carcinoma anaplásico de pequenas células. - Carcinoma adenoescamoso ou misto. APG 27- SOFRIMENTO Kamilla Galiza - Carcinoma de pequenas células: os canceres de pequenas células são responsáveis por 20 a 25% dos casos de CP. Eles se disseminam muito rapidamente nos pulmões para outros órgãos. - Carcinoide neuroendócrino típico. - Carcinoide neuroendócrino atípico. - Variante: carcinoma de pequenas células combinado. Um sintoma comum é a tosse persistente ou a mudança o caráter de uma tosse crônica. Cerca de 30% dos carcinomas pulmonares são assintomáticos, sendo detectados incidentalmente com exames de imagem de tórax. Os sinais e sintomas podem resultar de progressão do tumor local, disseminação regional ou metástases a distancia. Tumor local causa tosse, dispneia, atelectasia pós-obstrutiva ou pneumonia, perda de parênquima (disseminação linfangítica). Pode ocorrer febre na vigência de pneumonia pós-obstrutiva. A hemoptise é menos comum e a perda sanguínea é mínima, exceto em situações raras em que o tumor corrói uma grande artéria, provocando hemorragia maciça. Pode causar dor torácica pleurítica, dispneia, rouquidão (invasão tumoral do nervo laríngeo recorrente), hipóxia (decorrente de paralisia diafragmática pelo comprometimento do nervo frênico). A disseminação do tumor para o pericárdio pode ser assintomática ou provocar pericardite constritiva e tamponamento cardíaco. Síndrome da veia cava superior: compressão ou invasão da veia cava superior, que desencadeia cefaleia, edema facial e dos MMSS, rubor, falta de ar na posição supina, veias dilatadas. Síndrome de Pancoat: quando tumores apicais invadem o plexo braquial, a pleura ou arcos costais, desencadeando dor nos MMSS, fraqueza e atrofia da mão ipsolateral. Síndrome de Horner (ptose, miose e anidrose): quando há comprometimento da cadeia simpática paravertebral ou do gânglio estrelado cervical. Provocam sintomas que variam de acordo com a localização e podem se disseminar para outros órgãos: - Fígado: causa dor, saciedade precoce, náuseas e insuficiência hepática. - Cérebro: causam mudanças comportamentais, confusão mental, afasia, convulsões, paresia, paralisia, náuseas, vômitos e, por fim, coma e morte. - Ossos: causa dor intensa e fraturas patológicas. - Glândulas adrenais: raramentecausa insuficiência adrenal. São sintomas que ocorrem em locais distantes de um tumor ou de suas metástases. Nos pacientes com CP incluem: - Hipercalcemia: o tumor produz proteína relacionada com hormônio paratireóideo. APG 27- SOFRIMENTO Kamilla Galiza - Síndrome de secreção inapropriada de hormônio antidiurético, síndrome de Eaton- Lambert, síndrome de Cushing e síndromes neurológicas. - Baqueteamento digital com ou sem osteoartropatia pulmonar hipertrófica. - Hipercoagulabilidade com tromboflebite superficial migratória – síndrome de Trousseau. RX de Tórax, complementado por TC são os exames iniciais para investigar uma suspeita de CP. Em pacientes assintomáticos sob risco de CP ou com sintomas precoces sugestivos (emagrecimento, tosse persistente, padrão de tosse diferente do habitual) a realização do RX de Tórax é de grande valor. A broncoscopia (endoscopia respiratória) deve ser feita para avaliar a árvore traqueobrônquica e, eventualmente, permitir a biópsia. É fundamental obter um diagnostico de certeza pela patologia. Uma vez obtida a confirmação da doença, é feito o estadiamento, que avalia o estagio de evolução, ou seja, verifica se a doença está restrita ao pulmão ou disseminada para outros órgãos. O estadiamento é feito por meio de vários exames, como biopsia pulmonar guiada por tomografia, biopsia por broncoscopia, TC de tórax, ressonância nuclear, PET-CT, cintilografia óssea, mediastinoscopia, ecobroncoscopia. Requer a participação de um grupo multidisciplinar, formado por oncologista, cirurgião torácico, pneumologista, radioterapeuta, radiologista intervencionista, médico nuclear, enfermeiro, fisioterapeuta, nutricionista e assistente social. Para os pacientes com doença localizada, e, particularmente, sem linfonodo aumentado (íngua) no mediastino, o tratamento é cirúrgico, seguido ou não de quimioterapia e/ou radioterapia. Para aqueles com doença localizada no pulmão e nos linfonodos, o tratamento é feito com radioterapia e quimioterapia ao mesmo tempo. Em pacientes que apresentam metástases a distancia, o tratamento é com quimioterapia ou, em casos selecionados, com medicação baseada em terapia-alvo. Portanto, o tratamento do câncer de pulmão depende do tipo histológico e do estágio da doença, podendo ser tratado com cirurgia, quimioterapia ou radioterapia, e/ou modalidades combinadas. Sistemas de estadiamento: T (tamanho e posição do tumor) N (presença e localização de linfonodos) M (presença de metástases a distancia). Fator T Tx: citologia +, tumor oculto; T1:< 3 cm, sem invasão; T2: > 3cm, ou qualquer tamanho que invade pleura visceral , associado a atelectasia lobar ou segmentar ou pneumonite obstrutiva. A mais de 2 cm da carina; T3: qualquer tamanho com invasão da parede torácica, pleura mediastinal, pericárdio sem envolver grandes vasos, traqueia, esôfago. Ou a menos de 2 cm da carina; T4: qualquer tamanho, que envolve coração, traqueia, grandes vasos, esôfago, Carina, Presença de derrame pleural maligno. Fator N APG 27- SOFRIMENTO Kamilla Galiza N1: metástases para linfonodos intrapulmonares. N2: metástases para linfonodos mediastinais homolaterais. N3: linfonodos mediastinais contralaterais ou extratorácicos (supraclaviculares, pré- escalênicos ou cervicais). Fator M M0: nenhuma metástase conhecida; M1: presença de nódulo tumoral metastático em outro lobo que não o do tumor primário, metástases à distância; BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer, Coordenação de Prevenção e Vigilância, Divisão de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco de Câncer, 2005 Deixando de Fumar sem l Mistérios - Manual do Coordenador Rio de Janeiro. LONG. Dan L. et al. Medicina Interna de Harrison. 18 ed. Porto Alegre, RS: AMGH Ed. 2013. 2v. Porth CM. Matfin G. Fisiopatologia. 9ª ed Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. UEHARA C; JAMNIK S & SANTORO IL. Câncer de pulmão. Medicina, Ribeirão Preto, 31: 266- 276, abr./jun. 1998. ROTH JA; COX JD; HONG WK. Lung cancer, 3 ed, Blackwell publishing 1- 468,2008. ARAUJO, Luiz Henrique et al. Câncer de pulmão no Brasil. Jornal Brasileiro de Pneumologia, v. 44, p. 55-64, 2018.
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