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PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO II: PROLIFERAÇÃO CELULAR Problema 5 Resultado dos nossos atos! F.N.T., 74 anos, sexo masculino, tabagista há 60 anos (55 maços/ano), procurou o OS do HGG, devido à dispneia progressiva, com piora clinica nos últimos dias. Alega astenia, mal-estar geral, anorexia, emagrecimento (cerca de 5 kg no último mês). Informa ,ainda, hemoptise há cerca de 2 semanas. Refere HAS. Ao exame, REG, hipocorado (3+/4+), afebril, PA= 150x90 mmHg. Presença de baqueteamento digital nas mãos. Além disso, foi notado miose, ptose, enoftalmia e anidrose facial a direita. AR: MVF sem RA, porém diminuído na base direita. O Plantonista solicitou exames laboratoriais que evidenciaram anemia crônica, leucocitose e eosinofilia. A radiografia do tórax mostrou nódulo pulmonar solitário no ápice do pulmão direito, medindo, aproximadamente, 3 cm de diâmetro, associado à derrame pleural extenso. O médico levantou as possibilidades diagnósticas e solicitou TC do tórax para melhor avaliação do caso e internamento. TUTORIA 5 1) Analisar o câncer de pulmão considerando conceito, epidemiologia, etiopatogenia, fatores de risco, manifestações clínicas, evolução, propedêutica, diagnóstico, estadiamento, tratamento, prevenção, prognóstico 2) Descrever as síndromes que não tem relação direta com o tumor 3) Descrever os principais sítios de metástases 4) Descrever os tipos histopatológicos do CA de pulmão 5) Explicar a relação médico-paciente em situações difíceis (comunir notícias ruins) PULMÃO CA de pulmão ou carcinoma broncogênico é a neoplasia maligna com origem no epitélio do trato respiratório inferior. Logo: linfomas, sarcomas, mesoteliomas e carcinoides não se enquadram nesse termo. Podem ser subdivididas em 2 grandes grupos: pequenas células e não pequenas células. EPIDEMIOLOGIA É uma das neoplasias malignas que mais mata no Brasil e no mundo. É a principal causa de morte oncológica em homens, e a segunda maior em mulheres (nestas, a principal ainda é o câncer de mama) O pico de incidência ocorre entre 50 e 70 anos de idade. A sobrevida em cinco anos (equivalente à cura) continua frustrante, com apenas 13-21% (países desenvolvidos) e 7-10% (países em desenvolvimento) dos pacientes atingindo esta marca. OBS: A pequena chance de cura vem do fato de que, quase sempre, o diagnóstico só é feito quando o tumor já se encontra em estágios avançados. Somente cerca de 15% dos indivíduos possui doença localizada (potencialmente curável) ao diagnóstico. Nos últimos anos, a incidência de carcinoma broncogênico vem caindo em homens (efeito das PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO II: PROLIFERAÇÃO CELULAR campanhas contra o tabagismo), ao passo que no sexo feminino tal queda ainda não se concretizou (resultado do aumento do tabagismo neste grupo algumas décadas atrás). ETIOPATOGENIA A principal causa de câncer de pulmão é o tabagismo, particularmente o hábito de fumar cigarros. Outras formas de tabagismo também se associam ao Ca broncogênico, porém, com menor intensidade. TABAGISMO Antes da epidemia mundial de tabagismo no início do século XX o câncer de pulmão era considerado uma DOENÇA RARA. O risco de câncer de pulmão em tabagistas aumenta com o número de cigarros fumados e a duração do tempo de tabagismo, sendo que a duração é um fator de risco maior que o número de cigarros fumados Este dado é muito importante do ponto de vista epidemiológico se considerarmos os inúmeros adolescentes que começam a fumar precocemente Triplicar o número de cigarros por dia significa triplicar o risco de desenvolvimento do câncer de pulmão, enquanto que triplicar o período de tabagismo implicar em aumentar 100 vezes o risco de desenvolvimento do câncer de pulmão. Quanto maior a carga tabágica, maior a probabilidade do aparecimento do câncer. É definida com o produto entre o número de maços consumidos por dia e a duração do hábito em anos (lembre-se que um maço contém 20 cigarros). Sua unidade é o “maços/ano”, e considera-se como ALTO RISCO um valor > 20 maços/ano. O tabagismo em qualquer grau eleva proporcionalmente o risco de câncer de pulmão! A fumaça que se produz é dividida em corrente primária, inalada e depois expelida pelo fumante, e em corrente secundária, que é gerada pela queima dos produtos do tabaco e com uma concentração de carcinógenos maior. O tabagismo passivo também eleva o risco de câncer de pulmão (em cerca de 1,3x), justificando diversos casos em filhos ou cônjuges não fumantes de pais ou companheiros fumantes. A cessação do tabagismo reduz o risco com o tempo (efeito que, em geral, só se torna significativo passados 15-20 anos). Apesar de o risco realmente ser reduzido, é importante ter em mente que ele continua sendo maior em ex-fumantes do que em pessoas que nunca fumaram, e mantém relação direta com a magnitude do tabagismo prévio. POLUIÇÕES ATMOSFÉRICAS A possível contribuição da poluição ambiental no desenvolvimento do câncer do pulmão, apesar de muitos estudos, continua controversa. O risco atribuído a sua influência na origem do câncer varia de menos 1 a 10%. A poluição do ar nas grandes cidades também aumenta o risco (principalmente pela queima de combustíveis fósseis, que libera hidrocarbonetos A combustão do tabaco libera diversas substâncias carcinogênicas, como hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, nitrosaminas tabaco-específicas (TSNA) e aldeídos voláteis. Na verdade, mais de 4.000 substâncias comprovadamente maléficas são liberadas. A nicotina, responsável pela dependência química, também está implicada na gênese do câncer, pois seus derivados se mostraram capazes de inibir a apoptose de células neoplásicas. Todas essas substâncias se distribuem entre a fase gasosa e a fase particulada – ou alcatrão – da “fumaça” aspirada. PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO II: PROLIFERAÇÃO CELULAR aromáticos policíclicos e metais como arsênio, níquel e cromo) DOENÇAS PULMONARES A mais comum é a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Pacientes com enfisema pulmonar têm seis vezes mais probabilidade de apresentar câncer de pulmão do que os pacientes sem enfisema ALTERAÇÕES GENÉTICAS Algumas alterações genéticas podem ser observadas nas células tumorais de pacientes com carcinoma broncogênico como mutação de oncogenes dominantes da família ras, amplificação ou perda de controle sobre a transcrição de oncogenes da família myc; ou até mesmo defeitos em oncogenes recessivos como o rb. Outro marcador, o gene p53, considerado um gene supressor de tumor, quando sofre alguns tipos de mutações pode exercer um efeito negativo dominante, ou seja, induzir o câncer e atuar como um oncogene. Essas mutações pró-oncogênicas são promovidas por algumas substâncias sabidamente oncogênicas, como o benzopireno, potente mutagênico e carcinogênico encontrado no cigarro, que produz mutações em três codons do gene e estas se relacionam ao aparecimento do câncer de pulmão. Como vários carcinógenos da fumaça do cigarro (por exemplo, os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos) são metabolizados pelo citocromo p450, diferenças nos subtipos ou polimorfismos do metabolismo destas enzimas têm sido propostas como um possível mecanismo para o risco do câncer de pulmão. Outras enzimas que podem aumentar o risco para alguns tabagistas incluem diferenças na glutationina S-transferase, uma enzima que detoxifica metabólitos dos hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, e enzimas que modulam a capacidade de reparo do DNA. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Na maior parte das vezes, o Ca de pulmão não causa qualquer sintoma até a doença já estar avançada. Pode variar desde pacientes assintomáticos, pacientesapresentando sintomas resultantes do crescimento local do tumor, da invasão intratorácica, da disseminação metastática e de síndromes paraneoplásicas. Sintomas inespecíficos como anorexia, perda de peso e astenia estão presentes em até 55-88% dos pacientes no momento do diagnóstico de carcinoma broncogênico. Mais de 60% dos pacientes apresentam tosse ou mudança para tosse crônica, 6-31% apresentam hemoptise e alguns apresentam um chiado localizado. A tosse é o sintoma mais comum, ocorrendo em cerca de 75% dos pacientes. Ela pode ser ocasionada por invasão da mucosa brônquica, PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO II: PROLIFERAÇÃO CELULAR pneumonite pós-obstrutiva, atelectasia, derrame pleural e/ou cavitação da lesão. Portadores de DPOC que evoluem com piora da tosse (não justificada por “descompensação” da doença) devem ser suspeitados para Ca de pulmão. A dispneia ocorre em quase metade dos casos, sendo resultado da obstrução de grandes vias aéreas. Nesta situação, pneumonite e atelectasia também costumam ser observadas. Outras causas de dispneia são a disseminação linfangítica e o derrame pleural. Hemoptise é observada em 35%. Suas causas incluem necrose tumoral, ulceração mucosa, erosão de vasos intratorácicos, pneumonia pós- -obstrutiva e tromboembolismo pulmonar A dor torácica é ocasionada por invasão da pleura parietal, parede torácica ou mediastino. Outras causas incluem infecção e doença tromboembólica. A extensão da doença ao mediastino pode levar à paralisia diafragmática (envolvimento do nervo frênico) e/ou à rouquidão por comprometimento do nervo laríngeo recorrente esquerdo. Neste caso, o tumor invade linfonodos da janela aortopulmonar, por onde passa o nervo O surgimento de turgência jugular, pulso paradoxal e alargamento da silhueta cardíaca denota acometimento pericárdico com tamponamento A extensão intrapulmonar do próprio tumor se dá por via linfática (linfangite ocasionando hipoxemia e dispneia) ou pelo surgimento de novas massas no parênquima. A presença de derrame pleural pode ou não significar comprometimento pleural pelo tumor. Algumas causas incluem obstrução linfática, pneumonite pós-obstrutiva, hipoalbuminemia, tromboembolismo ou a presença de outra desordem não relacionada ao carcinoma broncogênico (insuficiência cardíaca, por exemplo) Contudo, o derrame pleural maligno é comum, apresentando-se como derrame de moderado a grande volume e que reacumula rapidamente após toracocentese O líquido pleural é um EXSUDATO com predominância linfocítica. A citologia é positiva em 50-60% dos casos na primeira coleta e pode aumentar para 65-70% em análises repetidas. A maior positividade citológica é vista no adenocarcinoma. SÍNDROMES O tumor localizado no sulco superior do pulmão leva à famosa síndrome de Pancoast- - Tobias. Esta é caracterizada por dor no ombro e/ou escápula ipsilateral e dor na distribuição do nervo ulnar (com atrofia muscular e paresia distal). A destruição radiológica da primeira e segunda costelas é comumente observada. O envolvimento das raízes C8 e T1, pela extensão tumoral no ápice pulmonar, justifica as manifestações. O subtipo histológico mais frequentemente envolvido é o carcinoma epidermoide (52% dos casos), embora o carcinoma de grandes células (23%) e o adenocarcinoma (23%) possam também ser encontrados. Atualmente a ressonância magnética de tórax é o exame que melhor delineia o tumor, por realizar cortes no plano coronal. A síndrome de Claude-Bernard-Horner (miose, ptose, enoftalmia e anidrose facial ipsilateral), ocasionada pelo comprometimento da cadeia simpática cervical e do gânglio estrelado, geralmente coexiste com a síndrome de Pancoast. Para alguns autores ela compõe a síndrome de Pancoast. A Síndrome da Veia Cava Superior (SVCS) está relacionada ao carcinoma broncogênico originário do lobo superior do pulmão direito. O carcinoma de pequenas células é o subtipo mais comumente encontrado. PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO II: PROLIFERAÇÃO CELULAR Suas manifestações incluem edema e congestão da face e extremidades superiores, circulação colateral proeminente, visível na região superior do tórax, e turgência jugular. Outros sintomas incluem tosse, síncope (que pode ser precipitada pela tosse), cefaleia e ortopneia. O RX simples mostra um mediastino alargado, acompanhado de massa pulmonar central (usualmente no lobo superior direito) e derrame pleural ipsilateral (25% dos casos). Antes considerada uma “emergência oncológica”, a síndrome da veia cava superior ocasionada pelo Ca broncogênico na verdade permite tempo hábil para a realização do diagnóstico histológico. Portanto, este SEMPRE deverá ser obtido antes do tratamento! O material pode ser coletado com segurança por meio de broncoscopia ou mediastinoscopia. As opções terapêuticas variam conforme a causa, consistindo em quimioterapia, no caso do carcinoma de pequenas células, ou quimiorradioterapia, no caso do carcinoma não pequenas células. Casos graves podem receber um stent de cava (para alívio imediato da obstrução) antes da confirmação diagnóstica e tratamento definitivo. COMPLICAÇÕES LOCAIS As principais complicações locais do carcinoma broncogênico são: (1) derrame pleural; (2) cavitação; (3) atelectasia; (4) pneumonia pós-obstrutiva. DOENÇA METASTÁTICA Os locais mais frequentemente envolvidos por metástases são: adrenais (50% dos casos); fígado (30- 50%); ossos (20%) e cérebro (20%) – lembrar do mnemônico “FOCA”. As metástases adrenais são observadas como aumento unilateral assintomático da glândula, visualizado à Tomografia Computadorizada (TC). A insuficiência suprarrenal é rara. O diagnóstico diferencial é com incidentaloma adrenal (adenoma – achado bastante comum). Na dúvida, sobretudo se houver proposta decirurgia curativa, uma biópsia percutânea guiada por TC é recomendada! As metástases hepáticas são mais frequentemente encontradas no carcinoma de pequenas células (até 25% dos pacientes à apresentação) As metástases para o SNC podem atingir o cérebro, cerebelo e meninges. O carcinoma de pequenas células e o adenocarcinoma são os mais comumente envolvidos. Os sintomas podem ser focais (convulsão) ou não focais (cefaleia). O comprometimento da medula espinhal geralmente é derivado de metástases ósseas vertebrais, e pode levar à síndrome de compressão medular, uma verdadeira emergência oncológica As metástases para o esqueleto são osteolíticas, e comprometem costelas, corpos vertebrais e ossos longos. SÍNDROMES PARANEOPLÁSICAS PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO II: PROLIFERAÇÃO CELULAR As síndromes paraneoplásicas são distúrbios sistêmicos ocasionados pela existência de um tumor Com frequência se manifestam meses ou anos antes da detecção clínica e laboratorial do câncer, e se corretamente identificadas – pelo menos em alguns casos – podem levar a um diagnóstico precoce da lesão! Dentre os tumores de pulmão, o carcinoma de pequenas células é o subtipo mais frequentemente responsabilizado. HIPERCALCEMIA = é uma das síndromes paraneoplásicas mais comuns no câncer de pulmão, comumente associada ao carcinoma epidermoide. Tem como causa a produção tumoral de PTH- rp (peptídio relacionado ao paratormônio), substância que tem exatamente o mesmo efeito do PTH – induz atividade osteoclástica e inibe a excreção renal de cálcio. O quadro clinicolaboratorial, inclusive, é muito parecido com o hiperparatireoidismo primário (hipercalcemia, hipofosfatemia, acidose metabólica hiperclorêmica e aumento do AMP cíclico urinário), porém, os níveis de PTH sérico encontram-se suprimidos. O tratamento agudo é feitocom expansão volêmica (pois estes pacientes estão sempre desidratados, por um defeito na reabsorção tubular de sal e água induzido pela hipercalcemia), diuréticos de alça (que, ao contrário dos tiazídicos, aumentam a excreção urinária de cálcio) e infusão de bisfosfonados (inibidores da atividade osteoclástica). A calcitonina está indicada na hipercalcemia extrema (Ca sérico > 14 mg/dl), por ter efeito hipocalcemiante mais rápido que o dos bisfosfonados. SIADH = (Síndrome da Antidiurese Inapropriada) está mais relacionada ao carcinoma de pequenas células. O ADH produzido pelo tumor promove retenção renal de água livre e hiponatremia, que pode ser grave e comprometer o nível de consciência. O diagnóstico se baseia na demonstração de hiponatremia hipotônica (osmolaridade sérica < 270 mOsm/L) e urina inapropriadamente concentrada (> 100 mOsm/L) num paciente euvolêmico e sem edemas. É necessário que hipotireoidismo, insuficiência adrenal e renal sejam afastadas. SÍNDROME DE CUSHING = é ocasionada pela produção tumoral de ACTH ou CRH. Costuma se relacionar ao carcinoma de pequenas células. O paciente costuma apresentar hipertensão arterial, hiperglicemia e alcalose metabólica hipocalêmica, sendo menos frequente o aspecto cushingoide (facies de lua cheia, giba, obesidade etc.). No screening do hipercortisolismo encontramos elevação do cortisol livre urinário e não supressão com baixas doses de dexametasona. A não supressão do cortisol com altas doses de dexametasona somada a níveis extremamente altos de ACTH no soro (> 200 pg/ml) é muito sugestiva de secreção ectópica de ACTH! Nesta situação, uma TC de tórax é mandatória, uma vez que o tumor de pulmão é a causa mais comum da síndrome. O prognóstico dos portadores desta síndrome paraneoplásica, especificamente, é péssimo. Osteoartropatia Pulmonar Hipertrófica = apresenta-se com baqueteamento digital por aumento dos tecidos moles nas extremidades (periostite de ossos longos – tíbia, fíbula, rádio e ulna, metacarpos, metatarsos) e sinovite de grandes articulações PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO II: PROLIFERAÇÃO CELULAR periféricas (punhos, cotovelos, tornozelos, joelhos), geralmente simétrica. O sinal radiológico da periostite da tibia. Eventualmente o quadro é confundido com artrite reumatoide. O tratamento de escolha para a OPH é a ressecção completa do tumor, o que costuma resolver o quadro. Em pacientes inoperáveis o tratamento tradicional se baseia no uso de AINEs, mas evidências recentes têm mostrado bons resultados com o emprego de bisfosfonados. ESTADIAMENTO CLÍNICO DIAGNÓSTICO Entre os exames complementares que auxiliam no diagnóstico e estadiamento do câncer de pulmão, temos: Citologia do escarro: pouco utilizada atualmente, baixa sensibilidade, basicamente aplicada quando da dificuldade de realização da broncofibroscopia ou de outros exames capazes de obter confirmação histológica Seu rendimento é influenciado pela localização, tamanho e tipo histológico do tumor. Os carcinomas escamosos, normalmente de localização central, representam a maioria das neoplasias pulmonares diagnosticadas pela citologia do escarro A confirmação citológica do adenocarcinoma através do escarro é prejudicada pela localização periférica habitual deste tipo de tumor. Broncofibroscopia: é útil no diagnóstico, estadiamento e tratamento. Relativamente fácil de realizar, é seguro e bem tolerado pelos pacientes A flexibilidade do aparelho permite o exame da maioria dos brônquios. Através desse procedimento podem-se estabelecer critérios de inoperabilidade do paciente com câncer do pulmão, como a paralisia da corda vocal, o tumor localizado a menos de 2cm da carina principal e o envolvimento desta pelo tumor. Biópsia transbrônquica: quando as lesões estão localizadas além da vista do endoscopista o rendimento diagnóstico da broncofibroscopia diminui Nestes casos, a utilização da biópsia transbrônquica é capaz de aumentar o rendimento diagnóstico. As complicações da biópsia transbrônquica incluem o pneumotórax e o sangramento que ocorrem em menos de 1% dos casos. Punção aspirativa transbrônquica por agulha: tem sido utilizada no estadiamento dos linfonodos mediastinais, para o diagnóstico das lesões PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO II: PROLIFERAÇÃO CELULAR pulmonares periféricas e para aquelas endoscopicamente visíveis Os locais da punção devem ser estabelecidos previamente com o auxílio da tomografia computadorizada do tórax Ela deve ser o primeiro procedimento a ser realizado, durante a broncofibroscopia, com o objetivo de impedir a contaminação do material colhido com células neoplásicas esfoliadas do tumor Este procedimento é útil no diagnóstico das lesões periféricas do pulmão. Lavado broncoalveolar: no diagnóstico das infecções oportunistas em pacientes em tratamento com quimioterapia, mas também para o diagnóstico da neoplasia pulmonar Seu maior rendimento é encontrado nas doenças malignas hematológicas que acometem os pulmões, no carcinoma bronquíolo-alveolar e no adenocarcinoma metastático da mama para os pulmões. É um procedimento seguro e com raras complicações. Punção-biópsia percutânea por agulha fina: descrita pela primeira vez em 1883 como um método para o diagnóstico das pneumonias e somente em 1886 foi utilizada para estabelecer o diagnóstico de um tumor do pulmão Realizado com o auxílio da fluoroscopia, da ultrassonografia ou da tomografia computadorizada, sob anestesia local e com praticamente nenhum desconforto para o paciente. A maior complicação que pode ocorrer por conta do exame é o pneumotórax, mas não é comum. Tomografia computadorizada: usada no rastreamento do câncer de pulmão e no acompanhamento pós-tratamento do tumor. Estabelece o tamanho tumoral e sua proximidade com estruturas vizinhas e a existência de metástase à distância. PET/CT scan: em que o flúor-18- fluorodesoxiglucose (FDG) (um análogo da glicose) é utilizado como um marcador de PET (tomografia por emissão de pósitrons) para avaliar o metabolismo das lesões, associado a tomografia computadorizada FDG é absorvido pelas células tumorais metabolicamente ativas utilizando um transporte facilitado semelhante ao usado por glicose A taxa de absorção de FDG por células tumorais é proporcional à sua atividade metabólica. Possui maior capacidade de distinguir tecidos malignos de benignos sendo útil na investigação de nódulos pulmonares, de metástases mediastinais e na identificação de lesões metastáticas. Ressonância Nuclear Magnética: mostra maior resolução quando se trata de análise de invasão de parede torácica. É superior também na avaliação de ressecabilidade dos tumores do sulco superior, que normalmente envolvem o plexo braquial, vasos subclávios e corpos vertebrais. Cintilografia óssea: metástases ósseas são relativamente frequentes, principalmente no adenocarcinoma avançado. A captação aumentada em determinadas áreas do esqueleto pelo radiotraçador Tecnécio (Tc 99m) sugere maior metabolismo ósseo local e deve ser investigada como sítio de metástase. Mediastinoscopia: procedimento cirúrgico que possibilita a biópsia de linfonodos mediastinais , principalmente do espaço “retrocava e pré-traqueal”, que é o espaço para onde drena a maior parte do fluxo linfático do tórax. Apresenta sensibilidade de 58% e especificidade de 100%, já que permite estudo histopatológico. PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO II: PROLIFERAÇÃO CELULAR Videotoracoscopia: a introdução do toratoscópio na parede torácica do paciente permite o acesso a todas as cadeias linfáticas intratorácicas, da superfície pulmonar e pleural com baixo risco, alta sensibilidadee especificidade e com trauma mínimo. CLASSIFICAÇÃO HISTOPATOLÓGICA 1. CARCINOMA NÃO PEQUENAS CÉLULAS CARCINOMA EPIDERMOIDE (ESCAMOSO OU ESPINOCELULAR) Tumor relacionado com a mutação do gene P53, acomete a região mais central do hilo pulmonar = razão pela qual acaba gerando muita pneumonia obstrutiva >> processo inflamatório, lesão, destruição. É o mais comum entre os homens fumantes, normalmente tem localização central ou proximal. Geralmente origina-se em um brônquio central, tem crescimento endobrônquico e, por isso, pode apresentar sintomas clínicos locais, tais como tosse e hemoptise, e tem maior probabilidade de ser diagnosticado nas suas formas iniciais pela citologia do escarro. É também a causa mais comum de hipercalcemia paraneoplásica e cavita em 10 a 20% dos casos. ADENOCARCINOMA Representa o tipo histológico mais comum em países desenvolvidos. É o tipo predominante no sexo feminino, nos jovens (< 45 anos) e nos não fumantes. Geralmente de localização periférica, tem maior chance de ser encontrado na citologia do líquido pleural e no aspirado nodular transtorácico. PODE EVOLUIR COM UM DERRAME PLEURAL. É a causa mais comum de osteoartropatia hipertrófica paraneoplásica, e possui pior prognóstico que o escamoso, quando comparado no mesmo estágio. Cresce de forma silenciosa, por ser periférico. Seus aspectos microscópicos característicos incluem formação glandular, geralmente com produção de mucina O Carcinoma Bronquíolo-Alveolar é um subtipo de adenocarcinoma, representando apenas 3% do total dos carcinomas broncogênicos. É derivado das células alveolares e se apresenta como massa, lesão difusa multinodular ou infiltrados alveolares (assemelhando-se a uma pneumonia). Caracteriza-se por se espalhar pelos espaços alveolares, sem invadir os septos (crescimento “lepídico”). Existem dois tipos histológicos: mucinoso (derivado das células caliciformes) e não mucinoso (derivado dos pneumócitos tipo II). CARCINOMA DE GRANDES CELULAS ANAPLÁSICO Análises histopatológicas mais minuciosas sugerem que o carcinoma pulmonar de grandes células na verdade seja um carcinoma epidermoide ou adenocarcinoma tão indiferenciado (anaplásico) que não pode ser classificado dentro de nenhum desses subtipos. Perfaz < 10% dos casos, sendo o subtipo menos frequente. Apresenta o pior prognóstico dentre os carcinomas não pequenas células! De localização mais periférica, comumente cavita. PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO II: PROLIFERAÇÃO CELULAR 2. CARCINOMA DE PEQUENAS CÉLULAS (OAT CELL OU AVENOCELULAR) Neoplasia mais agressiva, tem pior prognóstico. Os aspectos microscópicos incluem a presença de pequenas células semelhantes aos grãos de aveia, com pequena quantidade de citoplasma, sem diferenciação escamosa ou glandular e com grânulos neurossecretores. É um carcinoma mais central, para diferencia- lo do epidermoide basta analisar a biopsia, pois no de pequenas células não tem desmossomos, não tem epitélio escamoso. É também chamado de oat-cell (o nome avenocelular ou oat cell vem do fato de suas células se parecerem com grãos de aveia) e, em geral, manifesta- se na forma de tumor central e hilar tendendo a estenosar os brônquios por compressão extrínseca O oat cell é responsável por 15-20% dos casos. Apresenta o pior prognóstico e maior agressividade entre os carcinomas broncogênicos. Geralmente de localização central, possui 70% de chance de metástase à distância no momento do diagnóstico. Na maioria das vezes, cursa com invasão do mediastino. Essas células são um pouco maiores que os linfócitos, e têm origem no tecido neuroendócrino argentafim (tal como o tumor carcinoide). Faz secreção de ACTH, que atuará na glândula suprarrenal e libera cortisol >> o que explica a síndrome paraneoplasica como síndrome de Cushing. O carcinoma avenocelular responde pela maioria das síndromes paraneoplásicas neuroendócrinas associadas ao câncer de pulmão. Vale dizer ainda que é o subtipo mais fortemente associado ao tabagismo, sendo raríssimo em não fumantes. TRATAMENTO PREVENÇÃO O controle do tabaco permanece como a principal forma de redução da ocorrência dessa PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO II: PROLIFERAÇÃO CELULAR neoplasia, sendo o câncer de pulmão uma das principais causas de morte evitável A prevenção se dá, principalmente, evitando-se os fatores de risco que contribuem para o câncer de pulmão, tais quais: o fumo, exposição ocupacional (amianto, radônio, etc) e dieta Conforme descrito anteriormente, o consumo de vegetais e frutas tem mostrado um efeito protetor, principalmente porque esses alimentos contêm carotenoides (pigmentos vermelhos e amarelos) que possuem propriedades antioxidantes Outros agentes validados na quimioprevenção para o câncer de pulmão incluem: o retinol (vitamina A), os β-carotenos, N-acetilcisteína e o selênio. REFERÊNCIAS Oncologia básica. Sabas et al, 1 ed. Oncologia: uma abordagem multidisciplinar. MARQUES, 2015 Câncer de pulmão: estadiamento do câncer de pulmão de células não pequenas. Instituto Vencer o câncer (SITE)
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