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Gravidez na Adolescência

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Gravidez na Adolescência
Tutoria caso 3 - Julie Sousa 5MA 2020.2
INTRODUÇÃO
Definição de adolescente: Segundo a OMS são considerados adolescentes pessoas entre 10 a 19 anos, já o ECA (estatuto da criança e do adolescente) considera
pessoas entre 12 a 18. No tratado de pediatria usa-se mais o valor referente ao da OMS.
→ 10-14 anos: Ainda não tem a capacidade de assumir todas as responsabilidades, por isso, não é recomendado que jovens de 10-14 anos sejam vistos sozinhos
durante toda a consulta, é necessária a presença de pais ou responsáveis em parte da consulta
→ 15 anos: Marco importante pois considera-se que o indivíduo atinge a autonomia para exercer competências necessárias para a sua vida, como por exemplo,
pode ser assistido sozinho em consultas.
ABORDAGEM ÉTICA NA CONSULTA DO ADOLESCENTE (GERAL)................................................................................................................................................................................
A consulta deve ocorrer em clima de: Confiança, sigilo, respeito e autonomia. A participação da família na consulta com o adolescente é desejável, mas os limites
desse envolvimento precisam estar claros para a família e para o jovem, A ausência dos pais ou responsáveis na consulta não deve impedir o atendimento médico
ao adolescente com idade igual ou superior a 15 anos. Sempre que existir conflitos de interesse entre a vontade do paciente e a vontade da família, deve
prevalecer aquela que trouxer melhor benefício para o paciente
→ Autonomia: Sugere que em algumas situações a única pessoa que tem o direito de decidir o que é melhor/mais convincente para ele é o próprio adolescente,
para isso, entrega-se um termo de assentimento* para o adolescente que deve constar em seu prontuário. = Isto deu origem ao termo “jovem maduro”, cabe ao
médico reconhecer/avaliar, se este jovem se encaixa nesses critérios ou não
*Termo de assentimento: Caso o médico julgue o jovem como um menor maduro, este terá que assinar um termo chamado de termo de assentimento, que consiste
em o jovem ter autonomia para dar seu assentimento à assistência médica ou recusa da mesma, mesmo a revelia dos pais, devendo constar no prontuário. A
decisão que irá prevalecer é a do médico, assim, sua preocupação para com o termo deve ser maior ainda
“As decisões acerca de crianças e adolescentes atendidos em serviços de acolhimento devem garantir-lhes o direito de ter sua opinião considerada” Governo
Federal
OBS: Termo de Assentimento X Termo de Consentimento→ Termo de assentimento é dado ao adolescente e o termo de consentimento é dado a pessoas adultas
já totalmente capazes para tomar decisões
→ Respeito: “O direito ao respeito consiste na inviabilidade da integridade física, psíquica, e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da
imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias ou crenças, dos espaços e objetos pessoais.”Estatuto da Criança e do Adolescente
→ Sigilo: Por direito, os pacientes pediátricos devem possuir na relação médico-paciente o sigilo médico, no entanto, em algumas situações esse sigilo pode ser
quebrado. Quando não ocorra essas situações contidas na lei, o médico deve prezar pelo sigilo principalmente para não comprometer a relação de confiança com
o adolescente (ponto de extrema importância da consulta)
★ Quebra do sigilo médico: Pode ocorrer quando está embasado de dever legal, justa causa e autorização
do paciente. Dever legal ocorre quando o médico tem disposição legal cobrindo-o, como por exemplo ao
preencher um atestado de óbito ou um formulário de notificação compulsória. Justa causa ocorre
quando há uma situação excepcional que justifique, apoiada em razões legítimas e de interesse ou
procedência coletiva. São elas: gravidez, abuso de álcool, abuso de drogas, qualquer forma de
violência ou abuso, existência de doenças graves, recusa de tratamento, tratamento de alta
complexidade, riscos para o menor ou terceiros. Autorização do paciente deve ser prescindida de
explicação, já que é direito do paciente o sigilo, e então só após a explicação, o paciente autoriza ou não
a quebra do sigilo. Essa explicação não é necessária quando a informação pode trazer risco para o
paciente ou terceiros. É fundamental oferecer pro paciente a oportunidade dele mesmo falar ou caso
não queira, o médico deve comunicar a família na presença do paciente, para o proteger de julgamentos
e/ou ações por parte da família, buscando conversão para se promover um ambiente e relação
harmônica, garantindo a integridade física, psíquica e social do adolescente
EPIDEMIOLOGIA……………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………….
Segundo a SBP, 400 mil adolescente engravidam ao ano no brasil de acordo a diretriz de 2019. Em 2015 18% dos brasileiros nascidos vivos eram filhos de mães
adolescentes. De acordo com a faixa etária, o ministério da saúde afirma que em 2014 mais de 28.000 nasceram de meninas entre 10-14 anos enquanto mais de
500.000 nasceram de mães com idades entre 15-19 anos. O nordeste e o sudeste lideram as taxas com 32% de nascidos de mães adolescentes, seguido da região
Norte (14%), Sul (11%) e centro oeste (8%)
FATORES DE RISCO…………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………...
O principal fator compreende a falta de educação sexual, tais como sexualidade, direitos sexuais e reprodutivos. Algumas questões podem também contribuir,
como fatores emocionais, psicossociais e contextuais, esses inclusive decorrem para a falta de acesso a proteção social e ao sistema de saúde, o que abrange o uso
de forma incorreta de contraceptivos e uso inadequado de métodos de barreira e preservativos.
Existem outras formas significativas que não se resumem as citadas acima, porém são comuns devido a idade e imaturidade do adolescente, tais como
pensamentos mágicos e inconscientes de ser amado(a) ou de ser conquistado(a) como reflexo dos papéis estereotipados e veiculados pelas mídias e pela
sociedade em geral, muitas vezes envolvendo romance e violência. A falta de um projeto de vida e
expectativas de futuro, educação, pobreza, famílias disfuncionais e vulneráveis, abuso de álcool e
outras drogas, além de situações de abandono, abuso/violência e a falta de proteção efetiva às
crianças e aos adolescentes, também fazem parte desse quadro.
Algumas vezes a gravidez pode ser desejada pela jovem como proposta do contexto a qual está
inserida, como por exemplo casou-se cedo, ou pode ser desejada como forma de exercer a sua
sexualidade, de ser incluída e aceita socialmente no meio em que vive. Ou ainda por gerar
benefícios futuros financeiros para a família. Todos esses são fatores que contribuem para o alto
índice da gravudez na adolescência. Quanto a vida escolar “Pesquisas sobre mudanças na vida social
revelam que as gestantes adolescentes indicam a interrupção dos estudos como a mais frequente e
preocupante. O abandono escolar compromete não apenas a continuidade da educação formal, como
resulta em menor qualificação e obstáculo nos seus projetos de vida. No entanto, a gravidez na
adolescência não é um fenômeno homogêneo e depende do contexto social no qual a garota está inserida.
Nas camadas sociais média e alta, a ocorrência de gestação na jovem tende a não prejudicar tanto o
percurso de escolarização e profissionalização. Por outro lado, em classe social baixa, a adolescente tem
maior dificuldade em continuar e finalizar os estudos, encontrando mais obstáculos na sua
profissionalização, até porque, na maioria das vezes, não pode contar com o apoio familiar e social”
FATORES DE RISCO PARA MÃE E PARA O BEBÊ ……………………………………………………………………..
As complicações e gravidade da gestação dependem MUITO da idade da adolescente, paridade,
início e aderência ao pré-natal, ganho de peso e aspectos nutricionais. Possuem maiores riscos
meninas com menos de 16 anos, especialmente menores de 14 anos ou com menos de dois anos
da menarca. O apoio psicossocial também influencia,principalmente o apoio da família e o
contexto onde a adolescente está inserida, assim como o acesso aos cuidados básicos de saúde,
que influenciam diretamente nos cuidados neonatais e no parto e pós parto da adolescente.
Outros fatores que influenciam na saúde da mãe e do bebe no decorrer do processo condizem
com a reação / apoio paterno e escolaridade da mãe. A paternidade compreende um período de
transformações, uma vez que o pai biológico dar o apoio a mãe e para criança, cuidados são
divididos entre a responsabilidades com a criança, além do que esse apoio durante o pré natal e
puerpério são fundamentais para a mãe, podendo a criança ter um rumo completamente
diferente de vida do que se não tivesse o apoio paterno, sendo benéfico tanto para a mãe quanto para o bebe. “Estudos apontam que a paternidade nem sempre é
uma função identificada, pois culturalmente focaliza-se quase sempre o papel da mãe. Quando citado, o
papel do pai se reporta, na maioria das vezes, aos que já moram com os filhos, deixando vago o campo
de pesquisas e conhecimentos sobre pais mais jovens e pais adolescentes”. Além disso, os mesmos
estudos dizem que a paternidade tem boa aceitação entre os jovens, no entanto, os mesmos
dizem sentir certas dificuldades devido a mudança abrupta de vida para dar condições boas a
criança. É conveniente estimular a presença do pai da criança na consulta, tanto no pré-natal,
quanto no planejamento familiar, de modo a promover a educação em saúde necessária para se
evitar uma recorrente.
FATORES DE PREVENÇÃO………………………………………………………………………………………………………
Um dos fatores mais importantes para prevenção é a educação, imprescindível tanto para a
saúde individual quanto para a saúde coletiva. “É importante considerar a educação abordando
sexualidade e saúde reprodutiva, tanto no meio familiar quanto na escola, com abordagem científica, e
nos programas de promoção à saúde.” Não apenas relacionadas ao ato sexual em si, mas a
prevenção de doenças, respeito entre meninos e meninas, métodos contraceptivos
principalmente para os adolescentes. A educação sexual faz parte do bem estar do adolescente, bem-estar esse compreendido como integral , abordando o
respeito entre os gêneros e a sexualidade, prevenção de gravidez na adolescência, prevenção de IST’s , defesa contra violência sexual e abusos, abrangendo a
saúde integral do adolescente em seu âmbito doença, físico e psicossocial. Organizações internacionais como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo
de População das Nações Unidas (UNFPA) especificam guias metodológicos e operacionais cujas características estão abaixo elencadas, de forma resumida, são
esses:
★ Fundamentação nos princípios e valores dos direitos humanos e
sexuais, sem distinção étnica e de gênero, nem religiosa, econômica
ou social, em mensagens de comunicação;
★ Informações exatas e cuidadosas cientificamente comprovadas
sobre saúde sexual e infecções que podem ser sexualmente
transmitidas, contracepção, questões de gênero e enfrentamento da
violência;
★ Ambiente de aprendizagem seguro e saudável nas escolas
★ Metodologias participativas com ênfase na comunicação e
desenvolvimento do pensamento crítico, construtivo e saudável nas
tomadas de decisão, inclusive sobre comportamentos e sexualidade;
★ Promoção da educação sexual como parte dos programas sobre
direitos à saúde e a proteção social às crianças e
adolescentes/jovens, inclusive na questão da gravidez precoce.
É importante ressaltar a forma como essa comunicação deve ser passada, sendo ela livre de julgamentos e rótulos existentes na sociedade e nas mídias sociais, é
preciso falar com o adolescente como indivíduo e não como fonte de estereótipo social, a fim de que se evite constrangimentos e a quebra da confiança dele para
com o profissional de saúde. “Recomenda-se inclusive abordar os relacionamentos familiares, de amizades e reflexões sobre a própria sexualidade. O aprendizado em
ambiente facilitador nas escolas em palestras ou atividades com trocas educativas, participativas e reflexivas é o que mais alcança a prevenção de problemas futuros,
inclusive da gestação”. Importante lembrar também de que os profissionais das redes de saúde necessitam de um treinamento para realizar essa comunicação de
forma efetiva para os jovens.
CONTRACEPÇÃO EM ADOLESCENTES ……………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………
Na adolescência, considerações especiais sobre anticoncepção relacionam-se na maior parte das vezes aos aspectos ético-legais envolvidos. “A adolescente tem
direito a privacidade, ou seja, de ser atendida sozinha, em espaço privado de consulta. Por sua vez, a define-se confidencialidade como um acordo entre médico e paciente,
onde as informações discutidas durante e depois da consulta não podem ser informadas a seus pais e ou responsáveis sem a permissão expressa do adolescente. A
confidencialidade apóia- -se em regras da bioética médica, através de princípios morais de autonomia (artigo 103 do Código de Ética Médica). Dessa forma, a adolescente
tem direito à educação sexual, ao acesso à informação sobre contracepção, à confidencialidade e ao sigilo sobre sua atividade sexual e sobre a prescrição de métodos
anticoncepcionais, não havendo infração ética ao profissional que assim se conduz”. Assim, a SBP e a FEBRASGO definiram que a prescrição de métodos
contraceptivos podem ser feitas levando em consideração o pedido do adolescente independente da idade, desde que respeitem os critérios médicos de
elegibilidade do médico. Dessa forma, para menores de 14 anos é possível realizar a prescrição desde que o profissional de saúde esteja dentro da ética médica,
não sendo considerado um ato ilicito do médico, no entanto, esse médico deverá se assegurar de que não esta sofrendo abusos ou qualquer tipo de violência
sexual, todas essas informações devem estar contidas no prontuario da paciente. A orientação contraceptiva envolvendo métodos de curta duração, como pílulas,
geralmente é realizada sem problemas seguindo esses preceitos. Por outro lado, os métodos de longa ação (métodos intra uterinos e implantes), por necessitarem
de procedimento médico para a inserção, podem suscitar dúvidas. Para esses métodos, quando indicados, a FEBRASGO sugere que pode-se considerar o
consentimento da adolescente e do responsável, reforçando o aconselhamento contraceptivo,
Em geral as adolescentes desejam um método contraceptivo mas na maioria das vezes encontram uma certa defasagem em relação às informações acerca dos
métodos disponíveis, dessa forma, quando se orienta uma dolescente quanto aos métodos, deve-se orientá-la acerca de todos os métodos disponíveis, incluindo
dispositivos intrauterinos e implantes. Atualmente, as formas mais populares de contracepção em adolescentes são preservativos e o coito interrompido, seguido
de pílulas. Somente 3,6% das mulheres entre 15-19 anos usam métodos intra uterinos. Nenhum método contraceptivo (com exceção dos métodos definitivos) deve ser
contraindicado baseando-se unicamente na idade. Embora os métodos de longa ação (DIUs e implante) sejam priorizados por algumas entidades médicas,
dificuldades no acesso e na aceitabilidade pela adolescente mostram que métodos tradicionais, como os contraceptivos orais combinados (COCs) e preservativos
devem também ser foco de aconselhamento por profissionais de saúde, visando melhora das taxas de continuidade e, em última análise, redução da possibilidade
de gestações não planejadas. Estudos evidenciaram que as taxas de continuidade e satisfação com o método contraceptivo são maiores quando a decisão é da
paciente. As mulheres preferem decidir de forma autônoma, com menos influência do profissional de saúde, sobre seu método contraceptivo, após um adequado
aconselhamento.
→ Uso de pílulas antes da menarca: Adolescentes podem necessitar de contracepção antes da menarca, em decorrência do início de vida sexual precoce, uma vez
que é possível a concepção nesse período. Entretanto, mesmo após a menarca, a presençade ciclos anovulatórios é bastante comum. Em média, a ovulação ocorre
em 50% das adolescentes após 20 episódios menstruais regulares. Assim, não existem evidências sobre o seu uso antes da menarca, uma vez que tal uso pode
interferir na produção dos hormônios esteróides sexuais sobre o eixo hipotálamo-hipofisário. Dessa forma, não é recomendado o uso de pílulas antes da menarca,
caso a jovem já tenha relações sexuais, recorrer a métodos que não mexam com a regulação hormonal, como os preservativos sexuais.
→ Dispositivo intra-uterino (DIU) e sistema intrauterino de levonorgestrel (SIU-LNG): O benefício dos métodos intra uterinos (DIU e SIU) supera os riscos,
podendo ser utilizado em adolescentes. Deve-se considerar, no entanto, a maior propensão à expulsão devido a nuliparidade
→ Condom: Tem-se recomendado em adolescentes o uso concomitante do condom, independentemente do método contraceptivo escolhido, visando à proteção
contra as DSTs.(17) O uso isolado desse método de barreira visando à contracepção relaciona-se à elevada taxa de falha.
ATENDIMENTO A ADOLESCENTE
A respeito de métodos contraceptivos:
→ No acolhimento: Deve-se reforçar a confiabilidade e privacidade; Reconhecer a individualidade da adolescente (é diferente da mulher adulta); Informar que
não há necessidade de exame ginecológico inicial e criar um ambiente aberto e empático
→ O que perguntar? : Histórico sexual; uso prévio de contraceptivos; história médica; relacionamento atual e preocupações; expectativa do método
contraceptivo; habilidade e motivação para uso correto; opinião sobre métodos injetáveis e LARC; apoio em casa, apoio do parceiro; há necessidade de esconder
o método?
→ Checar: Conhecimento do método de preferência; qualidade do conhecimento incluindo medo e preocupação; se o método é adequado para as necessidades e
expectativas; identificar opções aceitáveis; se há necessidade de screening para dst; ajudar na escolha do método.
→ Falar: Sobre mecanismos de ação, eficácia, uso correto e como iniciar o método; Sobre o impacto do método sobre o ciclo menstrual; Potenciais eventos
adversos; Benefícios não contraceptivos; Sobre consultas de seguimento
→ Tranquilizar: Reforçar que os benefícios dos contraceptivos superam os riscos; Uso consistente. Não é necessário interromper o método sem o contato com o
médico; Reforçar que a anticoncepção é a primeira etapa da vida sexual segura; Verificar medos e preocupações que podem não ter sido esclarecidos
PRÉ- NATAL NA ADOLESCÊNCIA…………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………...
Durante a primeira consulta além de cuidadosa anamnese com avaliação dos antecedentes pessoais (história de doenças de transmissão sexual, diabetes,
hipertensão arterial, cardiopatias, nefropatias, uso de drogas lícitas e ilícitas e violência), devem ser avaliados os antecedentes obstétricos e familiares, o estado
nutricional e os hábitos alimentares, para investigação de possíveis complicações durante a gravidez. A definição da data da última menstruação é de grande
ajuda para o cálculo da idade da gestação e da época provável do parto, pois nesta idade é comum a irregularidade menstrual e o uso irregular de contraceptivos
hormonais. O exame físico deve ser completo e incluir a mensuração de peso, altura e pressão arterial. Verificar a eventual existência de edemas, sangramentos
ou cólicas. Efetuar o exame das mamas com avaliação das papilas, fundamental para a futura amamentação. A avaliação clínica da idade gestacional deve ser feita
pela medida do fundo uterino e a ausculta dos batimentos cardiofetais (BCF), já possível após 10 a 12 semanas. De fundamental importância é a realização de
exame ginecológico com colheita de material cervicovaginal para exame citopatológico (D) e, em casos suspeitos de infecções específicas, colher culturas do
conteúdo vaginal (C, para gestantes de baixo risco e B, para as de alto risco). Lembrar que a gravidez pode ser a única oportunidade para o diagnóstico precoce de
lesões cervicais.
Solicitar exames complementares essenciais. Sangue: hematócrito, hemoglobina (se possível hemograma completo), glicose, grupo sanguíneo e fator Rh, reações
sorológicas para lues (A), toxoplasmose (C), hepatite B (A) e pesquisa anti-HIV (A). Urina: tipo1 (D) e urina tipo 2 (URC e TSA). Fezes: parasitológico (C). Em
adolescentes RH negativas, realizar o teste de Coombs indireto, independente da tipagem sanguínea do pai (há relato de adolescentes isoimunizadas ainda na
primeira gestação por compartilhamento de seringas). Se o resultado do teste de Coombs indireto for negativo, repeti-lo em torno da 28ª semana, caso seja
negativo repetir a cada quatro semanas (32, 36 e pós-parto) e quando positivo, a adolescente deverá ser encaminhada a pré-natal de alto risco. O MS recomenda
repetir a sorologia para lues na 32ª semana e no momento do parto ou abortamento (D) e não recomenda a solicitação de sorologia para rubéola de rotina durante
a gravidez (D)17. O MS preconiza a repetição do teste anti-HIV durante a gestação em situações de exposição constante ao risco de aquisição do vírus ou quando
se encontra no período de janela imunológica. Repetir anti-HIV três meses antes do parto (+/- 34 semanas). Gestantes não vacinadas para hepatite B devem ser
vacinadas e aquelas que não possuem ou relatam a possível doença, podem fazer pesquisa de HBsAg durante a gestação, antes ou no momento do parto. O
rastreamento a Hepatite C deve ser feito aquelas gestantes que se encontram em contextos de vulnerabilidade/risco, tais como presidiárias, usuárias de drogas
injetáveis, gestantes HIVpositivo ou parceiras de homens HIV-positivo, mulheres submetidas à transfusão com hemoderivados, mulheres com alteração da função
hepática, com múltiplos parceiros ou tatuadas. Sumário de urina é recomendado entre a 12-16 semana de gestação para rastrear bacteriúria assintomática, o MS
da saúde recomenda fazer o exame novamente em torno da 30 semana. A ultrassonografia no primeiro trimestre é útil para detectar gestação múltipla, datar a
gravidez, avaliar a translucência nucal e o osso nasal (rastreio de cromossomopatias entre 11 e 14 semanas). Outros exames serão solicitados de acordo com as
necessidades clínicas e na dependência dos resultados dos exames anteriormente realizados.
Orientaçoes: Importante esclarecer quanto à higiene, exercícios físicos, hábitos de vida saudáveis, orientação dietética e medicação sintomática
Suplementação: A suplementação de 400 µg de ácido fólico pré concepcional demonstrou forte efeito protetor contra defeitos de fechamento do tubo neural,
devendo ser mantida até a 12ª semana. A suplementação de ferro é utilizada para profilaxia e tratamento da anemia ferropriva, principalmente a partir do
segundo trimestre da gestação
Consultas subsequentes: em todas as consultas de retorno, perguntar sobre melhora dos sintomas anteriores, queixas atuais, uso da medicação prescrita e
seguimento das instruções. Deve-se reforçar a orientação sobre amamentação. É frequente a dúvida sobre a manutenção da atividade sexual, especialmente no
terceiro trimestre da gravidez. Estudos demonstraram que não há associação com aumento da prematuridade em gestantes normais. O exame obstétrico deve
incluir a mensuração do peso, pressão arterial e altura do fundo uterino; a ausculta dos BCF; a definição da situação, posição e apresentação fetais (quando
possível) e a verificação de edemas, orientando-se a partir dos resultados observados caso a caso. O retorno deverá ser mais frequente, quando presentes
situações consideradas de risco como: desnutrição, doenças sistêmicas (metabólicas, cardiovasculares etc.), complicações obstétricas (especialmente doença
hipertensiva específica da gravidez) e alterações psicossociais (depressão, extrema pobreza, baixa autoestima, abandono familiar ou do parceiro etc.)
!!!Pela possibilidade de vulnerabilidade em adolescentes grávidas na faixa etária de 10 a 14 anos, deve-se promover assistência qualificada, com abordagemdiferenciada, considerando a necessidade de um maior número de consultas e as questões éticas e legais. Nesta faixa etária, as principais comorbidades a serem
rastreadas são as doenças hipertensivas específicas da gravidez, da anemia, de infecções e da prematuridade. É preciso identificar no território todas as
adolescentes que estão grávidas e em especial as que estão em situação de maior vulnerabilidade (vivendo na rua, em conflito com a lei, usuárias de álcool e
outras drogas, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, de famílias beneficiadas pelo Programa Bolsa Família) para que sejam acolhidas e recebem cuidados
diferenciados, de acordo com as suas necessidades e demandas de saúde. Nesse contexto, é fundamental considerar as modificações corporais da adolescência,
pelas quais estão passando as grávidas de 10 a 14 anos, que podem interferir no processo da amamentação. e gestação.
CALENDÁRIO VACINAL…………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………….
Considerações importantes: A dTpa está recomendada em todas as gestações, pois além
de proteger a gestante e evitar que ela transmita a Bordetella pertussis ao
recém-nascido, permite a transferência de anticorpos ao feto protegendo-o nos
primeiros meses de vida até que possa ser imunizado.Mulheres não vacinadas na
gestação devem ser vacinadas no puerpério, o mais precocemente possível.Na falta de
dTpa, pode ser substituída por dTpa-VIP, ficando a critério médico o uso off label em
gestantes.A vacina hepatite B é recomendada para todas as gestantes suscetíveis.A
gestante é grupo de risco para as complicações da infecção pelo vírus influenza. A vacina
está recomendada nos meses da sazonalidade do vírus, mesmo no primeiro trimestre de
gestação. Desde que disponível, a vacina influenza 4V é preferível à vacina influenza 3V,
por conferir maior cobertura das cepas circulantes. Na impossibilidade de uso da vacina
4V, utilizar a vacina 3V
Contra indicação na gravidez: Tríplice viral; HPV; Varicela; Dengue
INTERCORRÊNCIAS CLÍNICAS E OBSTÉTRICAS……………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………….
Entre adolescentes primíparas, as gestantes menores de 15 anos apresentam percentuais significativamente maiores de anemia ferropriva, infecção do trato
urinário e vaginal, enquanto a hipertensão arterial e o diabetes gestacional predominam nas maiores de 16 anos. A OMS estabelece como limite inferior, a
hemoglobina em 11 g%, independente da idade gestacional. A ocorrência de anemia está significativamente associada à realização de PN inadequado, sendo
resultado da baixa ingesta calórica e de maus hábitos alimentares. Quanto às intercorrências obstétricas, a incidência de pré-eclâmpsia não varia em função da
idade e aproxima-se de 10% (≤16 anos= 11% e >16 anos= 10%). Outras intercorrências obstétricas são
referidas com maior frequência entre as mães menores de 16 anos, como parto pré-termo, rotura
prematura das membranas amnióticas e corioamnionite. O parto prematuro e o baixo peso ao nascer
apresentam curva em U: valores mais elevados encontram-se nos extremos de idade, entre
adolescentes e em mulheres com mais de 35 anos.
Gravidez de alto risco: Idade menor do que 15 anos; Altura menor do que 1,45 m; Peso menor do que
45 Kg ou maior que 75 Kg; Dependência de drogas lícitas ou ilícitas; Baixa escolaridade (menor do que
cinco anos de estudo regular); Não aceitação da gravidez; Situação familiar ou conjugal insegura
RESOLUÇÃO DO PARTO…………………………………………………………………………………………………………………..
A adolescente em geral tem condições fisiológicas para o parto vaginal, sendo fundamental o preparo
emocional da gestante para o desfecho obstétrico. As evidências científicas atuais são muito
consistentes na recomendação da via vaginal, reservando a operação cesariana para as indicações
precípuas a essa modalidade de parto. Apurando as principais indicações de resolução do parto por
cesariana, verificou-se que distócia funcional (28%), desproporção cefalopélvica (15%), sofrimento fetal e eliminação de mecônio (18%) foram as mais frequentes.
Outras como, síndrome hipertensiva e apresentação fetal anômala também foram citadas como representativas.
Filhos prematuros: O peso do recém-nascido é importante marcador de morbidade e mortalidade perinatal. Na análise da adequação do peso em relação à idade
gestacional, foi observado que a ocorrência de conceptos pequenos para a idade gestacional foi maior no grupo de infantes de mães com idade inferior a 16 anos
A assistência pré-natal adequada às gestantes adolescentes pode promover diagnóstico precoce e corrigir os fatores de risco para o baixo peso ao nascimento,
principalmente nas gestantes mais jovens. É de grande importância que nossas adolescentes tenham condições de aprimorar sua situação socioeconômico
cultural; que recebam mais estímulo aos estudos, abrindo perspectivas de um futuro melhor; incentivos para adotar atitude mais positiva em relação à
sexualidade e ao planejamento familiar; assistência oferecendo informações e meios para a prática do sexo seguro e responsável. A disponibilidade de centros de
atendimentos voltados para a promoção da saúde da adolescente, ao planejamento familiar e à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, com equipe
médica multidisciplinar poderia levar à redução do risco da gestação na adolescência
ASSISTÊNCIA NO PUERPÉRIO…………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………..
A atenção à adolescente e ao recém-nascido (RN) no pós-parto imediato e nas primeiras semanas após o parto é fundamental para a saúde materna e neonatal. O
retorno da adolescente e do RN ao serviço de saúde, de sete a dez dias após o parto, deve ser incentivado desde o pré natal, na maternidade e pelos agentes
comunitários de saúde na visita domiciliar. O profissional deve estar atento para ouvir e acolher a adolescente, seu companheiro e sua família. É nesta etapa que
se aprofunda o vínculo mãe-filho-família. O corpo da adolescente também passa por modificações que precisam ser acompanhadas de perto.
Os profissionais de Saúde costumam restringir as consultas do puerpério em busca dos sintomas orgânicos e das prescrições. Entretanto, vale lembrar que há,
principalmente para a adolescente, um reviver de conflitos anteriores e algumas situações novas importantes que podem fragilizar-la e trazer dificuldades para a
sua autoestima e para o exercício da maternidade. Portanto é preciso um olhar para o estado emocional da adolescente, propiciando apoio e em casos mais graves
uma referência para profissionais de Saúde Mental. Algumas mulheres adultas e adolescentes emergem da situação de parto com sintomas depressivos, em
vários níveis de gravidade, que interferem com a relação da mãe com a criança. Estes sintomas devem ser acompanhados no sentido de melhorar o estado
emocional da mãe, o que contribuirá para o restabelecimento do vínculo, melhorando o cuidado com o bebê e com o processo de amamentação. Conforme a
gravidade, essas mães devem ser atendidas, também, por profissionais da Saúde Mental.
O pai precisa ser escutado sobre suas angústias e incentivado a colaborar com sua parceira, pois é um momento de vulnerabilidade familiar. Pela própria cultura
ocidental, os homens não participam muito do processo da gravidez, parto e puerpério, ficando para as mulheres a ajuda à gestante. Estes fatos ainda são mais
relevantes quando o pai é um adolescente, pois muitas vezes são alijados do processo. O pai, independente da sua idade, quando participativo, pode auxiliar a
mulher no ato da amamentação dando-lhe segurança e nos cuidados com o bebê. Assim, atendidos integralmente em suas necessidades e demandas de saúde,
adolescentes são protegidos em seus direitos e apoiados em suas trajetórias de vida rumo à realização pessoal e social, à igualdade de oportunidades e ao
respeito aos direitos humanos.
Avalia-se na primeira consulta pós parto:
★ Anamnese e exame físico da mãe com atenção especial para a involução uterina, lóquios, sinaisde infecção, estado da ferida operatória, quando houver.
Realizar o exame atento das mamas e dar orientações quanto à amamentação. Orientação quanto aos cuidados gerais da mãe e do bebê, além da
contracepção, que não interfira com a amamentação
★ Coleta dos dados do nascimento e exame físico do RN. Verificar se foram realizados o teste do pezinho (T4, PKU, Hemoglobina), teste do olhinho
(pesquisa do reflexo vermelho) e teste da orelhinha (otoemissão acústica), além das vacinas para o bebê (BCG e hepatite B)
★ Sensibilizar, informar e esclarecer sobre métodos anticoncepcionais, para o planejamento reprodutivo
★ Deve ser feita uma inspeção cuidadosa do Cartão da Gestante e da Caderneta da Criança, que trazem os principais dados quanto ao parto e às condições
do nascimento do RN e eventuais intercorrências, e da Caderneta de Saúde da Adolescente para a atenção integral.
★ O profissional de Saúde também deve observar se o vínculo mãe e filho está tranquilo ou com problemas
REFERÊNCIAS:
★ Proteger e Cuidar da Saúde de Adolescentes na Atenção Básica (Cartilha MS)
★ Anticoncepção para adolescentes (FEBRASGO)
★ Prevenção da Gravidez na Adolescência (SBP)
★ Manual de Ginecologia Infanto Juvenil (FEBRASGO)
★ Calendário vacinal da gestante (SBIM)

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