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Amanda do Nascimento MED XXV 1 INFECTOLOGIA: TÉTANO HISTÓRIA: ➔ Primeiros casos foram descritos por médicos gregos e egípcios → relação entre ferimentos e espasmos fatais. ➔ 1884 → identificação de toxina em bactérias anaeróbias encontradas no solo. ➔ 1890 → descrição da transmissão. INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES: ➔ Doença do sistema nervoso, transmissível e não contagiosa, caracterizada por espasmos musculares e contração muscular tônica. ➔ É provocada, principalmente, pela toxina TETANOSPASMINA → toxina do Clostridium tetani. ➔ Doença potencialmente fatal e altamente evitável. ➔ Classificação: o Neonatal: relacionado a más condições de cuidado/higiene do coto umbilical. o Acidental. ➔ Incidência esporádica, porém, notória. ➔ Distribuição global, com predomínio em áreas rurais e climas quentes. EPIDEMIOLOGIA: ➔ Incidência global: o 1.000.000 casos/ano com 290.000 óbitos. o Principais locais afetados: Ásia, África e América do Sul. ➔ Brasil: o 2.000 casos/ano na década de 1980. o 578 casos em 2001. o 327 casos em 2011. o Principais estados afetados: norte e nordeste. ➔ Mortalidade: o Países em desenvolvimento: 28 casos/100 mil habitantes. o EUA: 0,1 casos/100 mil habitantes. ➔ Letalidade: o EUA: 10%. o São Paulo (2016): 32,6%. o Santa Catarina: ▪ 2013: 41,5%. ▪ 2019: 27,2%. ➔ As taxas de letalidade do tétano são altas, visto que, para o tratamento, são necessárias técnicas muito aprimoradas e um grande suporte intensivo. ➔ Em SC, houve um aumento nos casos de tétano entre 2007 e 2019. Isso se deve ao fato principalmente da deficiência de cobertura vacinal nos adultos. Amanda do Nascimento MED XXV 2 ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA: ➔ Agente etiológico: Clostridium tetani. o Bacilo gram POSITIVO. o É ANAERÓBIO ESTRITO. o Possui esporo altamente resistente. ➔ Habitat: o TGI de animais e humanos → bacilos. o Solo, instrumentos com poeira ou terra → esporos. ➔ “Foco tetânico”: o Queimaduras o Mordeduras o Fraturas expostas o Abortamentos: aborto séptico. o Drogas EV o Implante de piercings. o Infecção dentária o Pós-operatório de infecções necróticas pela flora abdominal. o DM com extremidades infectadas o Ferimento por prego: é o foco mais comum, principalmente quando for pequeno e profundo, visto que o ferimento logo se fecha, ficando o bacilo em meio ideal = sem O2. ➔ Quando o paciente chega na emergência com um ferimento que possivelmente pode ser um foco tetânico, deve- se realizar a sua correta higiene ANTES de fazer a sutura. Se for necessário, deve-se realizar a anestesia do local, para que se consiga esfregar o ferimento e assim garantir que todos os esporos sejam removidos. ➔ Áreas com BAIXO potencial de oxirredução são favoráveis para a germinação dos esporos. Há a produção da toxina TETANOSPASMINA/ TETANOLISINA, a qual se liga a receptores nervosos, invadindo o axônio. No SNC, há o bloqueio de neurotransmissores INIBITÓRIOS (GABA e GLICINA), fazendo com que o local afetado entre em uma condição excitatória e provoque espasmos e rigidez muscular. ➔ O estado de bloqueio dura de 4-6 semanas. Nesse período, não tem o que fazer, apenas dar todo o suporte intensivo para o paciente e esperar que as terminações nervosas sejam liberadas. ➔ Toxinas produzidas pelo Clostridium tetani: o TETANOSPASMINA → toxina que invade o neurônio e causa os sintomas. o TETANOLISINA → a sua importância na patogênese do tétano ainda é incerta. Sabe-se que ela causa destruição tecidual, aumentando a condição de pouca oxigenação do tecido e assim, favorecendo a germinação de mais esporos. Amanda do Nascimento MED XXV 3 FORMAS DE APRESENTAÇÃO DA DOENÇA: ➔ Forma LOCALIZADA → comprometimento apenas dos axônios que inervam a área afetada. o Excelente prognóstico. o É raro. ➔ Forma GENERALIZADA → toxina migra para outras terminações nervosas. o Forma MAIS COMUM do tétano. o Isto é, é a forma CLÁSSICA de apresentação do tétano. ➔ Tétano cefálico: o Acometimento de nervos cranianos após trauma cefálico ou infecção de orelha média. o Elevada mortalidade. o É raro. QUADRO CLÍNICO: ➔ Período de incubação → 7-10 dias. o Se a manifestação da doença ocorrer de forma mais precoce, sugere maior gravidade. ➔ Disfagia. ➔ Rigidez do masseter = TRISMO: dificuldade para abrir a boca. ➔ Risus sardonicus: corresponde a uma expressão facial caracterizada por sobrancelhas levantadas e distorção sorridente do rosco, resultante de espasmos dos músculos faciais. Parece que o paciente está sorrindo. ➔ Rigidez e dor da musculatura cervical. ➔ Contratura de ombros e dorso. ➔ Contratura da musculatura abdominal, dorsal e proximal de membros ➔ Espasmos musculares: o São frequentes e intensos. o Geralmente, iniciam-se pela região da face e depois vai progredindo. o São desencadeados por estímulos dolorosos, sonoros e táteis. o Há a contratura da musculatura torácica. o Pode desencadear fraturas. o Mordedura de língua. o Dor intensa. o Pode haver acometimento diafragmático e dificuldade respiratória. ➔ IMPORTANTE → há manutenção plena do nível de consciência. ➔ DISAUTONOMIA: ocorre um desequilíbrio do sistema simpático/parassimpático, afetando as funções involuntárias do organismo. o Ocorre apenas após a segunda semana de doença. o Há perda do equilíbrio da PA e FC. o É a principal causa de óbito: ou seja, é a disautonomia que leva o paciente com tétano ao óbito. OPISTÓTONO: posição de arco, em que o paciente fica apoiado pela parte de trás da cabeça e calcanhares. Amanda do Nascimento MED XXV 4 ABORDAGEM DIAGNÓSTICA: ➔ O diagnóstico do tétano é puramente CLÍNICO. É feito com base no quadro clínico do paciente → presença de contratura muscular global com comprometimento de grupamentos faciais, poupando mãos e pés e com nível de consciência preservado. ➔ Lembrar que se a imunização do paciente estiver adequada, a ocorrência de tétano é pouco provável. EXAMES COMPLEMENTARES: ➔ Inespecíficos: o Leucocitose: pode ser decorrente de uma infecção no foco tetânico (e não necessariamente da doença em si). o Elevação da CPK. ➔ É importante excluir intoxicações exógenas: o Em intoxicações geralmente o nível de consciência não é preservado. ➔ Cultura da ferida para Clostridium tetani: o A cultura deve ser feita em um meio próprio para a bactéria, uma vez que ela é anaeróbica. o Possui baixa sensibilidade. Portanto, é pouco útil. o É mais solicitada em paciente sem doença com imunidade adequada. Entretanto, raramente é solicitada. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: ➔ Condições locais que causam trismo. ➔ Intoxicação por Estricnina: alcaloide muito tóxico, usado como pesticida normalmente para matar ratos. É o PRINCIPAL diagnóstico diferencial. Nesse caso, há rebaixamento do nível de consciência. ➔ Reações distônicas a medicamentos → fenotiazinas e metoclopramida. Nesses casos, é possível realizar a rotação lateral do pescoço, o que não é possível no tétano. ➔ Tetania hipocalcêmica ➔ Transtornos conversivos. ➔ Abdome agudo. ➔ Meningites. ➔ Meningoencefalites ➔ Hemorragia meníngea. TRATAMENTO: ➔ Paciente sempre deve ser internado e deve receber suporte o mais precocemente possível. ➔ 1. Estabilização clínica com proteção de vias aéreas: o Benzodiazepínicos em doses elevadas → DZP até 10 mg/Kg/dia. o Avaliação de IOT. o Sulfato de magnésio 40mg/Kg EV por 30 min e depois 2g EV/hora se disfunção autonômica. o Quarto com redução acústica e luminosidade: os espasmos podem ser desencadeados por estímulos luminosos, sonoros ou dolorosos. Por isso também devemos evitar sondar o paciente. ➔ 2. Neutralização da toxina livre: o Diminui a mortalidade por diminuir a toxina circulante e livre na lesão. o Imunoglobulina antitetânica humana (IgHAT) em dois sítios diferentes. o Soro antitetânico (SAT): é mais barato, porém apresenta menor meia vida e maior riscoanafilaxia. o Abordagem do foco tetânico após 1 hora da antitoxina. o A IgHAT ou o SAT só são realizados quando o paciente possuir esquema vacinal incompleto ou desconhecido. ➔ 3. Eliminação da fonte de toxina: o É uma estratégia secundária. o Metronidazol 1,5-2 g/dia EV por 7-10 dias ou o Penicilina G cristalina 100.000-200.000UI /Kg/dia EV por 7-10 dias. Amanda do Nascimento MED XXV 5 o Realiza o tratamento de eventual infecção concomitante. ➔ 4. Prevenção de espasmos musculares: o Sedação profunda e paralisia muscular com Succinilcolina ou bloqueadores neuromusculares se espasmos irreversíveis. o Evitar sondagem gástrica. o Admissão em ambiente calmo. PREVENÇÃO: ➔ VACINA ANTITETÂNICA: o É feita com toxina inativada. o Proteção é aproximadamente de 100%. o A ocorrência de eventos adversos é RARA. o Esquema vacinal: ▪ Vacina tetravalente aos 2, 4 e 6 meses de vida. ▪ Reforço aos 15 meses e entre 4-6 anos com DPT. ▪ Reforço a cada 10 anos com dT. o Imunizar pacientes que se recuperaram de tétano. o A grande maioria das pessoas que tem tétano NÃO tem histórico vacinal adequado. ➔ O tétano é uma doença de notificação compulsória dos casos SUSPEITOS. ➔ Realizar sempre a limpeza de ferimentos contaminados por poeira ou fezes, fraturas expostas, queimadura, mordeduras: o Água e sabão e debridamento adequado. o Ferimentos na face, mãos e pés → maior risco, visto que possuem maior inervação. TÉTANO NEONATAL: ➔ Segundo a OMS, houve 180.000 óbitos em 2002. ➔ Corresponde por metade dos óbitos por tétano em países em desenvolvimento. ➔ Mortalidade é maior que 90%. ➔ Atualmente, o número de casos de tétano neonatal vem diminuindo devido a implementação da vacinação da mãe na gestação (DTP). ➔ “Mal de 7 dias” → período de incubação = 2 – 28 dias. ➔ Fatores de risco: o Baixa cobertura da vacina antitetânica em mulheres em idade fértil – dpTa. Devido a isso, deve ser realizado obrigatoriamente um reforço vacinal no terceiro trimestre da gestação. Importante ressaltar que não é para proteger a mulher e sim o feto/bebê, devido a passagem de anticorpos maternos para ele. Vacina tetravalente: oferece proteção contra difteria, tétano, coqueluche e Haemophilus influenza. Amanda do Nascimento MED XXV 6 o Partos domiciliares assistidos por parteiras tradicionais ou outros sem capacitação e sem instrumentos de trabalho adequados. o Oferta inadequada de pré-natal em áreas de difícil acesso. o Baixa qualificação do pré-natal. ➔ Quadro clínico: o Choro constante o Irritabilidade. o Dificuldade para mamar o Trismo. o Rigidez de nuca, tronco e abdome. o Hipertonia generalizada o Opistótono. o Febre, se houver infecção secundária no coto umbilical. o Espasmos. o Disfunção respiratória. o Disautonomia. o Óbito por apneia (1ª semana) ou sepse (após 2ª semana).
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