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1 Infectologia | @soumedrotina | Arêtuzya O. Tétano INTRODUÇÃO É uma toxi-infecção grave, não contagiosa, causada pela ação de exotoxinas produzidas pelo bacilo tetânico. As toxinas são responsáveis por provocar um estado de hiperexcitabilidade do sistema nervoso central. BACTÉRIA Clostridium tetani, bacilo anaeróbico, gram- positivo, encontrado no solo e no intestino de mamíferos sob forma de esporos. Acesso aos humanos se dá através de ferimentos. Inoculação → bastonete flagelado → produz tetanospasmina → transporte axonal retrógrado no neurônio motor → chega à medula e tronco espinhal → desinibição das células do corno anterior e dos neurônios autonômicos → aumento do tônus muscular, espasmos dolorosos e instabilidade autonômico. EPIDEMIOLOGIA Países com recursos limitados onda há baixa cobertura vacinal e ausência de assistência pré- natal, há maior prevalência. Mulheres, acima de 64 anos de idade, são desproporcionalmente afetadas em relação aos homens. É uma doença de notificação compulsória. PREDISPOSIÇÃO À INFECÇÃO Ausência de anticorpos + lesão penetrante que resulta na inoculação de esporos. Ou + tecido desvitalizado Ou + corpo estranho Ou + isquemia localizada Isso significa que a ausência de anticorpos é o fator chave para a contaminação. Lembrando que o C. tetani não crescerá em tecidos saudáveis CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Incubação → em média 8 dias, variando de 3 a 21 dias a depender do local lesionado, se for na cabeça ou pescoço, que são áreas mais próximas ao SNC, a infecção se instala em menos dias, quando comparado ao pé ou à mão. Padrão clínico pode ser: • Generalizado • Local • Cefálico • Neonatal PADRÃO GENERALIZADO: Forma clínica mais comum e grave; Sintoma prevalente em mais da metade dos pacientes → trismo: constrição mandibular por contração involuntária dos músculos mastigatórios, terá dificuldade em abrir a boca. Sintomas de hiperatividade autonômica nas fases iniciais → irritabilidade, inquietação, sudorese e taquicardia. Contração tônica dos músculos esqueléticos e espasmos intermitentes intensos. Devido às contrações musculares espásticas tônicas e periódicas o paciente evolui com: 2 Infectologia | @soumedrotina | Arêtuzya O. • Torcicolo, opistótono (rigidez dorsal), riso sardônico. • Abdome rígido semelhante a uma prancha • Períodos de apneia – atinge diafragma → insuficiência respiratória. • Obstrução de via aérea superior • Disfagia Riso sardônico A rigidez muscular é progressiva e pode evoluir com contraturas generalizadas → desencadeadas por estímulos luminosos, sonoros, alteração de temperatura e manipulações do doente. No momento da evolução sintomática, o paciente está consciente e lúcido. TÉTANO LOCAL: Raro As contrações musculares ocorrem em uma extremidade ou região do corpo. Essa forma pode evoluir para tétano generalizado Diagnóstico pode ser bem difícil e ser facilmente confundido com outras patologias, como o abdome agudo. TÉTANO CEFÁLICO: Lesões na cabeça ou pescoço Essa forma irá envolver inicialmente apenas nervos cranianos Evolui frequentemente para tétano generalizado. O nervo facial é o mais acometido, mas o envolvimento dos nervos cranianos VI, III, IV e XII também pode ocorrer isoladamente ou em combinação com outros. TÉTANO NEONATAL É o resultado da falha no uso de técnicas assépticas no manejo do coto umbilical em filhos de mães não imunizadas. Manifestações clínicas terão início 5 a 7 dias após o nascimento. Pode progredir mais rapidamente que em adultos, evoluindo em horas ao invés de dias. Achados: recusa alimentar e dificuldade para abrir a boca devido ao trismo, riso sardônico, opisótono. GRAVIDADE DO TÉTANO Depende da quantidade de toxinas que atinge o SNC; Depende do intervalo entre o início dos sintomas e o aparecimento dos espasmos → quanto maior o intervalo, mais brandos são os sintomas. Quanto menor o tempo de incubação, maior a gravidade e pior o prognóstico. DURAÇÃO Habitualmente de 4-6 semanas, mas os efeitos induzidos pela toxina nas células dos cornos anteriores, no tronco encefálico e nos neurônios autonômicos são mais duradouros. DIAGNÓSTICO Clínico-epidemiológico → história de lesão antecedente propensa ao tétano + imunização inadequada. Diag diferencial: epsilepsia, meningites, raiva, histeria, intoxicação por neurolépticos, doença do soro. 3 Infectologia | @soumedrotina | Arêtuzya O. TRATAMENTO Internar paciente em local apropriado com o mínimo de ruído, luminosidade, temperatura estável e agradável. Casos graves → UTI para manejo das complicações Objetiva: • Neutralizar a toxina não ligada – Soro antitetânico (SAT) ou imunoglobulina antitetânica • Gerenciamento de vias aéreas • Controle de espasmos musculares – pancurônio, baclofeno • Manejo de disautonomia – sulfato de magnésio, labetalol e sulfato de morfina • Gerenciamento geral de suporte • Desbridamento da ferida para erradicar esporos e tecido necrótico; • Sedação do paciente e miorrelaxamento → diazepam, cloropromozina, midazolan Erradicação do C. tetani → Penicilina G cristalina ou Metronidazol, além de debridamento e limpeza dos focos suspeitos. PROGNÓSTICO Mortes por tétano acidental variam de país para país indo de 8 – 50% O neonatal tem variantes de 3 – 88% na mortalidade. Os que se recuperam podem ficar totalmente sem sequelas ou ter vários graus de danos neurológicos, desde pequenos déficits intelectuais até paralisia cerebral. PREVENÇÃO Vacinar a população desde a infância!! Manter altas coberturas vacinais da população de risco: portadores de úlceras de pernas crônicas, mal perfurante plantar decorrente de Hanseníase, donas de casa e aposentados. São focos em potencial contaminação pelo bacilo → ferimentos de qualquer natureza contaminados por poeira, terra, fezes de animais ou humanas; fraturas expostas, com tecidos dilacerados e corpos estranhos; queimaduras; mordeduras por animais. 3 doses no primeiro ano de vida - rotina Reforço aos 15 meses, 4 e 6 anos de idade A cada 10 anos Conduta frente a ferimentos suspeitos? Saber a história vacinal prévia Avaliar se o ferimento é de risco Saber se o paciente é imunodeprimido ou não A partir daí saber se administrar vacina ou soro Esquema de condutas profiláticas de acordo com o tipo de ferimento e situação vacina: (prova) Situação 1 → ferimentos com risco mínimo de tétano: ferimentos limpos, sem corpo estranho ou tecido desvitalizado. História de vacinação prévia contra tétano Vacina SAT/IGHAT Incerta ou ao menos 3 doses Sim* Não 3 doses ou mais, sendo a última há menos de 5 anos Não Não 3 ou mais doses, sendo a última dose há mais de 5 anos e menos de 10 anos Não Não 3 ou mais doses, sendo a última há 10 anos ou mais Sim Não 3 ou mais doses, sendo a última dose há 10 anos ou mais em situações especiais Sim Não *se você vê que a pessoa não passa confiança em cumprir o esquema vacinal, é preferível que se faça SAT ou IGHAT nesse caso. Em todos esses casos → limpar e desinfectar ferimento, lavar com soro fisiológico e substâncias oxidantes ou antissépticas e desbridar o foco de infecção. Situação 2 → ferimentos com alto risco de tétano: ferimentos profundos ou superficiais sujos, com corpo estranho ou tecido desvitalizado, queimadura, feridas puntiformes ou por arma brancas e fogo; mordeduras, politraumatismo, fratura exposta. 4 Infectologia | @soumedrotina | Arêtuzya O. História de vacinação prévia contra tétano Vacina SAT/IGHAT Incerta ou ao menos 3 doses Sim* Sim 3 doses ou mais, sendo a última há menos de 5 anos Não Não** 3 ou mais doses, sendo a última dose há mais de 5 anos e menos de 10 anos Sim (1reforço) Não**3 ou mais doses, sendo a última há 10 anos ou mais Sim (1 reforço) Não 3 ou mais doses, sendo a última dose há 10 anos ou mais em situações especiais Sim (1 reforço) Sim *se você vê que a pessoa não passa confiança em cumprir o esquema vacinal, é preferível que se faça SAT ou IGHAT nesse caso. **Se paciente imunodeprimido, idoso ou desnutrido grave → indicação de SAT/IGHAT Medidas para todos os casos: Exemplos de casos clínicos e condutas: Caso 1 → paciente sexo masculino, 62 anos, história de perfuração em região plantar do terceiro metatarso do pé direito, com pedaço de madeira, há 48 horas da admissão, no PS. Foi submetido a exploração cirúrgica da ferida, com retirada do fragmento de madeira e drenagem de secreção purulenta. Em casa, evoluiu sem intercorrências, até 73h após esta intervenção, quando desenvolveu confusão mental, mioclonias, rigidez de nuca e trismo. Conduta: • Internar paciente, preferencialmente em quarto individual com redução acústica, de luminosidade e temperatura adequada (semelhante à temperatura corporal) • Instalar 02, aparelhos de aspiração e de suporte ventilatório. • Manter vias aéreas permeáveis • Analgesia se dor pela contratura • Sedar o paciente • Neutralizar toxina tetânica – IGHAT ou SAT • Erradicar o C. tetani – Penicilina G cristalina ou metronidazol • Notificar o caso • Medidas gerais para todos os internados. Caso 2 → sexo masculino, 35 anos, pedreiro, apresenta corte profundo em perna direita com azulejo, feito sutura da lesão. Cartão vacinal atualizado, com 3 doses da vacina antitetânica há 6 anos. Conduta? • Administrar Vacina + 1 dose de reforço, visto que o ferimento foi profundo ao necessitar de sutura, entrando na classificação de ferimentos de alto risco para tétano. Caso 3 → Dona de casa, 25 anos, corte em mão direita com faca, no preparo de alimento. Foi necessário sutura para hemostasia. Não trás cartão vacinal. Tem dois filhos, um com 3 anos e outro de 6 meses, refere ter realizado pré-natal completo de ambas as gestações. Conduta: • Na dúvida se vacinou ou não, vacine! Caso não lembre se fez a vacina, repete todo o esquema vacinal completo. Caso 4 → criança de 11 anos apresentando febre e ferimento infectado em pé esquerdo, devido mordida de cão há 2 dias. No dia do acidente recebeu vacina anti-rábica. Cartão vacinal completo. Conduta: • Faz dose de vacina tetânica de reforço.
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