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História das religiões no Brasil

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História das 
Religiões no Brasil
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Edgar Silva Gomes
Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha
Os Indígenas e a Evangelização Inaciana
• Introdução;
• A Relação dos Nativos com os Padres Jesuítas;
• O Estado Português e a Missão Jesuíta.
 · Entender as dificuldades encontradas pelos evangelizadores em rela-
ção aos indígenas e às imposições do estado português.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
Os Indígenas e a Evangelização Inaciana
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como seu “momento do estudo”;
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos 
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você 
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão 
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o 
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e 
de aprendizagem.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Não se esqueça 
de se alimentar 
e de se manter 
hidratado.
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE Os Indígenas e a Evangelização Inaciana
Introdução
A conquista e evangelização do Brasil Colonial é uma página muito importante de 
nossa história, e é a fase de evangelização jesuítica que abordaremos nesta unidade. 
Iniciaremos com a primeira fase, abordada por alguns historiadores como sendo 
a “fase litorânea”, e depois seguiremos com o movimento chamado de “reduções 
jesuíticas” e seus conflitos com os colonos, que viam nos indígenas a solução para 
a falta de mão de obra para seu estabelecimento e progresso em terras coloniais, 
até os conflitos com o Estado Português, na época da administração pombalina, 
e a consequente expulsão dos inacianos dos domínios coloniais de todo império 
português e de outras partes onde predominava a administração dos países católicos.
A Relação dos Nativos 
com os Padres Jesuítas
Nesta abordagem, o que devemos ter em mente é a relação dos inacianos e 
dos indígenas e o primeiro contato desses com esta ordem religiosa, que vem para 
se fixar na colônia e desenvolver, pela primeira vez, de forma sistemática, uma 
tentativa de evangelização dos nativos.
Não podemos nos esquecer de que o que chamamos de missão nos domínios 
ibéricos estava intrinsicamente ligado ao projeto de cristandade que esses dois países 
(Espanha e Portugal) desenvolveram a partir da expansão marítima e comercial, a 
partir do século XV, e da inconsequente ligação entre Estado e Igreja, com sucessivas 
concessões de privilégios aos reis católicos implementados pelos papas, regalias 
que estavam sendo confirmadas pelo “Regime de Padroado”; era uma relação de 
dependência da religião em relação aos reinos ibéricos. Com isso, “Enquanto a fé 
se nacionalizava, também o Estado se sacralizava [...] pelo juramento de fidelidade 
todos os eclesiásticos submetiam-se oficialmente à autoridade “sagrada” do rei” 
(MATOS, 2001, p. 103).
Esta relação não quer dizer que os reis não eram realmente católicos e só utiliza-
vam a relação com a Santa Sé por terem interesses políticos, afinal a cultura ibérica 
está impregnada da religiosidade católica do período; sendo assim, o Estado se iden-
tificava com a religião católica, com isso “o Estado impunha a todos, governantes 
e súditos, obrigação de caráter ritual e ético. Sendo a fé católica religião oficial do 
Estado, havia no reino um compromisso muito grande com a dimensão social e 
pública do culto” (MATOS, 2001, p. 103). Os transgressores, ou seja, os que não 
respeitassem as imposições político-religiosas advindas dessa relação, eram punidos 
pelas leis do Estado português. Como a colônia era parte do império, na colônia a 
legislação portuguesa alcançava os infratores que tentassem subverter esta relação.
Estava implícito no movimento de conquista implementado pelos portugueses 
que tudo e todos que estivessem dentro do território conquistado deveriam se 
subjugar às leis do Reino; sendo assim, os indígenas deveriam ser reduzidos aos 
8
9
costumes culturais e políticos de seus novos senhores, os monarcas de Portugal, 
e quem deveria “conquistar” essas almas para o império? Os inacianos, que 
foram solenemente convidados a missionar por essas bandas pelo rei D. João III 
de Portugal. O convite oficial aos inacianos era para que integrassem o projeto 
colonizador português; “na qualidade de missionários oficiais do Reino, os jesuítas 
logicamente se enquadravam no projeto colonial de Portugal. [...] aos olhos do 
poder político, sua obra evangelizadora incluiria necessariamente a colonização 
dos nativos” (MATOS, 2001, p. 116), ou seja, os jesuítas deveriam converter os 
indígenas para a fé católica.
O convite realizado pelo rei D. João aos jesuítas seguia o padrão determinado 
pela coroa portuguesa, que “determinava a quantidade de missionários e as 
localidades onde poderiam estabelecer-se de acordo com os interesses civis. Antes 
de embarcar deveriam apresentar-se oficialmente ao rei em Lisboa e prestar 
juramento”. (MATOS, 2001, p. 106). Este era o “ritual” que deixava explícito o 
compromisso dos missionários com o estado Português. Esta relação se resumia 
da seguinte forma: “Se a Igreja dependia do estado para sua subsistência e para 
sua expansão, o Estado, por sua vez, dependia do clero para manter a “sacralidade 
legitimadora” de seu poder” (MATOS, 2001, p. 108).
Em relação a essa questão da dependência da Igreja para sua subsistência, o 
Estado Português, por causa do contrato de Padroado, é quem recebia os dízimos 
em seus domínios e repassava parte para manter o clero e o culto, o que nem 
sempre ocorria de forma correta, o que revoltava alguns missionários que passavam 
necessidades extremas para sua existência nos domínios portugueses.
Os religiosos da Companhia de Jesus, conhecidos como jesuítas ou inacianos, se 
confundem com a história da colonização do Brasil e com os trabalhos missionários 
desenvolvidos em nossas terras. Mas, quem são os jesuítas? Essa Ordem Religiosa 
era muito jovem quando aceitou o desafio de missionar nos domínios portugueses 
com o dever de propagar o catolicismo por essas bandas e dar efeito ao compromisso 
assumido entre o Estado Português e a Santa Sé. Então vejamos.
Essa ordem religiosa, que foi fundada em 1534 por santo Inácio de 
Loyola (1491-1556), apresentou-se, desde suas origens, como um corpo 
apostólico coeso e militante. Os discípulos de santo Inácio, ou “inacianos”, 
constituem, à semelhança de uma corporação militar, uma “Companhia” 
que o fundador quis que fosse “de Jesus”. Substituem os “treinamentos 
militares” por “exercícios espirituais” a serem realizados “sob a bandeira 
de Cristo”, contra o “príncipe das trevas”, a fim de que tudo seja “para 
glória de Deus” (ad maiorem Dei gloriam) (Matos, 2001, p. 115).
Esses “Missionários da Coroa” estavam muito comprometidos com o projeto 
de reconquista dos espaços perdidos pelo catolicismo na Europa, após o evento 
de “Reforma” da fé cristã,conhecido como “Protestantismo”, onde um dos 
personagens mais importantes dessa história era o monge alemão Martinho Lutero. 
Portanto, a bandeira mais cara dos inacianos era a reconquista e ou conquista de 
almas para o catolicismo e esta oportunidade de missionar no novo mundo era 
9
UNIDADE Os Indígenas e a Evangelização Inaciana
uma grande chance de os jesuítas cumprir essa missão, porém aqui, o senhor a ser 
servido em primeiro lugar era o monarca português. Mas, havia a ilusão de que na 
colônia havia almas puras, diferentes da degradação que a religião e a população 
europeia estavam enfrentando e que os religiosos da contrarreforma deveriam e 
pretendiam modificar como realidade.
Importante!
“É importante ressaltar que os jesuítas enviados ao Brasil concebiam-se, antes de tudo, 
como missionários destinados à “conversão do gentio” e, também, à assistência religiosa 
dos colonos portugueses e, por extensão, dos mestiços. A Companhia de Jesus tornou-se 
uma força respeitável no Brasil colonial e muito contribuiu para a elevação religiosa e 
cultural dos habitantes da Terra de Santa Cruz” (MATOS, 2001, p. 116).
Importante!
O pioneiro, responsável pelo início da missão religiosa na colônia, foi o padre 
Manoel da Nóbrega, que acompanhava o primeiro governador-geral, Tomé de 
Souza. O inaciano exerceu a função de primeiro Superior da Companhia de Jesus 
no Brasil. Como podemos ver, os jesuítas estavam dentro do projeto colonial de 
Portugal, “sua obra evangelizadora incluiria necessariamente a ‘colonização dos 
nativos’, ou seja, reduzir os índios à nossa santa fé católica e trazê-los à obediência 
de Sua Majestade” (MATOS, 2001, p. 116). Reafirmamos assim que essas ações 
eram complementares.
Dentro do sistema colonial, os jesuítas não eram os únicos religiosos que desenvol-
veram missões religiosas. Entre as Ordens Religiosas, estão os franciscanos, carmeli-
tas e beneditinos; todos esses religiosos, de alguma forma, exerceram certa influência 
na formação religiosa brasileira. Não podemos nos esquecer de que o motor eco-
nômico que predominou por aqui foram os engenhos de açúcar, no período inicial, 
com as capitanias hereditárias. Apesar do fracasso do sistema, duas se destacaram, 
Pernambuco e São Vicente. Nos engenhos de açúcar havia os capelães, pagos pelos 
senhores de engenho, que, de acordo com a cultura religiosa do período, faziam 
questão de ter um padre em seus domínios. Não nos esqueçamos de que, inicialmen-
te, os escravos que predominaram nos engenhos foram “os negros da terra”, ou seja, 
os indígenas, que segundo os desejos de seus senhores deveriam ser catequizados.
Essa “catequese” tinha por objetivo subjugar os nativos ao monarca português 
e consequentemente à obediência aos seus senhores, respeitando a hierarquia que 
predominou na cultura daquele contexto, e por que não dizer na cultural hodierna, 
onde a menção a títulos de “doutô” para pessoas da elite que não possuem este 
título acadêmico é quase uma norma nos rincões deste país continental, dada quase 
como norma por essa elite uma imposição implícita para os serviçais domésticos 
e de seus latifúndios! Esta menção crítica a esta forma de tratamento nos remete 
ao entendimento do que foi a cultura patrimonialista e paternalista na península 
ibérica do período colonial e que, infelizmente, se perpetuou em nossa sociedade, 
onde o pobre deve se contentar com sua situação de miséria porque se se rebelar 
é quase que uma heresia.
10
11
Para conseguir o intento de “catequisar” o indígena e subjugá-lo à cultura ibérica, o 
catolicismo, em seu contato com o povo nativo, segundo Laima Mesgravis, utiliza-se 
de um sofisma clássico, o célebre F, L, R, para dizer que eles, os nativos, não tinham 
Fé, Lei ou Rei. Ora, se estes nativos não conhecem o que deva ser Fé, Lei e Rei, os 
ibéricos portugueses devem ensiná-los, correto? Não, o sofisma é justamente criar 
um embuste para impor algo a alguém ou a um povo, como foi neste caso. Desde o 
início da colonização com os jesuítas e com alguns memorialistas do período, como 
Gandavo, Sousa, Brandão e Simão de Vasconcelos, isso foi difundido e utilizado 
como justificativa para a redução dos indígenas à cultura do dominador. Para Laima 
Mesgravis, “era um fecho para as longas descrições da organização social, política 
e religiosa dos índios, procurando demonstrar o perigoso estado de anarquia moral 
de suas vidas e a necessidade de impor a autoridade e os valores da civilização 
europeia” (MESGRAVIS, 2001, p. 39-40).
O cristianismo chega ao continente americano com a missão de dilatar a fé entre 
os gentios e, como vimos, os jesuítas não estavam fora do projeto colonizador; pelo 
contrário, eram um dos braços mais fortes da fé católica em tempos de conturbada 
relação entre os Estados Nacionais e a Santa Sé na Europa. Nesta fase, início da 
segunda metade do século XVI, a Reforma se expandia e a “Contrarreforma” 
atacava em diversas frentes para recuperar fiéis e conquistar novos, e o “novo 
mundo” era esta oportunidade. Entra aqui um “modus operandi” da cristandade; 
o cristianismo histórico rejeitava a conquista pela força porque se dizia ao lado do 
pobre, como era no início, antes da institucionalização da igreja. Quem rejeitou 
esta forma de conquista de fiéis acreditava na conversão do fiel, porém nem o 
cristianismo reforma e menos ainda o catolicismo, que surgia da contrarreforma, 
tinha esta intenção. O importante era manter príncipes fiéis a um interesse ou outro 
da “Igreja” e os súditos deveriam seguir a opção de seu senhor, como acontecia 
desde a era constantiniana.
Segundo Eduardo Hoornaert,
Nos primeiros séculos condenou-se a guerra e a violência em nome do 
evangelho: elas pertenciam ao mundo dos ricos e poderosos, enquanto 
que a igreja vivia no meio dos pobres. Só quando a igreja começou a 
conviver com os poderes constituídos é que apareceu a sugestão de uma 
guerra santa ou antes de uma guerra de missão, em vista da conversão dos 
infiéis e gentios [...] a submissão dos infiéis como etapa preparatória da 
evangelização: é a doutrina da “guerra de missão” que será amplamente 
aplicada no Brasil. (Hoornaert, 1974, p. 36-37.)
Esta etapa preparatória se vincula à visão do papa Gregório Magno no final do 
século VI. Por que estamos mencionando este fato? Simplesmente para dizer que 
os jesuítas, em sua relação com os nativos, alternam fases de proximidade e sau-
dosismo de um cristianismo primitivo, as fases de combate aos costumes indígenas 
e momento de síntese, como bem coloca Mesgravis, que diz o seguinte da relação 
dos jesuítas com os nativos: “ainda que adotando posições baseadas em visões con-
traditórias da cultura indígena, vão denunciar a violência do processo da conquista 
11
UNIDADE Os Indígenas e a Evangelização Inaciana
com extermínio e a exploração do índio” (MESGRAVIS, 2001, p. 40). Para a au-
tora, estas fases/estágios se dividem em três e podem ser definidas como se segue.
Na primeira, houve um encantamento infantilizado pelos inacianos, que ao 
chegarem na colônia acreditavam em uma aparente pureza do nativo, onde 
queriam ver “falta de malícia, docilidade e inconsciência do pecado do índio. É 
o momento de euforia dos batismos em massa, da crença na possibilidade de um 
povo cristão perfeito e do conceito do papel em branco onde se inscreveria a 
verdade”. (MESGRAVIS, 2001, p. 40).
Esta verdade citada acima diz respeito à possibilidade de facilmente reduzir os 
nativos à cultura ibérica. Porém nem tudo são flores nesta relação a partir do en-
cantamento inicial e daí a relação se transforma porque o nativo tinha uma cultura 
estruturada há muitos séculos. O sofisma de que a falta das letras F, L, R, ou seja, 
Fé, Lei e Rei, era sinal da falta desta cultura não se confirma, porque a fé, a lei 
e o rei dos nativos se traduziam com outros fonemas. Partimos, então, para um 
segundo estágio na relação dos inacianos com os indígenas, em que os padres se 
desencantaram e endureceram a relação porque no “retorno às aldeiaspara con-
vivência mais prolongada com os índios, que não abandonavam em nada a sua 
cultura, principalmente nos aspectos mais repugnantes ao cristianismo [..] vinha o 
horror, a irritação e a defesa da conversão forçada” (MESGRAVIS, 2001, p. 40).
Segundo Hoornaert, Manoel da Nóbrega, neste segundo estágio da relação ina-
ciana com os nativos, apesar da pouca teorização da guerra santa no Brasil, a colo-
ca em prática aliando-se ao governo de Mem de Sá, em que foi bastante estimulada 
pela coroa portuguesa, ou seja, a submissão do nativo deveria ser realizada à força, 
já que o método inicial de conversão não estava sendo bem-sucedido. Hoornaert 
citou que Nobrega escreveu “O diário sobre a conversão do gentio”, que teve simi-
lares escritos também por Sepúlveda e Quiroga, entre inúmeros documentos euro-
peus da época que promulgavam a conversão forçada do nativo americano, afri-
cano e asiático, nos inúmeros contatos com os colonizadores em seus territórios.
No texto de Eduardo Hoornaert, podemos entender que era como se os coloni-
zadores e, consequentemente, os missionários aliados a eles, não tivessem tempo a 
perder, afinal a conversão à fé significava também a entrada desses “convertidos” no 
sistema mercantilista europeu. Para Hoornaert, “o postulado fundamental desta lite-
ratura é o seguinte: a sujeição do infiel prepara a sua evangelização, precisa dominar 
para depois converter. É a teoria da guerra de missão” (HOORNAERT, 194, p. 46).
Os missionários inacianos e os missionários de outras ordens religiosas estavam 
condicionados ao modus operandi da história europeia, e sua forma de submissão 
de outros povos e culturas não é um fato isolado, era a cosmovisão da época. 
Porém, para Laima Mesgravis, este segundo estágio vai avançar para um terceiro, 
que ela chama de “síntese”, onde os inacianos acabam concluindo que “a maioria 
das revoltas indígenas (foi) provocada pelas injustiças dos colonos. Passam a defen-
der o agrupamento dos silvícolas em aldeias permanentes afastadas dos brancos”. 
(MESGRAVIS, 2001, p. 40). Nas chamadas “reduções”, que eram aldeamentos 
12
13
controlados pelos religiosos, poderiam fiscalizar o uso do trabalho assalariado e 
se concentrar na catequese das crianças, procurando apenas controlar as práticas 
mais chocantes da cultura indígena”. (MESGRAVIS, 2001, p. 40). Essas práticas 
chocantes, segundo alguns historiadores, é a cultura indígena da poligamia, a festa 
com orgias, sexo livre, bebida e o canibalismo. Abaixo podemos ver uma represen-
tação do imaginário português da época em relação aos nativos da América! 
Figura 1 – A. Montanus, Cena de Canibalismo, 1671
Fonte: multirio.rj.gov.br
Os abusos do Estado português e muitas vezes de missionários relacionados 
à conversão dos indígenas se dá pela naturalização da “obrigação” de converter 
os nativos à cultura europeia/ibérica, mas muito mais pelo interesse do estado 
em obter no menor espaço de tempo mão de obra para implementar o projeto 
mercantilista em curso já há algum tempo na economia. Afinal o projeto colonial foi 
encampado pela sociedade portuguesa, e os padres estavam inseridos nesta ordem 
de coisas. José de Anchieta comentava que “para esse gênero não há melhor 
pregação do que a espada e a vara de ferro”, enquanto Luis da Grã escreve para 
Loyola, fundador da ordem inaciana: “Este gentio, padre, não se converte com lhe 
dar coisas da fé nem com razão nem com palavras de pregação” (HOORNAERT, 
1974, p. 47). Mas, nem tudo foi levado a ferro e fogo, havia uma relação entre os 
inacianos e os indígenas que ultrapassava as determinações do Estado português.
O condicionamento dos missionários inacianos estava, logicamente, imbuído 
dos interesses da Metrópole. Segundo Matos, “de um lado, as genuínas intenções 
evangelizadoras, manifestas na vida e ação de tantos autênticos missionários, e, de 
outro, as estruturas coloniais capitalistas e opressoras, que impediam, ou dificulta-
vam grandemente uma ação missionária mais eficaz” (MATOS, 2001, p. 117-118). 
Para evitar a continuidade da mentalidade de “guerra justa”, que se convertia em 
caçada humana praticada pelos colonos, os jesuítas tomaram algumas medidas 
para implementar seu projeto de catequese. Surgia, assim, a ideia dos aldeamentos.
13
UNIDADE Os Indígenas e a Evangelização Inaciana
Os Aldeamentos Missionários
Esta ideia surgiu da intenção dos inacianos de proteger os silvícolas da ação do 
homem branco, que constantemente atacava as aldeias e levava os índios para 
serem escravizados em suas propriedades. Porém nem sempre foi assim, pois 
no início os jesuítas fixaram suas residências próximo às aldeias, na tentativa de 
catequizá-los sem removê-los de seu ambiente natural, e assim também tentavam 
protegê-los da exploração citada acima. O colonizador se fixou nas costas do 
território e consequentemente os eclesiásticos mantiveram também essa postura, 
ou seja, esta é uma atitude consagrada na historiografia, que dizia mais ou menos 
assim: que os primeiros habitantes estrangeiros vivam como caranguejos próximos 
do litoral sem se aventurar muito pelo interior do continente.
A dificuldade encontrada para penetrar o interior do continente faz com que os 
padres apoiem os “descimentos”. O que seria isto? A migração dos índios do sertão 
em direção ao litoral para serem colocados sob tutela dos inacianos; “em 1552 o 
padre Nóbrega está convencido de que uma ação evangelizadora eficaz e duradoura 
exigia a concentração dos índios em aldeamentos missionários” (MATOS, 2001, 
p. 122). Esta observação se devia ao fato de que a maior dificuldade para os 
missionários era a forma de vida seminômade dos silvícolas, que segundo o padre 
Nóbrega produzia “sua inconstância e desejo inato de vagar livremente pelas selvas 
e de se subtraírem a qualquer disciplina. Por isso, os aldeamentos ou reduções 
dos índios tornaram-se uma necessidade para poder os habituar ao trabalho, 
sujeitá-los a alguma disciplina” (MATOS, 2001, p. 122-123). Era também uma 
forma eficiente para lhes incutir a cultura ibérica, profundamente arraigada na 
religiosidade cristã, e evitar que ao serem batizados e catequizados não entrassem 
em contato novamente com índios “pagãos”.
Inicialmente, os aldeamentos cobriam boa parte do território já colonizado pelos 
portugueses; entre os principais, podemos contar com aldeamentos na Bahia, Rio 
de Janeiro, Espírito Santo e Planalto de Piratininga. Nos aldeamentos existentes 
de então, o principal trabalho era o de doutrinação dos nativos. Havia, porém, a 
constante reclamação dos missionários sobre “a pouca inteligência” dos índios, 
mas hoje sabemos que este não foi o real motivo da não assimilação do conteúdo 
pregado pelos missionários, mas sim a forma abstrata e racional dos métodos em-
pregados na catequização oferecida pelos jesuítas. Não foram somente os jesuítas 
que fracassaram com seus métodos, outros missionários não entenderam a com-
plexidade de ensinar os silvícolas. Alguns missionários tentaram utilizar elementos 
da cultura indígena na doutrinação. O padre Simão de Vasconcelos relatou que:
Nenhuma outra (coisa) satisfaz tanto a esta gente como a doçura do canto: 
nele põe a felicidade humana. Chegou a ser opinião de Nóbrega que era 
um dos meios, com que podia converter-se a gentilidade do Brasil, a doce 
harmonia do canto; e por esta cousa ordenou-se-lhe pusessem em solfa as 
orações, e documentos mais necessários de nossa santa Fé; porque à vol-
ta da suavidade do canto entrasse em suas almas a inteligência das cousas 
do Céu. (Crônicas da Companhia de Jesus, apud MATOS, 2001, p. 124).
14
15
Não foi fácil o trabalho dos missionários, que tiveram, inicialmente, que recorrer 
a intérpretes para realizar o trabalho catequético e assim poder se comunicar com 
os nativos de forma inteligível. Era tão complicada a comunicação, que mesmo 
algo interditado pela igreja, como a confissão por meio de intérpretes, teve a 
autorização do padre Nóbrega para que este sacramento fosse realizado entre os 
nativos.A questão toda é que a dificuldade estava também na multiplicidade de 
idiomas encontrados entre os nativos da terra.
Figura 2 – Planta típica de uma Missão Jesuíta
Fonte: multirio.rj.gov.br
Ação dos Jesuítas
Catequese e Aldeamentos
Nos aldeamentos jesuíticos os índios eram educados para viver como cristãos. Essa 
educação significava uma imposição forçada de outra cultura, a cristã. Os jesuítas valiam-
se de aspectos da cultura nativa, especialmente a língua, para se fazerem compreender 
e se aproximarem mais dos indígenas. Esta ação incrementava a destribalização e 
violentava aspectos fundamentais da vida e da mentalidade dos nativos, como o 
trabalho na lavoura, atividade que consideravam exclusivamente feminina.
Fonte: MULTIRIO. Disponível em: https://goo.gl/nCjwEm.
Apesar da intenção de facilitar o trabalho missionário, os aldeamentos apre-
sentaram resultados ambíguos, pois “se sua finalidade primária era evangelizar os 
índios e subtraí-los à exploração dos colonos, ao mesmo tempo aguçou a cobi-
ça desses mesmos brancos, pelo fato de promover a concentração de nativos ‘já 
domesticados’” (MATOS, 2001, p. 129), ou seja, os colonos se regozijaram por 
encontrar mão de obra fácil e de exploração imediata. Para os nativos, havia ainda 
a perda de referência de sua cultura tribal, era a perda da identidade dos nativos, 
eles estavam com isso perdendo sua liberdade ao serem submetidos a uma “do-
mesticação” estranha à sua cultura; os nativos estavam habituados a outro modo de 
vida e não conseguiam se adaptar a esta nova cultura, com tudo que isso envolve: 
trabalhos sistemáticos, religião nova, em resumo, com hábitos estranhos aos seus.
15
UNIDADE Os Indígenas e a Evangelização Inaciana
Mais uma Etapa Missionária 
Inaciana: Os Colégios
Dentre as tentativas de cumprir com o dever de levar adiante o projeto colonial 
português na colônia “americana”, os jesuítas se tornaram os primeiros educado-
res em solo “brasileiro”, através da implantação dos colégios como parte da obra 
missionária. Segundo Matos, “durante longo tempo terão absoluta liderança na 
área de ensino, empregando nisso seus maiores esforços e o melhor contingente 
de seus integrantes, o instrumento privilegiado de sua ação educativa eram os colé-
gios” (MATOS, 2001, p. 137-138). Estes colégios estavam estrategicamente espa-
lhados pelo território habitado da época, sendo ainda “os únicos centros de cultura 
que a colônia possuía, porque a Coroa portuguesa nunca permitiu que no Brasil se 
fundasse uma universidade ou curso de ensino superior” (MATOS, 2001, p. 138).
Havia uma clara distinção entre Escolas e Colégios de Meninos. Nas escolas 
estudavam órfãos vindos da Metrópole, índios e mamelucos, conhecedores da(s) 
língua(s) nativa(s), enquanto que nos colégios estudavam filhos de portugueses, 
onde havia cursos especiais para formação de clérigos. Nos colégios inacianos 
a ordem e a disciplina eram as regras básicas. O padre Nóbrega escreveu para 
Portugal no ano de 1549, logo após sua chegada na colônia, e cita o padre Vicente 
Rodrigues como sendo o fundador da primeira escola de ler e escrever. O problema 
dos colégios estava no “plano de estudos”, que seguia as normas europeias, sem a 
adaptação necessária para os estudantes nativos. Este é um fato simples de explicar, 
o método se devia aos estudos clássicos dos jesuítas e, por fim, não deixa de ser a 
forma de educação do contexto onde estavam inseridos.
Segundo Matos, “a finalidade do colégio e a organização interna [...] destinavam-se 
originalmente aos filhos dos colonos brancos e serviam também como preparação 
de candidatos ao ministério presbiteral” ((MATOS, 2001, p. 139). As escolas 
mencionadas acima também seguiam basicamente o mesmo padrão de ensino, 
onde se ensinava a ler e escrever, depois passava-se ao ensino de gramática e 
humanidades, onde se ensinava o latim, língua básica para se aprender a “cultura 
humanística” que era ensinada na época. Como funcionavam os colégios?
As aulas eram de manhã e à tarde, com aproximadamente duas horas de 
duração em cada período. Terminando o curso de letras, iniciava-se o das 
Artes ou Filosofia, em que eram estudadas Lógica, Matemática, Física, 
Metafísica e Ética. Para os candidatos ao clero, foi introduzido o curso de 
Teologia, que se dividia em Teologia Moral com “Lições de Casos” e em 
Teologia Especulativa ou Dogmática. O curso de Artes tinha a duração de 
três anos e o de Teologia de quatro anos. (MATOS, 2001, p. 139-140).
Os colégios deveriam ser financiados pela coroa portuguesa, mas como já 
é sabido, o sistema de padroado em domínios portugueses ficou sempre muito 
aquém da realidade acordada entre Estado e Igreja no “contrato de padroado”, 
diferentemente dos domínios espanhóis na América, que desde a primeira metade 
do século XVI já contava inclusive com Universidades.
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Patrick
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Importante!
As primeiras universidades fora da Europa se fizeram na América espanhola. Criada em 
1538, a Universidade de São Domingos é historicamente a primeira universidade das 
Américas. Depois vieram as de San Marcos, no Peru (1551), México (1553), Bogotá (1662), 
Cuzco (1692), Havana (1728) e Santiago (1738). As primeiras universidades norte-ameri-
canas, Harvard, Yale e Filadélfia, surgiram respectivamente em 1636, 1701 e 1755. Quan-
to ao Brasil, embora já contasse com escolas superiores isoladas desde 1808, somente no 
século 20 passou a ter universidades congruentes, integradoras e capazes de traduzir a 
¨unidade na universalidade¨. Por que o país teria tardado tanto em entrar na maturidade 
universitária? Na verdade poderia ter sido diferente, já que alguns dos primeiros jesuítas 
que aqui aportaram no século 16 eram bacharéis da Universidade de Coimbra. Um de-
les, Marçal Beliarte, chegou a fazer uma proposta direta ao rei de Portugal: por que não 
uma escola de ensino superior “para bem servir aos propósitos da colonização”? A ideia foi 
considerada absurda (uma universidade no meio do mato?) e o Brasil, como se recebesse 
um sortilégio, levaria quase quatro três séculos para ter sua primeira escola de ensino su-
perior. Seria uma das últimas nações das Américas a contar com uma universidade. Tanto 
que quando surgiu a Universidade do Rio de Janeiro, em 1920, já havia 78 universidades 
espalhadas pelos Estados Unidos e 20 por toda a América Latina.
Fonte: UNICAMP. Disponível em: https://goo.gl/G1DRX7
Você Sabia?
Os colégios não desempenhavam apenas a função de “educar”, os inacianos 
através de seus colégios prestavam também outros serviços à comunidade local, 
como, por exemplo, as obras assistenciais em que atendiam a população em suas 
enfermarias e farmácias, local onde manipulavam algumas ervas medicinais; “do-
minando os segredos curativos das raízes, caules, folhas, bagas, sumos, cascas, 
pólens medicinais, os jesuítas puderam curar milhares de pacientes. Tanto é que a 
quina se chamou durante muito tempo pó dos jesuítas” (MATOS, 2001, p. 141). 
Ou seja, os colégios inacianos, naquele contexto, já extrapolaram a função de mero 
educador para agregar em seu meio a comunidade local.
O Estado Português e a Missão Jesuíta
O estado português atuou de forma insistente para implantar na colônia um 
sistema de dominação que tinha a instituição católica como apêndice ideológico para 
afirmar e confirmar o rei como soberano dos povos nas terras “descobertas” e, mais 
tarde, como soberano do povo escravizado, que mesmo sendo tratado como coisa, 
mera mercadoria, deveria entender que tinha um senhor no céu e um senhor na 
terra, personificados nas pessoas do papa e do rei. Também é sabido “que a Igreja 
no tempo da colônia não era uma instituição livre, mas – pelo sistema de padroado – 
intimamente vinculada aos interesses da Metrópole” (MATOS, 2001, p. 159).
A partir do pedido de padre Manoel da Nóbrega, a colônia pode ter seu primeiro 
bispo no ano de 1551; o papa Júlio III criou o bispado de “São Salvador da 
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UNIDADE Os Indígenas e a Evangelização Inaciana
Bahia” atravésda bula “Super Specula Militantis Ecclesiae”, desvinculando assim 
a subordinação dos religiosos da colônia do bispado de Funchal e ligando-os à 
Lisboa, sendo a partir deste momento uma “diocese sufragânea”. No ano de 
1676, este mesmo bispado foi elevado à categoria de arcebispado, tendo sob sua 
“responsabilidade” as dioceses que seriam criadas - Rio de Janeiro e Olinda, no 
Brasil, e São Tomé e Angola, no continente Africano. No ano de 1677, foi criada 
a diocese do Maranhão; no século XVIII, teremos a criação de mais duas dioceses, 
em 1719 no Pará, em 1745 duas novas dioceses, São Paulo e Mariana, e mais 
duas prelazias: Goiás e Mato Grosso.
Durante todo o período colonial, não foi criada mais nenhuma diocese. Um 
território enorme com pouquíssima assistência institucional religiosa! Esta situação 
se vincula estreitamente aos interesses da coroa portuguesa, que era responsá-
vel pelo aspecto financeiro, e ainda havia “a relutância do governo da Metrópole 
(que) explica-se pelo medo de o poder central perder seu controle sobre a insti-
tuição eclesiástica, sabendo que a Igreja tinha grande ascendência sobre o povo” 
(MATOS, 2001, p. 167).
Em relação ao clero secular, podemos informar que na colônia tínhamos duas 
“classes” de clero secular, o pároco “colado” (a colação era instituída através de 
concurso público legalmente constituído) e confirmado pelo rei através do sistema 
de padroado para assumir uma paróquia, garantindo assim sua “côngrua”, ou 
seja, pagamento, de forma mais regular, e do lado oposto o chamado pároco 
“encomendado” (padre provisório), que vivia de forma instável, recebendo apenas 
pelos “serviços eclesiais”, dentre os quais podemos citar as desobrigas (confissão 
e comunhão por ocasião da páscoa). Não podemos nos esquecer da figura do 
capelão, “um funcionário dos senhores de engenho, grandes fazendeiros ou 
irmandades. Prestava serviços religiosos à família do patriarca [...] que o sustentava 
materialmente em um regime de catolicismo doméstico” (MATOS, 2001, p. 176).
A situação do clero secular no Brasil, devido ao seu contexto de vida, em extremo 
isolamento, não escandalizava o povo, que se acostumou com padre “casado”, 
com filhos para sustentar. Segundo Matos, o que escandalizou o colono e era tido 
como imperdoável se relacionava muito mais à ganância e avareza de seu padre e 
ao relaxamento com seus deveres de “pastor” da comunidade, do que a vida sexual 
que ele por ventura tivesse.
Para o Estado Português, o que importava era o serviço eclesiástico prestado, 
não importava por quem, desde que surtisse o efeito esperado, ou seja, a redução 
dos nativos e depois dos escravizados em fiéis súditos do rei. E por que estamos 
falando isto a esta altura de nossa análise? Simplesmente pelo fato de que ao 
se sentirem ameaçados pelos inacianos, mesmo que de forma infundada, e com 
uma estrutura institucional funcionando “ao gosto” do rei, o estado português na 
segunda metade do século XVIII conseguiu desestruturar a “Companhia de Jesus” 
18
19
e expulsar dos domínios portugueses os inacianos, agora tornados “personae non 
gratae” da coroa, especialmente diante do “eficiente” ministro de D. José I, o 
marquês de Pombal.
Importante!
O Marquês realizou a conhecida “Reforma Pombalina”, que tinha como intenção 
transformar Portugal numa metrópole capitalista, assim como outros países europeus 
já capitalizados. A escravidão dos índios foi extinta e eles até poderiam se casar com 
portugueses. A ideia de Pombal ao permitir isso era a de que os índios se miscigenassem, 
houvesse um crescimento populacional e então o Estado contasse com mais força nas 
fronteiras do interior. Quando os índios passaram a ser livres, isso chocou-se contra 
os jesuítas, que não deixavam que a autoridade real interferisse nos assuntos deles. 
Marquês de Pombal, que queria realizar uma reforma e aproveitar e centralizar o poder, 
expulsou os 670 jesuítas que aqui moravam e mandou fechar os colégios. Eles foram 
acusados de traição, o Padre Gabriel Malagrida foi queimado em praça pública e o 
restante embarcou para Lisboa, onde foram presos. Quando o rei de Portugal, D. José 
I, morreu e foi substituído por D. Maria I, Pombal foi condenado e só não foi executado 
devido a sua idade avançada, ele contava com 78 anos.
Fonte: HISTÓRIA BRASILEIRA. Disponível em: https://goo.gl/2TNBpR
Você Sabia?
Segundo Eduardo Hornaert, “foi por causa da sua posição diante dos indígenas 
sobretudo que a Igreja sofreu perseguições durante o primeiro período colonial, 
sendo que ela não teve a mesma sensibilidade diante dos africanos” (HORNAERT, 
2088, p. 409). A conquista seria na visão ibérica “um mal necessário”, a intenção 
das coroas desta península foi a de conquistar bens, enriquecer, e ao mesmo tempo 
cumprir o acordo com o papado de trazer ao grêmio da igreja os gentios e infiéis 
das porções de terras conquistadas. Neste contexto, durante o processo histórico 
de chegada e conquista e depois de permanência missionária entre os povos 
indígenas, os inacianos passaram a se sentir responsáveis por aquelas almas, o 
que se chocou com o projeto reformador “pombalino” (1759-1760), levando os 
jesuítas à expulsão; “foi este poder de testemunho e compromisso com a sorte 
dos indígenas [...] manifestado sobretudo pelos missionários jesuítas, que está na 
origem da mais brutal e violenta perseguição que a igreja conheceu durante o 
período português”. (HORNAERT, 2008, p. 410).
Na história, é “de lei” o rompimento da relação político-institucional entre Estado 
e Igreja no momento em que uma das partes perde o interesse em manter uma 
relação baseada em interesses “mundanos”, ou seja, o cristianismo está longe de 
aprender com seus erros que não existe relação possível entre o “projeto de Deus” 
e o “projeto dos homens” e que esta relação está buscando um atalho para o papel 
que os “homens de Deus” insistem em não enxergar.
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UNIDADE Os Indígenas e a Evangelização Inaciana
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Vídeos
Missões Jesuíticas (Brasil e América Latina) - Guerreiros da Fé
TV SENADO. Missões Jesuíticas (Brasil e América Latina) - Guerreiros da Fé.
https://youtu.be/T5ZzJhgf0gQ
Rio Antigo - Colégio dos Jesuítas (1567-1922)
Rio Antigo - Colégio dos Jesuítas (1567-1922) - Rio de Janeiro. Publicado por Cau Barata.
https://youtu.be/F6G_Z9W5WiU
 Filmes
A Missão
A MISSÃO. Direção de Roland Joffé.
https://youtu.be/cqcLJopZJ2A
 Leitura
A Grande Aventura dos Jesuítas no Brasil
Catequização dos índios, contribuição para a literatura, desenvolvimento do 
conhecimento geográfico e belas construções de centros educacionais e igrejas são 
só algumas das muitas realizações dos Jesuítas. Poucos sabem a importância que 
tiveram para a formação social do Brasil. Organizada por Inácio de Loyola em 1534, a 
Companhia de Jesus, mais conhecida como ordem dos Jesuítas, é hoje um dos maiores 
grupos da Igreja Católica. Uma relação de amor e ódio define a atuação dos homens 
de preto no processo de colonização da terra de Santa Cruz. Por vezes, foram contra 
a opinião de seu país de origem e, em outras, por meio de conflitos que iam muito 
além das discussões, chegaram a ser expulsos pelos nativos. Em A grande aventura dos 
Jesuítas no Brasil será possível saber muito mais sobre Manoel da Nóbrega, José de 
Anchieta, Antônio Vieira, além de outros célebres desconhecidos que tiveram atuação 
importantíssima em terras brasileiras. Recheado de curiosidades, dramas, tragédias, 
guerras e muitas histórias, este livro desvenda ações sociais praticadas até hoje. 
Entender a história é a melhor maneira de explicar a atualidade.
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Referências
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Outros materiais