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MONOGRAFIA ACABADA DE MUTUNGA 2021 (1)

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Instituto Superior de Ciências da Educação da Huíla
ISCED - HUÍLA
O jihadismo: Justificações históricas e religiosas
	
i
ii
Autor: José Mutunga Nangolo Chinhama 
LUBANGO
2021
Instituto Superior de Ciências da Educação da Huíla
ISCED - HUÍLA
O jihadismo: Justificações históricas e religiosas
	
Trabalho apresentado para obtenção do Grau de Licenciado no Ensino de História.
 Autor: José Mutunga Nangolo Chinhama
 Orientado por: Mestre Hélder Rodrigues Maiunga
LUBANGO
2021
Agradecimento
Após quatro anos de muito esforço e dedicação, chegamos ao fim do nosso trabalho no plano curricular, de acordo com o adágio que diz ''Depois da tempestade, vem a bonança'', agora pois o caminho é belo em virtude de termos trilhado o anterior. 
Em primeiro lugar agradeço a DEUS, o todo poderoso, criador dos céus e da Terra, pelo dom da vida, pela paciência e força que me tem proporcionado em toda minha vida neste mundo como forasteiro. Aos meus queridos pais, Dungula Chinhama (in memória) e Catarina Catapepo, pelo cuidado, educação e apoio que sempre recebo. Ao tio António Mupembe Camati, que se tornou pai e mãe, ao Celestino Máquina Chiquete, que tornou-se Máquina deste trabalho. À Raquel da Conceição de Carvalho Júlio, à Cecília Massanga Chinhama, ao Pedro Haitewa Dungula, ao João Catimba Dungula, e ao Xavier Hangalo Catimba.
Seguidamente, agradeço ao meu e Tutor Mestre Hélder Rodrigues Maiunga, de quem reconheço a paciência e inteligência apresentadas no presente trabalho de Licenciatura. A todos os Professores do curso de História do ISCED - Huíla, em particular ao Professor Ró e ao Msc Sita. Ao Msc Olívio Hitchica, PhD. Hélder Bahú, Dra. Marcelina Gomes, PhD. Narciso. 
Aos meus amigos Maria Cângue, Graciano da Costa Capingala, Matias Chicomba Cassamba, Joaquim Miguel Chipalanga, José Cassindula Ndulo (in memória), José Nganji Jamba, Estêvão Sapato Mande Fundanga, pelo companheirismo e incentivo na longa caminhada. 
Aos meus colegas Augusto Mucanda, Gabriel Mangundo, Paulina Tchimequele, Cipriano Tchavaia, Mateus da Costa Joaquim, Leolindo Serafim Máquina, Francisco Isidro, Wilston Gregório Mirrado pela coragem e muita simpatia transmitida no longo caminho académico trilhado, à todos cujos nomes não integram a presente lista, mas sim, seguramente guardo-vos na minha viva memória, e a vós, envio o meu desmedido e eterno reconhecimento. 
Dedicatória
Aos meus pais: Dungula Chinhama (in memória) e Catarina Catapepo. Ao tio António Mupembe Camati, ao Celestino Máquina Chiquete. 
Aos meus filhos: Verónica Camene Chinhama, Francisca Nankhali Chinhama, Joaquim Mavela Chinhama, Eliseth Chinhama, Paulino Chinhama, Manuel Dungula Chinhama e José David Chinhama, vós sois a minha fonte de inspiração, vos amo, partilho a vida com vocês e ao vosso lado tenho- me sentido mais vivo. 
À toda população estudantil. 
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO DA HUÍLA
ISCED-HUÍLA
DECLARAÇÃO DE AUTORIA DO TRABALHO DE LICENCIATURA
Tenho consciência que a cópia ou o plágio, além de poderem gerar responsabilidade civil, criminal e disciplinar, bem como reprovação ou retirada do grau, constituem uma grave violação da ética académica.
Nesta base, eu JOSÉ MUTUNGA NANGOLO CHINHAMA, estudante finalista do Instituto Superior de Ciências de Educação da Huíla (ISCED-Huíla) do Curso de HISTÓRIA, do Departamento de Ciências Sociais, declaro, por minha honra, ter elaborado este trabalho, só e somente com o auxílio da bibliografia que tive acesso e dos conhecimentos adquiridos durante a minha carreira estudantil e profissional.
Lubango, aos 10 de Maio de 2021
O Autor
________________________________________
JOSÉ MUTUNGA NANGOLO CHINHAMA
Resumo
O presente Trabalho de Licenciatura, tem como tema: O Jihadismo: Justificações históricas e religiosas. Visa enriquecer o programa de História da Idade Média do II Ano, curso de História, no Instituto Superior de Ciências da educação da Huíla com os dados da nossa investigação. 
O objectivo da presente investigação, constitui em reunir elementos científicos para a configuração teórica do tema em estudo, a fim de se apresentar a origem do jihadismo e suas justificações históricas e religiosas. 
Para atingirmos os objectivos propostos, fizemos uma recolha de dados e uma seleção de conteúdos da bibliografia consultada. Para a recolha de dados, utilizamos um questionário para os estudantes sob o qual fizemos o devido tratamento. 
No presente trabalho utilizamos os seguintes métodos: Método Histórico, Pesquisa Bibliográfica, Inquérito por questionário e o método Estatístico. 
De forma estrutural, o nosso trabalho está dividido em três capítulos: no primeiro procuramos definir Islamismo, fundamentalismo, terrorismo e fizemos uma breve descrição do surgimento do islamismo e seus princípios fundamentais; no segundo definimos jihad do ponto de vista islâmico e do próprio profeta Maomé e como é interpretada no mundo islâmico, descrevemos também a evolução da jihad nos diferentes períodos e contextos da expansão do Islão e como foram surgindo os grupos jihadistas com pendor agressivo e moderado e finalmente no terceiro capítulo, apresentamos, analisamos e discutimos os resultados obtidos através do \inquérito aplicado aos estudantes do III ano do Curso de História do ISCED – Huíla no ano académico de 2019 assim como as conclusões, limitações e sugestões. 
ABSTRACT 
The present Degree Work, has as its theme: Jihadism: Historical and religious justifications. It aims to enrich the History program of the Middle Ages of the Second Year, History course, at the Higher Institute of Sciences of education in Huíla with the data of our research.
The objective of the present investigation is to gather scientific elements for the theoretical configuration of the subject under study, in order to present the origin of jihadism and its historical and religious justifications.
In order to achieve the proposed objectives, we carried out data collection and a selection of the contents of the consulted bibliography. For data collection, we used a questionnaire for students under which we did the proper treatment.
In the present work we use the following methods: Historical Method, Bibliographic Research, Survey by questionnaire and the Statistical method.
Structurally, our work is divided into three chapters: in the first one we tried to define Islam, fundamentalism, terrorism and we gave a brief description of the emergence of Islam and its fundamental principles; in the second we define jihad from the Islamic point of view and from the prophet Muhammad himself and how it is interpreted in the Islamic world, we also describe the evolution of jihad in the different periods and contexts of the expansion of Islam and how jihadist groups with an aggressive and moderate inclination emerged and finally in the third chapter, we present, analyze and discuss the results obtained through the \ survey applied to students in the 3rd year of the History Course at ISCED - Huíla in the academic year 2019 as well as the conclusions, limitations and suggestions.
ÍNDICE
Agradecimento	i
Dedicatória	ii
DECLARAÇÃO DE AUTORIA DO TRABALHO DE LICENCIATURA	iii
Resumo	iv
ÍNDICE	vi
0 - Introdução	1
1 - Motivação da Escolha do Tema.	2
É nesta linha de acções, que ficamos interessados em abordar O jihadismo numa visão histórica.	3
2 - Revisão da Literatura	3
3 - Formulação do Problema.	5
4 - Delimitação do Estudo.	5
5 - Objectivos.
	5
5. 1 - Objectivo Geral.	5
5. 2 - Objectivos Específicos.	5
5. 3 - Objecto do Trabalho.
	6
6. Importância do trabalho.	6
7 - Metodologia.
	6
CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO CONCEITUAL E IDEOLÓGICO SOBRE O SURGIMENTO DO JIHADISMO.	8
1.1. Conceitos.	8
1.1.1.O Islão	8
1.1.2. Fundamentalismo	8
1.1.3. Terrorismo	12
1.2. Contextualização do islamismo	13
1.2.1. Breves considerações do surgimento do islamismo	13
CAPÍTULO II - O JIHADISMO: JUSTIFICAÇÕES HISTÓRICAS E RELIGIOSAS.	19
2.1. A jihad	19
2. 2 - A jihad naera islâmica.	20
2. 3 - Jihad do ponto de vista do profeta Maomé.	24
2. 4 - Jihad, sua interpretação no mundo islâmico.	25
2. 4. 1 - A evolução da jihad nos diferentes contextos.	29
2. 5 - Os grupos jihadistas e as justificações religiosas de seus actos.	30
2. 6 – A jihad agressiva.	35
2. 6. 1 – Será a Jihad agressiva obrigatória à todo muçulmano?	39
2. 6. 2 - Razões do martírio nos grupos extremistas.	40
2. 7 - A irmandade muçulmana e a jihad.	40
2. 8 - Frente islâmica única.	42
2. 8. 1 - Convivência entre muçulmanos e não muçulmanos.	42
CAPÍTULO III – APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DO INQUERITO APLICADO AOS ESTUDANTES DO III ANO DO CURSO DE HISTÓRIA DO ISCED - HUÍLA.	45
3. 1. Preliminares da investigação	45
3. 2. Procedimentos	45
3. 3. Instrumentos	45
3. 4. População e amostra	45
3. 4. 1. Caracterização da Amostra	46
Nesta tabela, podemos verificar que 61,5% dos estudantes são do sexo masculino e 38,5% são do sexo feminino.	46
3. 4. 2. Apresentação, análise e discussão dos resultados.	46
Gráfico 1: Marque com X o nome da Religião que pertencem os jihadistas?	47
Gráfico 2: Coloque um círculo na definição que achares correcta sobre jihadistas?	47
Gráfico 3: Coloque um X na opção que achares correcta da pergunta a seguir: O Alcorão define jihad como?	48
Gráfico 4: Sublinhe a alínea que achar correcta da seguinte questão: O que é que os grupos jihadistas fazem?	49
Gráfico 5: Coloque um V na opção que achar correcta. Os grupos jihadistas desenvolvem suas acções por orientação do:	49
Gráfico 6: Coloque um círculo na alínea da opção que achar certa. Quais são as regiões onde os jihadistas mais actuam?	50
Gráfico 7: Coloque um X na opção que achar correcta da seguinte pergunta. Quais são as consequências das acções dos jihadistas?	51
Gráfico 8: Coloque um círculo na alínea que achar correta. Onde adquiriu o teu conhecimento sobre o tema em estudo?	51
Gráfico 9: Como avalia o teu grau de conhecimento sobre o tema em causa?	52
Gráfico 10: Em que medidas as razões abaixo mencionadas contribuem para o fraco conhecimento do tema em causa?	52
Conclusões	54
Limitações	56
Sugestões	57
Bibliografia	58
11
0 - Introdução
Ao longo de todo o nosso percurso académico, a Jihad foi um tema privilegiado em vários debates, é nesta senda, que propusemos desenvolver o seguinte tema: O Jihadismo: justificações históricas e religiosas. Com este trabalho, estaríamos a elaborar uma modesta contribuição para o enriquecimento do conhecimento da história do Islão.
Depois dos atentados de 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos da América, a palavra Jihad entrou no vocabulário corrente. A raiz J-H-D da qual se origina, tem o significado geral de empenho, esforço ou luta. A palavra em si só, nem sempre tem conotação religiosa, o significado concreto depende do contexto em que a palavra é utilizada. 
Além dos cinco pilares do Islão, foi agregada a necessidade de empreender a jihad, a qual compreenderia a militância em nome da fé. Nos dias de hoje, o conceito de jihad é difundido como guerra santa e radicalismo islâmico, entretanto, apesar de algumas lideranças islâmicas usarem a jihad bélica, trata-se de um equívoco, pois, a jihad corresponde a luta no caminho de Deus. 
De acordo com um relatório do International Crisis Group (nº 37, 2005), actualmente podemos identificar três formas distintas de islamismo. A primeira, de carácter mais politico, engloba movimentos relativamente inseridos no jogo democrático, que aceitam o princípio do estado-nação, e procuram a reforma e mudança através da acção política, são exemplos como a irmandade Muçulmana no Egipto, o partido Adalet ve Kalkınma Partisi na Turquia, ou o Parti pour la Justice et le Développement de Marrocos. A segunda forma de activismo islamista, é caracterizada como tendo uma atitude missionária, pois engloba missões islâmicas de conversão, procurando assumir o papel de um farol de valores. Assim, promovem a virtude islâmica, lutam contra a corrupção da moral, fruto da fraqueza da fé, procuram a perseverança da identidade islâmica. São exemplos a Tablighi Jamaat ou o Salafiyya Movement, ambos fundamentalistas e tradicionalistas, e de dimensão internacionalista. A terceira forma será desenvolvida ao logo do nosso trabalho, é aqui que entra a luta armada como forma de activismo islâmico, ou seja, o jihadismo. 
 1 - Motivação da Escolha do Tema. 
Desde os ataques aos Estados Unidos em setembro de 2001, mais recentemente com os atentados à Europa e em alguns lugares do Médio Oriente que o nosso quotidiano é invadido por temas como o terrorismo, o jihadismo, a al- Qaeda ou o autoproclamado Estado Islâmico. Estes, representam uma nova e complexa ameaça internacional, exigindo uma compreensão holística do problema. 
Ao longo dos últimos anos, muito se tem escrito sobre o comportamento e pensamento dos jihadistas, mas esta ideologia e as suas doutrinas ainda permanecem envoltas em polémica que, na maioria das vezes, pouco contribuem para a sua compreensão. 
Na nossa perspetiva, existe, de certo modo, um paralelo histórico entre a década de 1990 e o período actual, na medida em que o Jihadismo está a passar por importantes transformações como meio de adaptação aos novos ambientes e como modo de sobrevivência. Uma década e meia após os eventos em Nova Iorque e Washington, os grupos jihadistas prosperam, embora mais descentralizados, estrategicamente mais diversificados e sujeitos a avanços e recuos territoriais e o fluxo de militantes nunca cessou, apesar dos esforços globais empreendidos a nível de contraterrorismo. 
Segundo Cannata (2014), os ensinamentos islâmicos admitem a jihad, mas a sua prática, consubstancia-se em duas formas distintas: a jihad maior, luta interna e a jihad menor, a luta externa. Enquanto luta interna, a jihad maior centra-se no indivíduo, que se deve esforçar para superar desejos e tentações. Sendo uma luta interior, de melhoria espiritual e religiosa, procura ir contra os inimigos da vida imaterial, numa luta contra o mal e o egoísmo. Por outro lado, a jihad menor, ou externa, consiste na luta armada contra o inimigo do Islão, salientando a obrigação coletiva para travar uma guerra contra os considerados infiéis, a fim de garantir a ummah. 
É nesta linha de acções, que ficamos interessados em abordar O jihadismo numa visão histórica.
2 - Revisão da Literatura 
O tema que nos propomos a abordar, não marca o início nesta perspetiva, desenvolvê-lo-emos tendo como suporte estudos por outrem feitos, destes, será possível aferir variadíssimas abordagens relacionadas com o Jihadismo: justificações históricas e religiosas. 
Desta feita, faremos pesquisas a diferentes autores como é o caso de: 
Vasco (2010, p. 13), aponta outras correntes do Islão como o wahabismo de carácter puritano, fundamentalista da fé, incluindo o entendimento literal do Corão e da Sunnah, os exemplos deixados por Maomé para imitação – hadith ou sunnah. Esta abordagem restrita, exclusivista dos wahabitas levou-os a denunciar outras correntes islâmicas como idólatras e a enfatizar a jihad para contrariar os não-crentes (kufr). A jihad era, pois, entendida como uma obrigação no caminho da constituição da comunidade de crentes. Este legado histórico do wahabismo, e a interpretação asséptica do Islão que os guerreiros do deserto perfilhavam, teria uma influência marcante nas linhas ideológicas traçadas pela Al-Qaeda e, mais tarde, pelo Estado Islâmico. 
Já Alessandro (2010, p. 87), frisa que, a primeira organização a politizar o Islã, na Idade Contemporânea e dentro do contexto neocolonial dos séculos XIX e XX, foi a Irmandade Muçulmana. Fundada, em 1928, por Hassan Al-Banna, em Ismailiah, uma cidade às margens do Canal de Suez, onde se tornara nítida a exploração dos egípcios pelos colonizadores europeus. Ao longo dos anos, a Irmandade conseguiu levar sua mensagem universal a outros países do Oriente Médio, transcendendo as fronteiras do Egipto e, ainda hoje, exerce grande influência dentro e fora dos círculos fundamentalistas.Militantes da Al Qaeda, como Mohammed Atef e Ayman al-Zawahiri, pertenceram à Irmandade Muçulmana e o próprio Hamas originou-se da filial palestina dos irmãos muçulmanos. 
Filipe (2011, p. 220), menciona os professantes do jihadismo incomodados com a ameaça da secularização da vida social e política dos países muçulmanos, motivada pela globalização e uma crescente ocidentalização dos usos e costumes islâmicos. Por estas razões, consideram‐se o topo e a vanguarda do islão (que é apontado como sendo a solução para todos os males que afligem a sociedade muçulmana). Então, sob a máscara de uma ética e de uma moral religiosa, estes militantes começaram a utilizar a violência contra todas as estruturas sociais, políticas e religiosas, visando a conquista de poder e a posterior reislamização da sociedade, corrompida pelos valores ocidentais. 
Segundo Armstrong (2001, p. 80), descreve que, no período posterior à morte do Califa Ali, a jihad já era difundida principalmente no círculo dos Kharajitas, a se reunirem numa luta (jihad) por padrões islâmicos mais elevados numa crítica ao califa Omíada. Assim, a jihad deveria ser empregada contra usurpadores, apóstatas e infiéis. 
Cunha (2009, p. 24), esclarece que Jihad, não é propriamente um movimento mas sim, um conceito da religião islâmica. A palavra Jihad é traduzida como uma luta ou acto de esforço, empreendido na causa de Deus. Existe contudo uma outra forma - a “Jihad Menor” – que se refere, para uns, ao esforço que o muçulmano deve fazer no intuito de levar a mensagem do Islão aos que não têm consciência da mesma e, para outros, como forma de levar a mensagem também até aqueles que não se submetem a Deus e à Paz. Há assim os que interpretam a Jihad menor como sendo uma forma permitida de guerra, com o intuito de expandir a área de influência do Islão. Alguns grupos acham que este conceito tem aplicação não apenas à defesa física dos muçulmanos, mas também à reclamação de terra que em tempos pertenceu a muçulmanos ou à protecção do Islão contra aquilo que eles vêem como influências que "corrompem" a vida muçulmana. 
Assim, de acordo com os autores mencionados e outros, concluímos que, mais do que um conceito, o significado de jihad difere de acordo com quem o analisa. Do Árabe, pode ser encarado enquanto esforço ou dedicação. Para o Islão, divide-se em jihad menor e jihad maior ou seja, luta contra os inimigos do Islão e luta interior com vista ao aperfeiçoamento pessoal e com Ala, respetivamente. Abordar sobre jihad, é oportuno, porque, nos últimos dias as repercussões dos jihadistas, estão deixando os governos e a sociedade mundial em pânico. Buscar as origens desse dogma islâmico, poderá ajudar na compreensão e resolução de alguns problemas ligados aos grupos radicais.
3 - Formulação do Problema. 
O problema científico do nosso trabalho baseia-se no seguinte questionamento: 
Quais são as justificações históricas e religiosas do Jihadismo? 
4 - Delimitação do Estudo. 
O presente estudo abarca o período que vai desde o ano 1928 ano em que Hassan al-Banna funda a irmandade muçulmana no Egipto, que tinha como fundamento a renovação espiritual e a promoção do Islã enquanto princípio organizador de todas as esferas da vida social. Este estudo se estende até a actualidade. 
5 - Objectivos.

5. 1 - Objectivo Geral. 
- Analisar a origem da jihad e as justificações histórico-religiosas.
5. 2 - Objectivos Específicos. 
Em função do objectivo geral, com o presente trabalho traçamos os seguintes objectivos específicos: 
1. Explicar os fundamentos religiosos que originou a jihad no Alcorão e no mundo árabe;
2. Descrever a evolução histórica da expressão jihad desde Maomé, à actualidade;
3. Diferenciar a jihad política da religiosa;
4. Enumerar as consequências das acções jihadistas; 

5. Descrever as bases doutrinárias que sustentam a jihad;
5. 3 - Objecto do Trabalho.

- O jihadismo: Justificações históricas e religiosas. 
6. Importância do trabalho.
O presente trabalho reveste-se de uma importância, pois, poderá facilitar na elaboração de um texto de apoio que descreva as origens do Jihadismo, suas justificações históricas e religiosas, contribuindo assim para a diversificação da bibliografia à Disciplina de História da Idade Média do ISCED - Huíla. 
7 - Metodologia.

Para o nosso trabalho, foram selecionados os seguintes métodos: 
Método Histórico: consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje, pois, as instituições alcançaram sua forma actual através de alterações de suas partes componentes ao longo do tempo (Lakatos e Marconi, 2003, p. 106). 
A aplicação deste método, permitiu-nos compreender a jihad, desde a sua origem, sob o ponto de vista religioso, politico e sócio - económico. 
Método Estatístico: Clayton (2005, p. 28), argumenta que este método consiste na análise estatística dos dados obtidos durante a investigação. Para o nosso caso, os dados foram organizados, tabulados e analisados. Com este modelo de análise, podemos de forma mais eficaz, tabular e analisar os dados dos questionários aplicados aos estudantes do III Ano do curso de História do ISCED – Huila, referente ao ano de 2019. 
Pesquisa Bibliográfica: trata-se de levantamento de toda a bibliografia já publicada em forma de livros, revistas, artigos científicos, documentos eletrónicos e outros documentos, sua finalidade é colocar o pesquisador em contacto com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado tema (Gil, 1989). Para nós, levantamos uma bibliografia sobre o assunto em causa: O Jihadismo: Justificações históricas e religiosas. A aplicação deste método é fundamental pois que, tal como afirma Malheiro (2000) ‘’não se pode proceder o estudo de algo, sem identificar o que já foi produzido sobre o assunto para não repetir estudo já desenvolvido’’, pelo que, estamos plenamente de acordo com o autor. Sendo assim, este método de pesquisa será indispensável para a prossecução do estudo em causa. 
Outrossim, usamos a técnica de: 
Inquérito por questionário: segundo Brito (2012, p. 3), este método, é aplicado para recolher dados sistemáticos por intermédio de perguntas organizadas num questionário a ser aplicado a um grupo de pessoas. 
As perguntas serão definidas com o objetivos para os quais foi decidido realizar o inquérito. Os dados recolhidos transformar-se-ão em informação e quando sistematizados e analisados, produzem conhecimento, o qual por sua vez permite tomar decisões relevantes 
O recurso ao método de inquérito por questionário, permitiu-nos colher dados mediante um questionário com perguntas fechadas, aplicadas aos estudantes do curso de História do III Ano do ISCED - Huíla, cujo objectivo foi o de avaliar o grau de conhecimento destes sobre o tema que abordamos. 
CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO CONCEITUAL E IDEOLÓGICO SOBRE O SURGIMENTO DO JIHADISMO. 
1.1. Conceitos. 
Para a melhor compreensão teórica do jihadismo: justificações histórico-religiosas e sua ressonância no quadro político, cultural, social, económico na esfera global, tomamos a liberdade em começar por definir alguns conceitos que juntos fundamentam a existência do jihadismo pelo mundo à fora. 
1.1.1.O Islão 
Para Costa (2016), o Islã é a mais nova das três religiões monoteístas e é aquela que hoje mais cresce em número de fiéis no mundo. Surgiu geograficamente na península Arábica no século VII, durante o período denominado pela tradição historiográfica do Ocidente Europeu como Idade Média. Baseia-se no princípio de ter Alá como Deus único e Muhammad como seu profeta. 
1.1.2. Fundamentalismo 
Segundo a Universidade Federal de Alagoas (2005), a palavra Religião tem origem no Latim, Religar[footnoteRef:1]. A religião é uma dimensão pela qual as pessoas se associam e estabelecem um padrão mínimo de consenso em torno de diversos aspectos sociais que lhes permite estabelecer relações de solidariedade que se baseiam numa ética que toma como base a crença do grupo. Se há uma coisa que as pessoas religiosase pesquisadores dos fenômenos religiosos concordam é que as Religiões são algo extremamente importantes. As religiões organizam uma dimensão muito impactante na vida dos indivíduos: elas lhes propiciam o sentido de suas vidas, suas práticas e todas as dimensões da vida social: falar, vestir, comer, se expressar, se relacionar, etc. [1: Aquilo que une as pessoas em torno de algo em comum. Profundamente relacionado com à crença e às práticas do grupo (UFA, 2005).] 
Existem várias concepções ao longo da literatura sobre a palavra Religião, pelo que, procuramos buscar as definições que consideramos relevantes para o presente estudo. Desta feita, Durkheim (1996), define a Religião como um sistema solidário de crenças e de práticas relativas a entidades sagradas que unem em uma mesma comunidade moral, chamada Igreja. Para Bonato (1962), Religião é o conjunto das relações existentes entre Deus e nós, é o vínculo que nos une à Deus. Já para a (UFA, 2005), religião é uma dimensão pela qual as pessoas se associam e estabelecem um padrão mínimo de consenso em torno de diversos aspectos sociais que lhes permitem estabelecer relações de solidariedade que se baseiam numa ética que toma como base a crença do grupo. 
O proselitismo é uma das acções mais impactantes das Religiões na sociedade. A necessidade de divulgar o sistema de crenças e ampliar seu quadro de adeptos, às vezes, a quaisquer custos, as vezes se torna muito problemático em alguns contextos e tem sido a razão para diversos conflitos sociais e até guerras ao redor do mundo, por meio de doutrinas fundamentalistas, ou seja, através do fundamentalismo religioso (UFA, 2005).
Quanto ao fundamentalismo, Karen (2001), analisa os movimentos fundamentalistas que se desenvolveram principalmente nas três religiões monoteístas: judaísmo, cristianismo e islamismo. Seu ponto de partida é o ano de 1492, data em que ocorreram três factos marcantes para cristãos, muçulmanos e judeus: a descoberta da América, a conquista de Granada e a expulsão dos judeus na Espanha. Os fundamentalistas cristãos, rejeitam as descobertas da Biologia e da Física sobre as origens da vida e afirmam que o livro de Gênesis é cientificamente exato em todos os detalhes. Numa época que muitos estão rompendo as correntes do passado, os fundamentalistas judeus observam sua lei revelada com grande rigidez como sendo a única certa. O fundamentalismo não se limita aos monoteístas, ocorre também entre Budistas, Hinduístas e até Confucionistas que rejeitam muitas das conquistas da cultura liberal, lutam e matam em nome da Religião e se empenham em inserir o sagrado no campo da política e da causa nacional. 
Para Boff (2002), o termo fundamentalismo foi utilizado pela primeira vez em 1915, quando um grupo de professores de teologia, da Universidade de Princeton, publicou uma coleção de doze livros intitulados: Fundamentals: A Testimony of the Truh (1909/ 1915). Nessa obra eram expostas as ideias da prática de um cristianismo ortodoxo, dogmático e extremamente rigoroso. Assim, Boff define como fundamentalismo religioso o assumir a letra das doutrinas e normas sem cuidar de seu espírito e de sua inserção no processo sempre cambiante da história, que obriga contínuas interpretações e atualizações, exatamente para manter sua verdade essencial.
Vale salientar que o fundamentalismo religioso tem a suam base em uma determinada ideologia religiosa. Pois, a Religião, segundo Wilson (2009), ao longo da história, desde o nascimento do Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo, teve um papel crucial para os povos e nações. Assim, é inequívoca a relevância do Judaísmo para a criação da identidade do povo hebreu na antiguidade, tal como o cristianismo desempenhou para a constituição dos povos europeus entre o fim da idade antiga e o início da idade média. Igualando-se, do mesmo modo, ao significado que o Islamismo teve para a formação dos povos árabes com a expansão das guerras islâmicas e a constituição do antigo império otomano. Logo, afirmamos que o papel dessas religiões foi essencial para a criação de uma identidade cultural para as nações no passado. Suas crenças, práticas e ensinamentos eram a força que os reis e líderes buscavam para consolidar a união de seus povos e enfrentar as ameaças externas vindas de outras nações.
Portanto, a Religião foi durante muito tempo um instrumento de construção de uma unidade nacional, originando-se desse contexto as agressões praticadas contra aqueles que se opunham às suas convicções, considerados não só inimigos de um reino ou estado temporal, mas também adversários da fé, que deveriam ser abatidos implacavelmente em nome de Deus. Assim, havia uma concepção que expressava uma violência legalizada, onde o uso da força era justificável quando fosse utilizado para beneficiar a sociedade cristã e sob a sua direcção (Bingemer, 2002).
Desse modo, independente da Religião professada, o fundamentalista religioso atual acredita em uma verdade literal, inerrante, extraída de seus textos sagrados. E, em razão desse literalismo, opõem-se a novas interpretações ou qualquer mudança em seus princípios. Acreditando que as menores alterações de seus conceitos sejam ofensivas a Deus. Um dos melhores exemplos disso é o evento da criação para os fundamentalistas cristãos. Acreditando realmente que a mesma se deu literalmente em sete dias. Adão, tenha sido o primeiro homem e foi criado realmente do barro e Eva, sua mulher, foi gerada a partir da costela desse homem. Essa postura em rejeitar qualquer outra interpretação, ainda que por mais sutil que seja, torna-o inflexível em sua moral e costumes, seja no seio da família, no trabalho e no convívio em sociedade. No Judaísmo podemos ver os judeus ortodoxos com suas vestes e chapéus tradicionais. Enquanto, no Islamismo, eles podem ser vistos dentro da corrente doutrinária xiita e nos países onde prevalece a sharia como norma legal (Wilson, 2009). 
O fundamentalismo religioso quase sempre orienta que as suas crenças doutrinais sejam de cumprimento obrigatório, tal como enfatiza Pikasa (2008), para os muçulmanos, ou seja, aqueles que se submetem a Deus e a seu Profeta Maomé, um enviado a quem Deus o designou para anunciar sua palavra e converter sua cidade Meca. Em 613 os povos da península arábica eram divididos segundo as suas tribos, sendo Maomé oriundo da tribo dos Coraixitas. Os povos árabes daquele tempo veneravam vários deuses, todos eles vinculados ao culto da pedra sagrada. Em suas primeiras mensagens, o Profeta Maomé afirmou sua fé monoteísta, mediante a soberania absoluta de Alá (Deus), além dos cinco pilares que sustentam a fé islâmica até hoje. Essas práticas se inserem no contexto da vida e dos acontecimentos sociais de seus adeptos. Fazendo da Religião uma forma de vida, associada aos costumes e a própria administração do estado em toda a sua estrutura de poder. Por essa razão, é comum nos países islâmicos a fusão entre política e Religião, como acontece no Irã, Paquistão e Mauritânia. O Profeta Maomé não desejou criar uma nova Religião, mas recuperar a Religião eterna do Islã, baseada em uma única mensagem, da qual Abraão, José, Moisés, Jesus Cristo e Maria, haviam seguido. Essa mensagem foi retratada pelo livro sagrado dos muçulmanos, O Alcorão, ditado pelo Profeta Maomé sob as ordens divinas transmitidas pelo anjo Gabriel. Há, porém, entre os dogmas e ensinamentos defendidos pelo islamismo, o principio da Al-Jihad, a Militância. Tal princípio orienta aos crentes ao esforço e propagação da fé muçulmana. Isso conforme expressado pelo Alcorão Sagrado: “Convoca (os humanos) à senda do teu Senhor com sabedoria e uma bela exortação; dialoga com eles de maneira benevolente” (Alcorão Sagrado, Sura 16, versículo 125). Contudo, apesar da mensagem pacifista voltada à conversão dos povos não islâmicos, vemos na história que a imposição da fé muçulmana se deu através de guerras de conquista a fim de garantir a propagação do islamismo e a conversão de novas pessoas. Nos dias actuais, vemos fortes expressões do fundamentalismo islâmico representadopelos ataques terroristas, perpetrados pelo grupo Al-Qaeda, além de outros movimentos, como o da Irmandade Muçulmana no Egipto, e do grupo Hamas nos territórios ocupados de Gaza, na Palestina. Além do próprio regime iraniano.
Para Stern e Berge (citados por Marques, 2015), aparentemente, há uma só fé islâmica, acreditando num só Deus e no Alcorão, mas na prática, factores políticos e históricos, ajudaram a criar diferenças dentro da comunidade muçulmana, surgindo dois grandes grupos, Sunitas e Xiitas. O profeta Maomé, antes de sua morte, lhe foi revelada por Deus a possível divisão do Islão: ʻʻNão és responsável por aqueles que dividem a sua religião e formam seitas, porque sua questão cabe a Deusʼʼ (Alcorão, 6: 159). 
Segundo Muñoz (citado por Barata, 2007), a origem dos dois grandes ramos do Islão foi antes de tudo fruto de um conflito político que depois se dotaria de uma especificidade religiosa, onde os grupos muçulmanos fundamentalistas como a Al-Qaeda, o Hamas entre outros, são Sunitas e o Houthis, o Hezbollah e outros, são Xiitas, os quais actuam diferentemente e procuram apoiar seus grupos que militam no Médio Oriente e não só para manterem a superioridade política e ter a maior influência no mundo islâmico. Ambos os grupos, acusam-se de hereges.
 1.1.3. Terrorismo 	
Na história da humanidade, a violência física e psicológica foi sempre utilizada, em grande parte, em nome de uma ideologia, de uma Religião, da conquista e manutenção do poder, para calar vozes contrárias ou como forma de dominação do personalismo, para além de outros tantos motivos injustificáveis. Dessa maneira, “recorreu-se incontáveis vezes ao uso de torturas, assassinatos, coerção e ameaças, impondo o medo para se evitarem rupturas, opositores reais ou imaginários. Por outro lado, grupos organizados também se utilizaram e utilizam até os nossos dias, como mecanismos para impor medo e terror às populações e aos governos (Sutti & Ricardo 2003 citados por Ramos, 2012). 
No último século ao nível do mundo, o terror tem sido cada vez mais utilizado como modalidade da acção estratégica e política através do movimento denominado de terrorismo. Segundo Mingst (2009 citado por Ramos, 2012), o terrorismo tem uma natureza de os ataques ocorrerem basicamente nos centros urbanos, pois oferecem maior audiência, facilidade dos medias e segurança aos agentes perpetradores, que se podem dissimular com facilidade na multidão anónima. Os grandes aglomerados populacionais proporcionam melhores condições para a execução dos atentados. As zonas rurais, ao contrário, são particularmente adequadas para o treino preparatório das células clandestinas encarregadas de executar ataques.
O terrorismo islâmico é como um cancro, cujas células crescem e se dividem sem respeitar fronteiras, invadindo e destruindo Estados, podendo espalhar-se para lugares distantes do globo através do processo jihadista, adopta uma estrutura de natureza celular difusa, que propicia a certas células, a aquisição de um elevado grau de autonomia, que as leva a assumir identidade própria (IDEM).
1.2. Contextualização do islamismo 
Para a melhor compreensão da difusão do islamismo a nível do mundo, consideramos imperioso tecer algumas considerações sobre o contexto histórico do surgimento do islamismo, que em seguida passamos a desenvolver. 
1.2.1. Breves considerações do surgimento do islamismo 
O islamismo tem como seu fundador Maomé, um Àrabe que nasceu em 570 d.C. na Arábia Saudita. Os Árabes são descendentes de Ismael, primogênito de Abraão com a sua concubina egípcia, Agar. Portanto, Ismael tem o direito da bênção e a ser a cabeça da religião de Abraão o primeiro monoteísta histórico (Faleiro, 2014).
Existe o pressuposto de que, a Religião islâmica é a continuação da fé Abraâmica, onde Maomé, é considerado como o último profeta de Alá. Segundo El Fasi (2010), do ponto de vista islâmico, não é correto dizer que o profeta Maomé tenha sido o fundador do Islão ou que ele pregasse uma nova fé. O Islã não é o nome de uma fé única que fora pela primeira vez apresentada por Maomé, pois que este último seria o último de uma linhagem de profetas, os quais reafirmavam cada um a fé do seu predecessor. Isso deriva da doutrina islâmica segundo a qual Deus, desde que criou os homens, enviou-lhes profetas para guiá-los, mostrando-lhes a melhor via a seguir na terra para prepará-los a eterna beatitude; a ponto de receber as suas últimas revelações, para compreender e apreciar as leis que deveriam reger a sua conduta em todas as esferas, Ele escolheu para desempenhar o papel de último entre os profetas um árabe, habitante da cidade de Meca, chamado Muhammad ibn ‘Abd Allāh, membro da Cabila dos Kuraysh.
Chebel (2010), aponta que, Maomé, ficava muito conturbado com o comportamento das pessoas daquela sociedade que se preocupavam tanto com o mundo material. Assim, Maomé ganhou o hábito de meditar numa caverna chamada Hira que ficava a poucos quilómetros de Meca. Esta atitude de Maomé, era uma espécie de busca do absoluto e de renascimento pessoal. Num desses retiros, Maomé recebeu pela primeira vez, a visita de um Anjo, era o arcanjo Gabriel que lhe pediu para ler, Maomé perguntou ao Anjo: o que devo ler? Apesar de pertencer a um clã prestigioso da tribo coraixita, Maomé não sabia ler nem escrever, tal facto, dependeu do uso da tradição oral que marcou várias famílias da época na transmissão de conhecimentos. É deste primeiro encontro com o Arcanjo Gabriel, onde surgiu os primeiros cinco versículos do Alcorão que lhe seriam doravante revelados. Daí, o arcanjo convidou-o a repetir com ele: Lê, em nome do Senhor, que tudo criou, criou o homem de um coágulo. Lê, porque o teu Senhor é generoso, que ensinou pela pena aquilo que o homem não sabia. De volta à casa, Maomé não conseguiu conter esta experiência única, contou à sua mulher Khadija e esta imediatamente acreditou nele, passando a ser a primeira muçulmana da História. Assim, dava-se início à mudança de Maomé.
Os conteúdos das primeiras revelações foram surpreendentes para os politeístas da época, conforme argumenta El Fasi (2010), estas primeiras revelações eram centradas na unicidade de Deus e no último dia; elas exortavam os homens a não negligenciarem a Religião em proveito dos assuntos deste mundo. Elas igualmente refletiam os princípios da igualdade entre todos os homens, sem distinção de posição social ou fortuna. 
Para além dos princípios da igualdade entre todos os homens, sem distinção de posição ou fortuna, vale recordar que o Islão segundo Cunha (2009) é uma Religião monoteísta que surgiu no século VII na Península Arábica, baseada nos ensinamentos religiosos do profeta Maomé e numa escritura sagrada, o Alcorão. O monoteísmo é a ideia central do Islão, que advoga a crença num Deus único e omnipotente, Alá. O termo Islão (em Árabe, al-islām) deriva da quarta forma verbal da raiz, aslama, e significa "submissão" ideia que inspira o fundamento desta religião. O crente aceita render-se ou submeter-se à vontade de Alá. O termo Muçulmano deriva da palavra muslim, particípio activo do verbo aslama, designando aquele que se submete ou, textualmente, submisso. O muçulmano submete-se ao Alcorão que é a palavra de Alá, ou seja, à vontade de Deus. Existem duas fontes fundamentais da doutrina e da prática islâmica, o Alcorão e a Suna. A Suna é conhecida graças aos Ahadith que chegaram até nós graças a uma cadeia de transmissão oral a partir dos companheiros de Maomé. Uma terceira fonte de jurisprudência, já secundária, é o Itjihad. Para a melhor compreensão do Islão Chebel (2010), apresenta os 5 (cinco) pilares que norteiam a religião islâmica, os quais os muçulmanos devem observar, que em seguida passamos a mencionar: 
1º - A recitação e aceitação do credo (Shahada: o testemunho ou afirmação de fé). A profissão de fé consiste numa frase que deve ser dita com a máxima sinceridade, através da qual cada muçulmano atesta. De acordo com a maioria das escolas islâmicas, para se converter ao Islão é necessário proclamar três vezes a Shahadaperante duas testemunhas: “Achadu ala ilaha ila Allah. Achadu ana Mohammad Rassululah” – “Testemunho que não há outra divindade senão Alá. Testemunho que Maomé é seu profeta mensageiro”. Os muçulmanos Xiitas têm por costume acrescentar ainda e Ali ibn Abi Talib é amigo de Deus. Esta frase também é dita quando se chama à oração (azan).
2º - Orar cinco vezes ao longo do dia (Salat)[footnoteRef:2]. A palavra salat significa "santificar". Assim, o segundo pilar do Islão consiste na santificação e glorificação de Deus através da prática da oração, que deve ser efectuada cinco vezes por dia, em períodos concretos. Esses períodos não correspondem a horas, mas a etapas do curso do sol. Durante a oração os muçulmanos olham em direcção à Ka´aba[footnoteRef:3], em Meca. Antes de cada oração comunitária é feita uma chamada pública pelo Muezim, a partir do minarete da Mesquita. O dia sagrado dos Muçulmanos é a sexta-feira (jummâ). O Profeta Adão, foi enviado ao mundo numa sexta-feira, o Profeta Moisés atravessou o rio Nilo numa sexta-feira, a primeira revelação do Alcorão à Maomé foi feita numa sexta-feira e está previsto que o dia do Julgamento Final terá lugar igualmente numa sexta-feira. Os Muçulmanos juntam-se todas as sextas-feiras nas Mesquitas, depois do meio-dia, para a oração congregacional, onde o Imam (dirigente do culto islâmico) faz o sermão (khutba) e dirige a oração congregacional. Quanto a oração, Custódio (2011), esclarece que, para orar é preciso estar purificado das próprias impurezas menores[footnoteRef:4] ou maiores[footnoteRef:5]. A oração deve ser feita sozinho ou em comunidade na mesquita sob a orientação de um imam na sexta feira[footnoteRef:6] com um sermão chamado khutba. [2: Salata al - fajr (ao amanhecer), salat al - zuhr (ao meio dia), salat al - asr (à tarde), salat al - maghrib (ao pôr do sol) e salat al - isha (à noit). (Cunha, 2009, p. 5).] [3: Segundo o Alcorão, a Ka´aba foi contruída por Abraão e seu filho Ismael no qual os Árabes são descendentes (2:125).] [4: A impureza menor é provocada pelo sono, a perda dos sentidos, da alimentação de substâncias corpóreas e pelo facto de um homem a pele de uma mulher que não seja parente. Para eliminar esse tipo de impureza, é necessário utilizar a pequena ablução, através da higiene específica e detalhada que consiste em lavar o rosto, as mãos, até aos cotovelos, os antebraços, a boca, as narinas, em passar água pelas orelhas, pela nuca, pelo cabelo e pelos pés. Não havendo água para abluçãos, substitui simbolicamente a areia ou terra. Sobre as abluções ver Alcorão 5: 6. (Cunha, 2009). ] [5: A impureza maior é provocada pela ejaculação masculina, durante a masturbação e por um período de 40 dias depois do parto. Neste caso, deve recorrer-se a ablução total do corpo (Cunha, 2009).] [6: A oração em comum na Mesquita é recomendável e obrigatória ao meio dia de Sexta feira, tornando-se no dia de festa dos muçulmanos (Cunha, 2009).] 
3º - Pagar tributo (Zakat[footnoteRef:7]). A contribuição de purificação é um tributo religioso, muitas vezes impropriamente traduzido como esmola, e significa, literalmente, crescer ou aumentar: recebe, de seus bens, uma caridade, que os purifica e os engrandece (Alcorão 9:103). O seu pagamento é anual e obrigatório para todos os muçulmanos. De uma maneira geral, o zakat incide sobre 2,5% da riqueza de cada muçulmano, que pode escolher a altura do ano mais adequado para o pagar, embora muitos optem por fazê-lo no mês sagrado do Ramadão. Este tributo será depois distribuído pelos pobres, em dinheiro ou em espécie. [7: Este termo deriva do radical Zaka, isto é, purificar e exprime o dever de purificar os próprios bens (Alcorão 9: 103). A esmola é crescimento porque faz frutificar o dinheiro que se dá e é purificação do apego às riquezas e ao seu mau uso. (Cunha, 2009).] 
4º - Observar o jejum no Ramadão (Saum). O Ramadão é o nono mês do calendário islâmico durante o qual os muçulmanos praticam o seu jejum ritual. Sendo o calendário islâmico lunar, o Ramadão não é celebrado cada ano na mesma data, podendo passar por todas as estações do ano. O Ramadão é um mês sagrado, período de renovação da fé, da prática mais intensa da caridade e vivência profunda da fraternidade e dos valores da vida familiar. Neste período pede-se ao crente uma maior proximidade aos valores sagrados, leitura mais assídua do Alcorão, frequência à mesquita, correcção pessoal e autodomínio. O jejum é observado durante todo o mês, do nascer ao pôr-do-sol e aplica-se também ao não fumar e às relações sexuais (o crente deve não só abster-se delas, como também não pensar nelas). Para além destes preceitos específicos do Ramadão, tanto o homem como a mulher são comandados no Alcorão a aderir permanentemente às directrizes Islâmicas do comportamento e da forma de vestir discretas. Isto inclui não só o uso de vestimentas modestas (características dos muçulmanos), assim como a necessidade de que homens e mulheres que não tenham laços familiares não se reúnam sozinhos ou construam amizades uns com os outros fora do casamento[footnoteRef:8]. Se o homem e a mulher tiverem de interagir por qualquer motivo (por exemplo no mercado), ambos são comandados a baixar o olhar e a absterem-se de namoros e conversas desnecessárias. Um homem que se sinta atraído por uma mulher, que não seja sua esposa, é comandado a evitar aquela mulher e ir para casa ter com a esposa, enquanto que ao homem não casado é recomendado o jejum, como forma de supressão do desejo sexual. O casamento realizado numa idade ainda muito jovem é altamente recomendado, tanto para homens como para mulheres, como meio de completar a fé e como solução para o lidar com as inúmeras tentações que poderiam conduzir ao pecado. Acrescem ainda a estas instituições a permanentemente proibição do consumo de álcool e de carne de porco. [8: Diz às crentes que baixem os olhos, ocultem as partes e mostrem mais do que aquilo que se deve ver. Cubram o seu peito com véu! Não mostrem os seus encantos a não ser aos seus esposos. Que estas não meneiem os pés de maneira a deixarem ver o que entre os seus adornos ocultam. Todos voltareis; a Deus; ó crentes! Talvez sejais bem-aventurados (Alcorão, 24: 31).] 
Quanto ao jejum, Custódio (2011), afirma que é no jejum que o muçulmano vence a si mesmo, exercita a sua vontade para dominar as paixões, resistir à fome, à sede à necessidade de fumar, é momento de desenvolvimento da empatia por aqueles que passam fome ou outras necessidades, é também tempo de oração e de instrução religiosa. Não jejuam as mulheres grávidas ou em aleitamento, os doentes, as pessoas que viajam, as mulheres no período menstrual ou momento após ao parto. Em compensação, essas pessoas devem alimentar um pobre por cada dia que faltaram ao jejum ou então realizá-lo noutra altura do ano.
5º - Fazer a peregrinação a Meca (Hajj), se tiver condições financeiras para tal. É o último dos cinco pilares do Islão, sendo obrigatória pelo menos uma vez na vida para todo o muçulmano adulto, desde que disponha de meios económicos e goze de saúde. O Hajj só pode ser efectuado uma vez por ano, no mês da Peregrinação, ou seja, no último mês do calendário muçulmano, entre o 8º e o 12º ou 13º dia.
CAPÍTULO II - O JIHADISMO: JUSTIFICAÇÕES HISTÓRICAS E RELIGIOSAS.
2.1. A jihad 
O termo jihad tem sido usado por académicos, particularmente os académicos ocidentais desde os anos 1990, e mais frequentemente desde os ataques de 11 de Setembro de 2001, como uma maneira de distinguir entre os muçulmanos Sunitas não violentos e os Xiitas violentos. Outrossim, a jihad é vista como a luta violenta e perpetrada pelos “seguidores de Maomé” para erradicar obstáculos contra o islamismo, ou seja, para a restauração da lei de Deus na Terra e para defender a comunidade muçulmana, conhecida como ummah, contra os infiéis. 
Na visão dos praticantes do islão, jihad é um termo árabe que significa luta, esforço ou empenho. É muitas vezes considerado um dos pilares da fé islâmica. É um dos deveres religiososdestinados a desenvolver o espírito da submissão à Deus. O conceito de jihad tem dois significados para a religião muçulmana: a luta pela melhoria pessoal sob as leis do islamismo e a luta em busca de uma melhor humanidade, por meio da difusão da influência do islamismo e com o esforço que os muçulmanos devem fazer para levar a religião islâmica para um maior número de pessoas (Significados, 2015).
A jihad é normalmente traduzida como guerra santa, caracterização que normalmente não reflete totalmente a essência do termo. Contudo, o debate não é sobre o significado linguístico de jihad, e sim sobre seu significado Político e religioso. Por exemplo, ninguém examinaria o conceito de cruzada do ponto de vista linguístico somente. A palavra cruzada está relacionada com cruz, se isto o fizéssemos, seu significado seria, “actuar em prol da cruz”. Mas isto não representaria a realidade do movimento, nem seu significado, como se encontra na língua inglesa hoje. A ideia de jihad como algo mais complexo, já era presente desde os dias de Mohammad. Certo dia um grupo de soldados foram até o Santo Profeta vindo de uma batalha, ele disse: Bem-vindos, vós viestes da jihad menor para a maior. Alguém perguntou, que é a jihad maior? Ele disse: O esforço de um servo contra seus baixos desejos. Partindo dessa resposta, percebemos então, que já naquela época havia uma noção de pelo menos dois tipos de jihad. A jihad maior era a luta contra impurezas pessoais, enquanto que jihad como luta armada, era a menor (Phares, W, 1997 citado por Tostes, s/d).
Entender jihad, é mais complexo que compreender significado linguístico. Sabemos que algumas palavras possuem mais que um significado, dependendo do contexto no qual são usadas. Além disto, algumas representam conceitos religiosos, sociais e políticos, este é o caso de jihad. Definir jihad etimologicamente, é um começo necessário, um dos passos no processo de entendermos o assunto. A raiz de jihad é jaahada, significando esforçar. Jihad é o substantivo de jaahada, seu significado dado no Dicionário clássico de termos alcorânicos (Mufradat of Raghib), é o seguinte: “Exercer poder em repelir o inimigo’’. Jihad é de três tipos: contra um inimigo visível; contra o diabo e contra o ego (Phares, W, 1997 citado por Tostes, s/d). Para Firestone (1999), etimologicamente a palavra jihad, que deriva da raiz j-h-d, está relacionada com o verbo jāhada, e significa esforço, superação, luta, estando conotada com a persecução de um objetivo digno. 
2. 2 - A jihad na era islâmica.
Hoje, a formulação e a interpretação doutrinal da jihad pressupõe atender o islamismo e a sua prática legal, não tem qualquer carga ideológica. Para Firestone (1999), a interpretação legal está ligada a ordenação corânica, considerada pelos muçulmanos não como um fim em si, mas como um princípio nobre, um dever para com Deus, porque o seu propósito é benéfico: libertar o mundo de um mal maior. Quando o termo é seguido pela frase “no caminho de Deus” (fī sabīl Allah), tal sublinha que a actividade da jihad se destina especificamente a promover a palavra e o reino de Deus na terra. A questão da intenção é essencial à realização deste dever, pois apenas quando é conduzida com a intenção adequada é que se torna aceitável aos olhos de Deus 
Existem várias formas de grafia da palavra jihad, Cunha (2009), apresenta as seguintes: Jahad, Jehad, Jihaad, Jiaad, Djihad e Cihad; ele refere, que não é propriamente um movimento, mas sim um conceito da religião islâmica. A palavra Jihad é um substantivo que pode ser traduzido como uma luta ou acto de esforço empreendido na causa de Deus, mediante vontade pessoal, para se buscar e conquistar a fé perfeita, sendo conhecida, nesta forma, por jihad interna ou jihad Maior, ou seja, é a luta do indivíduo consigo mesmo pelo domínio de sua idoneidade moral, uma jihad espiritual contra os seus próprios pecados. Existe, contudo, uma outra forma, a jihad Menor, que se refere, para uns, ao esforço que o muçulmano deve fazer no intuito de levar a mensagem do Islão aos que não têm consciência da mesma e, para outros, como forma de levar a mensagem também até àqueles que não se submetem a Deus e à Paz. Há assim os que interpretam a jihad menor como sendo uma forma permitida de guerra, com o intuito de expandir a área de influência do Islão. Alguns grupos acham que este conceito tem aplicação não apenas à defesa física dos muçulmanos, mas também à reclamação de terra que em tempos pertenceu a muçulmanos ou à protecção do Islão contra aquilo que eles vêem como influências que corrompem a vida muçulmana. A explicação quanto às duas formas de jihad, não está presente no Alcorão, mas sim nos ensinamentos do Profeta Maomé. Aquele que segue a jihad é conhecido como Mujahid e de acordo com as formas mais comuns do Islão, se uma pessoa morre em jihad é enviada directamente para o paraíso sem quaisquer punições pelos seus pecados.
Após os eventos de 11 de Setembro de 2001 nos EUA, o conceito jihad passou a ser um dos mais discutidos por académicos, jornalistas e estudantes, tendo invadido o discurso político e estando na base do discurso securitário ocidental. No início deste novo século (XXI), jihad tornou-se, para muitos, sinónimo de radicalismo e violência, devido às organizações que a invocam para legitimar as suas ideias e acções. Com frequência, o conceito é utilizado no sentido de terrorismo, sendo que as causas deste acabam por ser atribuídas ao próprio Islão, entendido como religião propensa ao extremismo. Jihad é, assim, um dos conceitos mais divisórios da atualidade. Por um lado, jihad está associada à expansão inicial do Islão e por outro lado, existe a doutrina jurídica islâmica e o que os juristas dos séculos VIII e IX escreveram sobre o tema com base na interpretação das disposições do Alcorão e da vida do Profeta. Existe a prática e o modo como os princípios dos textos foram aplicados às condições políticas e sociais específicas de cada época ao longo da história. Assim, enquanto conjunto complexo de doutrinas e práticas, a jihad desenvolveu-se para fazer face a diferentes experiências históricas e contextos espaciais e temporais. As constantes transformações que afectaram o mundo muçulmano desde a revelação de Maomé até aos nossos dias, influenciaram as reconceptualizações desta doutrina por parte de alguns grupos e juristas, bem como a sua utilização para justificar ações políticas e militares. Se os elementos básicos da jihad surgiram durante a vida de Maomé e da oposição entre muçulmanos e seus inimigos em Meca e Medina, foi em resultado dos debates, discussões e comentários que ocorreram após a sua morte que pensadores muçulmanos elaboraram a ideia de jihad enquanto princípio islâmico e doutrina legal (Cherem, 2010).
O controverso clérigo Yusuf al-Qaradawi aponta a jihad como uma obrigação moral islâmica que apenas pode ser empreendida quando determinadas condições são cumpridas, nomeadamente o monoteísmo, a repulsa da opressão e do politeísmo, a defesa da honra, da verdade e de tudo que é sagrado. Este descreve os objectivos da jihad como sendo a libertação da terra muçulmana, a luta contra as forças que se opõem ao chamamento para o Islão e à Nação muçulmana, a preservação da liberdade da vontade muçulmana e a independência da decisão muçulmana. Em 2009, este apresentou esta questão de um modo mais elaborado, descrevendo a existência de três tipos de jihad na actualidade: a) a libertação das terras muçulmanas sob ocupação; b) as tentativas pacíficas de alterar os actuais regimes muçulmanos pois estes regimes permitem actos que são absolutamente proibidos pelo Islão e por último, c) o chamamento ao resto do mundo para o Islão, nas suas línguas originais, por intermédio de todos os meios de comunicação e informação disponíveis (Sandra, 2016).
Além dos cinco pilares do Islã que devem ser observados com rigor, Costa (2013), afirma que aos muçulmanos lhes foi orientada a necessidade de empreender a jihad, a qual compreenderia a militância em nome da fé. Por outrolado, Armstrong (2009), ressalta a ideia de que, o desenvolvimento do Islão em várias sociedades, teve momentos diferentes em cada época, bem como diferentes comportamentos e métodos de seus líderes para o seu estabelecimento, desde o Profeta Maomé aos Califas. Tais momentos históricos diversificados, definiram também a compreensão da jihad em cada uma das épocas. Como por exemplo, no período posterior à morte de Ali, já era difundido pelos Kharahijitas um chamado a todos os verdadeiros muçulmanos a se reunirem a eles numa luta (jihad) por padrões islâmicos mais elevados contra usurpadores, apóstatas e infiéis, no seu entender esses eram os da dinastia Omíada. 
Moghadam (2003), analisa o conceito jihad a partir da percepção de três personagens do xiismo: Ali Shariati, aiatolá Sayyid Mahmud Taleqani e aiatolá Murtaza Mutahhari. Apresenta quatro aspectos de extrema relevância para entender como os Xiitas assimilaram a jihad e sua diferença com relação ao entendimento Sunita. Sunitas e Xiitas, são grupos comprometidos em defender o território e a propriedade do Islão, nessas situações, é legítimo o emprego da jihad e o ideal cívico muçulmano é o Al-jihad, é uma reverência à vida, uma congratulação à Shari’ah Al-islamia no quotidiano. É ensinado nas mesquitas, enraizado no seio familiar e praticado para manter a segurança e a soberania do país. A jihad é o direito de legítima defesa e está sujeita a regras, quer dizer, que antes de recorrer a ela, se devem esgotar todos os meios de conciliação. Para um Estado muçulmano, a subordinação à Shari’ah Al-islamia é medida de interesse geral, constituindo dever de resistir à lei injusta, combatendo o mal que causa um regime tirano. 
Existem níveis distintos de jihad e consequentemente formas de empreendê-las. Inicialmente, há a distinção de dois níveis, que são: a Grande e a Pequena jihad. A Pequena jihad compreenderia outros dois subníveis: a jihad Elementar e a jihad Defensiva (Costa, 2013). Tal como referenciado no gráfico abaixo:
Gráfico 1. Entendimento sobre os níveis de aplicação da jihad.
 
Fonte: Hamzeh (2004 citado por Costa 2013, p. 200).
Ainda Costa (2013), descreve que, através da Grande jihad (al-jihad al-Akbar) o indivíduo é preparado para enfrentar o pecado consigo. Somente a partir da superação de seus medos e aceitação plena dos ensinamentos islâmicos que o indivíduo estaria preparado para seguir em frente e ter condições de implementar a jihad Defensiva. É nesse nível que as organizações islâmicas entendem ser o ponto de partida para a jihad Armada, porque é onde se distingue o que é ensinamento de Deus do que é satânico. Assim, superada essa etapa, o muçulmano estaria preparado para seguir no caminho do Islã. A Pequena jihad (al-Jihad al-Asghar), por sua vez, está dividida em dois subníveis. A jihad Elementar (al-Jihad al-Ibtida‟i), que é comumente conhecida por guerra santa ou guerra ofensiva e é entendida como uma guerra em escala mundial contra os infiéis. No entanto, devido ao grau de abrangência e às implicações contidas na jihad Elementar, a maioria dos ideólogos Xiitas entende que somente o profeta ou o Imã Oculto (12º) teriam atribuição para decretá-la. O segundo subnível da Pequena jihad é a jihad Defensiva (al-Jihad al-Difa‟i). É nesse nível de jihad que se travaria a luta contra aqueles que agridem os fiéis, o país e a ummah. Nele não haveria a necessidade da autorização do Imã Oculto para sua deflagração, bastaria o entendimento do wali al-faqih. 
2. 3 - Jihad do ponto de vista do profeta Maomé.
Jihad, é algo semelhante ao patriotismo na causa de Allá, vejamos as referências do Alcorão:
Ó fiéis, não tomeis por confidentes vossos pais e irmãos, se preferirem a incredulidade à fé́; aqueles, dentre vós, que os tomarem por confidentes, serã0o iníquos. Dize-lhes: Se vossos pais, vossos filhos, vossos irmãos, vossas esposas, vossa tribo, os bens que tenhais adquirido, o comércio, cuja estagnação temeis e as casas nas quais residis, são-vos mais queridos do que Deus e Seu mensageiro, bem como a luta (jihad), aguardai, até que Deus venha cumprir os Seus desígnios. Sabei que Ele não ilumina os depravados (Alcorão 9:23-24). 
Os versos corâmicos expostos anteriormente segundo Amir Ali (2001, citado por Tostes, sd), estão claros que, o muçulmano precisa lutar, esforçar-se para colocar Deus em primeiro lugar, acima dos pais, riquezas, ambições mundanas e sobre nossas vidas. Nalguns casos, o Alcorão demonstra que as vezes é necessário sacrificar tudo, esforçar-se ao máximo para permanecer muçulmano: ‘’Somente são fieis aqueles que creem em Deus e em seu mensageiro e não duvidam, mas sacrificam os seus bens e a suas pessoas pela causa de Deus. Estes são os verazes” (Alcorão 49:15).
Noutro prisma, buscamos apresentar alguns pronunciamentos do Profeta Maomé retirados em alguns Adiths, onde ele apresenta a melhor jihad:
1. Aisha, a esposa do profeta perguntou, “Ó mensageiro de Allá, vemos jihad como a melhor das acções, assim não deveríamos participar nisto?” Ele respondeu, “Mas o melhor dos jihads é uma perfeita Hajj (peregrinação a Meca)[footnoteRef:9]. [9: Hadiths, Sahih al- Bukhari nº 2784] 
2. Um homem perguntou ao Profeta Maomé: “Deveria participar em jihad? Ele respondeu, “Você tem pais? O homem respondeu que sim. O profeta disse, “Então se esforce em servi-los[footnoteRef:10]. [10: Sahih Al-Bukhari nº 5972	] 
3. Um outro homem, numa certa ocasião perguntou à Maomé: Que tipo de jihad é melhor? Ele respondeu, “a palavra da verdade em vez de dirigente opressivo”[footnoteRef:11]. [11: Sunan Al-Nasai nº 4209] 
4. O mensageiro de Allá disse: O mujahid é o que esforça-se contra si mesmo em favor de Allá[footnoteRef:12]. [12: Sahih Ibn Hibban nº 4862] 
Percebemos nos inúmeros pronunciamentos do Profeta Maomé, as várias interpretações e enquadramentos de jihad. Concluímos assim que, os grupos radicais muçulmanos têm uma grande tarefa de interpretar melhor o conceito jihad, do ponto de vista interno e externo, neste último, conseguir enquadrar o defensivo e o ofensivo por um lado e usar a jihad como princípio recomendado por Allá tendo em conta aos contextos socio – económico e político-religioso. 
2. 4 - Jihad, sua interpretação no mundo islâmico.
Circunstâncias históricas como a incapacidade para continuar a resistência armada ao projecto colonialista europeu, o desaparecimento do Império Otomano, a supressão da Sharia enquanto única fonte de lei e a ausência de uma autoridade islâmica única, segundo Rodolfo (2005), tornaram necessária a reformulação da teoria da jihad. A génese das teorias contemporâneas de jihad encontra-se no pensamento de autores modernistas como Sayyid Ahmed Khan, Muhammed Abduh e Rashid Rida. Nesta visão, o clérigo Khan defendeu que a legalidade da jihad residia na luta contra aqueles que constituíssem um impedimento ao exercício da fé e no combate à opressão que prejudicasse as obrigações rituais do Islão. Contudo, este autor defendia que os Muçulmanos deveriam esforçar-se para criar uma modernidade islâmica, sendo que este esforço poderia ser considerado uma forma de jihad. Com efeito, a partir desta altura começou a dar-se maior ênfase a definições abrangentes de jihad, nomeadamente com a inclusão do seu sentido espiritual, moral, educacional, social, contra a corrupção e a decadência. Foi assim que no Egipto, Abduh e Rida, promoveram a ideia da jihad com carácter puramente defensivo e como deveria ser conduzida, apenas como reacção a uma agressão externa contra o Islão ou à sua comunidade. Esta agressão poderia consistir num ataque contra território islâmico ou suspeitas que tal poderia estar eminente, ou na opressão de muçulmanos que vivessem fora das fronteiras do estado islâmico. Esta interpretação acabava por tornar o conceito num instrumento contra o colonialismo, pois a ocupação de vastos territórios islâmicos por potências externas poderia ser considerada como uma agressão a esses territórios e ao próprio Islão. Rida também contribuiu para diluir as fronteiras entredefesa e agressão ao declarar que, os muçulmanos deveriam combater todos os que impedissem a proclamação do evangelho. Para sustentarem as suas posições, Abduh e Rida, destacaram os versículos do Alcorão ligados à paz e, quando confrontados com os versículos conotados com a jihad enquanto actividade ofensiva, avançaram com uma interpretação original. Estes começaram por rejeitar a interpretação clássica do Alcorão no que se refere à evolução das relações com os descrentes da não confrontação até à guerra incondicional. 
Quanto a jihad ofensiva, encontramos no Alcorão, passagens que Deus orienta a guerra ofensiva:
Terminados que sejam os meses sagrados, matai os idólatras onde os encontrardes. Apanhai-os! Preparai-lhes todas as espécies de emboscadas! Se se arrependem, cumprem a oração e dão esmolas, deixai livre o seu caminho. Deus é indulgente, misericordioso (Alcorão, 9: 5).
Já na sura 9: 36 encontramos: 
O número de meses junto de Deus é de doze. Assim está no Livro de Deus desde o dia em que criou os Céus e a Terra. Quatro meses são sagrados, em que não vos deveis condenar. Não vos envergonheis, mas combatei os idólatras sem quartel, da mesma maneira que eles vos combatem sem quartel: sabei que Deus está com os piedosos (Alcorão, 9: 36).
Na opinião de Abduh e Rida, os versículos acima mencionados, são com frequência interpretados como uma ordem para a luta ilimitada até ao domínio total do Islão, mas do ponto de vista de Cook (2009 citado por Sandra, 2016), não têm aplicabilidade universal, pois existem outras passagens corânicas que ordenam aos muçulmanos a evitar a luta contra determinados grupos, tal como a que se pode ler na sura abaixo:
Combatei os que não crêem em Deus nem no Último Dia nem proíbem o que Deus e o seu Enviado proíbem, os que não praticam a religião da verdade entre aqueles a quem foi dado o Livro! Combatei-os até que paguem o tributo por sua própria mão e sejam humilhados (Alcorão, 9: 29).
Para Rodolfo (2005), a passagem ora exposta, é interpretada como uma ordem para lutar contra Judeus e Cristão até à subjugação daqueles, mas apenas contra aqueles entre os Povos do Livro que violaram os seus compromissos e impediram a propagação da missão islâmica. Ao rejeitarem interpretações agressivas do Alcorão, a preocupação destes autores parecia ser, sobretudo, as implicações éticas gerais das regras da jihad. Graças as inovações dos autores modernistas que abriram as portas às interpretações contemporâneas de jihad. Desconsiderando as interpretações clássicas do conceito, estes reformularam a jihad como um mecanismo de defesa contra um leque alargado de agressões ao Islão. Apenas em caso de ser necessário defender o Islão e a comunidade, seria permissível recorrer a esta instituição, sendo que o desafio passa a ser reconhecer quando é que se está perante uma agressão. A partir do século XIX, os autores reformistas começaram a desenvolver um conjunto de regras, as quais ditavam quando é que a guerra contra não muçulmanos era permitida e qual o objectivo legal da jihad, ou seja, começaram a elaborar as normas que compõem o jus-ad-bellum no Islão. O Modernismo colocou as relações entre Estados islâmicos e não islâmicos numa base pacífica. A teoria da jihad desenvolvida por estes autores defende que o recurso à guerra deve ser sempre na causa de Deus, e nunca motivada por desejos de expansão territorial, vingança, questões materiais ou conversões forçadas. 
Tal como já referido nos subtemas anteriores, vários grupos fazem recurso a jihad como uma das principais armas do islão, ao título de exemplo temos a Irmandade Muçulmana. Mas, após a morte do seu fundador, a Irmandade Muçulmana segundo Al-Qaradawi (2000 citado por Sandra, 2016), viria a passar por várias transformações, o que teve impacto na interpretação do conceito jihad. Actualmente, o posicionamento do movimento sobre o tema está de acordo com a opinião da maioria dos muçulmanos e dos académicos religiosos das instituições oficiais: a jihad é aceitável em caso de ser necessário defender a comunidade e os territórios do Islão contra a agressão. Mas, Sayyid Abul A’la Mawdudi concebeu a jihad como uma luta revolucionária permanente que visava libertar a humanidade da opressão decorrente quer das divisões nacionais, étnicas e de classes, quer dos governantes e sistemas ilegítimos que constituíam obstáculos à unificação e igualdade entre os seres humanos e à implementação de um regime islâmico. Este defendia que a soberania pertencia unicamente a Deus e o reconhecimento da autoridade de outro ser humano era a raiz da tirania, do conflito e da exploração. O objectivo da jihad era o estabelecimento de uma ordem social justa e equitativa entre os seres humanos. Através do seu exercício, o homem poderia cumprir o dever religioso de ordenar o bem e proibir o reprovável. Os meios para provocar esta revolução universal poderiam incluir discursos, textos, a alteração do sistema social pelo poder da espada, a utilização de bens e a luta física. Na perspectiva de Mawdudi, a jihad no Islão era, em simultâneo, ofensiva e defensiva. A jihad deveria ser proclamada para estabelecer a autoridade divina na terra, organizar as questões humanas de acordo com as diretivas de Deus, abolir as forças e os sistemas de vida satânicos e colocar o fim da soberania do homem sobre o homem. De acordo com Qutb, onde quer que exista uma comunidade islâmica, esta tem o direito de estabelecer a sua autoridade política para conduzir a um sistema divino. 
2. 4. 1 - A evolução da jihad nos diferentes contextos.
A realidade histórica demonstra que a partir do século XVIII, a jihad assume-se, por um lado, como ideologia de resistência e como arma que visa mobilizar as massas a favor do Islão e, por outro lado, como um símbolo da reforma social e intelectual no período pós-colonial. A colonização de grande parte do mundo muçulmano pelas potências europeias e a imposição de leis e valores europeus aos povos locais precipitou um novo debate em torno do significado deste conceito. Ou seja, durante os primeiros momentos de expansão colonial no mundo islâmico, a doutrina da jihad forneceu uma ideologia conveniente para os movimentos de resistência, os quais formulavam os seus objectivos em termos religiosos e rejeitavam, por isso, toda a dominação não muçulmana estrangeira (Rodolfo, 2005).
Para Esposito (2002 citado por Sandra, 2016), é relevante a análise do movimento de Ibn Wahhab na Península Arábica, pois, deu outra dinâmica na evolução da jihad, a qual era dirigida aos muçulmanos que se tinham afastado das fontes originais da religião. Um dos pontos centrais da sua teoria era a crença na tawhid, com a defesa de que o oculto é devido apenas a Deus, rejeitando as práticas populares, como a intercessão de santos e profetas e a adoração de túmulos e santuários. Tal idolatria tornava os indivíduos apóstatas e esta doutrina seria utilizada para justificar a destruição de vários locais sagrados, como santuários, túmulos e objectos. Aqueles que não partilhassem as concepções sobre a tawhid dos Wahhabitas, tornavam-se alvos da jihad. 
Para Bonney (2004), foi durante este período de enaltecimento do movimento Wahhabita, que se propagou o hadith que muitos autores defendem ser falso, das setenta e duas virgens de olhos negros que aguardavam os mártires no paraíso como recompensa pelos seus actos. Actualmente, este é um componente importante da narrativa de vários grupos islâmicos radicais que apelam a operações de martírio. Alguns desses grupos apelavam com frequência à jihad e acompanhado por outros apelos à emigração do dar-al-harb para o dar-al-Islam. O recurso a este mecanismo permitia responder à expansão europeia em terras muçulmanas, o exílio para um território islâmico representava uma solução equilibrada entre o conflito, que estes movimentos estavam destinados a perder visto o inimigo ser militarmente superior e a humilhação da capitulação perante as potências externas. Assim, os movimentos de reforma islâmica e resistência ao colonialismo revelaram fracassos, poislutavam contra opositores mais fortes. Porém, o recurso à ideia de jihad por parte destes movimentos contribuiu para a crescente politização das massas, a partir do final do século XVIII. A utilização da jihad para legitimar a luta contra a ingerência externa (real ou simbólica), dos tiranos internos declarados apóstatas, encontra as suas raízes neste período histórico. 
2. 5 - Os grupos jihadistas e as justificações religiosas de seus actos.
Na actualidade não existe uma interpretação unânime sobre jihad, Sunitas e Xiitas, justificam os actos jihadistas como acções defensivas e ofensivas à luz do Alcorão. De recordar que Sunitas são uma ramificação do islamismo. Etimologicamente a palavra Sunita, deriva da expressão ahl al-sunna wa l­jama´a, que significa adeptos da Sunna ou seja, da tradição e do consenso da comunidade (Lindsay, 2005 citado por Teresa, 2011). Mubarak (2014), afirma que, após a morte de Maomé, imediatamente aconteceu uma reunião tida como democrática, que resolveria a questão de sucessão. Os escolhidos deveriam ser homens fiéis e muito piedosos. O primeiro deles foi Abu Backer. Os sucessores do profeta deveriam continuar a missão através do que chamavam de Sunnah, e por isso, eles foram chamados sunitas, porque eles somente aceitavam no Alcorão e nos Hadiths. Enquanto que os Xiitas são outro ramo do islamismo que, etimologicamente a palavra Xiita é Xiʼa, significando partido. Esta expressão passou a ser usada como Xiʼat Ali, significando o grupo de partidários de Ali, casado com Fátima filha do profeta Maomé. Por outro lado, esta palavra pode significar seita, apoiantes ou um grupo de indivíduos com o mesmo pensamento. Assim, o Xiismo passou a ser um movimento que outorgava a família do profeta Maomé por intermédio de sua filha Fátima e seu marido Ali, um lugar privilegiado na direcção política e religiosa da comunidade muçulmana após a morte de Maomé. Os Xiitas, não surgiram com objectivo de dividir os muçulmanos nem de fundar uma nova religião, mas sim, se tratou de uma acção bilateral, isto é, ambas as partes Xiitas como Sunitas, optaram por manter suas posições.
Segundo os Sunitas, Xiitas e outros grupos que respondem em nome do islamismo, fundamentam que a aplicação da jihad armada, encontra justificativa no Alcorão na Surat (9:41) ao assim dispor: “Sai a campo armados, leve ou pesadamente, e lutai, com vossas riquezas e vós mesmos, no caminho de Allah. Isso vos é o melhor, se sabeis’’. Por outro lado, a jihad defensiva ou desarmada está patente na Surat (25:52): ‘’E, não obedeçais aos renegadores da Fé, Muhammad e com ele [Corão], luta contra eles, vigorosamente”. Nessa última Surat, faz-se uma alusão à proibição que havia em Meca da utilização de armas e que as lutas se travavam política, econômica e culturalmente. É possível afirmar que, a amplitude da jihad e sua aplicação quer seja defensiva ou ofensiva, pode variar de acordo com o intérprete.
Como os ideólogos do Hezbollah seguiam os ditames do aiatolá Khomeini e, para ele o muçulmano deveria aplicar a jihad contra o Imperialismo (personificado na figura dos EUA, tendo em vista sua atuação no intuito de desestabilizar a República Islâmica) e o Estado de Israel (usurpador das Terras Sagradas – Jerusalém), a legitimidade da luta do Hezbollah contra os israelenses encontrava sua legitimidade (Khomeini, 2002). Já na perspetiva de Wiktorowicz (2005 citado por Sandra, 2016), anuncia que os Muçulmanos aceitam a admissibilidade da jihad, enquanto forma de luta física, em caso do mundo islâmico ou do Islão se encontrar sob ataque de forças externas. Neste caso, trata-se de uma jihad defensiva, a qual é uma obrigação individual (fard ‘ayn), isto é, todos os indivíduos que se apresentem capazes de lutar contra, tais agressões deverão fazê-las. Este tipo de jihad tem como objetivo principal assegurar a sobrevivência da própria comunidade, sendo que a sua formulação legal terá surgido em resultado das incursões dos Cruzados e dos Mongóis que ameaçaram a integridade política e territorial do mundo do Islão a partir do século XI. Dependendo das capacidades e dos recursos de cada um, este dever islâmico pode ser promovido através de luta física, mas também do apoio financeiro, do trabalho humanitário e da assistência àqueles que se envolvem no campo de batalha. 
O termo jihad defensiva, trata-se de um conceito com aceitação generalizada. Este tipo de jihad é muitas vezes comparado com a teoria da Guerra Justa (jus ad bellum) na cultura cristã. As duas tradições ligam o direito de recorrer à força ao exercício de uma autoridade governativa legítima para a proteção e a promoção do bem comum da comunidade e dos seus interesses. De igual modo, a jihad também reconhece que mesmo o recurso justificado, à força deve ter limites no que se refere aos alvos e aos meios a utilizar contra agressores, ou seja, deve respeitar o princípio da proporcionalidade (Kelsay & Johnson, 1991 citados por Sandra, 2016).
Na actualidade, as polémicas surgem quando se tenta determinar quando é que o Islão está sob ataque, em que consiste tal ataque, quem são os inimigos, quem tem autoridade para declarar a jihad e quem deve desempenhar este dever. Como a jihad apenas deve ser utilizada para proteger os Muçulmanos e o Islão, a sua proclamação e a identificação do agressor é, da responsabilidade de um líder muçulmano. A questão da autoridade é vital para esta doutrina. Após o colapso das formas tradicionais de autoridade no mundo islâmico, a actualidade caracteriza-se pela ausência de uma figura com poder unificador, facilitando a manipulação do conceito com objectivos políticos e militares por parte de diferentes actores. Para além do seu carácter legal e doutrinário, a jihad assume-se, assim, como um importante instrumento de propaganda e legitimação de agendas particulares. O Xiismo tem uma concepção de jihad semelhante ao Sunismo no que se refere à caracterização do fenómeno e seus objectivos, mas a jihad só é permissível se for conduzida sob a liderança do Imã justo (designado por Mahdi, ou seja, aquele que é divinamente guiado), o décimo segundo imã. Este terá sido ocultado por Deus, em 873, e reaparecerá no fim dos tempos para revelar a mensagem do Islão à humanidade, o que terá adiado o estabelecimento de um governo islâmico justo. Até então, os teólogos apenas podem oferecer orientação religiosa à comunidade, supervisionar as práticas religiosas e actuar como representantes do Imã na recolha e redistribuição dos impostos. Estes representantes apenas, mobilizam a jihad defensiva, pois é permitida a defesa contra agressões externas (Peters, 2005 citado por Costa, 2013). 
No contexto das manifestações jihadistas e as justificações religiosas de seus actos, Cunha (2009) apresenta algumas organizações muçulmanas consideradas radicais, mais conhecidas actualmente, que passamos em seguida a mencionar:
6. Al-Qaeda - Exército Islâmico para a Libertação dos Lugares Santos - Organização Internacional fundada por Osama bin Laden, Abdullah Azzam e Muhammad Atef;
7. Frente Internacional Islâmica para a Jihad contra Judeus e Cruzados (IIFJ) - Movimento Internacional que reúne sob o mesmo comando operacional diversas organizações terroristas, incluindo as Egípcias Islamic Jihad, Jamaat- ul-Jihad e Gama'a al-Islamiya; as paquistanesas Jamiat-ul-Ulema-e-Pakistan, Lashkar-i-Taiba, Sipah-e-Sahaba e Harkat- ul-Mujahideen e o Movimento Jihad do Bangladesh;
8. Laskar Jihad - responsável pela morte de mais de 10.000 Cristãos na Indonésia;
9. Abu Sayyaf Group (ASG) e Moro Islamic Liberation Front (MILF) - Filipinas;

10. Jemaah Islamiyah (JI) - a quem se atribui o atentado de Bali, baseado na Indonésia, opera em todo o Sudeste asiático - Índia, Paquistão, Bangladesh, Sri Lanka e Caxemira;
11. Jamaat-e-Islami - o mais antigo partido religioso no Paquistão;
12. Harakat ul-Jihad-i-Islami (HUJI) - Movimento terrorista paquistanês; 
13. Talibãs - Movimento de etnia Pashtu, Afeganistão; 

14. Hezbollah - Organização de resistência contra Israel e os interesses dos EUA no Líbano;
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