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Resenha - a ama secreta da mídia em conflitos internacionais

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RAJAGOPALAN, K. Designação: a arma secreta, porém incrivelmente poderosa da mídia em conflitos internacionais. In: RAJAGOPALAN, Kanavillil. Por uma linguística crítica: linguagem, identidade e a questão ética. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.
Kanavillil Rajagopalan é professor titular de semântica e de pragmática das línguas naturais na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em seu artigo, busca apresentar a influência que os meios de comunicação informacional possuem na construção da opinião de uma sociedade, enfatizando fundamentalmente os conflitos entre os Estados Unidos da América e os países árabes. O cerne do discursão está no uso das designações, que segundo Rajagopalan são largamente utilizadas como ferramenta de manipulação.
Com frequência ouvimos sobre a necessidade da imparcialidade que as mídias de comunicação e informacionais devem ter, ou seja, sua motivação deve ser informar apenas e não ser formadores de opinião, entretanto, o presente artigo afirma que as mídias acolhem uma determinada perspectiva e visão priorizando, assim, seus interesses. Para tanto, as denominações se tornam em um método para fomentar suas posições diante dos fatos.
O texto é composto por uma introdução e três partes de desenvolvimento, nas quais o autor, de forma competente e em poucas palavras, argumenta como a mídia manipula as informações noticiadas, transformando as guerras em um verdadeiro espetáculo e, em quanto o consumidor destas notícias é afetado
No primeiro tópico: “Nomes, afinal o que há de tão curioso nessas palavras?” Rajagopalan, lança as bases teóricas do artigo, suportado por Bertrand Russell e sua teoria dos “nomes logicamentepróprios”, onde chega a questionar a forma e validade em que são usados os nomes Próprios. O ato de dar nome a algo ou alguém é uma tentativa de “objetificar” o Ser, ou seja, o nome próprio é em si mesmo caracterização, isto é, atribuição de qualificativo, consequentemente, o ato de nomear reduz o Ser na sua subjetividade e o transforma em um objeto que pode ser usado de diversas formas.
No segundo tópico: “O discurso jornalístico e a escolha dos termos de designação”, Rajagopalan busca demonstrar como alguns termos são utilizados de forma sistemática, favorecendo, assim, algum interesse, principalmente, o interesse do meio divulgador da informação. Estes termos tem como objetivo produzir efeitos nos telespectadores, promovendo uma boa recepção da opinião pública para assim ter maior apoio em suas manobras políticas e, nos exemplos apresentados pelo artigo, bélicas. Vale ainda ressaltar a forma como foram usados pela mídia estadunidense algumas nomeações como “terrorist mastermind”, e “gênio do mal” direcionadas a Osama Bin Laden, e diversos outros exemplos relatados que deram aos Estados Unidos a narrativa para legitimar o envio de tropas militares aos países árabes.
No terceiro tópico: “o poder da designação”, o autor busca mostrar que o poder das designações utilizadas como manipulação pelas mídias provém da aparência de impessoalidade, consequentemente, os consumidores de informações são induzidos a formarem sua opinião, sem se aperceberem que, na verdade, estão aceitando uma opinião que lhes são impostas silenciosamente. A construção dos rótulos tem a tendência de elevar a forma como um lado é visto e denegrir, ou até mesmo rejeitar o que é oposto e diferente, a sociedade, por sua vez exposta frequentemente a esta dualidade narrativa torna-se “anestesiada” e, consequentemente, utiliza a opinião imposta sem perceber a arbitrariedade constante nos termos.
Kanavillil Rajagopalan se notabiliza como acadêmico na área de linguagens, em seu currículo ainda traz experiências nas áreas de publicidade, jornalismo e até como cartunista. No texto, material desta resenha, procurou apresentar reflexões envolvendo a manipulação de uma sociedade através de técnica próprias das ciências linguísticas, em especial a designação. Apesar da linguagem rebuscada utilizada pelo autor, que pode gerar dificuldades de compreensão aos mais incautos, Rajagopalan é por demais competente na transmissão de sua mensagem, alcançando ao grande público de forma eficiente.
Por fim, o tema desenvolvido é de amplo interesse e permite a reflexão não apenas sobre o poder das mídias de comunicação e dos canais transmissores de notícias, mas também sobre as formas como as narrativas podem ser utilizadas para dar legitimidade a uma ação política. A discussão, envolvendo os conflitos dos Estados Unidos das América contra países árabes traz à tona também as concepções de Ocidente e Oriente, que no final das contas, também são construções narrativa fomentadas pela diversificação da visão do mundo. Rajagopalan, com extrema competência não apenas nos informa de forma teórica e conceitual esta relevante questão, que com certeza é atual, como também, nos inspira a pesquisar e aprofundar mais sobre o tema.

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