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EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA______CRIMINAL DA COMARCA DE GOIANIA/GO Autos n° LÍVIA DA SILVA TAVARES, brasileira, solteira, 20 anos de idade, portadora do RG n° , inscrita no CPF sob n°. , nome do pai e mãe, estudante de Enfermagem da Faculdade Padrão, residente e domiciliada na Rua dos Inocentes, Qd. 34, Lt. 15, no Setor dos Iludidos, CEP: 644313254324, Goiânia/GO, por meio de seu advogado (procuração em anexo), Escritório com o endereço na Rua , Qd. , Lt. , Bairro , CEP: , Goiânia/GO, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, dentro do prazo legal interpor RECURSO DE APELAÇÃO Com fundamento no artigo 593, inciso I, do Código de Processo Penal, pelas razões de fato e de direito que irei apresentar posteriormente. Requer seja, determinada a abertura de vista dos autos, para o oferecimento das razões e o seu regular processamento e encaminhamento ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, por ser medida de justiça! Termos em que, Pede deferimento Goiânia, 18 de outubro de 2021 Advogado OAB N° RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO CRIMINAL RECORRENTE: LÍVIA DA SILVA TAVARES RECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO Autos n°. que tramita na Vara Criminal da Comarca de Goiânia/GO Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás Colenda Câmara Criminal Douto Procurador de Justiça do MP/GO I - DO INCONFORMISMO DO RECORRENTE A recorrente foi denunciada e processada pela suposta prática do crime estelionato, previsto no artigo 155, §4°, do CP, em concurso material com o crime de favorecimento real previsto no artigo 349, e associação criminosa, prevista no artigo 288, caput, C/C artigo 69, ambos do Código Penal. A recorrente foi prejudicada no seu exercício sagrado a ampla defesa e ao devido processo legal, ambos previstos como direito e garantia fundamental no artigo 5°, LIV, LV, da Constituição Federal. Como se não bastasse, a recorrente foi condenada na ação penal, sem a demonstração cabal de autoria ou participação acima de qualquer dúvida razoável, o que violou a presunção de inocência prevista no citado artigo 5°, LVII, do mesmo diploma legal. Excelências, a apelante suplica para que o Egrégio Tribunal do Estado de Goiás corrija o equivoco constante da sentença penal condenatória proferida pelo MM. Juiz de Direito da respectiva vara criminal acima especificado. II – DOS FATOS A apelante foi denunciada e processada pelo Ministério Público do Estado de Goiás, pela suposta prática do crime estelionato, previsto no artigo 155, §4°, do CP, em concurso material com o crime de favorecimento real previsto no artigo 349, e associação criminosa, prevista no artigo 288, caput, C/C artigo 69, ambos do Código Penal. Narra à denúncia, que a acusada teria de forma voluntaria e consciente consentido que terceiros não identificados, realizassem vários depósitos via transferência eletrônica em sua conta corrente, situada na agencia da Caixa Econômica n°. 654, Conta: 4434344, em Goiânia/GO. Consta dos autos da investigação, que foram realizados pelo menos 5 cinco depósitos em um dia no valor R$ 20.000,00 (vinte mil reais), totalizando ao final o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais). A investigação apontou que entre os dias 15 até 30 de abril de 2021, várias vítimas no Estado do Paraná levaram ao conhecimento da autoridade policial local, que suas contas correntes tiveram os valores subtraídos através de várias transações suspeitas. Segundo as vítimas, grandes quantidades de dinheiro foram retiradas das contas bancarias, algumas vítimas relataram que receberam e-mails aparentemente dos bancos onde as vítimas possuíam contas, sendo que haviam links com ofertas de empréstimos e solicitação revisão de parcelamentos, as vítimas teriam clicado nos links, após a citada ação muito dinheiro foi desviado automaticamente para outras contas. Ocorre que, de posse das informações de que as vítimas teriam sido vítimas de furto mediante fraude, foi iniciada a investigação, logo foi detectado que a conta pertencente à acusada teria sido utilizada nos golpes, pois, conforme narrado na denúncia, um valor considerável teria sido depositado em um curto espaço de tempo, tendo sido sacado no mesmo dia e horário por pessoas desconhecidas, porém, as imagens do circuito de segurança não foram capazes de demonstrar se realmente era a acusada. A acusada chegou a ser ouvida em inquérito policial, ocasião em que confessou ter sido obrigada a emprestar a sua conta bancaria para que criminosos realizassem os depósitos, segundo a acusada seu filho Maykon Santos havia sido preso em flagrante pela pratica do crime de roubo previsto no artigo 157, caput, do Código Penal, o ultimo permaneceu preso aproximadamente 5 cinco meses, e somente foi solto após o encerramento de suas audiências. Segundo a acusada, desde então, seu filho havia contraído inúmeras dívidas quando esteve preso, motivo pelo qual, começou a receber ameaças de morte de dentro da prisão, alegando que se ele não pagasse ou ajudasse os membros da Facção Criminosa KDI, o acusado seria morto. A acusada informou que membros da citada facção a obrigaram a emprestar a conta bancaria para que o dinheiro fosse depositado, sob pena, de não aceitando a proposta seu filho Maycon poderia ser morto pelo grupo. A acusada mostrou aos Policiais Civis todas as gravações telefônicas que estavam no seu celular armazenadas, os diálogos eram bem claros no sentido de que “se a acusada não emprestasse a sua conta bancaria para realização dos depósitos o seu filho Maycon seria assassinado pelo comando da KDI”, entretanto, as mensagens foram desconsideradas pelos agentes de polícia, mesmo a acusada mostrando tudo aos agentes, simplesmente falaram o seguinte “mostra para o seu advogado e para de me alugar”. Cabe ressaltar, que, sem que a acusada percebesse, o seu celular foi acessado sem a sua autorização, o agente policial abriu o seu aplicativo de WhatsApp e inseriu na internet através do WhatsApp web, o que possibilitou monitorar as conversas em tempo real que a acusada falava com terceiros, a citada pratica é conhecida pelo nome de espelhamento do WhatsApp. Durante algumas conversas foi possível capturar uma conversa entre a acusada e seu filho Maycon que se encontra foragido, o qual disse o seguinte “mãe sabe aquele dinheiro que o pessoal furtou das contas bancarias, acredita que sumiu R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), e agora o chefe da Facção KDI está falando que fui eu e que eu terei que pagar junto com a senhora, e disseram que vão me matar se eu não passar esse dinheiro para eles até amanhã”. Depois que os policiais civis conseguiram ver a citada conversa em tempo real entre a acusada e seu filho, houve a representação pela decretação da prisão preventiva de ambos, entretanto, somente a prisão da acusada foi levada a efeito, já que seu filho não foi encontrado. A acusada se colocou a disposição da autoridade policial e prestou todas as informações necessárias sobre suas movimentações financeiras, e deixou claro que não sairia da cidade, porém, seu filho estava jurado de morte pela KDI, pois, se trata de um grupo muito perigoso e temido dentro e fora dos presídios. Depois de realizar várias quebras de sigilo bancário e fiscal e telefônico a autoridade policial conseguiu chegar em um dos criminosos que havia se utilizado do cartão bancário da acusada, conhecido pelo nome de Pedro Emanuel Silva, entretanto, ficou provado que o ultimo já faleceu após ter trocado tiros com um grupo tático da PM/GO, em uma operação anterior no combate ao tráfico de drogas. Ao final, o inquérito policial foi concluído, além do que, a acusada foi indiciada pelos citados crimes, justamente por ter emprestado a sua conta bancaria para que o dinheiro obtido ilicitamentefosse depositado e posteriormente sacada pelos criminosos, havendo por assim, dizer a prova da materialidade e indícios de autoria e participação em face da agora acusada pelo MP/GO. A denúncia foi recebida, e determinada a citação da acusada para responder à acusação, o que não foi possível, já que o oficial de justiça não obteve êxito em encontrar a acusada, tendo informações de terceiros de que a acusada havia se mudado a pouco tempo, não informando o seu real paradeiro. Assim, o MM. Juiz de Direito diante da noticia que a acusada se encontrava em local incerto e não sabido, determinou a sua citação pessoal da acusada o que foi cumprido, uma vez que a acusada apresentou resposta à acusação através de advogado constituído. Em resposta à acusação o defensor dativo negou a pratica do crime, alegou ter sido coagida para emprestar a sua conta bancaria aos criminosos da Facção KDI, requerendo ao final a absolvição sumária da acusada. O MM. Juiz indeferiu o pedido de absolvição sumária e determinou a realização da audiência de instrução e julgamento. Cabe ressaltar, que a acusada arrolou testemunhas um total de 8 oito, porém, o Juiz deferiu a oitiva de apenas 2 duas testemunhas, justamente para evitar qualquer tentativa de tumultuar o andamento da instrução criminal. Por outro lado, todas as testemunhas arroladas pela acusação foram devidamente intimadas, e algumas serão ouvidas, inclusive, por carta precatória e por vídeo conferencia e por carta precatória no Estado do Paraná. Cabe ressaltar, que no dia e horário da audiência, a acusada somente foi conduzida ao Fórum Criminal, porém, lhe foi negado o direito de participar da audiência, permanecendo na carceragem do fórum no subsolo, a acusada somente foi a sala de audiência para assinar a ata de julgamento e realizar o seu interrogatório, não presenciando, contudo, a oitiva das testemunhas de acusação e defesa. Durante o seu interrogatório, a acusada se limitado a dizer que “foi coagida para ajudar os criminosos sob pena de ver seu filho executado na cadeia ou na rua, justamente pelas dívidas contraídas durante o período da prisão”. Após o termino da instrução criminal, o MM. Juiz de Direito concedeu a palavra ao Ministério Público, o qual requereu a procedência da denúncia e a condenação da acusada pelos crimes narrados na denúncia, até porque, segundo o MP/GO, a materialidade do fato está cabalmente demonstrada em face da prova obtida através das informações obtidas pelo espelhamento do WhatsApp web, bem como a confissão da acusada que deixou claro que de fato “emprestou sua conta bancaria para que criminosos depositassem o dinheiro furtado das vítimas, comprovando-se o seu dolo em concorrer para o crime de furto qualificado, não merecendo credito sua versão de que foi coagida a participar do crime”. As testemunhas de defesa não contribuíram em nada para comprovar a história narrada pela acusada, razão pela qual o MP/GO requer a condenação da acusada pelos fatos narrados na denúncia. Inclusive, requer a condenação pelo crime, consistente no favorecimento real previsto no artigo 349 e associação criminosa, artigo 288 do Código Penal. A defesa por sua vez, sustentou que acusada foi coagida de forma a não poder resistir a pressão, motivo pelo qual, buscou a absolvição com base na inexigibilidade de conduta diversa. Por outro lado, a defesa postulou pela declaração de nulidade da prova produzida em audiência, uma vez que foi cerceado o direito de defesa ao não inquirir todas as testemunhas constante do rol defensivo, dando-se benefício exacerbado a acusação que teve a oportunidade de inquirir todas suas testemunhas, violando-se o contraditório. Além do que a prova obtida através do espelhamento de WhatsApp Web é ilícita, uma vez que não houve o consentimento da acusada e muito menos autorização judicial para a citada conduta praticada pela autoridade policial, trata-se de prova ilícita por derivação, prevista no artigo 5°, LVI, da Constituição Federa de 1988, e 157, caput, e §1°, do CPP. O MM. Juiz, analisando a prova dos autos, julgou procedente a pretensão punitiva estatal e condenou a acusada pelos crimes de estelionato e favorecimento real, fatos esses subsumidos nas condutas típicas descritas nos artigos 155, §4°, e 288, caput, e 349 do Código Penal. Em sua decisão o magistrado estabeleceu a pena privativa de liberdade seguindo o sistema trifásico do artigo 68 do Código Penal, fixou-se a pena de 5 cinco anos, cujo regime inicial de cumprimento de pena é o fechado, tendo em vista a gravidade do fato imputado a acusada, já que ela possuía a obrigação de conduzir seu sobrinho pelo caminho do bem e da moral o que justifica a imposição de pena pelo regime mais severo de cumprimento de pena. A sentença foi proferida em audiência, no dia 12 de outubro de 2021. III – PRELIMINARMENTE DA OFENSA AO CONTRADITÓRIO E À AMPLA DEFESA Conforme narrativa acima colacionada, ficou perfeitamente caracterizada a ofensa ao contraditório e à ampla defesa, pois o trâmite processual se deu em clara inobservância DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. Todo procedimento assim como qualquer ato processual deve ser conduzido com estrita observância aos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório, sob pena de nulidade. Ao instaurar um processo judicial com repercussão direta ao Recorrente, todo trâmite deve ser conduzido de forma a garantir o direito ao contraditório e à ampla defesa conforme clara redação constitucional: "Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:(...) LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;(...)" No entanto, em manifesta quebra ao direito constitucional, sendo assim, trata-se de manifesta quebra do direito constitucional à ampla defesa, especialmente por inibir a principal ferramenta de defesa do recorrente, conforme análise das cortes superiores: "(..) tenho para mim, na linha de decisões que proferi nesta Suprema Corte, que se impõe reconhecer, mesmo em se tratando de procedimento administrativo, que ninguém pode ser privado de sua liberdade, de seus bens ou de seus direitos sem o /lei/CF/constituicao-federal /lei/CF/constituicao-federal/art-5 /lei/CF/constituicao-federal/art-5,inc-LV devido processo legal, notadamente naqueles casos em que se estabelece uma relação de polaridade conflitante entre o Estado, de um lado, e o indivíduo, de outro. Cumpre ter presente, bem por isso, na linha dessa orientação, que o Estado, em tema de restrição à esfera jurídica de qualquer cidadão, não pode exercer a sua autoridade de maneira abusiva ou arbitrária (...). Isso significa, portanto, que assiste ao cidadão (e ao administrado), mesmo em procedimentos de índole administrativa, a prerrogativa indisponível do contraditório e da plenitude de defesa, com os meios e recursos a ela inerentes, consoante prescreve a Constituição da República em seu art. 5º, LV. O respeito efetivo à garantia constitucional do 'due process of law', ainda que se trate de procedimento administrativo (como o instaurado, no caso ora em exame, perante o E. Tribunal de Contas da União), condiciona, de modo estrito, o exercício dos poderes de que se acha investida a Pública Administração, sob pena de descaracterizar-se, com grave ofensa aos postulados que informam a própria concepção do Estado Democrático de Direito, a legitimidade jurídica dos atos e resoluções emanados do Estado, especialmente quando tais deliberações, como sucede na espécie, importarem em invalidação, por anulação, de típicas situações subjetivas de vantagem." (MS 27422 AgR, RelatorMinistro Celso de Mello, julgamento em 14.4.2015, DJe de 11.5.2015, #15122613) #5122613 A doutrina, no mesmo sentido segue este entendimento. "É sabido que a ampla defesa e o contraditório não alcançam apenas o processo penal, mas também o administrativo, nos termos do art. 5º, LV da CF/88. É que a Constituição estende essas garantias a todos os processos, punitivos ou não, bastando haver litígios. Logo, os processos administrativos que tramitam nos Tribunais de Contas deverão observar esses princípios constitucionais, sob pena de nulidade". (Harrison Leite, Manual de Direito Financeiro, Editora jus podivum, 3ª edição, 2014, p. 349) Portanto, o não deferimento da acusação, demonstra clara quebra do contraditório e da ampla defesa, razão pela qual, merece provimento o presente pedido. Como exposto, deve-se considerar clara a NULIDADE da ação penal desde o começo, com fundamento nos artigos 564 e 563 do CPP, uma vez que não poderia ter havido o cerceamento de defesa. IV – DO MÉRITO DA COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVEL Discorrer sobre a coação moral irresistível. A acusada só emprestou a conta porque estava recebendo ameaças de morte do seu filho pela facção. DEVE SER ABSOLVIDA CONFORME ART 22 CP Conforme relatado, era inexigível ao Réu que adotasse conduta diferente daquela tomada, pois as circunstâncias o impediam que pudesse buscar outra alternativa. /lei/CF/constituicao-federal /lei/CF/constituicao-federal/art-5 /lei/CF/constituicao-federal/art-5,inc-LV /lei/CF/constituicao-federal/art-5 /lei/CF/constituicao-federal/art-5,inc-LV /lei/CF/constituicao-federal /lei/CF/constituicao-federal Ao lecionar sobre o tema, a doutrina destaca sobre a necessidade de se avaliar as circunstâncias do ilícito, uma vez que podem existir requisitos negativos do delito: "Interpretando as palavras de CARNELUTTI, requisitos positivos do delito significam prova de que a conduta é aparentemente típica, ilícita e culpável. Além disso, não podem existir requisitos negativos do delito, ou seja, não podem existir (no mesmo nível de aparência) causas de exclusão da ilicitude (legítima defesa, estado de necessidade etc) ou de exclusão da culpabilidade (inexigibilidade de conduta diversa, erro de proibição etc.)." (LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. 15ª ed. Editora Saraiva jur, 2018. Versão Kindle, p. 13502) A inexigibilidade de conduta diversa, se configura sempre que não for possível exigir do agente outra conduta que não aquela praticada em determinada situação de risco ou nas hipóteses de coação moral irresistível, como se evidencia no presente caso. Desta forma, evidenciada a circunstância que configura inexigibilidade de conduta diversa, tem-se por necessária a exclusão da culpabilidade o Réu. Como já citado, quer seja Legislação, Doutrina, Jurisprudência, conhecimentos específicos, e da transparência dos fatos que demonstram ato coercitivo que envolveu a Acusada, vem com a mais enaltecida reverencia, pedir a V. Exa. Absolvição da Apelante. DAS PROVAS ILICÍTIAS E SUAS DERIVADAS Conforme pode-se observar da Denúncia, a mesma foi totalmente embasada pelo aplicativo de mensageria WhatsApp, sem qualquer prova robusta sobre a autoria do fato. Ocorre que no atual Estado Democrático de Direito, em especial em nosso sistema processual penal acusatório, cabe ao Ministério Público comprovar a real existência do delito e a relação direta com a sua autoria, não podendo basear sua acusação apenas no depoimento da vítima. No Direito Penal brasileiro, para que haja a condenação é necessária a real comprovação da autoria e da materialidade do fato, conforme preceitua o Código de Processo Penal ao prever expressamente: Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: (...)VII - não existir prova suficiente para a condenação. O que deve ocorrer no presente caso, pois não há elementos suficientes para comprovar a relação do Réu com os fatos narrados. Dessa forma, o processo deve ser resolvido em favor do acusado, conforme destaca Celso de Mello no seguinte precedente: "É sempre importante reiterar - na linha do magistério jurisprudencial que o Supremo Tribunal Federal consagrou na matéria - que nenhuma acusação penal se presume provada. Não compete, ao réu, demonstrar a sua inocência. Cabe ao contrário, ao Ministério Público, comprovar, de forma inequívoca, /lei/CPP/codigo-processo-penal /lei/CPP/codigo-processo-penal /lei/CPP/codigo-processo-penal/art-386 para além de qualquer dúvida razoável, a culpabilidade do acusado. Já não mais prevalecem em nosso sistema de direito positivo, a regra, que, em dado momento histórico do processo político brasileiro (Estado novo), criou, para o réu, com a falta de pudor que caracteriza os regimes autoritários, a obrigação de o acusado provar a sua própria inocência (...). Precedentes." (HC 83.947/AM, Rel. Min. Celso de Mello). Fato é que de forma leviana instaurou-se o presente processo, desprovido de provas cabais a demonstrar a gravidade do ato, consubstanciadas unicamente em indícios que maculam a finalidade da ação proposta. Com base nas declarações e provas documentais acostadas ao presente processo, é perfeitamente possível verificar a ausência de qualquer evidência que confirme as alegações do denunciante. Afinal, não há provas que sustentem as alegações trazidas no processo, sequer indícios contundentes foram juntados à inicial. Sendo assim, podemos afirmar, como conclusão logica e clara, que esse meio probatório por interno ilícito, e todas as provas delas resultantes, devendo ser extraídas dos autos do processo, sobremodo, ao disposto na Legislação Adjetiva Penal, para que o Estado respeite os direitos e garantias fundamentais do cidadão. V – DO DIREITO Todo procedimento assim como qualquer ato processual deve ser conduzido com estrita observância aos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório, sob pena de nulidade. Ao instaurar um processo judicial com repercussão direta ao recorrente, todo trâmite deve ser conduzido de forma a garantir o direito ao contraditório e à ampla defesa conforme clara redação constitucional: "Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:(...) LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;(...)" No entanto, em manifesta quebra ao direito constitucional, cabe ressaltar, que, sem que a acusada percebesse, o seu celular foi acessado sem a sua autorização, o agente policial abriu o seu aplicativo de WhatsApp e inseriu na internet através do WhatsApp web, o que possibilitou monitorar as conversas em tempo real que a acusada falava com terceiros, a citada pratica é conhecida pelo nome de espelhamento do WhatsApp. Ou seja, trata-se de inequívoca quebra do direito constitucional à ampla defesa, especialmente por inibir a principal ferramenta de defesa do recorrente, conforme precedentes: "(..) tenho para mim, na linha de decisões que proferi nesta Suprema Corte, que se impõe reconhecer, mesmo em se tratando de procedimento administrativo, que ninguém pode ser /lei/CF/constituicao-federal /lei/CF/constituicao-federal/art-5 /lei/CF/constituicao-federal/art-5,inc-LV privado de sua liberdade, de seus bens ou de seus direitos sem o devido processo legal, notadamente naqueles casos em que se estabelece uma relação de polaridade conflitante entre o Estado, de um lado, e o indivíduo, de outro. Cumpre ter presente, bem por isso, na linha dessa orientação, que o Estado, em tema de restrição à esfera jurídica de qualquer cidadão, não pode exercer a sua autoridade de maneira abusiva ou arbitrária (...). Issosignifica, portanto, que assiste ao cidadão (e ao administrado), mesmo em procedimentos de índole administrativa, a prerrogativa indisponível do contraditório e da plenitude de defesa, com os meios e recursos a ela inerentes, consoante prescreve a Constituição da República em seu art. 5º, LV. O respeito efetivo à garantia constitucional do 'due process of law', ainda que se trate de procedimento administrativo (como o instaurado, no caso ora em exame, perante o E. Tribunal de Contas da União), condiciona, de modo estrito, o exercício dos poderes de que se acha investida a Pública Administração, sob pena de descaracterizar-se, com grave ofensa aos postulados que informam a própria concepção do Estado Democrático de Direito, a legitimidade jurídica dos atos e resoluções emanados do Estado, especialmente quando tais deliberações, como sucede na espécie, importarem em invalidação, por anulação, de típicas situações subjetivas de vantagem." (MS 27422 AgR, Relator Ministro Celso de Mello) A doutrina, no mesmo sentido segue este entendimento. "É sabido que a ampla defesa e o contraditório não alcançam apenas o processo penal, mas também o administrativo, nos termos do art. 5º, LV da CF/88. É que a Constituição estende essas garantias a todos os processos, punitivos ou não, bastando haver litígios. Logo, os processos administrativos que tramitam nos Tribunais de Contas deverão observar esses princípios constitucionais, sob pena de nulidade". (Harrison Leite, Manual de Direito Financeiro, Editora jus podivum, 3ª edição, 2014, p. 349) Portanto, demonstra clara quebra do contraditório e da ampla defesa, razão pela qual, merece provimento o presente pedido. VI – DOS PEDIDOS Diante de tudo acima exposto, requer, seja conhecido e ao final provido o presente recurso, deve-se reconhecer e declarar a nulidade do processo criminal desde o início, em razão da violação ao contraditório e a ampla defesa, C/C artigo 563 e 564 do CPP. Superada a matéria preliminar, no mérito requer seja reformada a sentença penal condenatória, impondo-se à absolvição da apelante pelos fatos narrados na denúncia, consistentes nos crimes de estelionato, previsto no artigo 155, §4°, do CP, em concurso material com o crime de favorecimento real previsto no artigo 349, e associação criminosa, prevista no artigo 288, caput, C/C artigo 69, ambos do Código Penal, em respeito a boa aplicação da lei penal. /lei/CF/constituicao-federal /lei/CF/constituicao-federal/art-5 /lei/CF/constituicao-federal/art-5,inc-LV /lei/CF/constituicao-federal/art-5 /lei/CF/constituicao-federal/art-5,inc-LV /lei/CF/constituicao-federal /lei/CF/constituicao-federal Termos em que, Pede deferimento Goiânia, 16 de outubro de 2021. Advogado OAB N° ALUNOS: AMÓS LEMES MARQUES EUNIVALDO ALEIXO FERNANDA RAMOS DOS REIS DIAS LEONARDO FERREIRA GOMES LUIZ GALVÃO DOS REIS FILHO WANESSA GONÇALVES CRUZ VARGAS WYLEGAIGNON VARGAS DE OLIVEIRA
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